A antagonista - Capítulo 10



                             Nos aposentos, Gabi secava a menina e vestia sua roupa. A pequena Del La Cruz ria enquanto recebia beijos em sua barriga.

             Ficara surpresa ao vê-la com a tia e mais ainda ao observar como ambas pareciam lindas juntas. Pareciam mãe e filha. Sentira tantas saudades da garotinha durante aquele dia. Óbvio que estava feliz por ter encontrado Trevan, porém a insistência de Lorena para que se casasse com Miguel estava sendo irritante. Não podia negar que a esposa do avô era alguém totalmente intratável, arrogante, irritante, mesmo assim não sabia se gostava da ideia de passá-la para trás com as ações.

            Passava pomada para evitar assaduras e imaginava o que a baronesa faria se descobrisse de tudo o que estava acontecendo. Sabia que ela nutria um ódio mortal pelo próprio pai e por essa razão ansiava pelo controle da empresa que pertencia ao Del La Cruz, mas por que havia essa guerra entre eles? Indagara ao pai adotivo, mas ele apenas dizia que eram coisas que ela não deveria se preocupar e quanto menos soubesse nesse momento, melhor para todos.

            A ruivinha batia as perninhas, enquanto brincava com um franco de loção.

             – Então quer dizer que estava com a titia Ana nadando?

               Luna riu alto ao sentir a jovem lhe soprar a barriguinha.

                – E ela não esbravejou como costuma fazer e ficou com aquela cara de rainha má de conto de fadas? – Soprou de novo. – Cuidado para ela não cortar sua língua como já disse que cortará a minha.

             A pequena gargalhava, inocente, enquanto Gabi fazia caretas para imitar a tia da menina.

            – Rainha má?

            A Bamberg virou-se assustada e viu a expressão curiosa de Branca.

             – Estava apenas brincando com a Luna. – Respondeu sem jeito. – Só isso...

             A Wasten fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            Observava tudo com atenção, parecia analisar a expressão da jovem parada à sua frente.

             – E como foi seu dia? – Indagou curiosa. – Foram para algum lugar além do cinema?

            Gabriele parecia constrangida, não gostava de mentir, porém não podia contar a verdade para a administradora, mesmo confiando nela, sabia que se falasse, logo a baronesa saberia e Trevan fizera prometer que não contaria nada sobre sua relação com ele.

              – Fomos almoçar. – Disse emudecendo os lábios. – Ele queria me mostrar um restaurante novo que abriu. – Voltava a cuidar de Luna.

               – E como foi o filme? – Branca parecia mais curiosa.

               – Foi muito bom. – Falou apressadamente. – Legal.

               A Wasten fez um gesto afirmativo com a cabeça.

                – Posso pedir algo a você?

              A neta do barão parou o que fazia para encarar a mulher que lhe falava.

             – Eu sei que a Ana Valéria não é a pessoa mais fácil de lidar do mundo, mas ela não é tão ruim assim…Quando a olho penso em alguém que perdeu o rumo, que foi totalmente quebrada por dentro e que fica tentando unir os pedaços, mas tudo desaba de novo, como se a cola não funcionasse…Sabe quando você está construindo um castelo com cartas de baralho, porém venta muito, então você vai construindo e de repente tudo desaba...e você tanta e tenta...

            Sim, às vezes essa era a impressão que a Bamberg tinha.

            Era estranho, como quando ela a protegeu da Pandora e parecera gentil tocando seu lábio ou quando dividiram a mesma cama, era como se fosse outra pessoa. Alguém mais humana, mais carne e osso, tão distinta  de quando a provocava até que perca a paciência.

            Tentava não a ver assim, pois não desejava sentir pena ou justificar sua arrogância e raiva, mesmo sabendo que algo não parecia bem.

               – O que a machucou tanto? – Questionou curiosa. – Meu avô?

            A administradora soltou um longo e sofrido suspiro.

            Já pensara inúmeras vezes em contar tudo à garota, entretanto se Ana descobrisse seria mais motivo para brigas. Ela não queria que soubessem de tudo o que tinha vivido. Não  fora fácil para retirar toda a história das redes.

             – Não tenho permissão para falar, talvez um dia possa, mas agora não. Porém quero que saiba que ela está tentando, e hoje foi a prova disso quando cuidou da Luna tão bem.

              Gabi fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            – Tentarei. – Disse por fim.

            Branca foi até ela, abraçando-a.

            -- Obrigada, meu bem! – Fitou a criança. – Luna está cada dia mais linda. – Beijou a cabeça da bebê. – Nos veremos depois.

 

 

 

             Passava das nove da noite. Lia tinha subido até os aposentos da Bamberg para levar as mamadeiras que tinha preparado para Luna. Encontrou a jovem já vestindo o seu pijama e a criança sobre a cama. Dormia.

            – Deve estar muito cansada depois de se divertir com a tia durante a tarde na piscina. – A empregada falou encantada. – Parece um anjinho. – Olhava-a encantada.

            – E como foi o dia aqui sem mim?

            – Foi tranquilo, a baronesa decidiu cuidar da sobrinha, pois ela não parava de chorar quando estava com a senhora Branca, chamava por você daquele jeitinho dela.

              – Fiquei surpresa saber que a senhora quem cuidou… – Mordiscou o lábio inferior. – Lia, como era o casamento de Ana Valéria com o meu avô?

             A empregada começou a torcer as mãos nervosa. Não podia falar sobre esse assunto, era proibido qualquer conversa sobre a vida da patroa.

             – Não posso falar sobre isso, menina, não quero arrumar problemas e não quero que arrume.

           A Bamberg fez um gesto afirmativo.

            Não iria insistir, pois sabia que a cozinheira poderia arrumar sérios problemas se desobedecesse à patroa.

          – Onde ela está?

          Lia fez um gesto para que a moça a acompanhasse e foram para a varanda do quarto da baronesa.

           – Ela está lá desde que a senhora Branca foi embora, apenas sentada e tendo a Pandora ao seu lado. Fiquei até com pena dela… parece tão perdida... Eu sei que ela tem aquele gênio terrível, mesmo assim, acho que não é má...

             A Bamberg olhava a cena e sentiu um aperto no peito. Às vezes não entendia o que acontecia com aquela mulher, era como se tivesse o poder de fazer mal a qualquer um, mas em alguns momentos parecia tão minúscula. Gostaria de ver o sorriso brilhar sem o sarcasmo. Era tão encantador.

              – A Tereza foi lá, mas foi dispensada. – Lia dizia torcendo a boca em desagrado. – Não tem dignidade, vive se oferecendo.

            Sim, Gabriele percebia como a governanta parecia interessada em se deitar na cama da patroa. Tivera que lidar com sua irritação quando ficara sabendo que dormira na mesma cama que a esposa do avô.

            Ainda pensava no cheiro delicioso que tinha os lençóis da baronesa.

              – E a namorada ou amante, sei lá como chamar? – Questionou sem esconder o aborrecimento. – Podia estar em algum lugar nos braços dela não?

              – Ligou várias vezes hoje, mas em nenhuma ligação fora atendida, deve estar uma fera.

            -- Será que brigaram? – Perguntou interessada. – Bem, não me interessa, nem entendo esse tipo de relação, não acho que seja correto.

            -- Gabi, não deve ser tão preconceituosa, querida, afinal, se as pessoas são felizes assim, então que sejam.

            A moça deu de ombros.

            Ficaram em silêncio durante alguns segundos, depois questionou:

            – Será que vai ficar a noite toda lá?

            – Eu não sei, pensei em ir até lá chamá-la para jantar, mas não quis me arriscar a ser expulsa… – Fitou a jovem. – Quer ir lá? Você é mais corajosa.

             – Eu? – Indagou perplexa. – Deus me livre, vou não, quero terminar meu dia em guerra não. Capaz de me jogar na piscina, me afogar e fazer a Pandora comer minha carne.

            A cozinheira gargalhou e a outra também riu da brincadeira.

               – Hun, já vi que o dia foi muito bom. – Lia deu uma piscada. – Namorou muito o bonitão? Muitos beijos?

               A garota suspirou.

            Não sabia o motivo de não ter o mesmo entusiasmo de quando se encontravam escondido no convento. Não que não gostasse dele, mas era como se houvesse algo que a perturbasse e não permitisse que aproveitasse mais os encontros com o loiro.

              – Bem, vou dormir, amanhã será um dia cheio e não quero ter problemas para acordar. – Sorriu. – Descanse um pouco também.

                – Boa noite, Lia!

                A empregada saiu e deixou Gabi sozinha.

              Ela voltou a olhar para a baronesa. Pensou em ir até ela sim, teve a vontade de conversar, de saber se estava bem, porém não tinha como ter um diálogo sem provocações. Observou Pandora e viu que estava sendo acariciada pela dona. Se ela pelo menos lhe tratasse com a gentileza que dispensava à cadela seria até agradável. Porém era como se houvesse algo em si que ela odiava. Podia ser o fato das ações, ela as queria, entretanto achava que não era só por isso que não simpatizava consigo.

            Umedeceu os lábios demoradamente.

         Tivera um dia bom, ainda mais porque estivera com o pai e almoçara com ele. Não gostara da insistência de Lorena que se deitasse com Miguel, não queria fazer aquilo, sentia-se traidora, ainda mais depois que tinha feito a trégua com a Del La Cruz.

                Tentou falar com Trevan sobre o temor que a tia tinha da baronesa, mas não tiveram a oportunidade de ficar sozinha com ele. Mandou mensagem, mas não tiveram coragem de abordar o assunto. Algo que não entendia era o motivo de sempre ser alertada de não falar sobre a ligação que tinha com eles.

              Havia tanta coisa escondida naquela história que chegava a se sentir sufocada.

              Voltou a observar a mulher e a viu levantar, trôpega. Viu a garrafa que estava perto de onde ela estava sentada. Devia ter bebido tudo. Viu a cadela olhá-la assustada. Viu Tereza aproximar-se e agora não usava suas costumeiras roupas de governanta, mas algo que lembrava uma camisola quase translúcida, que mal cobria as coxas.

                – Como podia ser tão oferecida! – Resmungou revirando os olhos.

             Gabi ficou lá observando tudo, parecia curiosa até aonde iria o descaramento da empregada?

               Cerrou os dentes.

               Viu a Del La Cruz dispensar a aspirante à amante e seguir na direção da entrada da mansão.

             Pensou em voltar para os aposentos da Luna, mas ficou lá, iria esperá-la.

 

 

 

 

               Antônio estava no quarto, fumava um cigarro. Viu a amante sair do banheiro.

             – Não posso me demorar, meu marido está me esperando para jantar.

             O senador exibiu um sorriso, enquanto baforava com seu charuto caríssimo.

            – Mas me fale, Lorena, como foi encontrar minha filha?

             A irmã de Trevan vestia o vestido e começava a cuidar da maquiagem diante do espelho.

              Não queria falar sobre Ana Valéria. Sentia uma mistura de arrepio e agonia quando pensava naquela mulher. Não era mais uma garotinha assustada e tímida, bastava olhar para sua expressão forte para saber que estava lidando com uma antagonista difícil e quase impossível de vencer. Tornara-se amante do Del La Cruz para buscar uma proteção ainda maior contra a antiga namorada, temia ser vítima da sua vingança.

                – Me afastei rapidamente quando a via, prefiro não a enfrentar em campo aberto.

               O velho fez um gesto afirmativo com a cabeça.

             – Faz bem, pois ela seria capaz de apertar esse seu pescocinho lindo…viu o que ela conseguiu fazer com o psiquiatra e todos que trabalhavam no hospício? – Disse preocupado. – Ela tem muito poder, é muito fria e calculista, precisamos neutralizá-la antes que seja tarde. – Levantou-se e foi até a loira. – Falou com a Gabi? Se conseguir convencê-la a se entregar ao namoradinho, vamos destruir a Ana Valéria, organize tudo para o casamento.

            – Falei sim, mas ainda está relutante, o amor que ela sente por sua netinha está deixando-a perdida nos planos.

           – Ah, a Luna? Vou tomá-la da Ana em breve e se ela colaborar, posso entregar essa pirralha. – Beijou o pescoço da amante. – Convença-a e veja se esse Miguel pode seduzir a freirinha, eu não acho que isso seja algo difícil…se ele for bom.

             Lorena nem respondeu, pois teve seus lábios tomados por um beijo possessivo de Antônio.

 

 

 

 

           A casa já estava mergulhada na penumbra quando Ana seguiu para o interior da residência. Caminhou até a cozinha e colocou ração para Pandora.

              Sentia-se tonta, então apoiou-se na mesa, temendo cair. Tinha bebido muito, tinha a impressão que tudo girava ao seu redor.

            Aquele não fora seu plano para aquele dia, mas quando tivera que ficar com a sobrinha deixara até mesmo o compromisso que tinha com a modelo para outra ocasião. Chegara a convidar a Paloma para ficar consigo na mansão, mas aquele não era os planos que a jovem tinha, então simplesmente ficara irritada com a baronesa e não voltara a ligar. Não podia negar que tivera uma tarde muito boa. Luna era de fácil trato e mesmo tão pequena demonstrava ser bastante carinhosa. Por algumas horas, distraíra sua mente de todas as suas dores.

            Pensou na neta do barão.

            Não podia negar que não gostara nem um pouco de saber que tinha saído com o namorado, mesmo assim fizera como Branca dissera. Tentava não pensar em como estava linda quando fora à piscina buscar a criança.

            Abriu a geladeira, pegando uma jarra com água, encheu um copo.

            Bebia devagar.

             Ouviu passos e viu Tereza a encará-la. Encontrara a governanta na piscina, trocaram poucas palavras, depois  para dentro e agora ela estava ali mais uma vez.

          – Deixe que te ajude a ir ao seu quarto.

          – Não precisa, não acredito que eu vá cair da escada.

           A governanta aproximou-se, seu olhar demonstrava o desejo pela patroa.

           – Só quero te fazer companhia… – Tocou-lhe os ombros expostos. – Parece tão cansada…

          Ana umedeceu os lábios aos ver o decote provocante da bela mulher. Não havia dúvidas de que era muito bonita e sensual, poderia facilmente entregar-se aos prazeres da carne ao lado dela.

                Aproximou os lábios dos da governanta, sentiu a maciez…

             Tereza segurou-lhe a nuca e aprofundou a carícia, sentindo as mãos da ruiva acariciarem seus quadris.

               Para a tristeza da governanta, as luzes da cozinha foram acesas.

              Gabi tinha descido, pois pensara que a esposa do avô não tinha conseguido subir os degraus, mas agora via que estava bem até demais. Olhou para ambas e notou a expressão de ironia nos olhos azuis.

           Ignorou ambas, foi até a geladeira, tirou uma jarra de água, encheu o copo e bebeu devagar. Não parecia demonstrar pressa em sair dali. Não sabia o motivo de estar surpresa em vê-las aos beijos. Era típico de Ana Valéria agir assim e Tereza não cansava de se oferecer.

           Observou Pandora comer a ração e viu a baronesa seguir em direção às escadas, também notou a expressão furiosa da governanta, mas não se abalou. Acabou de tomar seu líquido e foi para o próprio quarto.

            Para sua surpresa, a Del La Cruz a esperava em frente a porta dos aposentos. Tentou ignorá-la, mas foi segurada pelo pulso.

            – Quero falar contigo. – Ana disse a fitá-la. – Venha comigo até o meu quarto.

             – Não está muito tarde para conversar? – Questionou aborrecida.

             Ana exibiu um sorriso, enquanto observava a roupa que a jovem usava. Uma calça de um pijama de seda e a blusa no mesmo tecido, tudo na cor rosa. Os cabelos estavam soltos, a expressão era de irritação.

               – Não esqueça que mesmo estando em trégua, eu sou a pessoa quem manda aqui.

               – Está com cheiro de álcool… – Disse torcendo os lábios. – Vou acabar ficando bêbada só em respirar perto da senhora.

               – Venha logo, quero falar contigo. – Praticamente a arrastou para dentro.

            Quando estavam no interior dos aposentos, a neta do barão livrou-se do toque.

               – Fale logo o que quer. – Disse esfregando a pele. – Não cansa de ser grosseira, baronesa?

            -- Ora, eu te machuquei, criança? – Questionou tentando demonstrar culpa. – Deixe que cuido do seu dodói.

            Gabi já abria a boca para protestar, mas quando viu já estava sentada na cama e a ruiva lhe acariciava o pulso como se desejasse cuidar.

            A ruiva passava o polegar contra a sua pele, depois baixou a cabeça e depositou um beijo no local.

            A neta do barão prendeu a respiração, sentindo-se sufocada diante da proximidade. Observou os olhos tão intensos a lhe encarar, mas logo a viu levantar.

               Ana brincava com as amarras do próprio roupão e o movimento fez com que o olhar da ex-noviça focasse no corpo quase despido.

                 – Como foi seu dia com o namoradinho? – Indagou depois de alguns segundos.

            Gabriele levantou-se e só depois respondeu.

                   – Muito bom, Miguel é muito gentil, sempre me faz sentir bem.

               Ana fez um gesto afirmativo com a cabeça.

              – Eu espero que não esqueça de que deve se manter pura…

             Gabi cruzou os braços, enquanto soltava um suspiro exasperado.

            – Se importa bastante com isso? Acha que todo mundo é como a senhora que vive se agarrando com qualquer uma?

               A baronesa exibiu um sorriso debochado.

             – Porque é gostoso…e por isso tenho medo, vai que você não resiste ou seu namorado não é tão bom?

               – Ele é muito bom, uma pessoa maravilhosa, nem tem como comparar com a senhora.

              A Del La Cruz aproximou-se, ficando bem próxima da jovem.

                – Por que está com tanta raiva? – Inquiriu curiosa. – Hoje fiz tudo o que você queria, cuidei da Luna, deixei que saísse, mas ao invés de me tratar com cortesia e agradecimento, está agindo como uma gata selvagem…

              A Bamberg fitou os olhos desdenhosos. Observou que as bochechas estavam coradas, talvez do sol ou não. Os cabelos avermelhados formavam cachos nas pontas, a franja caia sobre a tez.

               Respirou fundo.

              – Só não gosto de quando começa a falar sobre a pureza…já disse que cumprirei o testamento. – Retrucou tentando manter a calma. – Vou fazer tudo o que o barão mandou.

               – Só que não é tão fácil assim, Gabi…

              A neta do barão sentiu um arrepio na nuca ao ouvir pela primeira vez seu nome ser pronunciado por aquela mulher. Parecia uma carícia...Um toque tão íntimo que chegou a sufocá-la.

            Respirou fundo,

               – Por que não?

               – Porque não é tão fácil resistir aos desejos da carne, ainda mais para homens como o seu namorado.

               – Acha que ele é como a senhora?

               – Eu? – Indagou perplexa. – Não seja tola, só estou aqui tentando te ajudar a não cair nas redes da sedução, mas se isso acontecer…

               A Bamberg cerrou os olhos.

               – O quê?

               – Há muitas formas de sentir prazer sem macular sua virgindade…

               A garota sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Por que a forma que aquela mulher falava a deixava tão ansiosa?

              Afastou-se.

              – Não quero saber sobre isso!

              – Por que não, freirinha? – Sentou-se cruzando as pernas longas. – Só estou trazendo uma alternativa para que não precise passar vontade…há formas de ser tocada que vão te dar prazer…-- Observou-lhe o corpo delicado. – Seria sutil e prazeroso...

               – Chega! – Colocou as mãos nas orelhas. – Não quero ouvir sua pouca vergonha. – Negava-se corada.

              – Pouca vergonha? – Ana relanceou os olhos. – Deixe de ser criança, sexo é algo normal. Algo muito bom e quando você provar, tenho certeza de que vai gostar.

             – Me nego a ficar aqui ouvindo bobagem!

             Tentou deixar o quarto, mas Ana foi mais rápida e a segurou de novo pelo pulso.

              – Quero conversar contigo e você vai me ouvir…

               – Eu não quero te ouvir!

              Tentou se livrar do aperto, mas Ana a empurrou contra a porta, segurando-lhe os braços na lateral do corpo, prendendo-a.

               – Fique quieta e me escute…

              Mas a neta de Bernard parecia muito brava naquele momento e não ouvia nada. Ana colocou a coxa entre as pernas da jovem, pois ela tentava chutar, achou engraçado e gargalhou.

               – Acha que todo mundo é como a senhora?

               – E como eu sou? – Questionou com cinismo.

             – Alguém que mesmo sendo casada nunca se importou de se deitar com outros, ou melhor, outras, e agora se deita com qualquer uma…

               – Deitar é muito eufemismo não acha? – Questionou com ar de ironia. – Não precisa estar deitada para experimentar o prazer… – Encostou a boca em seu ouvido. – Você não sabe da minha história para ficar me acusando…Não sabe de nada sobre mim...

              Gabi fechou os olhos, sentiu uma corrente elétrica passar por todo seu corpo quando sentiu os seios da baronesa tocarem nos seus, mesmo protegida pelo tecido, teve a impressão que agulhas lhe furavam o ventre.

              Encarou-a.

              – Deixe-me em paz, baronesa, não desejo falar com a senhora.

                – Por quê? – Indagou mordiscando a lateral do lábio inferior. – Só tive a intenção de te ajudar. – Soltou-a, passando a mão pelos cabelos. – Vá para o seu quarto… – Apontou a porta. – Boa noite, senhorita.

 

 

              Já era madrugada e Gabi não conseguia dormir. Não parava de pensar na conversa que teve com Lorena e também com o encontro que teve com Ana Valéria. Sentia-se estranha, agitada mentalmente depois do que ouvira da mulher.

                Pegou o celular e viu as mensagens carinhosas do namorado. Olhou a foto que ele tinha enviado de ambos, ela sorria para ele, mas a jovem sabia que algo estava estranho, deslocado. Não se sentira tão entusiasmada com a saída, tampouco ficou desejosa dos beijos…

             Decerto, foi a preocupação com a Luna. Não gostara de deixá-la sozinha com Branca e com a tia, preocupara-se, porém pelo que tinha visto, Ana Valéria tinha se saído muito bem.

               Fechou os olhos e daquela vez não tentou desviar seus pensamentos da esposa do avô. Ela era tão linda que até chegava a compreender o motivo de Tereza ficar desesperado por ela. Claro que era imune aos encantos femininos, mas isso se devia ao fato de não se interessar por mulheres, pois se fosse o contrário…

               Meneou a cabeça.

               De onde estavam vindo aquelas ideias? Claro que jamais se interessaria pela baronesa, chegava a ter um pouco de preconceito com o fato desse tipo de relacionamento.

                Onde será que estava a tal Paloma?

               Será que ela sabia que sua amada ruiva deixava-se seduzir pela governanta?

              A Del La Cruz não tinha nenhum respeito, nem mesmo pela Luna que vivia naquela casa.  Se Antônio soubesse…

              Lorena falara que se ajudasse, o senador poderia conseguir a guarda da menina, mas ainda tinha suas dúvidas de que esse homem seria bom para cuidar da neta, ainda mais pelo ódio que pai e filha tinham um pelo outro. Estava muito curiosa, queria saber a história de Ana. Tentara pesquisar em um site de buscas, mas não conseguiu encontrar nada sobre o passado da jovem, era como se não existisse antes do casamento com o barão.

                Ouviu a criança resmungar. Sorriu e foi até o berço.

             Luna estava com os olhos abertos, pareciam pronta para sua comida da madrugada.

               Ouvia-a balbuciar “ma…ma”. Lia ficou falando para a menina a palavra mamãe e agora ela ficava repetindo isso. Não ia negar que achava muito fofinho, porém não devia pensar assim, não era mãe da garotinha, nem devia pensar nisso. Miguel já tinha falado sobre isso com ela, insistia que a jovem devia apenas agir como uma babá e não se apegar tanto assim. Mas ela já estava apegada e não sabia como desapegar da pequena.

 

 

 

                 Naquela manhã, Ana tinha seguido ao lado de Branca até a corporação de Antônio. Assumia oficialmente as ações de Luna. Mesmo sendo mínima, assumia agora uma cadeira na corporação.

                O pai não estava presente, mas seu braço direito, o marido de Lorena, ocupava seu lugar. Desde a recepção até a sala de reunião os olhares não abandonavam a herdeira do senador.

               Ela permanecia em silêncio, apenas acompanhava a exposição do balanço trimestral. Paloma estava lá, representava os interesses da própria família, ou melhor, parecia mais interessada na amante.

               Lorena estava sentada de frente para a antiga namorada e tinha Trevan consigo, pois agora ele fazia parte da área administrativa, pedido feito por ela e que Antônio aceitou prontamente. Vez e outra os olhos da loira recaiam sobre Ana Valéria, parecia bastante curiosa, ou quem sabe, desejosa.

              A filha do Del La Cruz não era mais a menina ingênua e boba que tinha sido sua namorada, agora era uma mulher muito bonita, exibia uma arrogância poderosa, sensual a ponto de sentir-se instigada a saber como agiria no sexo.

              Depois de quase duas horas, a reunião encerrou e Ana saiu acompanhada de Branca.

                – Baronesa…

                A Del La Cruz virou-se e encontrou Paloma.

              Exibiu um sorriso.

              – Nem olhou para mim…Te liguei e você não retornou…

              A Wasten afastou-se para deixar as duas sozinhas.

              – Estive um pouco ocupada…Porém, pensei que estava chateada ainda por eu não ter viajado contigo.

                – Você consegue derrubar todas as minhas defesas com essa cara de mulher séria… – A garota chegou mais perto. – Janta comigo hoje…

             Ana não respondeu, viu quando Lorena seguiu em direção ao corredor lateral.

                – Confirmo contigo mais tarde…preciso fazer algo agora.

                Paloma abriu a boca para protestar, mas a empresária já tinha sumido.

               – Eu sou uma tola em querer essa mulher! – Resmungou para Branca. – O que a sua querida baronesa pensa ser por agir desse jeito? – Questionava indignada.

                 A administradora ficou em silêncio. Apenas ficaria ali e esperaria. Penalizava-se pela jovem que ali estava, mas Ana nunca negou seu jeito de agir. Todos que se relacionavam com a ruiva conheciam bem sua forma de não mostrar interesse, mesmo ansiando pela amante.

   

 

 

                 Lorena já segurava na maçaneta da porta quando a voz baixa e fria a fez parar.

               – Acha mesmo que Antônio vai protegê-la para sempre?

              A loira encarou os olhos azuis, tentava encontrar lá algo que a fizesse pensar que ali ainda estava a menina que seduzida um dia.

             – E você veio aqui só para questionar isso? – Esboçou um sorriso. – Ana Del La Cruz, acho que deveria tentar outra coisa, pois da forma que agi não vai chegar nunca a mim.

               A baronesa chegou bem mais perto, vendo a face da outra corar.

              – Sua hora vai chegar…e a do seu irmãozinho…e esse momento vai ser meu…

              A amante de Antônio sentiu um arrepio na nuca, mas logo se recompôs.

              – Esqueceu que mesmo tendo deixado aquele manicômio você ainda não teve permissão para se aproximar da sua mãezinha? – Debochou. – Ainda é o risco à segurança dela…Será que ainda é considerada uma louca?

                 Era possível ver os olhos azuis ficarem tão escuros que pareciam negros.

                – Vão pagar muito caro…

               Antes que Lorena falasse algo, a ruiva já se afastava. Trevan tinha visto tudo e agora se aproximava da irmã.

               – Precisamos que a estúpida da Gabi faça logo o que tem que ser feito, não podemos esperar para que Ana Valéria consiga o que tanto quer…ela não vai ter misericórdia de nenhum de nós. – Dizia nervosa.

                – Não posso simplesmente forçá-la a fazer algo que não quer. – O homem retrucou. – Se pelo menos ela sentisse desejo…– Passou a mão nos cabelos. – Não podemos fazer isso, ela já sofreu bastante, não quero que seja mais um alvo da baronesa.

               Lorena segurou o braço do irmão bruscamente.

                 – E o que você quer? Que a gente aceite a punição?

            O homem fez um gesto negativo com a cabeça.

               – E se você tentasse seduzi-la mais uma vez? Pode fingir que a quer…

              – E você acha mesmo que ela vai cair novamente?

               – Precisamos tentar algo.

               – Precisamos que sua filhinha faça o que deve ser feito, assim as ações voltarão para Antônio e nos livraremos da ameaça dessa mulher na nossa vida. – Falava perdendo o controle. – Fale com Miguel, preciso falar com a garota mais uma vez, vou lhe mostrar os riscos que estamos correndo se ela continuar se negando a fazer o que é necessário.

               Trevan nem mesmo respondeu, pois sua irmã já tinha entrado na sala.

               Encostou-se à porta e ficou lá ponderando.

               Sempre temera o momento que Ana Valéria buscasse sua vingança. Arrependera-se inúmeras vezes de ter ajudado a irmã com o plano. Se pudesse voltar ao tempo, teria tentado dissuadi-la das suas intenções. Na verdade, nunca pensara que Antônio seria tão cruel com a própria filha. Depois imaginara que ela não sobreviveria ao inferno que lhe foi imposto, mas sobrevivera e agora buscava incansavelmente sua vingança. Precisava proteger a filha, não desejava que ela fosse envolvida em tudo aquilo, não merecia passar por toda aquela guerra. Se aceitasse casar com Miguel, convenceria o rapaz a leva-la para longe, assim ficaria distante das mãos da baronesa.

 

 

 

             O bolo era de chocolate, pois era o preferido de Luna e da babá. Lia tinha preparado a mesa na cozinha. Havia docinho, salgadinhos, sucos.

                A criança estava vestida com um macacão vermelho e branco. Usava uma tiara sobre os escassos cabelinhos vermelhos. Estava feliz sobre a cadeira, batia as mãos em felicidade e dava gritinhos.

                  – Melhor fazer silêncio para não chamar a atenção da patroa. – Lia pedia.

                Gabi não parecia se importar. Instigava a menina ainda mais e a festa parecia muito feliz, mesmo sendo simples.

 

 

               – Que gritaria é essa?!

               Ana tinha passado a madrugada em uma boate com Paloma e só retornara para casa há pouco. Ficara no quarto durante algumas horas, mas deixara os aposentos e agora estava na sala. Estava acomodada no sofá e tinha o computador portátil no colo.

                – A babá e Lia fazendo festa na cozinha. – Tereza disse aborrecida. – Desde que a senhora ordenou que essa garota só cuidasse da Luna, ela se comporta como dona da casa.

                A Del La Cruz torceu a boca em exasperação, enquanto bebia o chá.

                Fazia três dias que não se encontrara mais com a neta do marido, tampouco tinha visto a criança nesse tempo. Tentava não se aproximar de Gabriele, pois era como se houvesse uma força maior que a fazia ficar irritada e desejosa...

            Mordiscou a lateral do lábio inferior.

            A garota era petulante o suficiente para tirá-la do seu controle.

                 – E o que estão fazendo que essa menina grita tanto?

                 – Se eu fosse a senhora eu iria lá e veria e acabava com tudo.

                Ana suspirou e fez o que fora dito sob o olhar de felicidade de Tereza.

                Caminhava devagar, pois sua cabeça parecia martelar.

                Abriu a porta e viu a pequena recepção.

              Fitou os olhares que a encaravam. Luna estava suja de chocolate nas bochechas rosadas e as mãos pareciam ainda mais lambuzadas. Lia tinha uma colher de pau na mão e parecia provar de algum recheio. Mas seus olhos foram atraídos pelos escuros da neta do barão.

                  Observou-a com cuidado. Estava muito bonita em um macacão jeans folgado. Uma das alças estava caída e exibia um top branco que cobriam seios redondos como maçãs.

             Observou os cabelos soltos e os lábios entreabertos…

              Achavam-nos bonitos, mesmo com aquela cicatriz…

              – O que se passa aqui? – Indagou impaciente. – Parece que estou dentro de uma festa…gritaria provocada por duas pessoas e meia.

               – Perdão, senhora. – Lia se antecipou. – É que hoje a Lunazinha está fazendo seis meses e decidimos fazer uma comemoração.

                 Os olhos azuis não abandonavam a Bamberg, parecia que queria que falasse algo, porém ela não parecia se importar com a queixa e logo voltava a comer sua iguaria.

               – E quem deu permissão para isso?

               – Ninguém, afinal, como poderia lhe pedir algo se nunca está em casa, baronesa. – A voz da moça soou desafiadora. – Eu não acredito que algo tão inocente a esteja incomodando, sendo que está acostumada a ambientes piores.

               A cozinheira franziu o cenho diante da forma desrespeitosa que a babá falou. Olhou para a patroa e viu seu maxilar enrijecer.

               – Não vamos fazer mais barulhos, senhora, já está terminando até… – Lia falou, mas se calou diante da mão levantada da Del La Cruz.

              – Não quero ouvir mais nada! – Disse por entre os dentes. – Pode ir para o quarto com a Luna agora mesmo, freirinha, não desejo ver sua cara tão cedo.

              Gabriele levantou a cabeça.

              – Só irei quando terminar a comemoração. Não tenho culpa se a senhora passa a noite em boates e fica doente no outro dia, nem a sua sobrinha tem, então, a gente vai ficar e comemorar os seis meses da menina…Os incomodados que se mudem…

              Lia abriu a boca em espanto, e agradeceu a Deus silenciosamente quando viu a senhora Branca aparecer na porta.

               – Ora, não sabia que tinha festa…vou querer um pedaço de bolo. – Falou sorrindo. – Você não quer, Ana?

               A baronesa permanecia no mesmo lugar, seu olhar trazia toda a fúria do mundo ao fitar a jovem Bamberg, mas não disse nada, apenas olhava tudo com sua frieza.

              – Pois é, Wasten, acredita que a freirinha ousou me desafiar porque não estava presente para que me pedisse permissão para fazer essa palhaçada… – Dizia sem desviar o olhar. – Faça uma reserva no hotel litorâneo e prepare o jatinho, vou viajar com a babá e com a Luna, já que fui negligente e esqueci essa data tão importante.

             – Não irei, pois amanhã tenho um almoço com o Miguel, a senhora Branca já tinha permitido. – Retrucou altiva.

                 Um sorriso desenhou-se nos lábios cheios da filha de Antônio, era cruel, sádico.

                 – Não estou lhe pedindo nada, estou te dando uma ordem.

               Antes que a Bamberg voltasse a responder, Ana Valéria deixou a cozinha.

              – Por Deus, menina, como teve a coragem de desafiar a Del La Cruz assim? – A Wasten indagou em uma mistura de ansiedade e temor. – Apenas faça o que ela ordena e pronto.

                – Talvez seja por isso que ela faça sempre o que quer, afinal, todos aceitam tudo o que ela diz como se estivessem diante de uma rainha. – Retrucou irritada. – Passei muito tempo da minha vida em um convento e aprendi muita coisa lá dentro, uma delas é tentar compreender o outro e ter paciência, porém essa mulher é irritante ao extremo, não sabe agir de outra forma a não ser desse jeito intransigente e arrogante. – Completou sem fôlego. – Vá, reserve a viagem, afinal, não vai adiantar nada me negar.

            Branca aproximou-se dela, tocando-lhe a mão.

            – Querida, nada disso é contra você, há coisas terríveis na vida da Ana, acredite, ela não é apenas uma mulher arrogante e mimada…há muito nessa história que você não conhece.

               – E isso justifica ela se comportar assim?

               A administradora trocou olhares com a cozinheira.

             – Vá para a viagem com ela, é um lugar lindo, vai gostar e essa é uma oportunidade para Valéria ficar próxima da sobrinha… tenha paciência.

             A Bamberg não falou nada, apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça, demonstrando toda sua revolta em seu olhar.

 

Comentários

  1. Olha elaaaaaaaaa! É sempre bom te encontrar por aqui. Depois volto para comentar.

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  2. A Gabi é muito massa,e suas falas é demais.👏

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