A antagonista - Capítulo 27


                    O dia tinha amanhecido com um sol tímido. Já passava das oito quando Lia entrava nos aposentos da baronesa. Encontrou Gabriele vestindo-se, não escondeu um sorriso diante da imagem.

          – Agora está ocupando o lugar adequado, o lugar onde foi destinada.

            A neta do barão estava sentada diante da penteadeira. Arrumava os cabelos. Ficara na cama mais do que planejara para aquele dia, porém dormira muito tarde, pois precisara lidar com a esposa cheia de desejo e que parecia insaciável. Não reclamava, pois amara cada segundo que passara ao lado da ruiva arrogante.

             – A dona Clarice levou a Luna para a escola, então não se preocupe.

              – Eu acabei perdendo a hora… – Disse timidamente.

                Lia colocou a bandeja sobre a mesinha.

            – A senhora acordou cedo, exercitou-se por um bom tempo na sala de ginástica, depois desceu e tomou o desjejum com a mãe e foi ela quem pediu para que ela levasse a menina.

               Gabi bebeu um pouco do suco, fazia-o devagar, parecia se deliciar com o líquido cítrico.

              – E onde ela está agora? – Perguntou curiosa.

                – A senhora Branca passou aqui e foram para a empresa juntas.

           A jovem suspirou diante da informação.

              Nem sabia se desejava vê-la depois de tudo o que fizeram.

               – A baronesa ordenou que suas roupas fossem trazidas para cá, já pedi para que fizessem isso. – A mais velha dizia, enquanto cortava uma fatia de bolo e entregava para sua protegida. – Eu acho que agora esse casamento vai ser para valer, então, menina, apenas aproveite e continue seduzindo sua amada.

              Gabriele teve um excesso de tosse, como se tivesse engasgado com a comida.

           Bebeu um pouco de água para aliviar. Sua face estava corada com o que ouvia da mulher.

             – Lia, por Deus, de onde tira essas ideias? – Indagou levantando-se. – Não sabe como a sua senhora é irritante e arrogante? – Arrumava a valise. – Quer me obrigar a ficar aqui.

             – E ela está certa, são casadas, então é preciso agir assim.

                – Sim, casadas, mas continuo sendo apenas usada para planos escusos.

                 – Ela gosta de você, Gabi, isso é óbvio…acha mesmo que ela aguentaria tudo o que se passou se não te quisesse de verdade?

              A Bamberg não respondeu.

             Terminou de comer o bolo, depois já se preparava para sair.

            – Vou passar na empresa, quero que seja organizado o mais rápido possível a transferência das ações para a Ana Valéria. Não desejo continuar nessa linha de fogo. – Deu um beijo na face da empregada. – Descanse, não deve fazer muito esforço.

            Lia apenas assentiu, observando “sua menina” ir embora.

     

 

 

              Na empresa, os acionistas foram chamados para uma reunião com a Del La Cruz. Ela não se demorou. Foi breve em deixar claro sua posição sobre os empréstimos feitos a Antônio, seu desagrado não foi escondido.

            A mesa de reuniões era ocupada não apenas por sócios, mas por seus representantes legais. As pessoas li reunidas temiam o gênio forte da filha do senador.

             – A senhorita Bamberg estava à frente da empresa e sempre tinha seu aval. – Um dos acionistas falou em sua defesa. – Entendemos sua raiva, porém não tínhamos o que fazer.

               Os olhos claros da baronesa estreitaram-se ameaçadoramente. Branca apenas acompanhava tudo, mas não falava nada, pois sabia que a Del La Cruz não pouparia esforços em lhe massacrar.

               – E você é o quê? Um cachorrinho que aceita ordens de uma garota que nem mesmo sabe se posicionar como uma empresária?

                Todos prenderam o fôlego.

            Mantinham-se em total silêncio, pois não eram capazes de enfrentar a esposa do barão.

              – Com a Gabriele eu me resolvo, porém espero que sejam mais profissionais, afinal, não é só para o dinheiro ir para o bolso de vocês, exijo que pelo menos o mínimo seja feito. – Levantou-se. – O Bernanrd não está mais aqui, então aconselho que comecem a agir como empresários ou venda suas ações, eu mesma comprarei.

                Os acionistas que estavam presentes eram amigos próximos do avô da bamberg e sempre se aproveitaram desse vínculo para nem mesmo trabalhar. Sabiam que Ana Valéria não os pouparia, mas também não se revoltavam, pois sabiam que ela fazia uma administração muito melhor e isso era algo que eles desejavam, enriquecer cada vez mais.

              Ninguém falou mais nada e a reunião foi encerrada.

             A ruiva continuava na sua cadeira e a administradora a olhava.

            – Acho que o senhor Baldwin não vai mais ousar colocar a culpa de tudo em outras pessoas…você não deu trégua…

           – Não me venha com gracinhas, Branca, sabe muito bem que ainda estou furiosa com tudo isso.

                 – Hoje de manhã não foi isso que aparentou… – Provocou-a. – Até sou capaz de dizer que teve uma boa noite…só não sei se foi de sono…mas foi uma boa noite…

                Ana Valéria mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto não disfarçava um sorriso.

             Não podia negar que fora muito bom estar com a neta do barão, mesmo diante da sua petulância inicial, logo ela cedia e cedia de forma muito gostosa.

             – A freirinha é uma caixinha de surpresas… – Encarou a administradora. – mas isso não retira a culpa que ela tem por tudo o que andou aprontando.

             O telefone interno tocou.

             – Disse que não queria ser interrompida. – Respondeu à secretaria.

              – Eu sei, senhora, peço que me perdoe, porém a senhorita Bamberg está aqui e deseja ver a dona Branca.

             – Senhorita….-- A ruiva debochou. – Temos que avisar que a Gabriele é casada… o que ela quer contigo? – Questionou curiosa. – Deixe que entre. – Avisou à interlocutora.

              A Wasten esperava ansiosamente, então a porta abriu-se e a jovem de cabelos cacheados apareceu.

              Os olhos negros fitaram a administradora com simpatia e depois a esposa.

         Parecia surpresa em vê-la.

          Era sempre um misto de sensações encontrar a Del La Cruz, ainda mais quando estava vestida tão formalmente com seus terninhos impecáveis. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Havia uma expressão provocante em seus lindos olhos.

            – Bom dia! – Cumprimentou-as. – Branca, preciso falar contigo sobre as ações da empresa…– Evitava olhar para Ana Valéria. – Quero saber se já posso assinar para ficar livre dessa responsabilidade.

            A ruiva parecia ler algo no computador, depois a fitou.

              – Eu já estou com o documento, vou buscá-lo e já volto.

             A Wasten nem esperou que a jovem falasse algo ou protestasse, apenas deixou a sala praticamente correndo.

           Ana Valéria a olhava, parecia ter aprovado a roupa que a chef de cozinha usava. Um vestido de alças, jeans, que chegava no meio das coxas. Os cabelos estavam soltos.

             Inesperadamente, puxou-a para seu colo, segurando-a para não a deixar escapar, ouviu o gritinho de surpresa e riu.

               – Calma, meu amor, eu só quero um beijinho.

             – E por que não pediu? – Gabriele indagou encarando-a. – Você gosta de agir como uma troglodita.

                  A ruiva escondeu a face em seu pescoço.

                – Eu gosto dessa sua carinha de raiva…

                – Eu não gosto.

               Tentou se soltar, porém Ana a mantinha cativa.

                – Não seja malvada, freirinha, só quero um beijo.

                Gabi fitava a expressão bonita da empresária. Ela ficava encantada com a beleza da sua esposa.

              – Não acha que já lhe dei beijos suficientes?

                A filha de Antônio lhe segurou a mão, beijando cada um dos dedos.

                – Nunca vai ser suficiente, meu amor…

               Os olhos negros brilharam ao ouvir a forma que ela lhe falou. Acabou aproximando os lábios dos dela e não demorou para sentir a maciez que a encantava.

              Não foi uma carícia urgente, foi delicada, gentil.

             – Não deveria descansar um pouquinho mais? – Gabi questionou acariciando seu rosto. –  Como se sente?

              – Me sinto muito bem…até malhei hoje…acho que o que me deu durante a noite foi melhor que os analgésicos que o médico receitou. – Sorriu safada. – Não vejo a hora de chegar à noite para continuarmos…

               – Você só pensa nisso é?

               – Penso em muitas outras coisinhas…posso falar algumas aqui…

              A Bamberg gostava do desejo que a esposa sentia, mas isso também lhe assustava, pois temia que fosse apenas isso que existisse por parte dela.

                – Tenho que trabalhar, então provavelmente chegarei muito tarde.

                 – Não precisa trabalhar.

                  – Eu quero trabalhar! – Disse levantando-se. – Afinal, não quero estar ouvindo nenhum tipo de piada da sua parte, como ouvi você conversando com a Branca sobre suas preciosas ações.

              A Del La Cruz cruzou as pernas, não parecia ter se abalado com o que ouvira.

               – Não vou discutir contigo, entendo que esteja chateada, porém não vou me alongar sobre algo banal.

                Ana Valéria foi até ela. Segurou-lhe delicadamente o queixo.

                 – Você é minha mulher, Gabi, nada vai mudar isso, então não seria melhor que deixássemos essas bobagens no passado.

                  – Não gostei do que ouvi, ainda mais por que falou como se desconfiasse de mim.

              – Não desconfio de você, porém não confio na sua linda família. – Exibiu um sorriso sarcástico. – Trevan e a Lorena não vão desistir do que querem e eu não vou deixar que caia nos planos dele.

                – Transa comigo, mas não tem confiança em mim! – Ela disse triste. – Mas você está certa, vou permitir que me use sexualmente, talvez você enjoe rápido e me deixe em paz.

               – Não seja tola, freirinha, deixe de bobagem, já disse que não quero discutir, então pare de me provocar. – Ordenou impeciente.

                  – Estou te provocando? – Indagou com um arquear de sobrancelha. – Ok, senhora, não continuarei.

               Ana Valéria a viu deixar a sala e sentia novamente a impotência diante das adversidades que havia entre ambas. Seria tudo tão mais fácil se ela não fosse neta do barão, tampouco tivesse ligação com as pessoas que mais odiava no mundo.

 

 

 

 

                 Gabriele ficara sabendo que Branca estava ocupada e não poderia lhe falar naquele momento, então era melhor ir para o restaurante.

               Pegava a bolsa quando viu Paloma falando com a secretária de Ana Valéria. Quando a modelo a viu, aproximou-se sorridente.

                – Uma surpresa encontrá-la aqui. – A ex-amante da ruiva disse. – A Ana mandou me chamar, desde ontem que me liga, mas apenas hoje pude vir.

                – Que bom não. – A Bamberg tentava esconder o ciúmes e a raiva.

                  – Você também veio vê-la? – Disse, enquanto arrumava os cabelos. – Eu vi seu noivo, tadinho, está muito abalado, acho que você deveria vê-lo.

                 Antes que a neta do barão pudesse responder, a secretária avisou que Paloma poderia entrar.

                – Ah, querida, outro dia conversamos, não gosto de deixar a baronesa esperando. – Piscou ousada. – Nós sabemos que ela não gosta disso.

               Gabriele respirou fundo, tentava controlar a irritação, depois seguiu em direção ao elevador.

 

 

              

 

 

                 No restaurante, Hellen arrumava as mesas junto com outros funcionários quando viu Miguel entrar.

               O advogado já tinha ido ali duas vezes naquele dia, parecia interessado em falar com Gabriele.

                 Ele não falou nada, apenas acomodou-se em uma das mesas e ficou lá. Parecia distraído, trocava mensagens no celular.

           Não gostava dele, não achava que ele merecia se relacionar com a amiga.

              Viu a Bamberg entrar e parecia surpresa em ver o rapaz, mas acabou parando para falar com ele.

              – Que bom que veio, já estava achando que daria novamente a viagem perdida. – Miguel falou.

              A neta de Bernard suspirou. Não atendera nenhuma das ligações do rapaz, sabia o que ele queria e não desejava que Ana Valéria o destruísse. Sabia como ela odiava o advogado.

              – Miguel, sabe que não deve vir aqui.

              – Por favor, meu anjo, sente-se, quero muito lhe falar.

             Ela fitou Hellen, parecia pedir ajuda, mas acabou se sentando.

             – Eu não consigo acreditar que tenha entrado nesse jogo da baronesa. – Ele dizia. – Não entende que ela apenas te usa, sabe que a última parte do testamento vai ser aberto e teme que possa perder tudo. – Segurou-lhe a mão. – Não seja tola, ela só está te usando.

               – Miguel, independente disso, não pode vir aqui, sabe que não podemos continuar nos vendo, sou casada com a Ana Valéria.

             Era possível ver a irritação nos olhos do rapaz que parecia tentar esconder.

              – Casada com uma mulher que se deita com qualquer uma? – Meneou a cabeça. – Até mesmo com a Lorena...

                 – Mentira! – Retrucou irritada. – Ela jamais ficaria com ela.

                – Só com a Paloma… – Exibiu um sorriso. – Acha mesmo que ela está apaixonada por ti? – Debochou. – Vai se arrepender, logo vai descobrir que só foi usada. – Levantou-se. – Espero que não seja tarde.

               Gabriele viu o rapaz deixar o restaurante, mas ela não fez menção de se levantar.

              Não queria ter terminado a relação de forma tão abrupta com o advogado, mas nunca tinha realmente gostado dele, apenas o via como um amigo e depois que a Del Cruz retornou seria inviável.

             – Ele veio atrás de ti ontem também. – Hellen aproximou-se. – Hoje teve a sorte e você o azar de encontrá-lo.

       – Ele não se cansa de vir atrás de mim. – Umedeceu o lábio superior. – e de contar coisas sobre a baronesa.

            – E você acredita? – Questionou perplexa. – Esse homem só quer prejudicar sua relação. – Fitou-a. – Gabi, confie em Ana Valéria nesse momento, é necessário que tenha tranquilidade e acredite.

            – A baronesa tem tanto crédito assim? – A Bamberg questionou simplesmente. – Por que eu teria que confiar tanto?

             – Porque ela é sua esposa e você está apaixonada.

            – E ela está?

            – Claro que está, amiga, apenas aceite e acredite.

           A garota deu de ombros.

           – Tenho muita coisa para fazer, não vou perder meu tempo com essas bobagens. – Levantou-se.

       

 

 

 

            Naquela noite, Ana Valéria não voltara para a mansão. No final da tarde fora até o apartamento do homem que cuidará de si quando sofrera o acidente e só partira para a cobertura já tarde, jantando com o idoso e Tatiana.

           Voltou ao seu refúgio e seguiu direto para a cama. Não conseguira adormecer imediatamente. Sentia falta da esposa petulante, da pequena ruiva, da atenção da mãe.

           Pegou o telefone móvel e observou uma foto que Branca tinha lhe enviado. Gabriele estava com Clarice e Luna. Observava com atenção a neta do barão.

               Linda!

               Poderia passar horas olhando aqueles olhos tão intensos e brilhantes. Aqueles lábios rosados e cheios.

              Por que tivera que se envolver com a Bamberg?

              Poderia ter escolhido qualquer bela mulher para ser sua amante, mas fora se encantar pela perturbadora jovem.

               Levantou-se da cama, sentando-se. Estava sentindo uma sensação antiga que lhe assolava por muito tempo. Sentia a falta de ar e as palpitações em seu peito.

                Tentava controlar a respiração, centrando seus pensamentos em algo que pudesse lhe distrair a mente.

               Sentia espasmos leves, mas sabia que isso aumentaria.

                 Pegou o telefone e mandou mensagem para Branca, sabendo que precisaria de ajuda.

 

 

 

 

               No dia seguinte, passava do meio-dia quando a Del Lá Cruz despertou. Branca não tinha saído um único segundo do seu lado, pois sabia muito bem como eram essas crises. Pensara que não aconteceria mais, porém infelizmente tinha se enganado.

                Viu-a encolhida no leito. Sempre era terrível quando passava a crise. Observou as palmas das mãos com as marcas das unhas. Via os olhos abertos lhe focarem.

               – Pensei que não teria que passar mais por isso… – Disse em tristeza. – Me sinto tão mal…

               – Pelo menos não foi tão forte como das outras vezes. – Sentou-se na beira do leito. – Ontem foi um dia cheio, esteve diante de algumas situações que demandaram bastante estresse. – Tocou-lhe a face. – Agora está melhor, então não fique com essa expressão de desalento…prefiro a carinha de senhora da guerra.

             Ana esboçou um sorriso.

             – Não avisei a ninguém sobre o ocorrido, como me pediu, porém não entendo, afinal, sua esposa deveria saber disso.

             A Del La Cruz fechou os olhos, isso encerrava aquela conversa.

 

 

 

              – Tem certeza de que não quer ir com a gente?

                Clarice perguntava pela quinta vez só nos últimos trinta minutos. Ela estava viajando para o litoral e levaria Luna consigo. Lia também iria. Ambas participariam de um evento com alguns amigos da mãe da baronesa.

               Estavam diante da mansão. As malas foram colocadas no carro.

            – Morrerei de saudades, mas não poderei ir com vocês. – Gabi dizia. – O restaurante está com bastante movimento e não posso deixar a Hellen sozinha.

                A Bamberg pegou a filha no braço, beijava seus cabelos ruivos.

                – Precisava de comportar, não deve dar trabalho viu, garotinha.

               – Sim, mamãe! – A pequena falou em sua voz infantil.

               – Tem certeza de que vai ficar bem sozinha? – Lia perguntou apreensiva.

                – Não precisa se preocupar, eu não sou criança.

                As duas mulheres mais velhas trocaram olhares.

               Fazia dois dias que Ana Valéria não aparecia ali, apenas ligara para falar com a mãe.

            Despediram-se e seguiram para o veículo.

 

 

            -- Não parece muito bem...

            Aquelas palavras foram ditas pelo senhor Índio.

            A baronesa tinha ido até lá naquela noite. Jantou com o amigo e Tatiana. Os três estavam sentados em poltronas na varanda do apartamento. A ruiva parecia distraída, seu olhar estava voltado para o céu estrelado.

            Não voltara à mansão, tivera duas fortes crises e precisara de Branca. Não desejava que sua mãe se preocupasse com seu problema.

            -- Estou bem, apenas um pouco cansada... – Falou sem fitar os presentes.

            O idoso sabia que ela não estava sendo verdadeira. Não precisava olhar em seus olhos para ver que a bela mulher voltava a enfrentar seus demônios. Tinha notado que ela usava luvas em suas mãos, então se recordou de alguns momentos quando estivera desmemoriada, ela se debatia em uma terrível crise e costumava afundar as unhas na palma das mãos a ponto de sangrar.

            Fez um gesto com a cabeça para Tatiana. Então a moça levantou-se, deixando os dois sozinhos.       

            O silêncio reinara por alguns minutos. Era possível ver a respiração de ambos os presentes.

            Ana Valéria parecia desconfortável. Nem sabia por qual razão fora até lá, porém não se sentia bem para ficar em casa.

            -- Minha jovem Rubi...ou baronesa...o fato de estarmos na penumbra não esconde de mim o que se passa em sua alma...

            A voz do homem soou baixa, paternal e compreensiva.

            -- Não quero ter que dizer o que sente, quero que me diga.

            Novamente a ruiva manteve-se calada. Não parecia interessada em falar, queria apenas ficar quieta, mesmo assim, ela falou:

            -- Sinto que pareço perdida mais uma vez... – Disse baixinho.

            Índio estendeu a mão, segurou a da jovem, acariciava as delicadas luvas.

            -- Enquanto sentir medo de se entregar por inteiro vai continuar enfrentando essas dores... – Retirou as luvas, olhando para os machucados. – Ana, você está sufocada entre o ódio e o amor...

            A ruiva encarou o mais velho com expressão surpresa. Era possível ver a confusão em seu olhar.

            Índio sorriu.

            -- Você não está acostumada a lidar com o amor...mas vai precisar aprender, minha pequena, pois no seu coração há muito...primeiro por sua mãe...mesmo assim não consegue se entregar totalmente, vive fugindo do convívio dela...quis tanto isso e agora foge...

            As lágrimas brilhavam nos olhos claros. Ela fitava o amigo.

            -- Me sinto culpada... – Falou tão baixo que fora preciso um grande esforço para ouvir.

            O homem via o líquido cristalino molhar a face bonita.

            -- Me sinto culpada...culpada por ter provocado aquela tragédia, por ter feito meu pai agir daquele jeito... – Soluçou. – Por minha culpa minha mãe fora ferida...

            -- Você não pode carregar a culpa que é do seu pai...—Tocou-lhe a face. – Me escute, Rubi, não pode destruir sua vida carregando fardos que não são seus...Você ganhou uma segunda chance quando sofreu aquele terrível atentado...então aprenda a não desperdiçar...

            Ela olhava-o, parecia presa em seu olhar, porém não o sustentou por muito tempo, então se levantou. Seguiu até o guarda-corpo, ficou lá, apenas olhava para as luzes da cidade.

            Gostaria de apagar novamente sua memória, de se livrar das suas dores. Porém, não conseguia, era perseguida por seu passado, revivera suas chagas dia após dia.

            -- Ana, você está apaixonada pela jovem Gabriele, na verdade, não é apenas paixão, é amor...um amor tão forte que não consegue livrar-se dele...então o aceite. – Índio dizia firme.

            A baronesa voltou a fitar o homem, seu olhar trazia pânico, trazia agonia, raiva. O maxilar enrijecido, furioso.

            -- A petulante freirinha? – Questionou irritada. – Me enfrenta minuto após minuto, minha vontade é lhe dar umas boas palmadas para que aprenda a me respeitar como quem eu sou. – Levantou a cabeça orgulhosamente. – Não me venha com essa história de amor, quando o que há entre aquela maldita neta do barão e eu é apenas prazer.

            -- E por que tem medo? – O velho debochou. – Quando eu era jovem nunca temi algo tão gostoso como o prazer...

            A Del La Cruz cerrou os dentes.

            Tatiana aproximou-se com uma bandeja de chás. Observava os presentes e a tensão no olhar da ruiva.

            Entregou-lhe uma xícara, depois fez o mesmo para o avô.

            Ana bebeu o líquido e fez a costumeira careta de quando provava do amargo sabor.

            -- Para quem bebe álcool, tem o paladar muito delicado para as minhas ervas. – Índio ria.

            A ruiva ingeriu todo o líquido de uma única vez, depois entregou a porcelana para Tatiana.

            -- Bem, agradeço pela conversa...mas vou embora. – Ana falou sem esconder a exasperação. – Nos vemos outro dia...

            Com a cabeça erguida própria da postura de uma rainha, ela deixou a sala.

            -- Irritou-a, vovô!

            Ele esboçou um sorriso.

            -- Eu apenas instiguei um pouco a fera...

 

 

            O carro esportivo da ruiva adentrou os portões da mansão.

            Ela estacionou em frente, mas não desceu imediatamente. Iria falar com a mãe, queria vê-la, sentia vontade ficar ao lado dela.

            Viu no painel do carro a chamada de Paloma.

            Sabia o que ela queria, mas não sentia vontade de se entregar nos braços da modelo, pois sua cabeça parecia presa em um par de olhos negros.

            Suspirou, depois deixou o veículo e seguiu para o interior da casa. Subia os degraus de dois em dois.

            -- Senhora!

            A voz de uma das empregadas soou assustada.

            -- Onde está minha mãe?

            -- Ela viajou, senhora, acho que tentou lhe avisar, porém não conseguiu.

            Ana Valéria soltou um longo suspiro.

            Olhou para a escadaria, mas não subiria, apenas desejava falar com Clarice, já seguia para a porta, porém ouviu uma voz no piso superior, era um canto meio desafinado.

            -- Quem está lá?

            -- A senhora Gabriele... – Disse hesitante. – Está na varanda...

            -- E por da cantoria e da música tão alta?

            Novamente era possível ver temor na expressão da empregada.

            -- Eu acho que ela bebeu um pouco...

            A baronesa não tinha interesse em encontrar a esposa naquela noite, mas estava curiosa com a situação, então caminhou até a escadaria. Seguia devagar, mas tinha seu coração batendo acelerado, não podia disfarçar para si mesma o que queimava em seu interior.

            Decidira manter-se longe, entretanto não era algo tão fácil de fazer, ainda mais quando pensava na neta do barão.

            Entrou nos aposentos e seguiu lentamente até a varanda.

            Ficou lá parada, observava a cena com curiosidade.

            O lugar não estava claro. As luzes de uma caixa de som portátil faziam o lugar parecer uma danceteria. Observou uma garrafa de vinho vazia e outra aberta pela metade. Todavia o que mais a deixara chocada foi ver a esposa. Ela usava um roupão atoalhado preto. Os cabelos estavam presos no alto, os pés estavam descalços e ela tinha uma taça na mão, parecia usá-la como microfone, entoando uma balada e dançando de olhos fechados.

            Ana caminhou até o aparelho de som, pausando a música e foi só nesse momento que Gabriele viu quem estava ali.

            Encarou-a surpresa.

            -- O que faz aqui?

            A Del La Cruz olhava a bagunça sobre uma mesa de centro. Caminhou até uma cadeira, sentando-se, cruzou as pernas longas.

            -- Que bagunça! – Disse desdenhosamente. – Pensei que uma hora dessas deveria estar trabalhando e não enchendo a cara de vinho.

            -- Não é da sua conta! – Bebeu todo o líquido vermelho do copo. – Não quero sua presença, então saia e me deixe sozinha.

            Ana a olhava com expressão intrigada.

            -- E ainda por cima está bebendo o meu vinho... – Disse com desgosto. – Vai ter que pagar depois...

            Gabriele caminhou até a caixa de som, voltando a colocá-la para tocar. Pegou uma garrafa, bebia no gargalho e depois usando como microfone, voltava a cantar em seu desafinado tom.

            A Del La Cruz continuava a observar o episódio. Via-a mexer-se em um ritmo sensual e desejou tocá-la, beijá-la.

            Os minutos passavam, enquanto a música continuava e a Bamberg cantava. Algum tempo passou-se, então a morena pausou o som. Bebia mais vinho, enquanto seu olhar não abandonava a esposa.

            -- Mas o que traz aqui a poderosa baronesa? – Indagava ebriamente. – Não deveria estar por aí com alguma vagabunda?

            Ana brincava com a aliança que trazia no anelar esquerdo.

            -- Pensava que a vagabunda fosse eu... – Disse em um tom de humor.

            Gabriele bebeu mais um pouco, depois deixou a garrafa de lado.

            -- O que quer aqui? – Esbravejava. – Passou esse tempo todo sem aparecer e agora vem aqui com essa sua carinha bonita. – Respirou fundo. – Estou cansada de você, Ana Valéria, estou cansada de tudo isso aqui. – Fazia um gesto com os braços. – Meu avô pensou o que hein quando me jogou nas suas mãos?

            -- Que eu seria uma boa vovó? – Ana continuava a provocá-la.

            A chef de cozinha bebeu todo o conteúdo da garrafa, depois jogou contra a parede, espatifando-a.

            A ruiva não parecia preocupada, nem mesmo fizera um único gesto para detê-la.

            -- Sabe o que eu senti a primeira vez que te vi aqui nessa mesma mansão? – Ela dizia emotiva. – Quando vi seus olhos frios focarem nos meus? Parecia que algo estava sendo tomado de dentro de mim, como se estivesse invadindo meu âmago.

            Ana Valéria recordava-se bem daquele dia. Algo também havia lhe perturbado em muitos momentos, em inúmeros encontros, enquanto era desafiada incansavelmente. Mexeu-se incomodada na poltrona, cruzando as pernas para o lado oposto.

            Viu-a pegar outra garrafa de vinho, abri-la com dificuldade, começando a ingerir o líquido.

            -- Você veio aqui para quê, baronesa? Quer transar? Veio por isso? – Ria descontrolada. – Não consegue satisfazer sua safadeza com suas amantes? – Bebia mais. – Não haverá nada, volte para seu apartamento, vá lá e me deixe em paz.

            A Bamberg aproximou-se um pouco da ruiva, olhava-a com curiosidade. Calça jeans, blusa de moletom de mangas longas e luvas...

            -- Está machucada? – Questionou por um momento em sobriedade.

            -- Não, freirinha...

            Ela parecia ponderar entre o álcool que tinha ingerido, mas tudo parecia muito obscuro em sua mente.

            Caminhou até o som, mais uma vez colocou uma música, mas essa era mais baixa.

            -- Você canta, baronesa? – Indagava alto. – De acordo com sua mãe, seus talentos são inúmeros...eu fico calada quando ela fala sobre isso, afinal, o talento que conheço da filha dela não é muito agradável para falar com uma senhora respeitada.

            Os dentes alvos da Del La Cruz abriram-se em um sorriso.

            -- E quais seriam esses?

            Gabriele cantava:

            “ making love out of nothing at all.”

            -- Vá embora, baronesa, me deixe sozinha...

            -- Eu gosto de ficar contigo...então não vou embora... – Mordiscava a lateral do lábio inferior.

            Mais uma vez uma gargalhada da garota era ouvida.

            -- Quer me seduzir???? – Indagava aos berros. – Já vem com essa sua história besta de ser gentil para que eu caia nos seus braços...fala manso, me enlouquece...ah, sim, vem com a história estúpida de casamento...

            -- Gabi, minha bela e linda freirinha, você não sabe o que me faz sentir com todo esse seu jeitinho...—Levantou-se. – Quanto ao fato de querer te levar para cama...eu sempre quero e você também...

            Os olhos negros soltavam faíscas de raiva.

            -- Você se acha muito! – Praticamente cuspia as palavras. – Pois saiba que eu te acho uma desgraçada, uma maldita desgraçada! – Dizia com lágrimas nos olhos. – Eu odiava o meu avô por ter me jogado naquele convento, odiava-o por ter me tirado do lado do meu pai Trevan...—Passou a mão nos cabelos presos. – Mas eu o odeio ainda mais por ter me enviado para esse lugar, por ter me jogado nos seus braços...—Gabriele partiu para cima dela, empurrando-a na poltrona. – Ele poderia ter feito tanta coisa, poderia ter me deixado livre, mas não, eu tinha que ser jogada aqui.

            -- Já chega! – Ordenou. – Já bebeu mais do que o suficiente. – Falava impaciente. --Vá para o seu quarto e tome um banho para que essa bebedeira passe.

            -- Não irei! – Disse apontando-lhe o indicador. – Não manda em mim, não é minha dona. – Voltou a beber. – Eu sempre fui uma tola em relação a você... – Dizia com desgosto. – Como pude me apaixonar por alguém que nunca fez nada para retribuir meu amor?

            Os olhos da Del Cruz abriram-se em perplexidade.

            -- Tem ideia de quanto eu sofri quando todos pensaram que estava morta? – Dizia em lágrimas. – Como tudo perdera o sentido para mim? – Bebeu mais. – Eu tinha que fingir que não estava abalada, saia para sua maldita empresa e me trancava na sua sala e chorava...chorava e chorava...porque eu estava apaixonada, baronesa, porque eu estou apaixonada...

            Ana sentia o coração bater tão forte da mesma forma que acontecia quando iniciava uma das suas terríveis crises.

            -- Sim, baronesa, agora já tem a minha resposta, eu aceitei essa palhaçada de ser sua esposa porque eu te amo... – Voltou a lhe apontar o indicador. – Mas eu vou arrancar esse amor nem que precise tirar fora o meu coração. – Falou a última parte mais alto, jogando mais uma vez a garrafa contra o assoalho. – Vá atrás das suas amantes, a Paloma, a Tereza e até a Lorena...

            Ana a viu seguir trôpega para o interior dos aposentos, temeu que ela caísse e foi atrás da jovem, detendo-a pelo braço.

            -- Você precisa de um banho e um café bem forte. – Dizia preocupada.

            -- Vai me dá banho ou transar comigo lá dentro? – Provocava-a. – Tinha esquecido que gosta de fazer sexo no banho...

            -- O convite é bastante persuasivo, mas está bêbada de mais para me dá prazer, freirinha.

            -- E acha que eu quero te dar prazer? – Indagou ofendida.

            -- Eu sei que gosta quando eu gozo na sua boquinha linda...

            Gabriele, mesmo ébria, conseguiu desferir um tapa na face rosada da esposa.

            Os olhos da ruiva estreitaram-se ameaçadoramente, mas não fez nada, apenas ficou lá parada, sentindo o rosto queimar.

            -- Não tem respeito por ninguém, é uma desavergonhada.

            -- Vá tomar banho e pare já com essa maldita bebedeira.

            -- Não irei a lugar nenhum!

            Gabriele caminhava trôpega e não demorou para cair no leito. Ela gargalhava.

            -- A toda poderosa baronesa parece uma ovelhinha...o que se passou...tão linda...tão maravilhosa, mas muito desbocada...eu amo você, minha senhora, eu amo você e isso está me deixando louca...

            A ruiva estava no centro dos aposentos, olhava para a jovem deitada, estava com vontade de sentá-la em suas pernas e lhe dar umas boas palmadas. Porém não faria, pelo menos não agora, ouviu-a falar, depois cantar e por fim, percebeu que já mergulhava em um cochilo.

            -- Gabriele, você precisa de um banho!

            -- Não...não...e não! – Ela dizia. – Quero banho não...vem aqui, quero sentir o seu cheiro gostoso...vem cá vem, Aninha... – Apoiou-se nos cotovelos. – Você é tão linda...eu amo essa sua carinha...

            Ana Valéria aproximou-se do leito.

            Apagou as luzes, retirou os sapatos, deitando-se ao lado da esposa, abraçando-a por trás.

            Beijou-lhe os cachos que agora estavam soltos.

            -- Quando essa sua bebedeira passar eu vou te dar umas palmadinhas nessa bunda. – Sussurrava em seu ouvido.

            -- Pode fazer isso agora, baronesa, não tem coragem? – Disse sem se virar. – Você gosta um pouco de mim, baronesa?

            A ruiva abraçava-a pela cintura, sentia aquela necessidade de ficar ali, de senti-la para sempre, de nunca mais se afastar.

            Virou-a delicadamente para si e para sua surpresa, a neta do barão já voltava a mergulhar em sua soneca.

            Delineou o lábio superior com o polegar, acariciava-a, estava encantada com aquela garota há tanto tempo que não conseguia pensar em nada a não ser em tê-la ao seu lado.

            -- Está dormindo, freirinha? – Indagou baixinho. – Eu amo você...te amo, freirinha, e isso me assusta tanto...por isso que fujo...fujo do que sinto, meu amor...

 

 

            Na manhã seguinte, Gabriele deixava o banheiro e teve uma surpresa ao ver uma bandeja de café da manhã sobre a cama.

            A esposa estava lá.

            Franziu o cenho.  

            Recordava-se do encontro à noite, porém sua mente estava muito conturbada para conseguir se recordar de algo concreto. Sabia que ela tinha dormido ali, pois a empregada tinha vindo cedo, ajudou-a na sua enxaqueca e comentara sobre a presença da baronesa. Viu-a vestindo uma camiseta preta, justa ao corpo e uma calça folgada nas pernas. Os cabelos estavam trançados na lateral do ombro.

            -- Como se sente? – A ruiva indagou apontando para o desjejum. – Acho que precisa comer um pouco para se recuperar.

            Gabriele apertou mais os cordões do roupão, parecia temer ficar despedida diante da mulher.

            -- O que houve ontem? – Indagou temerosa.

            A Del La Cruz caminhou até a bandeja, pegou uma maçã, comendo-a pacientemente, enquanto fitava a bela mulher.

            -- Você bebeu muito e caiu nessa cama...—Sorriu. – Não fizemos sexo, você não estava em condições para isso, infelizmente. – Caminhou até ela. – Vista-se, dentro de uma hora o tabelião estará aqui. – Segurou-lhe o queixo. – Quero você, mas não tão bêbada.

            Ela observou as luvas nas mãos.

            -- Teve uma crise?

            A filha de Antônio ficou em silêncio, observava o olhar da mulher que parecia buscar respostas.

            -- Sim, tive algumas, mas agora estou bem. – Respondeu por fim.

            -- Por que não me avisou? Eu poderia ter te ajudado...

            -- Não queria te preocupar, tampouco a minha mãe...

            Gabriele segurou-lhe as mãos, tirou as luvas, viu as marcas de unhas, beijando-as de forma delicada.

            -- Por isso não vim aqui, estive na cobertura tendo a Branca comigo... Não houve nenhuma mulher...

            -- Senti ciúmes...vi a Paloma na empresa naquela manhã...

            -- Não há nada mais... – Sentou-se na poltrona, fazendo-a sentar-se em seu colo. – Gabriele, eu continuo dizendo que te quero na minha vida...

            Ela fechou os olhos e de repente lembrou-se de algo que ouvira na noite passada.

            -- Por que me ama? – Questionou com temor e ansiedade.

            A cor parecia ter abandonado a face da ruiva, pensara que a esposa não tinha ouvido, mas agora ela via em seu olhar que parecia confusa entre se foi real ou apenas um devaneio.

            Viu-a baixar os olhos em tristeza, então corajosamente fê-la lhe encarar e falou:

            -- Sim, freirinha, eu te amo...te amo tanto que temo enlouquecer...


 

Comentários

  1. Finalmente Ana se declarou ❤️
    Ansiosa para os próximos capítulos

    ResponderExcluir
  2. Adoro essas duas,e juntas melhor ainda. Até que enfim Ana! Você gostou da freira desde o primeiro momento que a viu.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21