A antagonista - Capítulo 14
Naquela
noite, Ana Valéria retornara a mansão após vários dias viajando. Participara de
algumas reuniões e fechara ótimos negócios. No dia seguinte, Branca seguiria
para negociar as parcerias e assinar as ordens de serviços.
Subiu as escadas para o quarto.
Estava cansada e só queria tomar um banho e se deitar em
sua cama.
Os dias foram bons, pois desde que recebera a afirmativa
de poder ver a mãe em breve não tivera mais crises, conseguindo controlar suas
agonias quando chegavam.
Paloma estivera consigo, era uma boa companhia e uma
amante sem igual que sempre fazia tudo para satisfazê-la.
Chegou ao corredor e passou pelo quarto da sobrinha, mas
não entrou, pois não desejava encontrar a neta de Bernard. Não pensara nela,
enquanto estivera fora e agora que tinha retornado ansiava por continuar assim.
Tudo aquilo fora uma loucura. Não podia ter se sentido
atraída pela Bamberg, talvez tenha acontecido pela petulância da jovem, por ser
desafiada o tempo todo e isso acabara lhe deixando interessada.
Tomou um longo banho e depois voltou para o quarto.
Ouviu batidas e não demorou para a governanta aparecer
trazendo uma bandeja com algumas frutas.
-- Boa noite, senhora, fico feliz que tenha retornado.
Ana sentou-se em um poltrona.
-- E como está tudo aqui? Alguma novidade?
A empregada fez uma pausa, depois tirou do bolso da calça
um celular.
-- Senhora baronesa, sei que não deveria me intrometer,
porém também sei como a senhora anseia por ter as ações que o barão deixou para
a neta, por esse motivo lhe trouxe isso. – Entregou-lhe o aparelho. – É da
Bamberg.
A Del La Cruz cruzou as pernas incomodada ao ouvir a
menção à freirinha.
Já tinha se passado quase sete meses da chegada da moça
ali na mansão e não demoraria para aquela tortura terminasse para que
conseguisse o que tanto desejava. Tinha conversado com Branca e aceitara que a
moça pudesse fazer seu curso, contanto que a administradora estivesse sempre em
vigia, não permitindo que a garota pudesse entregar as ações a outro.
Dentro de quinze dias haveria a leitura de mais uma parte
do testamento do barão e esperava que dessa vez houvesse algo que pudesse lhe
favorecer.
Observou o aparelho que lhe era entregue. A governanta
não gostava de Gabriele, então sabia que aquilo era algo para prejudicá-la.
-- E o que há nesse celular que me interessaria? –
Questionou tentando não mostrar interesse. – Não deveria ter mexido nas coisas
dela. – Repreendeu-a.
-- Sim, eu sei que estou errada, mas minha fidelidade à
senhora não permitiu que ficasse em silêncio...
Ana a encarou durante longos segundos, ponderava se
deveria ver o que havia ali, afinal, poderia ser algo sem importância nenhuma,
apenas mais uma implicância.
-- O que há? – Voltou a perguntar.
Tereza lhe entregou.
-- Veja a conversa que ela teve com o namorado...Acho que
ela tem outros planos para as ações e não parece ter nenhuma consideração pela
senhora.
Ana suspirou, pegando o telefone móvel e logo iniciava a
leitura.
Passava das oito quando Branca deixou Gabriele em casa. A
administradora não entrou, pois precisava arrumar as malas para viajar no dia
seguinte. Ela pareceu preocupada com a Bamberg, pois a moça passara todo o
percurso em silêncio como se algo tivesse acontecido. Não perguntara, mas temia
o que podia ter ocorrido.
Gabi viu o carro seguir e permaneceu lá, parada do lado
de fora.
Sua cabeça estava cheia. Ainda mais depois do que Lia
tinha contado. Não conseguira negar-se ao casamento com Lorena ou Trevan
naquele dia, pois acabara esquecendo o celular em casa. Miguel a pressionara
para aceitar o matrimônio e ela não conseguira se negar.
O que faria agora?
O pai que a criara corria grande risco se a baronesa
conseguisse as ações. Não se importava com Lorena, não acreditara que ela tinha
qualquer arrependimento pelo que fizera com a jovem namorada, apenas quisera o
dinheiro e o poder que a traição lhe proporcionara.
Sentou-se no degrau e ficou observando o céu estrelado.
Talvez fosse realmente o melhor aceitar o casamento, pois
assim poderia impedir que a raiva da ruiva chegasse até as pessoas que amava.
Lorena e Ana Valéria...
Por que ficava tão irritada em imaginá-las juntas?
Lia dissera que o avô tinha ciúmes, será que a Del La
Cruz ainda sentia algo por sua carrasca?
Casaria com Miguel e iria para longe com o rapaz e
levaria Trevan consigo.
E o que aconteceria com a Luna?
Antônio tinha afirmado que ganharia a guarda da menina e
permitiria que ela ficasse consigo.
Passou a mão pelos cabelos.
Não achava que deveria fazer isso, estava traindo a
baronesa, tirando dela as ações que tanto almejava, porém não achava que essa
vingança seria algo bom...
-- Deus, o que farei?
Levantou-se e seguiu para o interior da mansão.
Foi até a cozinha, pensando se encontraria Lia, mas não
havia ninguém lá. Tomou água e depois seguiu para o quarto, decerto a
cozinheira estaria lá cuidando da bebê.
Abriu a porta com um sorriso que logo foi substituído por
expressão de surpresa ao ver Ana Valéria sentada confortavelmente em uma
poltrona.
Observou a expressão indiferente. Olhou ao redor em busca
da criança, porém não estava ali.
-- Onde está a Luna? – Questionou preocupada. – Aconteceu
algo?
A Del La Cruz a observava cuidadosamente, parecia
perscrutar em sua face corada algo que pudesse denunciar suas armações.
A Bamberg usava calça jeans justa ao corpo e camiseta.
Nos pés calçava um tênis. Os cabelos cacheados estavam soltos, adornando a face
bonita.
-- Sente-se, senhorita! – Apontou para a cadeira que
estava a sua frente. – Vamos conversar... – Disse controladamente. – Precisamos
colocar os papos em dia.
Gabriele pensou em negar-se em fazer, porém não o fez,
então se acomodou de frente para a mulher.
Observou que estava usando calça de moletom, camiseta
justa. Os cabelos ruivos estavam presos em um totó no alto e a franja estava
presa por um grampo. Estava mais linda que antes.
Suspirou.
Não sabia que ela tinha retornado, nem Branca falara nada
que retornaria.
Mexeu-se inquieta na cadeira diante do silêncio que
perdurava.
Já pensava em questionar mais uma vez quando ouviu a voz
da mulher que lhe olhava.
-- Então, seu casamento já está marcado... – Mostrou-lhe
o celular. – Sabe que apesar dos nossos confrontos, eu acreditava mesmo que
você cumpriria sua parte e me entregaria as ações ao completar um ano.
A neta do barão sentiu que o sangue sumia do seu corpo.
Tentou falar, mas foi repreendida.
-- Calada, senhorita! – Cruzou as pernas. – Eu quem
falarei...depois verei se desejo ouvir suas mentiras. – Entregou-lhe o
aparelho. – Então dentro de três dias você se casará com seu namoradinho,
entregara-se a ele e as ações passarão para o meu pai... – Exibiu um sorriso. –
Como consegue ser tão mentirosa?
--Baronesa, eu posso explicar... – Pediu. – Me escute.
-- Te escutar? – Mordiscou a lateral do lábio inferior. –
Arrume suas malas, vai viajar comigo. – Disse levantando-se.
-- Onde está a Luna? – Indagou angustiada.
-- A Luna não vai ficar perto de ti, não enquanto não ter
a prova de que não conseguirá me retirar as ações.
Gabriele segurou-a pelo pulso.
-- Por favor, podemos conversar, eu explico tudo...
-- Vai explicar também quem é Lorena e Trevan na sua vida
miserável? – Livrou-se do toque. – Então eu tinha dentro da minha casa uma
inimiga.
A Bamberg deu um passo para trás ao ouvir aquilo.
-- Deixe que eu te explique, por favor... – Voltou a
pedir. – Eu não sabia...
-- Arrume suas malas, pois vamos viajar. – Interrompeu-a.
– Não desejo ouvir mentiras.
-- Não irei a lugar nenhum sem a Luna! – Rebelou-se. –
Olha, baronesa, sei que tem motivos para ficar chateada, porém as coisas não
são da forma que pensa...Eu mesma nem sabia que a Lorena fora...
-- Cale-se! – Ordenou por entre os dentes. – Não quero
ouvir nada, apenas faça o que estou mandando. – Fitou o relógio. – Você tem
vinte minutos, então cuide logo.
Gabi tentou protestar, mas a outra saiu pela porta.
O jatinho as esperava no pequeno aeroporto.
Deixaram a mansão e seguiram no veículo até o local. Ana
conduzia o carro esporte e em nenhum momento falara. O silêncio só era quebrado
pela canção que tocava.
A Bamberg ver e outra fitava o perfil inflexível e
pensava em tentar conversar, tentar mais uma vez explicar o que tinha
acontecido, porém não o fez, pois temia iniciar mais uma vez uma discussão.
Virou a cabeça, olhando pela janela.
Sua cabeça estava confusa, ainda mais com a história de
que Lorena relacionara-se com a baronesa.
Viu no painel do automóvel aparecer o nome de Paloma em
uma chamada, mas a Del La Cruz não pareceu preocupada em atender. Não
estranhava esse tipo de comportamento, afinal, ela sempre agia da forma que
convinha sem se preocupar com nada, nem com ninguém.
Luna estava com Lia, ouviu quando a esposa do avô falara
com a cozinheira. Pelo menos sabia que a menina estava sendo bem cuidada.
Ana tinha chegado no litoral na manhã anterior. Estava
mais uma vez hospedada no hotel do amigo.
Não dividia o mesmo quarto com Gabi, tendo optado por
aposentos separados.
Naquele momento ela estava sentada em uma das mesas do
restaurante, tomava o desjejum quando Pierre acomodou-se.
-- E como dormiu? Está se sentindo melhor? – Ele
questionou preocupado.
-- Estou bem. – Bebeu um pouco de água. – Falei com
Rogério mais cedo, acredito que amanhã deve chegar.
O chef segurou-lhe a mão sobre a mesa.
-- Tem certeza que essa é a melhor forma? Ou melhor, não
acha que já está mais que na hora que esquecer essa vingança?
Os olhos azuis estreitaram-se.
-- Como posso esquecer se foi apenas isso que me manteve
viva durante todos aqueles anos dentro daquele lugar?! – Cruzou as mãos atrás
da nuca. – Pierre, você acha mesmo que consigo fazer isso, enquanto aquele
miserável me manteve afastado da minha mãe por tantos anos?
O homem a entendia, sabia como ele sofrera e como ainda
sofria. Estivera ao seu lado durante todo aquele tempo, presenciara as
terríveis formas de tortura, tudo para tentar realmente deixar a adolescente na
época louca. Sabia que a intenção na verdade era que a garota tirasse a própria
vida. Sempre que ia até o quarto de Ana encontrava objetos cortantes, decerto
deixados lá para que a moça entrasse em desespero e se matasse.
-- E essa moça? O que ela representa em sua vida?
Ana desviou o olhar, focando na praia que podia ser vista
pelas portas de vidros.
Não desejava falar sobre a jovem que trouxera consigo.
Estava muito irritada com a Bamberg, furiosa, porém ainda
assim continuava a querê-la, pois bastou vê-la na noite passada que seu desejo
retornara ao corpo. Essa foi uma das razões para não desejar ficar no mesmo
lugar que a jovem.
-- Não vai me responder? – O chef a questionou. – Pois
direi o que penso...desde que estiveram aqui naquele dia eu percebi que você
gosta dela, que sente algo pela moça e foi por essa razão que partiu.
A baronesa encheu o copo com água e bebeu devagar.
-- Se não gostasse dela não teria ido embora...gosta
daquela garota e isso está te assustando, afinal, a poderosa Del La Cruz não
costuma sentir nada a não ser a vontade de se vingar de todos...—Fez um gesto
negativo com a cabeça. – E digo mais, sua raiva não apenas por essas ações, mas
também porque a Bamberg estaria nos braços de outro e não nos seus.
Ana levantou-se.
-- Não posso controlar o que você pensa, seus absurdos
são responsáveis apenas suas.
Pierre a viu seguir pelo restaurante em direção aos
elevadores.
Sabia que ela gostava da jovem, mas ela jamais admitiria.
O sol já estava alto quando Gabriele decidiu levantar da
cama. Não estava dormindo, estava chateada e muito triste com tudo o que tinha
acontecido. Quando chegaram ao hotel fora acompanhada aos aposentos por uma das
colaboradoras e desde então continuava no mesmo lugar. Chegara a pensar que Ana
iria até lá, porém não foi, nem mesmo para dormir.
O desjejum estava intocável sobre a mesa. Não estava com
fome. Sentia falta da Luna, sentia saudades de estar com a criança em seu
banho, em sua comida, em suas brincadeiras. Será que Lia tinha conseguido
colocá-la para dormir direito? Será que estava sentindo sua falta?
Foi ao banheiro, escovou os dentes e foi quando sua
imagem no espelho.
Os olhos estavam vermelhos de tanto chorar, inchado, com
olheiras profundas.
Por que tinha aceitado deixar o convento?
Deveria ter se negado a participar de tudo isso. Era
simples. Não aceitava as condições do avô e continuaria lá, pelo menos haveria
um pouco de paz, sem falar que não teria conhecido a baronesa.
De todas, essa era a parte que gostaria de ter apagado
dessa história. Gostaria de nunca ter visto aqueles olhos azuis, de nunca ter
sentido a doçura dos lábios rosados...
Ouviu passos e pensou se tratar da Del La Cruz, mas ao
chegar na sala viu Pierre a lhe observar curioso.
-- Mon ami, por que não comeu? – Ele questionou
horrorizado. – Não jantou e agora não tomou seu desjejum.
-- Não estou com fome, mas agradeço a preocupação. –
Disse prendendo os cabelos com uma liga.
-- Querida, não pode agir assim ou se entregar à
tristeza. – Segurou-lhe as mãos, fazendo-a sentar-se em uma poltrona. – Isso
não vai adiantar nada, não mesmo com a baronesa. – Secou-lhe uma lágrima que
rolava em sua face. – Ana Di Pace vai continuar agindo assim, pois você está
permitindo que ela volte para o controle. – Fez um gesto negativo com a cabeça.
– Eu não sei qual o nível da relação de vocês duas, mas o que eu te digo é que
se você baixar a cabeça, ela vai continuar a fazer o que quer, ela controla
tudo e você foi a única pessoa que ela não conseguiu controlar.
-- Ela vai me tirar a Luna... – Soluçou. – Sabe que é
única forma de me atingir e é isso que está fazendo. – Limpou os olhos
chorosos. – Não me deixou explicar, não me escuta, apenas agi como se só ela
tivesse a razão em tudo. – Levantou-se chateada. – Agora me jogou aqui e não
voltou mais, castigando-me,
-- Ela não vai te ouvir porque não quer acreditar,
sente-se traída.
-- Eu não a traí, pois nunca disse que as ações seriam
delas, nem mesmo aceitei assinar os papéis que propôs. – Suspirou. – Quanto ao
casamento, aceitei apenas porque estava me sentindo pressionado, já estava
cansada de me negar, não aguentava mais as cobranças, então em um momento de
fraqueza o fiz, mas não iria fazer, não queria fazer. – Espalmou as mãos sobre
a mesa. – O que ela quer? O que a baronesa deseja? Por quanto tempo vai me
manter aqui isolada de todos?
O chef levantou-se.
-- Eu não sei, ela não está no hotel, também não me disse
para aonde iria, mesmo assim, alimente-se, cuide-se, pois quando ela vir até
você vai precisar de muita sabedoria. – Aproximou-se. – Quanto à Luna, ela está
bem, Lia está cuidando dela na cobertura.
Os olhos negros brilharam.
-- Como sabe?
-- Eu liguei para a mansão e descobri que ela está na
cobertura. – Sorriu. – Falei com a Lia e se você se alimentar, eu posso te
deixar falar com ela no telefone do escritório.
-- Jura? – Perguntou entusiasmada.
Pierre fez um gesto afirmativo com a cabeça.
A jovem o abraçou, deixando o chef constrangido, mas
retribuiu a gentileza, mesmo sabendo que se Ana soubesse disso seria capaz de
colocá-lo em sua lista de vingança, porém não podia permitir que Gabi ficasse
definhando em tristeza preocupada com a criança.
Uma semana passou-se e Gabriele continuava sozinha no
quarto de hotel. Mas depois que Pierre lhe permitiu falar com Lia por chamada
de vídeo e ver Luna tudo ficara melhor. Todas as tardes ela ia até o escritório
e ficava horas falando com a cozinheira e vendo a criança lhe chamar, até
chorou vendo a menina que também parecia
muito triste por sua ausência.
Tomara banho e agora estava sentada na poltrona, estava
lendo um livro que o chef de cozinha tinha lhe dado sobre a história da
culinária e isso lhe ajudava a distrair a mente.
Vez e outra seu pensamento focava em Ana Valéria. Sabia
que ela não estava no hotel, pois Pierre tinha dito isso. Onde poderia estar e
por qual razão a tinha deixado ali sozinha?
Levou a unha à boca e começou roer. Estava nervosa com
todo esse mistério. Preferia que a baronesa estivesse ali esbravejando consigo.
Ouviu a campainha tocar e foi até lá pensando que poderia
ser a Del La Cruz, mas para sua surpresa foi o marido de Branca quem apareceu.
Rogério a olhava com expressão constrangida.
-- Gabriele, precisamos conversar. – Apontou-lhe a
poltrona. – Pode me dá uns minutos?
A Bamberg conhecia o homem, ele sempre era muito gentil e
educado. Agia com polidez, mesmo diante das explosões da filha de Antônio.
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.
O homem sentou-se, depois retirou alguns papéis da
valise. Estava ali como advogado de Ana e como tal fora pedido total sigilo dos
seus serviços, sendo proibido até mesmo de comentar sobre isso com a esposa.
-- Gostaria que lesse e depois pode tirar suas dúvidas
comigo.
Ela aceitou o documento e sua expressão parecia
horrorizada diante do que estava escrito. Os olhos negros demonstravam total
desgosto com tudo que estava escrito ali.
-- Então, se eu não aceitar o que a baronesa está
propondo eu não poderei voltar a me aproximar da Luna? É isso mesmo? –
Questionou indignada. – Uma união no civil com essa mulher para que ela possa
garantir que no final terá essas malditas ações. – Levantou-se irritada. –
Gostaria que engolisse a empresa toda. – Amassou a folha. – Me manteve aqui
para organizar tudo, não teve nem a dignidade de tentar falar comigo.
O advogado entendia a explosão da moça, porém nada podia
fazer, apenas cumpria as ordens.
-- E quando toda essa palhaçada terminar e completar o
ano do prazo, ela me deixa livre, contanto que eu lhe entregue as ações...Que
espécie de gente é Ana Valéria? – Questionava exasperada.
-- Gabi, acredite, eu não gostaria de estar aqui, porém
sou o representante legal e tenho que cumprir ordens. – Foi até ela. –
Acredite, conversei com a Di Pace, pedi que reconsiderasse, mas está uma fera
depois do que descobriu. – Tocou-lhe o braço. – Você pode se negar, fazendo
isso, te levo de volta para a capital...
-- Porém se me negar não poderei voltar a me aproximar de
Luna... – Cobriu o rosto com as mãos, sentando-se novamente. – Ela sabe que amo
a menina e que sentiria muito se tivesse que a deixar...
O advogado ficou em silêncio durante longos segundos e
depois falou:
-- Caso você se casasse com o Miguel também perderia a
menina...
Não, pois havia a promessa de Antônio, porém não quis
falar sobre isso.
Rogério respirou fundo.
-- Veja, você só estará casada no papel, tudo isso
permanecerá em total segredo, só nós saberemos e quando acabar o tempo você se
divorcia e poderá ficar livre. – Pigarreou. – Também não haverá nenhum tipo de
contato físico entre vocês...Isso é apenas uma forma de assegurar as ações...Ana
lutou muito por essas ações e não pretende perdê-las... – Passou a mão nos
cabelos. – Você não vai perder nada e no final ainda receberá uma boa
quantia...ninguém ficará sabendo de nada...
-- Também fala de Trevan no documento...
Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Descobrimos que o fotógrafo foi responsável por todas
as notícias jogadas na rede...E também falsificações da assinatura do
barão...Acho que eram essas as provas que você temia...
Gabi mordiscou a lateral do lábio inferior.
-- E vai usar isso também para me chantagear... – Fitou o
homem. – Acho que ela não precisaria de um casamento para garantir as ações já
tem tudo nas mãos para me manipular...
Rogério sabia disse e também argumentara que a Bamberg
aceitaria ceder as ações diante do que tinham para pressioná-las, mas ela
insistira na união, talvez não quisesse deixar chances para ser ludibriada mais
uma vez.
Corajosamente, a jovem falou:
-- Farei como ela quer...
No cartório, Ana estava sentada. Esperava que Rogério
chegasse trazendo Gabriele. Pierre estava lá, era uma das testemunhas junto com
a recepcionista.
A baronesa usava um terninho feminino azul, uma blusa
branca de gola alta, uma saia que chegava aos joelhos e salto alto. Os cabelos
estavam soltos. Esperara todos aqueles dias para que o advogado conseguisse
organizar a papelada. Tinha retornado para a capital, na verdade, estava na
cobertura com Luna e descobrira as ligações que o chef fizera para falar com a
cozinheira. Falara a Lia que não falasse nada, fingindo que era ela quem ficara
com a menina durante todos aqueles dias.
Não quisera ficar no hotel, buscando distância da neta de
Bernard.
Viu a porta abrir-se e lá estava a Bamberg tendo ao seu
lado o marido de Branca.
Observou-a por alguns segundos, depois desviou o olhar.
Gabriele seguiu até onde estava a baronesa. Seu olhar
demonstrava total revolta, não fazendo questão de esconder sua indignação
diante de tudo o que estava acontecendo.
Ouviu as palavras que foram ditas e quando chegou o
momento de assinar, ela o fez, afastando-se em seguida.
Rogério fora o responsável por levar Gabriele de volta
para a mansão. Todo o trajeto fora feito em total silêncio. Não trocaram uma
única palavra e quando chegaram ao destino, a Bamberg seguiu diretamente para
os aposentos e como fora prometido Luna estava lá e Lia lhe dava de comer.
A menina parou o que fazia ao ver sua amada babá,
estendendo os braços para ela. A neta de Bernard a pegou nos braços, passando
longos segundos ali, apenas sentindo o delicioso aroma da bebê. Beijou a
mãozinha da pequena ruiva, depois lhe beijou o topo da cabeça.
-- Essa menina sentiu tanto sua falta, filha... – A
cozinheira comentava. – O que houve? – Questionava preocupada. – A senhora Ana
Valéria prometeu me cortar a língua se eu comentasse algo com alguém... –
Benzeu-se. – Mas o que eu iria comentar? Que você foi levada para longe durante
tanto tempo?
Gabriele permaneceu em silêncio, depois assumiu a tarefa
de alimentar a menina.
Não queria falar sobre tudo o que acontecido, apenas
esquecer e torcer para que o tempo passasse rápido e tudo aquilo terminasse.
Mesmo assim não iria abrir mão de Luna, não faria isso mesmo.
-- Hoje à tarde o tabelião estará aqui, a baronesa pediu
para organizar tudo.
A Bamberg estava tão agoniada nos últimos dias que
acabara esquecendo que seria aquele dia o encontro com o representante dos
desejos do avô. O que mais haveria para ser dito?
Tentava não amaldiçoar o barão por toda aquela confusão
que fora criada. Ele simplesmente poderia ter deixado todas as ações para Ana
Valéria, poupando-a de ter que conviver com aquela mulher.
Branca retornara naquele dia da longa viagem que fizera.
Sabia que deveria estar presenta naquela tarde na mansão da baronesa. Pensava
quais surpresas tinha reservado Bernard para a viúva naquele dia. Estranhara a
ausência de Ana Valéria e de problemas relacionados à Gabriele em sua ausência.
Nada fora dito, nem mesmo tocado no nome da jovem.
Chegou à casa da Del La Cruz e seguiu direto para o
escritório.
Gabriele já estava lá e parecia ouvir atentamente Otávio
que falava quase em sussurros.
-- Boa tarde! – Cumprimentou a todos, depois se acomodou.
A Bamberg lhe respondeu, mas o advogado lhe ignorou. Via
que ele parecia irritado, até mesmo furioso com algo que não sabia, pois não
conseguira ouvir nada que fora dito. Viu-os ocupar seus lugares. O tabelião já
organizava os documentos.
A porta abriu-se e viu Ana Valéria entrar.
Viu o sorriso desdenhoso dirigido a Otávio.
Gabi encarou os olhos azuis por alguns segundos, depois
observou as roupas leves que estava usando. A calça de moletom preta, camiseta
branca. Os cabelos estavam trançados na lateral do ombro. Então ela estava em
casa...
-- Boa tarde a todos e a todas! – O tabelião iniciou. –
Gostaria que ocupassem seus lugares para que possamos iniciar mais uma etapa do
testamento do barão de Bamberg.
Daquela vez, a Del La Cruz não permaneceu de pé, ao
contrário, acomodou-se em uma cadeira ao lado da neta de Bernard. Não olhara
para moça, mas sabia que sua presença perturbara a jovem.
Ainda sentia raiva em pensar que Gabriele tinha ligações
com Lorena e Trevan, odiava imaginar como ela fora miserável e lhe traíra
durante todo aquele tempo. Esperaria pacientemente o momento de ter as ações e
depois usaria seu poder para também destruir a maldita garota.
-- “Eu, barão de Bamberg, uso a voz do meu representante
para dar as últimas instruções sobre minhas vontades. Imagino que Gabriele
tenha preferido viver com a minha amada esposa, ao invés de ficar no
convento...
A Del La Cruz torceu o nariz enojada diante da forma que
fora falado de si.
-- ... acreditei que ela não ficaria no convento, não
quando sei do seu grande amor pelo sobrinho da madre superiora...bem, espero
que continue a cumprir as minhas vontades até que o ano seja completo. Hoje,
dou-lhe a liberdade, Gabi, para que decida quem será a dona das ações que
herdou...ao término desse ano, venda-as para quem pagar melhor, assim, não
haverá nenhum compromisso seu com Ana Valéria...Essa é a minha vontade.”
A administradora fitou a ruiva, pensava que ela
explodiria naquele momento ao ouvir as orientações que tiravam definitivamente
alguma chance de ter as ações, porém ela se mantinha calma, como se nada
daquilo lhe afetasse.
-- Eu sabia que o barão não seria tolo! – Otávio não
escondia sua felicidade. -- Agora pode
fazer sua escolha.
Gabriele fitou a baronesa de soslaio.
Sabia que ela não se importava com o que tinha sido dito,
tinha a garantia de que seria entregue as ações no final do prazo estipulado.
O tabelião guardou os documentos e em seguida já se
despedia deixando a sala.
A baronesa permaneceu sentada, viu a jovem noviça seguir
com seu representante legal para fora do recinto. Não se intrometeu, apenas
ficando quieta.
-- Pensei que fosse xingar o tabelião... – A voz de
Branca lhe tirou dos seus pensamentos.
Lia aproximou-se com uma bandeja com lanches, deixando
sobre a mesa, pediu licença e saiu.
Ana serviu-se de uma limonada, bebericando lentamente.
-- Viajarei amanhã, porém não vou demorar, estou ansiosa
para que o juiz decida o dia que
encontrarei minha mãe. – Levantou-se. – Agora vou arrumar algumas coisas e
seguir para o meu apartamento.
-- Por que não fica aqui? – Indagou analisando-a. – Está
fugindo de algo ou de alguém?
-- Não estou fugindo, apenas quero ficar sozinha... –
Umedeceu os lábios. – Estive na terapia e acho que está me ajudando muito...
A administradora acomodou-se ao lado dela.
-- E por que se mostrou tão calma diante do que o barão
disse na carta? – Comeu um pedaço de bolo. – Sabe que agora tudo pode ser ainda
mais complicado...exceto, se já convenceu a Gabi de te vender...
A Del La Cruz fitava o líquido que ainda tinha no copo.
Não sabia se estava garantida as ações, porém não
acreditava que a garota seria tão tola a se negar a lhe entregar, caso agisse
assim, não lhe daria o divórcio.
Levantou-se.
-- Não vou me preocupar com isso agora. – Sorriu. – Cuide
de tudo por aqui.
Branca a viu deixar o escritório e pensou em voltar a
fazer questionamentos, mas sabia que seria inútil fazê-lo.
O restaurante escolhido por Miguel era um dos mais
finos. O rapaz parecia interessado em impressionar a namorada. O cardápio
trazia opções de vários países orientais e europeus. O renomado chef era
bastante ovacionado por onde passava. As paredes eram totalmente de vidros
transparentes e ficava à beira-mar, isso tornava possível ter uma visão
maravilhosa. Uma orquestra tocava uma música suave. Os garçons pareciam sempre
prontos para realizar o mínimo desejo dos clientes.
Gabriele
sorriu ao receber um buquê de flores do pretendente.
Pedira
a Branca para jantar com o namorado naquela noite e recebera a autorização. A
administradora oferecera-se para ficar com Luna e fora isso que
aconteceu.
Tinha deixado a mansão às dezenove horas e pelo que Lia
tinha falado, a baronesa retornara para a cobertura na companhia da amante.
Quando pensava que fora obrigada a assinar os papéis que
lhe prendia àquela mulher sentia uma revolta crescer dentro do seu interior.
Casara-se com Ana Valéria apenas para que ela pudesse ter as malditas ações.
–
Beba um pouco, querida, é um dos melhores vinhos do país.
Ela
pensou em se negar, porém decidiu provar a bebida, talvez isso a deixasse mais
à vontade e a fizesse esquecer os últimos acontecimentos.
Há
uma semana tinha retornado do litoral e não voltara a ver a ruiva, a não ser
naquele dia na presença do tabelião. Chegara a questionar cozinheira sobre o
paradeiro da empresária, mas apenas recebera uma informação vaga, como se
também não tivesse sabendo. Decerto voltara para os braços da sua amada modelo.
–
Ficou sabendo que a Del La Cruz conseguiu na justiça a permissão para ver sua
mãe? – Miguel comentou. – Fiquei sabendo pela Lorena que o senador já entrou
com uma apelação para proibir a aproximação. Espero que consiga.
De
repente, a conversa pareceu chamar a atenção da jovem.
–
Como assim?
–
Não sabe que a tal mulher é proibida de visitar a mãe?
Sim,
ela sabia, tinha visto em alguns daqueles sites que traziam tudo sobre a vida
da empresária.
Fez
um gesto afirmativo com a cabeça.
–
Fico feliz que tenha conseguido, acho terrível não permitir que ela o fizesse.
– Falou demonstrando sinceridade.
–
Como assim, amor? – O rapaz parecia chocado. – A baronesa não merece isso, é um
ser humano terrível, tentou contra a vida da mãe, deve ser mantida bem longe. –
Tomou um pouco da bebida. – Fui contratada pelo senador para conseguir impedir
que esse encontro aconteça e já estou buscando provas para mostrar como ela é
um perigo.
A
Bemberg respirou fundo, fechando os olhos, parecia tentar não perder a
paciência. Estava cansada de ouvir Lorena e Miguel passarem todo o tempo
falando mal da esposa de Bernard. Não acreditava que ela era uma ameaça para a
própria mãe e achava até mesmo muito cruel que alguém falasse algo assim.
Poderia não ter uma boa relação com a ruiva, mas isso não significava que ela
era alguém ruim. Via como ela agia quando estava com a Luna e sabia que a
criança gostava muito da tia Ana Valéria.
–
Pelo visto a baronesa já trocou de amante…
A
voz de Miguel lhe despertou das suas ponderações e ao abrir os olhos viu a
mulher que não parava de povoar sua mente.
Seria
possível estar mais bela que antes?
Usava
um vestido preto com decote em V, ele era justo em sua cintura, mas nos quadris
abria-se delicadamente. Longo, apresentava uma fenda na lateral das pernas. Os
cabelos estavam presos no alto da cabeça em um penteado que expunha o pescoço
esguio. Usava luvas de seda que chegavam até os cotovelos. Os sapatos eram de
salto alto e enrolava em suas panturrilhas em uma corda fina e elegante.
–
Uma mulher dessas não devia ter direito a nada.
A
jovem sentiu os olhos azuis focarem em si pela fração de alguns segundos e isso
foi necessário para perturbar sua paz. Não demorou para sua atenção voltar-se
para a acompanhante e esquecer totalmente sua presença.
–
Não entendo o motivo de você implicar tanto com a Del La Cruz, Miguel. – Falou
irritada. – Ela é viúva, não há problemas em se deitar com quem quiser, mas
isso não significa que ela seja uma pessoa ruim.
O
jovem pareceu surpreso com a explosão da namorada. Tomou-lhe a mão delicada nas
suas, beijando-a.
–
Parece que não escuta o que a sua tia e o seu pai falaram em relação a esposa
do barão…deixe te dizer algo, dentro da mansão tem alguém que conta tudo o que
se passa para o senhor Antônio e eu fiquei sabendo como você é maltratada, de
como tinha que limpar tudo e ainda ficar com a menina, de ter sido proibida de
voltar ao seu curso…tudo isso nós sabemos e já falei com Otávio para que algo
possa ser feito... – Beijou-lhe a mão. – Quando a gente casar tudo vai ser
diferente...
Os
olhos acinzentados pareciam surpresos. Então, havia alguém que contava tudo que
acontecia na mansão? Tamborilava os dedos sobre o tampo da mesa.
–
Quem é?
O
garçom aproximou-se com uma garrafa de vinho Ouro Verde.
–
Nós não pedimos nada. – Miguel negou.
–
Foi um presente da casa. Aproveitem! – O homem falou gentil.
Gabriele
sabia de onde era aquela bebida, mas não disse nada, apenas permanecendo
quieta.
–
Agradeço por ter me convidado para jantar, baronesa. – A mulher disse com um
sorriso.
Laura
era representante dos empresários que negociavam com a Del La Cruz a expansão
da bebida para outros países.
–
Pode me chamar de Ana Valéria. – Disse simpática.
Tinha
deixado o escritório e fora até o apartamento, vestiu-se e foi buscar a
angolana.
Era
uma jovem muito bonita. Os cabelos em cachos caiam sobre as costas. A pele
negra era como um delicioso chocolate. Os olhos eram castanhos. Alta, tinha um
porte atlético e elegante.
Não
pensara que encontraria Gabriele ali. Fazia dias que não voltava à mansão,
apenas retornara hoje para o encontro com o tabelião. Não tinha interesse de
encontrar a neta de Bernard, porém ao vê-la sentiu aquela intrigante e
agoniante sensação de anseio que sufocava na fazenda.
Pensou no matrimônio, em como deixara claro suas
intenções. Não iria impedi-la de continuar o namorico, deixaria que continuasse
a se comportar como se nada tivesse acontecido. Em sua cabeça ainda lhe
irritava saber da ligação de Gabriele com Lorena e Trevan. Isso significava que
não poderia confiar na freirinha em hipótese alguma.
A
comida foi servida e Laura parecia ter gostado muito.
–
Uma iguaria… Não sabia que havia um tempero tão divino. – Riu. – Salvou-me de
comer mais uma pizza. Não demora e não entro nas roupas que trouxe.
A
baronesa bebia um pouco do líquido vermelho.
–
Acho impossível isso acontecer… – Virou a cabeça em direção à mesa onde a
Bamberg estava.
–
Está tudo bem? – A representante internacional observou a face da ruiva. –
Ficou corada de repente.
–
Deve ser da bebida. – Comeu um pouco do polvo que fora pedido. – Se ficar mais
dias, poderá conhecer outros lugares como esse. Esse restaurante faz parte de
uma rede de uma pessoa que gosto bastante.
–
Eu não me negarei a vir…mas gostaria de ter uma boa companhia…
A
noite continuou sem nenhum problema. Gabriel foi embora com o namorado, mas Ana
Valéria permaneceu no restaurante por mais algumas horas.
Já
era tarde quando Branca conseguiu fazer Luna dormir.
Estava
sentada na poltrona do quarto quando a porta abriu.
–
Pensei que chegaria mais tarde. – A administradora sorriu ao ver a neta do
barão. – Deveria ter ido dançar.
A
Bamberg sentou-se na cama.
–
Estava cansada, queria apenas chegar e deitar na minha cama. – Tirou a sandália
que usava. – E como a Luna se comportou? – Indagou fitando o berço.
–
A gente brincou muito e depois ela se cansou, acabou de dormir. – Olhava-a
curiosa.
–
Fico muito feliz por isso. – Deitou-se de costa. – Acho que devo lhe agradecer
por ter ficado com ela.
–
Sabe que gosto muito desse pequeno furacão ruivo e como a tia dela anda muito
ocupada, decidi fazer a vez de avó.
A Bamberg não queria tocar no assunto, ainda mais por ter
tido uma noite péssima com a presença daquela mulher no restaurante e a
insistência de Miguel com o casamento. Não podia contar toda a verdade, então,
só restava que se negasse até completar o bendito ano.
–
A baronesa está ocupada em sair com mulheres? – Indagou levantando-se. – Isso
deve deixá-la muito cansada, imagino…
Branca
a fitou interessada.
–
Encontrou-a?
A
neta de Bernard deu de ombros, enquanto seguia para ver a garotinha dormindo.
–
Deve ser algum encontro de negócios, há muita coisa a ser resolvida, pois ela
fará uma viagem para o oriente.
–
Tão longe? – Perguntou sem esconder a preocupação.
–
Sim, pedi para mandar um dos representantes no lugar, mas ela insiste em ir,
não posso fazer muito.
Gabi
aproximou-se curiosa.
–
Quando ela vai encontrar a mãe?
A
administradora fez um gesto afirmativo com a cabeça.
–
Deus tocou no coração do juiz e ele permitiu...Mas ainda a data não foi
marcada, porém o Rogério está organizando tudo.
–
Fiquei muito feliz quando soube disso.
--
Sim, já tínhamos comentado sobre isso, mas agora a ansiedade é saber quando
será.
--
Espero que dê tudo certo.
A
Wasten fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois se levantou.
–
Vou para a minha casa agora. – Beijou a testa de Gabriele. – Descanse, amanhã
nos falamos.
A
garota assentiu e logo ficava sozinha.
Não
sabia se podia contar a Branca sobre o namorado está trabalhando com Antônio
Del La Cruz, nem podia dizer que havia alguém naquela casa que narrava tudo o
que acontecia.
Já passava de meia noite quando o
carro da baronesa passou pelos portões da mansão.
Ana
desceu do veículo e seguiu pelos degraus que levava à entrada. A casa estava na
penumbra, mas as luzes com sensores de movimentos acendiam à medida que ela
passava. Seguiu em direção a cozinha, estava com sede.
Abriu
a geladeira e pegou uma jarra com água, enchendo um copo. Encostou-se ao balcão
de mármore, parecendo não se preocupar com a hora para ir dormir. Na verdade, não
estava com sono, um pouco agitada, ansiosa. Não via a hora de poder ver a mãe,
de abraçá-la e sonhar que ela conseguiria recuperar suas memórias. Por muitos
anos pensara que Clarice tinha lhe abandonado naquele manicômio, porém depois
ficara sabendo o que tinha acontecido. Desde que fora tirada daquele terrível
lugar, lutava para ter a ex-esposa de Antônio ao seu lado, mas a batalha não
era fácil, mesmo que fosse poderosa, seu pai mostrava ser um homem muito
respeitável e religioso e a opinião pública o apoiava bastante. Mesmo assim,
não desistiria, continuaria lutando até poder trazer a mãe para viver consigo.
Tinha
tanta coisa para lhe falar…
De
repente, seu olhar seguiu até a porta e lá estava a Bamberg.
Seus
olhos passearam pelo corpo praticamente à mostra em uma minúscula camisola
branca. Observou os cabelos soltos e o olhar surpreso a lhe fitar.
Bebeu
todo o conteúdo do copo, porém não saiu de onde estava.
–
Boa noite, senhorita... Que surpresa encontrá-la depois de tanto tempo...
A
Bamberg não imaginava ver a baronesa ali. Nem mesmo conseguira dormir só em
pensar que a Del La Cruz estava na cama, nos braços da acompanhante do jantar.
Viu que usava a mesma roupa do restaurante, então não tinha trocado ainda.
–
Boa noite…
Seguiu
até o armário. Estava sem sono e por isso fora até ali para fazer um chá que a
ajudasse a dormir. Tentou baixar um pouco a camisola, pois sabia que era minúscula,
mas não imaginara que veria aquela mulher ali.
–
E então? Gostou do jantar? E o vinho estava bom?
Gabriele
mantinha uma distância segura, parecia temer aproximar-se.
–
Sabe que não bebo vinho, mas acho que estava bom, afinal, dizem que é um dos
melhores. – Cruzou os braços sobre o colo. – Não pensei que dormiria em casa,
fica sempre fora...e não entendo o motivo de falar comigo depois de tanto tempo
em silêncio.
–
Sentiu minha falta foi? – Deixou o copo sobre a pia. – Mal nos casamos e
já está cobrando? – Provocou com um arquear de sobrancelha.
A
Bamberg não respondeu, preparando o chá.
Tentava não pensar nesse casamento, pois sabia que o
único compromisso que havia entre elas era o das ações.
–
Seu namoradinho é advogado? Ele também está ligado ao meu pai como a sua podre
família?
A
Bamberg fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto tentava esfriar o
líquido para beber, mas como sabia que demoraria, achou melhor ir para o
quarto. Não queria discutir, ainda mais falar sobre Trevan e Lorena.
Seguiu
para ir embora, mas a voz baixa a deteve.
–
Quero falar contigo, vamos ao meu escritório.
–
Essa hora? – Perguntou impaciente. – Por Deus, quero só voltar para o meu
quarto. – Umedeceu os lábios. – Passamos tanto tempo sem brigar por não nos
falarmos, então quero continuar assim.
–
Venha comigo, quero falar contigo, não vamos demorar. – Insistiu autoritária.
Ana
seguiu na frente e uma Bamberg chateada a acompanhou ao cômodo.
Ao
chegarem ao lugar, a Del La Cruz acomodou-se na poltrona que ficavam diante da
escrivaninha. A outra permanecia de pé.
–
Sente-se.
–
Eu não quero me sentar, quero apenas que diga o que quer e me deixe ir embora
logo.
–
Está com medo de mim? – Indagou sorrindo. – Ou de você?
–
Não estou com medo, senhora, porém não acho que seja hora para ter conversas. –
Deixou a xícara sobre a mesinha. – Se quisesse conversar comigo teria vindo
aqui durante o dia e não em uma hora que todos devem estar dormindo.
–
E por que você não estava? – Observou o relógio que trazia no pulso. – Quero
apenas te dizer que vou permitir que faça seu curso…
Os
olhos negros pareciam perplexos.
–
Por quê? – Perguntou baixinho.
A
baronesa olhou para a pernas expostas.
Levantou-se
e foi até ela.
–
Porque eu sei que você deseja… – Tocou-lhe os cabelos. – Vou viajar e talvez
demore para voltar...Ainda não engoli seu parentesco com meus inimigos, porém
nesse momento não desejo ouvir suas explicações ou justificativas, pois nada
que me disser vai justificar suas ações... – Encarou-lhe. – Não faça nada que
me deixe mais furiosa...
-- Tipo o quê? – Provocou-a. – Respirar?
A ruiva esboçou um sorriso.
Gabriele
sabia da viagem e essa também era algo que a perturbava. Não queria vê-la
longe, gostava de saber que a poderosa mulher estava por perto, mesmo que nunca
conseguissem se entender.
–
Voltei hoje para deixar algumas instruções, pois pela tarde seguirei para o
apartamento e não retorno aqui. – Tocou-lhe a face. – Estava muito bonita
hoje…nem consegui me concentrar…Seu namoradinho tem muita sorte...
A
jovem umedeceu o lábio superior.
–
A senhora também estava muito linda…está muito linda…
A
baronesa tocou as alças finas do roupa que a neta de Bernard usava, parecia
concentrada naquela parte da camisola.
Segurou-lhe
a mão, guiando-a até a poltrona. Sentou-se e fê-la sentar-se sobre seu colo,
posicionada de lado.
A
Bamberg apenas permitia que ela fizesse, parecia hipnotizada e ansiosa…
–
Enquanto eu estiver fora quero que continue cuidando da Luna…– Acariciou-lhe o
braço. – Vou deixar uma procuração para que seja responsável por ela…sabe que
não deve falar do nosso casamento com ninguém...
-- Por quê? – Questionou em um fio de voz. – Não gosta da
ideia de ser casada?
Ana passava os dedos pela pele sedosa, parecia encantada
com a beleza da moça.
Sabia que não devia brincar com fogo, pois seu interior
queimava como brasa só em ver a Bamberg. Fugia do desejo como o Diabo fugia da
cruz, mesmo que soubesse que deveria mantê-la longe, ainda mais pelo vínculo
que tinha com seus inimigos.
-- E você gosta da ideia de ser casada comigo? –
Questionou lhe tocando as coxas. – Há muitas obrigações que uma esposa deve
seguir...
A herdeira do barão sentiu a face corar, então mudou de
assunto.
–
Vai demorar muito para voltar? – Perguntou fitando os olhos azuis.
–
Talvez sim…eu não sei…tenho vários países para visitar… – Passou o polegar
sobre o tecido, tocando o seio… – O que você sente quando fica perto de mim
assim? Diga, sente desejo?
Gabriele
observava os dedos passearem…sentiu os mamilos eriçarem.
A Bamberg baixou os olhos, não devia permitir que ela
agisse assim, ainda mais por tudo o que tinha feito, pela forma que tinha agido
tanto no litoral, como depois que retornaram. Nem mesmo tinha lhe dado a chance
de conversar, de explicar tudo, apenas agindo com frieza e crueldade.
-- Diga para mim o que sente...
A
jovem mordiscou a lateral do lábio inferior. Fitava-a e era como se estivesse
hipnotizada.
–
Sinto algo…algo estranho…parece que…que é algo…eu não sei…não pode pedir para
outra pessoa fazer essa viagem no seu lugar?
Ana
aproximou os lábios do seu pescoço, aspirando o aroma delicioso que se
depreendia…baixou as alças e expôs os seios redondos…
A
Bamberg não fez menção de cobrir-se, fitando os olhos que pareciam embevecidos
diante da visão.
–
Vai sentir minha falta… – Agora tocou os seios sem nada em seu caminho. –
São tão belos...gosto deles...
Ana
Valéria a fez montar em suas pernas, sentada agora de frente para si.
As
bocas uniram-se devagar.
Gabriele
segurou-lhe a face, perdida no sabor daqueles lábios macios. Ousada e tímida,
capturou-lhe a língua. Chupando-a, sugando-a.
As
carícias em seus seios não cessavam e isso a deixava ainda mais desejosa.
Reclamou
quando os lábios abandonam os seus, mas logo via surpresa, a boca pousar em seu
colo. Inclinou a cabeça para trás no primeiro contato. Como podia ter algo tão
gostoso de se sentir. Baixou a vista e viu a língua rosada explorar os
delicados biquinhos…enquanto o polegar e o indicador mexiam no outro.
Os olhos de ambas encontraram-se…Pareciam pegar fogo
naquele momento.
– Sentirá minha falta? – Voltou a perguntar, apenas
usando as mãos para acariciar os montes redondos. – Ou não gosta de mim nenhum
pouquinho?
A Bamberg observava a expressão da ruiva. Sabia que não
deveria estar ali, que deveria esbravejar mais uma vez e depois deixá-la
sozinha com seus instintos, porém a queria tanto, mesmo sabendo que estava
apenas sendo usada como aquela mulher fazia com todas que caiam em seu charme.
– A senhora sentirá a minha…
Um sorriso desenhou-se nos lábios da baronesa.
– Senhora? – Encostou os lábios no pescoço esguio. – Acho
que prefiro que me chame de Ana Valéria… – Mordiscou-lhe a pontinha da orelha.
– Eu vou sentir sua falta, Gabi…eu sinto sua falta quando não te vejo…
A expressão de prazer não desapegava do rosto da herdeira
do barão, não apenas pelo toque que não cessava, mas também pelas palavras que
ouvia.
– Sim, Ana Valéria…– Hesitou – sentirei…também sinto sua
falta...sinto muito...
A Del La Cruz voltou a tocar os lábios com os seus.
Beijando-a com calma, pois não queria assustá-la daquela vez. Naquele momento
iria ser paciente com a bela mocinha, provando a doçura que se escondia sob
aquele ar de menina petulante.
Gabriele permitiu que a língua fosse capturada, permitiu
que cada recanto fosse explorado, mesmo temendo as consequências daquele ato.
Sentia os dedos passearem por suas costas, depois se arrumarem em suas coxas.
Sentia-se perdida, pois nem mesmo sabia como deveria agir, mas sabia o que
ansiava.
Relutante, tocou o decote do vestido. Ouviu o gemido
rouco da amada e isso a incentivou a ir mais longe. Desnudou os seios, parando
o beijo para olhá-los.
– Você é tão linda, baronesa… – Disse embevecida. –
Parece uma deusa…gosto do seu cheiro...gosto da sua pele...
Ana esperou e não demorou para as mãos, no início
trêmulas, começarem a lhe acariciar. Seu sexo vibrava com a forma gentil…Seu
desejo era tão grande que ansiava por tomá-la para si e depois mostrar-lhe como
deveria ser feito.
Viu os olhos negros arregalarem quando tocou em sua
calcinha. Estava tão molhada que o tecido mostrava-se imensamente úmido.
Mordeu o lábio inferior em desejo.
– Não se assuste…Apenas sinta…– Tirou-lhe a camisola pela
cabeça, deixando apenas a peça íntima no bonito corpo. – Linda…
Gabriele sentia-se exposta, porém mesmo assim não fez
menção em cobrir-se. Viu-a segurar na lateral da sua calcinha e rasgar o
delicado tecido, expondo agora seu sexo.
– O que vai fazer…Ana Valéria – Indagou com a respiração
acelerada. – Sabe que não pode…não deve…
Mais uma vez aquele sorriso poderoso desenhou-se nos
lábios da ruiva.
– Não se preocupe…Confie em mim…
O primeiro toque foi externo…Passeava por pelos ralos,
brincava, enquanto via a neta do barão acompanhar todo o percurso com olhar
afogueado.
Depois a viu cobrir os olhos com o braço, como se temesse
ver o que se passava.
Tentava manter o controle que já fugia dos seus dedos.
– Nunca chegou a tocar-se? – Indagou curiosa.
A Bamberg fez um gesto negativo com a cabeça, sem fitá-la.
– Deve fazê-lo, assim vai saber e aprender sobre seu
corpo…como gosta...como quer...pode me dizer como deseja e eu farei...
Gabriele ia responder, mas o polegar da esposa do avô
tocou-lhe a carne molhada e ela pensou que cairia do colo da amante,
assustando-se, segurou-lhe os ombros, pois temia desabar.
– Isso é apenas um pouco desse mundo de prazer…Olhe,
freirinha, não precisa ter vergonha...
O toque continuava. Ana brincava em sua estreita entrada
e em determinado momento cessou o contato, trazendo os dedos lambuzados para
que a jovem visse e sob seu olhar escancarado, passou a língua em todo o
líquido.
Gabriele sentia uma pressão em seu âmago. Era como se
houvesse agulhas espetando seu sexo, ele chegava a vibrar, tremer por mais em
observar a cena que passava em suas vistas.
– P…por…que faz isso? – A garota indagou gaguejando.
Ana exibiu um sorriso.
– Porque é gostoso…você sempre fica molhadinha assim para
mim ou é a primeira vez?
A Bamberg não teve coragem de responder que sempre que a
empresária lhe beijava a deixava assim.
Antes que pudesse fazer algo, foi levantada delicadamente.
Não entendia o que tinha acontecido, mas logo estava sendo acomodada novamente.
Havia um carpete no escritório. Um italiano renascentista
que fora comprado em um leilão por nada menos que um milhão de dólares.
Pertencera ao salão do rei Vitor Emanuell II, a peça estava na família de Bernard
há muito tempo e para o barão era uma peça que se pudesse, até de pisar, seria
proibida.
Gabriele deitou-se, mas não totalmente, apoiando-se nos
cotovelos para ver o que a outra fazia.
Ana Valéria despia-se. Parecia não ter pressa, ainda mais
diante do olhar curioso e desejoso da jovem. Sabia que ela a queria, via isso
em seus olhos e não podia negar que também ansiava por sentir a doçura da
garota se derramar em si.
Livrou-se das meias longas e por último da minúscula
calcinha de renda.
Observou a peça rara que estava sendo usada como leito e
sorriu.
Ajoelhou-se próximo da amada, lentamente, fê-la deitar-se,
pondo-se sobre seu corpo. Em agradecimento, recebeu um abraço e logo as bocas
encontravam-se novamente.
A Bamberg sentia embriagada com o contato do corpo quente
colado ao seu, do contato tão íntimo em cada parte que as unia. Mexia-se sob
ela, como se precisasse de muito mais.
Ana colocou a coxa entre as pernas da sua conquista,
movimentando-a devagar, roçando-a no sexo escorregadio.
Gabriele cerrou os dentes para não gemer alto diante do
prazer que lhe era proporcionado. Afastou os cabelos ruivos que caiam sobre seu
rosto, pondo-os por trás da orelha. Sentia a mão da empresária deslizar por
seus seios, depois por seu abdômen, acariciando-a, mas logo seguia mais uma vez
para seu ponto de maior prazer.
Os lábios começaram a fazer o mesmo caminho. Percorrendo
toda a delicada pele, mordiscando-a em alguns momentos, chegando ao sexo
pulsante.
Fitou Gabriele e deu um sorriso.
Não demorou para passar a língua em todo centro do prazer,
mesmo sob os protestos da morena, continuava.
– Acalme-se, meu anjo, me deixe provar do seu sabor…quero
me lembrar dele nos meus dias frios...
A Bamberg dobrou os joelhos, abrindo-se mais, enquanto se
apoiava nos cotovelos para poder observar o que estava sendo feito.
A boca carnuda parecia saber como agir, era experiente...forte...mas
delicada...parecia faminta, como se quisesse devorar sua carne...
Fechou os olhos, cerrando os dentes para não gritar em
prazer.
A baronesa usava a língua para estimular, enquanto usava
o indicador para massagear a pele sensível.
Ouviu o gemido baixo e sentiu o próprio corpo estremecer...
De repente batidas à porta interrompeu o momento de puro
prazer.
-- Gabi, você está aí?
A voz de Lia foi o suficiente para fazer a neta de
Bernard levantar-se tão rápido que acabou derrubando Ana Valéria.
-- Gabi... – A cozinheira chamou de novo.
A jovem vestiu a camisola rapidamente, olhando com
desgosto para a calcinha destruída.
Antes que a empregada entrasse, ela já saia desesperada
do escritório sem nem mesmo olhar para a amante.
Pela fé! Isso é hora Lia? Vai dormir mulher e não empata esse ato perfeito.
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