A antagonista - Capítulo 13
Bandeirinhas foram amarradas em cordões. A iluminação
tinha sido duplicada para que todos tivessem segurança.
Ana Valéria ficou até duas da
manhã, depois seguiu para o interior da casa. Paloma entrara antes, pois
dissera que estava se sentindo mal, até pediu para a amante seguir consigo, mas
a Del La Cruz não aceitou, deixando a modelo furiosa. A filha de Antônio ficou
ao lado de Branca e Rogério em uma mesa. Conversavam e a empresária até
parecera menos carrancuda. Seu olhar não abandonava a babá que parecia bastante
entretida com as comemorações ao lado de Lia.
-- Talvez, devêssemos pensar em mandar a freirinha para
longe... – Dizia distraída, bebendo um pouco de suco, pois dispensara o álcool,
temendo ter seu desejo ainda mais aflorado.
Estavam sentadas e conversavam sobre variados assuntos,
mas aquele parecia deixar a administradora surpresa.
-- Como assim, Ana?
A empresária não respondeu de imediato.
Sabia que não deveria nem mesmo pensar na neta do esposo
com outras intenções, porém havia algo na garota que lhe tirava o controle e
isso começava a lhe perturbar. Poderia estar agora ao lado da amante,
aproveitando mais uma noite, entretanto ficara ali, admirando a jovem rebelde
que nem mesmo lhe olhava.
-- Você disse que ela quer estudar... – Desviou o olhar. –
Poderíamos falar com Pierre...na França...talvez fosse bom...Ela poderia fazer
o curso...
-- Não deve esquecer de que Gabriele deve ficar aos seus
cuidados, assim está no testamento...E onde Luna entraria nessa equação?
-- Mas ela continuaria aos meus cuidados, apenas longe
até completar esses doze meses...A gente cuida da criança...contratamos uma
babá...
Rogério fitou a esposa, parecia confuso diante do que
ouvia, mas nada disse.
Ana viu Luna rindo e brincando com a Bamberg. Desejou aproximar-se, mas não o fez. Sabia que
deveria evitá-la, pois ao contrário do que tinha dito anteriormente, queria-a,
seu corpo já perdia o controle quando estava perto. Gostava de sentir os lábios
gentis colados aos seus, a forma que suas mãos desajeitadas lhe acariciavam.
Aquilo tudo era uma loucura.
Por que o maldito barão foi deixar as ações para aquela
garota petulante?
Subiu as escadas e quando passava
pelo quarto de Gabi ouviu o choro da menina. Pensou em ignorar o que ocorria,
porém não o fez, mesmo sabendo que isso era o certo a fazer.
Entrou nos aposentos e viu a sobrinha
nos braços da jovem, parecia inconsolável.
– O que houve? -- Indagou
preocupada.
A ex-noviça assustou-se ao vê-la ali. Pensara que já
estava na cama da amante uma hora daquelas.
Afastara-se o mais longe possível, pois não suportava ver
a modelo o tempo todo de braços dados com a Del La Cruz, parecia que desejava
mostrar a todos que a mulher lhe pertencia. Seguira com Lia para os parques,
tentando distrair a mente, porém vez e outra flagrava o olhar da esposa do avô
em sua direção e isso a deixava muito irritada. Ainda passava por sua mente a
conversa que tiveram no quarto mais cedo e o beijo que trocaram.
Diante do olhar impaciente da empresária respondeu.
– O dente que está nascendo
parece incomodar bastante. – Balançava a garotinha. – Acho que está machucando.
Ana aproximou-se, acariciando a
cabeça da sobrinha, a Bamberg encolheu-se diante da proximidade.
– Não é melhor chamar um médico?
Posso ir até a cidade buscar.
Gabi a fitou.
– Acho que não, já passei a
pomadinha que a pediatra receitou das outras vezes. É normal ela ficar assim
mesmo, daqui a pouco dorme.
– Tem certeza?
– Sim, baronesa.
Ana estendeu as mãos para pegar a
menina, surpreendendo a jovem.
– Nem teve tempo de trocar de
roupa, pode tomar um banho e fazer suas necessidades, vou ficar aqui com a
Luna. – Seguiu em direção a varanda do quarto. – A rede está atada?
Gabriele fez apenas um gesto
afirmativo com a cabeça. Pensou em se negar, mas acabou ficando calada.
Realmente, desejava ir ao banheiro e com a menina nem fez xixi, pois não
conseguia deixá-la sozinha.
Viu Ana deitar-se com a garota nos
braços.
Onde estaria a modelo?
Preferiu não pensar nisso, seguindo
para o banheiro. Tomaria um banho e depois veria como colocar a poderosa Del La
Cruz para fora.
A Wasten tinha seguido para o
quarto com o marido. Rogério não tinha bebido tanto quanto na noite anterior.
– Branca, você está imaginando
coisas. – O homem dizia ao sentar-se na poltrona para desabotoar a blusa. – Ana
Valéria jamais se interessaria pela neta de Bernard, tampouco aquela menina com
carinha de freirinha se interessaria pela baronesa. – Encarou a mulher. – Acho
que você não está bem da cabeça.
A administradora fez uma careta
para o marido, enquanto olhava tudo pela janela.
A festa continuava, as pessoas
pareciam não ter hora para encerrar os festejos.
– Você não sabe, não consegue
entender as coisas, estou dizendo, eu vi nos olhos da Gabi um brilho diferente.
– Jogou-se na cama. – Encontrei as duas de madrugada. Uma com a face corada e
os lábios inchados, a outra com ar desconfiado…
– Ana Valéria se relacionaria com
a neta do barão? – Ponderou preocupado. – Estaria buscando um caminho mais
rápido para garantir as ações?
Branca sentou-se.
– Eu não sei, mas tenho quase
certeza de que algo está acontecendo entre as duas. – Suspirou. – Vamos dormir,
acho que preciso ficar atenta a tudo.
– E o que ganha com isso? –
Indagou curioso.
– Acho que Ana Valéria poderia ser
feliz com alguém como a Bamberg… -- Suspirou. – Não entendi o motivo de querer
mandar a menina para longe... –Parecia analisar as evidências como uma
detetive. – Talvez porque não consiga resistir aos encantos da garota e isso
para alguém como ela deve ser assustador. – Observou frustrada o marido que já
dormia sentado.
Gabriele deixou o banheiro.
Estava vestindo um pijama composto de calça e blusa de moletom. Estava frio e
também não gostaria de expor o corpo com a baronesa ali presente. Melhor evitar
qualquer coisa que pudesse chamar a atenção da mulher.
Prendeu os cabelos em um coque.
Apurou os ouvidos e não ouviu mais choro de Luna. Então seguiu para a varanda e
viu as duas deitadas na rede. Ambas dormiam.
Cruzou os braços pensando o que
iria fazer.
Se acordasse Ana Valéria poderia
despertar a criança também e voltaria a chorar por causa do dente.
Decidida, seguiu até o quarto e
pegou um cobertor, voltou para lá e cobriu as duas. A banda ainda tocava e as
pessoas ainda esboçavam sua felicidade.
Fechou as portas de vidros para
isolar o barulho, depois fez o mesmo com as cortinas. Agora tudo estava bem
escuro, mas achou melhor acender a iluminação noturna que deixava o ambiente
aconchegante como se fosse iluminado pela lua. Olhou para Luna e depois sua
atenção focou na esposa do barão. O avô deveria ter enlouquecido para ter
aquela mulher para si. Quem não a desejaria?
Viu a boca entreaberta, a
expressão menos rígida…
Não podia nem pensar em permitir
que voltasse a lhe tocar, nem mesmo encostar os lábios…
Com um suspiro, seguiu para os
aposentos, deitando-se e cobrindo-se.
O dia já tinha amanhecido fazia
um tempo. Paloma estava na cozinha e parecia muito chateada pelo fato de a
amante não ter voltado para dormir no quarto.
– Eu não sei, senhorita, ela pode
estar em qualquer um dos aposentos, afinal, ela não deixou a fazenda. – Uma das
empregadas dizia nervosa. – Não posso sair batendo por aí atrás da patroa, ela
pode ficar furiosa.
Lia aproximou-se.
– Algum problema?
Paloma fitou a cozinheira com ar
de arrogância.
– Onde está sua baronesa?
– Não está com a senhorita?
A modelo suspirou irritada e saiu
batendo o pé.
– A dona Ana Valéria não dormiu
com ela e por isso está brava. – Cochichou a serviçal que preparava o café. –
Ela queria que déssemos conta da mulher.
– E onde ela foi? – Indagou
curiosa e preocupada. – Será que ocupou outro quarto?
– Não sabemos, mas eu acho que
deve ter se cansado da talzinha e foi para bem longe.
Lia fez um gesto de repreensão as
outras mulheres, depois seguiu em direção ao quarto da administradora. Talvez,
ela soubesse de algo.
Esperava não incomodar. Pensou
em falar com Tereza, mas recordou que a governanta tinha retornado à capital,
pois sua mãe estava doente, então o jeito era falar com a Wasten.
Parou diante do quarto e hesitou
em bater. Passava das nove horas, mesmo assim era cedo porque foram dormir
muito tarde.
Decidida, acabou tocando e para
sua surpresa, a senhora Branca atendeu prontamente. Vestia um roupão atoalhado
e os cabelos estavam úmidos do banho.
– Bom dia, senhora, e me perdoe
por incomodar, porém precisava lhe falar.
– O que houve, Lia? – Perguntou
preocupada. – Aconteceu algo?
A cozinheira olhou para o corredor, depois confidenciou.
– É que eu gostaria de saber se
sabe onde está a dona Ana Valéria.
A administradora parecia confusa diante da indagação.
– Se ela não está no quarto,
provável ter acordado cedo e ido cavalgar, ela gosta de fazer isso.
Lia fez um gesto negativo com a
cabeça.
– A senhorita Paloma está uma fera,
pois a baronesa não dormiu lá e não apareceu até agora.
Branca parecia ponderar, enquanto
olhava o grande corredor, fitando a porta do quarto de Gabi. Será que estava
lá? Não duvidaria, pois sabia bem o charme que a filha de Antônio tinha, mas
sabia também que a ex-interna não podia ter relações sexuais, deveria manter a
virgindade…Que confusão...
– Lia, acalme-se, a sua patroa
deve estar fazendo algo por aí, e se não dormiu com a Paloma é porque não teve
vontade, relaxe e vá preparar meu café, estou faminta.
– Está certo, senhora, irei agora
mesmo. – Falou com um sorriso.
Branca permaneceu na porta,
pensando se a baronesa tinha deixado a paixão tomar conta dos seus objetivos.
Quando Ana Valéria despertou já
passava do meio-dia. Demorou para perceber que estava em uma rede e que Luna
não estava mais consigo. As persianas estavam fechadas, então não imaginava que
estava tão tarde. Só quando olhou o relógio foi que descobrira.
Massageou as têmporas.
Não tinha planejado em passar a
noite toda ali, apenas quisera ficar com a Luna para tentar distrai-la da dor,
mas acabou dormindo e dormira tão pesado que nem despertou em nenhum momento.
Levantou-se e seguiu para o
interior do quarto. Estava vazio, então
decidiu seguir para o próprio.
Chegando lá, encontrou Lia
arrumando tudo. A empregada lhe olhou surpresa.
– O que foi, mulher, parece que viu
fantasma. – Ana disse, enquanto caminhava até o banheiro e alguns segundos se
passaram e ela retornou vestindo um roupão. – Onde está a Paloma?
– Ela estava uma fera e fez a dona
Branca pedir a aeronave para levá-la de volta para a cidade.
A baronesa acomodou-se na
poltrona, cruzando as pernas, exibindo a postura régia.
-- Por quê? – Indagou sem parecer muito preocupada. – O que
se passou?
-- Porque a senhora sumiu...
Ana fitou a cozinheira, depois fez um gesto negativo com
a cabeça.
– Que drama só porque não dormi
nos aposentos. – Suspirou. – Preciso de algo para comer. – Passou a mão pelos
cabelos. – Onde está todo mundo?
Lia olhava-a com crescente curiosidade por vê-la tão
tranquila, mesmo diante do furacão da modelo e sua raiva.
– Estão não piscina… A senhora
Branca mandou preparar um churrasco e estão lá.
Ana ficou em silêncio por algum
tempo, inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos.
– A senhorita Gabi e a Luna estão lá
também. A menina parece ter esquecido o dente quando entrou na piscina. Está lá
montada na boia de cavalinho.
A Del La Cruz encarava a cozinheira, depois fitava as unhas
bem-feitas e pintadas de vermelho.
– A freirinha está lá tomando
banho também? – Indagou tentando não demonstrar interesse.
A cozinheira fez um gesto de
cabeça afirmando.
Ana mordiscou a lateral do lábio
inferior, parecia ponderar sobre o que fazer.
– Traga um chá para mim, algo
forte.
A empregada assentiu e deixou o
quarto.
Ana permaneceu lá, apenas de
olhos fechados. Respirava devagar, parecia tentar acalmar suas ações. Algo a
estava perturbando naquele momento e para não perder o controle, tentava usar a
concentração.
Branca e Rogério estavam deitados
na espreguiçadeira, mas logo entraram na água para brincar com a Luna que
jogava uma bola para a babá.
Gabriele vez e outra olhava para
a varanda do próprio quarto pensando se a baronesa já tinha acordado. Ela
dormia profundamente, tanto que nem viu a Luna despertar.
Não contara para ninguém que ela
tinha passado a noite em seus aposentos. Achou melhor não falar nada.
Presenciou a discussão da modelo com Branca, exigindo saber aonde estava a
amante. Discutira com a administradora, como se ela tivesse que dar conta da
empresária. Insinuara até que Ana Valéria estava nos braços de uma das mulheres
que estivera presente na festa. Ainda pensara em contar o que tinha se passado,
mas não o fez, esperaria que a própria baronesa falasse.
Cerrou os dentes.
Precisava parar de pensar
naquela mulher. Sabia que ela não parecia se importar com ninguém, agindo como
alguém sem princípios diante das mulheres que se relacionava. Uma prova era a
forma que agia com a tal modelo. Nem mesmo se importara em deixá-la voltar para
o quarto sozinha e ficar na festa.
Viu Lia trazer uma bandeja com
saladas cruas.
– A senhora Ana Valéria está no
quarto. – Levou a mão à boca para confidenciar o ato. – Ainda estava com o
vestido da festa.
A administradora olhou para Gabi
e logo a face da jovem corou.
– E ela não vem para cá?
– Eu não sei, senhora, ela tomou
banho e levei um chá, estava sentada na poltrona, de olhos fechados.
– Será que não está bem? –
Branca preocupou-se.
– Acho que está bem sim, se não
tiver, pergunte, lá vem ela. – Rogério disse.
A Bamberg levantou a cabeça e
viu a bela Del La Cruz vir. Vestia um daqueles biquínis minúsculos, expondo o
corpo malhado. Pelo menos usava uma saída de praia nos quadris para não expor
tanto. Os olhos azuis estavam escondidos por óculos pretos. Os cabelos presos
no alto, parecia uma deusa.
Voltou a atenção para Luna, tentando
não prestar atenção na empresária.
– Ora que a bela da noite
apareceu. – Branca falou alto. – Onde passou a noite? Não me diga que perdeu o
sapatinho de cristal e precisou ir atrás... – Provocava-a. – Pagou meu salário
desse mês para descobrir seu segredo...
Ana se sentou na borda, molhando
os pés na água. Luna ficou doida ao ver a tia e parecia querer ir até ela.
– Por que chamou a aeronave para
levar a Paloma? – Questionou sem responder a pergunta que fora feita. – Não
deveria ter feito isso...
– E o que eu iria fazer? Ela só
faltou dizer que eu estava te escondendo no meu quarto. – Gargalhou. – E então,
onde a senhora baronesa estava? – Perguntou com as mãos na cintura.
Ana fitou a Bamberg, parecia
querer encontrar os olhos negros que fugiam dos seus. Os cabelos brilhavam em
cachos, a expressão estava rosada, talvez do sol.
– Não é da sua conta, fofoqueira.
– Respondeu.
– Próxima vez vou deixar sua
amante esbravejar na sua cara...queria ver se a tivesse encontrado com essa sua
cara de cinismo.
A empresária não pareceu se
importar.
– Temos que cuidar muito da
Luna, Gabi, imagina ela crescer com esse nariz arrebitado da tia e cheia de
arrogância? – Benzeu-se. – Deus nos livre.
A filha de Antônio apenas deu
de ombros, enquanto bebia um pouco de suco que Lia serviu.
Luna reclamou por comida e antes
que a Bamberg falasse que iria sair, a administradora antecipou-se.
– Deixe que eu vá até a cozinha
com essa fofura. – Pegou a menina nos braços. – Rogério, venha comigo e Lia me
ajude com o almoço da Lunazinha.
Ana continuou bebendo o líquido,
enquanto via a neta de Bernard parecer deslocada, como se estivesse prestes a
sair correndo.
Levantou-se, terminou de beber o
suco e logo pulou na água.
Gabi permanecia com os braços
cruzados. Não havia mais ninguém ali e sua vontade era seguir atrás dos outros
que tinham ido embora, mas não o fez, permaneceu quieta até a natação da Del La
Cruz terminar e ela se aproximar.
– Por que não disse a ninguém
que eu tinha passado a noite com a Luna, freirinha? – Tinha um sorriso
brincando em seus lábios. – Poderia ter evitado a fúria da Paloma comigo, mas
não o fez.
Agora ela conseguia ver os
olhos brilhantes e neles havia muito sarcasmo.
– Não sou freira, senhora.
–Disse com um suspiro. – E eu não tinha que falar nada, afinal, a senhora quem
tinha que falar...Avisado a sua amante que estava com sua sobrinha, assim ela
não pensaria loucuras.
– Custou minha amante seu
silêncio… – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – E agora como vou ficar?
Era possível ver a irritação na
expressão da Bamberg. Tentou se afastar, mas a baronesa a segurou pelo
cotovelo.
– Realmente, você não é freira,
nem poderia ser… – Fitou os lábios rosados. – Acho sua boca tão bonita… – Usou
o polegar para acariciar o corte. – Não tem ideia de como imagino ela em minha…
– Chega! – Gabi a interrompeu rubra.
– Não quero ouvir nada que venha da senhora, já disse para se manter longe de
mim. – Tentou se livrar da mão que a prendia. – Solte-me! – Exigiu entre
dentes. – Não cansa de me provocar?
– Calma, afinal, não precisa
ficar assim…te fiz um elogio…
– Não quero seus
elogios…ainda mais esse tipo de safadeza…
Ana gargalhou e o som era rouco e
sensual.
A Bamberg viu as covinhas surgirem.
– Onde aprendeu essa palavra hein?
– Tocou-lhe a face. – Quero beijar sua boca de novo…Só mais uma vez...Um
pouquinho...Vai deixar?... Só um pouco para ver se consigo raciocinar
direito...
Gabi olhava para a expressão da
Del La Cruz e sentia um arrepio na nuca. Era uma mulher que tinha muito mais
que beleza. Havia algo que a perturbava em demasia. Observou os lábios rosados,
os seios bem moldados no biquíni. Viu as sardas. Eram poucas, mas estavam lá.
– Então, eu posso beijar? – A
empresária insistia chegando mais perto. – Eu sei que também quer...
A Bamberg olhava tudo ao redor, depois voltou a encará-la.
Sentia que perderia aquela batalha se continuasse a fitar aquele rosto tão
bonito.
– Não, Ana Valéria…
Os olhos negros pareciam perdidos no intenso azul.
– Meu nome na sua boca parece
uma carícia…– Chegou mais perto. – Eu sei que você quer, senhorita…eu sinto
aqui... – Segurou-lhe a mão e colocou sobre seu seio esquerdo. – Sente também?
Gabriele sentiu estremecer ao sentir o monte redondo
sobre o tecido molhado do biquíni. Sentia as batidas aceleradas do seu coração
que parecia o mesmo que o seu sentia naquele momento.
A boca da Del La Cruz aproximou-se
da sua e ela não a empurrou, deixou que ela lhe tomasse. Permitiu que buscasse
sua língua e deixou que a explorasse. Fechou os olhos e pousou as mãos na
cintura da esposa do avô. A pele dela era tão macia que ficou lá,
acariciando-a…Passeando pelo corpo bonito parando perto das nádegas. Sentiu os
dedos da baronesa passear por seus seios sobre o tecido do biquíni.
Gabi sentiu um arrepio na nuca.
Era tão delicioso que pensou se aquele frenesi não era algo normal.
Ana sorriu, enquanto introduzida
os dedos sob a roupa e começava a acariciar os seios redondos.
– Você gosta?
A Bamberg parecia hipnotizada
diante da voz e do toque.
O que era tudo aquilo em seu interior? Era como se houve
um vulcão que soltava brasas...
Poderia ficar ali a olhando para sempre...
– Quer que eu continue? –
Sussurrava em seu ouvido. – Você é tão linda…vamos para o meu quarto…Posso
fazê-la sentir todo o prazer do universo...
Aquelas palavras pareceram ter o
poder de despertar Gabi que se afastou.
– Por favor, já chega, eu não
quero!
A baronesa suspirou em frustração.
– Mentira! – Disse impaciente. –
Eu sinto seu corpo.
– Eu não vou para sua cama,
senhora, e parece que esqueceu que devo me manter virgem para que consiga suas
malditas ações, então acho melhor conter sua safadeza.
– Não precisa perder a sua
virgindade…– Passou a língua no lábio superior. – Posso te dar muito prazer sem
violar seu lindo sexo…seu namoradinho é tão frouxo que não tentou isso? –
Provocou-a.
Ana foi rápida em desviar da mão
que tentou bater em sua face.
– Enlouqueceu? – Perguntou perplexa.
– Não tem respeito por
ninguém…agora fico pensando se realmente foi vítima de uma mulher ou você mesma
agiu dessa forma descarada, achando que todos devem se render ao seu charme. – Gabi
esbravejava. – Não fale do meu namorado. – Apontou-lhe o dedo em riste. – E não
ouse nunca mais se aproximar de mim, pois vou cumprir minhas ameaça de contar
tudo para o meu advogado.
– E você acha que me importo
se contar a ele? – Debochou. – Faça isso agora mesmo, pegue o telefone e ligue
para o desgraçado. – Encarou-a. – Se você, freirinha, tivesse conseguido bater
na minha cara, iria se arrepender pelo resto da sua miserável vida, então não
tente nunca mais fazer isso!
A Bamberg via os olhos azuis
escurecer. Nunca batera em ninguém em sua vida, mas achou tão desrespeitosa a
forma que ela falara que desejara lhe estapear.
– Não tenho medo da senhora! –
Disse orgulhosa.
– Pois repense sua opinião…
– Não tenho medo! – Vociferou. –
Acha que sou as pessoas que estão ao seu redor que tremem diante do seu olhar?
– Levantou a cabeça de forma orgulhosa. – Te acho birrenta, arrogante, mimada e
convencida, achando que todo mundo deve sucumbir ao seu charme e se não o
fizer, fica aí esbravejando e fazendo ameaças.
Um sorriso brincava nos lábios da baronesa.
-- Não entendo o motivo de estar tão chateada...Apenas te
convidei para se deitar na minha cama e permitir que eu faça o que você também
deseja porque tenho certeza de que ficou tão excitada quanto eu, desejando dar
para mim...
Agora sim, os cinco dedos de Gabriele aterrissaram na
face da arrogante empresária e a outra não conseguiu desviar da pancada.
Ana nem respondeu, pois a neta do
barão já deixava a piscina pisando duro, deixando para trás uma Del La Cruz
cheia de desejo e de raiva.
A filha de Antônio olhou para a
água. Parecia buscar um equilíbrio no seu descontrole. Não podia simplesmente
perder a concentração por uma mulher, quando poderia ter praticamente qualquer
uma que desejasse. Sabia que era bonita e muito sedutora. Não costumava jogar
muito tempo fora atrás de casos, apenas ia e fazia sem muitas delongas. Não
perderia energia com uma simples garotinha que nem sabia se comportar
sexualmente.
Estava decidida a encerrar
aquela ideia que começara a se formar em sua mente.
Branca olhava de longe, porém tinha visto apenas a cena
do tapa e ficara desesperada quando viu a neta do barão esbofetear a baronesa,
porém Ana não reagiu, continuando no mesmo lugar.
O que teria se passado entre ambas para uma explosão
daquela por parte de Gabi?
O retorno à capital fora feito
primeiro por Ana Valéria que dispensara a aeronave, pegando o carro para
enfrentar as longas horas de viagem. Ela seguira sozinha naquele mesmo dia.
Parecia não desejar ficar mais um único minuto na fazenda. Branca sabia parte
do ocorrido, observava a forma como a Bamberg se comportava, percebera que algo
tinha acontecido entre as duas. Nem tentara descobrir, pois tornava-se sempre
impossível conversar com qualquer uma sobre o que suspeitava, então decidiu
continuar quieta.
Os dias passavam sem muita
emoção, porém naquela manhã de sexta-feira haveria mais uma audiência. Ana
lutava desesperadamente para poder ficar ao lado da mãe. Clarice vivia em uma
clínica e era totalmente alheia a tudo o que acontecia ao seu redor. Não se
recordava de nada depois que bateu a cabeça. A baronesa nunca pôde aproximar-se,
pois o pai alegava que ela uma ameaça à vida da mãe.
O juiz ouvia mais uma vez a
narrativa do advogado de Antônio que insistia há anos em contar a mesma
história.
Ana Valéria estava acompanhada de
Branca e de Rogério.
A administradora observava o
perfil inflexível da Del La Cruz. Parecia uma estátua de mármore. Não movia um
único músculo, apenas ouvia tudo o que era relatado. Como se estivesse
revivendo todos aqueles momentos mais uma vez. Achava tortuoso aquele momento.
Sempre se sentia mal ao acompanhar a empresária.
O
senador estava presente, ele sempre se fazia presente naquelas audiências. Era
como se quisesse ver pessoalmente o sofrimento da única filha.
Ele falou, chorou diante dos
presentes e ousou a falar que temia que a herdeira lhe fizesse algo. Tudo isso
era para provocar a jovem, mas ela não falou nada, nem mesmo esboçou qualquer
tipo de reação para o desgosto do mais velho que sempre adotava essa postura
para que a filha se descontrolasse, porém suas tentativas sempre eram inúteis.
– Senhora baronesa, deseja falar
algo? – O promotor questionou. – Deseja se defender das palavras do seu pai?
Ela levantou a cabeça e fitou a
todos. Ficou em silêncio por alguns segundos, sentia o olhar de todos voltados
para si.
De repente, recordou-se de quando era uma criança e
Clarice cuidava de si, contando histórias e aplaudindo todas as vezes que a via
tocar seu amado violino.
– Não irei perder meu tempo
retrucando a esse senhor, estou aqui mais uma vez pelo único desejo que tenho
de poder ver a minha mãe…-- Umedeceu os lábios demoradamente. --De poder lhe
olhar depois de tantos anos desse hiato infinito…-- Respirou fundo. --Eu só
quero vê-la, nem que seja através de um vidro ou através de uma grade…Se sou
uma ameaça...Me amarrem – Estendeu os pulsos – Ou vistam a camisa de força que
passei tantos anos a usar...Mas permitam que a veja...só isso que peço...
Branca secou a lágrima que
descia por seu rosto. Mais que ninguém sabia como tudo isso machucava aquela
mulher que sempre se mostrava forte e inabalável. Como já chorara e tiveram
inúmeras crises por não ser permitida aproximar-se da pessoa que lhe trouxera
ao mundo e que sempre lhe amara. A luta que travava desde que deixara o
hospital psiquiátrico era digna de um gigante.
– Digam o que preciso fazer
para poder vê-la, pois há anos venho aqui e sempre recebo a mesma negativa…mas
por qual motivo? O que faço que me faz ser tão ameaçadora para a mulher que me
deu a vida? – Indagou com a voz embargada. – Sim, eu estava naquele fatídico
dia que ela fora ferida...Se me sinto culpada? – Deu uma pausa fitando os
presentes. – Sim, mas não por tê-la machucado e sim por ter sido ingênua e
acreditado...esse foi meu maior erro...acreditar... – Encarou o Del La Cruz. –
Não entendo o que ganha com tudo isso...Busco nas minhas memórias de infância e
me recordo do pai que eu pensava que se preocupava comigo, que me amava... –
Baixou a cabeça, depois a levantou. – Já passei por tantos médicos que
atestaram a minha sanidade...então não sei mais o que fazer...
O juiz recebeu uma pasta. Lá
estava os relatórios sobre a baronesa e seus atos. Já tinha examinado no início
da audiência e pela primeira vez pediu para revisar. Não era seu costume, porém
diante das palavras emocionadas da jovem, voltara a ler o que tinha sido
escrito naquelas páginas. Todos ficaram em silêncio, esperavam mais uma vez a
decisão.
Chamou a representante da
assistência social e falou alguns segundos com a mulher em voz inaudível aos
demais.
Depois de longos minutos,
levantou-se e todos fizeram o mesmo.
– Depois de analisar mais uma
vez seu caso, depois de ouvir cada um dos presentes, esse juizado decide que a
senhora Ana Valéria Di Pace e Del La Cruz de Vallencia poderá ver a senhora
Clarice de Vallencia…
A empresária parecia não
acreditar no que ouvia, enquanto sentia o abraço da administradora.
– O encontro será marcado em
uma data ainda ser definida e contará com a presença da representante do
ministério público e da assistência social, fica decidido e esperamos que todos
cumpram o que aqui fora dito.
– Não aceito! – Antônio
esbravejava. – Está colocando em risco a vida de uma pessoa que não tem como se
defender. – Fitou o advogado. – Estaremos como uma apelação hoje mesmo.
Na mansão, todos pareciam felizes com a notícia de que
Ana teria a permissão de encontrar a mãe. Branca fora responsável para dar a
notícia a todos, pois a baronesa fora viajar a negócios e deveria permanecer
alguns dias longe.
-- Meu Deus, eu imagino como a senhora Del La Cruz vai
ficar feliz em reencontrar a mãe depois de tantos anos. – Lia comentava.
Gabriele estava fazendo uma sobremesa, enquanto a
cozinheira dava papinha a menina que estava sentada sobre a mesa e parecia
interessada em brincar com as frutas.
A Bamberg fitou a mais velha sobre os ombros.
-- Acho que nem temos como imaginar isso...—Dizia
pensativa. – Acho que esse foi o momento que Ana Valéria esperara a vida toda.
– Desligou o fogo, depois se sentou em uma cadeira. – Eu vi uma foto da mãe
dela em uma daquelas notícias...é muito bonita.
-- Parece com a patroa? – Lia indagou curiosa.
-- Ela não é ruiva, mas eu acho que o sorriso é o
mesmo...mas não aquele debochado, aquele que ela esboça quando está com a
sobrinha.
-- Eu acho que a Luna está com saudades da tia, faz mais
de quinze dias que ela não aparece aqui.
A moça deu de ombros, enquanto pegava uma banana para
comer.
Desde a cena na piscina não tivera mais nenhum contato
com a filha de Antônio e agradecia a Deus por isso. Não desejava vê-la, não
ansiava por encontrá-la mais, pois temia a reação do próprio corpo diante do
toque arrogante.
Olhou para a própria mão, recordando-se do tapa que lhe
desferira. Não devia tê-lo feito, porém ficara tão furiosa pela forma
desrespeitosa que ela falara que não conseguira controlar o ímpeto. Pensara em
lhe pedir desculpas, porém não a viu mais depois daquele dia.
Agora com a notícia dada pela a administradora sentia um
contentamento muito grande, pois mesmo com tantos problemas que enfrentava com
a esposa do avô, desejava do fundo do coração que pudesse ser feliz.
-- Vai encontrar seu namorado hoje? – A cozinheira a
questionou tirando dos seus devaneios. – Dona Branca me disse que ele viria.
-- Eu não sei...
Sentia-se cada vez mais pressionada para casar-se com o
rapaz. No último encontro que tiveram fora levada até a casa de Antônio Del La
Cruz. O senador passara horas falando da filha, contando histórias que não
conseguira acreditar. Não que achasse a baronesa uma santa, porém sentia que
aquele homem falava aquelas coisas para que todos pensassem que Ana era alguém
ruim, perigosa.
Não gostara de ir até lá e por essa razão estava evitando
encontrar-se com Miguel.
-- Lia, eu sei que você é uma pessoa muito discreta,
porém tenho algumas curiosidades que sei que você poderia saciar.
-- Não posso falar sobre a vida da senhora, Gabi, não
quero arrumar problemas nem para mim e tampouco para você.
-- Sim, eu sei, mas ela não vai saber, eu jamais contaria
nada... – Respirou fundo. – Você sabe quem era a moça que Ana se envolvera
quando era uma adolescente? Aquela que o pai ficou sabendo e a internou no
hospital psiquiátrico?
Lia seguiu até a porta da cozinha, fechando-a, depois
voltou para o mesmo lugar. Trazia uma expressão grave em seu olhar, um temor.
-- Sim, eu sei, ouvi várias vezes o finado barão gritar
aqui o nome da mulher. – Sussurrava. – Chama-se Lorena...eu a vi uma vez no
jornal...uma loira...
Os olhos negros da Gabi abriram-se em espanto diante do
que ouvia. Seria a irmã de Trevan? Seria por esse motivo que não poderia falar
nada sobre sua relação com eles?
Levantou-se agoniada, enquanto passava a mão pelos
cabelos cacheados.
-- Tem certeza? – Indagou preocupada. – Pode ter se
enganado, sei lá...
-- Claro que não, menina, ouvi várias vezes, pois o seu
avô tinha ciúmes dessa mulher, chegava a trancar a esposa no quarto, acusando-a
de ir atrás dessa moça.
Gabi parou no meio da cozinha ainda mais surpresa.
-- Ele a trancava?
Lia fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Ele era um homem ruim, filha...horrível, chegando
mesmo a fazer coisas terríveis com a Del La Cruz.
A Bamberg apoiou as mãos sobre o tampo da mesa.
-- O que ele fazia?
Antes que Lia pudesse responder, a porta abriu e Tereza
entrou com seu olhar de desprezo.
-- Você não tem nada para fazer? – Indagou à cozinheira.
– Fica aí com essa pirralha manhosa ao invés de cuidar da casa.
-- E quem é você para falar assim da Luna? – Gabi
questionou brava pela forma que a mulher se dirigia a menina e a mais velha. –
Não tem educação?
-- Não estou falando contigo, então fique calada em seu
canto ou vá arrumar uns banheiros para limpar.
-- Você acha mesmo que só porque na sua cabeça oca a
baronesa vai ter um caso contigo é diferente da gente? – Provocou-a. – Tereza,
você é tão empregada quanto nós, então baixe esse seu nariz empinado e vá
cuidar também das suas obrigações.
-- Você acha mesmo que só porque é neta do barão tem
algum privilégio aqui? – Gritava.
A porta abriu-se e Branca apareceu assustada ao
presenciar a discussão. Olhava de uma para a outra, buscando uma explicação
para aquele desentendimento matutino.
-- O que se passa? Dá para ouvir esse bate-boca da
entrada da mansão. – Fitou Tereza. – Se Ana estivesse aqui eu queria ver a
explicação para tudo isso. – Observou a neta de Bernard. – Vim te buscar para
te levar para encontrar com o Miguel, ele me ligou e pediu que o fizesse.
Gabriele abriu a boca para negar-se, mas acabou apenas fazendo
um gesto de assentimento, pois se recusasse em fazer teria que explicar a
administradora seus motivos.
Novamente fora levada até a casa do senador.
Ela passara todo o caminho em silêncio, pouco abrira a
boca para falar com o namorado que estranhava seu comportamento.
-- Você está bem, amor? – Indagou, segurando-lhe a mão. –
Aconteceu algo?
-- Só pensei que ficaríamos sozinhos... – Tentava disfarçar
o desagrado.
Ele segurou-lhe o queixo, depois se aproximou dos lábios
rosados, beijando-os delicadamente.
Gabriele abraçou-o pelos ombros, estreitando o contado e
procurando naquele toque a mesma explosão que sentira quando a baronesa lhe
tocara, porém era tão distinto, não havia aquela agonia em seu íntimo, nem as batidas
descompassadas do seu coração.
-- Podemos sair amanhã novamente, que tal?
Antes que ela pudesse responder, chegaram à casa de
Antônio.
Desceu do carro, vendo Trevan vir ao seu encontro,
abraçando-a.
-- Que bom que conseguiu vir aqui, filha. – Beijou-lhe a
face. –Acho que vamos poder passar à tarde juntos.
Ela fez um gesto afirmativo, apenas esboçando um sorriso.
Caminharam pelo jardim da enorme casa, viu Lorena e
sentiu uma terrível inquietação. Seria ela a tal moça que enganara Ana Valéria?
-- Ora, que prazer revê-la, Gabriele! -- Antônio
estendeu-lhe a mão em cumprimento. – Já disse que quero ser o padrinho do
casamento.
No enorme jardim havia outras pessoas presentes. Otávio e
outros que não conheciam.
Aquela era a mesma casa onde a ruiva crescera? O lugar
onde tinha ocorrido o trágico acidente com sua mãe? Olhou as janelas da casa e
teve a impressão de ver uma mulher através dos vidros. Quem seria?
Sabia que Antônio tinha uma nova esposa, era avô de Luna,
porém nunca a tinha visto.
Lorena aproximou-se.
-- Preciso falar contigo! – Foi logo dizendo. – Venha
comigo.
A Bamberg pensou em negar-se, porém quando viu o fotógrafo
ao lado da irmã, fê-lo.
Seguiram para o interior da mansão.
Era um lugar muito luxuoso. Uma escadaria levava ao andar
superior. Mas não foram até lá, caminham por uma porta grande e chegaram a um
escritório. Observava tudo com curiosidade, buscando alguma coisa que mostrasse
que a ruiva vivera ali, entretanto não havia nada, nem uma fotografia...
Viu a loira sentar-se na cadeira de couro do
outro lado da escrivaninha. Acomodou-se junto com o pai adotivo a frente dela. Ela
agia como se fosse a dona de tudo. Fitava os olhos claros e pensava se ela fora
tão má a ponto de agir assim por dinheiro.
-- Os papéis já estão prontos para que se case com o
Miguel e não vamos aceitar um não como resposta, então trate de seguir o plano.
– Lorena dizia. – Antônio já deixou claro que vai ter a guarda da Luna e ela
ficará contigo, então não há mais nada para pensar.
Gabriele ficou em silêncio, olhava para a mulher que agia
com toda prepotência como se pudesse decidir tudo sem nem mesmo se preocupar
com sua opinião. Recordava-se sempre de como ela agia quando era apenas uma criança,
sempre excluindo-a ou fazendo de tudo para não permitir que se sentisse bem
enquanto morava com eles.
-- Tudo isso é para evitar que Ana Valéria te faça pagar
por tudo o que você fez a ela? – Indagou friamente. – Realmente você deve estar
com muito medo, eu na sua pele seguiria para o mais longe possível.
Os olhos de Trevam focaram na jovem, enquanto a cor
parecia abandonar a face da ex-namorada da Del La Cruz.
-- De que fala? – Indagou em um fio de voz.
A Bamberg levantou-se.
-- Falo do fato de você ser a culpada pelo senador ter
jogado a única filha em uma clínica psiquiátrica, armou tudo para conseguir
estar aqui hoje não? – Dizia implacável. – Agora deseja que eu siga seus
planos, assim, não será alcançada pela vingança da ruiva.
Lorena parecia ter se recuperado da surpresa, pois agora
parecia irritada.
-- Sim, realmente estou lutando para destruir Ana
Valéria, mas não só por mim, mas também pelo seu amado Trevan...Ou você acha
que quem filmou tudo? – Exibiu um sorriso amargo. – Já que está toda
desafiadora, saiba que foi seu papaizinho quem soltou toda a história da
baronesa nas redes...então deixe sua petulância de lado e pense no que vai
acontecer quando a esposa do seu avozinho pegá-lo...
O fotógrafo parecia envergonhada diante do olhar da
jovem, baixando a cabeça para não a encarar.
-- Por que não deixam a Del La Cruz em paz? – Gabi perguntou
exasperada. – Que prazer é esse em persegui-la?
-- Ela quem não nos deixa! – Lorena praticamente berrou. –
Ela quer as ações e se conseguir vai destruir a todos nós... – Apontou-lhe o
dedo. – Você também, basta que ela saiba quem realmente é. – Passou a mão pelos
cabelos dourados. – Se casar com o Miguel garantimos que Ana nunca terá essas
ações e estaremos salvos de tudo isso, porém se negar, não imagino o que ela
poderá fazer...
A Bamberg voltou a sentar-se, enquanto sentia a cabeça
pegando fogo.
Sabia que quando Ana descobrisse tudo aquilo seria
terrível. Conhecia-a bem, via sua sede de vingança diante de tudo que fora
feito contra si. Ela conseguiria até mesmo fazer o que o avô não tinha feito,
colocar o pai adotivo na prisão.
Fitou o homem que parecia não ter forças para sustentar
seu olhar. Por que fora tão cruel com a Del La Cruz?
-- Filha, não sabíamos que Antônio jogaria a herdeira em
um manicômio... – Trevam dizia. – Acredite, quando fiquei sabendo a culpa me
perseguira por todos esses anos...—Cobriu o rosto com as mãos. – Tudo se passou
na época que você sofrera o acidente...Seu avô te tirou de mim e eu imaginei
que se tivesse dinheiro, eu poderia te tirar daquele convento... – Soluçava. –
Juro que se soubesse que Ana Valéria sofreria tanto eu não teria aceitado...
-- Não há mais motivos para derramar
lágrimas...aconteceu, foi um resultado que ninguém imaginava...mas agora você
tem a chance de acabar com tudo isso...
-- E o que te faz pensar que o fato de a baronesa não ter
as minhas ações será suficiente para detê-la? – Questionava com incredulidade. –
Ela vai ficar ainda mais furiosa...—Estremecia só em pensar nisso.
-- Antônio vai nos proteger, terá as ações que são suas e
também as de Luna quando conseguir a guarda da menina. – Seguiu até a jovem. –
Gabi, você só precisa aceitar casar-se com o Miguel, nem é um sacrifício,
afinal, vocês se amam, apenas estão concretizando o que sentem. – Segurou-lhe
as mãos. – No final, estaremos juntas e livres...
Ain minha Santa Rita de Cássia Eller! Vc voltou! 🥰🥰🥰 saudade!
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