A dama selvagem - Capítulo 36
A noite já começava a cair e o coro das
criaturas noturnas já podiam ser ouvidos. Os insetos faziam uma verdadeira
sinfonia, fora as aves e as rãs.
Os macacos observavam tudo das suas
confortáveis árvores, sentindo e vendo a presença dos invasores.
Começava a ventar e gotas de chuvas já
começavam a cair. Não era grossa, mas para se transformar em uma tempestade,
seria em questão de segundos.
O som fantasmagórico de Éolo se tornava
uma sinfonia de causar arrepio... O solo já estava molhado... Encharcado...
Os rastros não poderiam ser seguidos
com tanta facilidade. Crocodilo estava parado em meio às árvores.
Os cachorros se aglomeravam ao redor de
si.
Alguns faroletes estavam acesos, já que
a fogueira tinha sido apagada em todas as vezes que houvera tentativa de
acendê-la.
Tinha montado acampamento por toda a
extensão do rio.
Seu plano era esperar o momento que uma
ferida ı́ndia tentasse seguir e assim ele a surpreenderia... Talvez o garboso
bandido não fosse tão esperto como tentava se mostrar...
-- Precisamos tomar cuidado, alguns dos nossos
se perderam na floresta.
Crocodilo se referia ao desaparecimento
de três dos seus homens que saı́ram para fazer busca na tarde anterior e até
agora não retornaram.
As barracas já estavam armadas.
Os olhares das prostitutas se mostravam
apreensivos. Nunca estiveram tão assustadas em toda aquela perigosa empreitada
como acompanhantes daqueles homens... Muitas invejavam a fuga de Alanna...
Um homem alto, todo barbudo e de aparência
desleixada se aproximou.
-- Senhor, realmente não achamos que
devemos continuar com isso! – Dizia em receio. – Há dias estamos dando voltas
e até agora não conseguimos nada... por que não deixamos essa mulher e
retornamos para a cidade, poderá pegá-la quando ela estiver de volta...
O chefe permaneceu de cabeça baixa por
longos segundos, até que se levantou, retirou o revólver, apontando para o
corajoso que lhe dera a sugestão.
-- Ninguém vai a lugar nenhum! –
Esbravejou. – Não sairei daqui sem antes levar a Villa Real e matar a
Calligari...
Alguns dos presentes já começavam a se
dividir e se assustavam com a selvageria do lugar.
Achavam que o seu lı́der perdera não apenas
o juı́zo, mas também o senso de liderança e isso os faziam descrer na missão
que tinham pela frente.
-- Senhor, não sabemos o que fazer,
já...
Crocodilo atirou para cima várias
vezes. Todos os presentes ficaram calados.
Temiam a fúria do bandido.
O segurança loira não estava presente,
tinha seguido até o primeiro acampamento, pois precisara buscar mantimentos e
munições.
Tupã observava os movimentos de cima da
árvore.
A irmã tinha seguido até o
acampamento, tinham conseguido pegar as armas, mas insistira em mexer no motor
dos veı́culos, assim, não teriam como deixar o lugar.
Algumas aves também tinham sido
capturadas, mas todas já tinham sido libertadas. As munições encontradas
foram descartadas, fragilizando assim aquela organização.
Naquele momento, a pintora usava o
rádio comunicador para entrar em contato com o exército.
O ı́ndio ouviu um barulho e notou a
presença de três homens.
Imediatamente fez um sinal para a irmã,
mas ela não apareceu entender, estava bastante concentrada. Repetiu o gesto e
dessa vez mais alto e sentiu um alıvio no peito quando a morena se escondeu.
Mesmo que não admitisse, sentia-se
orgulhoso de mais da Calligari. Ela tinha uma força e uma coragem
impressionante.
Não negava que chegara a imaginar que
ela não aguentaria... Irritou-se ao imaginar que assim que ela encontrasse a
tal Villa Real, iria embora e deixaria para trás todo o povo com aquele
problema.
Há tempos, as tribos, os animais e a
natureza vinham sofrendo com a ação daqueles traficantes, então quando ela
deixara claro que os expulsaria de uma vez por todas, ficara imensamente feliz,
desejando lutar ao lado dela naquela empreitada.
Voltou a se posicionar, de forma que
pudesse agir, se a pintora necessitasse da sua ajuda.
Diana estava debaixo do caminhão.
Ouvia o som dos passos e a vozes,
reconhecendo uma em particular. O maldito segurança!
Fechou fortemente o punho, desejando
esmurrá-lo com toda força do mundo, ainda mais quando recordava do que Piatã
falou... Se o velho ı́ndio não tivesse chegado, o bandido desgraçado teria
abusado da esposa.
Cerrou os dentes!
Não poderia agir por instinto, teria
que ter calma, pois logo todos pagariam e muito caro pelas ações executadas.
Pelo que andara ouvindo, percebia que
não demoraria para Crocodilo ser traı́do por seus “colaboradores”. Eles se
negavam a seguir em meio àquela mata fechada. Algo compreensível, pois os
perigos daquele lugar eram aterradores.
Prendeu a respiração ao recordar de
Aimê...
Se tivesse demorado frações de
segundos, ela teria sido trucidada por aquele animal.
Diana não gostava de matar, só o fazia
quando realmente era necessário... Por esse motivo se livrara da onça... Levou
a mão ao revólver que estava na cintura, precisava estar preparada...
Voltou a recordar da esposa...
A Villa Real era muito mimada mesmo e
rebelde... Meneou a cabeça negativamente.
Como fora tão cabeça-de-vento e sair da
caverna sozinha, sem conhecer nada naquele lugar? Será que não recordava de
como fora difı́cil na primeira vez que tiveram que seguir por ali... Umedeceu
os lábios, sentindo-os secos...
Quando viu os olhos azuis voltados em
sua direção, teve a impressão que o coração voltava a pulsar...
Passara todos aqueles dias sonhando com
ela... Desejando tê-la ao seu lado... Porém ao saber do ocorrido, ficara tão
furiosa que nem conseguira demonstrar o que sentia... Precisara usar de toda a
frieza, pois só assim, poderia fazê-la obedecer e a própria pintora não
podia se dar ao luxo de se distrair do seu objetivo.
Ouviu os passos ficarem mais próximos.
Prendeu a respiração.
Prestou atenção nos diálogos.
-- Não iremos ficar embrenhados nessa
selva atrás dessas mulheres... – Um dos homens dizia irritado. – Quero receber
o meu dinheiro e ir embora antes que um bicho selvagem desses me ataque ou o
próprio Crocodilo volte a surtar e saia atirando em todo mundo.
O loiro se apoiou no veı́culo.
-- Ele está obcecado pela major...
Deveria tê-la matado quando teve a chance... Eu poderia ter dado cabo da vida
dela em um segundo...
-- Eu desejei matá-la... Ainda sonho
com esse momento! – O segurança falou. – Só sairei daqui com a cabeça dela! –
Esmurrou o capô do caminhão. – Também terei como prêmio a Villa Real...
Essa será minha de todas as formas...
-- Você está mais louco do que o
outro... Como disse, não ficarei por
muito tempo e os outros também não...
Queremos nossa grana e depois vamos
embora desse inferno...
Os passos voltaram a se afastar, mas as
vozes continuavam cada vez mais alteradas.
Nas primeiras horas do dia, Piatã,
Aimê, Alanna e os ı́ndios que foram responsáveis pela escolta dos convidados
adentravam a aldeia de Tupã.
Demoraram mais do que o necessário,
pois a loira acabara torcendo o tornozelo.
Sirena veio ao encontro de todos,
saudando-os com abraços, demorando-se na Villa Real.
-- Fico tão feliz em vê-los bem... –
Falava, enquanto segurava as mãos da jovem. – A Diana ficou tão desesperada
que nem mesmo esperou curar totalmente, seguindo a sua procura.
Aimê reconheceu a voz da mulher e
recordou de como ela fora gentil quando estivera ali.
-- Obrigada, também me sinto feliz por
estar aqui... – Disse simpaticamente.
A
filha de Otávio observava tudo com atenção.
Aquela aldeia parecia mais organizada,
tudo parecia em total harmonia com a floresta. As ocas eram grandes...
Havia flores...
Maravilhou-se com o jardim...
Recordou-se de que quando estivera ali,
sentira aquele cheiro da flora ainda mais concentrado... Fitou as árvores de
frutas que estavam localizados em meio às rú sticas construções...
Viu o olhar de todos voltados para si...
Havia crianças... Mulheres... Idosos...
Guerreiros jovens...
Corou ao ver a escassez de roupas das
pessoas do sexo feminino... Exibiam os seios sem nenhuma hesitação. A esposa
de Tupã já era diferente, usava uma espécie de tú nica de pele de animal.
Viu o sorriso da bela jovem para si.
Sirena não lhe soltou a mão, levando-a
até próximo as pessoas que pareciam reconhecê-la.
-- Acredito que todos lembram da Aimê,
o amor da princesa... Ela ficará conosco durante alguns dias e todos devem ser
respeitosos...
Todos demonstraram simpatia, exibindo
sorrisos tı́midos.
-- Piatã, as acomodações para vocês
estão prontas... Vou leva-la comigo. – Disse simpaticamente. A esposa de Tupã
seguiu com a Villa Real até a oca maior.
-- Você ficará aqui como da outra
vez...
Aimê observou o lugar e de repente
lembranças da noite do casamento lhe assolaram a mente.
Viu uma esteira no chão... Uma rede...
Um pote de barro. Era tudo muito simples, mas bastante acolhedor. Respirou
fundo!
Teve a impressão que tudo voltará
naquele dia... Casara com a major...
Recordava-se de ter passado a noite a
imaginar que Diana se aproximaria e tentaria alguma coisa... Temeu e também
ansiou por isso...
Deus, como podia já querê-la naquela
época?
Ainda lembrava da primeira vez que
sentira os lábios dela sobre os seus... Perecia que mil carrosséis giravam em
sua cabeça...
A boca macia... O hálito fresco... O
cheiro dela que penetrara e se mesclara a sua própria respiração... Corou ao
perceber o olhar especulador da ı́ndia.
-- Está pensando nela? Lembrando do
casamento? Eu sempre soube que vocês ficariam juntas... A garota suspirou
irritada.
-- Prefiro não falar sobre ela...
Sirena estendeu a mão, tocando-lhe a
face, fazendo-a encará-la.
-- O que houve? – Questionou surpresa.
A neta do general mordiscou o lábio
inferior demoradamente.
-- A Diana esteve em desespero... Ela
só chamava por ti, enquanto lutava
contra uma terrível infecção...
-- E eu desejei estar ao lado dela... –
Disse por entre os dentes. – Não desejei que me levassem... Sofri dia após
dia... Imaginei mil coisas... E quando a encontro... tive a impressão que meu
mundo voltava a fazer sentido... Mas o que recebi? Frieza e arrogância...
Sirena viu uma solitária lágrima
rolar.
-- O que se passou?
Aimê desviou o olhar por alguns
segundos, mas logo voltou a fitá-la.
-- Eu sei que não deveria ter fugido da
caverna... Mas, meu Deus, eu estava desesperada sem saber dela, estava
enlouquecendo e acabei indo...
A ı́ndia esboçou um sorriso de
compreensão.
-- Eu te entendo, mas também precisa
entender a princesa... Ela deve ter ficado enlouquecida... – Passou o polegar
pela lágrima dela. – Tenha calma, logo que tudo isso passar, vocês poderão
conversar, então demonstrará sua indignação... – Apontou para uma cesta de
cipó. – Ali tem roupas da Diana, você poderá usá-las. Pedirei que tragam
água para que banhe e descanse...
A garota assentiu, enquanto via a mulher
de Tupã se afastar. Fitou a rede e seguiu até ela, deitando-se.
Seu corpo doı́a...
Sua cabeça doı́a pela falta de descanso
e pela preocupação...
A pintora estava lá fora se arriscando
irresponsavelmente...
Índia... Artista... Dama... Major...
Besta arrogante... Ogra... Selvagem...Canibal... Maravilhosa... Fechou os olhos
e de repente um sorriso se desenhou em seus lábios...
Nunca em sua vida tinha visto uma mulher
tão linda e poderosa como a major Calligari... Suspirou alto.
Mesmo que estivesse muito irritada pela
forma que fora tratada e estivesse disposta a não a perdoar tão cedo, não
podia negar que a imagem da morena vestida de nativa era muito arrebatadora...
Não havia dúvidas de por que vivia em
total sedução com a jovenzinhas... Cobriu o rosto com as mãos.
Moveu os lábios em uma oração
silenciosa...
Que tudo aquilo chegasse ao fim... Que a
filha de Alexander não fosse ainda mais ferida... Não entendia por que
simplesmente não iam embora...
Temia que fizessem ainda mais mal a ela.
Respirou fundo!
Sabia
que seria uma
missão impossıv́ el
dissuadir a esposa
disso, sabia como
por baixo daquele
nariz empinado havia uma
determinação cega...
Deus, precisava vê-la... Saber que
estava bem... Meneou a cabeça negativamente...
Que tudo aquilo terminasse o mais
rápido e pudessem voltar para casa.
-- Como as munições sumiram e os carros
não funcionam? – Gritava o chefe irritado.
Os três homens que seguiram até o
acampamento retornaram e relataram o sumiço das armas e dos animais.
-- Não sabemos, apenas o acampamento
parecia normal... – O segurança se justificava. – Só depois que notamos que
faltava tudo... As munições... Não havia nada...
Os presentes pareceram ainda mais
relutantes com esse novo fato... Afinal, havia poucos mantimentos e o poder de
fogo se resumia ao que tinha ali... Os rádios comunicadores... Nada
funcionavam, estavam presos naquele lugar...
Crocodilo olhava tudo ao redor.
Observava as grandes árvores que
cercavam a clareira. Sabia que a major estava por perto, sabia que ela era
responsável por tudo aquilo.
Os presentes cochichavam...
O burburinho era grande... Estavam
assustados...
-- Quem me trouxer a Calligari ganhará
o triplo do que prometi! – Bradou. – Tragam-me a Diana! Ninguém se mexeu...
Quem ousaria se embrenhar naquela mata
atrás de uma ı́ndia com fama de canibal?
O segurança loiro observava tudo com
crescente interesse. Talvez, fosse preciso que outro assumisse aquele papel de
senhor .
A morena e o irmão estavam sobre uma
enorme árvore.
A major observava tudo pelo binóculo.
Um sorriso enorme se desenhou nos
lábios dela.
-- Sua ideia surtiu o efeito desejado
pelo que vejo! – O ı́ndio comentou ao mirá-la. Diana encarou o irmão, depois
acariciou a preguiça que faziam companhia a eles.
-- Estão presos aqui, com pouca
munição e quase sem comida... – Tocou as patinhas do bicho.
-- Não terão chances... – Pegou o
objeto para observar. – Pelo que percebo, não vai demorar para o bandido
desgraçado ser abandonado a própria sorte... Isso sim é um castigo terrível...
Ser traı́do pelos seus...
A morena parecia ponderar, enquanto
brincava com o animal.
--
Consegui entrar em contato com o exército... Em três dias pousarão na
clareira... Tupã a encarou.
Conhecia-a bem para saber o que estava a
se passar por sua cabeça.
-- Não deve ser a isca, princesa, já
disse que teremos que pensar em outra forma para atrair esses bandidos. –
Apontou-lhe o dedo em riste. – Não me arrisquei para te salvar para vê-la
cair como uma idiota nas mãos desses loucos.
O maxilar da morena enrijeceu.
Os olhos intensamente negros estavam
mais estreitos... Ameaçadores...
Tinha um desejo primitivo que queimava
em seu peito... Uma vontade de infringir a eles, a mesma dor que sofrera...
-- Vamos ver como isso sucederá... Não
se prever o futuro... Nem mesmo o pajé o faz..
Tupã a observava com calma, imaginando
o que poderia estar se passando na mente da irmã.
A tardinha parecia tranquila.
O som das aves, o guinchar dos macacos e
aquele pássaro grande que parecia sempre estar à espreita.
Crocodilo parecia desnorteado.
Afastava-se do grupo e nem mesmo parecia se preocupar com os perigos do lugar
que o cercava.
Pisava duro, examinando tudo ao seu
redor. O verde imperava...
Distanciava-se no lugar onde os homens
estavam... No acampamento o clima estava pior.
Mesmo depois de ter oferecido uma
quantia muito grande pelos serviços dos capangas, eles não pareciam
interessados, pois temiam morrer na floresta. Não sabiam como se locomover
naquele lugar, sem falar nos animais que estavam sempre à espreita.
Crocodilo parou diante de uma árvore
enorme de seringueira. Aquela área era cheia dessa vegetação.
Agachou, enquanto usava o canivete para
cortar a casca e ao ver uma cobra pequena, pisou com a bota sobre sua cabeça,
esmagando-a.
Assim que cumprisse sua missão, nunca
mais retornaria... Estava cansado daquele cheiro de mato, daqueles bichos que
perturbavam durante dia e noite...
Sabia que rota seguir para deixar aquele
lugar... E assim que acabasse com a filha de Alexander, seguiria e não levaria
nenhum dos desgraçados covardes que estavam consigo.
O guinchar dos macacos lhe chamou a
atenção e ao levantar a cabeça, viu Diana armada com o arco e flecha, pronta
para se defender.
Encarou-a.
Os olhos intensamente negros traziam o
costumeiro sarcasmo e orgulho. Tentou pegar o punhal.
-- Se fizer um movimento ou esboçar
alguma reação, cravo uma flecha no seu olho esquerdo... – Falou baixo.
O homem permaneceu na posição que se
encontrava, pois sabia que a Calligari era muito boa de mira.
-- Eu sabia que não estava morta... –
Esboçou um sorriso. – Então decidiu assumir sua origem selvagem? – Fitou-a da
cabeça aos pés. – Tem alguma forma de ficar feia?
A morena arqueou a sobrancelha esquerda
em deboche.
-- Eu não acho que valha a pena te
matar... Pelo que percebi, seus próprios homens estão cogitando essa
possibilidade...
-- São uns imbecis, acham que podem
deixar esse inferno sem mim... – Segurava o punho da arma. – Mas, fale-me...
Teria mesmo coragem de me matar, major?
Logo eu que a salvei das mãos de Otávio quando tentou violentá-la...
-- Você tentou, o mesmo, dois dias
depois, então o que fez foi motivado por seu próprio interesse...
Crocodilo esboçou um sorriso, levando a
mão à cicatriz que tinha na face.
-- E foi isso que ganhei... – Passou a
lı́ngua pelos lábios. – Você tem certeza de que quer mesmo que as coisas
terminem assim? Diana, está se iludindo com a filha do coronel... Logo ela vai
enjoar dessa coisa de mulher com mulher e vai atrás de um homem... Por que se
arriscar tanto por ela? Use-a, durma com ela, eu deixo que sacie sua tara, mas
depois deixe que ela vá comigo, vai estar se vingando do homem que destruiu a
tua vida... O sangue do seu pai vai estar sempre entre vocês...
A Calligari colocou mais pressão no
arco.
Continuava parada no mesmo lugar,
ouvindo e sua expressão demonstrava total inflexibilidade.
-- Não é digno de falar o nome da
Aimê! – Disse por entre os dentes. – E tampouco se referir ao meu pai.
O bandido riu alto.
-- E você acha que é digna de se casar
com ela? – Debochou. – Diana, você é uma selvagem... Sempre vai ser... A
garotinha não vai aguentar os seus arroubos por muito tempo, ela não é como
nós...
-- Está a me comparar a ti? –
Questionou calmamente.
-- Bem, no fundo você sabe que faz
parte do meu meio... Pode até ser filha de Alexander, mas ainda esbanja esse
ar de ser primitivo...
Um sorriso se desenhou nos lábios da
morena... Ele era perigoso...
Crocodilo mirava o pescoço esbelto e
longo da major...
Se fosse rápido o suficiente, não
demoraria a vê-la sangrar até a morte...
-- Acha mesmo que a garotinha te ama? –
Tentava distraı́-la. – Não deve nem ter modos...
-- Você não tem ideia de como esse meu
ar selvagem enlouquece as mulheres... Mas, idiota, eu não estou no mesmo
pacote que você... Eu não sou uma covarde, porque se assim o fosse, já teria
te matado pelas costas...
-- Eu não te matei... Poderia ter feito
e não fiz... Mesmo que não acredite, tenho respeito por sua pessoa...
terı́amos feito um bom trabalho juntos. – Mirou a marca feita à ferro. –
Gostei do V... Combinou contigo...
Diana meneou a cabeça em desdém.
-- Não, você fez pior... Fez uma
garota inocente se submeter às suas ameaças, fez uma jovem executar suas
torturas e teria feito mais, se não tivéssemos conseguido escapar...
-- A Villa Real fez o que desejou fazer,
ela mesma me disse que te odiava, porque você a tinha traı́do com outra,
então não a veja com olhos tão inocentes...
-- Não me interesso por sua tese de
psicologia de porta de cadeia, estou aqui para te dar uma chance de sair vivo
desse lugar... Renda-se e pague sua dıvida com a justiça.
-- Está me oferecendo um trato? –
Exibiu um sorriso debochado. Estava certo que a mataria...
Arrancaria sua cabeça e mostraria aos
seus covardes homens que ele não precisava de ninguém para fazer seu trabalho...
Sabia que não deixaria aquele lugar sem
antes destruir aquela orgulhosa mulher. Apertou mais forte o cabo do punhal.
O pipilar de alguns pássaros acabou por
ser a distração que o bandido desejava. Crocodilo foi rápido ao jogar a arma
contra a filha do general, mas a ı́ndia previu o que ele faria e fora ainda
mais ágil em se livrar dela que passara raspando em seu ombro direito,
atirando a flecha em frações de segundos e acertando o olho esquerdo do
traficante como prometido.
O bandido rosnou tão alto, praguejando,
enquanto sentia a insuportável dor.
-- Desgraçada, mil vezes maldita...
Filha de uma chocadeira... – Gritava. – Te matarei e te fatiarei... Dando cada
uma das suas partes para que meus cães comam... Meu olho... Meu olho...
Procurou a major e não a encontrou.
Os homens se aproximaram e pareceram
chocados com a cena.
-- Não fiquem me olhando, seus imbecis,
vão atrás dessa maldita, ela não deve ter ido longe.
O segurança loiro fez um gesto de cabeça
para que as ordens fossem cumpridas, permanecendo ao lado do cumplice de
Otávio.
O loiro se aproximou.
-- O que houve?
O bandido chorava em pleno pulmão
naquele momento.
-- A miserável... a desgraçada da major
está aqui... Ela está aqui... Me atacou... Quer matar a todos... Preciso de
um médico ou perderei meu olho.
-- Não há médicos... – Observava o
sangue jorrar. – Melhor tirar isso! – Aproximou-se.
Crocodilo se levantou, cambaleando,
afastou-se.
-- Está louco, quer que eu sangre até
morrer? – Cerrou os dentes. -- Vá atrás dela! Tragam-na para mim, eu ordeno!
O
segurança loiro tirou a arma da cintura, mas não fez o que tinha sido mandado,
virou-se para o chefe.
-- Não obedecemos mais a você! –
Apontou-lhe o revólver. – Por sua culpa estamos nessa situação... Se tivesse
matado a Diana como era a minha vontade, ela, agora, não seria uma ameaça a
todos!
Crocodilo pareceu surpreso.
-- Não vão conseguir sair daqui sem
mim! Eu sei como deixar esse inferno, você é apenas um moleque que não
consegue seguir uma trilha.
-- Terei mais chances do que você – O
loiro se aproximou dele.
Os olhos claros observavam a flecha
cravada no globo ocular. Havia sangue, mas sabia que, apesar de ser uma dor terrível,
não era suficiente para matá-lo.
-- Já disse que pagarei muito a todos,
tenho muito dinheiro... – Dizia em desespero. – Sairemos daqui e todos terão
uma vida de luxo... Você será meu homem de confiança
O segurança sorriu, enquanto olhava ao
redor, certificando-se que estavam sozinhos.
-- Sim, vamos... – Apoiou um braço sobre
o ombro do chefe. – Vamos...
Crocodilo acenou afirmativamente com a
cabeça, enquanto o loiro lhe deu um beijo na face. Um barulho de um tiro foi
ouvido e não demorou para o cumplice de Otávio cair ao chão. Uma bala tinha
sido atirada contra seu peito.
-- Você, fica... – O traficante não
conseguiu terminar sua frase, definhando até a morte.
O segurança se abaixou, arrancando a
flecha.
Ainda estava com a arma em punho,
apontando para as árvores.
Em seguida se afastou imediatamente do
lugar, temendo ser pego desprevenido pela ı́ndia.
Tupã deteve Diana pelo braço.
-- Você não pode ir até ele! –Ordenou.
– Esse é o destino que um desgraçado como ele procurou. Ambos viam toda a cena
do alto de uma árvore e ficaram surpresos com a maldade do loiro.
Depois de levar o tiro, Crocodilo fora
espancado pelos capangas que retornaram, chutando-o, descontando nele as suas
frustrações.
O rosto do homem ficou desfigurado e os
risos dos bandidos eram cruéis de mais.
-- Miseráveis! – A morena disse por
entre os dentes. – Covardes! Estou praticamente desistindo da ideia de entrega-
los com vida.
O ı́ndio a observava e parecia admirado
pela compaixão que via em seu olhar. Colocou a mão sobre o ombro dela,
observando o sangue que saia do machucado.
-- Sabe que se eles tiverem a
oportunidade farão pior contigo! – O irmão a alertou, fitando-a. – Sua pele
está ferida, poderia ter sido mais sério, não sei por que foi até ele.
Diana fitava o corpo estendido.
-- Eu precisava fazer uma tentativa... –
Passou a mão pelas madeixas longas. – Preferia vê-lo pagar tudo o que fez em
uma prisão...
-- Vamos cuidar desse machucado...
-- Foi superficial, apenas pele rasgada
e sangue! – Dizia, enquanto tinha o olhar fixo no homem que fora morto.
-- Acho melhor irmos até a aldeia,
esses bandidos não têm para onde ir... Vamos até lá, descansamos, cuidamos
da ferida, você também descansa, pois ainda não está totalmente curada,
depois voltamos. Deixaremos alguns dos nossos de olho...
A major respirou fundo!
Por ela, tudo seria terminado o mais
rápido possıv́ el, mas teriam que
esperar. Fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Viajaremos agora e logo estaremos
lá!
Ainda o sol não nascera, a madrugada
fria assolava a aldeia. Ainda havia resquı́cios da fogueira.
O céu estava estrelado e uma majestosa
lua reinava magnı́fica a iluminar o lugar. Diana e Tupã tinham acabado de
chegar.
Não descansaram um só segundo, apenas
desejando estarem em casa.
-- Tomarei um banho, estou com cheiro de
bicho morto! – A princesa seguiu na direção da margem do rio.
O ı́ndio não pareceu preocupado com
isso, indo direto até a sua oca, desejoso e saudoso da esposa grávida.
Aimê estava deitada na rede.
Pouco conseguira descansar, pois sempre
estava a pensar no risco que a amada corria.
Quando conseguia pegar no sono,
despertava, vendo-a em seus sonhos... As cenas das torturas sempre eram
recorrentes...
Ouviu passos, sentando-se imediatamente.
Os olhos azuis muito abertos
demonstravam pavor... A lua estava cheia e iluminava a noite estrelada.
Pensou se deveria gritar e pedir
ajuda...
Não demorou para a morena alta aparecer
na entrada a oca. Alta, ereta, cabeça erguida...
Continuava vestindo trajes nativos, mas
não eram os mesmos do dia que se encontraram. Estaria acordada ou se tratava
apenas de um devaneio?
Respirou fundo, sentindo o cheiro de
sabonete... O aroma dela... Meneou a cabeça...
Permaneceu onde estava, mesmo desejando
se jogar nos braços da mulher que tanto amava, ainda não tinha certeza de que
não estaria a sonhar...
A Calligari caminhava lentamente e logo
parou diante da rede onde a esposa a olhava com aqueles olhos tão azuis e
penetrantes.
Encarou-a durante longos segundos.
Reconheceu a camiseta que ela usava...
Não havia sutiã e era possıv́ el ver os mamilos empinados... Frio? Mirou o
pescoço esbelto, vendo a veia pulsar na lateral...
Encantou-se pelas sombras que o luar
fazia na face bonita... Linda!
Umedeceu os lábios que pareciam
ressecados... Sentiu aquela agonia no estômago...
Deus, como estava feliz ao vê-la bem
depois de tudo o que viveram...
Os cabelos compridos estavam presos em
um coque, os lábios rosados entreabertos...
-- Não deveria estar dormindo? –
Indagou com um sorriso de canto. – Crianças não devem ficar acordada de
madrugada.
Aimê cerrou os dentes, a cabeça
levantada, mirando-a. Então era a ı́ndia selvagem e vinha carregada de
provocação.
-- Não sou criança, major, há tempos
deixei essa fase...
A morena viu a esteira arrumada, então
seguiu até ela, deitando-se.
Apoiou as mãos sob a cabeça, sentindo o
corpo se adequar ao piso batido, mas que trazia conforto depois de passar horas
sobre árvores ou caminhando por dentro daquela floresta.
-- Você é ainda pior... Age como
adolescente irresponsável... – Disse, mirando a amada.
Sua mente estava perturbada.
Só deixara a selva quando enterrara o
corpo do Crocodilo. Ainda se sentia chocada pela crueldade dos que o seguiam...
Fechou os olhos, mas a voz firme da
filha de Otávio invadiu o ambiente.
-- Sou uma adolescente porque em meu
desespero fui atrás de ti sem medir as consequências do meu ato, major? –
Mordiscou o lábio inferior. – Se esse for o motivo da denominação, realmente,
é isso que sou, uma adolescente, como dizes, princesa...
Diana exibiu um sorriso, umedeceu os
lábios.
-- Sim, não passa de uma garotinha... –
Provocou-a, sem abrir os olhos. – Uma garotinha mimada que não sabe o que
significa disciplina...
Ouviu a respiração pesada da esposa.
Sabia que estava provocando-a, mas não
conseguia não o fazer, pois ainda estava muito chateada com o que aconteceu.
Quando pensava que aquela onça poderia
ter matado a jovem, sentia o coração esfriar...
-- Quando voltarmos, conversaremos sobre
você ser uma pirralha mimada! – Virou de lado. – Agora necessito de um sono e
de descanso, então aconselho que faça o mesmo.
A filha de Otávio sentiu o sangue ferver
em suas veias ainda mais.
Não acreditava na frieza que a esposa
demonstrava, não acreditava que estava sendo punida por ter se desesperado,
pois temeu que algo de ruim tivesse ocorrido com a amada.
Cerrou os dentes.
Viu-a virar de costas e agir como se
estivesse realmente lidando com uma infante. Levantou-se, aproximando-se da
esteira, parando lá.
O coque tinha se desfeito e agora os cabelos
caiam livres em seu rosto.
-- Não terei nada para falar contigo,
princesa, se deseja conversar, faça-o agora, pois não ficarei aqui como uma
idiota, sendo tratada desse jeito apenas porque agi por preocupação a ti. –
Dizia sem fôlego. – Acha que pode me condenar por causa disso? O quê? Vai
fazer um julgamento e usar o seu poder para que me condenem por ter agido por
amor?
Diana se levantou e em frações de
segundo estava de pé, segurando a esposa pelos ombros, pressionando-a contra a
choupana.
Aimê não parecia assustada,
desvencilhando-se do toque.
-- Sofri como uma desgraçada por ti... –
Apontou-lhe o dedo em riste. – Ordenou que Piatã me levasse – Dizia em
verdadeiro pavor. -- não tem ideia de como eu fiquei ao imaginar que estavam a
te torturar, como fiquei ao pensar que poderia ser morta... -- Meneou a cabeça.
– Então agora não me venha com essa história de que sou criança ou
adolescente... – Empinou o nariz. – Posso ser tudo isso, mas também sou uma
mulher... Uma mulher que ficara em total desespero, temendo pela vida de uma
arrogante e orgulhosa major. – Respirou fundo, voltando para a rede. – Boa
noite!
Antes que conseguisse chegar ao destino,
a Calligari a deteve pelo braço. Mirou a mão de dedos longos, acariciando-a,
depois encarou a filha de Otávio.
-- Quando tudo isso terminar,
conversaremos... – Voltou a dizer, enquanto entrelaçava os dedos aos dela. –
Agora não, mimadinha...
Os olhares se sustentavam...
Penetrantes...
A major voltou a passear os olhos pelo
corpo da amada... Estava cansada, mas também estava faminta por ela...
Fitou o colo se levantar com a
respiração e pareceu hipnotizada pelo movimento... Desceu o olhar,
deparando-se com uma minú scula calcinha...
-- Sou Aimê Villa Real! – Disse com o
olhar desafiador. – Esse é o meu nome! – Corrigiu-a orgulhosa.
Diana passou a pontinha da lı́ngua pelo
lábio superior, depois fitou-a.
-- Em breve vai ser Aimê Villa Real de
Calligari...
Soltou-lhe a mão, seguindo até a rede,
deitando-se.
-- Vem! – Chamou-a.
A filha de Otávio olhava a princesa.
Seu corpo reagia imediatamente, mas não
se entregaria tão facilmente. Cruzou os braços sobre os seios.
-- Não irei te dar prazer! Não depois
de ter me tratado desse jeito!
A filha de Alexander sorria por dentro,
enquanto exibia uma carranca.
Nunca se cansaria daquela garota
birrenta, nunca se cansaria de vê-la exibir aquele bicão de emburrada...
Não havia dúvidas que a queria para
sempre em sua vida, a queria ao seu lado, dormir exausta depois de amá-la com
ânsia e acordá-la com beijos...
-- Senta no meu colo! – Bateu com as
mãos nas coxas nuas. – Não vou te atacar... Ou é tão adolescente que não
consegue ficar comigo sem desejar ser possuı́da? – Provocou-a. – Eu até entendo,
afinal, quem resiste ao meu charme?
Como previsto pela pintora, a esposa
caiu na provocação, caminhando até a rede, sentou com as pernas para fora
sobre o quadril da amada.
Diana colocou uma das mãos sob a
cabeça, enquanto a outra deixou livre. A luz do luar iluminava a oca.
-- Está se comportando? – A morena
indagou. – Logo iremos embora, precisa ter paciência... – Depositou a mão
sobre a coxa da jovem.
-- Todos são muito bons comigo... A
Sirena, o Piatã... Os outros... Mas fico preocupada contigo... Não quero que
se arrisque assim...
A major continuava a deslizar os dedos
pela delicada pele. Tocava o tecido com cuidado...
-- Não posso ir agora...
-- Mas já estou contigo...
Um silêncio pesado se fez entre elas,
enquanto se encaravam, enquanto ouviam a respiração uma da outra...
Enquanto ouvia o pulsar dos corações...
-- É meu povo, Aimê... Estou em dıvida
com eles... Então os livrarei desses bandidos que profanam essa terra sagrada...
A Villa Real a fitou... Depois seu olhar
se dirigiu até a marca em seu abdome. Engoliu em seco.
-- Perdoe-me por isso... Perdoe-me por
tê-la ferido... – Disse em um fio de voz.
A
Calligari viu o V e ficou a pensar como a vida se mostrava irônica...
Otávio desejara e tentara como afinco
marcá-la como a um animal e fora a filha quem fora obrigada a fazê-lo.
-- Você não teve escolha... – Subiu a
mão até sua barriga, por baixo da camiseta. – Fez porque temia que me matassem...
– Sentiu a curva dos seios redondos. – Talvez se tivesse se negado a jogar esse
jogo, eu poderia não estar viva agora... – Usou o polegar para acariciar o
mamilo intumescido.
A garota a encarou e parecia
maravilhada.
-- Como pode ser ainda mais linda
vestida como uma ı́ndia...
Diana mordiscou a lateral do lábio
inferior, enquanto colocava mais pressão no mamilo esquerdo. Raspando-o com a
unha, apertando-o.
Estavam quentes... Sedosos...
Viu os olhos azuis se estreitarem.
-- Eu sou uma ı́ndia... – Tirou a outra
mão de debaixo da cabeça, levando-a até o cós da calcinha que a esposa
usava.
– Sou selvagem... – Encarava-a. – Venho
de uma tribo de canibais que se alimentavam dos brancos...
Aimê sentiu a costumeira pressão em
seu baixo ventre, sentiu o latejar no sexo... Acompanhava o movimento com o
olhar.
-- Alimentavam-se! – Arqueou a
sobrancelha. – Sirena me falou que não praticam mais esses atos primitivos e
selvagens...
A morena continuava a tocar a
calcinha...
-- Só eu... – Fitou-a. -- Só eu ainda
sinto esse apelo bárbaro... – Adentrou a peça ı́ntima, deliciando-se com o
tato. – Nesse momento mesmo a minha meta é te comer por completo... Fundir a
sua carne com todo o ı́mpeto...
A Villa Real ficava perdida quando Diana
baixava o tom de voz, pois ficava mais rouco, mais sexy... Sentiu-se
estremecer, enquanto observava os lábios desenhados em um meio sorriso.
-- Não sou alimento – Disse em um fio
de voz.
Diana não respondeu, enquanto sentava
de pernas abertas, fazendo com que a garota a imitasse. Tomou-lhe a face nas
mãos, colando os lábios aos dela.
-- Sinto um desejo insano...
Incontrolável...
Antes que a neta de Ricardo pudesse
falar algo, a boca da esposa a tomou impulsivamente.
A Calligari segurou-lhe o cabelo para
que assim a mantivesse cativa. Buscou a lı́ngua da garota, capturando-a,
sugando-a com intensidade...
Beijava-a com cuidado... Parecia
degustar com calma...
Ouvia-se gemidos e não sabia de qual
das duas eram aqueles barulhos excitantes...
Aimê sentia a impulsividade do
carinho... Os dentes que mordiam... Que feriam deliciosamente...
Levou as mãos aos fios que prendiam a
parte de cima da roupa da princesa, puxando-a com toda força, rasgando-a,
ansiosa para tocar os seios bronzeados.
Apalpou-os, apertando-os, arrancando
sons de prazer da garganta da morena.
Diana também a livrou da camiseta,
abraçando-a, unindo os colos... Roçando-os... Os biquinhos se encontravam... As
fricções aumentavam...
Estavam quentes...
Apertavam-se forte, enquanto as bocas
continuavam a travar a deliciosa batalha de lı́nguas...
A Calligari desceu as mãos até a
cintura da mulher, puxando-a para mais perto... Colocando uma das pernas sobre
a dela... Assim o contato seria mais intenso... Mesmo ainda tendo o tecido
entre elas...
Forçou-a mais... Pressionou mais os
quadris...
-- Não... Não...
Diana ficou surpresa ao sentir as mãos
que também a abraçavam, agora, empurrá-la, tentando manter distância do toque.
Fitou a neta de Ricardo cheia de
confusão e irritação.
-- Disse que não iria lhe dar nenhum
tipo de prazer... Não enquanto me tratar como uma adolescente boba... Não quando
não começar a me tratar como sua mulher, como sua dona... – Falou sem fôlego.
Os olhos negros pareiam ainda mais
escuros.
-- Disse que conversarı́amos depois
sobre isso... – Lembrou-a por entre os dentes. – Esqueça disso agora... –
Cobriu-lhe a mão, segurando-a firme, levando aos lábios, virando-a para cima,
depositando um beijo em sua palma, enquanto não deixava de encará-la. –
Agora, apenas, permita que mate a saudade de te ter pra mim...
Aimê sabia que precisava ser firme com
a princesa, pois se sempre cedesse à paixão, seria sempre tratada como uma
criança.
Já abria a boca para protestar e deixar
claro que não se entregaria, quando viu a lı́ngua da major lamber seu
indicador...
Fazia-o sem parar de mirá-la... Fazia-o
como se estivesse a degustar uma iguaria rara e sagrada... A pontinha rosada
brincava...
Prendeu-o entre os dentes... Depois
chupou-os... Fê-lo como se estivesse a tratar de uma fruta que quanto mais se
suga, mais gostosa fica...
Os olhos azuis se fecharam quase por
completo... Via o olhar de Diana...
A pintora trazia aquela expressão de
pura safadeza, arrogância e poder...
Sem esperar pela confirmação da
esposa... Levou os dedos que que chupavam aos seios, depois seguiu com eles
até o próprio sexo...
A Villa Real sentiu o tecido da roupa da
princesa e logo o contato com a pele molhada e escorregadia... Sentiu o corpo
ser tomado por espasmos violentos...
-- Sente... Adoro com mais pressão...
A filha de Otávio sentia o clı́toris...
Senti-a se esfregar... Ouviu o barulho ao penetrar o recanto de puro prazer...
Diana a conduzia com maestria ao seu bel prazer...
A jovem viu o sorriso se desenhar na
face da morena.
Atrevida, a major usava o indicador da
esposa dentro de si... Conduzindo-o... Fazendo-o mexer em seu interior...
-- Quero mais um... – Pedia atrevida,
enquanto a encarava.
-- Como pode ser tão desavergonhada...
– Aimê questionou retoricamente.
Diana colou os lábios em seu pescoço...
Beijando-o... Mordicando sua orelha... Sussurrando:
-- Você ainda não viu nada... – Mexeu
o quadril de encontro ao toque. – Não para... – Ordenou.
A filha de Otávio ouvia a respiração
acelerada da amada... Sentia os dentes cravar em sua pele... Sentia-a ir contra
sua mão com mais impetuosidade...
Decidiu juntar mais um dedo a invasão
que agora estava por sua conta. A major rugiu como uma fera ao senti-la mais
forte, mais fundo...
Encarou os olhos azuis em puro
deleite...
Aimê segurou as madeixas longas para
mantê-la cativa, os rostos próximos.
-- Mete assim... Ain... Desse jeito...
Forte...
A jovem fez o que fora pedido...
Entrava com fú ria... Ouvia os
gemidos... As fricções... Miraram-se demoradamente.
A ı́ndia trazia a face transfigurado...
Os seios seguiam o ritmo frenético...
Aimê se sentia poderosa e dona da
situação.
-- Ainda sou uma adolescente? – Retirou
os dedos, penetrando-a novamente em seguida. -- Ainda sou uma pirralha?
Uma birrenta? Uma mimada?
Diana cravou as unhas nos ombros da
esposa, enquanto sentia o desejo prestes a explodir em um prazer total e
destruidor...
-- Fala... Quero que seja arrogante
agora... – Aimê a instigava, sabendo que logo ela se perderia totalmente. – É
por mim que enlouquece, princesa, é por uma adolescente...
O grito alto foi sufocado pelos lábios
da Villa Real que a beijou com sofreguidão. A Calligari tremia nos braços da
garota.
Deteve-lhe os movimentos que não
cessaram em seu sexo... Segurou-lhe a mão, apertando-a, enquanto ainda estava
mergulhada na escuridão do prazer.
As bocas dançavam lentamente... Um
soluço foi sufocado.
As lı́nguas se procuravam em perfeita
sincronia, onde pareciam ensaiadas para aquele ato....
Aimê ouvia a respiração dela...
Seu corpo também fora afetado por tão
intenso desejo...
Encararam-se...
O luar banhava de forma prateada as
faces das duas... Os olhos negros brilhavam em lágrimas e em paixão...
Antes que a Villa Real pudesse falar
algo, a morena se levantou e logo a tomava pelo braço. Ficaram de frente.
Mediam-se...
A Calligari era alguns centı́metros mais
alta...
Aimê mais uma vez teve as palavras
sufocadas por um beijo... Circundou-lhe o pescoço, mantendo-a perto de si.
Diana a abraçou pela cintura, passeando
as mãos por suas costas...
A Villa Real a apertou mais forte,
colocou uma das pernas entre as da amada.
A major desceu as mãos até o quadril
da jovem, baixando a calcinha. Até o meio das coxas. Em seguida, estendeu as
carı́cias pelo pescoço, mordiscando-o...
Ouviu o gemido da filha de Otávio
quando os beijos foram distribuı́dos pelo colo, dando maior atenção àquela parte.
Passou a lı́ngua pelos mamilos
rosados...
-- Adoro seus seios... Sou louca por
eles... Enlouqueço quando os tenho na minha boca... – Dizia nos intervalos das chupadas.
– São meus? – Questionou, sugando-os com mais vigor.
Aimê passava as mãos pelas madeixas
negras, alisando-as...Sentindo o prazer crescer em seu ı́ntimo.
-- Sim, meu amor, eles são seus...
Seus... Seus para que se deleite e me façam enlouquecer quando os tocam... –
empinou para ela, mostrando-os, entregando-os.
Diana continuou tocando-os, enquanto
seus dedos passeavam por toda a pele do abdome, enquanto seus dedos apertavam
os montes redondos...
Usou a perna direita para terminar de
livrá-la da calcinha, livrando-se também da própria. Voltou a tomar os lábios
nos seus...
Seguiram até a esteira, onde a major
deitou a amada, posicionando-se sobre ela, apoiando-se nos braços. Aimê dobrou
os joelhos, abrindo-se para que a herdeira de Alexander se acomodasse entre
eles.
Viu o sorriso carregado de sarcasmo
brincar na face da pintora.
-- Sim... Você é uma mimadinha... Uma
birrenta... Uma adolescente... Uma pirralha...
A Villa Real se irritou ao ouvir as
palavras, tentando se levantar, mas Diana lhe segurou os pulsos sobre a cabeça.
-- Solte-me! – A garota exigiu. – Não
permitirei que me trate assim e ainda queira fazer amor comigo...
A pintora se ajeitou, colocando os sexos
em contato. Moveu o quadril de encontro a ela.
Ambas estavam molhadas...
Aimê mais uma vez tentou se livrar das
mãos que a prendiam, porém foi uma tentativa em vão.
-- Deixe-me...
A Calligari continuou a sorrir, enquanto
esfregava-se com mais ı́mpeto... Deslizava... Deslizava... Alternava entre
movimentos e não demorou para incitá-la com a coxa...
A Villa Real cerrou os dentes para não
se permitir exprimir a satisfação que seu corpo sentia com a forma que a major
se mexia...
Os olhos negros não abandonavam seu
olhar... Parecia um ritual mı́stico de satisfação sexual...
Os tambores já começavam a ser ouvidos
a saudar o novo dia... E embalavam a dança primitiva... Diana mordiscou o
lábio inferior em puro tesão.
Os olhos azuis se estreitaram...
A garota sabia que acabaria por se
entregar...
-- Ceda, eu sei que você quer... Sei
que me quer tanto quanto te quero... Está me enlouquecendo com essa
resistência... – Dizia em loucura. – Aceite o meu presente. – Inclinou a
cabeça, tomando os seios possessivamente.
Aimê via a lı́ngua brincar com o mamilo
que já estava dolorido, ansiando pela concretização da paixão.
-- Não farei amor contigo...—Dizia com
a respiração acelerada. -- Não, enquanto continuar a me tratar como se fosse
uma adolescente irresponsável...
Mesmo que negasse, já sentia o corpo
embalar o mesmo ritmo da outra... Já percebia os apelos maiores... Seu sexo
latejava...
Diana sabia como fazia... Sabia como
tocava...
-- Então não vamos fazer amor... –
Soltou-lhe as mãos e rapidamente se posicionou com a cabeça entre as pernas da
esposa.
Aimê aproveitou que estava livre para
se levantar, mas apenas conseguiu sentar, tendo que se apoiar nos braços,
pois logo sentia a boca da morena
devorando o centro do seu prazer.
A jovem gritou em surpresa e em deleite.
-- Diana... – Mordeu o lábio inferior.
– Selvagem... Selvagem...
A major sorriu, mas não parou de
tocá-la, mesmo quando a sentiu pressionar as coxas em sua cabeça. Ousou mais e
logo percebeu que ela relaxava a musculatura...
A herdeira de Ricardo se apoiava nos
braços...
Abriu-se mais e sentiu a lı́ngua
penetrar seu pequeno espaço... Gemeu...
Fitou-a...
Tinha a impressão que iria explodir a
qualquer momento.
Inclinou a cabeça para trás novamente,
enquanto soltava um urro sofrido.
-- Diana... -- Chamou-a. – Diana...
Diana...
A major a fitou, mas não parou e logo
usou um dedo para se juntar aos movimentos.
As investidas aumentavam, enquanto a
boca se aprofundava mais, esfregando-se no lı́quido visguento. A jovem ouvia o
barulho dos lábios contra sua carne... Via os olhos em sua direção...
Não demorou a sucumbir...
Os braços perderam as forças e a garota
despencou... Ainda sentia a força da paixão...
Diana deitou sobre ela.
Esperou que os olhos azuis se
abrissem...
-- Você é tudo o que eu disse, mas
isso não me faz te amar menos... Ou te faz ser inferior... Apenas precisa
tomar cuidado com suas ações – Dizia, enquanto sentia os espasmos dela. – Eu
te amo muito, Aimê, sou perdidamente louca por ti... Eu jamais me perdoaria se
algo de ruim te acontecesse...
O orgasmo poderoso dominou a jovem Villa
Real que se perdeu naquela deliciosa sensação de abandono. Ela sorriu,
enquanto mergulhava em um sono de satisfação.
O sol já tinha raiado totalmente quando
Aimê despertou.
Ouvia as vozes lá fora e ao se virar,
deparou-se com a esposa dormindo ao seu lado. Pegou a pele, cobrindo-as.
Mirou a face bonita e ficou a pensar
como mais uma vez se mostrava totalmente entregue àquela mulher.
Mirou o ombro machucado.
O que tinha acontecido?
Tocou lentamente...
Precisava ser cuidado.
Ficou ali, apenas a observando, ouvindo
a respiração pesada. Era assim que queria todos os dias da sua vida...
Seu corpo ainda trazia os resquı́cios
dos deliciosos toques... Mais uma vez se entregaram naquela madrugada fria... A
Calligari parecia incansável quando se tratava de fazer amor... Quando se
tratava de lhe satisfazer totalmente... Não demorou para os olhos negros se
abrirem, junto com um enorme sorriso.
-- Bom dia, princesa! – Cumprimentou-a.
-- Bom dia...
A major sentiu os lábios colarem nos seus
rapidamente.
-- Deve levantar e comer algo... e
cuidar desse ferimento...
Os olhos da morena estavam nos seios
expostos da filha de Otávio que não pareceu se importar com o fato.
-- Você é safada!
-- Contigo... – Esticou o braço, tocando
o mamilo tugido. – Fico mais safada quando se trata de ti... – Brincou com o mamilo.
-- Quero que seja safada apenas
comigo... – Mordiscou o lábio inferior. – Não aceitarei que outras se
aproxime.
-- Eu só quero você, mimadinha!
A garota relanceou os olhos em irritação.
-- Não quero que me chame assim ou de
adolescente... É como se eu não fosse uma mulher...
A pintora trouxe a esposa para cima de
si.
-- De onde tira essas bobagens, hein? –
Colocou o cabelo dela por trás da orelha. – O fato de chama-la assim, não lhe
tira seus méritos de ser uma mulher maravilhosa e minha esposa.
-- Não gostei de como falou comigo lá
na floresta... Eu fiquei desesperada, passei todos aqueles dias em desespero...
Pensando que algo de ruim tivesse
acontecido...
Diana viu as lágrimas brilharem nos olhos azuis.
-- Aimê... – Usou o polegar para tocar
o lı́quido salgado. – Você não tem ideia de como entrei em desespero quando
vi aquela onça partir em sua direção... Eu teria enlouquecido... A selva é um
lugar muito perigoso, ainda mais para alguém inexperiente... – Beijou-lhe os
olhos. – Preciso que obedeça... Sei que não é muito da sua natureza e prometo
que quando estivermos na civilização, poderá ser totalmente livre... mas aqui
não...
A Villa Real respirou fundo, enquanto
tocava os três pequenos sóis tatuados no seio da amada.
Alguns ı́ndios conversavam alto na parte
de fora.
Mesmo que a filha de coronel não
tivesse familiaridade com o dialeto, conseguiu entender o que diziam.
Levantou-se, cobrindo-se com a pele.
Diana não pareceu entender o que se
passava.
-- Você matou o Crocodilo? Como foi
capaz de ter a vida desse homem em suas mãos? Deseja se igualar em maldade com
meu pai ou a esse bandido?
Eita, fechou o tempo.
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