A antagonista - Capítulo 29
O apartamento estava meio escuro.
Sentia-se o cheiro de bebida embriagante. O som do violino continuava sereno.
Na TV as mesmas cenas continuavam a se desenvolver como se paradas no tempo.
Gabriele estava parada lá a
observar tudo. Sua presença não tinha sido notada pela empresária que estava
sentada no sofá, tocava seu instrumento musical, imitava os acordes que
apareciam no vídeo.
Mais uma vez era possível ver a
bela adolescente ruiva descendo as escadas tocando a canção dos anjos. Antônio
aproximava-se orgulhoso, tendo um brilho de satisfação em seu olhar, sabendo
que sua filha era invejada por muitos, não apenas por sua beleza, mas
inteligência inigualável.
O que teria acontecido se Lorena
não tivesse entrado na vida da Del La Cruz?
Esse era um questionamento que se
passava na cabeça da neta do barão, enquanto observava cada detalhe do filme
que se desenvolvia.
Talvez, Ana Valéria nunca tivesse
passado por tudo aquilo. Decerto, teria continuado seu treinamento para assumir
os negócios da empresa. Não haveria dúvida de que faria isso perfeitamente,
como veio fazendo com tudo que tinha herdado de Bernard. Poderia ter casado com
alguém que não a ferisse, quem sabe teria sido feliz...
Observou o sorriso brilhante da
debutante.
Sempre fora linda!
Teria se apaixonado pela empresária
se não tivesse sido obrigada a ficar naquela casa ao seu lado?
Mordiscou a lateral do lábio
inferior, enquanto se recordava da primeira vez que seus olhos cruzaram com os
dela. De como chegara a odiá-la em alguns momentos...de como desejara cuidá-la
quando a viu tão abalado após suas crises.
Será que se Lorena não tivesse
destruído a vida da ruiva o caminho das duas teriam se cruzado?
Limpou uma lágrima ao ver a
entrevista da família Del La Cruz.
O patriarca não parecia alguém tão
cruel naquele momento.
Como ele conseguira viver todos
aqueles anos sabendo que sua filha padecia em um inferno?
Branca falara que em uma única
ocasião Antônio estivera no manicômio e pelo que ouvira de Ana Valéria em seus
momentos de crises, ele chegara a incitá-la a acabar com a própria vida.
Por que tanta maldade?
Umedeceu o lábio superior
demoradamente.
Bernard não ficara atrás em sua
crueldade.
Ainda sentia o estômago revirar
quando lembrava de cada palavra daquela carta. Como alguém seria capaz de agir
daquela forma só para destruir o orgulho de alguém? Tirou-lhe a criança que
esperava como se a vida não importasse. Sim, ele matara duas vezes, pois tirara
as esperanças que a ruiva tinha de recomeçar. Ele sabia que o filho que ela
carregava seria suficiente para lhe dar ainda mais força para lutar. Não
bastava isso, sabendo que morreria logo, armara tudo para que a neta assumisse
seu lugar, pensando que assim perduraria ainda mais o sofrimento da Del La
Cruz. Será que em algum momento ele não pensara que neta se apaixonaria por sua
esposa?
De repente o som do violino não
existia mais, a imagem da TV estava congelada, enquanto os olhos claros
desconfiados lhe fitavam.
-- Que faz aqui? – Ana Valéria
questionou levantando-se meio trôpega. – Não me lembro de ter pedido a sua
presença.
A Bamberg sabia que enfrentaria a
resistência da empresária. Aprendera a prever como ela se comportava quando
estava ferida, quando estava sofrendo. Fechava-se em uma concha, agindo com
arrogância e ironias.
Observou-a caminhar até o bar, sentando-se
em um dos bancos, parecia concentrada em encher o copo com uma bebida dourada.
Pelo que via, ela nem mesmo tomara
banho ainda, continuava com a mesma roupa que deixara o hospital. A blusa
branca de seda tinha alguns botões abertos. Os cabelos vermelhos estavam presos
em um coque solto. Estava descalça e não usava mais a calça, tendo a camisa
cobrindo um pouco das coxas.
-- Não sabia que era preciso que
pedisse a minha presença para eu vir... – Deixou a bolsa sobre o sofá. – Acho
que o título de ser sua esposa me dá alguns direitos.
O riso de Ana Valéria era rouco e
debochado.
-- Bem, eu sei que não veio me
dizer que Antônio morreu, pois a Branca me manda mensagem de dez em dez
minutos. – Apontou o aparelho celular.
-- E você não tem a dignidade de
responder ou atender a ninguém. – Caminhou até a TV e a desligou, depois se
sentou. – Não acha que já bebeu o suficiente?
A Del La Cruz fez um gesto negativo
com a cabeça.
-- Eu acho que já, minha senhora,
então acho melhor que vá tomar um banho...prepararei algo para que jante.
-- Ora, vai cozinhar para mim? –
Indagou com um sorriso. – Ah, tinha esquecido que é uma excelente chef. – Bebeu
um pouco do líquido, enquanto parecia ponderar, depois de alguns segundos
falou. – Fico pensando como o barão deve estar se revirando no inferno por
saber que a netinha dele é minha mulher.
Gabriele não respondeu, parecia
ocupada em livrar-se do sapato que usava.
-- Bernard devia ter imaginado que
você infernizaria minha vida como ele fez...—Bebeu o conteúdo de uma vez. – e
você infernizou no início... – Tamborilava os dedos sobre a bancada. – Quando
você esteve na minha casa e aquele desgraçado do tabelião falou que as ações
que eu tanto desejava ficariam para você, eu tive vontade de te matar...
Os olhos negros a fitaram.
-- E a senhora acha que eu te amava
né... – Relanceou os olhos. – Ah, por favor, baronesa, eu não suportava nem te
ver.
-- Por que não? – Perguntou em um
tom de voz mais alto. – Eu sempre fui uma boa visão...—Encheu o copo mais uma
vez. – Vai negar que sempre gostou da visão que tinha?
-- O fato de ser bonita não é tudo
o que importa sabia? – Caminhou até ela, tomando-lhe o copo. – Acho que precisa
de um banho e urgente, parece que mergulhou em uma banheira de martini.
-- E se eu não quiser tomar banho?
– Questionou em desafio, encarando-a. – Me obrigaria?
-- Vai tomar banho mesmo assim,
minha senhora. – Tocou-lhe a face. – Não custa nada ser uma esposa obediente
não é? Veja, é uma mulher tão maravilhosa...colabora um pouquinho comigo...
A ruiva encarava os olhos negros,
parecia buscar algo naquela escuridão que a conduzia, que iluminava seus dias.
Segurou-lhe a mão, beijando-a.
-- Ah, freirinha, eu acho que
morreria por você sabia...eu não consigo imaginar minha vida sem sua
petulância...sem seu sorriso...sem seus beijos...acho que posso até perdoar o
barão por todo o mal que me fez já que me deu a neta...
Gabriele sentia um arrepio na nuca
quando ouvia a mulher que amava falar daquela forma, era como se nada mais
importasse, mesmo diante de tudo o que tinham vivido.
-- Eu não acho que mereça você,
Gabi, mas eu sou muito egoísta para desistir de ter você e a pequena ruiva
babona ao meu lado...—Beijou cada um dos dedos da amada. – Você também me quer
na sua vida, mesmo eu sendo esse ser intratável?
-- Claro que quero, meu amor, quero
muito, tanto que fico com medo de que tudo isso seja apenas um sonho...
Ana a abraçou pela cintura.
-- Eu quero que nosso casamento
seja real sabe...eu sei que não sou muito fácil de lidar, porém tentarei sem
mais maleável... – Tocou-lhe os cachos. – Eu sinto dor, sinto ainda que vez e
outra volto a sangrar...mas quando estamos juntas tudo parece diferente...é
como se o sol voltasse a brilhar nas minhas trevas...
Gabriele sentiu os olhos cheios de
lágrimas diante do que estava ouvindo. Amava aquela mulher com toda a alma. Não
queria mais nada em sua vida a não ser viver ao lado dela por toda sua vida,
acordar e ver aqueles lindos olhos e aquele sorriso que parecia ter o poder de
aliviar todo o peso das suas dores.
Sentiu os lábios tocarem os seus.
Foi tão delicada a carícia que pensou que um anjo tocava todo o seu ser.
-- Vou tomar um banho...porque vou
acabar te embebedando com meu cheiro. – Beijou-lhe a testa. – Me espera?
-- Claro que te espero...
A ruiva fez um gesto afirmativo com
a cabeça, mas não se moveu, continuava lá, parecia interessada em ficar nos
braços da jovem.
-- Eu te acho linda...
Gabriele tentava não rir vendo a
esposa tão embriagada.
-- Acho que poderia passar toda a
minha vida te olhando...amo a forma que sorri e abre covinhas na sua
bochecha...
-- Amor, vai tomar banho vai, vou
preparar algo para gente comer. – Pedia.
-- Gosto quando me chama assim...
Gabriele tentava se afastar, porém
a ruiva a mantinha cativa.
-- Baronesa, eu preciso fazer o
jantar, então deixa eu te ajudar...te levo ao banheiro e você toma banho.
-- Acha que eu vou cair? – Riu
alto. – Eu não posso deitar ali... – Apontou para o sofá. – A gente manda
limpar tudo depois...
Ela fez um gesto negativo com a
cabeça. Segurou-lhe a mão e saiu praticamente puxando-a em direção ao banheiro.
A chef praticamente estava arrastando a esposa. Abriu o box e logo
foi ligando a água fria. Afastou-se para não se molhar.
Seguiu até o quarto e pegou um
roupão, depois retornou ao banheiro e viu que a ruiva já tinha se livrado das
roupas, ensaboava-se. Ficou lá parada, amava a esposa e amava transar com ela.
Pensou em ir até lá, desejava se entregar ao desejo que queimava em seu
interior, mas se o fizesse não haveria comida.
Suspirando, deixou os aposentos.
No apartamento de Otávio estavam
reunidos Lorena e Miguel.
-- Então o barão deixou metade de
tudo para a estúpida da Gabriele! – A loira dizia. – Não a suporto mais, acha
mesmo que Ana Valéria a quer, queriam que vissem a superioridade que se
comportara no hospital, agindo como se realmente fosse real essa relação.
O ex-noivo da Bamberg estava
sentado na poltrona, parecia ponderar.
-- Agora que Antônio está doente
precisamos assumir os riscos e separar as duas. – O noivo de Paloma dizia. – Já
plantei a dúvida na garota, então agora só é preciso alguns episódios
comprometedores.
-- Acho que a sua amada pode nos
ajudar nisso, afinal, ela vive correndo atrás da baronesa.
O advogado de Bernard parecia
desconfortável com a insinuação, mas acabou fazendo um gesto afirmativo.
-- Eu já acho que tudo ficaria
melhor se fosse contigo... – Miguel dizia. – A Gabriele veria que mesmo com
tudo o que você fez, a baronesa continua te querendo...isso é muito mais
decepcionante.
-- E como vamos fazer isso? –
Indagou curiosa. – A Ana não me deixa nem chegar perto, seria praticamente
impossível.
-- Eu acho que o Miguel está certo,
a queda seria maior se a traição fosse contigo...
-- Mas como?
-- Eu não sei, porém vou pensar bem
em algo, acho que tudo seria perfeito e se conseguíssemos separá-las, tudo
estaria resolvido nas nossas vidas.
Gabriele já tinha preparado o jantar
e quando foi chamar a esposa, encontrou-a deitada na cama, dormia
profundamente.
Esboçou um sorriso.
Sabia que aquele não tina sido um
dia fácil, então seria melhor que a ruiva descansasse um pouco.
Observou o quarto. Era grande,
espaçoso, porém muito impessoal. Não havia nada naquele lugar que pudesse
denunciar que pertencia à Ana Valéria, exceto o aroma do perfume que ela usava,
isso sim estava presente na atmosfera.
Caminhou pelo lugar, seguindo até a
escrivaninha. Viu sua própria imagem. Viu uma cartela de remédio dentro da
gaveta entreaberta, eram os medicamentos que ela precisava quando tinha suas
crises. Viu umas fotografias, curiosa, pegou-as, havia várias. Sua mãe aparecia
na maioria, então viu uma sua, depois de Luna...
Será que Ana Valéria a amava mesmo?
O que mais desejava era poder ficar
ao seu lado junto com a filha, queria que tivessem mais filhos, ansiava por
ficar para sempre ao lado da amada, vê-la com seu sorriso mesclado ao sarcasmo
e arrogância, enquanto outras vezes apenas trazia a gentileza doce que a
encantava.
Observou-a dormir, então decidiu
deitar-se ao seu lado.
Desligou as luzes, acomodando-se junto
da empresária, abraçando-a. Ouviu-a resmungar, beijou-lhe os cabelos e
sussurrou:
-- Calma, baronesa, eu estou aqui e
não vou sair...
Novamente a voz ébria manifestou-se.
-- Eu te amo, minha ruiva, eu te
amo e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.
Na manhã seguinte, logo cedo,
Branca seguiu para o hospital.
Não ficou surpresa em não encontrar
Lorena continuando com sua performance de atriz. Não acreditara em nenhuma das
lágrimas que tinha visto a loira verter. Não acreditava em seu amor por Antônio,
sabia muito bem que se a Del La Cruz a quisesse, ela não pensaria duas vezes
para ir até lá.
Seguiu pela recepção e foi
surpreendida pela presença de Trevan. O homem ocupava uma cadeira e tinha uma
revista no colo. Levantou a cabeça ao vê-la.
A administradora já seguia para a
outra extremidade, ignorando a presença do fotógrafo, mas a voz dele a deteve.
-- Sei que não sou uma boa visão
para os seus olhos, mas gostaria de lhe falar.
Ela não se virou para fitá-lo por
alguns segundos, porém depois caminhou até ela, apontando-lhe o dedo indicado
em riste.
-- Se Ana Valéria te encontrar
aqui, vai te jogar na cadeia em menos de um minuto, então trate de ir embora.
Ele fez um gesto afirmativo com a
cabeça.
-- Sim, eu sei que ela já tem as
provas para fazer isso e acredite, senhora Wasten, eu não temo esse momento, na
verdade, estou pronto para isso.
A administradora não parecia
convencida.
-- Fico feliz que esteja pronto
para enfrentar seu castigo, pois já passou muito tempo sem uma punição, não só
você, mas também a sua irmã. – Passou a mão nos cabelos. – Eu fico pensando
como vocês conseguem viver com toda a culpa por tudo o que fizeram.
Ele baixou os olhos por um tempo,
mas depois a fitou.
-- Não estou aqui para discutir
esse assunto. – Suspirou. – Vim aqui com a intenção de te encontrar ou até
mesmo a baronesa...
-- E o que você quer? – Indagou
bruscamente.
-- Apenas desejo
alertá-las...talvez eu não seja a pessoa certa para dizer isso, nem sei se vai
acreditar, porém o farei pela minha filha, pois sei muito bem como ela ama a
Ana Valéria.
Branca arqueou a sobrancelha direita
em indagação.
-- Miguel, Otávio e Lorena estão
armando contra a Del La Cruz, sei que o que eles desejam é destruir a relação
da Gabi e por isso peço que avise a sua patroa.
A expressão da Wasten era de
incredulidade. Não pelo que ouvia, pois sabia que o plano para destruir a
empresária existia, mas o que a deixava perplexa era ouvir de Trevan a
informação.
-- E o que eles estão fazendo? Qual
é o plano?
Ele umedeceu os lábios
demoradamente, depois falou.
-- Acho que usarão a Paloma...farão
com que a Gabriele duvide da Ana, ainda mais agora que ela tem a metade da
riqueza do avô, então plantar a dúvida não seria tão difícil. – Colocou as mãos
nos bolsos da calça. – Eu entendo sua raiva e sua desconfiança, mas dessa vez
eu só desejo proteger a minha filha.
Branca ficou em silêncio, enquanto
via o homem se afastar.
Ouviu o toque do celular,
pegando-o, viu que se tratava de Clarice.
Não contaria o que estava
acontecendo, sabia que Ana Valéria não iria gostar.
A Del La Cruz despertou. Tentou se
mexer, mas braços prendiam sua cintura. Abriu os olhos devagar, pensava que
poderia estar sonhando. Não se lembrava de muita coisa da noite anterior,
apenas de ter ido para o apartamento e bebido bastante.
Virou a cabeça e viu o olhar da
esposa. Os olhos a fitavam.
Os aposentos estavam mergulhados na
penumbra.
-- Bom dia, baronesa. – A chef cumprimentou-a
com um sorriso. – E como a senhora dormiu?
Ana virou-se para ela.
-- Acho que dormi como uma pedra,
pois não percebi sua ilustre presença nos meus aposentos. – Tocou-lhe a face. –
Mas confesso que me sinto muito feliz em abrir meus olhos e vê-la.
Gabriele parecia um pouco
constrangida, sentindo a face corar.
-- O que houve? – A ruiva tomou-lhe
a mão. – Parece uma garotinha com as bochechas rosadas. – Beijou-lhe cada um
dos dedos. – Veio ficar comigo, mesmo sabendo que eu a enxotaria.
-- Queria ficar contigo, então te
dei um tempo, depois vim...
-- Mesmo eu tendo sido grosseira?
-- Sei que tudo isso não está sendo
fácil, por esse motivo, preferi ignorar sua explosão. – Arrumou-lhe uma mecha
que caia sobre os olhos. – Não está com dor de cabeça depois de toda aquela
bebedeira?
Ana exibiu um sorriso.
-- Não, meu amor, apenas um pouco
enjoada...acho que não comi nada e isso me fez mal...
-- Sim, eu ia preparar algo ontem,
você foi tomar banho e quando vim te procurar, dormia como um bebê.
-- Um bebê como a ruiva babona?
A Bamberg riu.
-- Falando nisso, ainda pouco eu
falei com ela e com a sua mãe.
-- Tão cedo?
-- Minha amada, são dez horas... –
Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Acordei faz um tempo, depois voltei para
ficar contigo.
-- Não contou sobre Antônio... –
Indagou relutante.
-- Não, não o fiz, mas acho que
deve dizer. Elas voltarão dentro de dois dias e acho que a tia Clarice não vai
gostar de saber que escondeu dela o que estava acontecendo.
A Del La Cruz não respondeu, apenas
levantou-se da cama, seguindo para o banheiro, depois retornou, abrindo as
persianas, iluminando os aposentos.
-- Alguma notícia... dele? –
Indagou em hesitação.
-- Sim, Branca me falou que ele
apresenta estabilidade, mas os médicos ainda não falaram nada sobre alta. Ele
despertou algumas vezes, o corpo está paralisado...não consegue se mexer...
Ana Valéria prendeu os cabelos em
um coque.
-- Preciso ir à empresa, há muita
coisa para fazer.
-- Por que não ficamos aqui? –
Seguiu até ela, abraçando-lhe a cintura. – Não quero que saia, quero que fique
aqui comigo.
-- É um convite tentador... –
Beijou-lhe o pescoço. – Vem comigo, depois passamos no hospital e voltamos para
cá.
-- Então vai ao hospital? –
Perguntou, encarando-a. – Pensei que não desejava ir...
Ela mordiscou a lateral do lábio
inferior.
-- Se for comigo...
-- Claro que irei, meu amor, jamais
te deixaria sozinha nesse momento.
Ana tocou-lhe a face.
-- Às vezes, penso que não mereço
ter você em minha vida...às vezes penso que tudo isso é apenas um
sonho...—Abraçou-a, sussurrando em seu ouvido. – Você é a melhor coisa que
aconteceu comigo, freirinha, me perdoe se em muitos momentos não consigo
demonstrar o que sinto.
Gabriele sentia um aperto na
garganta, tinha tanto para dizer, porém as palavras ficaram presas em sua
garganta.
Amava-a tanto, tanto que temia que
aquilo não passasse de uma ilusão, que não fosse real.
--Vai tomar banho comigo? – A ruiva
sussurrou em seu ouvido.
-- Não, minha senhora, pois se eu
entrar naquele banheiro em sua companhia não iremos a lugar nenhum. – Tocou-lhe
a ponta do nariz com o indicador. – Teremos muito tempo para isso que está
passando por sua cabecinha.
-- E por que não começamos agora?
-- Porque temos coisas para fazer,
baronesa.
Ana ainda abriu a boca para
protestar, porém suspirou e seguiu em direção ao banheiro.
No hospital, Lorena tinha chegado
depois das dez horas acompanhada de Miguel, em seguida foi a vez de Otávio
aparecer acompanhado de Paloma.
-- Está paralisado, não mexe nada,
apenas está com os olhos abertos. – A loira dizia em irritação. – Precisamos pensar
em outros meios agora que ele não pode mais lutar contra...
-- Contra quem?
Os presentes voltaram-se ao ouvir a
voz de Ana Valéria que se aproximava.
-- Ana, eu fiquei tão preocupada
quando soube...
Paloma nem mesmo se importou em ter
a chef de cozinha ao lado da ruiva, abraçou-a como se continuassem a ter o
caso.
Gabriele afastou-se, tentando
manter a calma, nem o fato da empresária ter se livrado delicadamente do abraço
a acalmou.
-- Te liguei ontem, fui até seu
apartamento, mas não me atendeu.
A ruiva tomou a mão da esposa que
não parecia muito interessada, mesmo assim foi forçada a aceitar.
-- A Gabi estava comigo. – Fitou Lorena.
– Não preciso que termine sua frase para saber de quem estava falando. – Olhou para
os presentes. – Sei muito bem o que desejam e o que trama contra mim, não temo
seus planos.
-- Está enganada, eu nem tenho
cabeça para isso, acha que com todo esse sofrimento vou me importar contigo? –
A loira dizia chorosa.
-- Viemos aqui apenas para apoiá-la.
– Otávio interveio. – Acho que anda tão errada que vê inimigos em todos os
lados.
Um sorriso branco e irônico
abriu-se na face da ruiva.
-- E eu sou inocente a ponto de
acreditar? – Debochou.
Branca aproximou-se e a Del La Cruz
foi até ela, porém a Bamberg não a acompanhou, seguindo até a recepção, estava
com sede.
Miguel aproveitou e foi ao seu
encontro.
-- É com essa mulher que você
pretende ficar? – Ela indagou baixinho. – Veja como se comporta, nem parece que
teve a melhor criação que o dinheiro podia pagar.
A neta do barão bebeu um pouco da
água que comprou. Não parecia interessada em uma discussão sobre os modos da
esposa. Bebericava devagar, parecia interessada em manter a boca ocupada para
não ter que responder ao ex-noivo.
-- Você não entende mesmo, não é? –
Segurou-lhe o braço. – Está destruindo sua vida ao lado de uma mulher que te
usa apenas porque precisa das tuas ações. – insistia. – Te garanto que não vai
demorar para encontrá-la na cama da Paloma ou da Lorena.
Os olhos escuros estreitaram-se,
enquanto a Bamberg desvencilhava da mão que a prendia.
-- E o que isso te interessa?
O advogado parecia surpreso diante
da reação, fitava-a com cuidado, analisando-lhe as reações.
-- Sua dignidade não importa então?
– Ele quase berrava. – O que a Del La Cruz tem de tão especial que você aceita todas
as humilhações?
Gabriele mordiscou a lateral do
lábio inferior.
-- Prefiro não falar sobre
isso...não é algo que seja da sua conta. – Fitou em direção onde a ruiva
estava, mas não a viu, nem Branca. – Estou cansada das armações que vem fazendo,
pois sei que está em conluio com o Otávio e a Lorena. – Suspirou, passando a
mão nos cabelos. – Antes eu tinha um respeito por ti, pois quando me apaixonei,
você era uma pessoa diferente, mas agora está o tempo todo agindo de forma errada.
– Fez um gesto negativo com a cabeça. – Miguel, eu amo a Ana Valéria, isso é
algo que não posso mudar...não sei se vai dar certo a nossa relação, mesmo que
seja isso que o meu coração mais deseje...porém se isso não acontecer, isso não
significa que voltarei contigo, ainda mais por saber que apresenta uma terrível
falha no caráter.
Miguel ainda abriu a boca para
falar algo, entretanto não o fez, ficou parado lá, enquanto via a bela chef de
cozinha se afastar.
Não entendia por que as palavras
que ouvira da jovem lhe perturbara tanto.
De repente, recordou-se de quando a
conheceu no convento. Das horas que passavam conversando e de como sempre admirara
a forma gentil e delicada da moça.
Não voltou a se reunir com os
outros, deixando o hospital pela porta lateral sem ser notado.
-- Seu pai não consegue falar, nem
mesmo mexer um único músculo.
Aquelas eram as palavras do médico
à baronesa.
Ela estava na sala dele, tendo
Branca e Gabriele ao seu lado.
-- Mas e o que se passa? – A ruiva
indagou confusa.
O homem seguiu até uma tela,
enquanto projetava algumas imagens, diminuiu a luz ambiental.
-- Veja, senhora, ele sofreu uma
lesão nessa área e estamos quase certos que isso causou a paralisia.
-- E quais os tratamentos para ele?
A pergunta foi feita pela Bamberg
que ouvia tudo apreensiva.
-- De início, o indicado é que
continue no hospital, pois só aqui ele terá o tratamento adequado. Ainda é necessário
mais algum exames. – Sentou-se. – Conversei com um amigo especialista, ele está
no Japão, mas estará aqui para um congresso semana que vem e acredito que a
opinião dele será muito importante.
-- Tudo será custeado por mim,
doutor, então qualquer coisa que precisar basta ligar.
Ele fez um gesto afirmativo com a
cabeça.
Encerrado a conversa, Ana Valéria e Gabi deixaram o consultório, enquanto a Wasten continuou no local.
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