A antagonista - Capítulo 32
O jantar na casa de Branca estava
sendo servido naquele momento.
Rogério se recuperava do pequeno
problema de saúde, estando ao lado da esposa e na companhia da Del La Cruz.
A empregada serviu-lhes, depois
deixou a sala.
-- Espero que se cuide, meu amigo,
porque você monopolizou a minha fiel escudeira. – A ruiva comentava, enquanto
comia a salada que fora servida. – E você sabe que não sou muita coisa sem ela.
– Gracejou.
-- Imagino como deve ter se
envolvido em problemas nesses últimos dias... – Branca comentava.
Ela já sabia o que tinha acontecido.
Clarice ligara mais cedo e narrara todos os fatos ocorridos. Sabia que aquele
não era o momento adequado para abordar a situação, por isso nada falara.
-- Então, viajará para o litoral
para inspecionar pessoalmente a construção de resort? – A administradora
indagou, enquanto observava com atenção à amiga. – Sabe que ainda continua
sendo a presidente da corporação. Os acionistas se negam a aceitar sua desistência
do cargo.
A ruiva pegou a taça de vinho. Era
algo comum na casa de Branca acompanhar as refeições com as melhores safras.
Isso era algo que sempre deixava o ambiente mais acolhedor, sempre se sentira
em casa diante daquele costume.
Bebeu lentamente o líquido âmbar,
não parecia ter pressa para fazer qualquer tipo de comentário. Sua decisão já
tinha sido tomada e não voltaria atrás.
-- Se posso dar a minha humilde
opinião... – Rogério iniciou – acho que deve fazer o que deseja, Ana Di Pace,
sei que em muitos momentos precisamos deixar as expectativas dos outros de lado
para fazermos nossa própria vontade...
Branca enviou um olhar furioso para
o marido.
Na verdade, ela não desejava que a
ruiva deixasse os negócios, pois temia que partisse para o litoral e não
buscasse uma reaproximação com a Gabriele.
-- Acho melhor que espere, ainda
mais agora que estamos quase fechando o ano comercial, depois pensaremos no
novo presidente. – A Wasten tentava convencê-la.
A baronesa não falara mais nada
sobre o assunto. O jantar transcorreu em silêncio, depois seguiram até a
varanda do apartamento. Em determinado momento, Rogério pediu licença, iria
para o quarto. Despediu-se da ruiva com um abraço, deixando a esposa a sós com
ela.
Branca observava Ana. Ela parecia
ainda mais quieta de que de costume. Sabia que ela ponderava, que estava a
pensar sobre os acontecimentos. Em parte, estava chateada com a Bamberg, porém
até entendia, afinal, era muito jovem e insegura, mas como falaria isso para a
filha de Antônio sem iniciar uma discussão.
-- Eu sei que você sabe do que
aconteceu...então não precisa ficar procurando as melhores palavras para
abordar o assunto.
A Wasten deixou a varanda e depois
retornou com a garrafa de vinho e duas taças. Encheu a da amiga, mas não fez o
mesmo com a sua.
-- Branca, eu não desejo falar sobre
a freirinha burra! – Cortou as intenções da mulher. – Na verdade, não desejo
nem mesmo mencionar seu nome, pois estou muito chateada com tudo o que se
passou.
-- Eu te entendo...—Sentou-se ao
lado dela. – Mas também tento entender a Gabi...não acho que seja fácil a
situação que ela passou...claro, foi uma tola estúpida, porém é
jovem...insegura...
A empresária bebeu todo o conteúdo
da taça, depois estendeu-a novamente para que fosse cheia.
-- Ana, não é fácil acreditar que
alguém como você possa amar...
Um sorriso amargo desenhou-se nos
lábios cheios.
-- Eu confessei meu amor...contei o
que sentia, mesmo que isso me custasse muito... – Mordiscou a lateral do lábio
inferior. – Você me conhece há muito tempo, Branca, sabe tudo o que
passei...sabe tudo o que vivi...conhece as minhas relações...nunca houve nada
mais que sexo...até com a Paloma...—Respirou fundo. – Mais que ninguém você
sabe o que passei com a Lorena...como fui ferida com toda a história, como
lutei para me recuperar...acha mesmo que é fácil para mim?
Não, não fora e não era!
-- Eu não estou dizendo que a
Gabriele tinha que confiar cegamente em mim...mas pelo menos poderia ter me
falado, poderia ter me contado o que se passava...
A Wasten ainda pensou em defender
mais uma vez a Bamberg, porém nem mesmo tinha argumentos para isso, então
apenas ficou em silêncio, bebericando um pouco da bebida. Dessa vez, não fora
culpa da Ana, dessa vez fora um erro cometido pela neta de Bernard.
Sentia-se triste, pois torcia muito
para que a filha de Antônio pudesse finalmente conseguir ser feliz, torcia por
isso. Amava a ruiva como se tivesse saído do seu próprio corpo. Ainda lembrava
quando a tinha visto pela primeira vez. A dor que havia em seu olhar, o medo e
desconfiança. Fora um longo caminho antes de fazê-la abrir suas defesas.
Infeliz, a chef de cozinha teria que buscar meios para voltar ao coração da
amada, porém agora não era um bom momento, ela tinha voltado para o interior da
sua concha.
-- E quanto tempo pretende ficar no
litoral? Deseja que te acompanhe? – Indagou depois de um tempo.
-- Não sei, talvez até que o resort
esteja pronto para a inauguração... Pierre já reservou um dos quartos do
hotel...me ofereceu sua casa, mas não desejo...
-- Sente-se bem para ficar sozinha?
– Questionou preocupada.
-- Não se preocupe, eu estou bem. –
Levantou-se, espreguiçando-se. – Vou para o apartamento, preciso descansar um
pouco.
-- Fique aqui, há um quarto pronto
para você.
Ana fez um gesto negativo com a
cabeça.
-- Preciso que abra meu cofre na
empresa, lá estão as provas contra o Trevan.
Branca parecia franziu o cenho.
-- Entregue a filha dele, ela vai
saber o que fazer. – Deixou a taça de lado.
-- Ana, deixe que eu vá contigo. –
Pediu.
-- Não, deve ficar aqui com o
Rogério e tem a empresa e o Antônio. – Colocou as mãos nos bolsos da calça. –
Não se preocupe, vou estar bem, tenho muita coisa para ocupar minha cabeça. –
Caminhou até a administradora e lhe deu um beijo na face. – Comporte-se,
senhora, nos vemos em breve.
A mais velha sorriu, enquanto via a
empresária deixar o espaço.
O melhor era deixá-la tranquila
naquele momento, precisava daquele tempo para repensar sua vida.
-- Isso é um absurdo! – Lorena
esbravejava.
Branca tinha ido até a mansão
acompanhada de alguns policiais.
-- Essa casa é da Ana Valéria, então
trate de pegar suas coisas e deixá-la imediatamente.
A loira tinha acabado de despertar,
ainda vestia o roupão de seda rosa.
A empregada que servira o desjejum
acompanhava tudo com olhar mesclado em pesar e diversão.
-- Eu sou noiva de Antônio! –
Retrucou. – Então, tenho direitos.
O oficial de justiça aproximou-se e
entregou uma folha a mulher que pareceu relutar em receber.
-- A hipoteca fora paga pela senhora
Del La Cruz e o desejo dela é que se retire. – O homem dizia. – Peço que não
arrume problemas, senhorita, não estamos aqui para brigar, apenas cumprir a
lei.
Lorena enviou um olhar cheio de ódio
para a Wasten.
-- Falarei primeiro com o meu
advogado!
A loira seguiu em direção ao
escritório. Sentia-se furiosa com tudo o que estava acontecendo.
Discou primeiro para o número da
ruiva, desejava lhe falar, mas a ligação não foi completada, então decidiu
ligar para Otávio.
-- Aquela maldita bruxa da Branca
está aqui com a polícia e um oficial de justiça, estão me despejando.
Do outro lado da linha um impropério
fora dito em voz alta.
-- Diga o que devo fazer.
-- Nesse momento não há nada...o seu
noivo não tem nada, perdeu tudo...então só te resta sair daí ou será colocada
para fora.
-- Não acredito! – Gritou. – Nem
mesmo tenho a mesada que recebia mensalmente. – Jogou o telefone contra a
parede. – Velho miserável!
Furiosa, retornou para a sala,
dirigindo a empregada.
-- Arrume as minhas coisas! –
Ordenou.
Branca intrometeu-se.
-- Ela não vai arrumar nada...ela é
funcionária da Del La Cruz e não há permissão para que faça nada para você!
Os olhos verdes da loira fulminavam
a administradora.
-- Você mesma vai fazer suas malas e
deixará essa mansão.
-- Não se cansa de ser a cadela de
ordem da Ana Valéria? – Insultou-a. – Acha mesmo que vai me atingir com suas
artimanhas?
-- Talvez, ainda não...mas logo vai
ter os resultados dos seus atos...não acho que tenha muito dinheiro para
sustentar sua vida de luxos...
-- Resultado de que atos? – Indagou
ainda mais irritada. – Não há nada para ter resultados.
Branca caminhou até a poltrona,
sentando-se no sofá, cruzou as pernas.
-- Por favor, querida, traga um café
para mim e para os presentes, pois só sairemos daqui depois que a senhorita
deixar a casa.
No jardim, Luna brincava com
massinhas. Estava sentada em uma mesinha, fazia moldes, parecia ter conseguido
se distrair.
Fazia uma semana que Ana Valéria
tinha deixado a mansão e não mais retornara. Clarice falara com a filha e a
criança também, pois sempre dizia querer ver a tia.
Gabriele estava se recuperando do
problema na perna, mas ainda não retornara ao trabalho, pois o médico voltou a
pedir que descansasse.
Ela estava sentada na cadeira. Lia e
a mãe da baronesa estavam ao seu lado. Tomavam o chá da tarde.
As mulheres estavam bastante
preocupadas com a chef de cozinha. Sabia que estava sofrendo bastante com tudo
o que estava acontecendo. Os olhos estavam sempre vermelhos de lágrimas que
pareciam não ter fim.
-- Boa tarde!
Todas se voltaram ao ver a presença
da administradora. Luna foi para os braços da madrinha, abraçando-a. A
administradora acomodou-a em seus braços.
-- Vejo que cheguei na hora certa! –
Piscou para Lia. – Acho que vou querer uma fatia desse bolo de chocolate.
Gabriele olhava ansiosa para a amiga,
porém a Wasten parecia mais preocupada em degustar e brincar com a afilhada de
que dá atenção à neta de Bernard.
Clarice e Lia inventaram a desculpa
de precisarem levar a pequena ruiva para toma sua vitamina, assim deixaram as
duas mulheres sozinhas
A Wasten bebeu suco, depois retirou
uma pasta da bolsa, entregando a Bamberg.
-- O que é isso? – A chef de cozinha
questionou preocupada.
-- São as provas que a Ana tinha
para mandar o Trevan para a prisão...são suas.
Havia confusão no olhar da jovem.
-- Ela está no litoral? Por que me
entregou isso?
A administradora fez um gesto
afirmativo com a cabeça.
-- Como ela está?
Branca comeu mais um pedaço de bolo.
-- Eu acho que não, afinal, como
poderia estar bem depois de tudo o que se passou? -- Por que ela me mandou essas coisas? – Questionou confusa.
-- Não sei, Gabi, apenas entregou e
disse para te passar. – Ponderava. – Eu acho que essa sempre fora a intenção da
Ana, acho que desde que recebeu essas provas queria te dar.
-- Irei até lá! – Falou decidida. –
Preciso que ela me escute...que me perdoe.
-- Reservarei o jatinho...—Deu uma
pausa – mas já adianto que vai encontrar muita resistência...não iria lá se
fosse você...
Novamente lágrimas enchiam os olhos
negros.
-- Sim, eu sei que fui uma tola, eu
sei que agi como uma idiota, mas eu a amo, Branca, e sofro por tudo o que
causei...preciso falar com ela, preciso explicar...
-- E qual é sua explicação? –
Indagou chateada. – Gabi, eu acho que exagerou no seu ciúmes...se tivesse
contado tudo, nada disso teria acontecido...tudo estaria esclarecido.
A neta de Bernard soltou um longo
suspiro. Tinha os olhos baixos, fixos nas mãos. Sentia-se impotente com toda a
situação, perdida em seus pensamentos.
A Wasten estava irritada, porém
agora ao ver a dor estampada na face da jovem, sentia-se insensível diante da agonia
expressa na face da moça.
Segurou-lhe as mãos entre as suas.
-- Tenha calma, querida, tudo vai se
resolver... – Limpou-lhe a face delicadamente. – Olhe para mim. – Pediu em
busca da atenção. – Ana Valéria está magoada, mas isso não vai fazer com que
ela deixe de te amar de uma hora para outra...nesse momento, ela vai te ignorar...mas
continua te amando... – Esboçou um sorriso. – Gabi, precisa ser forte, precisa
estar bem para conseguir combater essa batalha.
-- E se ela não quiser mais?
Branca riu.
-- Claro que ela vai querer, anjo,
ela te ama, te ama muito...então tenha calma...vamos esperar um pouco...
Os dias passavam
tranquilamente. Todas as noites, Ana ligava para falar com Luna e com a mãe.
Nenhuma palavra sobre Gabriele saia dos lábios da ruiva, mesmo assim Clarice
sempre insistia em colocar seu nome na conversa.
–
A Gabi voltou a trabalhar, mas ainda não está totalmente bem, ainda precisa das
muletas.
A
baronesa não costumava tecer nenhum tipo de comentário quando o nome da esposa
era mencionado, apenas ouvia a mãe a falar por inúmeros minutos sobre a nora.
Era possível perceber como ela gostava da neta de Bernard.
Não
queria pensar em Gabriele, mesmo que não conseguisse controlar seus
pensamentos.
Se
pudesse, arrancaria a imagem da Bamberg da sua cabeça.
Encerrou
a chamada, depois seguiu para a cama. Tomara banho e ainda usava o roupão. Não
desejava sair do quarto, por isso tinha recusado o convite de Pierre para
jantar.
Cruzou
as mãos sob a cabeça, olhando para o teto.
Amava
falar com Luna. A garotinha contava tudo o que acontecia na escola, narrava
suas pequenas aventuras. Sentia-se bem com a criança, sentia sua falta e por
isso criara a rotina de sempre lhe falar à noite.
O
violino estava sobre a mesa, porém ela não desejava tocar, assim, optou por um
livro que tinha ganhado de Branca. Observou a capa dourada da obra de ficção.
Na adolescência adorava ler, mas depois de tudo o que tinha acontecido era
comum ter sérios problemas de concentração.
Pensando
na administradora, ela ligara mais cedo para informar sobre o estado de saúde
de Antônio. O político não reagira, continuava em estado vegetativo, preso em
seu próprio corpo. Os especialistas não pareciam muito otimistas, mesmo assim
tudo o que o dinheiro podia pagar estava sendo feito.
Ana
Valéria não desejava a morte do homem que lhe fizera tanto mal. Ao contrário,
sempre quiseram enfrentá-lo em igualdade de condições. Algo que mesmo sem
perceber ficara no passado. Não perdia mais o sono buscando destruir a pessoa
que fora responsável direto por tudo o que tinha passado de ruim.
Branca
também informara que colocara Lorena para fora da mansão.
Não
fora ao encontro da loira, nem de Otávio, pois mesmo que tivessem armado tudo
de forma tão terrível, a culpada maior era a esposa que fora tola e inocente
demais.
Soltou
um longo suspiro.
Se
Gabriele tivesse contado tudo o que estava acontecendo nada disso teria
acontecido, mas ela preferira agir com frieza e sadismo.
Sentia-se
irritada quando se recordava de tanta infantilidade.
Ouviu
batidas à porta.
Não
acreditava que Pierre estaria lhe perturbando quando já dissera que não iria
jantar.
Caminhou
pisando duro e ao abrir, deparou-se com Paloma e seu sorriso sedutor.
Nem
mesmo convidou-a a entrar, simplesmente cruzou os braços e indagou com
exasperação:
–
O que veio fazer aqui?
–
Ora, que recepção! – Aplaudiu. – O que eu esperaria da baronesa? – Provocou-a.
–
Que bom que sabe que não deve esperar nada de bom, ainda mais depois do que
fez.
–
E o que eu fiz? – Ela colocou a mão no peito. – Ana, meu amor, eu não tive nada
a ver com as armações do Otávio e da Lorena.
Os
olhos claros estreitaram-se.
–
Mas sabe muito da história. – Esticou o braço para que ela não entrasse nos
aposentos.
Ela
segurou delicadamente o braço que barrava sua entrada, segurou a mão,
beijando-a, depois adentrou o espaço.
–
Otávio estava se gabando, ouvi a conversa…mas não participei…se eu
participasse, iria querer ser a protagonista…– Sentou na cama com as pernas
longas cruzadas. – Não deixaria a Lorena se aproximar.
A
porta continuava aberta, enquanto a ruiva examinava sua visitante. Sempre usava
aqueles vestidos que pareciam uma segunda pele, exibindo-se de forma a saber
que era bonita o suficiente para conseguir seduzir qualquer um que desejasse.
Por muito tempo, fora a amante perfeita, isso não podia negar. Era inteligente,
sedutora e não tinha muito problema em experimentar diferentes tipos de prazer.
–
O que você quer?
–
Te consolar, servir de companhia…pois sei que está brigada com sua
esposinha.
A
ruiva respirou fundo, enquanto observava a mulher que lhe encarava.
–
Agradeço a gentileza, mas vou precisar dispensar. – Apontou para a saída.
– Estou cansada.
Paloma
esboçou um misterioso sorriso, aproximando-se da antiga amante, segurando-lhe
os cordões do roupão.
--Baronesa,
a senhora nunca está cansada para isso.
A
Del La Cruz esboçou um meio sorriso, mas não parecia interessada, porém antes
de falar, Pierre apareceu.
–
Mon ami, preciso falar contigo…– Dirigiu-se à ruiva, mas depois pareceu notar à
modelo. – Linda, maravilhosa, preciso da minha empresária…
Paloma
arqueou a sobrancelha em ironia. Mas não falou nada, apenas deu um beijo na
face da ruiva.
–
Estou hospedada aqui, então logo nos cruzaremos.
O
chef de cozinha soltou um beijo para a mulher.
A
sós, Ana entrou nos aposentos acompanhada do amigo.
–
O que quer? – Ela questionou depois de fechar a porta. – O que precisa de
mim?
Ele
acomodou-se na poltrona.
–
Vim te salvar de cair nas garras da Paloma, afinal, você é uma mulher bem-casada.
--Apontou-lhe a aliança. – Não quero mais problemas para a minha Gabizinha.
A
filha de Antônio deu de ombros, enquanto pegava uma garrafa de água no
frigobar, bebendo-a totalmente.
–
Ana, eu acho que você tem razão em estar chateada, porém temos que entender que
sua esposa é ainda uma menina, não tem muita experiência e fica muito chateada
com as coisas…– Cruzou as pernas. – Se fosse comigo eu teria te dado uma surra,
isso sim.
–
Bem, já fez o que queria, agora já pode cuidar da sua própria vida.
–
Céus, como você é grosseira! – Levantou-se. – Já tenho os convites para a
inaugurado resort e já te adianto que vou chamar a minha deusa do ciúmes,
mais conhecida como Gabizinha. – Piscou. – Hellen também com a namorada, sua
mamãe, a titia Lia e a Branca com o Rogério…Luninha
também.
A
ruiva novamente não respondeu, apenas caminhou até a porta, abrindo-a,
convidando o cozinheiro a se retirar.
–
Durma bem, minha ruiva linda! – Ele lhe beijou a testa. – Não esqueça que é uma
mulher casada e que está passando apenas uma crise, logo tudo estará resolvido
se você não procurar mais problemas.
Naquela
semana, Gabriele precisara ir à empresa, pois haveria uma reunião com os
acionistas.
Ela
estava no corredor quando viu a figura de Otávio se aproximando sorridente.
–
Deve brigar pela presidência. – Falou entusiasmado. – Será muito bom que tenha
a direção de tudo.
–
Você é muito cara de pau mesmo! – Ela o acusou. – Não é mais meu representante
legal, creio que ainda não recebeu o convite para se retirar da minha vida.
–
Como assim? – Indagou confuso.
Lorena
falaram com o advogado sobre ter sido despejada da mansão de Antônio, mas
não falou nada sobre a descoberta da farsa, apenas dissera o que se passou
consigo, assim, o advogado não entendia a fala da neta de Bernard.
–
Eu sou seu advogado, além de um amigo, pois se não fosse por mim, estaria aí
sendo feita de trouxa pela baronesa...
Gabriele
não mediu as consequências, desferindo uma forte bofetada no homem. Os
presentes pareceram chocados diante da cena. Branca chegou e logo chamava os
seguranças para retirar o advogado.
–
Está louca! – Ele esbravejava. – Deveria ter batido assim na vagabundos da sua
mulher…
A
Bamberg não mediu esforços, atingindo-o de novo. Os seguranças chegaram e
tiraram Otávio do andar. Era possível ouvir os impropérios e ameaças que ele
não pareceu querer poupar.
–
Tirem- no daqui! – Branca ordenou.
Otávio
foi praticamente arrastado para fora do andar, enquanto Branca levava Gabriele
para a sala da presidência. Pediu que a secretária trouxesse uma água e chás,
pois era possível ver como a neta do barão parecia descontrolada.
–
Bater na cara dele aliviou sua raiva?
A
voz da mais velha soou compreensiva.
–
Não! – Respondeu sentando-se pesadamente na cadeira. – Afinal, eu quem fui a
burra nessa história. – Cobriu a face com as mãos. – Eu quem deveria apanhar…–
Piscou para evitar as lágrimas. – Ana Valéria não me atende…não quer falar
comigo…apenas disse que nesse momento prefere evitar conversas…
–
Pelo menos ela te respondeu…– Suspirou. – Gabi, Pierre mandou os convites para
a inauguração do resort.
–
Eu já avisei a ele que não irei, não posso forçar a minha presença para a Ana…
–
Quem não é visto não é lembrado!
–
Por Deus, Branca, não estamos falando de publicidade.
A
secretária entrou trazendo a água e o chá. Depois deixou o recinto.
A
Wasten serviu uma xícara de chá e entregou a chef de cozinha, fazendo o mesmo
para si, em seguida voltou a sentar-se, cruzando as pernas, bebia lentamente
sua bebida, parecia não ter pressa. Examinava a esposa da Del La Cruz com
atenção. Via seu sofrimento, sabia como ela estava depois de tudo o que tinha
acontecido.
–
Gabi, o resort é um empreendimento muito importante… – Iniciava com mais calma.
– Faz parte da primeira construção em grande escala da construtora que a Ana
Valéria está fundando…ela desenhou cada detalhe…é algo ímpar em sua vida…–
Deixou a xícara de lado. – Não deixe de ir…mesmo que esteja passando por esse
momento difícil do seu casamento.
–
Eu só não quero que a minha presença faça ainda mais mal a Ana Valéria… – Disse
em um fio de voz. – Eu não a culpa por não querer me ver…– Esboçou um sorriso
amargo e triste. – Ela está certa…eu quem fui culpada de tudo isso.
Branca
riu.
–
Ela te ama e ama muito…está magoada, mas o amor não acabou…
–
Você acha isso mesmo? – Indagou esperançosa. – Acha que ela ainda me ama?
–
Claro, sua bobinha. – Fitou a mão da jovem. – Talvez precise de gelo depois de
quase afundar a cara de Otávio. – Comentou rindo.
O
dia estava ensolarado. Naquela tarde, Ana fora inspecionar os últimos retoques
do resort. Retornara para o quarto, trocou-se e foi para a área da piscina do
hotel.
Havia
algumas pessoas aproveitando para colocar o papo em dia. As mesas estavam
cheias. Era comum, pois o hotel de Pierre era um dos mais visitados e ficava em
uma área bastante privilegiada.
Livrou-se
do roupão, mas não entrou de imediato na água. Em sua direção vinha uma figura
conhecida.
Arrumou
os óculos pretos.
–
Está linda, baronesa! – A voz de Paloma soou baixa. – Daria vinte anos da minha
vida para conquistá-la.
A
ruiva acabou rindo.
Sentou-se
em uma espreguiçadeira, tendo a ex-amante acomodando-se em uma cadeira de
frente para si.
–
Ei, o que a Gabriele tem de tão especial hein? – Paloma perguntou. – Deve ser
algo muito bom para ter te fisgado…
Ana
ficou em silêncio, enquanto desviava o olhar para uma mãe que brincava com a
filha na piscina. Desejou que Luna estivesse ali para ficar com a
garotinha.
De
repente sua mente voltou para o questionamento da mulher que lhe fitava com
atenção.
Lembrou-se
de quanto fora ensinar a Bamberg a nadar…de repente memórias da primeira vez
que tinha visto os olhos negros vieram à sua mente. A forma como foram enfrentada
inúmeras vezes, os beijos trocados no calor da raiva e da paixão.
–
Não vai me responder?
As
mãos de unhas bem-feitas começaram a alisar a coxa da empresária que a deteve.
–
Por que precisa ser fiel hein? Isso é chato! – Suspirou. – A Tereza me ligou
várias vezes, quer te ver, parece que foi te procurar algumas vezes e não
recebeu respostas…
–
Ela está bem? – Questionou preocupada.
–
Acho que a mãe morreu, está precisando de trabalho, ficou sem nada, tudo foi
gasto na doença.
–
Passe meu telefone pessoal, peça que me ligue.
–
Passarei! – Piscou. – Mas sua esposa vai permitir que fale com ela? Afinal, a
Tereza vivia querendo se roçar em ti… – Voltou a acariciar a coxa da ruiva. –
Falando da sua esposinha, ela armou um barraco na empresa...
–
O que houve? – Questionou tentando não demonstrar tanta curiosidade.
Branca não falava sobre a Bamberg,
Clarice não comentara nada sobre o acontecido.
O que acontecera?
–
Deu duas bofetadas em Otávio que agora está sendo processada. – Gargalhou. –
Coragem não falta…só não sei se tem juízo…se eu fosse ela não mexeria com ele.
A empresária não conteve um sorriso.
Esse tipo de comportamento era bastante combinável com a postura tempestuosa da
ex-freirinha.
–
Pensei que fosse seu noivo…
–
Não, terminei, pois acho que ele tem mais obsessão por ti de que sentimento por
mim…como vou me casar com um homem que não se importaria de me ver transar contigo,
contanto que isso te separasse da Bamberg.
Um
garçom passou e Paloma pegou dois drinques, ofertando um a Del La Cruz, mas ela
não aceitou, optando por uma água de coco.
–
Otávio é um desgraçando…mas não vai demorar para que ele pague o que deve… –
Ana dizia pensativa. – Gabriele agiu por seus impulsos...
–
Vai se vingar dele?
Ela
fez um gesto negativo com a cabeça.
–
Vou fazer justiça… isso eu farei em breve. – Bebia o líquido distraidamente. –
E o que pensa em fazer?
–
Vou para a Europa, tenho alguns trabalhos…mas não precisa ficar com saudades,
logo retorno…quem sabe até lá você não vai ter enjoado da Gabizinha…– Ironizou
a última palavra. – Até quando vai ficar separada dela? – Bebeu todo o conteúdo
de uma vez. – Poderia aproveitar que estão brigadas para transar comigo.
A
empresária riu.
–
Prefiro manter a nossa conversa amigável…sem sexo…melhor para nós duas…
–
Não está com vontade? – Voltou a tacá-la. – Não me diga que anda se
satisfazendo sozinha?
A ruiva manteve-se
serena, dirigindo-se à borda da piscina e molhando o pé antes de sentar-se,
mergulhando as pernas. Movia-as calmamente, demonstrando concentração nas
tarefas profissionais. Evitava distrações relacionadas à vida pessoal,
priorizando o foco no trabalho e na superação de desafios associados a antigos
vínculos familiares e corporativos. Seu empenho em estabelecer-se no setor de
grandes construtoras era evidente, considerando o empreendimento do resort como
principal referência para futuros projetos, exigindo rigor e excelência em sua
execução.
Ouviu passos aproximar-se e imaginou
se tratar de Paloma, mas a modelo não estava mais lá. Sentiu as mãos massageando
seus ombros.
-- Querida, parece uma menininha
aqui...
Pierre sentou-se ao seu lado.
-- Estou tendo problemas em
convencer a Gabriele a vir me ajudar...
-- Bem, se ela não quer comparecer,
deixe que não venha. – Respondeu sem parecer se importar com a notícia. – Você pode
contratar mais cozinheiros...
-- A Hellen e a Gabi são ótimas em
seus pratos exóticos e quero que tudo fique perfeito... – Fitava o perfil que
parecia esculpido da empresária. – Você poderia falar com ela.
Um sorriso desenhou-se nos lábios
grandes e bonitos da Del La Cruz.
-- Eu mesma não tenho nenhum
interesse que a Bamberg venha. – Pulou na água. – Não faz diferença!
O chef de cozinha fez uma careta
para a amiga. Sabia que não teria como contar com a arrogante e orgulhosa
mulher, então só restava fazer um belo drama para convencer a neta de Bernard a
aparecer por ali. Claro, desejava sua ajuda, mas também ansiava por tê-la no
mesmo lugar que a ruiva, sabendo que ela não resistiria por muito tempo aos
encantos da jovem esposa.
Esboçou um sorriso diabólico,
sabendo o que deveria fazer naquele momento.
Gabriele cortava os legumes para terminar
o prato que preparava. Estava sozinha na cozinha do restaurante, pois a amiga e
sócia tinha precisado resolver um problema externo que tinha surgido.
Tinham conseguido fazer novas
contratações e agora o restaurante tinha mais pessoas para colaborar e não
sobrecarregar tanto as duas jovens. Mesmo assim, desde que retornara ao
trabalho, a Bamberg estava sempre muito ocupada, como se assim não sobrasse
tempo para seus pensamentos.
Tinha decidido não ir para o
litoral, mesmo que desejasse voltar a ver Ana Valéria. Porém, sabia que sua
presença não seria algo bom para a esposa e não desejava lhe causar nenhum
mal-estar.
Na noite passada, quando chegara à
mansão mais cedo, viu a filha debruçada sobre a tela do computador ao lado da
avó. Ouviu a voz da ruiva e desejou vê-la, mas não foi até lá, apenas seguiu
para o próprio quarto. Chorara durante horas, sabendo que fora culpada pelo
fracasso do casamento. Como fora tola quando acreditara nas mentiras de Otávio
e cruel ao ferir a mulher que tanto amava.
Suspirou em pesar.
-- Tudo bem?
A voz de Hellen lhe fez ter um
sobressalto, deixando a faca cair no chão.
-- Que susto! – Disse com a mão no
peito.
-- Eu cheguei, falei contigo, mas
você parecia absorta em um mundo distante. – Pegou a faca. – Está bem? – Voltou
a perguntar.
Gabriele cruzou os braços sobre os
seios.
-- Sim, estou bem.
Hellen pegou uma maçã e começou a
comer, enquanto via a sócia voltar à tarefa que fazia antes. Olhava-a, sabia
como parecia reclusa em sua dor.
-- Falei com Pierre... – Começava,
mas foi interrompida.
-- Não adianta falar sobre isso, eu
não irei!
-- Bem, ele teve um problema com os
chefs de cozinha que contratara, estava louco, não sabe o que fazer...E já está
muito próximo a inauguração, acho que não vai conseguir dar conta de tudo
sozinho.
-- Eu não irei, Hellen, por favor
não insista! – Pausou o que fazia mais uma vez para fitar a amiga. – Não quero
que a Ana Valéria se sinta mal com a minha presença.
-- E quem disse que você tem que
ver a poderosa baronesa? – Indagou exasperada. – Vamos lá, ajudamos o Pierre e
depois ele nos manda de volta. – Continuava a comer a fruta. – Ele foi quem
mais nos ajudou quando fomos abrir o nosso restaurante, então é o mínimo que
devemos a ele.
Gabriele tamborilava os dedos sobre
o tampo de mármore.
-- Não quero forçar minha
presença...
Hellen foi até a amiga,
segurando-lhe as mãos.
-- Nem precisa vê-la, amiga, vamos
apenas ajudar o Pierre e voamos de volta para casa. – Beijou-lhe a testa. – Vai
ser apenas isso.
A academia do hotel de Pierre era
bastante completa. Ele investira bastante para que seus hóspedes não tivessem
motivos para reclamações. O próprio chef costumava frequentar o espaço em seus
exercícios noturnos.
Ao chegar, Ana Valéria já estava
saindo. A mulher estava bastante suada, tinha a toalha ao redor do pescoço. A
face estava bastante corada pelo esforço físico.
-- Minha deusa, pode me fazer
companhia? – O homem perguntou sorridente. – Hoje tive um dia cheio e gostaria
muito do seu bom humor para me lembrar que tudo pode ser bem melhor.
A ruiva gargalhou da provocação do
amigo.
-- Na verdade, não posso, estou um
pouco cansada e já tinha reservado minha cama.
-- Espero que sozinha...vi a Paloma
te rondando esses dias.
-- A Paloma não vai me atacar,
Pierre, exceto se essa for minha vontade. – Completou com um sorriso.
-- Espero que não seja, afinal,
você é casada e tem até uma filha. – Ligou a esteira e começou a correr. – Não quero
que Luninha tenha esses exemplos ruins.
-- Ela não terá...
Já seguia para fora, mas a voz do
homem a deteve.
-- Falei com a titia Clarice...ela
vai chegar depois de amanhã...—Deu uma pausa. – Gabriele e Hellen já estão no
hotel...consegui convencer sua esposa a me ajudar...
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