A antagonista - Capítulo 16
Estava
uma correria de funcionários. Todos pareciam comprometidos com o evento que
pela primeira vez aconteceria naquele lugar.
–
A empresa desmarcou! – A sócia de Gabriele falou agoniada. – Precisei chamar
outros em cima da hora, eu espero que sejam bons, não vi o trabalho deles. –
Mostrou o cartão: Cabaré real. – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Um
cabaré? Será que vai sujar nossa reputação?
A
Bamberg sorria, enquanto arrumava tudo na cozinha. A comida já estava pronta,
só terminava de decorar os camarões.
Nem mesmo tivera tempo de trocar a roupa. Ainda usava dólmã
e não parecia preocupada por não estar usando algo diferente.
-- Gabi, fala comigo, preciso que diga algo para me
tranquilizar.
A Bamberg continuava concentrada nas arrumações dos
pratos, apenas comentando com descaso.
–
Um cabaré real deve ter homens e mulheres descendentes da realeza. – Debochou.
–
Umas putas bonitas então. – Hellen arrumou
o vestido que usava. – Vá se arrumar, não vai demorar para começar.
A
moça encostou-se à mesa com os braços cruzados.
–
Não quero participar disso, sabe que não gosto…Estou com a cabeça cheia de
coisas…Há tantos problemas naquela empresa...—Umedeceu o lábio superior. –
Estou vivendo pressionada por todos os lados. – Retirou o “toque blanche”. –
Quero apenas minha cama nesse momento.
–
Por favor. – Segurou-lhe a mão entre as suas. – Só hoje, faça isso por mim,
pela Bela. – Tocou-lhe a face. – Amiga, não vai mudar nada você ir para casa
agora...apenas vai ficar lá se martirizando com todos esses problemas.
Gabriele olhava tudo ao redor. Tinham conseguido fazer um
bom trabalho. Tudo estava pronta para o evento daquela noite.
A
jovem soltou um longo e sofrido suspiro, aceitando.
-- Mas não vou demorar.
O
som estava alto. Havia bastante gente no salão do restaurante. Dois homens
dançavam com uma minúscula sunga e todos gritavam em euforia. Além dos
funcionários que estavam presentes, alguns amigos e familiares da noiva também
estavam no recinto.
Luzes coloridas tinham sido posicionadas, transformando o
ambiente em uma verdadeira boate.
Um DJ era o responsável pelas músicas badaladas.
O buffet tinha sido posto de forma que todos pudessem se
servir, porém um barman fora contratado para preparar os melhores drinques.
Um homem vestido de policial subiu no palco. Dançava
sensualmente, retirando as roupas, exibindo um corpo malhado e esteticamente
perfeito. Ele aproximou-se da noiva e todos começaram a gritar o nome da
contadora.
Os
jogos de luzes coloridas faziam brilhar ainda mais o espaço.
–
Eu ficaria com um deles ou com os dois… – Hellen gritou para que Gabriele ouvisse.
A
neta de Bernard estava perto do bar que tinha sido montado. Nem mesmo trocara a
roupa de chef, tendo tirado apenas o adorno que usava na cabeça. Ela olhava
tudo sem demonstrar nenhum interesse. Aceitou um suco de um garçom que passava
perto. Não bebia nada que tivesse álcool, era algo que nunca teve necessidade
de provar, depois do episódio que se passara no litoral quando estava ao lado
da baronesa.
Pegou o celular do bolso da roupa e viu que havia algumas
mensagens do namorado.
Miguel sempre lhe tratava muito bem, talvez fosse esse o
motivo de continuar ao lado do advogado, mesmo sabendo que não sentia nada além
de amizade. Sim, chegara a essa conclusão de forma dolorosa quando a Del La
Cruz desaparecera de sua vida.
Umedeceu
os lábios demoradamente.
Teria
se apaixonado por Ana Valéria? Ainda sofria por ela ter partido, por não a ver
mais com seu jeito arrogante…Será que a Branca estava certa? Estaria viva? A
administradora seguira para a busca, deixara claro que não retornaria até
descobrir algo que a convencesse da morte da ruiva.
Desde
que tudo se passara, nada conseguia fazê-la ter uma noite de sono em paz.
Sempre era atormentada pelas cenas de amor que vivera naquela noite no escritório.
Nem mesmo entrava lá, pois ainda sentia o cheiro do corpo feminino lhe tocando.
Ouviu
os gritos e sua atenção voltou para o palco. Pensava ver os rapazes, mas agora
no lugar deles havia uma mulher. Alta, com a pele branca, cabelos negros e um
corpo que faria inveja a mais bela beldade. Metade do rosto era coberto por uma
máscara negra. Era possível ver os olhos brilhando…e o sorriso sensual.
Prendeu
o fôlego.
Chegou
um pouco mais perto, parecia hipnotizada com o ritmo de dança do ventre que era
exibido. Seguia entre os presentes como se algo a atraísse para o lugar onde o
show acontecia.
O
olhar da dançarina pousou nos seus por alguns segundos e foi como se tudo
parasse naquele momento. Sentiu um frenesi na espinha.
–
Gostou da dançarina?
Hellen
chegou perto da amiga, curiosa por seu olhar.
Gabriele
sentiu a face corar.
–
Eu…eu…eu não sei… – Fitou a sócia, enquanto passava a mão pelos cabelos. – Eu
tive a impressão que a conhecia… – Voltou a olhar a artista. – Sabe o nome
dela?
–
O nome não...Acho que só ouvi chamando-a da mascarada…Rubi...sei lá...
Naquele
momento, a bela mulher aproximou-se dos convidados, deixando-os entusiasmados e
sedentos para dançar em sua companhia.
A
Bamberg ficou parada e quando a sedutora deusa chegou perto de si, começando a
dançar praticamente colada ao seu corpo, sentiu um arrepio na nuca, algo que só
acontecia diante de uma única pessoa.
Fitou-a
e foi quando viu os olhos azuis brilharem para si. Observou o brilhante sorriso
alvo e chegou a sentir vertigem pela presença feminina.
A
dançarina afastou-se, algo a perturbou diante da mulher vestida de chef de
cozinha.
Ficou
parada lá durante alguns segundos até ouvir seu nome ser chamado pelo produtor
e logo deixava o palco.
Chegando
ao lugar que fora reservado para os artistas, uma moça loira veio até a
dançarina.
–
Você está bem? Aconteceu algo lá? – Questionou preocupada.
A
mulher sentou-se em uma cadeira. Enquanto massageava as têmporas. Não havia
memórias em sua cabeça, exceto, uma cena de ser atacada em um avião, ainda
tinha a marca do tiro que passara de raspão por sua cabeça antes de mergulhar em
um abismo profundo.
-- Está pálida... – Tocou-lhe a face. – Quer que chame
alguém?
Ela fez um gesto negativo com a cabeça. Respirava devagar
como se sentisse que o oxigênio não chegava aos seus pulmões.
–
Eu não sei, Tati, quando olhei para os olhos de uma moça foi como se a
conhecesse…algo me assustou.
A
loira se agachou diante dela.
–
Seria a mulher que o titio falou que aparece nas cartas? A pessoa que te fez
tanto mal no passado?
Há quase dois anos, encontraram aquela mulher quase se
afogando em um rio, segurava-se em um tronco e quando fora resgatada, desfalecera.
Chegaram a pensar que tinha morrido, porém conseguira sobreviver.
Pensaram em buscar sua família, mas ela temia, parecia
assustada, pois em suas memórias sabia que tentaram lhe matar.
–
Eu não sei… – Falou por entre dentes. – Queria poder me lembrar, mas há uma
lacuna tão grande aqui. – Apontou para a própria cabeça. – Às vezes, penso que
vou ficar louca.
–
Quer ir embora? Podemos encerrar o show.
Rubi
levantou-se.
–
Não, eu preciso terminar a apresentação e depois iremos...não podemos perder
dinheiro.
–
E se sentir mal?
A
dançarina sorriu.
–
Aí você me ajuda como sempre faz. – Piscou. – Preciso trocar de roupas, logo
vou começar a performance…
Gabriele
comeu um doce, enquanto permanecia sentada em um dos sofás. Outros rapazes
começaram a dançar, mas nada lhe chamava a atenção, apenas pensava na mulher
que estivera ali ainda pouco. Pensara em ir até o lugar onde os artistas
estavam usando para se arrumarem, porém acabou não fazendo.
Olhava de um lado para o outro, buscava-a entre todos,
mas não parecia ter retornado.
–
Você não gostou dos garotões? – Hellen acomodou-se ao seu lado. – Confesso que
também prefiro à bela fêmea. – Pegou um docinho. – Fiquei sabendo que se chama
Rubi...a preciosa joia da companhia.
A
Bamberg ignorou, enquanto fitava o relógio do pulso.
–
Acho que já está tarde, não posso demorar tanto.
–
Claro que não, amiga, espera, ainda tem mais. – Pegou um coquetel da bandeja do
garçom que passava. – Bebe, esse não tem álcool...Ele é próprio para seu
delicado paladar.
Gabi
aceitou, mas não parecia querer estar ali.
–
Miguel me ligou, parece ter ficado chateado por eu ter ficado para a despedida
de solteiro.
–
Esse seu namorado é um pouco chato…sempre fica implicando com seu trabalho.
–
Acho que ele gostaria que eu assumisse apenas os negócios da Del La Cruz…–Bebeu
um pouco. – Não sei se ele está certo, mas eu não gosto…gosto disso aqui, de
estar aqui...Não gosto nem mesmo de usar nada que seja da herança da...Ana
Valéria...
-- Da sua esposa? – Questionou com um arquear de
sobrancelha. – Acho que você era apaixonada pela bela ruiva e não pelo
advogado...
-- Claro que não! – Negou com veemência. – O Miguel não é
ruim, é gentil...gosto dele...
–
Converse com ele então, explique…– Pegou uma taça de champanhe. – Teve relações
com ele ultimamente?
Ela
fez um gesto negativo com a cabeça. Mesmo que não quisesse e protelasse durante
muito tempo, acabara cedendo, porém raramente permitia ser tocada.
Coçou
o nariz.
–
Uma vez eu acho…
–
E não serviu para acalmá-lo?
Gabriele
não respondeu. Raramente, permitia ser tocada, mas às vezes ele insistia tanto
que deixava. Não sentia nada quando transava com o namorado, seu corpo apenas
aceitava e não agia. Isso era algo que a deixava sempre chateada, pois seu
corpo ainda sentia como foram perfeito o toque que provara pela primeira vez
com a baronesa.
Fitou
as próprias mãos e não demorou para ouvir a música tocar ao levantar a cabeça
viu a bela mulher seminua na sua performance no pole dance. Agora os dançarinos
serviam de ajudantes para Rubi que parecia ainda mais bela em sua roupa de
couro. A máscara continuava lá e o sorriso era exibido com superioridade.
A
Bamberg parecia hipnotizada, não desviando os olhos do que se passava ali. Não
sabia o que acontecia consigo, mas desde que viu aquela mulher, sentia um
frenesi, uma agonizante ansiedade.
As
pessoas gritavam e foram ao delírio quando a dançarina usou o chicote e laçou o
pescoço de um dos dançarinos, fazendo-o ir ao chão, sentando-se praticamente
sobre sua face.
Gabi
não parece ter gostado do ato, então se levantou e deixou a sala.
Entrou
no escritório, sentando-se na cadeira, inclinou a cabeça para trás, fechando os
olhos.
Por
que de repente era a mesma sensação de quando via a baronesa com a Paloma?
Sentiu-se sufocada, irritada…
Estava
ficando louca…
Cobriu o rosto com as mãos.
Ana
Valéria Del La Cruz destruiu sua vida e ainda por cima, foi embora sem ter dado
uma última palavra. Gostaria de arrancar das suas memórias aquela noite que se
entregara, tirá-la da própria história e poder voltar a viver, mas parecia que
havia uma maldição que a seguia dia a dia.
Lágrimas
desciam da face da morena. E um choro que começou tranquilo, agora era um
pranto descontrolado intercalados com soluços.
Clarice
tinha colocado Luna para dormir. Naquele dia a menina não fora a escola. Tanto
ela quanto a mãe tinham contraído um forte resfriado. A pequena estava bem
melhor, mas Gabi continuava bastante ruim.
Foi até a cozinha e encontrou Lia preparando o almoço.
-- Bom dia! – A cozinheira cumprimentou entusiasmada. – E
como estão nossas meninas hoje?
-- Ah, minha amiga, Luna está bem, porém a Gabi ainda
não.
As duas mulheres tinham uma grande intimidade, desde que
a mãe de Ana Valéria fora viver ali tinha gostado muito da empregada. A Bamberg
tornara a cozinheira a governanta, dispensando Tereza de uma vez, porém Lia
sempre gostava de estar na cozinha preparando a comida.
-- Acho que a menina está tendo muitas cobranças nos últimos
tempos, isso deve estar lhe prejudicando. – Sentou-se na banqueta. – O namorado
nem veio aqui vê-la. – Toerceu a boca. – Ligou, disse que anda muito ocupado,
pediu para dar o recado, pois ela não responde suas mensagens.
Clarice fez um gesto afirmativo, enquanto parecia
ponderar, enquanto pegava a bandeja e organizava um lanche para levar para a
Bamberg.
-- Sabe que a Gabriele nunca me fala sobre o casamento...de
como era a relação com a minha filha, tudo o que sei foi você quem me contou,
mas acho que não contou tudo por ser muito fiel à sua menina. – Colocou um bule
de chá. – Estou enganada?
-- Acho que ela não fala porque não gosta de recordar...
-- Ana Valéria tinha uma personalidade forte...mas eu
acho que não podia feri-la de forma tão cruel...—Suspirou. – Branca me ligou,
já voltou e não conseguiu descobrir nada...
Lia demonstrou tristeza em seu olhar.
-- Talvez...talvez possa estar perdida...não sei...
-- Vou até o quarto da Gabi, vou levar algo e ver se anda
tomando os remédios direito...depois conversamos.
A
mulher caminhou até os aposentos da jovem, as cortinas estavam fechadas, tendo
o ambiente mergulhado na penumbra. Encontrando-a deitada em sua cama. A face
estava avermelhada, o nariz também, parecia pior naquela manhã. Ouviu o forte
espirro.
A TV estava ligada e um cenas de uma película se
desenrolava sem chamar muita atenção da enferma que também tinha um livro aberto
sobre o leito.
–
Trouxe esse chá, vai te ajudar e algo para que coma. – Entregou-lhe a xícara, sentando-se
na beira da cama. – Luna está dormindo, está bem melhor. – Tocou-lhe a fronte. –
Precisa descansar bastante, filha, está muito fraca, isso se deve às suas
correrias, nem se alimenta direito, mesmo tendo um maravilhoso restaurante. –
Olhou-a com reprovação. – Acha que não sei que mal come.
–
Que bom! – Disse ensaiando um sorriso, enquanto a voz saia pelo nariz. – Acho
melhor não ficar aqui, tia, posso lhe passar o resfriado... – Espirrou mais uma
vez. – E isso de que não como é tudo mentira, claro que eu como ou já teria
morrido.
Clarice
sorriu.
–
Acho que não pegarei seu resfriado, ando tomando muito suco de laranja. – Levantou-se,
depois retornou, entregando-lhe uma caixa de lenços de papel. – Pelo menos a
febre foi embora, mas deve continuar com a medicação.
A jovem fez um gesto com a cabeça.
–
Graças a Deus, eu já não aguentava mais...Parecia que estava dentro de uma fogueira
e de um freezer ao mesmo tempo.
A mais velha gargalhou.
–
Tadinha, nunca sai para se divertir e quando ficou na despedida de solteiro da
Bela, ficou assim. – Segurou-lhe a mão. – Fiquei sabendo que teve até
dançarinos tirando a roupa nessa festa.
O rosto da Bamberg agora voltou a ficar mais vermelho,
porém não era mais devido à enfermidade.
Nem tinha pensado mais naquele evento fatídico, tampouco
na mulher mascarada que lhe chamara tanta atenção.
Em sua memória ainda estavam os olhos azuis tão idênticos
aos de Ana Valéria. O sorriso que parecia tão provocante...
Passou a mão nos cabelos totalmente em desalinhos. Nem
sabia quando tinha se penteado.
-- Será que essa festa tinha algum vírus solto? – A mãe da
baronesa provocava com um arquear de sobrancelha.
Realmente,
foi dois dias depois que a chef de cozinha começou a passar mal e até agora
ainda não melhorara.
A moça apenas deu de ombros.
–
Lia me disse que seu namorado ligou, parece que está ocupado e por isso não
veio aqui.
Gabriele
voltou a espirrar.
–
Espero que fique ocupado e não apareça tão cedo. – Disse com um suspiro. – Não estou
com muita paciência esses dias...
Clarice
gostava muito da jovem. Fora ela quem a trouxe da casa de apoio e a tratou como
se a conhecesse há muitos anos. Nem tinha como agradecer por tudo que a neta de
Bernanrd tinha feito por si naqueles anos.
Ainda se recordava do dia que a Bamberg aparecera lá.
Ficara desconfiada inicialmente, porém aos poucos percebera que Deus tinha
mandado um verdadeiro anjo para a sua vida e desde então a tinha como se
tivesse seu sangue.
–
Não gosta dele, mas continua com ele, filha? Não acha que isso vai te fazer
mal?
Os olhos negros fecharam-se por alguns segundos. Não
desejava falar sobre sua fracassada relação com Miguel.
Às vezes, pensava como um sentimento tão grande fora diminuído
tão rápido, de forma que nem mesmo sabia como agir diante do advogado.
Evitava-o o máximo possível, não desejando nem mesmo vê-lo na maioria das vezes.
–
Eu não sei, acho que permiti que continuasse… -- Disse em um fio de voz. – Não quero
falar sobre esse assunto... – Disse, encarando-a. – Minha cabeça já não está
boa.
A
mãe de Ana Valéria levantou-se com um gesto afirmativo de cabeça.
–
Branca me ligou, já voltou da viagem.
Os
olhos negros abriram-se em esperança e curiosidade.
–
Disse alguma coisa? – Questionou ansiosa.
–
Não, querida, infelizmente não descobriu nada… – Secou uma lágrima de rolava em
sua face. – Mas eu não acredito que a Ana Valéria esteja morta. – Apontou para
o peito. – Algo aqui dentro me diz que ela está viva e que vai aparecer...Deus
não seria tão cruel comigo, nem com ela...
Gabriele
ficou calada, não falando nada sobre o assunto, pois preferia esquecer que a
baronesa existiu.
Já era noite na boate.
Tatiana seguia organizando tudo para o dia seguinte.
Naquele data tinha acontecido o show, pois agora as duas mulheres teriam que
ocupar aquele espaço como moradia devido ao dinheiro que estava bastante curta.
Dois depósitos que ficavam nas laterais tinham sido arrumados para ambas.
Seguia pela parte do bar, fazia a relação das bebidas que
tinham em estoque. Seu olhar focou na figura sentada no palco.
A dançarina praticara durante o dia todo. Parecia não se
cansar, agora jazia lá, como se o show tivesse terminado e as cortinas
baixadas.
Observava o olhar perdido que aprendera a decifrar
naqueles dois anos. Sabia que ponderava sobre sua vida. Sobre suas memórias
perdidas.
A decisão de seguir para aquela grande cidade fora tomada
diante da doença do tio, pois se havia uma esperança para sua cura, estava
naquele lugar tão cheio de gente. No início, não sabiam o que fazer, pois o
tratamento era bastante caro, foi quando a produtora, que já era dona do bar,
pensara em trazer para o lugar atrações como dança e fora uma grande surpresa que
Rubi tivesse esses dotes, desde então corriam contra o tempo para conseguir
dinheiro suficiente para custear o hospital particular.
Continuava a olhar a figura que naquele momento parecia
tão indefesa, do mesmo jeito que encontraram ferida no grande rio.
Falara várias vezes com a mulher para que procurassem uma
delegacia, decerto, havia algo sobre o desaparecimento, talvez conseguissem
encontrar sua família, entretanto, ela se negava, na verdade, temia, pois as
poucas lembranças que tinham ficado eram ameaçadoras.
Pensara em fazer sua própria investigação, porém tudo
estava tão corrido que acabara não fazendo nada. Talvez, se conseguisse buscar
informações da época que ela aparecera em suas vidas, pudesse descobrir algo...
Suspirou.
Não podia simplesmente deixar que ela ficasse ali sem
saber quem realmente era. Esperaria um pouco, pois seu foco naquele momento era
o tratamento do tio, depois tentaria descobrir sobre a vida daquela bela mulher
que aprendera a ter grande admiração.
-- Não acha que está na hora de parar... – Falou alto
para chamar a atenção da moça. – Estou terminando aqui, depois vamos comer
algo.
Rubi a fitou, apenas fazendo um gesto afirmativo com a
cabeça.
-- Posso pedir uma pizza ou deseja sair para jantar em
algum restaurante? – Tatiana continuava. – Talvez, consigamos uma promoção
naquele lugar onde fizemos o show da despedida de solteiro...
Os olhos azuis fitaram a mulher que lhe olhava curiosa.
Ainda tinha em sua memória a imagem da jovem chef que lá
estava. Algo a perturbara bastante e ainda a perturbava. Ficara decepcionada
quando retornara ao palco e não a encontrara em meio aos presentes. Decerto,
devia ter ido embora.
-- Prefiro que fiquemos aqui... – A dançarina respondeu. –
E não acredito que aquele restaurante seja lugar para pessoas como a gente.
Tati caminhou, seguindo até o palco, sentando-se ao lado
dela. Encarava-a, observando-a em silêncio, depois falou:
-- Talvez não para mim, sou uma mulher simples...porém,
eu não acredito que você seja...
-- E você acha que sou o quê? – Indagou com expressão
debochada. – Por favor, deixe de pensar bobagens.
-- Bobagens? – Disse com um sorriso. – Seus modos, sua
forma de se comportar, seu jeito de falar, domina vários idiomas, tudo isso mostra
que não é apenas mais uma na multidão... – Respirou fundo. – Por que não
contratamos um detetive particular? Podemos encontrar sua
família...descobrir...
Rubi levantou-se irritada.
-- Não vamos fazer isso, não desejo, já deixei claro. –
Levantou a cabeça de forma orgulhosa. – Não insista nisso ou vou embora e nunca
mais vai saber de mim. – Cerrou os dentes. – Sei que alguém quis me matar,
tenho essa recordação bem clara na minha cabeça, é a única coisa clara que tem
aqui, então o que deseja fazer? Me entregar para essas pessoas?
-- Claro que não! – Tati negou. – Porém penso que pode
haver pessoas por aí preocupadas, desesperadas pelo seu desaparecimento...—Inclinou
a cabeça para fitá-la. – Eu entendo o pavor que sente, mas já pensou se tem
família? Se é casada? Se tem filhos?
A dançarina ficou em silêncio, enquanto os olhos azuis
pareciam apresentar um brilho diferente.
Muitas noites pensara sobre isso, perdera o sono com tais
pensamentos, porém agora não o fazia mais.
-- Você está sendo cruel com as pessoas que te amam...
-- Já faz tempo...E o que valeria me ter de volta se nem mesmo
lembro quem sou? – Passou a mão pelos cabelos que agora eram negros. – Por favor,
não desejo falar sobre isso agora, talvez quando toda essa tempestade
passar...temos um objetivo e precisamos nos concentrar nele. – Observou o lugar
vazio. – Não estou com fome, vou tomar um banho e dormir. – Suspirou. – Amanhã precisamos
ter essa casa cheia.
A produtora fez um gesto afirmativo com a cabeça, vendo-a
se afastar, sabia que naquele momento não poderia insistir, esperaria,
respeitaria sua vontade.
Antônio Del La Cruz chegou à corporação Bamberg. Seguiu
para os elevadores e logo chegava ao último andar. Tinha marcado hora com Gabriele,
precisava falar com a jovem. Tudo parecia estar voltando ao lugar depois de
tantos anos de agonia. Tinha o apoio da moça e não demoraria a voltar ao topo
dos negócios.
A
secretária permitiu que o homem entrasse e logo ele adentrava o espaço e
encontrava Branca e a neta de Bernard. Não gostava da administradora e sabia
que ela também o odiava, mesmo assim não parecia se preocupar com sua
influência ou presença.
–
Boa tarde! – Disse com um amplo sorriso. – Agradeço por ter tirado um tempo do
seu restaurante para me receber. – Olhou tudo ao redor. – Fiquei sabendo pela
Lore que esteve doente, por isso não a perturbei antes.
A
Bamberg esboçou um sorriso e viu o olhar implacável da Wasten. Sabia como ela o
odiava. Tentava não sentir o mesmo, ainda mais pelo fato de ele ser o avô da
Luna e o que menos desejava era ter uma guerra familiar envolvendo a criança.
Sabia que não deveria ter pedido a presença da administradora, porém era ela
quem lidava com todos os negócios, assim sendo, necessitava da sua presença em
todas as transações.
–
Acho que a Lorena falou contigo sobre o que preciso. – Falou sentando-se. –
Gastei muito na minha campanha e infelizmente não consegui me eleger, porém
agora tenho que renegociar algumas dívidas.
–
Sim, ela me disse. – Mexia-se desconfortável em sua cadeira. – Realmente não
estava bem para pensar em negócios, só agora estou retornando a minha rotinha.
Antônio fez um gesto afirmativo com a cabeça.
–
Como fazemos parte da mesma família agora, pensei em lhe entregar parte das
minhas ações como garantia de pagamento, claro que sei que se não conseguir
pagar, faremos uma renegociação, pois não acho que seja seu desejo tomar o que
é meu. – Exibiu mais uma vez um sorriso. – Seu namorado é muito bom advogado,
olhe, não acredito que tenha homem melhor para você e já o avisei que não
aceito não ser o padrinho do casamento.
Branca
não movia um músculo. Apenas estava ali para entregar a papelada para o homem
assinar e receber o milionário empréstimo.
Se
pudesse, destrui-lo-ia sem nenhuma misericórdia. Sabia o quão cruel ela
tinha sido com a única filha e mesmo que reprovasse o desejo de Ana Valéria por
vingança, agora conseguia entendê-la, ainda mais quando não percebera nenhum
remorso ou tristeza pelo acidente que tivera a baronesa como vítima.
Ouvia-o
conversar, falar sobre seu casamento com Lorena que em breve aconteceria. A
esposa de Antônio misteriosamente morreu de um infarto há menos de um ano.
Pouco
mais de uma hora se passou e o homem se despediu, deixando o escritório.
–
Você ajuda esse homem depois de tudo o que ele fez. – A Wastem dizia em
desilusão. – Pensei que você agiria diferente, ainda mais depois do que houve
entre você e Ana Valéria.
Gabriele
tinha se recuperado do resfriado e aquela era o primeiro dia de retorno ao
trabalho.
–
Acha mesmo que desejo falar sobre isso agora? – Respirou fundo. – Por favor,
não me julgue, nem me pressione...
–
O que eu te digo é que se a baronesa estiver viva, você vai pagar tão caro
quanto essas pessoas.
A
jovem levantou-se.
–
Se ela estiver viva, estarei aqui para enfrentá-la, afinal, ela me deve muito,
não é? – Seguiu até a janela, observando o tráfego. – Você já foi lá e viu que
não há nada, viu que a Del La Cruz não está em lugar nenhum, então por que não
a esquece?
–
E você a esqueceu?
Os
olhos escuros encararam a administradora.
–
Estou tentando, mas se torna a impossível quando sempre você está a me lembrar.
– Falou chateada. – Vou para o restaurante, resolva tudo por aqui.
A
Wasten fez apenas um gesto afirmativo. Sabia que seria uma luta vã tentar
convencer a jovem que Ana estava viva, mas ela acreditava que sim e não
descansaria até ter as provas disso.
O
movimento no estabelecimento alimentício não estava tão bom naquele dia. Era
normal no início da semana mostrar-se mais fraco.
Os garçons já arrumavam as mesas, fazendo a limpeza para
fechar o espaço.
Passava
das dez quando decidiram encerrar o expediente.
–
Vem comigo, amiga, vai ser legal. – Hellen insistia. – Você nunca sai, está
sempre em casa, vamos comigo, a gente fica só um pouco.
A
sócia passara o dia todo lhe perturbando para ir até essa boate consigo, não a
deixara em paz um só minuto com essa ideia.
–
Se você for comigo eu prometo que nunca mais te peço nada.
Gabriele
gargalhou, pois já conhecia aquela história muito bem.
Seguiram
pelo estacionamento e a Bamberg acabou permitindo que a amiga entrasse.
–
Irei contigo, ficarei 15 minutos cronometrado e depois vou embora. – Encarou a
outra. – Não adianta insistir, será apenas isso e pronto.
Hellen
sorriu, enviando uma piscada para a neta de Bernard.
O
espaço tinha luzes brilhando na frente anunciando o nome do lugar: Cabaré Real.
O
interior era bastante elegante. Havia sofás nas cores vermelhas que circundavam
o palco. As luzes piscavam como em uma boate. Um bar com vários atendentes se estendia
por grande parte da área traseira do espaço. O teto tinha espelhos, então
bastava olhar para cima para ver seu reflexo. Mesas se espalhavam pelo
recinto.
O
lugar das apresentações era suspenso, ficando em altura superior do solo. Havia
alguns seguranças naquela parte, assim evitaria que algum desavisado tentasse
algo com os artistas. Havia apresentações tanto feminina quanto masculina. Não
parecia focarem apenas em um público, tanto que as pessoas ali presentes eram
tanto do sexo masculino quanto feminino.
–
Não acredito que você me trouxe para esse lugar. – Gabriele reclamava desde a
entrada. – Imagina se ficam sabendo onde estou.
–
Amiga, isso aqui é um famoso clube da cidade. – Falou rindo. – Às vezes penso
que você deveria realmente ser uma freira.
A
Bamberg a repreendeu com o olhar.
Acomodaram-se
em um dos sofás, mesmo que a chef de cozinha resistisse em sentar-se lá. Olhava
para todos os lados, como se temesse ser surpreendida.
Os
garçons passavam com bandejas e interessante é que usavam apenas uma sunga e
uma avental cobrindo. As mulheres do mesmo jeito, tendo os seios cobertos por
minúsculos tecidos.
–
A gente poderia pensar em inovar assim nos nossos atendentes. – Hellen disse,
aceitando uma bebida. – Imagina que lindo que seria.
–
Meu Deus, você me trouxe para um cabaré. – A jovem repetia em incredulidade. –
Você só pode estar louca! O que viemos fazer aqui? – Meneava a cabeça. – Isso é
uma casa de prostituição?
A outra gargalhou.
-- Claro que não, boba!
Outro garçom aproximou-se.
–
Amiga, olha que homem gostoso está dançando…será que ele aceita gorjeta?
Gabriele
sentia o rosto afogueado ao presenciar a apresentação. Sentia-se incomodada com
aquela exposição toda. Achava desnecessário esse tipo de apelo sexual.
Pegou
o celular na bolsa e mandou mensagem para Clarice. Não tinha avisado a mulher
que se demoraria naquela noite. Não costumava fazer isso, sempre seguia direto
para casa.
–
Guarda isso, veja quem acabou de entrar no palco. – Falou quase gritando devido
à música alta. – A deusa mascarada.
–
Não me interessa! – Falou aborrecida. – Faltam 12 minutos para eu ir embora
daqui.
Sua
sócia segurou-lhe a cabeça, fazendo-a olhar para a frente e foi quando a neta
de Bernard sentiu aquela adrenalina de antes. Seus olhos pareciam presos
na figura que lá estava, como se houvesse uma força que a atraísse e sufocasse.
Rubi…
Tentara
não pensar naquela mulher nos últimos dias, tivera até sucesso, porém agora,
vendo-a com sua beleza, sentiu a mesma agonia de antes.
Como
as luzes focavam apenas nos artistas e ninguém veria sua reação, decidiu
examinar melhor a dançarina. Observava a postura ereta, a forma que se movia, o
jeito que executava cada passo. Observava o corpo atlético, as penas
delineadas…
Um
assistente apareceu e trouxe um violino.
Nesse
momento, Gabriele levantou-se do sofá e seguiu para mais perto, parecia em
transe, enquanto embevecida ouvia o som produzido pelo instrumento.
Prendeu
o fôlego.
Observava-a
encantada. Sentia a delicada melodia entrar em seus sentidos…
Fitou-a,
estava com os olhos fechados, parecia mergulhada em sua arte, porém os olhos
azuis abriram-se e não demorou para a outra lhe encarar.
Sentiu
um frenesi, um incômodo na barriga.
Suspirou.
–
Gabi, senta, estão reclamando que não pode levantar…– Hellen sussurrou em seu
ouvido. – Os seguranças daqui a pouco tiram você daqui.
Gabriele
pareceu sair da transe, fitando a amiga confusa, olhando tudo, ouviu as
reclamações, com um suspiro, retornou para o sofá. Voltou a observar a
dançarina e mais uma vez teve a impressão de que seus sentidos eram capturados
por aquele olhar.
Bebeu um pouco do suco, enquanto fechava os olhos e teve
a impressão de que era transportada para uma época em que ouvia um som
semelhante àquele. Parecia estar vendo a ruiva à sua frente. Encarando-a com
aquele ar arrogante.
– Você está bem?
A voz da amiga lhe despertou.
– Quer ir embora?
Os olhos negros fitaram a sócia.
– Quero que me ajude a falar com essa mulher. – Apontou
com a cabeça. – Preciso falar com a dançarina...me ajude, eu necessito.
Hellen sabia que a dançarina tinha impressionado a chef
no dia da apresentação no restaurante e por essa razão a tinha levado até ali.
– Deixe comigo! – Disse levantando-se entusiasmada.
A moça sabia que a
amiga tinha ficado impressionada com a tal Rubi. Tinha visto em seu olhar no
dia da despedida de solteiro e fora por esse motivo que a trouxe ali. Queria
ver a reação da Bamberg diante da artista novamente. Sabia que ela era infeliz
com o namorado e também sabia de como ela se entregara à baronesa,
apaixonando-se pela ruiva que tinha morrido em um acidente de avião. Aquela era
a primeira vez que a tinha visto mostrar interesse por alguém, então não
pouparia esforços para ajudá-la.
O camarim usado pela dançarina era arrumado. Havia
cortinas de veludo nas paredes. Uma penteadeira para se arrumar, com luzes ao
redor, um sofá e um frigobar. Aquele lugar tinha sido aberto recentemente. Não
fazia muito tempo que chegaram àquela cidade. A moça era a principal atração do
local e isso estava rendendo um bom dinheiro ao dono que explorava-a muito, por
essa razão decidiram romper o contrato e agora assumiam o comando do local.
– Está cansada?
A dançarina estava sentada diante do espelho. Tinha
tirado a máscara que usava e fitava a própria imagem que refletia no espelho.
Os olhos brilhavam como um oceano.
– Um pouco, Tatiana, mas pelo menos por hoje terminou.
A mulher fora contratada como produtora do lugar, não tinha
muita experiência, mas conseguira se sair bem, agora administrava tudo. Ela
quem tomava conta dos assuntos relacionados às apresentações, porém, agora
assumia o empreendimento. Parecia ponderar, antes de falar:
– Um cliente pagou caro por alguns minutos contigo.
Rubi virou-se para a mais velha.
– Que tipo de encontro é esse? – Questionou cruzando as
pernas. – Sabe que não me deito com ninguém.
Tatiana fez um gesto afirmativo com a cabeça.
– Sim, eu sei e até já deixei isso bem claro, então não
precisa se preocupar. – Pegou uma latinha de refrigerante no frigobar e começou
a beber. – Deve querer apenas te fazer alguma proposta indecente pessoalmente.
– Jogou o recipiente no lixo. – Coloque a máscara, vou ajeitar a iluminação do
lugar e não vai demorar para a sua visita aparecer.
Rubi fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Não se negava a fazer aquele tipo de trabalho, ainda mais
quando era paga, pois sabia que precisavam do dinheiro para continuar com a
boate e para o tratamento do tio da amiga.
Levantou-se, enquanto fechava o roupão de seda. Arrumou
os cabelos.
Não era uma prostituta, apenas dançava e tocava, porém
sempre havia alguns clientes que lhe oferecia muito para ir para cama, coisa
que ela só fazia se tivesse interesse sexual, caso contrário, dispensava.
Ouviu a porta abrir e já estava pronta para ver um
daqueles empresários entediados com a vida de casado, mas para sua surpresa
quem estava lá era a mesma jovem do restaurante e que estava na plateia ainda
pouco.
Sentiu as têmporas doer, então fez uma discreta massagem.
Havia algo naquela mulher que a perturbava bastante,
afetava-a como se já a conhecesse…Viu-a na plateia e depois perto do palco,
sentindo a presença ser incomodante, como se a conhecesse.
Observou-lhe as roupas. Camiseta e calça jeans. Nos pés
trazia um par de tênis. Os cabelos cacheados estavam presos.
Umedeceu os lábios.
Observou o olhar perscrutador em sua direção. Viu-a lhe
olhar com atenção e isso a perturbou.
– Boa noite, senhorita! – Disse com um sorriso, enquanto
cumprimentava-a com a mão estendida e o sotaque francês que sempre utilizava
diante de desconhecidos. Isso ajudava-a em seu disfarce. – Está apreciando
nosso espetáculo?
Gabriele ouviu o som baixo e rouco, sentindo um arrepio
na nuca.
Nem sabia o que estava fazendo ali, sentia-se um pouco
constrangida, imaginando o que aquela mulher estaria pensando sobre sua
presença. No caminho até o camarim chegara a cogitar desistir, porém a
curiosidade fora mais forte.
Olhou tudo ao redor e desejou que houvesse mais
iluminação para poder vê-la melhor.
– Imagino que esteja surpresa com a minha presença… –
Começava insegura. – Mas desde que a vi, tive a impressão que te conhecia de
algum lugar.
Aquelas palavras agoniaram a dançarina. Recolheu a mão
que não fora tocada pela jovem.
– Acho que está enganada, se tivesse te visto ou
conhecido em algum momento, eu lembraria...e sendo sincera, não acho que
frequentaria os mesmos espaços que você costuma frequentar.
A Bamberg chegou mais perto e Rubi teve uma visão melhor
do rosto feminino. Observou os olhos que eram um pouco puxados nas pontas.
Sabia que eles eram escuros, pois aquela cor incomum lhe chamara bastante
atenção. Viu os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, fitou o nariz
pequeno e bem-feito, os lábios…Havia uma cicatriz no superior, era delicada,
pareciam gentis ao toque...agradáveis...
Respirou fundo e sentiu o perfume...
-- Toca violino...
– Bem, como disse, acho que está me confundindo com outra
pessoa...
A Bamberg mordiscou a lateral do lábio inferior como
costumeiramente fazia quando algo a incomodava.
Estava ficando louca!
Como podia pensar que aquela mulher parada ali era Ana
Valéria Del La Cruz.
Encarou-lhe e desejou que ela não estivesse de máscara.
– Pode tirá-la?
Rubi sentiu a mão de dedos longos tocarem a lateral do
rosto, deteve-a. Os olhos se encaravam, pareciam buscar respostas.
– Não, faz parte do show e da personagem. – Deu alguns
passos para trás. – Senhorita, acho que está perdendo seu tempo aqui...
Era possível ver a frustração na face da neta de Bernard.
Observou a mão com luvas de seda que segurou a sua.
Suspirou frustrada.
– Pode pelo menos acender as luzes, gostaria de vê-la
melhor...por acaso é francesa? Seus cabelos são negros mesmo? – Indagava impaciente.
– Sua voz...ela me lembra...
A dançarina afastou-se, cruzando os braços sobre os seios,
parecia irritada.
– Olha, moça, acho que me confundiu com outra pessoa e já
deixei claro que não sou, então acho melhor que saia e vá procurar em outro
lugar...Não te conheço, nunca te vi em toda a minha vida a não ser naquele evento
de despedida de solteiro...
Gabriele baixou os olhos, depois voltou a fitá-la.
– Paguei por uma hora, então o que faremos nesse tempo?
A dançarina não parecia ter gostado da expressão no olhar
da jovem, achou-a petulante.
Sentou-se, cruzando as pernas, expondo parte da coxa
direita.
– Eu não sou terapeuta, então fale o que quer ou saia!
– Pensei que fosse mais gentil… – Fez um gesto negativo
com a cabeça. – Pode até não ser a pessoa que estou procurando, mas tem o mesmo
gênio e arrogância.
Antes que Rubi pudesse falar algo, a moça girou nos
calcanhares e deixou o espaço.
Linda e envolvente a sua história, como todas as outras!
ResponderExcluirObrigada e um prazer revê-la por aqui.
ExcluirEstou aqui mais uma vez. Estou apaixonada. Volta logo, por favor.
ResponderExcluirSeja bem-vinda de volta, um prazer vê-la por aqui.
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