A antagonista - Capítulo 24



Na cozinha o silêncio reinava. Até as respirações das presentes pareciam suspensas. Lia tinha levado a mão à boca, parecia perplexa com as palavras que tinha ouvido. Branca passeava seu olhar por Ana Valéria e Gabriele. Aprendera a conhecer ambas muito bem e sabia que a expressão de meio sorriso que estava presente na face da baronesa era de puro sarcasmo. Essa era uma das grandes facetas da ruiva, ainda mais quando não recebia a atenção desejada. Ela sabia como tirar as pessoas do sério. Porém, também sabia que ela não estava acostumada com o tratamento que a neta de Bernard costumava lhe dar. Nem mesmo seus maiores inimigos ousavam tal afronta. Mas a Bamberg era diferente. A cabeça erguida e o nariz arrebitado demonstravam sua teimosia, sua impulsividade, seu destemor. Agora recordava-se que aquilo sempre lhe deixara preocupada no início da convivência de ambas as mulheres. Sempre temera que a bela Del La Cruz castigasse a menina por isso, entretanto, olhando-as agora, apenas apreciava a cena, curiosa para saber como tudo se desenrolaria.

A empresária regozijava-se interiormente, pois sabia que conseguira atingir seu alvo quando dissera aquela frase. Via os olhos negros brilharem naquele fogo interior que era próprio da neta do barão. Tinha certeza de que ela fervia de raiva. Observava os lábios entreabertos, lindos. Pensava em como eram macios, no corte que deixara sua cicatriz lá, na forma que se expressavam de forma destemida. Por que se sentia tão atraída pela moça? Essa era uma pergunta que martelava em sua mente inúmeras vezes, afinal, mesmo quando estivera desmemoriada desejara-a, quisera-a para si. Sabia, naquele momento de memória restituída, que quando barrara a entrada da jovem na boate fora por estar magoada, triste, enciumada por saber que ela noivara com outro. Mas por que isso a incomoda tanto? Desde que tivera sua relação com Lorena na adolescência, não conseguira apegar-se a ninguém sentimentalmente, prova disso era sua duradora relação com Paloma, algo que se resumia ao prazer sexual, a conversas vazias, a futilidades. Jamais tivera ciúmes da modelo, nem se preocupara em saber que estaria nos braços de outro, nunca lhe perturbara quando a via com Otávio.

Apoiou-se no batente da porta, despreocupada, sem pressa, esperando a explosão que não tardaria a aparecer.

A Bamberg soltava a respiração devagar. Parecia que o oxigênio não chegava aos seus pulmões. Sentia o desconforto e a excitação da sentença que ouvira. Sim, ela revivia o som da provocação a cada segundo: “Então, desejo falar sobre nossa vida matrimonial, em outras palavras, quero falar contigo como vai funcionar o sexo na nossa relação, afinal, já deixei claro que quero que o nosso casamento seja completo...”

Como podia falar tudo aquilo e continuar com aquele olhar pleno, como se estivesse em uma reunião de negócios?

Olhava-a e via o brilho naqueles olhos bonitos. Sentia em sua pele uma adrenalina que chegava a lhe fazer tremer por dentro: ódio ou desejo? Talvez, os dois, afinal, desde que conhecera aquela mulher, não conseguia decifrar suas próprias reações. Se soubesse que ela estaria ali naquele dia, teria saído cedo, fugido das suas afrontas.

Fechava e abria as mãos na lateral do corpo, decerto buscando fazer o sangue circular mais rapidamente para que seu rosto não exibisse o corado que sabia estar lá.

Por que ela desejava que o matrimônio fosse concreto? Não seria mais fácil livrar-se dela de uma vez? Entregaria as ações, faria tudo o que ela pedisse, contanto que pudesse ficar com Luna. E por que não queria continuar casada? Sabia que a queria, mas sabia que ela não a queria, não da mesma forma que ansiava. Provavelmente, era apenas orgulho e mostrar a todos que sua vontade prevaleceria. Quem sabe se fosso o contrário, se ela mesma dissesse que não daria o divórcio, ela o pedisse, pois assim mostraria que naquele jogo ela quem decidiria o final.

Soltou um longo suspiro, chamando a atenção de Branca e Lia.

-- Não acho que isso seja uma conversa para ser feita em público, baronesa. – Disse baixo. – Às vezes, esqueço que é uma mulher que fora criada em um ambiente de luxo, tendo ao seu alcance a melhor educação que o dinheiro poderia pagar...Comporta-se diferente, como uma... – Interrompeu as próprias palavras.

Lia ouviu o gargalhar rouco da esposa do terrível barão. Viu-a passar ao lado de Gabriele, caminhava até a fruteira e pegara uma maçã.

Ana apoiou-se na banca de mármore da pia, degustando sua fruta, novamente se mostrava sem pressa, calculando as reações da presa que estava pronta para atacar.

-- Como uma o quê, freirinha? – Indagou com os olhos estreitos. – Estamos curiosas para descobrir o que se passou nessa sua linda cabecinha de cachos...

A Bamberg virou para fitar a esposa do avô, sua esposa também...Sim, eram casadas, seus nomes estavam em um papel que comprovava aquilo. Foi naquele momento que viu que havia um aro dourado e fino no anelar esquerdo da empresária. Um símbolo da ligação de ambas ou outra forma de importuná-la?

-- Não o farei em respeito a elas. – Apontou para as duas mulheres. – Porém, senhora, sabemos que é um ser muito inteligente, superdotada intelectualmente, então não creio que seja preciso que eu termine minha sentença para que saiba o que eu estou pensando ao seu respeito.

A Del La Cruz continuava a comer a fruta proibida tranquilamente.

-- Sim, claro, mas eu gostaria que falasse, porém se sua coragem não é suficiente...—Continuava as provocações. – Apenas diga como cumprirá seu papel de minha mulher, pois é isso que você é e não renunciarei aos meus direitos conjugais.

-- Direitos conjugais? – A morena berrou em revolta.

Branca sabia que era inicialmente um capricho da baronesa aquela imposição, mas também sabia que ela sentia muito mais que isso, porém seria mais fácil o inferno congelar de que admitir esse fato. Não iria intrometer-se no diálogo, atentando-se à reação das duas.

-- Olha, Ana Valéria Di Pace, não vou te responder sobre isso, tampouco vou perder meu precioso tempo com suas exigências...Você quer sexo? – Indagou depois de uma pausa. – Vá atrás da Paloma, afinal, ela já esteve atrás dessa parte que gosta tanto em sua pessoa.

Sim, ela sabia que a modelo estivera com a empresária em seu escritório. Essa fora uma das coisas que Miguel lhe contara naquela manhã em uma longa mensagem em uma rede social.

A filha de Antônio nem teve tempo de retrucar, pois a jovem não esperara, saindo quase correndo da cozinha, como se temesse ser perseguida. Mas Ana não o fez, permanecera no mesmo lugar, terminando de comer a maçã.

A cozinheira pediu licença e foi atrás da moça.

Branca fez um gesto negativo com a cabeça, enquanto encarava a patroa.

-- Você não tem limites, senhora...

-- Gabriele vai aprender quem manda nesse jogo...vou fazê-la notar que não poderá ir contra mim.

-- É só isso mesmo que deseja? – Questionava curiosa. – Porque eu acho que a quer, acho que está apaixonada por ela.

Por uma fração de segundos, o brilho debochado sumira dos olhos azuis, dando lugar a surpresa.

-- Continua romantizando? – Questionou irritada. – Essa freirinha de quinta categoria esteve a frente dos meus negócios por dois anos e tudo o que fizera fora colocar meus inimigos dentro das minhas empresas, mesmo sabendo como eu odiaria tudo isso. – Cerrou os dentes. – Gabriele não ficara impune por seus atos.

-- E vai castigá-la com sexo? – Indagou com um arquear de sobrancelha.

Ana fez um gesto negativo com a cabeça, agora demonstrando sua costumeira frieza.

-- Vou castigá-la quebrando seu orgulho.

-- E não tem medo de que o feitiço vire contra o feiticeiro?

-- Estou disposta a pagar o preço.

A administradora ficou calada, vendo-a terminar de comer a fruta, seguindo para fora da cozinha.

Ficando sozinha, encheu mais um copo de água, bebendo-a de uma única vez o líquido.

 

 

 

Gabriele estava parada diante da janela que era voltada para a área da piscina. Via Clarice trocando Luna para que ela entrasse na água. A menina amava se banhar, sempre estava pedindo para tomar banho. Observava o marido de Branca arrumando as boias que ela usaria. Todos amavam a pequenina ruiva e isso lhe fazia muito feliz, ainda mais por tudo que a criança passara por ser filha de um inimigo da baronesa.

Ouviu batidas à porta, sabia que não era Ana Valéria, afinal, ela não sabia fazer um gesto daquele, não fazia parte da sua educação.

Não se voltou, apenas esperando para saber quem estava lá, quem tinha ido saber como ela estava depois do encontro com a esposa de Bernard.

Segurara sua língua para não xingar a ruiva em alto e bom som. Perdera as contas de quantos adjetivos passara por sua cabeça, mas preferira calar, pois sabia que o que a herdeira renegada de Antônio queria era tirá-la do sério.

-- Vai sair que horas, filha?

A voz doce de Lia fez com que baixasse um pouco a guarda.

Ainda tinha que ir ao encontro de Trevan, porém não poderia fazê-lo enquanto Ana Valéria estivesse ali, temia que ela voltasse sua vingança para o pai adotivo.

-- Não sei. – Respondeu se virando para a cozinheira. – Sei que não vai falar para ninguém... – Segurou as mãos da mulher. – Não irei resolver nada do restaurante, mas encontrar com Lorena, Trevan, Otávio e o Miguel.

-- Menina, se a baronesa descobrir... – Dizia em desespero.

-- Eu sei, pois aquela cena ridícula que protagonizou lá na cozinha foi apenas para me castigar por ter permitido que os inimigos que ela odeia tanto entrasse na empresa. – Passou a mão pelos cabelos. – E o que devo fazer?

-- Deve se manter longe dessas pessoas...

-- Sim, porém, o fato de me relacionar com meu pai não implica uma traição à Del La Cruz.

-- Mas ela não pensa assim...

-- E o que ela pensa, Lia? – Indagou exasperada. – O que se passa na cabeça daquela mulher? – Umedeceu o lábio superior. – Agi como um ser que não tem nenhum sentimento, pisa no chão como se fosse a rainha que todos devem amar e adorar...

-- Acredito que ela apenas sabe...

Gabriele respirou fundo e voltou para a janela.

Viu Pierre e foi quando seus olhos pousaram na figura da empresária vestindo seu minúsculo biquíni.

Prendeu o fôlego.

Se o casamento não fosse apenas uma forma de punição, se ela a quisesse de verdade, não se importaria em ceder. Entregar-se-ia ao sentimento que gritava em seu peito.

Surpresa, observou-a pegar Luna nos braços. A garotinha não se negara a ir para a tia, como se continuasse sendo uma bebezinha que a baronesa levava para a piscina.

Franziu o cenho quando o olhar encoberto por óculos pretos foi em direção a sua janela. Será que a enxergava de lá? Sim, essa foi a resposta que tivera ao ver o sorriso provocador.

Saiu da janela.

-- Acha que essa mulher vai passar quanto tempo aqui?

-- Não sei, acho que vai almoçar...mas pelo que ouvi da senhora Clarice, ela vai voltar para casa...

-- Vai voltar a morar aqui? – Perguntou temerosa. – Por que não continua na cobertura?  Assim poderá encontrar a amante sem macular a paz da mansão.

A mais velha ficou em silêncio, analisava a expressão da moça parada a sua frente. Conhecia-a bem, sabia da sua força e teimosia, afinal, perdera as contas de quantas vezes a viu enfrentar Ana Valéria de forma destemida, algo que poucos tiveram a coragem de fazer.

-- Está com ciúmes... – Lia disse em constatação. – Uma vez te perguntei se estava apaixonada pela baronesa...ela ainda estava sumida...você enrolou e enrolou...agora está pronta em admitir?

Os olhos negros estreitaram-se.

-- Não quero falar sobre isso... – Sentou-se pesadamente sobre o leito.-- Tenho que ver como irei até o meu encontro.

-- Acho melhor não se arriscar, filha, vai arrumar mais problemas...Vista uma roupa de banho, desça, a senhora Branca, seu marido, dona Clarice e o senhor Pierre estão lá...seria mal-educado da sua parte não ir.

Sim, isso era o que deveria fazer, depois veria como iria ao encontro dos outros.

-- OK, porém quero que me faça um favor...Mande uma mensagem para o meu pai e diga que chegarei um pouco mais tarde.

-- Então, vai assim mesmo? – Indagou preocupada.

-- Sim, irei, preciso resolver algumas coisas...

Lia fez um gesto negativo com a cabeça, mas acabou assentindo.

-- Mande apenas quando eu estiver na piscina, diga que surgiu um imprevisto, mas que eu irei.

-- Certo, menina, farei como diz, mesmo que não concorde.

Gabriele foi até a empregada e depositou um beijo em sua face.

 

 

Ana Valéria estava na água com Luna. A criança parecia lembrar muito bem de como já vivera aqueles momentos. Gargalhava quando a tia lhe molhava a face.

A baronesa parecia bastante à vontade com a menina. Diferente de como a rejeitara no início por ser filha do irmão.

A mãozinha pequena da sobrinha tocou sua face, parecia que estava olhando-a de forma a gravar a imagem em sua cabecinha inocente.

Pierre pulou na água, aproximando-se.

-- Oh, mon dieu, parece que essa princesinha é sua filha...

A ruiva deu de ombros e nadou para longe.

Não gostava de pensar em filhos, pois ainda sentia aquela dor de ter sido tirada de si seu bebê.

Às vezes, pensava se um dia reconstruiria a própria vida depois de tudo o que tinha passado. Quando sofrera o atentado, e fora viver com Tatiana e o amigo Índio em sua casa humilde no meio do nada, suas memórias tinham desaparecido, porém as cicatrizes ainda ficaram em seu interior. Seu pavor, seu pânico...

Fitou a mãe que a conversava com Rogério e Branca. Nem acreditava que ela estava ali, que agora podia ouvir sua voz que lhe consolara por tantos anos naquele hospital psiquiátrico. Não podia negar que ainda se sentia relutante em ficar muito próxima da boa mulher. Sentia-se culpada por tudo o que ela passou, sentia-se culpada por ela ter sido alvo das maldades de Antônio.

Parou na outra extremidade da piscina, permanecendo lá, apoiando-se no batente e olhando o jardim bem cuidado. Estava tão quebrada por dentro que não acreditava conseguir superar tudo isso e ter uma vida normal, uma vida sem o desejo de destruir os que a feriram, uma vida que buscasse a paz que nunca conseguira ter.

A Wasten a questionava o tempo todo sobre seus sentimentos pela Bamberg, parecia desejar descobrir o que havia dentro de si em relação à neta do barão.

Lembrou-se de tê-la visto na janela e desejou estar mais perto para conseguir decifrar sua expressão.

Por que a queria tanto?

Não confiava na garota, sabia que fora criada por Trevan e isso significava que poderia lhe trair e isso não permitiria de forma nenhuma.

Ouviu gritinhos de alegria de Luna e ao se virar viu a dona dos seus pensamentos aproximar-se. Observou que usava um maiô bastante composto, como se desejasse esconder o corpo de olhares famintos. Não era um traje muito sensual, porém suficiente para lhe incitar ao ver as pernas longas e bem-feitas. Observava a saída que usava ao redor dos quadris e desejou que não estivesse lá.

A filha de Antony batia as mãos na água, enquanto chamava pela mãe em sua voz infantil.

“Mamãe!”

A criança tinha a jovem como sua genitora e era possível ver como a amava. Isso a aborreceu, afinal, a neta de Bernard não era nada.

Voltou a virar-se de costas, poiando o queixo no batente da construção.

 

 

Gabriele aproximou-se, abraçando Rogério e beijando a face de Clarice.

-- Que bom que decidiu se juntar a nós. – A Matriarca dizia em entusiasmo.

O marido de Branca levantou-se.

-- Não vai se arrepender, pois serei o responsável pelo churrasco e pelas bebidas.

-- Esperamos que não queime nada... – Branca lhe soprou um beijo.

-- Lia já organizou tudo. – Disse, levantando-se. – Então se preparem para o melhor hoje, temo até que a Gabi queira me contratar para o restaurante.

Todas riram do gracejo, enquanto o advogado afastava-se.

A Bamberg acomodou-se em uma das cadeiras entre as duas amigas.

-- Não vai tomar banho, filha? – A ex-esposa de Antônio questionou. – A Luna parece querer sua presença.

-- Sim, mas ela está tão distraída com o tio Pierre que vai acabar esquecendo... – Serviu-se de um pouco de suco. – Depois entro... – Colocou os óculos escuros, seguindo até uma das espreguiçadeiras.

 

 

-- Isso é um absurdo! – Lorena esbravejava.

Estavam no apartamento de Trevam junto com Otávio e Miguel.

O fotógrafo tinha recebido a mensagem de Lia e isso parecia ter frustrado a todos os presentes, menos ele. Estava cansado de pressionar a filha, sabia que isso fazia muito mal para a chef de cozinha, porém agora Antônio usava ameaças para que atraísse a moça, deixando claro que usaria as provas que tinha para lhe colocar na prisão.

-- Ligue para ela, Trevan! – A loira ordenava. – Diga a essa espevitada que não estamos aqui para brincadeira.

A noiva do Del La Cruz parecia irascível desde o retorno de Ana Valéria. Estava furiosa só em pensar que Gabriele tinha algo com a baronesa. Isso a consumia por dentro.

-- Já fiz isso, não atende... – Respondeu calmamente.

Otávio fitava Miguel.

-- Vá até lá, afinal, você é ainda o noivo dela.

-- Como se isso fosse uma garantia...afinal, Paloma era sua noiva, mesmo assim se deitava com a maldita ruiva. – Lorena esbravejava. – Fique sabendo, Miguel, que há algo entre a inocente Gabriele e a Del La Cruz, isso sempre esteve claro e aconteceu debaixo do seu nariz.

O rapaz enrijeceu o maxilar.

-- Não acredito nas suas palavras. – Arrumou a gola da camisa bem passada. – E não adianta nada nos ofender, nesse momento devemos nos unirmos ainda mais.

A loira sentou-se pesadamente na poltrona.

-- Precisamos da Gabriele... –Dizia o noivo da modelo pensativo. – Dentro de duas semanas haverá a abertura da última parte do testamento do barão...

-- E acha que isso vai trazer algo para nos ajudar? – Lorena voltou a falar.

-- Bernard odiava a própria esposa e foi uma surpresa tê-la feito sua herdeira...mas ele não entregou o que ela mais queria, parecia querer frustrá-la diante do seu maior desejo...Podemos ter mais disso agora... – Cruzou as pernas. – Nesse momento temos o pedido de divórcio...

-- E Ana Valéria aceitou? – Trevan questionou.

-- Não, porém isso não é impedimento, afinal, um casamento não pode continuar com o desejo apenas de um dos cônjuges. – Tamborilava os dedos sobre as coxas. – Mas precisamos que a Bamberg aceite continuar com o processo.

-- Ela vai aceitar! – Miguel afirmava. – Sei que a baronesa é um ser terrível e se conheço bem a minha noiva, ela jamais suportaria viver com alguém assim.

-- Será? – Lorena voltava a provocar. – A ruiva tem encantos, querido, coisa que ela sabe usar muito bem.

-- E tenho a impressão de que você parece estar bem incomodada por isso...Será que tem ciúmes? – O fotógrafo ensinou.

-- Deixe de falar besteiras e veja como traz sua filhinha para cá, pois Antônio já deixou claro que vai te mandar para a prisão se ela não colaborar com os nossos planos.

 

 

Pierre saiu da piscina levando Luna consigo, a menina correu para os braços da mãe.

-- Essa criança está cada dia mais parecida com a tia. – O homem disse sorrindo, sentando-se em uma espreguiçadeira ao lado da Bamberg. – Não acha, mon ami?

Gabriele beijava os cabelos vermelhos da pequena que estavam colados na nuca.

Clarice chamou pela menina que saiu correndo ao encontro da amada avó.

-- Eu espero que ela não tenha herdado também a personalidade forte... – A moça disse, enquanto fitava a ruiva.

Ana Valéria continuava na mesma posição de antes, tendo Branca ao seu lado, pareciam conversar algo importante.

-- Bem, eu acho que a personalidade é sua... – Aceitou uma garrafa de bebida que uma empregada serviu. – Mas não vejo motivos para temer que ela tenha a personalidade da Ana...ela não é esse monstro que imagina...eu vi todo o seu sofrimento, vi toda a dor que poderia ter quebrado pessoas mais fortes ao meio, mas ela saiu de tudo aquilo como uma fênix que ressurgia das cinzas.

A Bamberg sabia disso.

Sempre pensava em tudo o que a filha de Antônio tinha passado e acreditava que nunca teria suportado. Não fora apenas no manicômio, mas também quando aceitara o casamento com Bernard. Sabia tudo o que ele tinha feito. A Wasten narrara toda a odisseia, das humilhações, das drogas que a obrigava a tomar para participar das orgias que o barão montava e o pior de tudo, de como ele fora responsável por espancá-la até que perdesse o filho que esperava.

-- E quanto tempo pretende ficar na cidade? – Gabi perguntou querendo mudar o foco da conversa.

-- Amanhã mesmo irei embora, porém nos encontraremos em breve, pois já lhe fiz o convite para festa do hotel.

Ela mordiscou a lateral do lábio inferior.

Não desejava ir, pois sabia que a Del La Cruz também iria, mas não falaria isso naquele momento, pois o francês iria insistir até lhe tirar uma promessa de que compareceria ao evento.

Fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Não vai entrar na água? – Pierre indagou levantando-se. – Não entendo o motivo de lutar tanto contra o que sente, deixe que aconteça, entregue-se aos seus sentimentos.

Ela ainda pensou em responder, mas o homem seguia até onde Rogério estava.

Observou Clarice levar a Luna para o balanço que tinha no jardim. A menina a amava bastante, adorava ficar com a avó. Voltou a olhar para a piscina e foi quando percebeu que a baronesa não estava mais no mesmo lugar, tinha chegado na outra borda e naquele momento saia da água como a própria Afrodite. Viu-a se aproximar, permanecendo rígida diante da presença. Como podia ser tão linda?

Observava as pernas longas, o abdômen liso, os seios redondos cobertos pelo pequeno tecido.

-- Ora, ora, pensei que se esconderia em seu quarto. – A Del La Cruz comentava, enquanto servia-se de uma bebida, depois se deitando na espreguiçadeira ao lado da de Gabriele. – Não vai fugir novamente?

A neta de Bernard ficou de lado para encarar a mulher.

-- O que ganha com toda essa provocação?

-- Ganho muita coisa... – Passava a mão pela borda do copo. – Gosto de vê-la sair do sério... – bebericou um pouco. – Me deixa excitada... – Falou baixo para só ela ouvisse.

A Bamberg umedeceu o lábio superior, enquanto sentia um frio na barriga. Era um jogo perigoso, sabia que era a presa e estava sendo cercada por todos os lados.

-- É a única coisa que sente? – Questionou curiosa.

A ruiva bebeu todo o conteúdo da bebida de uma única vez. Não parecia ter pressa para responder. Voltou a encher o copo, depois se sentou na beira da espreguiçadeira da morena. Gabriele encolheu-se.

-- Sinto muito mais, porém concentro minhas energias apenas no que conheço melhor...

-- O sexo?

Ana Valéria sorriu.

-- Você sabe que não é apenas sexo...é muito mais que sexo...ou você já sentiu o prazer que te dei com o seu novinho?

-- Me nego a discutir isso contigo. – Cortou-a irritada. – E aproveito que estamos conversando como pessoas civilizadas e peço que não insista nessa história.

-- E por que eu faria isso?

-- Porque não acho que seja preciso que briguemos assim...

Ofereceu-lhe o copo de bebida, porém ela não aceitou.

-- Tem medo de perder seu precioso controle? – Levantou-se rindo. – Aproveite seu dia, mas não esqueça que não vou desistir dos meus propósitos.

Gabriele ficou em silêncio, vendo-a seguir até onde estava Rogério. Pensou em ir até ela, mas não o fez, era melhor não trocarem muitas palavras, pois isso sempre era motivo de brigas.

 

 

 

Gabriele acabou não indo até o pai adotivo. Não quisera se arriscar, pois sabia que Ana Valéria ainda estava na mansão.

Já era noite e a Bamberg estava no quarto da filha. A menina já estava pronta para dormir. Passara o dia na área da piscina com a tia e a avó. Ela gostava da Del La Cruz e falara inúmeras vezes sobre ela, enquanto a mãe tentava fazê-la dormir. Depois de quase uma hora de histórias, a pequena pegou no sono abraçada com seu ursinho.

A Bamberg lhe beijou a testa, depois apagou as luzes, deixando apenas a luminária acesa, em seguida saiu do quarto. Seguia pelo corredor. Ouviu o latido de Pandora. Ela estava com a dona. Ao aproximar-se da porta, ouviu o som do violino. Parou lá e ficou ouvindo. Era a mesma melodia que ouvira no restaurante, a mesma que ela tocava antes do acidente.

Não demorou para os acordes pararem.

Então, decidiu ir para os próprios aposentos, mas antes que fizesse isso, a porta abriu-se e Ana Valéria apareceu vestindo um roupão. Os cabelos estavam úmidos, decerto tomara banho.

Observava a face um pouco rubra.

-- Entre, quero falar contigo.

Gabriele nem teve tempo de se negar, pois a outra já lhe puxava pela mão sem lhe dar chances de resistir.

Encontrou Pandora deitada sobre o carpete. Viu o instrumento musical sobre a poltrona.

A Bamberg já se preparava para falar algo, mas Ana aproximou-se mais, ficando tão próximo que sentia o cheiro do hálito mesclado à menta e a bebida. Percebia agora que ela não estava sóbria. Ficara na piscina, mas não voltaram a se falar, assim, tinha visto o tanto de álcool que ingerira.

-- Você é linda... – A Del La Cruz dizia. – Passei o dia todo querendo te tocar. – Acariciou-lhe a face. – Por que é tão teimosa e não cede ao que deseja tanto quanto eu?

Gabriele deu alguns passos, afastando-se.

-- Está bêbada, não deveria nem pensar nisso desse jeito que se encontra.

-- Desejo você bêbada ou sóbria...

A empresária lhe segurou pela nuca, aproximando a boca da dela, parecia querer testá-la, olhava-a com cuidado, parecia querer sentir que também era desejada. Via o brilho nos olhos negros, a expressão temerosa. Sentia a respiração delicada acelerando.

Sentou-se na beira da cama, depois a fez sentar em seu colo.

-- Te acho tão linda, minha esposa. – Passava o dedo indicador no lábio superior. – Não sabe como sinto desejo por você...nunca desejei tanto alguém, freirinha.

A Bamberg sentia um arrepio na nuca e um estremecimento em seu sexo diante do tom de voz.

-- Baronesa, suas intenções são apenas sexuais...

Ana segurou-lhe a mão, fazendo-a passear por sua coxa, fazia-o devagar como se o prazer não tivesse pressa, que fosse proibido ser rápido.

-- Eu gosto de sexo e eu sei que você também gosta...

Gabriele vestia uma blusa de moletom de mangas longas e a calça no mesmo tecido. Não era um traje considerado sexy, mas para a Del La Cruz aparentava muito mais que isso.

-- Eu gosto...mas não quero apenas isso...

Ana colocou as mãos sob a blusa da esposa, gemendo baixinho ao sentir os seios nus.

-- E o que você quer?

A Bamberg semicerrou os olhos ao sentir as carícias em seus mamilos. Os polegares da empresária brincavam com os biquinhos, fazia-o ora mais devagar, ora mais cheio de ousadia.

Ana Valéria era experiente em suas ações, conhecia bem o corpo feminino, conhecia suas sensibilidades, não apenas por suas relações com outras mulheres, mas com seu próprio corpo. Mesmo assim, ainda era pega de surpresa pelas sensações que sentia quando estava com a neta do barão.

-- Quero... – Interrompeu a fala por sentir o desejo pulsar mais forte. – Por favor...pare...

Deteve-lhe os movimentos em seu busto.

Fitaram-se longamente.

Os olhos azuis eram da caçadora, enquanto os negros eram a presa que se esquivava das investidas, mesmo que seu maior desejo fosse entregar-se de uma vez ao que tanto ansiava.

-- Por que quer tanto continuar com nosso casamento? – Indagou relutante. – Tudo isso é só para provar que você quem domina tudo?

A baronesa ficou calada. Desviou o olhar do dela, parecia que ainda não estava pronta para falar sobre o que sentia, temia até mesmo pensar o que havia dentro de si por aquela garota.

Depois de alguns segundos, voltou a encará-la.

-- Não há respostas para sua pergunta...nesse momento eu só anseio continuar com nosso casamento, quero que seja minha mulher... – Segurava-lhe a nuca. – Minha...só minha...

Ana aproximou as bocas e não demorou para sentir a maciez dos lábios de Gabriele. Dessa vez ela permitiu, deixando-a conduzir a carícia. Permitiu que capturasse sua língua, adorando senti-la novamente. Segurou o rosto da amada entre as mãos, estreitando ainda mais o contato.

A neta do barão emitia alguns sons contra os lábios femininos.

Não havia beijo mais gostoso do que o de Ana Valéria Del La Cruz. Ela sabia fazer aquilo como uma verdadeira especialista. Sentia o próprio sexo latejar, ansiando por ela, desejando-a mais que tudo.

As carícias nos seios retomaram, mas agora a baronesa fazia-o apenas com uma das mãos, pois a outra agora passeava pelo abdômen da jovem e logo ousava mais, penetrando na calça, acariciando a calcinha.

Novamente, encararam-se. Olhavam-se profundamente, a vencedora e a vencida.

-- Deixa eu te dar prazer... – Ana sussurrou em seu ouvido. – Quero que sinta tudo...mas faremos aos poucos, freirinha, até que confie em mim...

Os olhos da morena estavam fechados. Ouvia as palavras sussurradas, o toque no lóbulo da sua orelha.

-- Diga que quer...

Nenhuma palavra saiu dos lábios da Gabriele, apenas se ouvia a respiração acelerada.

Ana Valéria conseguiu tocar a pele do delicado sexo. Alisava-a, tocava-a com cuidado, sabendo que ela poderia detê-la.

Ela estava tão molhada que a pequena calcinha de seda estava ensopada que não era difícil o contato.

-- Eu sei que você gosta do meu toque...

Sim, ela gostava de tudo relacionado à bela Del La Cruz. Mas não falou, ficou quieta, escondendo a cabeça na curva do pescoço da amada. Queria dizer que a amava, que estava apaixonada, mas sabia que não podia fazer isso. Temia ser ridicularizada, temia o sarcasmo da língua ferina, seus olhos de indiferença.

Agora, o indicador já tocava na fenda que separava a delicada parte feminina. Agora massageava o pequeno botão, fazia movimentos circulares, acariciava-o com toda sua experiência.

Ouvia os gemidos baixinhos...

Isso enlouquecia a empresária, mas ela não perderia a cabeça, faria aos poucos, venceria a suas resistências, seria sua, sua como desejava que fosse.

Continuou o toque. Penetrando-a devagar. Ouvia-a gritar em prazer. Penetrou-a de novo, mais uma vez...

Gabriele levou a lateral da mão à boca, mordendo-a, tentando evitar gritar diante de todo o regozijo que sentia.

Movia os quadris, implorando por mais, exigindo mais.

Um sorriso desenhou-se nos lábios da baronesa. Vencia a primeira batalha...

-- Entregue-se...não se negue, freirinha, sei que me quer...

As estancadas aceleravam mais e mais, tomando tudo o que podia e lhe dando todo o prazer que ansiava. A neta de Bernard esfrega-se nela, parecia pronta para tudo o que ela estava lhe dando, querendo dar-se por inteira.

Não demorou para a jovem gritar em puro êxtase, sentindo a cabeça girar, os espasmos que aos poucos iam acalmando.

Ana segurou-lhe o rosto em suas mãos, os olhos da amante ainda estavam fechados, aos poucos abriram-se e lá havia lágrimas, brilhavam como estrelas no céu noturno. Estava corada.

-- Pense direitinho, Gabi, podemos ter muito mais que isso, basta que aceite que nosso casamento continue. – Segurou-lhe o queixo. – É muito melhor que sejamos amantes que inimigas...

Gabriele mordiscou a lateral do lábio inferior.

Ana depositou um beijo em sua testa.

-- Vai ser só sexo então? – Questionou relutante.

-- E você não gosta?

Gabi levantou-se do colo da empresária. Sentia as pernas trêmulas ainda, mesmo assim preferia afastar-se.

Sim, ela gostava muito, amava o prazer que sentia nos braços de Ana Valéria, porém temia que ela enjoasse rápido e não quisesse continuar a relação depois. Sabia que não suportaria, pois a amava, amava-a tanto que temia perdê-la.

-- Por quanto tempo vai durar nosso casamento? – Questionou preocupada.

Não havia como decifrar o que havia naqueles olhos azuis, pois naquele momento se mostravam frios.

-- Apenas aceite... – Disse impaciente, levantando-se.

Pandora despertou da sua soneca. Olhava para as duas mulheres, depois caminhou até a sua dona, pedindo afagos em seu pescoço, prontamente foi atendida.

Gabriele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Pensarei... – Disse por fim.

Ana ficou lá, agachou para poder acariciar sua cadela. Fazia-o, tentando amenizar o fogo que queimava em seu corpo. Queria ter continuado o sexo com a esposa, mas esperaria que ela aceitasse o que estava lhe oferecendo.

Viu-a deixar o quarto, ansiando por pedi-la para ficar, mas acabou se calando, temendo o que sentia.


 

Comentários

  1. A baronesa tão dona de se, porém está com medo do que sente. A Gabi tem razão, pois se falar o que sente não será viável.

    ResponderExcluir
  2. Nao sei pq a baronesa nao assumi que gosta da freirinha ficam nesse impasse, pq Gabriele nao desisti logo de noivado fica indo ao encontro dos inimigos da baronesa e se ela descobrir vai ser pior pra freirinha

    ResponderExcluir
  3. A Ana Valéria não está acostumada com esse novo sentimento, já sofreu tanto sem merecer e agora receber "amor" é algo muito novo e difícil pra ela.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21