A antagonista - Capítulo 17
Alguns segundos se passaram até Tatiana entrar preocupada.
– O que houve? A garota passou por mim soltando fogo
pelas narinas.
A dançarina não respondeu de imediato, livrando-se
primeiro da máscara, depois livrando-se do roupão que usava. Quando foi soltar
as amarras que prendia o traje em seu corpo percebeu que as mãos tremiam.
Sentia-se invadida, maculada pela presença da jovem.
Ainda sentia o cheiro dela no recinto, na mão que lhe
segurara, detendo-a para que não lhe tocasse. O olhar inquisidor, curioso, provocante.
Sentia que havia labaredas queimando em seu interior
naquele momento.
Caminhou até o frigobar, pegando uma garrafa de água,
bebendo-a devagar, tentando controlar a respiração.
--Está tudo bem? – Tati indagou ainda mais curiosa que
preocupada naquele momento.
Rubi a fitou, mas não respondeu de imediato, apenas
encarando-a, em seguida disse:
– Essa menina veio aqui me dizendo que sou parecida com
alguém que conhecia, agindo com petulância. – Colocou uma mecha de cabelo por
trás da orelha. – Garotinha estúpida! – Sentou-se, pois parecia que as pernas
também tremiam.
Tatiana aproximou-se, agachando perto dela:
– Será que é alguém que te conhece, por que não falou com
ela? Poderia ter contado que não tem memórias, talvez...
– Eu não sei, não me senti segura, algo nessa garota me
perturbou… – Massageava as têmporas. – Ela tem algo que me irrita e essa
impressão é desde que a vi no restaurante.
– Será que é a mulher que o titio viu em seu passado e
que disse que te fez muito mal?
Rubi baixou a cabeça.
Não sabia. Há tempos vivia com aquela escuridão em sua
mente. Não sabia quem era, não sabia que vida levava antes daquela que estava a
viver. Mas de algo ela tinha certeza, alguém tentara matá-la em um avião e
depois disso só havia uma memória perdida que não parecia poder recuperar
nunca.
– Não seria bom que fizéssemos uma investigação sobre
essa moça? – A produtora indagou preocupada. – Se ela te conhece, essa seria
uma forma de chegarmos à verdade.
A dançarina não sabia o motivo, mas essa ideia a inquietava
bastante. Respirava devagar, pois sentia que o oxigênio lhe faltava no peito.
Levantou-se, tentando controlar a sensação que sabia ser
algo antigo em sua existência.
– Por favor, Tati, vamos esquecer essa garota. Não acho
que possa nos ajudar em nada e também não me senti bem na presença dela.
–
Não se sentiu bem? – A outra questionou interessada.
Ela
fez um gesto negativo com a cabeça.
-- O que sentiu?
-- Raiva...—Umedeceu os lábios. – Muita raiva...
Não falaria sobre as sensações estranhas em seu corpo.
Não desejava dar detalhes sobre aquele incômodo.
-- Não quero mais falar sobre isso e espero não encontrar
mais essa mulher.
A
outra não quis continuar pressionando-a, pois sabia que ela tinha algumas
crises de ansiedade e por essa razão deixou como estava.
–
Gastei todo aquele dinheiro para você sair em menos de dez minutos da sala? Foi
precoce foi?
Hellen
reclamava, enquanto Gabriele dirigia o veículo, saindo do estacionamento da
boate.
Algo
ainda a perturbava naquela mulher, algo a deixara irritada, desconsertada,
ansiosa.
–
O que você foi fazer lá? – A sócia voltou a questionar. – Queria apenas olhar
para a beleza dela? Se eu soubesse que seria isso, não teria gastado meu
dinheiro nisso. Bastava tirar uma foto para que ficasse a apreciar.
–
E você esperava que eu fizesse o quê? – Tinha a atenção na estrada. – Estive
lá, falei com ela, mas a talzinha foi arrogante, nem mesmo tirou a máscara para
que a visse.
–
Você pediu isso? – Quase gritou em perplexidade. – Meu Deus, amiga, o que você
esperava hein?
A
Bamberg apertava o volante do veículo fortemente.
Esperava encontrar Ana Valéria! – Mas esse pensamento
guardou para si.
Ainda pensava na voz feminina. O sotaque francês a
confundiu, mas o tom baixo e rouco lhe deixara ainda mais curiosa.
Ainda sentia o olhar sobre si, os lábios cheios e
bonitos.
Deus, o que estava acontecendo consigo?
-- Pensei que a seduziria e sairia de lá toda despenteada
e com a face corada... – A outra a provocava. – Você voltou corada, mas seus
cabelos estão bem arrumadinhos.
Gabriele parou o carro no semáforo, depois encarou a
outra.
-- Achava que eu iria me deitar com aquela dançarina? –
Fez um gesto negativo com a cabeça. – Está louca!
-- Estou? – Indagou com um arquear de sobrancelha. – Você
fica impressionada quando a ver, queria que pudesse ver seus olhos quando isso
acontece, eles brilham como nunca vi antes.
A Bamberg umedeceu os lábios demoradamente, depois voltou
a prestar atenção no trânsito.
–
Não quero mais falar sobre isso, nem quero nem pensar que essa mulher
existe…estou ficando louca… – Falou a última frase em um sussurro.
Os
dias passaram tranquilos.
Branca
seguia com seu trabalho na empresa, mas sempre tendo que suportar a presença de
Trevan e agora de Lorena que estavam trabalhando na corporação. Ela fora
totalmente contra, mas a neta de Bernard simplesmente fazia o que queria para
livrar-se do assédio da família.
A
administradora já chamara sua atenção inúmeras vezes, mas ela apenas dizia que
preferia viver em paz que continuar com aquela guerra.
–
Você sabe que se a Ana Veria estivesse viva…
–
Estou cansada de falar isso, aceite que ela está morta e que eu sou a única
responsável por tudo aqui.
A
discussão acontecia na mesa do jantar. Xavier e Branca tinham sido convidados
para irem até lá e nesse momento começava a discussão.
Clarice
olhava para Gabi, parecia preocupada.
Luna
já estava dormindo, pois chegara cansada da escola.
–
Estou cansada disso, Branca! – A Bamberg levantou-se. – Apenas administre tudo
e deixe de se preocupar com as pessoas … – Suspirou. –Sei que não gosta deles,
mas Trevan me criou como pai, se não tivesse sido ele, eu teria vivido na rua,
sem comida, sem nada, depois da morte da minha mãe. – Respirou fundo. – Me
perdoe em dizer, mas você precisa aceitar os fatos, você foi atrás e não
conseguiu nada, então, passa o tempo todo falando sobre a baronesa… – Olhou
para todos. – Vou dormir, estou cansada.
A
Wasten levantou-se.
–
Antes que vá, quero que saiba que não vou mais cuidar dos seus negócios. –
Disse decidida. – Te darei dois meses para que busque uma alternativa, pois
estou me retirando.
Gabriele
parecia surpresa, porém fez um gesto afirmativo com a cabeça, deixando a sala
pisando duro.
Clarice parecia apreensiva com o que se
passara. Gostava muito da menina, ainda mais por ter sido acolhida pela jovem,
mesmo sem ela ter nenhuma obrigação. Sentia muito a perda da filha e era graças
a Luna que conseguia seguir em frente.
– Por favor, Branca, não a abandone. – Pediu. – Eu também
acredito que Ana Valéria está viva. – Disse com lágrimas. – Eu sinto dentro de
mim, sinto aqui – apontou para o peito. – Minha filha está viva.
– E é por isso que estou pressionando a Bamberg para
deixar de fazer tanta bobagem. – Suspirou. – Se a Ana voltar e descobrir que o
Trevan e a Lorena estão dentro da empresa…coitada dessa menina. – Suspirou. –
Ela sabe o que vai enfrentar, sabe o que já passou, foi obrigada a se casar...
– Por esse motivo quero que fique ao lado dela, não a
abandone, por favor. – Implorou. – A Gabi anda meio estranha… parece dispersa,
estou preocupada, assustada com o fato de ela pouco estar dormindo, trabalhando
muito no restaurante e isso me preocupa.
A Wasten também tinha percebido isso, mas não falara
nada, pois sabia como ela se dedicava ao empreendimento e a filha.
Mesmo que estivesse irritada, sabia que tudo o que a neta
do barão queria era manter a paz, assim não teria que enfrentar Antônio. Sabia
como ela temia perder Luna. Mesmo assim, não conseguia aceitar suas decisões
dentro da corporação, temendo um desgaste maior em sua relação com a garota que
sempre gostara tanto.
Não tentaria conversar novamente com a Bamberg naquela
noite, mas em outro momento tentaria conversar com a jovem.
Gabriele não foi direto para os seus aposentos, passando
pelo de Luna.
Sorriu ao vê-la abraçada com seu ursinho.
Sentou-se em uma cadeira, olhando-a.
Estava cada vez mais linda e mais doce. Era uma criança
maravilhosa. Não costumava dar trabalho, apenas fazia algumas peraltices quando
estavam na cozinha criando seus pratos.
Acariciou-lhe os cabelos ruivos.
Ela era muito parecida com Ana Valéria fisicamente.
Apenas os olhos eram um pouco mais escuros.
O pensamento na baronesa a perturbou.
Beijou a menina, arrumando o cobertor, depois seguiu para
o próprio quarto.
Encontrou Lia com uma bandeja com um copo de chocolate.
-- Trouxe para te aquecer, hoje está um pouco frio. – A
empregada foi logo dizendo.
A Bamberg fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois
sentou-se na cama.
-- A Branca já foi? – Perguntou depois de um tempo.
-- Não, está conversando com a senhora Clarice. –
Encarou-a. – Discutiram de novo?
Gabriele não respondeu de imediato. Apenas tinha o olhar
preso na janela aberta. Olhava o céu sem estrelas.
-- Acha que estou errada, Lia?
A pergunta veio depois de um tempo.
A mais velha puxou uma cadeira e se sentou perto da jovem
como era normal fazer quando a via tão triste, conversando.
-- Filha, sabe que te entendo, sei que passou por muita
coisa e não deseja mais brigas...
-- A Wasten sempre diz que se a baronesa estiver viva...mas...mas
se ela está viva onde está? – Perguntou encarando a amiga. – Se ela estivesse
aqui...como seria?
-- Eu sei que mesmo que tente não demonstrar, eu te
conheço muito bem e sei que sofre com tudo isso...Gabi, você estava apaixonada
pela esposa do seu avô, essa é a verdade.
Lágrimas começaram a rolar pela face da chef de cozinha.
Lia acomodou-se ao seu lado, abraçando-a. Ouvindo os soluços desesperados da
garota que amava como se tivesse seu sangue.
Naquela noite o restaurante estava cheio e tinha faltado
dois garçons, por esse motivo, Gabriele estava ajudando, servindo os pratos. O
movimento estava grande, parecia que as pessoas estavam ansiosas para provar o
tempero das duas chefs.
Em determinado momento, quando já estava perto de fechar,
Miguel apareceu. O advogado acomodou-se no balcão. Estava bem-vestido, usando
terno impecavelmente passado.
– Amor, eu preciso que se arrume ou chegaremos atrasadas
na recepção. – Segurou a jovem pelo braço.
A Bamberg soltou um longo e sofrido suspiro.
Não desejava sair com o namorado, mas ele tinha insistido
tanto que acabara cedendo ao seu desejo.
– Preciso me arrumar ainda, estou em uma correria aqui. –
Disse em um pedido mudo.
– Não vai cancelar, Gabi, você deu sua palavra. – Falou
exasperado. – E acho um absurdo que esteja servindo como se fosse uma
simples empregadinha.
-- Sabe que não me importo com isso.
-- Mas deveria, é uma empresária e deveria agir como tal.
– O rapaz olhou tudo ao redor. – Não acredito que vai me deixar ir sozinho a
essa comemoração. Na verdade, há tempo para tudo em sua agenda, menos para mim.
Ela o encarou, sabendo que não poderia negar-se.
Fez um gesto afirmativo com a cabeça.
– Dê-me um tempo, preciso me arrumar.
– Tem pouco tempo.
– Ah, então você vai ter que ir sozinho, pois ainda
tomarei banho. – Respondeu aborrecida.
A festa era uma comemoração privada de um juiz que tinha
sido aprovado em um concurso federal.
O salão estava bem decorado. As luzes brilhavam como se
fosse uma danceteria. Havia mais homens que mulheres, pois tinha sido marcado
um espetáculo com dançarinas.
Os garçons serviam bebidas, enquanto as pessoas dançavam.
Quando Miguel e Gabriele entraram, os olhares voltaram
para os dois. A Bamberg era uma mulher muito bonita. Usava um delicado vestido
azul em tecido de cetim. O modelo chegava no meio das coxas. Na cintura havia
um cinto dourado, fino, destacando a cintura. Os cabelos tinham sido trançados
no estilo nagô, até o início, deixando o resto solto, caindo sobre os ombros
que deixavam expostos o decote em V da peça de roupa. Nos pés, usava uma
delicada sandália de salto, ela trançava sua panturrilha. Era do mesmo material
que o cinto.
– Chegamos tarde. – O rapaz sussurrava em seu ouvido em
tom bravo. – Odeio chegar atrasado nos lugares.
– Se tivesse vindo sozinho teria resolvido esse problema.
– Ela falou, enquanto recebia os cumprimentos dos presentes. – Estou com dor de
cabeça, então, não me chateie mais com isso, por favor.
Miguel não pareceu gostar da forma que a moça falara,
afastando-se para tomar um drink com alguns amigos.
Ela não pareceu se importar, acomodando-se em uma
poltrona, ouvia a banda que tocava uma balada romântica. Tirou o celular da
bolsa para falar com Clarice. Mandou algumas mensagens e a mulher respondeu
prontamente. Luna já estava dormindo, porém perguntara se a mãe chegaria cedo
para lhe contar uma história.
Guardou o aparelho, prestando atenção no que se passava.
Sentiu um olhar em sua direção e foi quando viu Paloma ao lado de Otávio. Pelo
que ficara sabendo, o noivado dos dois tinha sido reatado e logo trocariam
alianças. Não fazia tanto tempo que ficara sabendo que eles já quase se casaram,
mas nada foi concretizado, pois a noiva tinha se deitado com a Del La Cruz um
dia antes do enlace.
Mordiscou
a lateral do lábio inferior.
Não
gostava da modelo, achava-a muito oferecida, mesmo que tentasse
comportar como uma dama. Também sabia do seu desagrado, ainda mais quando
descobrira sobre o casamento com Ana Valéria.
Precisou
levantar-se para receber os cumprimentos.
--
Que bom encontrá-los aqui! – Otávio dizia. – Pensei que não viria, Gabriele,
sei como é uma mulher ocupada.
--
Realmente, mas o Miguel me convidou, então acabei aceitando. – Respondeu com um
sorriso simpático.
--
E quando vão se casar? – A modelo perguntou em provocação. – Foi tão rápida em
contrair matrimônio com a baronesa, mas com o namorado não parece muito
interessada.
A
Bamberg a fitou, pensou em responder, mas apenas deu de ombros, voltando a se
sentar.
Olhava
para o relógio, esperava que a noite não demorasse, pois só desejava voltar
para sua casa e dormir.
As luzes foram diminuídas e agora pouco se via naquele
salão.
A Bamberg viu o namorado conversando com os colegas,
então levantou-se e caminhou para a lateral, onde tinha sido montado um bar. Sentou-se
em um dos bancos e pediu um suco, enquanto fitava os arranjos que logo
transformavam o palco e o apresentador já anunciava a nova apresentação: Pole
dance.
Ouvia os homens parecem ainda mais tolos diante do
anúncio, viu o namorado entre eles. Essa era uma das razões de não desejar ir
até ali. Viu as mulheres conversando. Olhou para o relógio, ansiando pelo
momento de ir embora para casa. Não ficaria nenhum minuto a mais com Miguel,
esperava que ele não insistisse em intimidades naquela noite.
A
música começou a tocar, então ela olhou sem interesse, viu os dançarinos e
dançarinas cobrirem alguém e logo a bela mulher que a Bamberg já conhecia
apareceu na sua beleza arrogante.
Rubi…
Ela
vestia um minúsculo short preto de couro, um minúsculo top do mesmo material,
expondo a curva dos bonitos seios. A barriga lisa estava à mostra. Usava botas
de cano alto na mesma cor do resto do traje. Fitou a máscara que era prateada.
Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Observou-a por mais algum
tempo, até sentir os olhos azuis em sua direção, parecendo surpresos com a sua
presença.
Os
homens gritavam em euforia, mas a estrela principal continuava a lhe olhar,
parecia infinitos segundos, então alguém pareceu despertá-la e logo ela
começava a dança sensual.
Os
passos pareciam ainda mais ousados. O corpo da artista rebolava de uma forma
que lembrava uma dança sexual. Ela usava um chicote e encenava bater nos parceiros.
A
Bamberg bebeu um pouco do suco, mas não desviava os olhos da cena em nenhum
momento. A performance na haste do pole iniciava e era tão sensual que a chef
sentiu algo estranho no abdômen.
Umedeceu os lábios demoradamente, sentia-os ressecados,
como se precisassem de muito líquido para conseguirem ser hidratados.
Ouvia os gritos do público, porém não parecia se
interessar, só acompanhava os passos da dança que parecia não ter fim. Vez e
outra conseguia lhe capturar o olhar, via os lábios desenhados em um sorriso
sensual, convidativo. Recordou-se de tê-la tão perto de si, do aroma delicioso
do corpo feminino, da voz melodiosa...
Viu
um dos advogados seguir para dançar junto com a mulher e aquilo a
incomodou.
Deu
as costas para o show, enquanto olhava para o copo de suco que estava sobre o
balcão.
Estava
ficando louca, aquilo não parecia real, sentia algo tão estranho em relação à
dançarina, da mesma forma que sentira tantas vezes em relação à Ana Valéria.
Ouvia
os gritos, a música e tudo isso a estava irritando.
Levantando-se,
seguiu em direção ao banheiro.
Precisou
abrir espaço entre os convidados, seguindo pelo corredor, viu a porta e entrou.
Suspirou
ao ver que estava vazio.
Parou
diante do enorme espelho e percebeu que a face estava corada. Pensou em ligar
para o motorista vir buscá-la. Não queria ter ido até aquela comemoração, só o
fizera porque o namorado a pressionou. Não gostava desses eventos, ainda mais
agora com a presença da tal mulher que a perturbava demasiadamente.
Passara
todos aqueles dias sem lembrar a existência de Rubi, mas agora as perturbações
retornavam à sua mente.
Ouviu
a porta abrir e não demorou para duas convidadas entrarem. Riam de algo que
diziam. A neta de Bernard pediu licença e deixou o lugar.
Não
queria voltar para o salão, então caminhou por uma porta lateral e saiu em um
jardim. Estava pouco iluminado, não havia ninguém ali. Havia algumas árvores
frondosas e roseiras. Existia uma calmaria que a fez se sentir melhor.
Olhou
para o céu e viu as estrelas forrando o abobado. A lua estava minguante, mas
isso não a impedia de se destacar ali. Viu um banco de pedra, então decidiu sentar-se,
apenas esperar a hora de ir embora.
–
O que houve? – Tatiana questionava Rubi no improvisado camarim. – Parou e só
começou a dançar porque o Fred tocou em você.
A
mulher estava sentada em uma poltrona, bebia água. A pele estava suada pelo
esforço que fizeram. Seus olhos mostravam-se alertas.
–
Aquela garota estava lá… – Disse dando uma pausa. – A dos olhos negros. – Tirou
a máscara irritada. – Há algo nela que me perturba, algo que tira o meu
controle, mas eu não sei o que é.
A produtora a olhava curiosa. Não era comum ver a moça
assim, desconcentrada, fora do seu controle habitual.
–
Provavelmente você a conhece, ela mesma disse isso, disse que lembra uma
pessoa. – Puxou uma cadeira para perto dela, sentando-se. – Talvez deva tentar
falar com a jovem…
A
dançarina a interrompeu.
–
E se for uma das pessoas que tentara contra a minha vida? – Indagou
interrompendo-a. – Pode ser a tal mulher que fora vista no meu passado e que me
fez muito mal.
Sim,
havia esse risco.
A
bela artista tinha sido resgatada em um rio. Estava quase morta quando o pajé
de uma tribo local a viu segurando em um arbusto para não ser levada pela
correnteza. Havia um ferimento à bala perto da coxa, mas pegaram
superficialmente. Ela ficara desacordada durante longos dias e quando
despertara a única coisa que se recordava era de estar em um avião e ser
atacada por um homem.
Rubi
levantou-se.
–
Quanto tempo tenho para descansar antes de voltar lá?
Tatiana
olhou o relógio que trazia no pulso.
–
Trinta minutos.
A
dançarina colocou a máscara e pegou uma capa preta de capuz.
–
Vou tomar um pouco de ar, volto logo.
A
Bamberg continuava no mesmo lugar. Teclava com Hellen. A sócia lhe contava que
o restaurante acabara de fechar, pois o movimento naquela noite tinha sido
bastante positivo. Tudo isso ocorrera porque as duas chefs decidiram mudar um
pouco do cardápio, vendendo até lanches rápidos e como estava tendo uma festa
popular ali perto, tudo isso enchera o local.
Ela
sabia que precisavam inovar, pois tinha contraído algumas dívidas e se não
pagassem ao banco poderiam perder o empreendimento.
Pensara
em pegar das empresas que tinha herdado, mas não costumava tocar nesse
dinheiro, pois desejava construir algo que fosse verdadeiramente seu, tendo
seus esforços lá.
Pensava
em mandar mensagem para o motorista quando ouviu passos aproximarem-se e ao
levantar a cabeça, viu a dançarina. Assustou-se.
–
Calma, senhorita, não precisa temer.
A
voz baixa e controlada fez ouvir. Rubi caminhava pelo jardim quando observou a imagem
solitária sentada em um dos bancos, ficou durante alguns segundos, apenas
admirando-a, olhando-a sem ser percebida, analisando-a e tentando buscar em
suas memórias algo que pudesse identifica-la. Pensou em ir embora, mas seus
passos acabaram chamando a atenção da chef de cozinha, por isso, acabou aproximando-se.
Gabriele
suspirou, enquanto observava a figura parada lá a lhe olhar.
–
Não apreciou o show?
A
Bamberg não respondeu de imediato, apenas parecia inspecionar a visitante
inesperada. Encarou os olhos brilhantes. Havia uma expressão debochada presente
nos lábios bonitos.
–
Na verdade não gosto muito de ver uma mulher dançando seminua, fazendo
movimento que parecem mais uma orgia sexual.
A
gargalhada rouca soou e novamente, a neta do barão sentiu aquela sensação de
conhecer bem aquele jeito de agir.
–
E eu pensando que gostava… – Acomodou-se ao lado dela. – Afinal, esteve em um
ambiente de péssima fama só para ver a dança...E cá pra nós, seus lindos olhos
negros não pareciam abandonar a dançarina... – Provocou-a.
A
chef virou-se para fitá-la.
–
Fui porque minha amiga me levou, não porque queria ver aquela palhaçada. –
Retrucou irritada. – Quanto a olhar, bem, vi um monte de homens gritando e
queria mesmo saber o que causava tanta euforia.
-- E descobriu? – Questionou com um arquear de
sobrancelha. – O que será que chamava tanto a atenção de todos hein?
A neta de Bernard
observava os lábios rosados, eram tão lindos, cheios e desejosos.
-- Acho que você é muito convencida...irritante...
Rubi
mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto examinava bem a face feminina.
Era muito bonita, ainda mais com os olhos negros soltando faíscas. Não
imaginava que alguém com aparência tal angelical tivesse um gênio tão forte.
Observou o lábio superior...
Decidiu
provocá-la mais.
–
Ora, mas esteve até em meu camarim…pagou bem para isso…não entendo o motivo de
criticar tanto as pessoas que apreciam minha apresentação...
A
Bamberg levantou-se.
–
Realmente, um dinheiro que não valeu a pena, até pensei em pedir reembolso...mas
não acho que teria algum êxito...
A
dançarina voltou a rir alto.
–
Não vou ficar aqui ouvindo seu riso debochado…Sua presença é desagradável,
deixei a apresentação porque me incomoda estar no mesmo lugar que você, então
se não for pedir muito, retire-se, volte para o palco e continue com sua “performance”
... – Usou o tom irônico na última palavra.
Furiosa,
virou nos calcanhares para voltar para o salão, mas sentiu uma mão fechar-se
delicadamente em seu braço. Sentia o veludo das luvas que ela usava. Fitou-lhe
por alguns segundos, depois desvencilhou-se do toque que parecia queimar em sua
pele.
–
E o que a senhorita queria que eu tivesse feito para o seu precioso dinheiro
valesse a pena? – Chegou mais perto. – Não damos reembolso, então precisa
usufruir do que foi pago…
Antes
que Gabriele tivesse tempo de esbravejar de novo, sentiu a boca feminina pousar
sobre a sua.
Não
fora de forma brusca, mas gentil, tanto que poderia ter se afastado quando o
ato iniciou, mas ela não o fez, permaneceu quieta, esperando pelo que viria.
Rubi
segurou-lhe a nuca, trazendo-a para mais perto.
A
chef sentiu o aroma doce mesclado ao suor e não demorou para ceder ao toque. As
bocas uniram-se de forma perfeita, como se já se conhecessem. A carícia fora
dominada pela dançarina. Essa lhe procurava a língua e quando teve o acesso que
esperava, tomou-a para si, devorando-a como a uma iguaria irresistível e cara.
A Bamberg permitiu que o beijo acontecesse, aceitando que o toque continuasse,
sentindo a maciez dos lábios rosados.
A dançarina colou mais os corpos e foi como uma corrente
elétrica lhe sacudisse. Um frenesi tão forte a assustou, então ela interrompeu
o contato, afastando-se.
Gabriele
a olhava com expressão perplexa, tendo a face tão corada que parecia que seu
sangue tinha subido totalmente para a cabeça.
–
Acho que agora não vai precisar de reembolso.
Antes
que a jovem pudesse responder, a dançarina afastou-se, sumindo entre os
arbustos.
Os
olhos da neta do barão estavam arregalados diante do ocorrido. Porém, seu corpo
estava estático, não parecia conseguir mover-se. O aroma do corpo feminino
tinha ficado em si, como se tivesse pregado em sua pele.
Não acreditava que tinha permitido que a dançarina lhe
beijasse, não acreditava que aquela mulher fora tão atrevida e arrogante a
ponto de provocá-la com a ideia do reembolso.
Era
manhã de sábado.
Gabriele
estava na área da piscina com Luna e Pandora. Tomavam desjejum quando Miguel
aproximou-se.
O
rapaz parecia furiosa ao aproximar-se.
–
Como foi capaz de me deixar sozinho na festa, saindo sem nem mesmo me avisar.
A
criança comia bolo e alisava os pelos da cadela, não parecia se importar com o
que se passava.
–
Te mandei mensagem no celular. – A Bamberg disse, continuando a tomar o suco. –
Não estava me sentindo bem, não quis te incomodar por isso fui embora.
Depois
do episódio que ocorrera com a dançarina, ela pedira para o motorista ir buscá-la,
não voltando mais para o salão. Ficara tão abalada com o ocorrido que nem mesmo
pensara em falar com ninguém, apenas desejara sair dali.
–
Todo mundo ficou te procurando e eu com cara de bobo. – Passou a mão nos
cabelos. – Não entendo o seu comportamento, seu jeito de agir só me confunde.
Ela
fitou os olhos do advogado por alguns segundos, depois desviou o olhar.
Agora
estava se sentindo culpada pelo que tinha feito, sabia que não deveria ter
agido daquela forma, mas não teria coragem de olhar para ele naquela noite, não
depois de ter trocado beijo com uma dançarina de cabaré.
Levantou-se,
chegando mais perto dele.
–
Me perdoe, eu não estava me sentindo bem e não queria acabar com a sua noite,
vi como estava gostando de tudo… – Tocou-lhe os lábios de leve. – Por que não
passa o dia com a gente? – Convidou com um sorriso. – Ficaremos felizes com a
sua presença…
Ela
queria se redimir, tentava colocar entusiasmo na voz, mas a verdade é que só
queria passar o dia com a filha.
Segurou-lhe
a mão.
–
Vem, senta e toma café com a gente.
Ele
parecia ter sido vencido pelo jeito carinhoso, então acabou cedendo.
O
homem passara o dia todo lá. Ele não parecia muito paternal com Luna, nem mesmo
fazia muita questão da presença da menina. Clarice percebia isso, mas não
comentava nada, pois não desejava arrumar ainda mais problemas para a Bamberg.
Ele
fora tão persuasivo que acabara ficando para dormir, tendo a namorada cedido ao
sexo, depois de ele voltar a usar a culpa que ela sentia, não só por tê-lo
deixado sozinho, mas também por ter permitido que aquela mulher a beijasse.
A semana iniciava agitada. Houve inúmeras reuniões
com a diretoria, pois havia a possibilidade de fusão entre a corporação e a
empresa de Antônio. Lorena parecia decidida a conseguir isso.
Branca
expunha a atual situação da empresa do Del La Cruz. Trazia provas concretas que
informavam que poderia ter uma possibilidade de falência, então se tornava
arriscada essa possível união.
Gabriele
viu a irmã do pai esbravejar e ela só queria ir embora dali. Miguel também
estava presente, representava Antônio e parecia bastante conciso em sua missão
de convencer a herdeira de Bernard de concordar com o que estava sendo
proposto.
Nada
tinha decidido, mesmo depois de todas aquelas reuniões. Já era sexta-feira, a
Bamberg ouvia Branca esbravejar em sua sala.
Ela
não aguentava mais tudo aquilo. Já pensaram mesmo em entregar tudo nas mãos de
Antônio e ficar livre de tudo aquilo, de toda aquela pressa que vinha
sofrendo.
–
Você não é uma criança, sabe muito bem o que está sendo proposto, você viu os
dados. – A Wastem dizia. – Por Deus, Gabi, tome uma atitude, encerre essa
discussão e diga que não haverá essa fusão.
Ela
permanecia calada, enquanto fitava o relógio.
Quase
dez horas da noite.
Não
houve um único dia naquela semana que conseguira ir ao restaurante, pois sempre
tinha que participar daquelas reuniões.
Movia-se
na cadeira, estava inquieta.
–
O que deseja que eu faça? Que diga que não? – Perguntou depois de algum tempo
calada.
–
Sabe de uma coisa? – Branca jogou a pasta sobre a mesa. – Faça o que você
quiser, não me importa mais, eu estou fora.
A
Bamberg baixou a cabeça, enquanto ouvia o som estridente da porta batendo.
Estava
cheia de tudo aquilo. Sentia-se pressionada por todos os lados.
Ouviu
o celular tocar, era o namorado. Via a imagem do homem aparecer na tela. Não
desejava falar com ele, sabia que tentaria convencê-la a aceitar tudo.
Mordiscou
a lateral do lábio inferior.
Pegou
o telefone interno e discou para a secretária.
–
Peça ao motorista para vir me buscar.
O
cabaré estava cheio naquela noite. Houve várias apresentações, mas a que era a
mais pedida era a que tinha como estrela Rubi.
Ela
já entrara em palco duas vezes e agora era sua última.
A
pele estava suada, enquanto fazia sua performance no pole dance. A música alta
e eletrônica trazia ainda mais emoção às ações desenvolvidas.
Homens
e mulheres gritavam em euforia, exceto uma cliente que permanecia apenas
observando tudo sentada em um dos altos bancos do bar.
A
Bamberg ficara rodando pela cidade durante longas horas com o motorista. Não
queria ir para casa, não se sentia bem. Estava sufocada com tudo o que estava
acontecendo.
O
motorista a deixara em uma rua, em um restaurante conhecido, mas ela seguira em
um táxi e fora para a boate.
Agora
estava ali, sentada e tinha nas mãos um copo de um tipo de coquetel. Aquela era
a primeira vez que provava algo alcoólico depois de muito tempo e o sabor do
drink fora aceito de bom grado.
Mandara
uma mensagem para Clarice, avisando-a que estava com Hellen. Não queria deixá-la
preocupada.
Depois
disso tinha desligado o celular, pois Miguel continuava a insistir em vê-la.
Não sentia nada quando o rapaz a tocava, era como se seu corpo estivesse totalmente
desligado.
Levantou a cabeça e viu a dançarina, porém não continuou
a olhá-la. Nem mesmo sabia o motivo de ter ido até ali. Sentia-se tão culpada
por tudo o que estava acontecendo. Estava triste pelos conflitos que estavam
acontecendo com Branca. Tinha um carinho muito especial pela administradora,
ainda mais por tudo que fizera por si, por tantas vezes ter enfrentado a
baronesa para lhe proteger, porém não podia agir da forma que ela esperava. Já
pensava várias vezes em renunciar à herança que recebera, deixar tudo de lado,
talvez assim pudesse ter um pouco de paz.
Observava o copo com o drink colorido, bebeu mais um
pouco.
Um
homem aproximou-se de onde ela estava
–
Posso te pagar algo, bela dama?
Ela
esboçou um sorriso forçado.
–
Agradeço, mas posso pagar pelo o que desejar…
Rubi
sentia-se mais eufórica naquela noite, ainda mais quando viu a jovem de olhos negros.
Ainda
sentia o sabor delicado da boca feminina na sua. Era doce, gentil, mas também
era exigente. Passara os dias pensando em como seu corpo reagira ao toque, de
como precisara ir embora, antes que fizesse uma loucura.
Observou-a
ocupar um banco no bar e desde então continuava lá, parecia pensativa e vez e
outra via o olhar passeava em sua direção.
Dançou
ainda com mais sensualidade, vendo a expressão desdenhosa. Viu um homem
aproximar-se, parecia interessado em perturbá-la, ficou observando, mas ela
conseguiu livrar-se do rapaz.
Ouviu
gritos de euforia dos clientes, então encerrou a apresentação, seguindo para
fora do palco. Algumas pessoas vieram até ela, mas logo ela abria caminho,
chegando ao bar.
Gabriele
bebia seu drink quando viu a Rubi aproximar-se.
Observou
a roupa que ela usava, viu o sorriso dançando nos lábios cheios e rubros. Um
capuz cobria os cabelos negros.
–
Ora, que surpresa, não imaginei que viria aqui novamente. – Olhou de cima a
baixo. – Não acho que esse lugar seja para a senhorita... – Pediu uma água,
bebendo-a devagar.
A
Bamberg estava bastante social naquele dia. Vestia-se com terninho rosa,
composto de calça e blusa, agora a parte de cima estava aberto, mostrando a
blusa branca que usada de gola alta. Também estava de sapato de salto alto. Os
cabelos estavam arrumados de forma mais etérea.
–
Toda vez que nos encontramos você está com um estilo diferente. – Comentou,
enquanto aceitava uma taça que o garçom lhe estendeu. – Hoje está disfarçada de
quê?
Gabriele
não respondeu de imediato, permanecendo quieta, parecia pensativa, enquanto
continuava com sua bebida. Fitou o corpo quase totalmente exposto, depois
observou os olhos azuis.
–
Não tem nenhum cliente para ir para o seu camarim hoje? Ninguém deseja sua
companhia arrogante?
Rubi exibiu seu sorriso provocante.
–
Ainda não me ofereceram o suficiente… – Chegou mais perto. – Tem dinheiro para
pagar como naquele dia? – Provocava-a. – Sua amiga pagou muito bem para você
entrar lá e ficar dizendo que eu te lembrava uma mulher… – Encarou-lhe os
olhos. – Quem era essa mulher hein?
–
Acho que era quase uma vagabunda como você. – Respondeu irritada. – Irritante,
convencida, cheia de si...
Rubi
arqueou a sobrancelha, enquanto estreitava os olhos ameaçadoramente. Não
parecia ter gostado da forma que a outra falara.
–
Não sabe respeitar as pessoas, burguesinha?
Gabi
baixou a vista, não queria ter sido grosseria, mas não gostou da provocação. O
que se passava quando estava com aquela mulher? Havia algo dentro de si que
gritava, escandalizava, como se ansiasse por algo que não podia lhe dar.
–
Eu pago para ir até o seu camarim… – Disse depois de alguns segundos. – Quanto quer?
A
dançarina bebeu o conteúdo todo da taça.
–
A senhorita não é bem-vinda… Tem um nariz muito empinado e acha que é melhor
que todo mundo…não gosto de gente assim...então pegue seu dinheirinho e vá para
bem longe das minhas vistas.
Já
deixava o local, mas a Bamberg a segurou pelo braço.
–
Pago quanto quiser…
O
maxilar de Rubi enrijeceu, enquanto encarava os olhos negros.
–
E o que vai querer fazer lá no quarto? Olhar para mim e dizer que pareço com
alguém que conhece?
–
Bem, eu quem vou pagar, então posso ficar lá só te olhando… – Tirou a careteira
e viu que só estava com o cartão corporativo. – E então? Vamos?
Aquela
garotinha estava irritando bastante e a artista pensou em lhe dar uma boa
lição. Via que estava se comportando com arrogância. Não pensara que ela era
daquele jeito, pelo menos a aparência não demonstrava nada assim, mas agora via
como ela se achava superior por ter dinheiro. Sabia que ela tinha um namorado,
até mesmo o viu no dia da festa, ele ficou louco procurando a garotinha
petulante, mas ela tinha sumido.
–
Não estou interessada… – Olhou-a com desdém. – Posso indicar outras pessoas
aqui que levaria para o meu camarim sem pagar nada, mas você, nem por todo
dinheiro do mundo.
Gabriele
fez um gesto afirmativo com a cabeça. Virou-se para o bar e pediu outra bebida.
Rubi
foi para o outro lado do salão. Viu Tatiana, então foi falar com ela.
–
Parece que a sua fã voltou… – A mulher foi logo dizendo. – E você sabe que eu
estava olhando-a, acho que é a primeira vez que prova álcool...fiquei
preocupada.
A
dançarina não disse nada, seguindo em direção ao camarim. Queria descansar,
tirar aquela roupa, tomar um banho.
A
assistente seguiu ao seu lado e só quando chegaram ao lugar é que fez ouvir sua
voz.
–
Por que ficou chateada com a tal lá? Ela disse mais uma vez que você lembra
alguém que conhece?
Rubi
acomodou-se na poltrona, cruzando as pernas longas.
–
Eu apenas não gosto dela e você sabe muito bem disso. – Inclinou a cabeça para
trás e fechou os olhos. – Será que hoje tudo vai até a madrugada? – Indagou sem
se voltar. – Acho que vou tomar um banho e vou para minha cama.
–
E os clientes? Não vai abrir espaço para ser admirada aqui no seu reinado?
Ela
fez um gesto negativo de cabeça.
Tatiana
percebeu que ela queria ficar sozinha, então saiu do espaço. Notava que nos
últimos dias, a artista estava um pouco irritada, agoniada, desde o que tivera
a apresentação na festa particular. O que teria acontecido?
Gostava
muito da mulher. Via-a como uma irmã, estivera ao lado dela o tempo todo quando
fora resgatada, até pensou em usar as redes sociais para pedir ajuda para
encontrar a família da bela, mas ela não quisera, tinha medo, pois sabia que
tentaram matá-la.
Os
clientes já estavam indo embora, mas a Bamberg continuava lá, bebera tanto que
não conseguia nem levantar a cabeça. Estava sentada no banco, olhava para
os próprios pés.
Tatiana
aproximou-se preocupada.
–
Senhorita, quer que eu chame um táxi?
Gabriele
respondeu baixinho sem se voltar.
–
Posso dormir…dormir aqui? – Dizia em tom ébrio. – Não vou perturbar… – Apontou
para os sofás de couro que rodeavam o palco. – Só preciso dormir…minha cabeça
gira...
O
garçom trocou um olhar com a mulher, parecia também preocupado, pois tudo já
estava sendo fechado.
Ouviram
passos e Rubi apareceu vestindo um roupão de seda, continuava usando máscara,
os cabelos continuavam arrumados.
A
produtora foi até ela.
–
Acho que a sua fã está muito bêbada…consegue nem falar direito…
A
dançarina observou a moça. Parecia tão perdida, desolada.
–
Ela é rica, deve ter um motorista…chame um táxi…-- Disse em descaso.
–
Disse que não quer, pediu para dormir aqui…
Os
olhos azuis estreitaram-se, enquanto olhava a jovem. Observava-a e via como
havia algo em seu olhar que a assustava, perturbava-a. Era tão bonita, os
cabelos pareciam caracóis.
Viu-a tropeçar ao descer do banco.
Suspirou exasperada.
–
E ela vai pagar pelo dormida? – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Leve-a
para o meu quarto, amanhã cobraremos a estadia.
–
Por que você não a leva? Tenho que terminar de fechar o caixa.
Rubi
não pareceu gostar, mesmo assim fez um gesto afirmativo, sabendo que teria que
fazer o trabalho sozinha.
Caminhou
pisando duro até onde estava a jovem.
–
Por que não me diz o número do seu namorado? Assim você vai embora. Seu
motorista, alguém que possa te levar de volta para o seu castelo encantado.
A
Bamberg agora fitou a mulher que lhe falava aborrecida, observou os olhos brilhantes.
–
Está mais bonita que antes… – Disse com um sorriso. – Parece tanto a Ana
Valéria…– Falou mais alto. – A baronesa…poderosa…arrogante…cruel…mas linda…Ai,
como ela era linda, eu fingia que não achava...mas ficava admirando-a...
–
Que baronesa que nada! – Respondeu irritada. – Vem que vou te levar para o
quarto.
Rubi
segurou-a devagar, fazendo-a apoiar-se em si. Circundou-lhe a cintura e passo a
passo seguiam pelo corredor longo.
Tanto
a dançarina quanto Tatiana tinham organizado um dos espaços e transformado em
um quarto, pois assim não teriam que gastar com outro lugar.
Caminhavam,
enquanto Gabi vez e outra falava, sua voz ia de tristeza à extrema alegria. O
riso alto enchia o ambiente. Não havia muito nexos nas frases, pouco dava
para entender, mesmo assim ela não parava de falar.
A
dançarina revirava os olhos em exasperação, mas em outros momentos, acaba rindo
da bêbada.
Nas
vezes que tinha visto a moça sempre achara que ela era bastante quieta,
recatada, tímida. Claro que exibia aquele ar petulante, mas não imaginara que
ela perderia a compostura depois de beber alguns drinks.
Pararam
na porta, estavam encostadas lá.
–
Ninguém vai vir atrás de você, moça? – Rubi indagava encarando os olhos que
agora pareciam menores, mas o brilho continuava lá. – Seu namoradinho não vai
sentir sua falta? – Questionou bem perto dos lábios.
Gabi
fez uma careta.
–
Não o quero… – Acariciou a face da mulher com as costas das mãos. – Você é tão
linda…tira a máscara…quero ver…deixa eu ver seu rosto...só um pouquinho...
A mão atrevida já tentava fazer o ato, porém fora detida.
–
Não pode, senhorita… deixe que a máscara fique no lugar... – Observou-lhe
os dedos longos de unhas bem-feitas. – Fique quieta ou te jogo para dormir na calçada.
Respirou
fundo e sentiu o aroma do delicado perfume que ela usava mesclado ao hálito
etílico. Fitou os lábios entreabertos, pareciam ainda mais convidativos.
–
Por quê? – Mordiscou o lábio inferior. – O que esconde…? É uma perigosa
assassina que usa a identidade de dançarina de cabaré para não ser descoberta?
Rubi
ficou parada, prendeu o fôlego quando os lábios da Bamberg colaram nos seus.
Pareciam ainda mais macios que da primeira vez. Sentiu-a tomar-lhe a língua e
deixou, não criou nenhuma barreira, apenas permitindo.
Sentiu-a
ousar mais, descendo as mãos por suas costas, parando em sua cintura,
amassando-a, trazendo-a mais para perto de si.
As
mãos de dedos longos subiram por seus seios, mas foi detida.
–
Está muito atrevida… – Rubi comentou sem fôlego, afastando-se um pouco. –
Melhor dormir…
–
Não sente desejo por mim? – A Bamberg questionou, encarando-a. – Talvez eu
esteja errada, mas eu sinto que me quer também…Eu vejo seu olhar...
Sim,
ela queria, havia algo naqueles olhos negros que a perturbava bastante, era
como se houvesse um imã que a atraia de forma tão poderosa que não conseguia
resistir.
Ouviu
passos e Tatiana apareceu com olhar desconfiado.
–
Precisa de ajuda?
Rubi
sorriu.
–
Leve-a para o quarto, tenho que resolver algo.
Gabriele
esboçou protesto, enquanto fitava a dançarina.
–
Pensei que fosse comigo…– Reclamou com a voz embriagada. – Pensei que fosse
mais determinada…tem medo… –Gargalhou. – Medrosa…
Rubi ainda olhou durante alguns segundos, porém depois
desapareceu pelo corredor escuro.
Já era de manhã.
Helen estava em seu apartamento, não tinha dormido
durante toda a noite, ainda mais quando recebera o telefonema de Clarice,
dizendo que Luna não estava conseguindo dormir sem ver a mãe. Estranhou de
início, mas então descobriu que todos pensavam que Gabriele estava consigo.
Ouviu o som da cafeteira avisando que seu café estava
pronto. Colocou-o na xícara, sentando-se na banqueta da mesa americana.
Pegou o celular e discou mais uma vez o número da amiga,
porém mais uma vez deu desligado.
O que estava acontecendo?
Sabia que no dia anterior ela não estava muito bem,
percebera pelo tom de voz. A jovem vinha sofrendo muita pressão de todos os
lados devido ao seu compromisso com a empresa herdada do avô, sem falar no
relacionamento que parecia sufocá-la.
Ainda
pensara se a amiga tinha ido para o apartamento de Miguel, mas isso seria quase
impossível.
Baixou a cabeça e tomou um pouco do líquido preto e foi
quando teve uma inspiração.
Rapidamente deixou a xícara de lado, correu pelo espaço,
pegando as chaves do carro e deixou imediatamente o apartamento.
Prendi o fôlego kkkkk
ResponderExcluirComo se beijando e a Gabi não sentiu que tudo aquilo era conhecido,?
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