A antagonista - Capítulo 2

    

            

 

                Uma limusine estacionou diante do hospital municipal. O veículo permaneceu lá, enquanto os curiosos observavam impressionados com a pompa do carro.

            Nerus Bernard se mantinha sentado. Parecia observar com cuidado, não desejava ter seu nome estampado em nenhum jornal sensacionalista, ainda mais agora que ansiava por casar-se com a filha do senador.

            Fitou o relógio de ouro que trazia no bolso da calça. Passava das vinte horas.

            Deveria ter deixado essa maldita garota no Egito, porém quando a mãe da menina morreu, precisou trazê-la para o país, caso contrário poderia ter problemas com as autoridades. O barão teve apenas um filho, concebido sem que ninguém soubesse, fruto de uma relação com uma prostituta que conhecera em uma das suas viagens. Nunca tinha dado seu nome para o rapaz, até tinha esquecido esse fato, até que um dia fora contactado por um fotógrafo que conhecia todas a história, tendo consigo a sua neta, fato que ele nem tinha conhecimento. Mas Nerus fora rápido em conseguir algumas provas contra o homem e isso evitou que fosse chantageado. Agora a menina estava no país e começava a se mostrar uma pedra em seu sapato.

                Não demorou para de outro automóvel menos luxuoso descer alguns seguranças e abrirem a porta.

                 Alguns segundos se passaram até que o homem alto, magro e idoso deixasse o veículo, seguia lentamente com uma bengala.

               O barão de Bamberg era uma figura não muito vista naquele país nos últimos anos, estava sempre fora em suas viagens, mas ultimamente parecia bastante interessado em manter relações com o senador Del La Cruz. As más línguas diziam que tinha interesse em casar-se com a herdeira de Antônio que ainda nem contava quinze anos.

               O homem de expressão dura exibia muitas marcas no rosto. Contava com oitenta anos e colecionava casamentos fracassados e cheio de escândalos. Seu dinheiro o livrara de ser preso por violência doméstica, fora seus gostos sinistros por orgias que envolvia com garotas de programas.

                 Ele seguiu segurando em sua bengala. Usava um sobretudo preto que chegava aos calcanhares. Levava um chapéu em sua cabeça.

                 

 

                  Trevan estava sentado na sala de espera do hospital. Passara várias horas desde o momento que chegara ali trazendo sua menina ferida. Tentara várias vezes falar com Lorena, porém a irmã não atendia, nem respondia suas mensagens.

            Começava ficar impaciente, pois ninguém falava nada, apenas diziam que precisava esperar.

            Seguiu até a lateral da recepção, pegando um copo descartável, bebeu um pouco de água.

            Estava nervoso, preocupado que algo tivesse ocorrido com sua menina.

              Gabriele tinha se machucado quando escalava um muro. Era muito traquina, ainda mais para ajudar os animais. Ela se arriscara tanto apenas por causa de um gatinho que ficou preso na árvore.

             Ouviu passos e não demorou para ver o barão. Tinha ligado para ele, contara o que havia se passado, mas não imaginara que ele iria até lá. Observava a expressão dura, nunca demonstrara nenhum sentimento pela criança, apenas temendo que alguém soubesse ou a ligasse ao seu sangue puro.

             O fotógrafo foi até ele.

            – Ela ainda está na sala de cirurgia, estão tentando…

                Nerus Bamberg fez um gesto de silêncio com a mão.

              – Eu disse que nada sobre essa menina era problema meu. Te dei um bom dinheiro para sua expedição no Egito. Foi lá, trouxe-a contigo, mas nada mais me interessa. – Fechou as mãos na lateral do corpo. – Se alguém descobrir que essa maldita pirralha tem meu sangue, te jogo na cadeia por falsificar assinaturas.

            O mais jovem não parecia acreditar no que estava ouvindo naquele momento. O barão não parecia se importar nenhum pouco com o que estava acontecendo.

             – Sim, eu sei, mas ela é sua neta, isso é algo que poucos sabem…Escondo-o…sim, evito que ela seja vista, não a levo à escola, isolo-a de todos… – Baixou o tom de voz. – Os médicos estão desconfiados, pensam que eu tenho algo a ver com o ocorrido, ainda mais quando pediram os documentos…-- Passou a mão nos cabelos. – Senhor, eu só queria que soubesse o que tinha se passado.

               – Vou transferi-la. – Disse olhando tudo ao redor com nojo. – Não a quero nesse chiqueiro.

               – E depois o que vai fazer? – O outro questionou apreensivo.

             O barão retirou o relógio de bolso, viu a hora e só depois respondeu:

             – Acho que sou um homem muito pecador…vou dar a minha neta para o convento…sim, vou ter uma freirinha com meu sobrenome…assim, ela estuda e não corro o risco de alguém a encontrar por aí.

              Trevan pensou em retrucar, mas o que poderia fazer? Ele era apenas um empregado de Nerus Bamberg.

 

 

 

               Naquele dia era a festa de quinze anos de Ana Valéria. Ana di Pace debutava diante da alta sociedade.

              O salão escolhido estava cheio. Havia políticos, escritores famosos e até jogadores de futebol. Tudo era motivo para aumentar ainda mais a popularidade do senador. Eles pensavam em torná-lo o próximo governador do estado.

               A decoração fora toda feita em cristal, e as cores dourados e rosa imperavam por todo ambiente. A luz estava baixa, deixando o ambiente pronto para a chegada da aniversariante.

                Os garçons bem-vestidos seguiam pelo local com bandejas que continham taças com as mais finas bebidas. Manobristas estava diante do palácio, prestando seus serviços e não permitindo que os convidados tivessem dor de cabeça em busca de um lugar para estacionar.

            No grande jardim, um show pirotécnico iniciava. Drones tinham sido posicionados nos céus e projetavam o nome da aniversariante.

                 Havia um enorme telão que circundava todo o salão. Nele aparecia inúmeras fotos da jovem Ana Valéria desde o seu nascimento até a adolescência. Imagens da pequena ruiva bebê mesclava-se com a bela moça que estava nos dias atuais.

               A herdeira do senador não era apenas uma jovem linda, mas também era dotada de grande inteligência, tanto que com quinze anos já estava na universidade. Ela cursava engenharia e parecia pronta para administrar os negócios dos Del La Cruz. Quando não estava a estudar, era levada a construtora para aprender o funcionamento da empresa.

               De repente, as luzes apagaram, tendo os refletores focados apenas na escadaria. A orquestra sinfônica cessou e todos permaneciam em silêncio, olhando para o lugar. Era possível ouvir o silêncio que reinava, todos imaginando o momento que a ruiva apareceria.

             Os olhares se voltaram para o alto. A jovem não desceu simplesmente de mãos dadas com o pai como era de costume. Ana segurava um violino e o tocava com maestria, acompanhando a música com desenvoltura. Trajava um vestido branco, uma capa dourada sobre o modelo, um cinto cravejado em pedras preciosas na cintura. Parada, tocava seu instrumento, mantendo os olhos fechados

            Os cabelos ruivos foram trançados e havia um bonito arco sobre eles.

               Clarice secou algumas lágrimas, encantada com a filha.

                A delicadeza da melodia parecia tocar a todos de formas diversas. Não haveria uma única criatura naquele universo que não se sentisse emocionado diante daqueles acordes.

            A canção fora criada pela adolescente, era doce, gentil...

            Os presentes observavam tudo sem piscar, pareciam não desejar perder um único movimento daquela apresentação.

            As delicadas mãos de Ana eram revistadas por luvas de seda. Os movimentos eram lentos, ensaiados, próprios da sua arte.

             Orgulhoso, Antônio a esperava calmamente no final da escada. Ele via como a jovem brilhava diante de todos e mesmo que não fosse um homem como sempre quisera, sabia que ela tinha um futuro promissor pela frente. Não demoraria para entregá-la ao seu futuro marido. A união com o barão Bamberg selaria para sempre o poder do seu sobrenome naquele país.

              A esposa do Del La Cruz sorria para os convidados, porém seus olhos pousaram em Francisca Del Lucca, a amante do marido e mãe do seu filho. Sim, o patriarca respeitado tinha um caso mais duradouro que o próprio casamento, tanto que o fruto dessa traição contava com idade maior que a sua.

              Não acreditava que o marido tivera a audácia de convidar o seu caso para a festa de quinze anos da filha. Esperava que isso não destruísse a noite de Ana Valéria.

              

 

 

              Lorena estava jogada sobre a cama, tinha uma revista de modas em suas mãos. Ouviu o som da porta abrir-se e o irmão, Trevan, aparecia com uma bandeja com alguns salgados.

              – Não foi jantar, filha, então decidi trazer isso para você... Vi na TV algumas imagens da festa da sua namoradinha... – Assoviou. – Muita pompa e ela parecia uma rainha sendo coroada.

             A jovem esboçou um sorriso, sentando-se de pernas cruzadas.

                 – Imagino que esteja triste por não ter sido convidada para a festa de debutante. – Falou de forma compreensiva. – Nem me chamaram para tirar as fotos, ou seja, somos pior que cachorros de rua.

                 Desde que seus pais morreram em um acidente de carro há pouco mais de dez anos, ele tornara-se responsável pela criação da garota. A menina tinha verdadeira obsessão com a ideia de enriquecer, parecia pronta para fazer isso a qualquer preço.

               – E você acha que o pomposo Antônio convidaria os empregados? Você é apenas um simples fotógrafo, eu faço parte do trainner que logo será demitida… – Jogou o exemplar que estava lendo longe. – E onde está a pirralha? Já arrumaram a boca dela?

               – Não fale assim da Gabi! – Repreendeu-a. – Ainda mais depois do que aconteceu. – Falou triste. – Sabe que foi sério o que se passou.

               Lorena deu de ombros.

              – Precisa trazer a Ana Valéria aqui para conseguirmos o dinheiro. – Ele sentou-se. – Antes eu era contra seu plano, mas agora vejo que se tivéssemos dinheiro, tudo seria mais fácil para mim nesse momento.

            A loira bebeu um pouco de suco.

               – O senador vai pagar qualquer coisa para que sua preciosa filha não seja alvo de um escândalo…isso acabaria com a carreira política dele…Eu quero um cargo na parte administrativa, além do dinheiro, quero que aqueles malditos empregados vejam como subi de cargo e que devem me respeitar… Estou cansada de ser vista como uma ninguém lá dentro…Nunca recebi um cumprimento de nenhum deles… – Levantou-se irritada.

              – Você só tem dezoito anos…pode pensar em um cargo maior para mim.

             Lorena fez um gesto negativo com a cabeça.

              – Pensei que a bastardinha te renderia algum dinheiro…

                – Deixe-a fora disso…– Falou com expressão irritada. – Ela não merece as maldades desse mundo… Não quero que a envolva em nada!

                 – Você a ama como se fosse sua filha… – Levantou-se. – Mas não esqueça que ela não é, ela não é sua, a mãe dela preferiu outro. – Deixou a bandeja sobre a cama. – Vou tomar um banho, vou sair para me divertir.

 

 

 

              Na manhã seguinte…

              Uma mesa farta tinha sido posta para o desjejum dos Del La Cruz.

              Clarice ouvia a voz do marido fazendo a oração, enquanto os olhos de Ana estavam fechados. A menina ainda vestia o roupão de banho. Não fora permitido que dormisse até tarde, pois teriam uma sessão de fotos que estampariam as principais revistas do país.

            Um empregado aproximou-se e entregou o jornal ao político.

            -- Estamos na capa! – Dizia em contentamento. – Todos estão comentando sobre a festa e você estava linda com seu violino.

              A festa acontecera maravilhosamente. Não houve incidentes e todos os jornais traziam apenas elogios ao evento mais comentando da grande cidade.

               – Hoje iremos para a igreja, haverá um evento importante e vou poder conseguir muitos votos... Ana e Clarice, quero que ambas participem de todas as ações, pois a TV estará lá fazendo a cobertura de tudo.

                 A adolescente fitou o próprio prato por alguns segundos. Sabia que não deveria responder ao pai, não fora ensinada a fazer isso, porém uma revolta crescia dentro de si demasiadamente.

                – Isso é apenas o que importa? – A adolescente questionou. – Eu tenho a impressão de que nossa família não passa de uma mentira.

                 Antônio estreitou os olhos azuis.

                – O que está falando?

                Ana levantou-se diante do olhar de Clarice que implorava para que ela ficasse calma.

         – Estou falando da hipocrisia, papai…sua amante dorme no andar de cima, trouxe-a para minha festa e depois quer ir até a igreja posar de família que segue os princípios de Deus…– Levantou o queixo. – Qual Deus? Que Deus é esse que o senhor serve? Quais princípios são esses?

              Os olhares de ambos continuavam a encarar-se, tão idênticos em sua raiva obscura.

              Antes que o senador pudesse falar algo, a menina saiu apressadamente.

        

    

 

 

                Lorena estava radiante ao receber a resposta positiva da namorada. Pulou da cama e rapidamente seguiu para arrumar a bagunça que tinha deixado tudo. Não imaginara que a herdeira de Antônio iria até lá, ainda mais porque demonstrara estar irritada ao saber que a namorada tinha curtido uma festa na noite passada.

              A moça tomou um banho, vestindo um minúsculo vestido e hidratando cada parte do corpo com um delicioso aroma.

             Fitou-se no espelho e esboçou um sorriso.

             Quem resistiria ao seu charme? – Pensava cheia de segurança.

             Encontrou o irmão na cozinha.

             – Minha namoradinha está vindo para cá! – Bateu palmas. – Arrume um lugar para ficar, não quero que ela te encontre aqui.

              Ele encostou-se à mesa, segurava um copo de água, parecendo ponderar sobre o que aconteceria ali. Sabia que não podia envolver-se naquela história, ainda mais pelo fato de a herdeira de Antônio ser  desejada pelo barão. Se ele soubesse de tudo aquilo, nem imaginava o que seria capaz de fazer. Não bastava ter trancado a neta contra a vontade em um colégio de freiras, poderia fazer algo ainda pior.

              – Você sabe muito bem no que está se envolvendo… Esse rapaz só deseja tirar a irmã da lista de herdeiros do Del La Cruz, então cuidado para não sair com as mãos vazias… Não deixe sua parte, nossa parte de perder…

              – O que foi agora? – Indagou com as mãos na cintura impaciente. – Você mesmo estava interessado em conseguir tirar vantagens da minha relação com a di Pace…– Fitou as unhas bem-feitas. – Depois de hoje, teremos tudo o que merecemos…Nunca mais vamos morar em um buraco como esse.

              Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

             – Sim… – Afirmou relutante. – Mas eu sinto algo oprimindo meu peito…como se isso que você está prestes a fazer fosse destruir tudo…nossa família…Acha que essa menina poderia nos fazer algum mal?

              Lorena deu de ombros, aproximando-se, tocou-lhe o braço.

                – O seu problema é que está muito sensível devido à bobona da Gabriele… – Esboçou um sorriso. – O que uma adolescente como a Ana Valéria poderia fazer contra nós? Seu pai também não vai arriscar que tudo isso seja jogado na mídia e acabe com a reputação respeitável. – Beijou-lhe o rosto. – Vamos sair com muito dinheiro de tudo isso e quem sabe não pode até trazer sua filhinha de criação de volta.

           Trevan fez um gesto de assentimento, enquanto via a irmã afastar-se. Talvez, ela estivesse certa, porém estava muito temeroso sobre o futuro.

 

 

                O táxi parou diante de um prédio de três andares, amarelado pelo tempo da pintura gasta.

               Ana conferiu o endereço em um pedaço de papel que trazia consigo. Olhando para as próprias mãos, percebeu que estavam tremendo. Não sabia de onde tinha tirado coragem para deixar a universidade e ir até ali. Podia ser o fato de ter ficado muito irritada com a falta de caráter do pai por ter levado a amante e o filho para sua festa. Não entendia como se dizia tão religioso, como condenava o comportamento de tantas pessoas e agia bem pior que todas elas. Pensou em falar com a mãe e expressar seu descontentamento, porém nada ela poderia fazer, apenas aceitava tudo o que Antônio fazia. Pensou em ver a namorada, queria alguém para conversar, poder desabafar, mesmo que estivesse um pouco chateada por ela ter ido a uma festa. Sentiu ciúmes, não queria que ninguém se aproximasse da moça. Amava-a. Tinha planos para ambas. Estava decidida a terminar os estudos e depois pedi-la em casamento. Formada, poderia conseguir um emprego e não precisaria do pai.

               Já se imaginava acordando ao lado de Lorena. Da rotina compartilhada, dos fins de semana juntinhas. Talvez tivessem filhos…Um cachorro…amava animais…

             Um sorriso desenhou-se em seus lábios.

              – Não vai descer, senhorita?

              A voz do motorista a questionou, tirando-a dos seus devaneios.

              Entregou o dinheiro ao homem e, decidida, deixou o veículo.

              Observou a rua. Parecia um lugar calmo. Havia vários prédios e todos não pareciam melhores do que o da namorada. Talvez uma nova fachada ajudasse. Também havia algumas lixeiras cheias, e acabavam caindo e sujando as calçadas, exalando um cheiro ruim.

           Viu um cachorro aparecer, parecia perdido, sozinho, abandonado.

            Deu alguns passos, aproximando, agachou, acariciou o pelo negros brilhantes. Tirou da bolsa o resto do lanche que não tinha comido, dando para o bichinho, viu-o exibir uma alegria por seu gesto.

            Alguns garotos passaram de bicicleta, pareciam apostar corridas.

                Ouviu passos, retornando para o mesmo lugar, esperou.

               Ficou lá parada, até ouvir o portão da entrada abrir e Lorena apareceu sorridente, abraçando-a, pousando os lábios em sua orelha.

– Estava morrendo de saudades…

              A Del La Cruz a fitou, enquanto sentia o coração bater aceleradamente. Tentou falar algo, mas não conseguiu, talvez por nervosismo ou por ansiedade…

              – Vem, vamos subir.

               Ana fez um gesto afirmativo com a cabeça, aceitando a mão que lhe era ofertada.

            Estava assustada no início, mas agora estava mais tranquila por estar com a loira.

           Subiram alguns degraus até chegarem ao segundo andar. Esperou a namorada abrir a porta, mas ela não fez de imediato.

              – Não é igual a mansão que você mora, porém é tudo arrumado viu. – Beijou-lhe a ponta do nariz. – Espero que se sinta bem aqui…

              – Não me importo com luxos. – Disse com um sorriso.

              – Diz isso porque vive no luxo…

              Lorena abriu a porta e entrou na frente dando passagem para a Del La Cruz.

                Ana observava o lugar sem demonstrar nenhum interesse, parecia mais focada na roupa usada pela namorada. Ela era uma mulher muito linda, nem parecia ter apenas dezessete anos. Desde que tinha visto-a pela primeira vez em uma das empresas do pai, não parara de pensar nela por um só minuto.

               – Quer tomar alguma coisa? Tenho suco de laranja, água…tem vinho também. – A irmã de Trevan ofereceu. – O que bebe?

              Mais uma vez, a filha de Clarice tinha se distraído. Fitou os quadros nas paredes. Viu fotos da namorada. Havia várias. Caminhou até uma mesinha, observando curiosa as imagens e uma em especial pareceu lhe chamar atenção, uma criança com um sorriso matreiro brincando com um gato.

                – Quem é?

                Lorena disfarçou a exasperação. Tinha pedido ao irmão para retirar as imagens da Gabriele do apartamento, mas ele ainda deixara aquela.

                 – Uma prima distante… – Disse com um sorriso. – E então? O que quer beber? Posso fazer algo?

                 A Del La Cruz fez um gesto de assentimento.

                  – Eu não quero nada… – Sentou-se. – Não sei se foi uma boa ideia vir aqui…Mas eu precisava falar com alguém…-- Falou mordiscando a lateral do lábio inferior.

              Lorena acomodou-se ao lado dela. Usou as costas da mão para lhe acariciar a face.

             – Relaxe, meu bem, nada de ruim vai acontecer… – Fitou a blusa que ela usava, os botões seguiam até o pescoço. – Fiquei triste por não ter te visto no dia do seu aniversário… – Levantou-se e foi até uma mesinha, abriu a gaveta e tirou algo de lá, retornando, voltou a se acomodar.

            – Isso é para você…

            Ana observou a caixinha e esboçou um sorriso que lhe trazia lágrimas nos olhos. Abrindo-a, viu uma delicada pulseira em ouro. Havia o seu nome desenhado.

             – É linda… – Disse, encarando-a.

             – Que bom que gostou…não é nada comparado a tudo o que deve ter ganhado, mas…

            – Eu amei, Lore… – Passou o indicador por seu nariz, desenhando-o. – Não pense que é inferior…acredite, eu trocaria tudo o que tenho pela oportunidade de ficar ao seu lado por toda a minha vida…

            As bocas encontraram-se em uma carícia delicada. Inicialmente, Lorena a conduzia, fazia-o sem pressa, parecia apenas degustar do sabor amentado.

              Ana tinha conseguido despistar os seguranças no shopping e agora estava nos braços da amada em seu apartamento.

              A loira interrompeu o contato, levantando-se, enquanto segurava-lhe as mãos.

               – Vamos ao meu quarto, lá podemos conversar melhor.

              A herdeira dos Del La Cruz pensou em se negar, mas acabou aceitando o convite, seguindo de mãos dadas com a namorada.

              Entraram e a porta foi fechada.

              – Está com medo? – Tocou-lhe o lábio superior com o indicador. – Amor, não precisa ficar assim… Eu jamais faria algo que te machucasse…Confia em mim?

             Ana parecia hipnotizada com o movimento e logo capturou-lhe o dedo, prendendo-o.

            Lorena fitou os olhos azuis e sentiu um arrepio, eles pareciam diferentes, escurecidos e selvagens.

              – Eu te acho tão linda…seu cheiro… – Depositou os lábios em seu pescoço… – Parece tão macia… – Mordiscou levemente. – Desde que te vi sonho em te sentir… – Lentamente, começou a abrir os botões da blusa da jovem. – Nunca pensou nisso também? Sua pele é tão delicada...

               Ana encarou-lhe. Via o brilho em sua face. Observava as mãos trêmulas abrirem o fecho do delicado sutiã branco. Sabia que deveria detê-la, mas não o fez.

                Mordeu a pontinha da língua para não gemer ao sentir o polegar acariciando seus rosados mamilos.

               – Nunca pensou em como seria maravilhoso sentir meu toque…

               A Del La Cruz não respondeu, não parecia ter forças para falar, então apenas colou os lábios aos da amada em um apaixonado beijo.

                 Ela a queria para si. Claro que imaginara várias vezes entregar-se a ela. Acordava no meio da noite ofegante, imaginando amá-la não só de alma, mas também com o corpo.

                Lentamente, Lorena a conduziu até a cama, deitando-a.

              – Eu não acho que devamos fazer…-- A musicista ainda protestou.

             Lorena acariciou sua face com carinho.

             – Por que não? Sei que me quer como eu te quero… – Beijou-lhe a mão. – Apenas deixe acontecer, meu anjo lindo…sei que vai gostar… – Encarou-a. – Confie em mim…

             Um sorriso surgiu nos lábios da Del La Cruz, tão encantador quanto as covinhas que se formaram em sua bochecha.

               Naquele momento, ela não pensava que algo de ruim poderia se passar, apenas tinha certeza do amor que sentia por Lorena.

            -- Eu confio em você, Lore, confio minha vida a você...


 

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