A antagonista - Capítulo 29


 

 

O apartamento estava meio escuro. Sentia-se o cheiro de bebida embriagante. O som do violino continuava sereno. Na TV as mesmas cenas continuavam a se desenvolver como se paradas no tempo.

Gabriele estava parada lá a observar tudo. Sua presença não tinha sido notada pela empresária que estava sentada no sofá, tocava seu instrumento musical, imitava os acordes que apareciam no vídeo.

Mais uma vez era possível ver a bela adolescente ruiva descendo as escadas tocando a canção dos anjos. Antônio aproximava-se orgulhoso, tendo um brilho de satisfação em seu olhar, sabendo que sua filha era invejada por muitos, não apenas por sua beleza, mas inteligência inigualável.

O que teria acontecido se Lorena não tivesse entrado na vida da Del La Cruz?

Esse era um questionamento que se passava na cabeça da neta do barão, enquanto observava cada detalhe do filme que se desenvolvia.

Talvez, Ana Valéria nunca tivesse passado por tudo aquilo. Decerto, teria continuado seu treinamento para assumir os negócios da empresa. Não haveria dúvida de que faria isso perfeitamente, como veio fazendo com tudo que tinha herdado de Bernard. Poderia ter casado com alguém que não a ferisse, quem sabe teria sido feliz...

Observou o sorriso brilhante da debutante.

Sempre fora linda!

Teria se apaixonado pela empresária se não tivesse sido obrigada a ficar naquela casa ao seu lado?

Mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto se recordava da primeira vez que seus olhos cruzaram com os dela. De como chegara a odiá-la em alguns momentos...de como desejara cuidá-la quando a viu tão abalado após suas crises.

Será que se Lorena não tivesse destruído a vida da ruiva o caminho das duas teriam se cruzado?

Limpou uma lágrima ao ver a entrevista da família Del La Cruz.

O patriarca não parecia alguém tão cruel naquele momento.

Como ele conseguira viver todos aqueles anos sabendo que sua filha padecia em um inferno?

Branca falara que em uma única ocasião Antônio estivera no manicômio e pelo que ouvira de Ana Valéria em seus momentos de crises, ele chegara a incitá-la a acabar com a própria vida.

Por que tanta maldade?

Umedeceu o lábio superior demoradamente.

Bernard não ficara atrás em sua crueldade.

Ainda sentia o estômago revirar quando lembrava de cada palavra daquela carta. Como alguém seria capaz de agir daquela forma só para destruir o orgulho de alguém? Tirou-lhe a criança que esperava como se a vida não importasse. Sim, ele matara duas vezes, pois tirara as esperanças que a ruiva tinha de recomeçar. Ele sabia que o filho que ela carregava seria suficiente para lhe dar ainda mais força para lutar. Não bastava isso, sabendo que morreria logo, armara tudo para que a neta assumisse seu lugar, pensando que assim perduraria ainda mais o sofrimento da Del La Cruz. Será que em algum momento ele não pensara que neta se apaixonaria por sua esposa?

De repente o som do violino não existia mais, a imagem da TV estava congelada, enquanto os olhos claros desconfiados lhe fitavam.

-- Que faz aqui? – Ana Valéria questionou levantando-se meio trôpega. – Não me lembro de ter pedido a sua presença.

A Bamberg sabia que enfrentaria a resistência da empresária. Aprendera a prever como ela se comportava quando estava ferida, quando estava sofrendo. Fechava-se em uma concha, agindo com arrogância e ironias.

Observou-a caminhar até o bar, sentando-se em um dos bancos, parecia concentrada em encher o copo com uma bebida dourada.

Pelo que via, ela nem mesmo tomara banho ainda, continuava com a mesma roupa que deixara o hospital. A blusa branca de seda tinha alguns botões abertos. Os cabelos vermelhos estavam presos em um coque solto. Estava descalça e não usava mais a calça, tendo a camisa cobrindo um pouco das coxas.

-- Não sabia que era preciso que pedisse a minha presença para eu vir... – Deixou a bolsa sobre o sofá. – Acho que o título de ser sua esposa me dá alguns direitos.

O riso de Ana Valéria era rouco e debochado.

-- Bem, eu sei que não veio me dizer que Antônio morreu, pois a Branca me manda mensagem de dez em dez minutos. – Apontou o aparelho celular.

-- E você não tem a dignidade de responder ou atender a ninguém. – Caminhou até a TV e a desligou, depois se sentou. – Não acha que já bebeu o suficiente?

A Del La Cruz fez um gesto negativo com a cabeça.

-- Eu acho que já, minha senhora, então acho melhor que vá tomar um banho...prepararei algo para que jante.

-- Ora, vai cozinhar para mim? – Indagou com um sorriso. – Ah, tinha esquecido que é uma excelente chef. – Bebeu um pouco do líquido, enquanto parecia ponderar, depois de alguns segundos falou. – Fico pensando como o barão deve estar se revirando no inferno por saber que a netinha dele é minha mulher.

Gabriele não respondeu, parecia ocupada em livrar-se do sapato que usava.

-- Bernard devia ter imaginado que você infernizaria minha vida como ele fez...—Bebeu o conteúdo de uma vez. – e você infernizou no início... – Tamborilava os dedos sobre a bancada. – Quando você esteve na minha casa e aquele desgraçado do tabelião falou que as ações que eu tanto desejava ficariam para você, eu tive vontade de te matar...

Os olhos negros a fitaram.

-- E a senhora acha que eu te amava né... – Relanceou os olhos. – Ah, por favor, baronesa, eu não suportava nem te ver.

-- Por que não? – Perguntou em um tom de voz mais alto. – Eu sempre fui uma boa visão...—Encheu o copo mais uma vez. – Vai negar que sempre gostou da visão que tinha?

-- O fato de ser bonita não é tudo o que importa sabia? – Caminhou até ela, tomando-lhe o copo. – Acho que precisa de um banho e urgente, parece que mergulhou em uma banheira de martini.

-- E se eu não quiser tomar banho? – Questionou em desafio, encarando-a. – Me obrigaria?

-- Vai tomar banho mesmo assim, minha senhora. – Tocou-lhe a face. – Não custa nada ser uma esposa obediente não é? Veja, é uma mulher tão maravilhosa...colabora um pouquinho comigo...

A ruiva encarava os olhos negros, parecia buscar algo naquela escuridão que a conduzia, que iluminava seus dias. Segurou-lhe a mão, beijando-a.

-- Ah, freirinha, eu acho que morreria por você sabia...eu não consigo imaginar minha vida sem sua petulância...sem seu sorriso...sem seus beijos...acho que posso até perdoar o barão por todo o mal que me fez já que me deu a neta...

Gabriele sentia um arrepio na nuca quando ouvia a mulher que amava falar daquela forma, era como se nada mais importasse, mesmo diante de tudo o que tinham vivido.

-- Eu não acho que mereça você, Gabi, mas eu sou muito egoísta para desistir de ter você e a pequena ruiva babona ao meu lado...—Beijou cada um dos dedos da amada. – Você também me quer na sua vida, mesmo eu sendo esse ser intratável?

-- Claro que quero, meu amor, quero muito, tanto que fico com medo de que tudo isso seja apenas um sonho...

Ana a abraçou pela cintura.

-- Eu quero que nosso casamento seja real sabe...eu sei que não sou muito fácil de lidar, porém tentarei sem mais maleável... – Tocou-lhe os cachos. – Eu sinto dor, sinto ainda que vez e outra volto a sangrar...mas quando estamos juntas tudo parece diferente...é como se o sol voltasse a brilhar nas minhas trevas...

Gabriele sentiu os olhos cheios de lágrimas diante do que estava ouvindo. Amava aquela mulher com toda a alma. Não queria mais nada em sua vida a não ser viver ao lado dela por toda sua vida, acordar e ver aqueles lindos olhos e aquele sorriso que parecia ter o poder de aliviar todo o peso das suas dores.

Sentiu os lábios tocarem os seus. Foi tão delicada a carícia que pensou que um anjo tocava todo o seu ser.

-- Vou tomar um banho...porque vou acabar te embebedando com meu cheiro. – Beijou-lhe a testa. – Me espera?

-- Claro que te espero...

A ruiva fez um gesto afirmativo com a cabeça, mas não se moveu, continuava lá, parecia interessada em ficar nos braços da jovem.

-- Eu te acho linda...

Gabriele tentava não rir vendo a esposa tão embriagada.

-- Acho que poderia passar toda a minha vida te olhando...amo a forma que sorri e abre covinhas na sua bochecha...

-- Amor, vai tomar banho vai, vou preparar algo para gente comer. – Pedia.

-- Gosto quando me chama assim...

Gabriele tentava se afastar, porém a ruiva a mantinha cativa.

-- Baronesa, eu preciso fazer o jantar, então deixa eu te ajudar...te levo ao banheiro e você toma banho.

-- Acha que eu vou cair? – Riu alto. – Eu não posso deitar ali... – Apontou para o sofá. – A gente manda limpar tudo depois...

Ela fez um gesto negativo com a cabeça. Segurou-lhe a mão e saiu praticamente puxando-a em direção ao banheiro.

A chef praticamente  estava arrastando a esposa. Abriu o box e logo foi ligando a água fria. Afastou-se para não se molhar.

Seguiu até o quarto e pegou um roupão, depois retornou ao banheiro e viu que a ruiva já tinha se livrado das roupas, ensaboava-se. Ficou lá parada, amava a esposa e amava transar com ela. Pensou em ir até lá, desejava se entregar ao desejo que queimava em seu interior, mas se o fizesse não haveria comida.

Suspirando, deixou os aposentos.

 

 

 

No apartamento de Otávio estavam reunidos Lorena e Miguel.

-- Então o barão deixou metade de tudo para a estúpida da Gabriele! – A loira dizia. – Não a suporto mais, acha mesmo que Ana Valéria a quer, queriam que vissem a superioridade que se comportara no hospital, agindo como se realmente fosse real essa relação.

O ex-noivo da Bamberg estava sentado na poltrona, parecia ponderar.

-- Agora que Antônio está doente precisamos assumir os riscos e separar as duas. – O noivo de Paloma dizia. – Já plantei a dúvida na garota, então agora só é preciso alguns episódios comprometedores.

-- Acho que a sua amada pode nos ajudar nisso, afinal, ela vive correndo atrás da baronesa.

O advogado de Bernard parecia desconfortável com a insinuação, mas acabou fazendo um gesto afirmativo.

-- Eu já acho que tudo ficaria melhor se fosse contigo... – Miguel dizia. – A Gabriele veria que mesmo com tudo o que você fez, a baronesa continua te querendo...isso é muito mais decepcionante.

-- E como vamos fazer isso? – Indagou curiosa. – A Ana não me deixa nem chegar perto, seria praticamente impossível.

-- Eu acho que o Miguel está certo, a queda seria maior se a traição fosse contigo...

-- Mas como?

-- Eu não sei, porém vou pensar bem em algo, acho que tudo seria perfeito e se conseguíssemos separá-las, tudo estaria resolvido nas nossas vidas.

 

 

 

Gabriele já tinha preparado o jantar e quando foi chamar a esposa, encontrou-a deitada na cama, dormia profundamente.

Esboçou um sorriso.

Sabia que aquele não tina sido um dia fácil, então seria melhor que a ruiva descansasse um pouco.

Observou o quarto. Era grande, espaçoso, porém muito impessoal. Não havia nada naquele lugar que pudesse denunciar que pertencia à Ana Valéria, exceto o aroma do perfume que ela usava, isso sim estava presente na atmosfera.

Caminhou pelo lugar, seguindo até a escrivaninha. Viu sua própria imagem. Viu uma cartela de remédio dentro da gaveta entreaberta, eram os medicamentos que ela precisava quando tinha suas crises. Viu umas fotografias, curiosa, pegou-as, havia várias. Sua mãe aparecia na maioria, então viu uma sua, depois de Luna...

Será que Ana Valéria a amava mesmo?

O que mais desejava era poder ficar ao seu lado junto com a filha, queria que tivessem mais filhos, ansiava por ficar para sempre ao lado da amada, vê-la com seu sorriso mesclado ao sarcasmo e arrogância, enquanto outras vezes apenas trazia a gentileza doce que a encantava.

Observou-a dormir, então decidiu deitar-se ao seu lado.

Desligou as luzes, acomodando-se junto da empresária, abraçando-a. Ouviu-a resmungar, beijou-lhe os cabelos e sussurrou:

-- Calma, baronesa, eu estou aqui e não vou sair...

Novamente a voz ébria manifestou-se.

-- Eu te amo, minha ruiva, eu te amo e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.

 

 

Na manhã seguinte, logo cedo, Branca seguiu para o hospital.

Não ficou surpresa em não encontrar Lorena continuando com sua performance de atriz. Não acreditara em nenhuma das lágrimas que tinha visto a loira verter. Não acreditava em seu amor por Antônio, sabia muito bem que se a Del La Cruz a quisesse, ela não pensaria duas vezes para ir até lá.

Seguiu pela recepção e foi surpreendida pela presença de Trevan. O homem ocupava uma cadeira e tinha uma revista no colo. Levantou a cabeça ao vê-la.

A administradora já seguia para a outra extremidade, ignorando a presença do fotógrafo, mas a voz dele a deteve.

-- Sei que não sou uma boa visão para os seus olhos, mas gostaria de lhe falar.

Ela não se virou para fitá-lo por alguns segundos, porém depois caminhou até ela, apontando-lhe o dedo indicado em riste.

-- Se Ana Valéria te encontrar aqui, vai te jogar na cadeia em menos de um minuto, então trate de ir embora.

Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Sim, eu sei que ela já tem as provas para fazer isso e acredite, senhora Wasten, eu não temo esse momento, na verdade, estou pronto para isso.

A administradora não parecia convencida.

-- Fico feliz que esteja pronto para enfrentar seu castigo, pois já passou muito tempo sem uma punição, não só você, mas também a sua irmã. – Passou a mão nos cabelos. – Eu fico pensando como vocês conseguem viver com toda a culpa por tudo o que fizeram.

Ele baixou os olhos por um tempo, mas depois a fitou.

-- Não estou aqui para discutir esse assunto. – Suspirou. – Vim aqui com a intenção de te encontrar ou até mesmo a baronesa...

-- E o que você quer? – Indagou bruscamente.

-- Apenas desejo alertá-las...talvez eu não seja a pessoa certa para dizer isso, nem sei se vai acreditar, porém o farei pela minha filha, pois sei muito bem como ela ama a Ana Valéria.

Branca arqueou a sobrancelha direita em indagação.

-- Miguel, Otávio e Lorena estão armando contra a Del La Cruz, sei que o que eles desejam é destruir a relação da Gabi e por isso peço que avise a sua patroa.

A expressão da Wasten era de incredulidade. Não pelo que ouvia, pois sabia que o plano para destruir a empresária existia, mas o que a deixava perplexa era ouvir de Trevan a informação.

-- E o que eles estão fazendo? Qual é o plano?

Ele umedeceu os lábios demoradamente, depois falou.

-- Acho que usarão a Paloma...farão com que a Gabriele duvide da Ana, ainda mais agora que ela tem a metade da riqueza do avô, então plantar a dúvida não seria tão difícil. – Colocou as mãos nos bolsos da calça. – Eu entendo sua raiva e sua desconfiança, mas dessa vez eu só desejo proteger a minha filha.

Branca ficou em silêncio, enquanto via o homem se afastar.

Ouviu o toque do celular, pegando-o, viu que se tratava de Clarice.

Não contaria o que estava acontecendo, sabia que Ana Valéria não iria gostar.

 

 

A Del La Cruz despertou. Tentou se mexer, mas braços prendiam sua cintura. Abriu os olhos devagar, pensava que poderia estar sonhando. Não se lembrava de muita coisa da noite anterior, apenas de ter ido para o apartamento e bebido bastante.

Virou a cabeça e viu o olhar da esposa. Os olhos a fitavam.

Os aposentos estavam mergulhados na penumbra.

-- Bom dia, baronesa. – A chef cumprimentou-a com um sorriso. – E como a senhora dormiu?

Ana virou-se para ela.

-- Acho que dormi como uma pedra, pois não percebi sua ilustre presença nos meus aposentos. – Tocou-lhe a face. – Mas confesso que me sinto muito feliz em abrir meus olhos e vê-la.

Gabriele parecia um pouco constrangida, sentindo a face corar.

-- O que houve? – A ruiva tomou-lhe a mão. – Parece uma garotinha com as bochechas rosadas. – Beijou-lhe cada um dos dedos. – Veio ficar comigo, mesmo sabendo que eu a enxotaria.

-- Queria ficar contigo, então te dei um tempo, depois vim...

-- Mesmo eu tendo sido grosseira?

-- Sei que tudo isso não está sendo fácil, por esse motivo, preferi ignorar sua explosão. – Arrumou-lhe uma mecha que caia sobre os olhos. – Não está com dor de cabeça depois de toda aquela bebedeira?

Ana exibiu um sorriso.

-- Não, meu amor, apenas um pouco enjoada...acho que não comi nada e isso me fez mal...

-- Sim, eu ia preparar algo ontem, você foi tomar banho e quando vim te procurar, dormia como um bebê.

-- Um bebê como a ruiva babona?

A Bamberg riu.

-- Falando nisso, ainda pouco eu falei com ela e com a sua mãe.

-- Tão cedo?

-- Minha amada, são dez horas... – Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Acordei faz um tempo, depois voltei para ficar contigo.

-- Não contou sobre Antônio... – Indagou relutante.

-- Não, não o fiz, mas acho que deve dizer. Elas voltarão dentro de dois dias e acho que a tia Clarice não vai gostar de saber que escondeu dela o que estava acontecendo.

A Del La Cruz não respondeu, apenas levantou-se da cama, seguindo para o banheiro, depois retornou, abrindo as persianas, iluminando os aposentos.

-- Alguma notícia... dele? – Indagou em hesitação.

-- Sim, Branca me falou que ele apresenta estabilidade, mas os médicos ainda não falaram nada sobre alta. Ele despertou algumas vezes, o corpo está paralisado...não consegue se mexer...

Ana Valéria prendeu os cabelos em um coque.

-- Preciso ir à empresa, há muita coisa para fazer.

-- Por que não ficamos aqui? – Seguiu até ela, abraçando-lhe a cintura. – Não quero que saia, quero que fique aqui comigo.

-- É um convite tentador... – Beijou-lhe o pescoço. – Vem comigo, depois passamos no hospital e voltamos para cá.

-- Então vai ao hospital? – Perguntou, encarando-a. – Pensei que não desejava ir...

Ela mordiscou a lateral do lábio inferior.

-- Se for comigo...

-- Claro que irei, meu amor, jamais te deixaria sozinha nesse momento.

Ana tocou-lhe a face.

-- Às vezes, penso que não mereço ter você em minha vida...às vezes penso que tudo isso é apenas um sonho...—Abraçou-a, sussurrando em seu ouvido. – Você é a melhor coisa que aconteceu comigo, freirinha, me perdoe se em muitos momentos não consigo demonstrar o que sinto.

Gabriele sentia um aperto na garganta, tinha tanto para dizer, porém as palavras ficaram presas em sua garganta.

Amava-a tanto, tanto que temia que aquilo não passasse de uma ilusão, que não fosse real.

--Vai tomar banho comigo? – A ruiva sussurrou em seu ouvido.

-- Não, minha senhora, pois se eu entrar naquele banheiro em sua companhia não iremos a lugar nenhum. – Tocou-lhe a ponta do nariz com o indicador. – Teremos muito tempo para isso que está passando por sua cabecinha.

-- E por que não começamos agora?

-- Porque temos coisas para fazer, baronesa.

Ana ainda abriu a boca para protestar, porém suspirou e seguiu em direção ao banheiro.

 

 

 

No hospital, Lorena tinha chegado depois das dez horas acompanhada de Miguel, em seguida foi a vez de Otávio aparecer acompanhado de Paloma.

-- Está paralisado, não mexe nada, apenas está com os olhos abertos. – A loira dizia em irritação. – Precisamos pensar em outros meios agora que ele não pode mais lutar contra...

-- Contra quem?

Os presentes voltaram-se ao ouvir a voz de Ana Valéria que se aproximava.

-- Ana, eu fiquei tão preocupada quando soube...

Paloma nem mesmo se importou em ter a chef de cozinha ao lado da ruiva, abraçou-a como se continuassem a ter o caso.

Gabriele afastou-se, tentando manter a calma, nem o fato da empresária ter se livrado delicadamente do abraço a acalmou.

-- Te liguei ontem, fui até seu apartamento, mas não me atendeu.

A ruiva tomou a mão da esposa que não parecia muito interessada, mesmo assim foi forçada a aceitar.

-- A Gabi estava comigo. – Fitou Lorena. – Não preciso que termine sua frase para saber de quem estava falando. – Olhou para os presentes. – Sei muito bem o que desejam e o que trama contra mim, não temo seus planos.

-- Está enganada, eu nem tenho cabeça para isso, acha que com todo esse sofrimento vou me importar contigo? – A loira dizia chorosa.

-- Viemos aqui apenas para apoiá-la. – Otávio interveio. – Acho que anda tão errada que vê inimigos em todos os lados.

Um sorriso branco e irônico abriu-se na face da ruiva.

-- E eu sou inocente a ponto de acreditar? – Debochou.

Branca aproximou-se e a Del La Cruz foi até ela, porém a Bamberg não a acompanhou, seguindo até a recepção, estava com sede.

Miguel aproveitou e foi ao seu encontro.

-- É com essa mulher que você pretende ficar? – Ela indagou baixinho. – Veja como se comporta, nem parece que teve a melhor criação que o dinheiro podia pagar.

A neta do barão bebeu um pouco da água que comprou. Não parecia interessada em uma discussão sobre os modos da esposa. Bebericava devagar, parecia interessada em manter a boca ocupada para não ter que responder ao ex-noivo.

-- Você não entende mesmo, não é? – Segurou-lhe o braço. – Está destruindo sua vida ao lado de uma mulher que te usa apenas porque precisa das tuas ações. – insistia. – Te garanto que não vai demorar para encontrá-la na cama da Paloma ou da Lorena.

Os olhos escuros estreitaram-se, enquanto a Bamberg desvencilhava da mão que a prendia.

-- E o que isso te interessa?

O advogado parecia surpreso diante da reação, fitava-a com cuidado, analisando-lhe as reações.

-- Sua dignidade não importa então? – Ele quase berrava. – O que a Del La Cruz tem de tão especial que você aceita todas as humilhações?

Gabriele mordiscou a lateral do lábio inferior.

-- Prefiro não falar sobre isso...não é algo que seja da sua conta. – Fitou em direção onde a ruiva estava, mas não a viu, nem Branca. – Estou cansada das armações que vem fazendo, pois sei que está em conluio com o Otávio e a Lorena. – Suspirou, passando a mão nos cabelos. – Antes eu tinha um respeito por ti, pois quando me apaixonei, você era uma pessoa diferente, mas agora está o tempo todo agindo de forma errada. – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Miguel, eu amo a Ana Valéria, isso é algo que não posso mudar...não sei se vai dar certo a nossa relação, mesmo que seja isso que o meu coração mais deseje...porém se isso não acontecer, isso não significa que voltarei contigo, ainda mais por saber que apresenta uma terrível falha no caráter.

Miguel ainda abriu a boca para falar algo, entretanto não o fez, ficou parado lá, enquanto via a bela chef de cozinha se afastar.

Não entendia por que as palavras que ouvira da jovem lhe perturbara tanto.

De repente, recordou-se de quando a conheceu no convento. Das horas que passavam conversando e de como sempre admirara a forma gentil e delicada da moça.

Não voltou a se reunir com os outros, deixando o hospital pela porta lateral sem ser notado.

 

 

-- Seu pai não consegue falar, nem mesmo mexer um único músculo.

Aquelas eram as palavras do médico à baronesa.

Ela estava na sala dele, tendo Branca e Gabriele ao seu lado.

-- Mas e o que se passa? – A ruiva indagou confusa.

O homem seguiu até uma tela, enquanto projetava algumas imagens, diminuiu a luz ambiental.

-- Veja, senhora, ele sofreu uma lesão nessa área e estamos quase certos que isso causou a paralisia.

-- E quais os tratamentos para ele?

A pergunta foi feita pela Bamberg que ouvia tudo apreensiva.

-- De início, o indicado é que continue no hospital, pois só aqui ele terá o tratamento adequado. Ainda é necessário mais algum exames. – Sentou-se. – Conversei com um amigo especialista, ele está no Japão, mas estará aqui para um congresso semana que vem e acredito que a opinião dele será muito importante.

-- Tudo será custeado por mim, doutor, então qualquer coisa que precisar basta ligar.

Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

Encerrado a conversa, Ana Valéria e Gabi deixaram o consultório, enquanto a Wasten continuou no local.

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