A dama selvagem - Capítulo 36


A noite já começava a cair e o coro das criaturas noturnas já podiam ser ouvidos. Os insetos faziam uma verdadeira sinfonia, fora as aves e as rãs.

Os macacos observavam tudo das suas confortáveis árvores, sentindo e vendo a presença dos invasores.

Começava a ventar e gotas de chuvas já começavam a cair. Não era grossa, mas para se transformar em uma tempestade, seria em questão de segundos.

O som fantasmagórico de Éolo se tornava uma sinfonia de causar arrepio... O solo já estava molhado... Encharcado...

Os rastros não poderiam ser seguidos com tanta facilidade. Crocodilo estava parado em meio às árvores.

Os cachorros se aglomeravam ao redor de si.

Alguns faroletes estavam acesos, já que a fogueira tinha sido apagada em todas as vezes que houvera tentativa de acendê-la.

Tinha montado acampamento por toda a extensão do rio.

Seu plano era esperar o momento que uma ferida ı́ndia tentasse seguir e assim ele a surpreenderia... Talvez o garboso bandido não fosse tão esperto como tentava se mostrar...

-- Precisamos tomar cuidado, alguns dos nossos se perderam na floresta.

Crocodilo se referia ao desaparecimento de três dos seus homens que saı́ram para fazer busca na tarde anterior e até agora não retornaram.

As barracas já estavam armadas.

Os olhares das prostitutas se mostravam apreensivos. Nunca estiveram tão assustadas em toda aquela perigosa empreitada como acompanhantes daqueles homens... Muitas invejavam a fuga de Alanna...

Um homem alto, todo barbudo e de aparência desleixada se aproximou.

-- Senhor, realmente não achamos que devemos continuar com isso! – Dizia em receio. – Há dias estamos dando voltas e até agora não conseguimos nada... por que não deixamos essa mulher e retornamos para a cidade, poderá pegá-la quando ela estiver de volta...

O chefe permaneceu de cabeça baixa por longos segundos, até que se levantou, retirou o revólver, apontando para o corajoso que lhe dera a sugestão.

-- Ninguém vai a lugar nenhum! – Esbravejou. – Não sairei daqui sem antes levar a Villa Real e matar a Calligari...

Alguns dos presentes já começavam a se dividir e se assustavam com a selvageria do lugar.

Achavam que o seu lı́der perdera não apenas o juı́zo, mas também o senso de liderança e isso os faziam descrer na missão que tinham pela frente.

-- Senhor, não sabemos o que fazer, já...

Crocodilo atirou para cima várias vezes. Todos os presentes ficaram calados.

Temiam a fúria do bandido.

O segurança loira não estava presente, tinha seguido até o primeiro acampamento, pois precisara buscar mantimentos e munições.

 

 

 

 

Tupã observava os movimentos de cima da árvore.

 

A irmã tinha seguido até o acampamento, tinham conseguido pegar as armas, mas insistira em mexer no motor dos veı́culos, assim, não teriam como deixar o lugar.

Algumas aves também tinham sido capturadas, mas todas já tinham sido libertadas. As munições encontradas foram descartadas, fragilizando assim aquela organização.

Naquele momento, a pintora usava o rádio comunicador para entrar em contato com o exército.

O ı́ndio ouviu um barulho e notou a presença de três homens.

Imediatamente fez um sinal para a irmã, mas ela não apareceu entender, estava bastante concentrada. Repetiu o gesto e dessa vez mais alto e sentiu um alıvio no peito quando a morena se escondeu.

Mesmo que não admitisse, sentia-se orgulhoso de mais da Calligari. Ela tinha uma força e uma coragem impressionante.

Não negava que chegara a imaginar que ela não aguentaria... Irritou-se ao imaginar que assim que ela encontrasse a tal Villa Real, iria embora e deixaria para trás todo o povo com aquele problema.

Há tempos, as tribos, os animais e a natureza vinham sofrendo com a ação daqueles traficantes, então quando ela deixara claro que os expulsaria de uma vez por todas, ficara imensamente feliz, desejando lutar ao lado dela naquela empreitada.

Voltou a se posicionar, de forma que pudesse agir, se a pintora necessitasse da sua ajuda.

 

 

 

 

 

Diana estava debaixo do caminhão.

Ouvia o som dos passos e a vozes, reconhecendo uma em particular. O maldito segurança!

Fechou fortemente o punho, desejando esmurrá-lo com toda força do mundo, ainda mais quando recordava do que Piatã falou... Se o velho ı́ndio não tivesse chegado, o bandido desgraçado teria abusado da esposa.

Cerrou os dentes!

Não poderia agir por instinto, teria que ter calma, pois logo todos pagariam e muito caro pelas ações executadas.

Pelo que andara ouvindo, percebia que não demoraria para Crocodilo ser traı́do por seus “colaboradores”. Eles se negavam a seguir em meio àquela mata fechada. Algo compreensível, pois os perigos daquele lugar eram aterradores.

Prendeu a respiração ao recordar de Aimê...

Se tivesse demorado frações de segundos, ela teria sido trucidada por aquele animal.

Diana não gostava de matar, só o fazia quando realmente era necessário... Por esse motivo se livrara da onça... Levou a mão ao revólver que estava na cintura, precisava estar preparada...

Voltou a recordar da esposa...

A Villa Real era muito mimada mesmo e rebelde... Meneou a cabeça negativamente.

Como fora tão cabeça-de-vento e sair da caverna sozinha, sem conhecer nada naquele lugar? Será que não recordava de como fora difı́cil na primeira vez que tiveram que seguir por ali... Umedeceu os lábios, sentindo-os secos...

Quando viu os olhos azuis voltados em sua direção, teve a impressão que o coração voltava a pulsar...

Passara todos aqueles dias sonhando com ela... Desejando tê-la ao seu lado... Porém ao saber do ocorrido, ficara tão furiosa que nem conseguira demonstrar o que sentia... Precisara usar de toda a frieza, pois só assim, poderia fazê-la obedecer e a própria pintora não podia se dar ao luxo de se distrair do seu objetivo.

Ouviu os passos ficarem mais próximos. Prendeu a respiração.

Prestou atenção nos diálogos.

-- Não iremos ficar embrenhados nessa selva atrás dessas mulheres... – Um dos homens dizia irritado. – Quero receber o meu dinheiro e ir embora antes que um bicho selvagem desses me ataque ou o próprio Crocodilo volte a surtar e saia atirando em todo mundo.

O loiro se apoiou no veı́culo.

-- Ele está obcecado pela major... Deveria tê-la matado quando teve a chance... Eu poderia ter dado cabo da vida dela em um segundo...

-- Eu desejei matá-la... Ainda sonho com esse momento! – O segurança falou. – Só sairei daqui com a cabeça dela! – Esmurrou o capô do caminhão. – Também terei como prêmio a Villa Real... Essa será minha de todas as formas...

-- Você está mais louco do que o outro... Como disse, não  ficarei por muito tempo e os outros também não...

Queremos nossa grana e depois vamos embora desse inferno...

Os passos voltaram a se afastar, mas as vozes continuavam cada vez mais alteradas.

 

 

 

 

 

Nas primeiras horas do dia, Piatã, Aimê, Alanna e os ı́ndios que foram responsáveis pela escolta dos convidados adentravam a aldeia de Tupã.

Demoraram mais do que o necessário, pois a loira acabara torcendo o tornozelo.

Sirena veio ao encontro de todos, saudando-os com abraços, demorando-se na Villa Real.

-- Fico tão feliz em vê-los bem... – Falava, enquanto segurava as mãos da jovem. – A Diana ficou tão desesperada que nem mesmo esperou curar totalmente, seguindo a sua procura.

Aimê reconheceu a voz da mulher e recordou de como ela fora gentil quando estivera ali.

-- Obrigada, também me sinto feliz por estar aqui... – Disse simpaticamente.

 A filha de Otávio observava tudo com atenção.

Aquela aldeia parecia mais organizada, tudo parecia em total harmonia com a floresta. As ocas eram grandes...

Havia flores...

Maravilhou-se com o jardim...

Recordou-se de que quando estivera ali, sentira aquele cheiro da flora ainda mais concentrado... Fitou as árvores de frutas que estavam localizados em meio às rú sticas construções...

Viu o olhar de todos voltados para si...

Havia crianças... Mulheres... Idosos... Guerreiros jovens...

Corou ao ver a escassez de roupas das pessoas do sexo feminino... Exibiam os seios sem nenhuma hesitação. A esposa de Tupã já era diferente, usava uma espécie de tú nica de pele de animal.

Viu o sorriso da bela jovem para si.

Sirena não lhe soltou a mão, levando-a até próximo as pessoas que pareciam reconhecê-la.

-- Acredito que todos lembram da Aimê, o amor da princesa... Ela ficará conosco durante alguns dias e todos devem ser respeitosos...

Todos demonstraram simpatia, exibindo sorrisos tı́midos.

-- Piatã, as acomodações para vocês estão prontas... Vou leva-la comigo. – Disse simpaticamente. A esposa de Tupã seguiu com a Villa Real até a oca maior.

-- Você ficará aqui como da outra vez...

Aimê observou o lugar e de repente lembranças da noite do casamento lhe assolaram a mente.

Viu uma esteira no chão... Uma rede... Um pote de barro. Era tudo muito simples, mas bastante acolhedor. Respirou fundo!

Teve a impressão que tudo voltará naquele dia... Casara com a major...

Recordava-se de ter passado a noite a imaginar que Diana se aproximaria e tentaria alguma coisa... Temeu e também ansiou por isso...

Deus, como podia já querê-la naquela época?

Ainda lembrava da primeira vez que sentira os lábios dela sobre os seus... Perecia que mil carrosséis giravam em sua cabeça...

A boca macia... O hálito fresco... O cheiro dela que penetrara e se mesclara a sua própria respiração... Corou ao perceber o olhar especulador da ı́ndia.

-- Está pensando nela? Lembrando do casamento? Eu sempre soube que vocês ficariam juntas... A garota suspirou irritada.

-- Prefiro não falar sobre ela...

Sirena estendeu a mão, tocando-lhe a face, fazendo-a encará-la.

-- O que houve? – Questionou surpresa.

A neta do general mordiscou o lábio inferior demoradamente.

-- A Diana esteve em desespero... Ela só  chamava por ti, enquanto lutava contra uma terrível infecção...

-- E eu desejei estar ao lado dela... – Disse por entre os dentes. – Não desejei que me levassem... Sofri dia após dia... Imaginei mil coisas... E quando a encontro... tive a impressão que meu mundo voltava a fazer sentido... Mas o que recebi? Frieza e arrogância...

Sirena viu uma solitária lágrima rolar.

-- O que se passou?

Aimê desviou o olhar por alguns segundos, mas logo voltou a fitá-la.

 

-- Eu sei que não deveria ter fugido da caverna... Mas, meu Deus, eu estava desesperada sem saber dela, estava enlouquecendo e acabei indo...

A ı́ndia esboçou um sorriso de compreensão.

-- Eu te entendo, mas também precisa entender a princesa... Ela deve ter ficado enlouquecida... – Passou o polegar pela lágrima dela. – Tenha calma, logo que tudo isso passar, vocês poderão conversar, então demonstrará sua indignação... – Apontou para uma cesta de cipó. – Ali tem roupas da Diana, você poderá usá-las. Pedirei que tragam água para que banhe e descanse...

A garota assentiu, enquanto via a mulher de Tupã se afastar. Fitou a rede e seguiu até ela, deitando-se.

Seu corpo doı́a...

Sua cabeça doı́a pela falta de descanso e pela preocupação...

A pintora estava lá fora se arriscando irresponsavelmente...

Índia... Artista... Dama... Major... Besta arrogante... Ogra... Selvagem...Canibal... Maravilhosa... Fechou os olhos e de repente um sorriso se desenhou em seus lábios...

Nunca em sua vida tinha visto uma mulher tão linda e poderosa como a major Calligari... Suspirou alto.

Mesmo que estivesse muito irritada pela forma que fora tratada e estivesse disposta a não a perdoar tão cedo, não podia negar que a imagem da morena vestida de nativa era muito arrebatadora...

Não havia dúvidas de por que vivia em total sedução com a jovenzinhas... Cobriu o rosto com as mãos.

Moveu os lábios em uma oração silenciosa...

Que tudo aquilo chegasse ao fim... Que a filha de Alexander não fosse ainda mais ferida... Não entendia por que simplesmente não iam embora...

Temia que fizessem ainda mais mal a ela. Respirou fundo!

Sabia  que  seria  uma  missão  impossıv́  el  dissuadir  a  esposa  disso,  sabia  como  por  baixo  daquele  nariz  empinado havia uma determinação cega...

Deus, precisava vê-la... Saber que estava bem... Meneou a cabeça negativamente...

Que tudo aquilo terminasse o mais rápido e pudessem voltar para casa.

 

 

 

 

 

-- Como as munições sumiram e os carros não funcionam? – Gritava o chefe irritado.

Os três homens que seguiram até o acampamento retornaram e relataram o sumiço das armas e dos animais.

-- Não sabemos, apenas o acampamento parecia normal... – O segurança se justificava. – Só depois que notamos que faltava tudo... As munições... Não havia nada...

Os presentes pareceram ainda mais relutantes com esse novo fato... Afinal, havia poucos mantimentos e o poder de fogo se resumia ao que tinha ali... Os rádios comunicadores... Nada funcionavam, estavam presos naquele lugar...

Crocodilo olhava tudo ao redor.

 

Observava as grandes árvores que cercavam a clareira. Sabia que a major estava por perto, sabia que ela era responsável por tudo aquilo.

Os presentes cochichavam...

O burburinho era grande... Estavam assustados...

-- Quem me trouxer a Calligari ganhará o triplo do que prometi! – Bradou. – Tragam-me a Diana! Ninguém se mexeu...

Quem ousaria se embrenhar naquela mata atrás de uma ı́ndia com fama de canibal?

O segurança loiro observava tudo com crescente interesse. Talvez, fosse preciso que outro assumisse aquele papel de senhor .

 

 

 

 

 

A morena e o irmão estavam sobre uma enorme árvore.

A major observava tudo pelo binóculo.

Um sorriso enorme se desenhou nos lábios dela.

-- Sua ideia surtiu o efeito desejado pelo que vejo! – O ı́ndio comentou ao mirá-la. Diana encarou o irmão, depois acariciou a preguiça que faziam companhia a eles.

-- Estão presos aqui, com pouca munição e quase sem comida... – Tocou as patinhas do bicho.

-- Não terão chances... – Pegou o objeto para observar. – Pelo que percebo, não vai demorar para o bandido desgraçado ser abandonado a própria sorte... Isso sim é um castigo terrível... Ser traı́do pelos seus...

A morena parecia ponderar, enquanto brincava com o animal.

-- Consegui entrar em contato com o exército... Em três dias pousarão na clareira... Tupã a encarou.

Conhecia-a bem para saber o que estava a se passar por sua cabeça.

-- Não deve ser a isca, princesa, já disse que teremos que pensar em outra forma para atrair esses bandidos. – Apontou-lhe o dedo em riste. – Não me arrisquei para te salvar para vê-la cair como uma idiota nas mãos desses loucos.

O maxilar da morena enrijeceu.

Os olhos intensamente negros estavam mais estreitos... Ameaçadores...

Tinha um desejo primitivo que queimava em seu peito... Uma vontade de infringir a eles, a mesma dor que sofrera...

-- Vamos ver como isso sucederá... Não se prever o futuro... Nem mesmo o pajé o faz..

Tupã a observava com calma, imaginando o que poderia estar se passando na mente da irmã.

 

 

 

 

A tardinha parecia tranquila.

O som das aves, o guinchar dos macacos e aquele pássaro grande que parecia sempre estar à espreita.

 

Crocodilo parecia desnorteado. Afastava-se do grupo e nem mesmo parecia se preocupar com os perigos do lugar que o cercava.

Pisava duro, examinando tudo ao seu redor. O verde imperava...

Distanciava-se no lugar onde os homens estavam... No acampamento o clima estava pior.

Mesmo depois de ter oferecido uma quantia muito grande pelos serviços dos capangas, eles não pareciam interessados, pois temiam morrer na floresta. Não sabiam como se locomover naquele lugar, sem falar nos animais que estavam sempre à espreita.

Crocodilo parou diante de uma árvore enorme de seringueira. Aquela área era cheia dessa vegetação.

Agachou, enquanto usava o canivete para cortar a casca e ao ver uma cobra pequena, pisou com a bota sobre sua cabeça, esmagando-a.

Assim que cumprisse sua missão, nunca mais retornaria... Estava cansado daquele cheiro de mato, daqueles bichos que perturbavam durante dia e noite...

Sabia que rota seguir para deixar aquele lugar... E assim que acabasse com a filha de Alexander, seguiria e não levaria nenhum dos desgraçados covardes que estavam consigo.

O guinchar dos macacos lhe chamou a atenção e ao levantar a cabeça, viu Diana armada com o arco e flecha, pronta para se defender.

Encarou-a.

Os olhos intensamente negros traziam o costumeiro sarcasmo e orgulho. Tentou pegar o punhal.

-- Se fizer um movimento ou esboçar alguma reação, cravo uma flecha no seu olho esquerdo... – Falou baixo.

O homem permaneceu na posição que se encontrava, pois sabia que a Calligari era muito boa de mira.

-- Eu sabia que não estava morta... – Esboçou um sorriso. – Então decidiu assumir sua origem selvagem? – Fitou-a da cabeça aos pés. – Tem alguma forma de ficar feia?

A morena arqueou a sobrancelha esquerda em deboche.

-- Eu não acho que valha a pena te matar... Pelo que percebi, seus próprios homens estão cogitando essa possibilidade...

-- São uns imbecis, acham que podem deixar esse inferno sem mim... – Segurava o punho da arma. – Mas, fale-me...

Teria mesmo coragem de me matar, major? Logo eu que a salvei das mãos de Otávio quando tentou violentá-la...

-- Você tentou, o mesmo, dois dias depois, então o que fez foi motivado por seu próprio interesse...

Crocodilo esboçou um sorriso, levando a mão à cicatriz que tinha na face.

-- E foi isso que ganhei... – Passou a lı́ngua pelos lábios. – Você tem certeza de que quer mesmo que as coisas terminem assim? Diana, está se iludindo com a filha do coronel... Logo ela vai enjoar dessa coisa de mulher com mulher e vai atrás de um homem... Por que se arriscar tanto por ela? Use-a, durma com ela, eu deixo que sacie sua tara, mas depois deixe que ela vá comigo, vai estar se vingando do homem que destruiu a tua vida... O sangue do seu pai vai estar sempre entre vocês...

A Calligari colocou mais pressão no arco.

Continuava parada no mesmo lugar, ouvindo e sua expressão demonstrava total inflexibilidade.

-- Não é digno de falar o nome da Aimê! – Disse por entre os dentes. – E tampouco se referir ao meu pai.

O bandido riu alto.

-- E você acha que é digna de se casar com ela? – Debochou. – Diana, você é uma selvagem... Sempre vai ser... A garotinha não vai aguentar os seus arroubos por muito tempo, ela não é como nós...

-- Está a me comparar a ti? – Questionou calmamente.

-- Bem, no fundo você sabe que faz parte do meu meio... Pode até ser filha de Alexander, mas ainda esbanja esse ar de ser primitivo...

Um sorriso se desenhou nos lábios da morena... Ele era perigoso...

Crocodilo mirava o pescoço esbelto e longo da major...

Se fosse rápido o suficiente, não demoraria a vê-la sangrar até a morte...

-- Acha mesmo que a garotinha te ama? – Tentava distraı́-la. – Não deve nem ter modos...

-- Você não tem ideia de como esse meu ar selvagem enlouquece as mulheres... Mas, idiota, eu não estou no mesmo pacote que você... Eu não sou uma covarde, porque se assim o fosse, já teria te matado pelas costas...

-- Eu não te matei... Poderia ter feito e não fiz... Mesmo que não acredite, tenho respeito por sua pessoa... terı́amos feito um bom trabalho juntos. – Mirou a marca feita à ferro. – Gostei do V... Combinou contigo...

Diana meneou a cabeça em desdém.

-- Não, você fez pior... Fez uma garota inocente se submeter às suas ameaças, fez uma jovem executar suas torturas e teria feito mais, se não tivéssemos conseguido escapar...

-- A Villa Real fez o que desejou fazer, ela mesma me disse que te odiava, porque você a tinha traı́do com outra, então não a veja com olhos tão inocentes...

-- Não me interesso por sua tese de psicologia de porta de cadeia, estou aqui para te dar uma chance de sair vivo desse lugar... Renda-se e pague sua dıvida com a justiça.

-- Está me oferecendo um trato? – Exibiu um sorriso debochado. Estava certo que a mataria...

Arrancaria sua cabeça e mostraria aos seus covardes homens que ele não precisava de ninguém para fazer seu trabalho...

Sabia que não deixaria aquele lugar sem antes destruir aquela orgulhosa mulher. Apertou mais forte o cabo do punhal.

O pipilar de alguns pássaros acabou por ser a distração que o bandido desejava. Crocodilo foi rápido ao jogar a arma contra a filha do general, mas a ı́ndia previu o que ele faria e fora ainda mais ágil em se livrar dela que passara raspando em seu ombro direito, atirando a flecha em frações de segundos e acertando o olho esquerdo do traficante como prometido.

O bandido rosnou tão alto, praguejando, enquanto sentia a insuportável dor.

-- Desgraçada, mil vezes maldita... Filha de uma chocadeira... – Gritava. – Te matarei e te fatiarei... Dando cada uma das suas partes para que meus cães comam... Meu olho... Meu olho...

Procurou a major e não a encontrou.

Os homens se aproximaram e pareceram chocados com a cena.

-- Não fiquem me olhando, seus imbecis, vão atrás dessa maldita, ela não deve ter ido longe.

 

O segurança loiro fez um gesto de cabeça para que as ordens fossem cumpridas, permanecendo ao lado do cumplice de Otávio.

O loiro se aproximou.

-- O que houve?

O bandido chorava em pleno pulmão naquele momento.

-- A miserável... a desgraçada da major está aqui... Ela está aqui... Me atacou... Quer matar a todos... Preciso de um médico ou perderei meu olho.

-- Não há médicos... – Observava o sangue jorrar. – Melhor tirar isso! – Aproximou-se.

Crocodilo se levantou, cambaleando, afastou-se.

-- Está louco, quer que eu sangre até morrer? – Cerrou os dentes. -- Vá atrás dela! Tragam-na para mim, eu ordeno!

 O segurança loiro tirou a arma da cintura, mas não fez o que tinha sido mandado, virou-se para o chefe.

-- Não obedecemos mais a você! – Apontou-lhe o revólver. – Por sua culpa estamos nessa situação... Se tivesse matado a Diana como era a minha vontade, ela, agora, não seria uma ameaça a todos!

Crocodilo pareceu surpreso.

-- Não vão conseguir sair daqui sem mim! Eu sei como deixar esse inferno, você é apenas um moleque que não consegue seguir uma trilha.

-- Terei mais chances do que você – O loiro se aproximou dele.

Os olhos claros observavam a flecha cravada no globo ocular. Havia sangue, mas sabia que, apesar de ser uma dor terrível, não era suficiente para matá-lo.

-- Já disse que pagarei muito a todos, tenho muito dinheiro... – Dizia em desespero. – Sairemos daqui e todos terão uma vida de luxo... Você será meu homem de confiança

O segurança sorriu, enquanto olhava ao redor, certificando-se que estavam sozinhos.

-- Sim, vamos... – Apoiou um braço sobre o ombro do chefe. – Vamos...

Crocodilo acenou afirmativamente com a cabeça, enquanto o loiro lhe deu um beijo na face. Um barulho de um tiro foi ouvido e não demorou para o cumplice de Otávio cair ao chão. Uma bala tinha sido atirada contra seu peito.

-- Você, fica... – O traficante não conseguiu terminar sua frase, definhando até a morte.

O segurança se abaixou, arrancando a flecha.

Ainda estava com a arma em punho, apontando para as árvores.

Em seguida se afastou imediatamente do lugar, temendo ser pego desprevenido pela ı́ndia.

 

 

 

 

 

Tupã deteve Diana pelo braço.

-- Você não pode ir até ele! –Ordenou. – Esse é o destino que um desgraçado como ele procurou. Ambos viam toda a cena do alto de uma árvore e ficaram surpresos com a maldade do loiro.

Depois de levar o tiro, Crocodilo fora espancado pelos capangas que retornaram, chutando-o, descontando nele as suas frustrações.

O rosto do homem ficou desfigurado e os risos dos bandidos eram cruéis de mais.

-- Miseráveis! – A morena disse por entre os dentes. – Covardes! Estou praticamente desistindo da ideia de entrega- los com vida.

O ı́ndio a observava e parecia admirado pela compaixão que via em seu olhar. Colocou a mão sobre o ombro dela, observando o sangue que saia do machucado.

-- Sabe que se eles tiverem a oportunidade farão pior contigo! – O irmão a alertou, fitando-a. – Sua pele está ferida, poderia ter sido mais sério, não sei por que foi até ele.

Diana fitava o corpo estendido.

-- Eu precisava fazer uma tentativa... – Passou a mão pelas madeixas longas. – Preferia vê-lo pagar tudo o que fez em uma prisão...

-- Vamos cuidar desse machucado...

-- Foi superficial, apenas pele rasgada e sangue! – Dizia, enquanto tinha o olhar fixo no homem que fora morto.

-- Acho melhor irmos até a aldeia, esses bandidos não têm para onde ir... Vamos até lá, descansamos, cuidamos da ferida, você também descansa, pois ainda não está totalmente curada, depois voltamos. Deixaremos alguns dos nossos de olho...

A major respirou fundo!

Por ela, tudo seria terminado o mais rápido possıv́  el, mas teriam que esperar. Fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Viajaremos agora e logo estaremos lá!

 

 

 

Ainda o sol não nascera, a madrugada fria assolava a aldeia. Ainda havia resquı́cios da fogueira.

O céu estava estrelado e uma majestosa lua reinava magnı́fica a iluminar o lugar. Diana e Tupã tinham acabado de chegar.

Não descansaram um só segundo, apenas desejando estarem em casa.

-- Tomarei um banho, estou com cheiro de bicho morto! – A princesa seguiu na direção da margem do rio.

O ı́ndio não pareceu preocupado com isso, indo direto até a sua oca, desejoso e saudoso da esposa grávida.

 

 

 

Aimê estava deitada na rede.

Pouco conseguira descansar, pois sempre estava a pensar no risco que a amada corria.

Quando conseguia pegar no sono, despertava, vendo-a em seus sonhos... As cenas das torturas sempre eram recorrentes...

Ouviu passos, sentando-se imediatamente.

Os olhos azuis muito abertos demonstravam pavor... A lua estava cheia e iluminava a noite estrelada.

Pensou se deveria gritar e pedir ajuda...

Não demorou para a morena alta aparecer na entrada a oca. Alta, ereta, cabeça erguida...

Continuava vestindo trajes nativos, mas não eram os mesmos do dia que se encontraram. Estaria acordada ou se tratava apenas de um devaneio?

Respirou fundo, sentindo o cheiro de sabonete... O aroma dela... Meneou a cabeça...

Permaneceu onde estava, mesmo desejando se jogar nos braços da mulher que tanto amava, ainda não tinha certeza de que não estaria a sonhar...

A Calligari caminhava lentamente e logo parou diante da rede onde a esposa a olhava com aqueles olhos tão azuis e penetrantes.

Encarou-a durante longos segundos.

Reconheceu a camiseta que ela usava... Não havia sutiã  e era possıv́  el ver os mamilos empinados... Frio? Mirou o pescoço esbelto, vendo a veia pulsar na lateral...

Encantou-se pelas sombras que o luar fazia na face bonita... Linda!

Umedeceu os lábios que pareciam ressecados... Sentiu aquela agonia no estômago...

Deus, como estava feliz ao vê-la bem depois de tudo o que viveram...

Os cabelos compridos estavam presos em um coque, os lábios rosados entreabertos...

-- Não deveria estar dormindo? – Indagou com um sorriso de canto. – Crianças não devem ficar acordada de madrugada.

Aimê cerrou os dentes, a cabeça levantada, mirando-a. Então era a ı́ndia selvagem e vinha carregada de provocação.

-- Não sou criança, major, há tempos deixei essa fase...

A morena viu a esteira arrumada, então seguiu até ela, deitando-se.

Apoiou as mãos sob a cabeça, sentindo o corpo se adequar ao piso batido, mas que trazia conforto depois de passar horas sobre árvores ou caminhando por dentro daquela floresta.

-- Você é ainda pior... Age como adolescente irresponsável... – Disse, mirando a amada.

Sua mente estava perturbada.

Só deixara a selva quando enterrara o corpo do Crocodilo. Ainda se sentia chocada pela crueldade dos que o seguiam...

Fechou os olhos, mas a voz firme da filha de Otávio invadiu o ambiente.

-- Sou uma adolescente porque em meu desespero fui atrás de ti sem medir as consequências do meu ato, major? – Mordiscou o lábio inferior. – Se esse for o motivo da denominação, realmente, é isso que sou, uma adolescente, como dizes, princesa...

Diana exibiu um sorriso, umedeceu os lábios.

-- Sim, não passa de uma garotinha... – Provocou-a, sem abrir os olhos. – Uma garotinha mimada que não sabe o que significa disciplina...

Ouviu a respiração pesada da esposa.

Sabia que estava provocando-a, mas não conseguia não o fazer, pois ainda estava muito chateada com o que aconteceu.

Quando pensava que aquela onça poderia ter matado a jovem, sentia o coração esfriar...

 

-- Quando voltarmos, conversaremos sobre você ser uma pirralha mimada! – Virou de lado. – Agora necessito de um sono e de descanso, então aconselho que faça o mesmo.

A filha de Otávio sentiu o sangue ferver em suas veias ainda mais.

Não acreditava na frieza que a esposa demonstrava, não acreditava que estava sendo punida por ter se desesperado, pois temeu que algo de ruim tivesse ocorrido com a amada.

Cerrou os dentes.

Viu-a virar de costas e agir como se estivesse realmente lidando com uma infante. Levantou-se, aproximando-se da esteira, parando lá.

O coque tinha se desfeito e agora os cabelos caiam livres em seu rosto.

-- Não terei nada para falar contigo, princesa, se deseja conversar, faça-o agora, pois não ficarei aqui como uma idiota, sendo tratada desse jeito apenas porque agi por preocupação a ti. – Dizia sem fôlego. – Acha que pode me condenar por causa disso? O quê? Vai fazer um julgamento e usar o seu poder para que me condenem por ter agido por amor?

Diana se levantou e em frações de segundo estava de pé, segurando a esposa pelos ombros, pressionando-a contra a choupana.

Aimê não parecia assustada, desvencilhando-se do toque.

-- Sofri como uma desgraçada por ti... – Apontou-lhe o dedo em riste. – Ordenou que Piatã me levasse – Dizia em verdadeiro pavor. -- não tem ideia de como eu fiquei ao imaginar que estavam a te torturar, como fiquei ao pensar que poderia ser morta... -- Meneou a cabeça. – Então agora não me venha com essa história de que sou criança ou adolescente... – Empinou o nariz. – Posso ser tudo isso, mas também sou uma mulher... Uma mulher que ficara em total desespero, temendo pela vida de uma arrogante e orgulhosa major. – Respirou fundo, voltando para a rede. – Boa noite!

Antes que conseguisse chegar ao destino, a Calligari a deteve pelo braço. Mirou a mão de dedos longos, acariciando-a, depois encarou a filha de Otávio.

-- Quando tudo isso terminar, conversaremos... – Voltou a dizer, enquanto entrelaçava os dedos aos dela. – Agora não, mimadinha...

Os olhares se sustentavam...

Penetrantes...

A major voltou a passear os olhos pelo corpo da amada... Estava cansada, mas também estava faminta por ela...

Fitou o colo se levantar com a respiração e pareceu hipnotizada pelo movimento... Desceu o olhar, deparando-se com uma minú scula calcinha...

-- Sou Aimê Villa Real! – Disse com o olhar desafiador. – Esse é o meu nome! – Corrigiu-a orgulhosa.

Diana passou a pontinha da lı́ngua pelo lábio superior, depois fitou-a.

-- Em breve vai ser Aimê Villa Real de Calligari...

Soltou-lhe a mão, seguindo até a rede, deitando-se.

-- Vem! – Chamou-a.

A filha de Otávio olhava a princesa.

Seu corpo reagia imediatamente, mas não se entregaria tão facilmente. Cruzou os braços sobre os seios.

-- Não irei te dar prazer! Não depois de ter me tratado desse jeito!

A filha de Alexander sorria por dentro, enquanto exibia uma carranca.

Nunca se cansaria daquela garota birrenta, nunca se cansaria de vê-la exibir aquele bicão de emburrada...

Não havia dúvidas que a queria para sempre em sua vida, a queria ao seu lado, dormir exausta depois de amá-la com ânsia e acordá-la com beijos...

-- Senta no meu colo! – Bateu com as mãos nas coxas nuas. – Não vou te atacar... Ou é tão adolescente que não consegue ficar comigo sem desejar ser possuı́da? – Provocou-a. – Eu até entendo, afinal, quem resiste ao meu charme?

Como previsto pela pintora, a esposa caiu na provocação, caminhando até a rede, sentou com as pernas para fora sobre o quadril da amada.

Diana colocou uma das mãos sob a cabeça, enquanto a outra deixou livre. A luz do luar iluminava a oca.

-- Está se comportando? – A morena indagou. – Logo iremos embora, precisa ter paciência... – Depositou a mão sobre a coxa da jovem.

-- Todos são muito bons comigo... A Sirena, o Piatã... Os outros... Mas fico preocupada contigo... Não quero que se arrisque assim...

A major continuava a deslizar os dedos pela delicada pele. Tocava o tecido com cuidado...

-- Não posso ir agora...

-- Mas já estou contigo...

Um silêncio pesado se fez entre elas, enquanto se encaravam, enquanto ouviam a respiração uma da outra...

Enquanto ouvia o pulsar dos corações...

-- É meu povo, Aimê... Estou em dıvida com eles... Então os livrarei desses bandidos que profanam essa terra sagrada...

A Villa Real a fitou... Depois seu olhar se dirigiu até a marca em seu abdome. Engoliu em seco.

-- Perdoe-me por isso... Perdoe-me por tê-la ferido... – Disse em um fio de voz.

 A Calligari viu o V e ficou a pensar como a vida se mostrava irônica...

Otávio desejara e tentara como afinco marcá-la como a um animal e fora a filha quem fora obrigada a fazê-lo.

-- Você não teve escolha... – Subiu a mão até sua barriga, por baixo da camiseta. – Fez porque temia que me matassem... – Sentiu a curva dos seios redondos. – Talvez se tivesse se negado a jogar esse jogo, eu poderia não estar viva agora... – Usou o polegar para acariciar o mamilo intumescido.

A garota a encarou e parecia maravilhada.

-- Como pode ser ainda mais linda vestida como uma ı́ndia...

Diana mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto colocava mais pressão no mamilo esquerdo. Raspando-o com a unha, apertando-o.

Estavam quentes... Sedosos...

Viu os olhos azuis se estreitarem.

-- Eu sou uma ı́ndia... – Tirou a outra mão de debaixo da cabeça, levando-a até o cós da calcinha que a esposa usava.

– Sou selvagem... – Encarava-a. – Venho de uma tribo de canibais que se alimentavam dos brancos...

Aimê sentiu a costumeira pressão em seu baixo ventre, sentiu o latejar no sexo... Acompanhava o movimento com o olhar.

 

-- Alimentavam-se! – Arqueou a sobrancelha. – Sirena me falou que não praticam mais esses atos primitivos e selvagens...

A morena continuava a tocar a calcinha...

-- Só eu... – Fitou-a. -- Só eu ainda sinto esse apelo bárbaro... – Adentrou a peça ı́ntima, deliciando-se com o tato. – Nesse momento mesmo a minha meta é te comer por completo... Fundir a sua carne com todo o ı́mpeto...

A Villa Real ficava perdida quando Diana baixava o tom de voz, pois ficava mais rouco, mais sexy... Sentiu-se estremecer, enquanto observava os lábios desenhados em um meio sorriso.

-- Não sou alimento – Disse em um fio de voz.

Diana não respondeu, enquanto sentava de pernas abertas, fazendo com que a garota a imitasse. Tomou-lhe a face nas mãos, colando os lábios aos dela.

-- Sinto um desejo insano... Incontrolável...

Antes que a neta de Ricardo pudesse falar algo, a boca da esposa a tomou impulsivamente.

A Calligari segurou-lhe o cabelo para que assim a mantivesse cativa. Buscou a lı́ngua da garota, capturando-a, sugando-a com intensidade...

Beijava-a com cuidado... Parecia degustar com calma...

Ouvia-se gemidos e não sabia de qual das duas eram aqueles barulhos excitantes...

Aimê sentia a impulsividade do carinho... Os dentes que mordiam... Que feriam deliciosamente...

Levou as mãos aos fios que prendiam a parte de cima da roupa da princesa, puxando-a com toda força, rasgando-a, ansiosa para tocar os seios bronzeados.

Apalpou-os, apertando-os, arrancando sons de prazer da garganta da morena.

Diana também a livrou da camiseta, abraçando-a, unindo os colos... Roçando-os... Os biquinhos se encontravam... As fricções aumentavam...

Estavam quentes...

Apertavam-se forte, enquanto as bocas continuavam a travar a deliciosa batalha de lı́nguas...

 

A Calligari desceu as mãos até a cintura da mulher, puxando-a para mais perto... Colocando uma das pernas sobre a dela... Assim o contato seria mais intenso... Mesmo ainda tendo o tecido entre elas...

Forçou-a mais... Pressionou mais os quadris...

-- Não... Não...

Diana ficou surpresa ao sentir as mãos que também a abraçavam, agora, empurrá-la, tentando manter distância do toque.

Fitou a neta de Ricardo cheia de confusão e irritação.

-- Disse que não iria lhe dar nenhum tipo de prazer... Não enquanto me tratar como uma adolescente boba... Não quando não começar a me tratar como sua mulher, como sua dona... – Falou sem fôlego.

Os olhos negros pareiam ainda mais escuros.

-- Disse que conversarı́amos depois sobre isso... – Lembrou-a por entre os dentes. – Esqueça disso agora... – Cobriu-lhe a mão, segurando-a firme, levando aos lábios, virando-a para cima, depositando um beijo em sua palma, enquanto não deixava de encará-la. – Agora, apenas, permita que mate a saudade de te ter pra mim...

 

Aimê sabia que precisava ser firme com a princesa, pois se sempre cedesse à paixão, seria sempre tratada como uma criança.

Já abria a boca para protestar e deixar claro que não se entregaria, quando viu a lı́ngua da major lamber seu indicador...

Fazia-o sem parar de mirá-la... Fazia-o como se estivesse a degustar uma iguaria rara e sagrada... A pontinha rosada brincava...

Prendeu-o entre os dentes... Depois chupou-os... Fê-lo como se estivesse a tratar de uma fruta que quanto mais se suga, mais gostosa fica...

Os olhos azuis se fecharam quase por completo... Via o olhar de Diana...

A pintora trazia aquela expressão de pura safadeza, arrogância e poder...

Sem esperar pela confirmação da esposa... Levou os dedos que que chupavam aos seios, depois seguiu com eles até o próprio sexo...

A Villa Real sentiu o tecido da roupa da princesa e logo o contato com a pele molhada e escorregadia... Sentiu o corpo ser tomado por espasmos violentos...

-- Sente... Adoro com mais pressão...

A filha de Otávio sentia o clı́toris... Senti-a se esfregar... Ouviu o barulho ao penetrar o recanto de puro prazer... Diana a conduzia com maestria ao seu bel prazer...

A jovem viu o sorriso se desenhar na face da morena.

Atrevida, a major usava o indicador da esposa dentro de si... Conduzindo-o... Fazendo-o mexer em seu interior...

-- Quero mais um... – Pedia atrevida, enquanto a encarava.

-- Como pode ser tão desavergonhada... – Aimê questionou retoricamente.

Diana colou os lábios em seu pescoço... Beijando-o... Mordicando sua orelha... Sussurrando:

-- Você ainda não viu nada... – Mexeu o quadril de encontro ao toque. – Não para... – Ordenou.

A filha de Otávio ouvia a respiração acelerada da amada... Sentia os dentes cravar em sua pele... Sentia-a ir contra sua mão com mais impetuosidade...

Decidiu juntar mais um dedo a invasão que agora estava por sua conta. A major rugiu como uma fera ao senti-la mais forte, mais fundo...

Encarou os olhos azuis em puro deleite...

Aimê segurou as madeixas longas para mantê-la cativa, os rostos próximos.

-- Mete assim... Ain... Desse jeito... Forte...

A jovem fez o que fora pedido...

Entrava com fú ria... Ouvia os gemidos... As fricções... Miraram-se demoradamente.

A ı́ndia trazia a face transfigurado... Os seios seguiam o ritmo frenético...

Aimê se sentia poderosa e dona da situação.

-- Ainda sou uma adolescente? – Retirou os dedos, penetrando-a novamente em seguida. -- Ainda sou uma pirralha?

Uma birrenta? Uma mimada?

Diana cravou as unhas nos ombros da esposa, enquanto sentia o desejo prestes a explodir em um prazer total e destruidor...

-- Fala... Quero que seja arrogante agora... – Aimê a instigava, sabendo que logo ela se perderia totalmente. – É por mim que enlouquece, princesa, é por uma adolescente...

O grito alto foi sufocado pelos lábios da Villa Real que a beijou com sofreguidão. A Calligari tremia nos braços da garota.

Deteve-lhe os movimentos que não cessaram em seu sexo... Segurou-lhe a mão, apertando-a, enquanto ainda estava mergulhada na escuridão do prazer.

As bocas dançavam lentamente... Um soluço foi sufocado.

As lı́nguas se procuravam em perfeita sincronia, onde pareciam ensaiadas para aquele ato....

Aimê ouvia a respiração dela...

Seu corpo também fora afetado por tão intenso desejo...

Encararam-se...

O luar banhava de forma prateada as faces das duas... Os olhos negros brilhavam em lágrimas e em paixão...

Antes que a Villa Real pudesse falar algo, a morena se levantou e logo a tomava pelo braço. Ficaram de frente.

Mediam-se...

A Calligari era alguns centı́metros mais alta...

Aimê mais uma vez teve as palavras sufocadas por um beijo... Circundou-lhe o pescoço, mantendo-a perto de si.

Diana a abraçou pela cintura, passeando as mãos por suas costas...

A Villa Real a apertou mais forte, colocou uma das pernas entre as da amada.

A major desceu as mãos até o quadril da jovem, baixando a calcinha. Até o meio das coxas. Em seguida, estendeu as carı́cias pelo pescoço, mordiscando-o...

Ouviu o gemido da filha de Otávio quando os beijos foram distribuı́dos pelo colo, dando maior atenção àquela parte.

Passou a lı́ngua pelos mamilos rosados...

-- Adoro seus seios... Sou louca por eles... Enlouqueço quando os tenho na minha boca... – Dizia nos intervalos das chupadas. – São meus? – Questionou, sugando-os com mais vigor.

Aimê passava as mãos pelas madeixas negras, alisando-as...Sentindo o prazer crescer em seu ı́ntimo.

-- Sim, meu amor, eles são seus... Seus... Seus para que se deleite e me façam enlouquecer quando os tocam... – empinou para ela, mostrando-os, entregando-os.

Diana continuou tocando-os, enquanto seus dedos passeavam por toda a pele do abdome, enquanto seus dedos apertavam os montes redondos...

Usou a perna direita para terminar de livrá-la da calcinha, livrando-se também da própria. Voltou a tomar os lábios nos seus...

Seguiram até a esteira, onde a major deitou a amada, posicionando-se sobre ela, apoiando-se nos braços. Aimê dobrou os joelhos, abrindo-se para que a herdeira de Alexander se acomodasse entre eles.

Viu o sorriso carregado de sarcasmo brincar na face da pintora.

-- Sim... Você é uma mimadinha... Uma birrenta... Uma adolescente... Uma pirralha...

A Villa Real se irritou ao ouvir as palavras, tentando se levantar, mas Diana lhe segurou os pulsos sobre a cabeça.

-- Solte-me! – A garota exigiu. – Não permitirei que me trate assim e ainda queira fazer amor comigo...

A pintora se ajeitou, colocando os sexos em contato. Moveu o quadril de encontro a ela.

Ambas estavam molhadas...

Aimê mais uma vez tentou se livrar das mãos que a prendiam, porém foi uma tentativa em vão.

-- Deixe-me...

A Calligari continuou a sorrir, enquanto esfregava-se com mais ı́mpeto... Deslizava... Deslizava... Alternava entre movimentos e não demorou para incitá-la com a coxa...

A Villa Real cerrou os dentes para não se permitir exprimir a satisfação que seu corpo sentia com a forma que a major se mexia...

Os olhos negros não abandonavam seu olhar... Parecia um ritual mı́stico de satisfação sexual...

Os tambores já começavam a ser ouvidos a saudar o novo dia... E embalavam a dança primitiva... Diana mordiscou o lábio inferior em puro tesão.

Os olhos azuis se estreitaram...

A garota sabia que acabaria por se entregar...

-- Ceda, eu sei que você quer... Sei que me quer tanto quanto te quero... Está me enlouquecendo com essa resistência... – Dizia em loucura. – Aceite o meu presente. – Inclinou a cabeça, tomando os seios possessivamente.

Aimê via a lı́ngua brincar com o mamilo que já estava dolorido, ansiando pela concretização da paixão.

-- Não farei amor contigo...—Dizia com a respiração acelerada. -- Não, enquanto continuar a me tratar como se fosse uma adolescente irresponsável...

Mesmo que negasse, já sentia o corpo embalar o mesmo ritmo da outra... Já percebia os apelos maiores... Seu sexo latejava...

Diana sabia como fazia... Sabia como tocava...

-- Então não vamos fazer amor... – Soltou-lhe as mãos e rapidamente se posicionou com a cabeça entre as pernas da esposa.

Aimê aproveitou que estava livre para se levantar, mas apenas conseguiu sentar, tendo que se apoiar nos braços,

pois logo sentia a boca da morena devorando o centro do seu prazer.

A jovem gritou em surpresa e em deleite.

-- Diana... – Mordeu o lábio inferior. – Selvagem... Selvagem...

A major sorriu, mas não parou de tocá-la, mesmo quando a sentiu pressionar as coxas em sua cabeça. Ousou mais e logo percebeu que ela relaxava a musculatura...

A herdeira de Ricardo se apoiava nos braços...

Abriu-se mais e sentiu a lı́ngua penetrar seu pequeno espaço... Gemeu...

Fitou-a...

Tinha a impressão que iria explodir a qualquer momento.

Inclinou a cabeça para trás novamente, enquanto soltava um urro sofrido.

-- Diana... -- Chamou-a. – Diana... Diana...

A major a fitou, mas não parou e logo usou um dedo para se juntar aos movimentos.

As investidas aumentavam, enquanto a boca se aprofundava mais, esfregando-se no lı́quido visguento. A jovem ouvia o barulho dos lábios contra sua carne... Via os olhos em sua direção...

Não demorou a sucumbir...

Os braços perderam as forças e a garota despencou... Ainda sentia a força da paixão...

Diana deitou sobre ela.

Esperou que os olhos azuis se abrissem...

-- Você é tudo o que eu disse, mas isso não me faz te amar menos... Ou te faz ser inferior... Apenas precisa tomar cuidado com suas ações – Dizia, enquanto sentia os espasmos dela. – Eu te amo muito, Aimê, sou perdidamente louca por ti... Eu jamais me perdoaria se algo de ruim te acontecesse...

O orgasmo poderoso dominou a jovem Villa Real que se perdeu naquela deliciosa sensação de abandono. Ela sorriu, enquanto mergulhava em um sono de satisfação.

O sol já tinha raiado totalmente quando Aimê despertou.

Ouvia as vozes lá fora e ao se virar, deparou-se com a esposa dormindo ao seu lado. Pegou a pele, cobrindo-as.

Mirou a face bonita e ficou a pensar como mais uma vez se mostrava totalmente entregue àquela mulher.

Mirou o ombro machucado.

O que tinha acontecido?

Tocou lentamente...

Precisava ser cuidado.

Ficou ali, apenas a observando, ouvindo a respiração pesada. Era assim que queria todos os dias da sua vida...

Seu corpo ainda trazia os resquı́cios dos deliciosos toques... Mais uma vez se entregaram naquela madrugada fria... A Calligari parecia incansável quando se tratava de fazer amor... Quando se tratava de lhe satisfazer totalmente... Não demorou para os olhos negros se abrirem, junto com um enorme sorriso.

-- Bom dia, princesa! – Cumprimentou-a.

-- Bom dia...

A major sentiu os lábios colarem nos seus rapidamente.

-- Deve levantar e comer algo... e cuidar desse ferimento...

Os olhos da morena estavam nos seios expostos da filha de Otávio que não pareceu se importar com o fato.

-- Você é safada!

-- Contigo... – Esticou o braço, tocando o mamilo tugido. – Fico mais safada quando se trata de ti... – Brincou com o mamilo.

-- Quero que seja safada apenas comigo... – Mordiscou o lábio inferior. – Não aceitarei que outras se aproxime.

-- Eu só quero você, mimadinha!

A garota relanceou os olhos em irritação.

-- Não quero que me chame assim ou de adolescente... É como se eu não fosse uma mulher...

A pintora trouxe a esposa para cima de si.

-- De onde tira essas bobagens, hein? – Colocou o cabelo dela por trás da orelha. – O fato de chama-la assim, não lhe tira seus méritos de ser uma mulher maravilhosa e minha esposa.

-- Não gostei de como falou comigo lá na floresta... Eu fiquei desesperada, passei todos aqueles dias em desespero...

Pensando que algo de ruim tivesse acontecido...

Diana viu as lágrimas brilharem nos olhos azuis.

-- Aimê... – Usou o polegar para tocar o lı́quido salgado. – Você não tem ideia de como entrei em desespero quando vi aquela onça partir em sua direção... Eu teria enlouquecido... A selva é um lugar muito perigoso, ainda mais para alguém inexperiente... – Beijou-lhe os olhos. – Preciso que obedeça... Sei que não é muito da sua natureza e prometo que quando estivermos na civilização, poderá ser totalmente livre... mas aqui não...

A Villa Real respirou fundo, enquanto tocava os três pequenos sóis tatuados no seio da amada.

Alguns ı́ndios conversavam alto na parte de fora.

Mesmo que a filha de coronel não tivesse familiaridade com o dialeto, conseguiu entender o que diziam.

Levantou-se, cobrindo-se com a pele.

Diana não pareceu entender o que se passava.

-- Você matou o Crocodilo? Como foi capaz de ter a vida desse homem em suas mãos? Deseja se igualar em maldade com meu pai ou a esse bandido?


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