A Antagonista - Capítulo 30
O avião
aterrissou no final da tarde.
Clarice descia
da aeronave segurando a mão da pequena Luna que parecia muito à vontade com a
vovó. Lia seguia ao lado das duas.
Ana Valéria
esperava as mulheres.
Gabriele não
fora consigo, precisara ir ao restaurante naquele dia, pois haveria muito
movimento.
A ruiva
agachou quando viu a pequena garotinha correr em sua direção. Abraçando-a.
Riu de como
estava fofa a pequena com os cabelos presos em cada lado da cabeça.
-- Ora que
princesinha mais linda! – Beijou-lhe a face. – Pensei que não voltaria mais.
A garota
colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha.
-- “Pa você!”
– A voz infantil falou.
A Del La Cruz
abriu o objeto e ficou surpresa ao ver uma medalhinha em forma de coração.
Abriu-a e viu a foto de Gabi e Luna ao seu lado.
Se não
estivesse usando óculos pretos, seria possível ver as lágrimas de emoção.
Levantou a
cabeça e viu as duas mulheres a lhe fitarem.
-- Pensei que
a Gabi viria também... – Lia comentou.
Ana Valéria
levantou-se, colocando a filha nos braços.
-- Ela
precisou trabalhar, mas nós vamos vê-la daqui a pouco, pois iremos jantar lá.
Clarice lhe
abraçou, beijando sua face.
-- E como tudo
está por aqui? Você está bem? Está tudo bem entre vocês? – Indagou preocupada.
-- Com
certeza, acho que tudo está ótimo! – Disse com um sorriso. – Vamos embora?
-- Você está
tendo um caso com a Tati?
Hellen e a
Bamberg estavam na cozinha. O restaurante estava cheio, algo que já tinha
virado rotineiro, tanto que já pensavam em fazer algumas contratações. Ambas
terminavam um prato quando o comentário fora feito.
-- Eu não
sabia que ela gostava de mulher? – Gabi pegou uma banana. – E desde quando isso
está acontecendo?
-- Eu não
disse que estou tento um caso, eu disse que saímos para jantar. – Explicava
descascando batatas. – Você que é exagerada em tudo.
-- Acha mesmo
que estou acreditando nessa sua historinha? – Encostou-se à mesa, cruzando os
braços. – Provavelmente a Ana Valéria sabe de algo, vou perguntar já que não
quer me contar.
-- Ah, a
baronesa? Sua esposa? Não sabia que ela gostava de fofocas como você! –
Provocou-a.
-- E por que
não gostaria? – Indagou arqueando a sobrancelha esquerda. – Isso faz bem para a
relação.
-- Falando
nisso, como vocês estão?
A Bamberg
pegou uma maçã.
Não respondeu
de imediato, pois chegou os garçons para pegar os pratos que estavam prontos.
Não podia se
queixar da relação. Estavam bem. Na noite anterior tinham saído para jantar,
depois seguiram para o apartamento e fizeram amor, depois conversaram e isso
fora o que mais gostara. Sabia como a esposa era fechada em seu mundo e saber
que estava tendo essa abertura lhe fazia muito bem. Em nenhum momento falaram
sobre as ações, nem sobre a herança de Bernard, não pareciam interessadas nesse
assunto, pelo menos não naquele momento. Sabia que logo teriam que falar.
-- Acho que
está tudo bem, Hellen, estamos nos entendendo... – Respondeu simplesmente.
-- Sempre
discreta e depois quer que te conte minhas coisas!
Gabi teve que
desviar de um guardanapo que a sócia jogara em sua direção.
-- O que quer
que eu diga? – A neta do barão indagou rindo. – Não posso contar minhas
intimidades...
-- Mas quer
saber das minhas.
Gabriele
suspirou.
-- Ain,
Hellen, eu estou bem com a baronesa... – Mordiscou a lateral do lábio inferior.
– Nossa relação é uma delícia, porém ainda tenho medo de tudo isso...
-- Medo de
quê?
Gabriele foi
até o forno para checar o peixe, parecia bastante interessada em examinar a
iguaria que estava quase pronta.
-- Às vezes,
penso que tudo isso é apenas uma ilusão, sabe...sei lá, não sei se sou boa o
bastante para ter uma mulher tão linda como a Ana Valéria...
Hellen a
olhava perplexa.
-- Na verdade,
o que se passa é que você fica dando ouvido para conversas do Miguel, por Deus,
Gabi, sabe bem que todos eles querem fazer vocês se separarem.
Isso não era
surpresa para a esposa da Del La Cruz, afinal, tinha recebido inúmeras
mensagens de Otávio, sempre insistindo sobre o fato de Ana Valéria continuar
com seu caso com Paloma. Não falara nada ainda sobre o abraço no hospital,
porém isso a deixara muito irritada, pois morria de ciúmes da amada.
-- Eu não
sei...tento não pensar sabe, mas me perturba tudo isso...
-- Bem, espero
que esqueça essas suas dúvidas. – Olhava pela janelinha que dava acesso ao
salão. – Sua família acabou de chegar...
A Bamberg
ficou surpresa, seguindo para olhar também.
Sorriu ao ver
a Luna de mãos dada com Ana Valéria. Sempre achara que pareciam mãe e filha.
Eram lindas juntas.
Suspirou
diante da beleza da amada que vestia um suéter preto e calça jeans. Os cabelos
estavam soltos.
Linda!
-- Não vai até
lá?
Gabriele fez
um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Espera só
um pouquinho, amiga, volto logo para te ajudar.
Ana Valéria se
acomodava ao lado da mãe, de Lia e com Luna ao seu lado.
-- Por que não
me contou do que estava acontecendo com Antônio? – Clarice questionou
preocupada.
-- Não queria
perturbá-la na sua viagem. – A ruiva bebeu um pouco de água. – E também nada
poderia ser feito...
“Mamãe!”
A garotinha pulou direto para os braços de
Gabriele que se aproximava.
-- Não sabia
que viriam para cá. – A Bamberg queixou-se.
Lia e Clarice
foram até a jovem, abraçando-a carinhosamente.
-- Não
imaginei melhor lugar que esse aqui para a gente jantar. – A Del La Cruz falou.
– Claro que estamos esperando uma cortesia. – Provocou-a com um piscar de olho.
-- Minha
esposa é muito rica, não acho que necessite de descontos...na verdade, vou
servir os pratos mais caros para que deixe de sovina.
Ana Valéria
gargalhou.
A chef amava
quando ela tinha aquela expressão de sapeca. Amava quando os olhos claros se
estreitavam em risos e o som rouco provocava arrepios em sua nuca.
-- E vai
demorar para ir para casa, menina? – Lia indagou. – Trouxemos alguns presentes.
-- Ora, não
vejo a hora de ver esses presentes. – Beijou a mais velha. – Porém, sinto que
demorarei um pouco, hoje estamos com bastante movimentos, graças a Deus. –
Entregou a filha à ruiva. – Cuide da nossa pequena, baronesa, pois preciso
voltar aos meus afazeres.
-- Não deve se
cansar muito, filha! – Clarice alertou-a. – Não deve esquecer que precisa de
energia para sua esposa.
Gabriele
sentiu a face corar diante do comentário, odiando a expressão debochada da empresária
que parece se divertir com o comentário indiscreto da mãe.
Ela apenas fez
um gesto afirmativo com a cabeça, depois deixou o salão.
Na mansão de
Antônio, Otávio servia uma taça de champanhe para Lorena, depois se acomodava
ao lado da loira.
-- De certa
forma, tenho a impressão de que gostou do que se passou com o seu noivo. – O advogado
comentava.
A irmã de
Trevan não respondeu de imediato, parecia mais interessada em esvaziar o copo
que lhe fora servido. Seus pensamentos estavam presos na filha do político. Era
uma verdadeira obsessão pensar em tê-la em seus braços novamente. Ainda se recordava
da única vez que estiveram juntas sexualmente e não pensava em deixar isso no
passado. Queria-a e estava disposta a tudo para tirá-la de Gabriele.
Queimava de
ciúmes em imaginá-la juntas.
-- Espero que
verdadeiramente ele morra. – Ela falou sem tentar fingir que estava penalizada.
– Odiava quando ele me tocava...perdi as contas de quantas vezes vomitei depois
de transarmos.
O advogado
parecia pensativo diante do que ouvia.
-- Fato que
não acontece quando pensa na baronesa, imagino... – Provocou-a.
-- Bem, você
poderia perguntar a sua noiva se ela sente ânsia de vômito quando se deita com
a Del La Cruz...creio que ela pode te explicar melhor que eu.
O maxilar do
homem enrijeceu, enquanto seus olhos estreitavam-se.
-- Não quero
falar sobre a Paloma!
Lorena
levantou-se.
-- E por que não?
Sei muito bem que ela se deitava com a Ana enquanto era sua noiva e vocês a
flagraram juntas...imagino como isso deve ter te deixado arrasado.
-- Sabe que já
tenho uma ideia de como trazer sua ruiva aqui...
Antes que
Lorena questionasse sobre o plano, sentiu a primeira bofetada, que veio seguida
de várias outras. A mulher tentava se proteger, mas o advogado era muito mais
forte, então seguia com o espancamento.
Ana Valéria
colocou Luna para dormir, depois seguia para os próprios aposentos. Sabia que a
esposa demoraria para chegar naquela noite, então pensou em ler um livro para
relaxar.
Viu o celular
sobre a mesa tocar e ao atender, falou com um oficial de policial. Ficou
surpresa com o que ouvia.
Encerrou a
chamada, em seguida discou para Branca, mas a administradora estava em uma
clínica, pois seu esposo tinha sofrido um acidente doméstico. Assim, a ruiva
preferiu não a perturbar.
Pegou as
chaves do carro, deixando os aposentos imediatamente.
A Del La Cruz
chegou na delegacia e foi levado para uma sala, encontrando Lorena toda machucada
e chorando copiosamente. Mesmo odiando-a por tudo, comoveu-se com seus
machucados.
Não sabia o
motivo de ter ido até lá, mas acabou fazendo-o, pois a última coisa que
desejava era ter o nome Del La Cruz envolvido em mais polêmicas.
Assim que a
viu, a loira jogou-se em seus braços, soluçava como uma criança.
Ana Valéria
afastou-a, não gostando do contato.
-- O que se
passou? – Indagou friamente.
O delegado que
tinha atendido a mulher, adiantou-se, enquanto entregava uma xícara com um chá à
loira.
-- Recebemos a
ocorrência e quando chegamos no local não havia rastros do infrator.
-- E quem o
fez? – Indagou fitando os olhos verdes. – Quem te espancou?
A filha de
Antônio observava a irmã de Trevan detalhadamente. Havia hematomas por toda a
pele exposta do pescoço, braços e o olho estava roxo.
-- Eu não sei,
estava tudo escuro... – Dizia recomeçando o pranto, sentando-se.
-- Chamamos a
senhora, pois sabemos que é filha do noivo da senhorita...não tínhamos com quem
falar, pois o irmão não atendia o telefone. Ela foi atendida no hospital e
decidimos trazê-la para cá até que alguém pudesse busca-la.
A baronesa
cruzou os braços sobre os seios, enquanto fazia um gesto afirmativo com a
cabeça.
-- Já pegamos
o depoimento dela, então continuaremos com as buscas e qualquer coisa, avisaremos.
Lorena
levantou-se, mas sentiu uma tontura, precisando apoiar-se na ruiva que a segurou.
-- Me
desculpe, Ana, porém estou me sentindo tão mal...por favor, me leve para casa
do meu irmão, não quero ficar na mansão... – Chorava copiosamente.
A Del La Cruz
mais uma vez pensou em deixá-la sozinha e ir embora, mas algo acabou fazendo-a
fazer um gesto de assentimento. Talvez, o Índio estivesse certo quando dizia que
era preciso perdoar seu passado para seguir em frente com um futuro ao lado da
mulher que amava.
O caminho
feito até o apartamento fora feito em total silêncio, exceto pelo choro da
loira que não parara em nenhum momento.
Ana estacionou
o veículo em frente ao prédio, mas não fez menção em descer.
-- Não vai me
acompanhar? – Lorena indagou. – Por favor, Ana, não me deixe ir sozinha até lá.
-- Não, acho
que já fiz mais do que o suficiente por alguém como você.
Os olhos
verdes abriram-se em espanto.
-- Eu não
acredito que mesmo diante do que me passou ainda consegue agir de forma tão
cruel. – Limpou os olhos com as costas da mão. – Vejo que realmente não sobrou
nada da garota gentil e amável que conheci um dia.
-- Por favor,
Lorena, sabe muito bem que nada mudou em relação ao que sinto por você, continuo
te achando um ser humano terrível, ambicioso e aproveitador...
A loira fez um
gesto negativo com a cabeça.
-- Eu não
disse lá na delegacia, mas eu apanhei por sua culpa. – Apontou-lhe o dedo em
riste. – Se eu não tivesse tentado te defender, nada disso teria acontecido.
Sem falar mais
nada, deixou o veículo, mas a baronesa foi atrás da mulher que seguiu correndo
para o interior do apartamento, parando apenas ao entrar onde o irmão morava.
Ana Valéria
lhe segurou pelo braço.
-- De que
falas? – Ana indagou por entre os dentes. – Quem te espancou?
-- Ah, agora
você se importa? – Lorena livrou-se do toque. – Parece muito interessada quando
seu lindo nome entra na história, mas eu não falarei. – Apontou a porta aberta.
– Volte para sua casa, para sua mulherzinha, não desejo voltar a olhar para tua
cara nunca mais. – Passou a mão pelos cabelos. – Se eu soubesse que agiria
assim, jamais teria falado para te ligar, mas não tinha mais ninguém para me
ajudar nesse momento horrível.
A Del La Cruz
suspirou.
-- Quem fez
isso? – Voltou a perguntar. – E por que não falou o nome ao delegado?
Novamente a
loira iniciou seu choro, jogando-se nos braços da ruiva.
-- Eu estou
com medo, Ana, muito medo, você não entende...temo por sua vida, temo que te
firam, que te façam algo mais uma vez.
A baronesa
pensou em empurrá-la, mas dessa vez não o fez. Talvez devesse fazê-lo, mas
pensou que realmente não era uma situação muito boa para aquela mulher, mesmo
depois de tudo o que tinha lhe feito.
Ouvia-a chorar
e não pode deixar de sentir pena, sim, sentiu, mesmo depois de tudo o que tinha
passado, fora isso que sentiu diante do que via. Ela estava muito machucada. A
face bonita cheia de hematomas.
-- Lorena, me
diga quem te machucou... – Segurou-lhe o queixo delicadamente. – Tomarei providências
para que não volte a acontecer.
Ela fez um
gesto afirmativo com a cabeça, mas não fez menção de soltar a filha de Antônio.
-- Foi o
Otávio...
Ana Valéria
parecia chocada com o que ouvia.
-- Pensei que
estivessem unidos? – Indagou com ceticismo.
Ela fez um
gesto afirmativo.
-- Eu pensei
que ele estava preocupado comigo...—Mordiscou a lateral do lábio inferior. –
Não nego que me sentia confortável com ela, pois foi o único que se mostrara atencioso
comigo depois do que se passou com o Antônio... – Ela tocou a face da ruiva. –
Porém, hoje ele ficou furioso quando tentou me beijar e eu não permiti...—Soluçou.
– Me agarrou a força...ficou furioso porque não aceitei...então começou a falar
que se fosse contigo eu não me negaria...
Ana tentou se
afastar, mas teve sua boca tocada pela noiva do pai, afastando-a de si.
-- Eu te
amo...eu não consigo nem imaginar em ficar com outra pessoa...
-- Eu não
sinto nada por você! – A baronesa a deteve. – Não se iluda, não vim te ajudar
por que tenho algum interesse, não tenho mesmo, vim apenas porque não queria
que o nome da minha família voltasse a ser matéria de jornais...principalmente
por minha mãe.
-- Eu não
acredito! – Lorena falo em tom alto. – Eu fui a primeira que te toquei, fui eu
quem te fiz mulher!
-- Sim, e foi
também você quem destruiu minha vida, que acabou com tudo o que eu sentia... –
Passou a mão pelos cabelos. – Você me matou dia a dia naquele maldito manicômio...e
o que fez por mim? – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Nunca se importou
comigo, apenas com sua ambição...
-- Eu não podia
fazer nada, seu pai me mataria! – Sentou-se na poltrona. – Eu era tão jovem
quanto você...tinha sonhos, estava cansada de ser pobre...e tinha o Trevan com
a Gabriele...ela tinha sofrido um acidente na época e meu irmão queria dinheiro
para tirá-la das mãos do barão...
Novamente, Ana
mostrava-se cética.
-- Se não
acredita, investigue! – Lorena falou. – Sua amada tinha sofrido um acidente na
época...veja se não há uma cicatriz sobre o lábio superior... – Desdenhou. –
Ela foi salvar um gato e quase morreu, foi por isso que o barão a tirou do meu
irmão e a jogou no convento...então nessa época, a gente precisava muito de
dinheiro.
-- Eu não
quero saber mais de nada. – Caminhou até a porta. – Irei falar com Otávio e
espero que o denuncie para que não volte a lhe fazer isso.
Já passava da
meia noite quando a neta de Bernard chegou à mansão.
Subiu para os
aposentos e para sua surpresa a ruiva não estava lá. Pensou em perguntar a Clarice
se ela sabia de algo, mas já era muito tarde para incomodá-la.
Suspirou!
Onde poderia
estar?
Pegou o
celular para discar o número da ruiva e foi quando percebeu que estava
desligado. Talvez, ela tivesse tentado entrar em contato.
Ligou-o e viu
inúmeras mensagens de Otávio e fotos.
“Espero que
agora acredite em mim.”
“Veja onde sua
esposa está.”
“Se não
acredita no que estou mandando, pode ir até o apartamento do Trevan, ainda
estão lá.”
“Na verdade,
posso facilitar sua vida.”
Havia um link
e ao clicar uma câmera foi aberta.
Gabriele
reconhecia o lugar. Estava na penumbra, mas conseguia ver a esposa e Lorena
abraçando-a. Viu quando os lábios da irmã do pai adotivo tocaram o de Ana.
Furiosa, a
jovem jogou o aparelho contra a parede.
Mais uma vez
fora uma idiota!
Queria ir
embora daquele lugar, queria ir para bem longe naquele momento. Sem pensar,
deixou os aposentos chorando e foi para o quarto da filha.
No dia
seguinte, Ana Valéria chegou à mansão.
Na noite
anterior decidira ficar na cobertura. Mandou uma mensagem para o celular da
esposa para avisar, mas não recebeu resposta, imaginara que devia ter chegado
cansada e acabara dormindo.
Encontrou a
mãe e Lia na cozinha, ambas as mulheres pareciam apreensivas.
-- Filha, a
Gabi está contigo?
A ruiva
parecia surpresa com a pergunta.
Fez um gesto
negativo com a cabeça.
-- A Luna não
está no quarto também. – Lia falou ainda mais preocupada.
Uma empregada
entrou na cozinha esbaforida.
-- A senhora
Gabriele ligou, disse que está bem e que a Luna está com ela.
-- Graças a
Deus! – Clarice juntou as mãos em preces.
Ana Valéria
parecia surpresa com o que se passava.
-- O que se
passa aqui?
-- Não
sabemos, pensei que você soubesse...um dos seguranças disse que viu a Gabi
saindo no carro por volta de meia noite e desde então não retornou. – Lia explicou.
-- Onde ela
está? – A ruiva questionou a empregada.
-- Ela não
disse, senhora!
A Del La Cruz
saiu pisando duro da cozinha, tendo sua mãe atrás de si. Subiram para os
aposentos e lá não havia nada que pudesse explicar o que tinha acontecido.
Olhava de um lado
para o outro, sentindo a agonia em seu inteiro aumentar diante da incerteza.
-- Vocês
brigaram?
-- Claro que
não, mamãe, nem mesmo dormi em casa. – Umedeceu o lábio superior.
-- Será que
ela ficou chateada por isso?
Ana cobriu a
face com as mãos.
-- Eu não sei,
mas se for isso, é muito infantilidade... – Suspirou. – Espero que ela retorne
logo e esclareça o que se passou.
Luna brincava,
estava deitada no carpete da sala do apartamento de Hellen. Parecia distraída
pintando seus desenhos.
-- Eu vi, vi as
fotos e vi o vídeo. – Gabriele dizia.
Não dormira
nada durante toda a noite. Em sua cabeça não parava de passar as cenas que
tinha visto. Queria não acreditar que fora tola, mas testemunhara com seus
próprios olhos.
-- Podia ser
inteligência artificial, afinal, hoje em dia é tudo muito fácil.
Gabriele fez
um gesto negativo com a cabeça.
-- Liguei para
o porteiro e ele me confirmou que a Lorena passou a noite lá e que uma ruiva
também esteve no apartamento... – Levantou-se. – Quem podia ser a ruiva? A
minha esposa mentirosa.
Hellen
segurou-lhe as mãos.
-- Converse
com ela, Gabi, deixe que ela se explique...
Os olhos negros
estreitaram-se.
-- Por favor,
você continua confiando na baronesa? – Indagou perplexa. – Não acha estranho
que de repente ela tenha dito que me amava? E no outro dia eu fui contemplada
com metade da herança que ela tanto queria?
-- Não acho
que a Del La Cruz seja capaz de fingir que gosta de alguém apenas por
dinheiro...
-- Por poder,
para destruir o pai...ela sempre quis, fez tudo para ter o controle, até mesmo
se casou comigo para assegurar sua vingança.
-- Isso,
vingança que se estendia também a Lorena, então é meio incabível que ela tenha
te traído com ela.
-- Ela é uma
devassa...não se importa com quem se deita...—Dizia em lágrimas. – Não quero
vê-la, nem a ouvir, quero que saia da minha vida, apenas isso que desejo.
Ana Valéria
esperou pacientemente durante todo o dia por uma notícia da esposa, mas já era
noite e nada ficara sabendo.
Naquele
momento estava na varanda dos aposentos. Estava sentada em uma poltrona,
enquanto pensava o que poderia ter feito a Bamberg agir de forma tão
precipitada. Algo tinha passado por sua cabeça durante alguns momentos, mas
pensara que poderia ser paranoia, mas agora fazia bastante sentido.
Levantou-se e
voltou a ligar para o restaurante, dessa vez exigiu falar com Hellen.
-- Ela não
está aqui no restaurante, baronesa.
-- E onde ela
está? – Indagou tentando controlar a irritação. – Sei que você sabe e acho
melhor que diga antes que eu vá a polícia e a denuncie por sequestro, afinal,
ela levou a Luna. – Ameaçou-a.
Houve um
silêncio do outro lado da linha, então de repente fora dito.
-- Está no meu
apartamento, mas...
A jovem nem
terminou de falar, pois Ana Valéria desligou e saiu rapidamente atrás da
esposa.
-- Você não
precisava ter batido com tanta força. – Lorena queixava-se.
-- Mas valeu a
pena...e sabe o que é o melhor, a Gabriele viu no momento que você beijava a
esposinha dela.
Lorena estava
bebericava o vinho.
Não podia
negar que se sentia frustrada, pois não conseguira nada com a ex-namorada.
Chegara a pensar que poderia seduzi-la, mas não consegui, apenas sentira frieza
quando a beijara.
-- Gabriele
falou comigo, estive com ela à tarde, está no apartamento da amiga, pediu para
que eu desse entrada no divórcio e quer a guarda da Luna.
-- Como é
tola! – A loira comentou. – Ela acha mesmo que vai ser fácil assim enfrentar a
baronesa?
-- Bem, pelo menos,
eu já estou representando as ações que ela herdou novamente. – Levantou a taça
em um brinde. – Acho que agora vamos poder respirar melhor.
-- Não vai ser
suficiente...conheço a Ana Valéria, não vai aceitar assim que a boba da Bamberg
encerre a relação.
-- Agora o
Miguel e a Paloma vão entrar no jogo...tenho planos para destruir a
baronesa...acho que ela vai achar o tempo que passou no hospício fichinha para
o que vai enfrentar.
Lorena bebeu
todo o conteúdo da taça.
-- Você odeia
a Ana por que ela te humilhou com a sua noiva ou tem outro motivo para tanta
raiva?
Otávio ficou
em silêncio, não parecia interessado em continuar a conversa.
Gabriele tinha
terminado de arrumar a bagunça que tinha feito na cozinha para preparar o jantar.
Luna tinha
terminado de comer e não parava de perguntar sobre a tia Valéria, vovó Clarice
e a Lia.
Deixou-a na sala,
enquanto seguia para o quarto para tomar banho.
Não parava de
pensar em Ana Valéria, na sua traição. Achava estranho ela não ter usado seus métodos
sujos para encontrá-la. Passara todo o dia temendo que a ruiva aparecesse ali e
a confrontasse, mas isso não aconteceu. Talvez, ela tivesse cansada de fingir
amor, talvez tivesse decidido ficar de uma vez por todas com Lorena.
Pegou o
roupão, vestindo-o.
Estava cansada
de tanto chorar, cansada de sentir tanta dor. Queria que tudo aquilo acabasse
de uma vez por todas. Pensava em viajar, em ir embora, em seguir para longe ao lado
da filha. Falaria com Otávio para que informasse se haveria essa oportunidade
legalmente.
Amarrou o
cordão do roupão atoalhada na cintura, depois foi para sala onde tinha deixado
a filha e para sua surpresa lá estava a dona de todos os seus pensamentos
brincando a menina que parecia muito feliz.
Seus olhos
fitaram os claros.
Observou a
calça jeans que usava, as botas de cano curto, a jaqueta de couro vermelha. Os
cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo.
-- Boa noite,
meu amor!
A voz de Ana
Valéria soou baixa, gentil, amorosa.
Luna foi até a
mesinha e trouxe o livro de desenhos para mostrar à tia.
Gabriele não
respondeu, apenas permaneceu lá de braços cruzados, observando a cena. Queria
expulsá-la, mas não o faria na frente da filha, não desejava que a pequena
presenciasse aquele tipo de cena.
Permanecia lá,
observando as duas rindo e pintando a nova imagem.
Viu-a lhe
fitar e ficou apenas encarando-a. Viu-a beijar os cabelos vermelhos da pequena,
depois se aproximou.
-- Arrume-se,
vamos para casa.
-- E se eu não
quiser? – Indagou baixo. – Vai me obrigar?
A ruiva a
olhava e via em seu olhar a raiva.
-- Apenas você
vai voltar comigo e quando chegarmos, conversaremos.
Luna correu
para o quarto parecia que tinha ouvido que iriam para casa, decerto fora
arrumar suas poucas coisas.
-- Iremos
conversar em nossa casa, então irá comigo, mesmo que não deseje.
Gabriele
levantou a mão para esbofetear a esposa, mas a baronesa conseguiu detê-la.
-- Solte-me! –
A Bamber exigiu por entre os dentes. – Não quero que me toque, não desejo seu
toque nunca mais em minha vida.
A baronesa
novamente fitou-lhe e viu as lágrimas em seus olhos.
-- Não o farei
sem sua permissão. – Soltou-a. – Porém ainda vai voltar comigo para casa.
-- Por quê? –
Indagou tentando segurar o choro. – O que deseja comigo?
Luna voltou
trazendo sua pequena mochila.
A
empresária pegou-a nos braços, beijando-lhe.
--
Vamos esperar sua mamãe e depois já vamos, princesa, sua vó está com saudades e
a vó Lia também.
Clarice
e Lia estavam na cozinha quando a empregada avisou da chegada da baronesa e da
chef de cozinha. As mulheres correram para a sala. Luna pulou nos braços das
duas, enquanto Gabriele seguiu imediatamente para os aposentos sem falar com
ninguém.
Ana
Valéria não a seguiu, mas caminhou em direção ao escritório.
Acomodou-se
na poltrona.
Ligou
para Branca para saber como estavam as coisas. Não contou sobre o que estava
acontecendo, não desejava preocupar a administradora. Talvez pudesse resolver
tudo.
Ligou
o computador, mas não parecia muito concentrada.
O
que teria acontecido?
Por
que Gabriele estava com tanta raiva?
Não
queria brigar, tampouco obrigá-la a nada, porém começava a se desesperar por
não saber o que se passava.
Ouviu
a porta abrir e viu a mãe aparecer.
Gostava
de tê-la ali, mesmo que não conseguisse desabafar o que a perturbava tanto,
pelo menos se sentia acalentada.
A
mulher sentou-se diante dela.
--
O que houve, filha?
A
Del La Cruz fez um gesto negativo com a cabeça.
--
Eu não sei, mamãe, ela não falou, apenas disse que não deseja que a toque. –
Falou como se houvesse um nó em sua garganta. – Ficou em silêncio em todo
trajeto, nem mesmo me olhava.
--
Quer que eu fale com ela?
--
Não acho que ela vai falar o que se passou...porém...não custa tentar...
Clarice
foi até a ruiva, beijou-lhe a testa.
--
Vou preparar algo para que jante, não comeu nada o dia todo. – Acariciou-lhe os
cabelos. – Tudo vai ficar bem, meu anjo ruivo.
Era
domingo e Gabriele não teria que ir ao restaurante.
Ela
despertou cedo.
Agradecera
a Deus pela ruiva não ter ido até os aposentos depois que chegaram do
apartamento de Hellen.
Ouviu
batidas à porta e se encolheu, mas era Lia com uma bandeja.
--
Trouxe seu café! – Disse com um sorriso. – Parece que todos estão em greve de
fome aqui em casa. – Colocou sobre o leito. – E coma tudinho, ou vou lhe
colocar de castigo, ainda mais pelo susto que nos deu.
Gabriel
observou tudo o que tinha lhe trazido. Havia bolos, pães, sucos queijos e
frutas e foi por uma maçã que ela começou a comer.
--
Filha, o que se passa hein? – Lia indagou depois de algum tempo. – Você foi embora
no meio da noite e agora está aqui, mas parece tão triste.
A
Bamberg deixou a fruta de lado. Bebeu um pouco de suco, levantando-se.
--
Eu só não desejo continuar aqui, não quero continuar casada com a baronesa.
A
cozinheira olhava-a desconfiada.
--
De uma hora para outra? – Questionou com um arquear de sobrancelha. – Eu vim
aqui e encontrei seu celular todo quebrado, tirei-o daqui, não falei nada para
ninguém, mas tenho a impressão de que isso está ligado com o que se passou.
Gabriele
pegou o roupão de seda, vestindo-o.
--
Espero que continue sem falar, pois não quero dar explicações sobre nada. – Aproximou-se
da empregada. -- Quando eu partir, quero que venha comigo.
--
Ora, até minha governanta você quer levar?
A
voz de Ana Valéria fez-se ouvir.
A
Bamberg a fitou.
Usava
a mesma roupa da noite anterior.
Lia
pediu licença e deixou os aposentos diante do olhar de súplica da patroa neta
do barão.
Ana
Valéria livrou-se da jaqueta, depois começou a desabotoar a blusa que usava.
Passara
toda a noite no escritório, temendo não se controlar se fosse para o quarto.
A
Bamberg a viu ficar apenas de sutiã e desviou o olhar.
Ana
Valéria tirou a calça, exibindo a calcinha, depois seguiu para o banheiro sem
dizer uma única palavra.
Gabriele
via as roupas no chão, depois seguiu para a cama, observando o farto desjejum
que Lia lhe servira. Nem fome tinha naquele momento.
Não
queria ficar na mansão. Não queria encontrar a esposa, não se sentia bem com
sua presença. Odiava pensar que ela estivera nos braços de Lorena. Na noite
passada pouco dormira lembrando do que tinha visto. Como podia ter ficado com a
mulher que destruíra sua vida?
Caminhou
até a varanda.
O
sol não estava tão brilhante naquela manhã.
Secou
uma lágrima que insistia em rolar.
Respirou
fundo, tentando afastar o peso do coração apertado. O silêncio da mansão
parecia amplificar cada pensamento, tornando a solidão ainda mais evidente. Por
um instante, desejou poder sumir dali, escapar daquela dor que a cada dia
parecia crescer.
O ar parecia
pesado, mesmo com a brisa suave que entrava pela janela. Gabriele abraçou os
próprios ombros, sentindo um frio que não vinha do tempo, mas da confusão
dentro de si. Era como se tudo ao redor estivesse suspenso, à espera de uma
decisão que ela mesma não sabia se queria tomar.
Sentia-se
perdida, como se estivesse à deriva em um mar de lembranças dolorosas. Nenhum
cômodo parecia acolhedor, e cada objeto ali trazia consigo ecos de momentos
felizes que agora pareciam distantes. O desejo de fugir confrontava o medo do
desconhecido, deixando-a presa entre o passado e um futuro incerto.
Voltou
para o quarto e encontrou Ana Valéria com seu roupão preto atoalhado.
--
Acho que agora vamos conversar. – Apontou-lhe a poltrona. – Quero saber o que
se passa de uma vez por todas.
--
Não há nada para ser dito, apenas que desejo que me deixe em paz.
A tensão entre
elas era palpável. O olhar de Ana Valéria parecia buscar respostas nas feições
de Gabriele, mas o silêncio era mais eloquente do que qualquer explicação. Por
alguns segundos, nenhuma das duas se moveu, como se aguardassem que o tempo
trouxesse algum alívio ou direção para aquele momento difícil.
-- Então você
quer que acredite que de uma hora para outra deixou de me amar?
-- E por que
não acreditaria? – Levantou-se. – Quero que me deixe ir, apenas isso.
O silêncio que
se seguiu foi cortante, tão intenso que parecia preencher todo o espaço entre
elas. Gabriele abaixou o olhar, incapaz de sustentar o peso das perguntas não
ditas. Por dentro, uma batalha se travava entre o desejo de acabar com aquela
conversa e a necessidade de expressar tudo que havia guardado.
Ana Valéria
aproximou-se, mas a neta de Bernard afastou-se, parecia temer seu toque.
-- Não irá
embora, não enquanto não me falar o que aconteceu.
-- Eu não te
amo mais! – Gritou.
O grito ecoou
pelo quarto, reverberando nas paredes como um golpe seco. Ana Valéria pareceu
vacilar, como se as palavras tivessem tirado o chão sob seus pés. Um silêncio
ainda mais profundo se instalou, pesado, quase insuportável, enquanto as duas
lutavam para encontrar forças diante do abismo que se abria entre elas.
-- Não
acredito!
-- É muito
presunçosa, baronesa!
-- Apenas não
acredito que um sentimento pode acabar de uma hora para outra.
-- Era apenas
sexo e acho que já enjoei.
Um sorriso
amargo se formou nos lábios da baronesa, mas seus olhos denunciavam a dor das
palavras que acabara de ouvir. Ela virou o rosto, tentando esconder o tremor em
sua voz.
— Não era
amor, nunca foi — murmurou, quase como se tentasse convencer a si mesma.
A respiração
ficou curta, o peito apertado, enquanto Ana Valéria buscava em vão algum traço
de ternura entre as farpas lançadas.
-- Então você
não me amava e simplesmente enjoou do sexo? – Questionou por entre os dentes.
A Bamberg
afastou-se, mas Ana a segurou, empurrando-a contra a porta e cobrindo sua boca
com um beijo esmagador.
Gabriele
a empurrava, mas seus atos eram vãos.
Mesmo
relutante, Gabriele sentiu as mãos de Ana Valéria deslizarem por seus braços,
suaves, mas firmes, até se acomodarem em sua cintura. Com delicadeza, Ana
afagou-lhe as costas, buscando romper a barreira do orgulho com gestos lentos e
atentos, deixando que o toque falasse aquilo que as palavras não conseguiam
expressar.
O toque de Ana
era desesperado, misturando raiva e desejo em um gesto que falava mais do que
qualquer palavra dita naquela noite. Gabriele hesitou por um instante, sentindo
o calor do beijo e a intensidade do olhar que a prendia ali, incapaz de decidir
entre fugir ou se entregar àquele momento. O silêncio pesado entre elas parecia
vibrar com as emoções conflitantes, tornando o ambiente sufocante.
-- Enjoou?
Tocou o sexo
feminino sob a calcinha, constatando-o molhado e pegajoso. Acariciou por alguns
segundos, vendo os olhos negros estreitarem-se em prazer.
Ana Valéria afastou-se.
-- Eu sei que
aconteceu algo e está me escondendo... sua tese de não querer mais sexo já foi
quebrada, minha senhora, apenas preciso descobrir quanto ao seu amor. –
Mostrou-lhe os dedos.
Havia raiva na
expressão da chef de cozinha.
-- Eu te
odeio!
A confissão
ecoou no pequeno espaço, carregada de mágoa e de uma sinceridade feroz. Ana
Valéria soltou um riso curto, quase dolorido, enquanto seus olhos se enchiam de
lágrimas contidas, misturando vulnerabilidade e desafio. Gabriele desviou o
olhar, sentindo o peso das palavras e a tensão pulsando entre elas, como se
cada uma procurasse um motivo para permanecer ou partir.
-- Vai ficar
aqui até que me fale o que aconteceu, vai ficar aqui até que tenha coragem de falar
a verdade!
-- E se eu não
quiser ficar? Vai me prender aqui ou me levar para sua montanha e me manter
prisioneira? – Voltou a provocá-la. – Você sempre resolve as coisas desse
jeito.
Ana Valéria se
aproximou mais uma vez, segurando o rosto de Gabriele entre as mãos, como se
quisesse enxergar além da resistência estampada em seus olhos. O espaço entre
elas parecia diminuir, e por um instante o medo se confundiu com desejo,
tornando difícil distinguir qual sentimento prevalecia. O tempo parecia
suspenso, enquanto ambas aguardavam, em silêncio, que alguma palavra ou gesto
pudesse finalmente romper o impasse.
-- Se for
embora eu coloco seu papai na cadeia!
O aviso soou
como uma ameaça, deixando Gabriele sem reação por alguns segundos. O silêncio
que se instalou era pesado, carregado de lembranças e segredos não ditos, como
se tudo pudesse desmoronar a qualquer momento. Ela apertou os punhos, tentando
decidir se cedia ou enfrentava Ana Valéria, sabendo que qualquer escolha
mudaria para sempre o que sentiam uma pela outra.
A ruiva seguiu
até o closet e pegou umas roupas, seguindo de volta para o banheiro.
Alguns
minutos se passaram e a baronesa já retornava vestida e pronta para sair.
Passou pela esposa sem falar uma única palavra.
Naquela
manhã, Ana Valéria foi até o hospital para saber sobre o estado de saúde do pai.
A
recepção do hospital estava vazia naquela manhã.
Sentou-se
em uma das cadeiras, estava esperando o momento para falar com o médico.
Na sua
cabeça só havia pensamentos sobre sua esposa.
Ao sair de
casa, sentia o coração acelerado e a
mente ainda tomada pelos ecos da discussão. As ruas pareciam desfocadas sob
seus olhos, mas ela se obrigou a manter a postura altiva, determinada a não
deixar que as emoções transbordassem. Enquanto dirigia até o hospital,
lembranças de momentos felizes com Gabriele misturavam-se ao peso das palavras
trocadas, e uma dúvida cruel se instalava: teria ido longe demais desta vez?
Apesar do orgulho ferido, algo dentro dela implorava por reconciliação, mas o
medo de se mostrar frágil ainda era maior.
Não iria
deixá-la ir, não antes de saber tudo o que tinha acontecido. Não acreditava em
uma única palavra que ouvira naquela manhã, mesmo que ficara magoada diante de
tudo o que fora dito.
Viu
Lorena caminhando ao lado do médico.
Levantou-se.
-- Olá,
baronesa! – A loira a cumprimentou com um sorriso. – Vi o Antônio e acho que
ele sorriu para mim.
A Del La
Cruz fitou o especialista que acompanhava o caso.
--
Realmente, a senhora Lorena falou sobre esse fato, mas talvez se tratasse de
uma ilusão, não podemos afirmar que realmente aconteceu.
--
Eu vi! – A noiva do político insistia.
--
Bem, se realmente aconteceu, será um grande milagre acontecendo diante dos
nossos olhos. – O médico dizia. – Fizemos alguns exames, mas ainda estamos
esperando o neurologista que está chegando para podermos contar com sua
opinião.
-- Então
não há nenhuma novidade?
O homem
fez um gesto negativo com a cabeça.
--
Infelizmente não houve nenhum progresso. – Fitou a recepcionista. – Pode vê-lo
se desejar, agora preciso urgentemente ir para sala de cirurgia.
Ana
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Eu juro que seu pai sorriu para mim! – A loira insistia quando estavam
sozinhas. – Esses médicos estão negando a realidade. – Entre lá, acho que ele
vai gostar de te encontrar.
A
ruiva fez um gesto negativo com a cabeça e já estava se afastando, mas a outra
lhe deteve pelo braço.
--
Almoce comigo, quero te agradecer por ter ficado comigo naquela noite.
Ana
desvencilhou-se do toque.
--
Apenas tenho compromissos.
--
Com sua esposa? – Lorena indagou curiosa. – Estranho, pois Miguel me disse que
a encontrou ontem e que ela parecia disposta a reatar a relação...
O
maxilar da ruiva enrijeceu.
-- O que
você está tramando hein? – Segurou-lhe pelo braço. – Se eu souber que fez algo...
--
Algo para quê? – Indagou com um sorriso. – Me conte o que se passa e não me
venha com ameaças.
--
Mantenha-se longe da minha esposa e de mim.
--
Não entendo sua raiva...apenas disse o que Miguel me falou.
Ana
Valéria saiu sem falar mais nada, deixando a loira ponderando. Então, Gabriele
não contara nada para a esposa sobre o que tinha visto, caso tivesse feito,
naquele momento a ruiva tinha partido com mais violência.
Branca foi até
a mansão naquela tarde. Tinha estado com Ana Valéria na hora do almoço e a
ruiva lhe contara tudo o que tinha acontecido.
Encontrou
Gabriele no jardim. Lia um livro, parecia bastante concentrada.
Ao perceber a
aproximação de Branca, Gabriele levantou o olhar, demonstrando surpresa
misturada a uma certa cautela. O silêncio entre elas durou alguns segundos,
interrompido apenas pelo som distante dos pássaros no jardim. Branca, sem
rodeios, sentou-se ao lado da amiga e respirou fundo, demonstrando que trazia
algo importante para compartilhar.
-- Imagino que
tenha vindo especular em nome da sua chefe.
-- Não, ela me
contou o que se passa e pediu para que não viesse, porém eu acabei vindo assim
mesmo.
-- E onde ela
está? – Questionou aborrecida. – Mandou você em busca de respostas.
-- Foi se
depilar, sabe como ela tem problemas com pelos.
A Bamberg
corou, mas não falou nada sobre o assunto.
-- Gabi, o que
houve?
A jovem deixou
o livro de lado. Pensou em contar tudo a administradora, mas sabia que ela
contaria a empresária e não estava disposta a escutar as mentiras da esposa
novamente.
Ela hesitou,
mordendo o lábio inferior, e desviou o olhar para o gramado bem cuidado à sua
frente. Por fim, balançou a cabeça devagar e, num tom baixo, respondeu:
-- Tem coisas
que não dá mais para esconder, Branca. Algumas verdades, por mais dolorosas que
sejam, precisam vir à tona...uma delas é que não desejo continuar com esse
casamento. – Não conseguiu segurar as lágrimas. – Por favor, eu imploro, peça
para que a baronesa me deixe partir.
Branca se
surpreendeu com a confissão, sentindo o peso das palavras da amiga.
Aproximou-se um pouco mais, oferecendo o ombro para Gabriele, que chorava
silenciosamente. Sem saber ao certo o que dizer, Branca apenas segurou sua mão,
transmitindo apoio e compreensão.
O ato
continuou por longos segundos, mas logo a jovem se afastava.
-- Estou
cansada de tudo isso...quero um pouco de paz para a minha vida. – Levantou-se. –
Estou cansada de me submeter às vontades da baronesa, eu desejo viver a minha
vida.
-- Eu não
acredito que deixou de amá-la... – A Wasten falou. – Uma pena que não me conte
o que realmente está acontecendo. – Lamentava. – Estive hoje com a Ana e ela
está muito abalada, mesmo que tente não demonstrar.
Gabriele
suspirou fundo, lutando para recuperar a compostura diante das palavras de
Branca. Mesmo assim, o peso do segredo que carregava parecia insuportável. Ela
enxugou as lágrimas com as costas da mão e tentou, sem sucesso, reunir coragem
para explicar os detalhes que a atormentavam.
-- Vai ser
melhor para nós duas que isso tudo acabe...eu...eu não quero mais...apenas
isso...
Branca viu a
jovem afastar-se, mas não a deteve.
Lembrava-se
das palavras de Trevan, talvez ele soubesse de algo.
Já era tarde
da noite quando Gabriele percebeu que a esposa tinha retornado. Ouvia o barulho
nos aposentos adjacentes. Ouviu o som do violino e o latido de Pandora.
Tinha
cochilado com a TV ligada.
O cômodo
estava mergulhado em uma penumbra suave, apenas a luz azulada da televisão
iluminava o rosto cansado de Gabriele. O silêncio era interrompido apenas pelo
som ocasional das cenas. Embora sentisse vontade de se esconder sob as cobertas
e esquecer do mundo, sabia que cedo ou tarde teria que enfrentar as perguntas
que pairavam no ar, aquelas que vinham tanto de Branca quanto de Ana.
Levantou-se e foi
até a jarra de água, bebendo um pouco do líquido. Depois caminhou até a porta, passando
a chave. Não queria que a esposa fosse até lá.
O peso da
solidão parecia ocupar todos os cantos do quarto, feito névoa densa que se
recusava a dissipar. Gabriele sentou-se na beira da cama, sentindo o frio do
chão sob os pés descalços, e abraçou os joelhos junto ao peito. Os pensamentos
rodopiavam sem trégua, trazendo memórias recentes e antigos receios, enquanto o
som distante do violino misturava-se ao pulsar inquieto de seu coração. Ela
desejava, mais do que tudo, que aquela noite trouxesse algum alívio, ainda que
breve, para as dúvidas que a consumiam.
A melodia
delicada continuava. Não era a mesma que ouvira outras vezes, essa era
diferente, triste.
Novamente,
sentia as lágrimas molharem sua face.
A angústia que
tomava conta de si era profunda, a ponto de fazê-la duvidar de sua própria
capacidade de suportar tamanho sofrimento. Seu amor por Ana Valéria era
intenso, quase desesperado, mas esse sentimento não era suficiente para fazê-la
aceitar estar envolvida em uma trama de jogos de poder e ambições alheias. Para
ela, seria preferível enfrentar toda a dor de um coração partido do que se
resignar a ser apenas mais uma peça no tabuleiro da baronesa. A dignidade e o
respeito próprio falavam mais alto, ainda que o preço fosse o sofrimento.
Ana
Valéria afagava o pelo da cadela que estava aos seus pés. Deixou o violino de
lado.
Estava
sentada na poltrona.
Não
estava com sono, mesmo depois de ter ingerido quase uma garrafa inteira de
vinho.
O silêncio
entre as duas era pesado, carregado de tudo o que não era dito. Ana Valéria
olhou para o teto, sentindo o peso da noite sobre os ombros. Tentou buscar
algum consolo no olhar da cadela, mas sabia que, por mais fiel que fosse,
aquele animal não poderia ajudá-la a decifrar os sentimentos conflitantes que a
atormentavam. O vinho, embora tivesse trazido um breve entorpecimento, agora
parecia apenas acentuar a sensação de vazio e incerteza que preenchia o
ambiente.
Não acreditava
que a esposa a deixara de amar. Pensava o tempo todo nos momentos que ficaram
juntas, até mesmo quando estava desmemoriada e a Bamberg mesmo assim estivera
consigo.
Observou a
porta que as separava.
Trôpega, foi
até lá e tentou abrir, mas estava fechada. Decerto, ela o fizera há pouco
tempo, pois estivera lá e a tinha visto dormindo.
-- Gabriele, quero
falar contigo...abra a porta, por favor...
Do outro lado,
a neta do barão ouvia o pedido, ficando inerte.
Gabriele
permaneceu imóvel por alguns instantes, hesitando entre ceder ao apelo da
esposa ou manter-se firme em sua decisão. O som da voz de amada, embargada pela
emoção e pelo vinho, ecoava pelo corredor escuro, misturando-se ao silêncio
sufocante da casa. Lá dentro, a dúvida pulsava: abrir a porta significaria
confrontar seus próprios sentimentos, assumir a vulnerabilidade e talvez
permitir que tudo mudasse, para o bem ou para o mal.
-- Eu sei que
está acordada, meu amor, por favor, só quero conversar... – Ana pedia.
O silêncio
permaneceu, mas um leve rangido indicou que a chef de cozinha se aproximava da
porta, talvez para escutar melhor ou apenas para sentir a presença da Del La
Cruz do outro lado. A tensão entre as duas era palpável, como se cada
respiração trouxesse consigo o peso de todas as palavras não ditas. Ana Valéria
apoiou a testa na madeira, esperando que o gesto trouxesse algum alívio.
-- Por favor,
Gabi...deixe que eu entre...me deixe ficar ao seu lado...
O som das
palavras sussurradas parecia fazer a madeira vibrar, transmitindo o desespero
de Ana Valéria para o outro lado. Gabriele segurou a maçaneta, os dedos
trêmulos, sentindo a pressão daquele momento em que tudo poderia se despedaçar
ou finalmente se recompor. O ar pesado entre elas era feito de amor, mágoa e
esperança, enquanto a noite se arrastava lentamente, testemunha silenciosa da
batalha entre o orgulho e o desejo de reconciliação.
Decidida,
voltou para a cama, deitando-se, cobriu a cabeça com o travesseiro. Não queria
ouvir, não queria pensar, só desejava esquecer tudo aquilo.
Mas, mesmo com
o travesseiro abafando os sons, o coração batia forte demais para que o
silêncio reinasse. Lágrimas silenciosas escorreram pelo seu rosto enquanto
lembranças dos momentos felizes invadiam sua mente, tornando impossível ignorar
o turbilhão de sentimentos que a consumia. Sabia que se fosse tocada, acabaria
cedendo a vontade de se entregar a paixão que continuava a queimar em sua
interior.
Ana Valéria
caminhou de volta a poltrona, bebendo o resto do vinho no gargalho da garrafa.
Era manhã
de segunda-feira.
Naquele
dia a diretoria da empresa fora convocada para expor as mudanças que ocorreriam
após a leitura da segunda parte do testamento do barão.
Gabriele
não quisera ir até lá, mas não tinha escolhas quanto a isso. Otávio estava ao
seu lado e Branca não parecia ter gostado muito do que via.
A
administradora tinha ligado para ruiva várias vezes, mas ela não atendera.
Precisara pedir a Clarice para ir até a filha para saber se estava tudo bem.
--
Uma falta de respeito da presidente da corporação com todos os presentes. – O advogado
instigava. – Uma empresária que não consegue cumprir seus próprios horários não
parece boa para liderar uma empresa como essa.
A
Wasten enviou-lhe um olhar de advertência, depois deixou a sala de reuniões.
Gabriele
via o semblante preocupado da administradora. Começava a pensar se algo tinha
acontecido com Ana Valéria.
Na
noite passada, ela não voltara a chamar, nem mesmo ouvira o violino. Pensou em
ver se estava tudo bem, mas não teve coragem.
A
porta abriu-se e para seu alívio viu a ruiva aparecer ao lado da administradora.
Viu-a
evitar seu olhar, então baixou a cabeça.
--
Bem, acredito que já podemos começar. – Otávio falava. – Claro que antes
esperamos um pedido de desculpas da presidente.
Gabriele
viu o sorriso carregado de sarcasmo da baronesa. Observou-a como estava linda,
mesmo com a expressão cansada. Usava os óculos de aro dourado. Os cabelos
estavam soltos. Vestia um daqueles terninhos que a deixava ainda mais séria.
Se
tivesse aberto a porta na noite passada não teria resistido ao desejo de
senti-la. Amava-a tanto e a desejava na mesma proporção.
--
Não tenho tempo para desculpas... – Ana fez um sinal para a Wasten.
Branca
entregou as pastas a todos os presentes, depois se acomodou em sua cadeira.
Alguns
minutos se passaram e todos pareciam surpresos diante do que viam.
--
Está abdicando da cadeira de presidente da empresa? – Um dos sócios indagou
surpreso e preocupado. – Não acredito que entre todos os acionistas exista
alguém que consiga gerir tão bem essa corporação.
A
ruiva cruzou as pernas.
--
Não concordo, afinal, Gabriele agora tem metade de tudo aqui, creio que ela
possa ser a presidente. – Otávio dizia vitorioso. – Com meu apoio isso poderia
acontecer.
--
Bem, eu não sei quem vai ser o presidente, o que sei é que não serei mais eu. –
Ana falava. – Tenho outros negócios que requer minha atenção.
--
Concordo que não tem outra pessoa que possa cumprir com esse trabalho tão bem,
baronesa. – Gabriele disse, fitando-a. – Estive a frente dessa empresa quando
esteve desaparecida e sei como os ganhos triplicaram sob sua liderança, então
eu não aceito que deixe a presidência.
Os
olhos claros a fitaram por incontáveis segundos. Desejou que não houvesse mais
ninguém naquela sala naquele momento, queria poder senti-la, como quisera na
noite passada, como ansiara por tê-la, por amá-la.
--
Minha decisão está tomada, senhora.
Um
burburinho instalou-se na sala.
Branca
permanecia em silêncio. Sabia que a Del La Cruz iria deixar a presidência,
apenas não imaginara que anteciparia essa decisão.
O clima ficou
tenso, com olhares trocados e murmúrios crescentes entre os acionistas. Alguns
tentavam convencer Ana a reconsiderar sua posição, enquanto outros já começavam
a discutir possíveis alternativas para o futuro da liderança. A incerteza
pairava sobre todos, tornando o ambiente carregado de expectativa.
A ruiva não
parecia interessada em ficar na sala. Levantando-se deixou o recinto.
-- Você é o
melhor nome para liderar essa empresa. – Otávio confidenciava no ouvido da neta
de Bernard. – Aceite.
Gabriele
levantou-se e foi atrás da esposa.
Parou diante
da secretária.
-- A senhora
Ana foi para sala dela e pediu para não ser incomodada. – A mulher falou. –
Pegou alguns analgésicos e foi até lá.
A Bamberg
olhava para a porta cerrada.
-- Abra-a para
mim, preciso falar com ela.
-- Não posso,
senhora, me perdoe, mas ela deixou claro que não deveria deixar ninguém entrar,
nem mesmo a senhora Branca.
A chef de
cozinha assentiu, seguindo em direção ao escritório da Wasten, encontrou-a
arrumando alguns papéis.
-- Que
palhaçada é essa agora? – Gabriele indagou furiosa. – O que se passa com a sua
chefe?
-- Bem, você
não viu? Ela decidiu te entregar a presidência da empresa.
Gabi apoiou as
mãos sobre a mesa.
-- Eu não
quero isso, nunca quis.
-- Mas acha
que ela só te quer porque herdou metade de tudo que era do Bernard, está aí a
prova de que não tem nada a ver os sentimentos da baronesa com sua herança. –
Retrucou aborrecida. – Você agora enxerga algo?
-- Peça que
ela abra a porta, quero que ela reconsidere essa decisão.
-- Sinto
muito, mas não o farei, você mesma tente falar com ela.
A jovem respirou
fundo, enquanto deixava a sala.
Na
mansão o jantar foi servido pontualmente às dezenove.
Gabriele
não fora ao restaurante, pois não abria às segundas-feiras.
Clarice
conversava animadamente com Lia e Luna parecia muito interessada em sua
refeição.
A
Bamberg pensou em perguntar sobre a esposa, mas pelo que tinha visto ela não
estava na mansão.
Ainda
não entedia o motivo de ela ter entregado a presidência da empresa.
Tomada por um
sentimento de inquietação, Gabi sentiu o peso do silêncio no ambiente. O aroma
delicado dos pratos preenchia a sala, mas nenhum deles despertava seu apetite.
Ela percebeu os olhares furtivos trocados entre Clarice e Lia, e, por um
instante, sentiu que um segredo pairava no ar, denso e não revelado.
-- Tudo bem,
filha? não tocou na comida. – A mãe de Ana Valéria questionou.
A chef de
cozinha fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Na verdade,
estou com um pouco de dor de cabeça. – Levantou-se. – Acho que não há problemas
em subir e descansar um pouco.
-- Claro que
não! – Clarice respondeu. – Cuidarei da Luna.
A jovem
assentiu.
Despediu-se de
todos, beijando a filha, depois deixou a sala.
O clima permaneceu suspenso por
alguns instantes após sua saída, como se todos esperassem que algo fosse dito,
mas ninguém ousava quebrar o silêncio. Lia desviou o olhar para a janela,
observando o jardim iluminado pela luz suave do entardecer, enquanto Clarice
mexia distraidamente em seu copo, perdida em pensamentos. Luna, por sua vez,
continuava alheia, entretida com os sabores em seu prato.
Gabriele
entrou nos aposentos e ficou surpresa ao ver a ruiva diante penteadeira, arrumando
os cabelos avermelhados. Parecia que tinha acabado de sair do banho.
Ana Valéria a
fitou pelo reflexo do espelho.
-- Pensei
que não estivesse em casa...
-- Se
soubesse teria fechado a porta como fez na noite passada? – Ana Valéria indagou
com um sorriso sarcástico.
Gabriele
sentiu um leve desconforto com a lembrança, mas tentou disfarçar,
aproximando-se lentamente da penteadeira. O ambiente estava impregnado pelo
aroma suave do sabonete, misturado ao perfume fresco de Ana Valéria. Ficou em
silêncio por um instante, observando os detalhes do quarto, antes de responder
com voz baixa:
--
Provavelmente...
-- Por que tem
medo de eu te atacar ou de não resistir ao desejo que sente?
O silêncio que se seguiu pareceu
pesar ainda mais sobre Gabriele, fazendo seu coração acelerar. Ela hesitou
antes de responder, desviando o olhar para as mãos e sentindo um calor súbito
subir pelas bochechas.
-- Desejo saber o motivo de ter
deixado a presidência. – Falou mudando bruscamente de assunto.
-- Porque eu quis!
A resposta
direta de Ana Valéria não satisfez Gabriele, que permaneceu ponderando,
procurando entender o que realmente estava por trás daquela decisão inesperada.
O olhar de Ana Valéria era firme, mas havia uma sombra de melancolia em seus
olhos, como se guardasse uma verdade que não queria revelar.
A
ruiva levantou-se e já caminhava para os aposentos adjacentes, mas foi detida
pelas palavras da esposa.
--
Até quando vai querer levar essa relação?
--
Até você me falar a verdade, então farei como deseja, enquanto mentir para mim,
continuarmos com nosso casamento.
--
Não acha que precisar usar de ameaças para manter uma mulher ao seu lado é algo
muito humilhante?
Ana
Valéria a segurou pelo braço bruscamente.
--
Não teste a minha paciência, freirinha, pois ela já está no limite com suas
mentiras...estou ficando cansada das suas provocações.
--
E o que vai fazer?
--
Não pague para ver, não acho que vai te agradar.
--
Não tenho medo! – Respondeu, erguendo orgulhosamente a cabeça. – Não temo suas ameaças.
O silêncio
entre as duas tornou-se pesado, quase palpável. Por um instante, pareceu que o
tempo havia parado naquele cômodo, onde só restavam as palavras não ditas e os
olhares carregados de mágoa. Apesar da tensão, ambas sabiam que o confronto era
inevitável e que nenhuma delas estava disposta a recuar.
-- Não irei
discutir contigo! – Ana afastou-se. – Continue mentindo, dizendo que não me
ama, talvez você acabe acreditando e eu também.
A baronesa
seguiu até o closet, pegando uma muda de roupa.
-- Para onde
vai uma hora dessas? – Gabriele não conseguiu ficar quieta, sentindo o ciúmes
queimar em seu interior.
A ruiva
livrou-se do roupão diante do olhar feminino, totalmente nua, exatamente a
imagem de Afrodite que seduziria qualquer ser humano que tivesse sangue em suas
veias.
Gabriele
desviou o olhar, enquanto prendia o fôlego. O coração estava acelerado, assustado,
enquanto seu corpo vibrava.
-- Vou à casa
da Branca, pois a última coisa que desejo é passar a noite me humilhando para
você.
O silêncio
voltou a preencher o ambiente, mas desta vez carregado de uma tristeza
resignada. Os passos de Ana ecoaram pelo quarto, determinados, cada movimento
denunciando o abalo que sentia, embora tentasse esconder sob uma postura
altiva. Gabriele permaneceu imóvel, lutando para conter as lágrimas e o impulso
de pedir que ela ficasse.
A
boate estava cheia. A música alta, as luzes coloridas no palco preenchiam os
espaços.
O
grito dos clientes era compreensivo diante da dança sensual que se desenrolava
no palco. Os garçons chegavam a se bater na correria de servir a todos.
Tati
acompanhava tudo do balcão, porém sua cliente mais que especial estava isolada
de todos. Ocupava uma mesa reservada e demonstrava total tristeza contrastando
com a alegria do lugar.
Pegou
um copo e seguiu até a amiga, acomodando-se ao seu lado.
--
Não sei se aqui é um lugar para uma empresária tão respeitável. – A moça a
provocou com um sorriso.
Ana
Valéria mexia na borda do copo delicadamente.
--
Eu já estive naquele palco...—Fitava as dançarinas. – Creio que superou as
expectativas sua contratação.
--
Gostou? – Piscou ousada. – Também gostei, mas tive problemas com a Hellen
quando a viu.
--
Como se você tivesse olhos para outra a não ser para sua chef de um metro e
meio. – Riu.
A
sobrinha do Índio sabia o que se passava na vida da amiga. Antes de começar o
show naquela noite, tiveram uma conversa e a Del La Cruz contara tudo o que
tinha acontecido.
--
Já tentou conversar com a Gabriele?
Ana
fez um gesto para o garçom que prontamente lhe trouxe mais uma bebida.
A
ruiva bebeu todo o conteúdo, parecia que não desejava falar sobre a esposa, não
queria nem mesmo pensar na Bamberg. Estava irritada por não saber o que
realmente tinha acontecido, por estar sendo condenada em um processo que nem
mesmo lhe fora dado o direito de defesa.
--
Não desejo falar sobre aquela freirinha de quinta categoria.
--
Ana, é óbvio que aconteceu algo e isso é a causa de todo esse problema...tente
conversar mais uma vez, fale como a ama, talvez isso a ajude a dizer o que se
passa.
--
E acha que já não tentei? – Indagou com impaciência. – Ela só fala que não me
ama, que enjoo de mim, que deseja ir embora...toda vez me fere um pouquinho
mais.
Gabriele
tentava se concentrar em um livro, mas seus olhos vez e outra passavam para o
relógio da cabeceira. Já era muito tarde e não havia nem sinal de Ana Valéria.
Não
entendia o motivo de se preocupar tanto, afinal, era melhor que não estivesse
em casa, não desejava nem mesmo vê-la, pois temia não resistir ao desejo que
sentia de tê-la por perto.
Suspirou.
O
melhor era tentar dormir e não ficar imaginando situações que a deixavam cada
vez mais ansiosa.
Chegou
a pensar em mandar mensagens para Branca, porém não seria interessante, pois a
administradora se mostrava irritada com toda a situação.
Ouviu
o bip no celular e ficou surpresa ao ver uma mensagem da amiga. Abrindo-a viu a
imagem da Del La Cruz.
“
Acho que sua esposa não vai conseguir dirigir para casa.”
Imediatamente,
a Bamberg reconheceu o lugar onde a esposa estava.
“
Vim ver a Tati e encontrei a ruiva desolada e bêbada...”
Gabriele
pensou em ignorar, mas não conseguiu, então escreveu:
“
Desde que horas ela está aí?”
Alguns
segundos se passaram até receber a resposta.
“
Pelo que me disseram, assim que abriu ela já estava por aqui.”
Então,
ela não foi para a casa da Branca, foi direto para a boate.
“Você
deveria vir buscá-la, amiga, imagina se ela decide dirigir.”
A
neta do barão sentiu inicialmente o impulso de ir até lá, até mesmo levantou-se
da cama, mas depois voltou a sentar. O que falaria indo até lá?
“
Não irei a lugar nenhum, ela já é bem grandinha para saber que não deve dirigir
nessas condições.”
“Gabi,
você acha mesmo que a Del La Cruz te traiu com a Lorena? Amiga, olha como essa
mulher está destruída desde que a deixou...pelo menos conte a ela o que você
viu, deixe que explique o que aconteceu realmente.”
“
Para ela mentir? Para dizer que é armação?”
“
E se for? Afinal, sabemos muito bem que Otávio odeia a Ana e poderia sim armar
tudo isso para acabar com a relação de vocês.”
A
Bamberg deixou o aparelho móvel de lado. Caminhou até a varanda.
Pensava
dia e noite sobre tudo o que tinha acontecido, sobre as cenas que tinha visto,
sobre o beijo que Lorena tinha dado na esposa. Essas imagens a perseguiam,
machucavam-na como se uma faca estivesse sendo enfiada em seu coração a cada
lembrança.
Deitou-se
na poltrona, encolhendo-se como uma criança amedrontada. Se tudo aquilo fosse
realmente uma armação? Teria destruído sua relação por culpa de mentiras, por
não ter permitido que a ruiva lhe explicasse...
Mas
tinha visto tudo, não fora lhe contado apenas, viu até mesmo as imagens da
câmera em tempo real, confirmara com o porteiro sobre a presença da esposa no
apartamento.
Novamente,
deu vasão às lágrimas que pareciam incontidas mais uma vez.
Na
manhã seguinte, Ana Valéria chegou cedo à empresa.
Dormira
na boate e pedira para o motorista lhe levar uma muda de roupa. Precisava
organizar tudo para a transição da presidência.
Não
estava deixando à corporação apenas por estar cansada de ter que administrar os
bens que o barão tinha deixado, estava fazendo isso para se dedicar a construtora
que tinha comprado. Sabia que podia tirá-la da falência e esse era o desafio
que ansiava naquele momento.
No
decorrer daquela longa semana, sempre retornava tarde para a mansão, mas não
deixara de ficar lá um único dia. Não tinha encontrado Gabriele mais, porém
sabia que ela estava nos aposentos, via quando ela chegava tarde, depois de vir
do restaurante. Não podia negar que vez e outra ia até a porta e sempre
constatava que permanecia fechada.
Antônio
continuava no hospital. Não havia nenhum avanço em seu quadro, continuava em
estado totalmente vegetativo. Sempre ligava para o hospital para saber sobre o
pai, mas não tinha voltado lá.
O
dia já estava terminando, naquela sexta-feira. A Del La Cruz tinha aceitado o
convite para jantar com Tati e o Índio, mas antes de deixar o escritório
recebeu a ligação de Branca avisando que Gabriele tinha sofrido um acidente e
estava no hospital.
A
ruiva saiu imediatamente e chegando lá, encontrou a administradora na recepção.
--
O que houve? – Perguntou preocupada. – Onde ela está? – Olhava de um lado para
o outro.
--
Calma, ela está bem, apenas sofreu uma queda quando foi trocar um lustre lá no
restaurante.
--
Trocar lustre? – Indagou em perplexidade. – Só podia ser ideia da freirinha
esse tipo de coisa. – Passou a mão pelos cabelos. – E o que o médico disse?
Onde está?
--
Machucou a perna, então provavelmente vai ficar de muletas por alguns dias.
Ana
Valéria olhava de um lado para o outro, então viu a esposa vir em sua direção. Usava
muletas e havia um curativo na lateral da cabeça.
Gabriele
viu a ruiva e sentiu uma certa alegria, pois fazia tempo que não a via.
--
Ótimo, ela já parece bem, agora tenho que resolver alguns problemas. – Branca falou,
enquanto dava um beijo nas duas mulheres e saia rapidamente.
A
Del La Cruz fitava a bela mulher e sentia uma vontade enorme de abraçá-la, mas
se conteve, sabia que não poderia fazê-lo. Ficara desesperada quando soube do
que tinha acontecido, pensando que poderia perdê-la.
--
Eu te levo para casa... – Disse por fim.
A
neta do barão fez apenas um gesto afirmativo com a cabeça, seguindo ao lado da
esposa.
Lia
e Clarice não poupavam mimos para a jovem enferma, até mesmo Luna fazia o mesmo
com a mamãe.
Gabriele
ria com os cuidados exagerados, mas não podia negar que estava gostando.
--
Então, agora seu trabalho é de eletricista? – A cozinheira a repreendia. –
Merece umas boas palmadas.
Luna
era a responsável para alimentar a jovem, até fazia “aviãozinho” para animá-la.
A
Bamberg ouviu o som de Pandora, sinal de que a esposa estava no quarto.
Quando
fora trazida do hospital nenhuma palavra fora dita, vieram em total silêncio.
Não evitara olhar para o perfil sério e bonito que parecia ter sua atenção
total no trânsito.
Não
podia negar que sentira falta dela todos aqueles dias, que desejara vê-la
apenas para saber se estava tudo bem. Mesmo sabendo que em nenhum momento ela
deixara de dormir em casa, não negava que continuava a sentir um ciúmes descontrolável
só em pensar que a amada estava nos braços de Lorena por algum momento.
Otávio
sempre lhe dizia que tinha visto a ruiva com Paloma, parecia sempre pronto para
envenená-la cada vez mais com seus comentários.
Deus,
por que tudo isso só fazia amá-la ainda mais?
Todos
se despediram, pois já ficavam um pouco tarde. Clarice ficara responsável por
colocar a neta para dormir.
Já
sozinha em seu quarto, Gabriele seguiu até a varanda. A noite estava com um céu
claro e uma lua cheia e brilhante.
Fitou
o anelar...
Não
usava mais a aliança, porém em todas as vezes que tinha visto a ruiva, ela
continuava com seu aro dourado.
--
Não deveria ficar em repouso?
A
voz baixa e rouca soou tão próxima que ela se virou assustada, vendo a ruiva a
apenas alguns centímetros de distância.
Os
cabelos estavam molhados e usava roupão. O aroma delicioso invadiu suas
narinas.
--
Quis tomar um pouco de ar... – Respondeu simplesmente. – Vai sair? – Indagou tentando
esconder a ansiedade.
--
Não, afinal, alguém precisa cuidar de você...—Arrumou-lhe um cacho que tinha se
soltado do cabelo preso.
Gabriele
se encolheu temendo o toque.
--
Não vou te machucar, meu amor... – Passou o dedo indicador sobre o machucado. –
Fiquei tão assustada quando soube que tinha se ferido...eu mesma preferiria que
tivesse sido comigo...
A
Bamberg mirava os olhos claros que pareciam mais brilhantes que as estrelas.
--
Vem, não deve ficar muito tempo em pé, precisa se cuidar...
A
jovem assentiu e caminhou devagar para o quarto, usando as muletas. Sentou-se
na cama.
A
ruiva guardou as muletas, depois arrumou os travesseiros para que ela deitasse,
ajudando-a. Os olhos da esposa baixaram diante da proximidade.
--
Vou para o meu quarto...se precisar de algo pode me chamar... – Afastou-se. –
Deixe a porta aberta...não vou te incomodar...
Gabriele
mordiscou a lateral do lábio inferior, fê-lo para evitar de chamá-la, fê-lo
para evitar de pedir que ficasse e dormisse ao seu lado.
Passou
a mão pelos cabelos, imaginando por quanto tempo resistiria em tê-la tão perto
de si.
Na
manhã seguinte, Lia não fora até os aposentos para ajudar no banho da Bamberg,
mas Ana Valéria apareceu cedo para cuidá-la.
--
Não irei tomar banho com a sua ajuda! – A jovem negara-se. – Só o farei depois.
A
ruiva estava sentada na poltrona diante da cama. Tinha acordado cedo, mas ainda
não trocara a camisola que vestia. Preta, com um decote que moldavam bem os
seios e tendo o cumprimento na metade das coxas.
--
Não entendo o motivo de agir assim, Gabi, não irei fazer nada que macule sua
honra...—Disse com um sorriso. – Posso até fechar os olhos se assim te fizer
feliz.
A
jovem observava a beleza sensual diante dos seus olhos, incomodava-se tanto com
sua presença e com sua forma de agir que chegava a temer sua presença, mesmo
que agisse de maneira comportada.
--
Agradeço, mas não quero, prefiro a ajuda da Lia.
--
Ok! Irei até o meu quarto, preciso tomar um banho e depois terei que ir ao
hospital.
--
Encontra a Lorena? – Acusou-a.
Os
olhos claros estreitaram-se perigosamente. Aproximou-se do leito.
--
O que insinua?
--
Eu não insinuo nada, baronesa, só fiz uma pergunta...
--
Eu não estou acreditando que está insinuando que eu tenha algo com a Lorena
depois de tudo o que aconteceu...
--
E por que seria tão difícil algo assim acontecer, ela é uma mulher muito
bonita.
--
Eu não teria nada com ela, na verdade, nem com ninguém, afinal, já tenho uma
esposa mais que suficiente para satisfazer meus desejos. – Suspirou. – E não
tenho vontade de fazer sexo com nenhuma outra...na verdade, só desejo fazer
contigo.
Gabriele
corou diante do que ouvia. Pensou em responder com grosseria, mas apenas ficou
em silêncio, vendo-a voltar para o outro quarto.
--
Não consegui falar com o Miguel! – Otávio dizia preocupado.
Estava
na mansão de Antônio com Lorena. Ana Valéria tinha pagado as promissórias,
mesmo assim ainda não tinha expulsado a irmã de Trevan de lá.
--
Precisamos dele, seria ótimo que Gabriele se envolvesse com ele, assim, a fúria
da baronesa aumentaria. – A loira dizia. – Vá ao convento, fale com a tia dele,
devem saber algo.
--
Irei amanhã mesmo, ainda mais agora que a Gabi está prestes a ser a nova
presidente da corporação.
--
A Ana Valéria não precisa da herança do barão, tem muito mais que isso.
--
E nós vamos tomar tudo isso, pois o divórcio vai acontecer e eu pedirei tudo o
que ela tem... – Riu.
Já
era noite, bem tarde e a ruiva não tinha aparecido nos aposentos da esposa.
Gabriele
sabia que ela estava lá, tinha chegado cedo e ficara com Luna durante boa parte
da tarde, mas não fora até lá.
A
porta não estava trancada, mesmo assim, não tivera sua presença.
Deixou
o livro que estava lendo de lado, tinha perdido o interesse.
Suspirou.
Sentou-se
com as pernas para fora da cama. Observava a perna. Não podia forçá-la ainda,
mas sua vontade era de voltar ao restaurante, assim poderia preencher sua mente
com trabalho.
Pegou
as muletas, levantando-se.
Ouviu
sons vindo do quarto da esposa...
Aproximou-se,
temendo que ela não estivesse bem. Segurou a maçaneta, mas hesitou em abri-la.
Ouviu
a respiração acelerada vindo do quarto.
--
Ana Valéria... – Chamou-a baixinho.
Passaram
alguns segundos, uma eternidade na verdade na cabeça da Bamberg, e quando se
preparava para entrar, a porta abriu-se.
Fitou
a ruiva. Estava corada e suada. Os cabelos avermelhados em desalinhos. Parecia
ainda mais bela. Observou o roupão que usava, parecia ter sido vestido às
pressas.
--
Aconteceu algo? – A baronesa indagava apreensiva. – Precisa de algo? Sua perna
está doendo?
Gabriele
fez um gesto negativo com a cabeça.
--
Eu ouvi sons...
Foi
naquele momento que ela entendeu o que estava acontecendo no quarto da esposa.
Sentiu um frenesi na espinha, imaginando a deliciosa cena de vê-la satisfazer o
próprio desejo sozinha.
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