A antagonista - Capítulo 11



            Na primeira noite no hotel Litorâneo, Gabriele não parecia interessada em esconder seu descontentamento diante da baronesa. Nem mesmo lhe dirigia a palavra. Vez e outra a olhava. Não parecia interessada em sair para suas baladas.

               Luna tinha despertado, enquanto a neta do barão estava tomando banho e quando saiu encontrou a menina com a tia. A ruiva estava sentada diante da tela do computador portátil e a criança estava lá em seu colo, parecia interessada no trabalho realizado.

                  Ficou lá observando as duas. Realmente não tinha como não achar que eram mãe e filha.

               Agora ficará curiosa para saber o porquê de ela não ter tido filho com o barão. Ficaram casados por um bom tempo e Ana Valéria era bastante jovem. Será que Bernard não conseguia acompanhar o fôlego da esposa.

                  Esse pensando a deixou constrangida e com o rosto corado.

                Mas como uma mulher tão jovem se deitava com alguém com mais de oitenta anos?

               Ouviu o balbuciar da pequena e foi quando os olhos claros da Del La Cruz lhe fitaram por longos e intermináveis segundos.

              – Pensei ter dito para se arrumar que jantaríamos no restaurante. 

             O comentário foi feito após ver a moça usando roupão e uma toalha enrolada nos cabelos cacheados.

              – Não irei a lugar nenhum com a senhora! – Falou baixo, mas em tom firme. – Me trouxe até aqui contra minha vontade, então apenas se conforme com isso, pois outra coisa não farei ao seu lado. – Deu alguns passos até ela. – Pode me ameaçar, esbravejar, gritar como já é seu costume, isso não vai mudar nada na minha decisão.

               Os olhos azuis mostraram total indiferença.

             – Arrume a Luna, pois ela vai jantar comigo. – Levantou-se, entregando a menina a babá. – Ou vai se negar também?

               – Não sabe cuidar dela sozinha…

              – Sei, pois já o fiz outras vezes. – Seguiu em direção ao banheiro. – Não demore, pois não irei demorar. 

              Gabriele cerrou os dentes.

             Podia negar-se a ir, entretanto não podia fazer o mesmo em relação à criança, pois mesmo que não mostrasse interesse na garotinha, era sua tia e guardiã.

              



                Branca tinha chegado ao apartamento que vivia com o marido e correu para o sofá, enquanto pegava o celular e discava o número de Pierre. 

              Estava preocupada, pois Ana apenas dissera que tinham chegado, mesmo pedindo para falar com Gabi, isso fora negado e só depois tinha visto que a garota não levara o telefone móvel.

                – Ui, mon ami, o que a preocupa tanto? – O chef questionava. – Acha que vamos ter uma terceira guerra mundial? – Indagava com seu sotaque francês.

                  – Sabe bem que já te contei sobre a relação das duas, como ambas têm personalidade muito forte.

                – Ui, já percebi, mas eu acho que até agora está tudo em paz. – Olhava pelo vidro que separava a cozinha do lugar onde ficava os clientes. – As três acabaram de descer. – Olhava com atenção. – Ana Valéria com aquela beleza imortal em um dos seus modelos vermelhos e… hun…– Deus uma pausa. – Essa neta do barão herdou esse ar de princesa de filmes da Disney de quem? Do velho miserável não foi.

                – Então estão juntas? – Perguntou sem esquecer a ansiedade. – Tira uma foto e me manda. – Pediu, jogando-se no sofá e sacudindo os pés para livrar-se do sapato.

                Não demorou para a imagem chegar no celular.

             Branca sempre que as via juntas tinha a impressão de que havia muito mais entre ambas que suas brigas. Ficavam lindas com a pequena Luna.

                – Estou surpresa que Gabi tenham descido…– A administradora dizia. – Decerto, Ana Di Pace lhe ameaçou…

                – Eu não sei, querida, porém vou lá oferecer o prato especial e o vinho da casa…

              – Qualquer coisa me mande mensagem e fique sempre de olho…Claro que a Del La Cruz não vai se comportar de forma inadequada diante de todos, mas Gabriele pode provocá-la ao extremo…




              A Bamberg não tiveram escolha a não ser descer ao lado de Ana, pois sabia que Luna poderia dar trabalho estando sozinha com a tia. Quando a baronesa retornará do banho já arrumada, encontrou ambas também prontas, não escondera a surpresa, porém nada comentara. Disfarçara o olhar de admiração diante do vestido branco escolhido pela Bamberg. O corpo da moça parecia ainda mais sensual com uma peça tão justa. A administradora tinha exagerado nos trajes.

               Agora estavam sentadas em uma mesa que ficava na varanda do hotel com uma vista bela para o mar noturno. O céu estava estrelado e uma brisa fria soprava do oceano.

              – Ui, que lindas… – Pierre dizia ao se aproximar. – Uma família feliz… – Tocou a face de Luna. – Essa menininha parece que foi feita da sua carne, Ana…Olha os olhinhos e esses cabelos vermelhos hein?

               Gabi ouvia os elogios e logo o francês era a língua utilizada no diálogo com a empresária.

              Não entendia nada e também não parecia se preocupar em fazê-lo. 

              A filha de Antony estava acomodada em uma cadeirinha e parecia interessada em bater os talheres um contra o outro. Via o sorriso fácil e as pequenas e gorduchas mãos quererem pegar as flores do arranjo da mesa.

               Enquanto a dono do hotel continuava com a conversa com a ruiva, viu-a sorrir de algo que fora dito e por alguns segundos ficou olhando o semblante transformado diante daquela mudança. O que fora tão agradável que mostrara os furinhos que ela também tinha nas bochechas?

                Observou o decote que o vestido exibia, de como todos pareciam olhar com admiração para a Del La Cruz.

            Será que a tal Paloma sabia que ela estava viajando e não a levara? Sempre estavam juntas, mas a herdeira de Antônio não parecia se comportar como alguém que tivesse um compromisso. Ainda se recordava de vê-la beijando Tereza e isso a deixou enojada.

                 Um garçom aproximou-se trazendo duas taças e uma garrafa dentro de um balde com gelo.

               – Não é o seu vinho, Ana, pois acabou, porém gostaria que provasse essa bebida especial que fiz. – Fitou Gabriele. – A baronesa disse que não bebe, eu também não, odeio o sabor amargo, mas essa que preparei você vai gostar, é de maracujá. – Abriu a garrafa e entregou o cristal à neta de Bernard.

                Gabi pensou em rejeitar, mas diante da simpatia do homem, acabou aceitando.

                Tomou um pouco do líquido e não pode negar que gostara do sabor.

              Ana dispensou.

             – Oh, não, mon ami, vai se negar?

             – Em outra ocasião, estou com um pouco de dor de cabeça, então prefiro ficar apenas na água.

             Novamente o garçom aproximou com uma bandeja de prata.

           – Polvo ao molho da laranja…fritas…camarões no ponto e essa massa que preparei especialmente para vocês…e uma mamadeira especial para esse anjinho ruivo.

              A Bamberg sentiu o aroma e logo seu apetite abriu. Nunca tinha provado o exótico fruto do mar, porém o cheiro era muito bom e a aparência também.

             – Posso lhe servir? – O chef lhe indagou. – Garanto que não vai se arrepender.

               A jovem fitou Ana Valéria, mas ela parecia preocupada em servir a comida da sobrinha.

              Acabou fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.



                   A noite transcorria tranquila. Ana mantinham-se em silêncio. Comera pouco e parecia distraída observando a praia. Luna começava a mostrar sinais de que desejava dormir. Gabriele comera bem e continuava a ingerir a bebida que Pierre lhe oferecera. Vez e outra o chef ia até a mesa, parecia preocupado e curioso.

            Havia uma mulher que  não deixar de olhar para a mesa que as três ocupavam. Sua beleza era chamativa e via que seu interesse estava voltado para a esposa do avô.

            Pensava em questionar a empresária, mas a viu levantar-se.

              – Subirei com a Luna, pode continuar aproveitando. – Estendeu os braços pegando a menina.

            A ex-noviça ainda abriu a boca para falar que iria também, mas não o fez. Talvez fosse melhor ficar mais um pouco ali. Olhou para a comida. Estava cheia. Tudo estivera muito gostoso. Realmente Pierre era um ótimo cozinheiro.

              Bebeu mais um pouco do líquido que tinha em seu copo. A bebida realmente era muito boa e a fez sentir um relaxamento intenso. Até não parecia tão brava como antes, mesmo que não quisesse estar ali. Não iria comparecer ao jantar de aniversário do namorado, nem mesmo pôde explicar o motivo de não ir. Decerto pensaria que fora a baronesa quem proibiu, o que não é mentira.

            Uma música tocava, ela conhecia a letra, pois muitas vezes Miguel enviava para si.

            Sentia saudades do rapaz, do seu abraço gentil e das horas que ficavam conversando sobre inúmeros assuntos.

            Quanto tempo será que ficaria naquele lugar?

               Em uma mesa à sua frente a bela mulher continuava a lhe enviar olhares.

               Baixou a cabeça constrangida.

             Observou-a levantar-se. O corpo parecia ter sido criado dentro de uma academia. Todo definido. Usava um vestido dourado curto e justo, chegava no meio das coxas. A pele era linda, negra, brilhante. Observou os cabelos trançados. Com certeza, Ana Valéria se interessaria.

            -- Perdão com minha intromissão. – Chegou dizendo. – Mas não cansei de olhá-las durante toda a noite. – Segurou o encosto da cadeira. – Posso sentar-me?

            A Bamberg olhou tudo ao redor, pensou em negar, mas não quis ser indelicada, então esboçou um sorriso consentindo o pedido.

            -- Sou Eliza. – Estendeu a mão.

            -- Sou Gabriele. – Aceitou o cumprimento.

            A desconhecida segurou por mais tempo que o necessário a mão da moça, soltando-a depois de alguns segundos.

            -- Sua companheira já se recolheu? – Observava o restaurante em busca da empresária.

            -- Companheira? – Indagou sem entender. – Ah, sim, está falando da Ana Valéria...

            -- São namoradas ou casadas? – Perguntou curiosa.

            A face da ex-noviça corou.

            Aquela mulher achava que tinha algo com a tia de Luna. Aquilo a incomodou bastante.

            -- Não...não... – Já tentava explicar.

            -- Não precisa ficar acanhada. – Abriu a bolsa e lhe entregou um cartão. – Meu número e o do quarto que estou ocupando...Podemos conversar...você...a ruiva e eu...Garanto que não vai se arrepender.

            Antes que Gabi explicasse o mal-entendido, a bela estranha afastou-se.

           

 

           

            Ana acomodava-se em um poltrona.

            Tomara banho quando retornara. Luna não demorara para dormir. Precisou retirar sua roupa e trocar sua fralda. Conseguiu fazê-lo sem problemas.

            Acendeu a luminária e agora lia seu livro tentando distrair a mente. Não estava com sono. Tinha visto o celular quando chegara, havia inúmeras ligações de Paloma e uma mensagem que demonstrava sua raiva.

            A amante, às vezes, esquecia que ambas apenas tinham um caso, algo que não exigia nenhum tipo de compromisso. Na verdade, era apenas o bom e delicioso sexo que buscava nos braços da modelo. Ela era muito boa nesse quesito e não conseguia negar-se aos desejos do corpo.

            A brisa do mar adentrou pelas cortinas que estavam abertas.

            Gostava daquele lugar, gostava de Pierre seu protetor durante muitos anos na clínica psiquiatra.

            Ouviu batidas à porta, então se levantou e foi até lá, abrindo-a.

            -- Não sabia o código... – Gabriele falou ao fitá-la.

            Ana a observava. A face estava bastante corada e parecia que tinha exagerado na bebida preparada pelo francês.

            A moça trazia os sapatos de salto nas mãos.

            Deu passagem para que ela entrasse e precisou ampará-la para que não caísse.

            -- Acho que exagerou não, freirinha?

            -- Ora me solte, não preciso da sua ajuda! – Empurrou a ruiva.

            A Del La Cruz suspirou, fechando a porta.

            -- Aconselho que tome um banho para ver se esse porre ameniza. – Dissi irritada. – Se soubesse que iria ingerir tudo não teria te deixado no restaurante.

            -- Ah, sim, e você manda em mim, não é? – Debochava com voz ébria. – Claro a poderosa baronesa ordena e eu apenas aceito... – Apontou-lhe o dedo indicador. – Pois não vai ser assim...se não fosse a Luna eu já teria jogado tudo para o alto...

            -- Fale baixou ou vai acordar a menina. – Ordenou sussurrando.

            -- Ah, sim, agora está se comportando como se essa criança tivesse alguma importância na sua vida...

            Ana lhe segurou pelo braço, praticamente arrastando-a até a varanda do quarto, pois temia que Luna despertasse, já que a Bamberg não parecia ter controle do tom da voz.

            -- Solte-me! – Ela desvencilhou-se do toque. – Não encoste suas mãos em mim! – Cambaleou. – Não suporto que chegue perto de mim.

            A ruiva respirou fundo, parecia buscar paciência.

            -- Vá embora tomar um banho ou eu mesma te arrasto até lá e sou capaz de te afogar no chuveiro.

            Gabriele deu alguns passos, depois lhe jogou um papel amassado.

            -- Está aí...veja...eu fui confundida com sua amante... – Dizia indignada. – Eu jamais seria nada sua...nunca me prestaria a ter alguma relação pecaminosa dessas que você costuma fazer...Como sua amante? – Falou mais alto. – Isso é humilhante...

            Ana Cruzou os braços.

            -- Não seja estúpida e deixe de fazer escândalos. – Repreendeu-a. – Foi apenas uma confusão, normal, ainda mais aqui onde há muita presença de homossexuais.

            Os olhos negros abriram-se em espanto.

            -- Trouxe a Luna e eu para um lugar desses? – Chegou mais perto. – Não tem vergonha? – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Por isso estão me confundindo... – Falava mais baixo agora. – Diga, baronesa, como duas mulheres conseguem sentir prazer? – Indagava com voz embriagada. – Pensa que só porque vivi em um convento eu não sei como funciona entre um homem e uma mulher? – Gargalhou. – Eu sei...e sei muito bem...—Questionou mais perto. – Mas quando são iguais...como faz? Como a senhora faz?

            A Del La Cruz sentia o aroma da bebida misturada com o hálito fresco. Olhava-a com cuidado, vendo o delicado decote que parecia acomodar muito bem os seios pequenos e redondos. De repente, sua mente resgatava a imagem de vê-los no dia que a levara para o banho.

            -- É tão bom como dizem que é? – Voltou a perguntar. – O que sente?

            Ana umedeceu os lábios demoradamente.

            -- Gabriele, vá para o banheiro e tome um banho, isso vai ajudar a passar essa bebedeira.

            A Bamberg a olhava com ar misterioso.

            -- Por que a Tereza quer tanto se deitar contigo ou a Paloma? – Encarou os olhos azuis. – O que faz de tão bom que essas mulheres querem? – Observou o decote generoso. – Diga...eu quero saber... – Exigia bêbada.

            A ruiva respirou fundo.

            Sentia o corpo vibrar em desejo de forma que nunca sentira. Ver a neta de Bernard com aquele olhar curioso e expressão ansiosa não estava lhe fazendo nenhum bem. Se fosse outra mulher não narraria o que faria, mas colocaria em prática.

            Cerrou os dentes, afastando-se, mas Gabi a segurou pelo braço.

            -- Não vai me contar?

            -- Se não estivesse tão bêbada e me pedisse, eu faria, porém do jeito que está não posso...

            -- É tão terrível assim?

            -- Seus ouvidos são muito sensíveis para esse tipo de coisa, freirinha... – Tocou-lhe a face, olhando os olhos negros. – Não há nada para saber...

            Gabi tentou dar um passo, mas acabou tropeçando e Ana a abraçou para impedi-la de cair. Sentia a respiração feminina tão próxima da sua, o perfume que usava...

            A Del La Cruz permaneceu ali até senti-la pronta para dormir, devagar a fez caminhar até o leito, deitando-a ao lado de Luna.

            Permaneceu lá por alguns segundos, observando-a, tentando controlar o desejo que parecia ter picado sua pele e espalhado por seu sangue como o veneno de um escorpião real.

 

 

            Na manhã seguinte, a Bamberg não parecia se recordar do que havia acontecido durante o retorno aos aposentos. Tinha apenas alguns flashes de uma discussão com a baronesa.

            Estava com dor de cabeça, mas tomara um analgésico e tudo parecia estar melhorando. Não lembrava se Luna tinha despertado durante a noite, pois não parecia se recordar de tê-la alimentado.

            Não viu Ana Valéria durante todo o dia, retornando apenas à noite.

            Não desejava lhe falar ou ter qualquer contato com a ruiva. Ainda mais depois que pedira a Pierre para usar o telefone e fora negado, pois Ana Valéria tinha proibido que o fizesse.

            Pensara em ligar para Lia e pedir que enviasse uma mensagem para Miguel por seu telefone, mas nem isso tinha direito.

                       Havia uma mesa com quatro cadeiras em vime, um sofá grande que parecia bastante confortável, mas o que chamava sua atenção eram as portas de vidros que separavam o espaço do mar. Era possível ouvir o som das ondas. Sentiu vontade de ir lá ver, porém ficou no mesmo lugar.

                – Vai ficar com essa cara de chateada até quando? – Ana indagou colocando a menina sobre o carpete. – Não vai mudar nada. – Disse aborrecida. – Aproveite a viagem e deixe de fazer birra...ontem estava até mais gentil depois de beber...

            Na noite anterior Ana precisara tomar um banho de água fria para destituir seu corpo do anseio que a garota plantara nele, mas agora via que a moça continuava com sua raiva e revolta.

            -- Por que não permitiu que ligasse para Lia? – Indagou exasperada. – Só iria avisar ao Miguel o que se passou.

            -- Não tenho que te dar explicações nenhuma!

                 Gabi cruzou os braços, esboçando sua irritação.

                 – Não tenho o que questionar, senhora, sua vontade foi feita não? – Perguntou arqueando a sobrancelha. – Não é sempre a sua vontade que tem que imperar?

              A baronesa não respondeu, apenas começou a tirar a jaqueta ficando apenas com a blusa de gola alta. Passara o dia fora para tentar amenizar suas sensações, porém acabara retornando, o que já começava a se arrepender.

               Luna segurava-se nos móveis para levantar-se e ficar apoiada no sofá.

               – Quanto mais você ficar chateada, mais dias ficaremos aqui. – Acomodou-se perto de onde a menina estava. – Seja gentil e agradável que farei o mesmo contigo.

              – A senhora consegue ser gentil e agradável?

            Ana Valéria esboçou um daqueles sorrisos cheios de sarcasmo, mas apenas deu de ombros.

                Ouviram batidas à porta e não demorou para uma funcionária do hotel aparecer trazendo algumas bandejas.

                 – O senhor Pierre pediu para trazer, acabou de preparar. – A moça disse com um sorriso cheio de simpatia.

            A Del La Cruz fez um gesto com a cabeça, entregando-lhe uma cédula .

               A jovem sorriu e deixou os aposentos.

                 Ana levantou e foi ver o que tinha de comer e parece ter gostado do que viu.

               – Sente-se, vamos comer. – Puxou a cadeira para a acompanhante e depois pegou a cadeirinha e colocou Luna lá. – O chef fez sua maior iguaria, então não faça desfeita.

              A jovem soltou um longo suspiro, depois arrumou um prato de plástico para Luna, colocando a papinha que ela tanto gostava. A menina segurava de forma errada uma colher, mas sempre queria tentar alimentar-se sozinha.

               – Gosta de Salmão? – Ana servia o prato da jovem.

                 – Eu não quero comer, não estou com fome. – Gabi respondeu, enquanto se preocupava em alimentar a menina. – Sua presença me tira o apetite.

                A baronesa a fitava furiosa.

               Odiava quando a jovem tentava lhe desafiar, não estava acostumada a lidar com isso, pois sempre os que estavam em seu círculo lhe faziam todas as vontades.

                  – Deixe de agir como uma tola, freirinha, ou sou capaz de te deixar aqui uma semana só bebendo água.

               – Pelo menos vai me dar água, isso é muito digno da sua pessoa. – Debochou. – Imagina se me negasse até o sagrado líquido.

               Ana Valéria levantou-se furiosa. Era possível ver em seus olhos azuis a raiva que já transbordava. Encarou a jovem durante longos segundos, saindo depois do quarto e batendo a porta com toda força.

 

 

 

                Branca estava sentada na varanda do apartamento. Era noite e o marido lhe servia uma taça de vinho.

                  Rogério posicionou-se por trás da esposa, massageava seus ombros.

                    A Wasten estava no telefone e parecia muito paciente ao ouvir o esbravejar de Paloma.

               Alguns minutos passaram-se e a chamada foi encerrada.

                – Vejo que a modelo está uma fera. – O advogado dizia com um sorriso. – Ela agi como se não conhecesse a Del La Cruz.

                Branca bebeu um pouco do líquido.

                – Como se Ana Valéria se importasse com o que ela pensa…– Dizia pensativa. – Ela não se importa com ninguém.

                 – Então não tem motivos para ouvir a Paloma descontrolada. Decerto ela ligou para Ana e não foi atendida. – Sentou-se perto da esposa. – Falou com Pierre?

                    – Sim e soube que Ana deixou o quarto do hotel na hora do jantar e não retornou. – Passou o dedo pela taça. – Então isso significa que a Gabi não deve ter amolecido…ontem jantaram juntas...pensei que tinham se entendido...

                  – Pelo visto a neta do Bamberg tem muito mais do avô do que pensávamos…pensei que fosse apenas uma freirinha doce e delicada.

                 – Acho que ela cansou da forma que a Del La Cruz agi e decidiu enfrentá-la e ela faz isso sem baixar a cabeça…e se nós conhecemos bem a baronesa, isso não vai ser algo que vai aceitar… – Tamborilava os dedos na mesa. – Sabe que eu pensei uma loucura quando vi as duas se enfrentando lá na cozinha da mansão… – Sorriu. – Acho que estou ficando louca.

                – O que pensou? – Perguntou curioso.

                Branca fez um gesto negativo com a cabeça.

              – Imaginei se poderia acontecer algum tipo de relação entre elas…

                  – Relação de amizade?

                 Novamente ela negou.

                – Relação sexual…

                Rogério gargalhou alto.

                – Amor, acho que você precisa descansar, pois só pode estar imaginando coisas. – Colocou mais vinho na taça. – Não que a Gabriele não seja uma jovem muito bonita, porém acredito que de ambas as partes isso seria até impossível.

                 – Sim, eu sei, mas é que… – Bebeu um pouco de vinho. – Sabe, eu tenho a impressão que a gente não sabe o suficiente da história da neta de Bernard… – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Acho que vou pedir para um detetive buscar mais sobre a vida da Bamberg…não ficou muito claro de quem ela era filha…

                – Dentro de dois meses haverá mais um encontro com o tabelião e decerto haverá mais informações…

               Branca fez um gesto afirmativo com a cabeça.

                 – Mesmo assim vou até o convento, vou conversar com a madre superiora, talvez algo tenha passado despercebido.

                 O marido deu apenas de ombros, não achava que tinha muita coisa para saber da garota, porém não iria contrariar a esposa, pois sabia que ela quando colocava algo na cabeça ia até o fim.

 

 

 

 

             Já passava da meia noite no hotel Litorâneo.

             Gabi estava deitada na cama com Luna dormindo ao seu lado. O quarto estava na penumbra, mas a luz da cabeceira estava acesa, pois a Bamberg lia um livro que tinha levado na mala. Era um romance, fora um presente de Miguel.

               Suspirou em pensar que nem mesmo tinha como falar com o rapaz, pois deixara o celular em casa. Nem tinha decorado o número do jovem, porém nem tinha permissão de usar o telefone.

               Mais cedo tinha recebido uma funcionária do hotel que levara uma pizza para si. Chegara a pensar que a baronesa cumpriria a ameaça de não lhe dar mais comida. Estava faminta e devoraram quase sozinha a iguaria muito saborosa.

              Pensou em colocar Luna no berço, mas achou melhor deixá-la ali, pois assim não teria a presença da Del La Cruz na cama. Mas não acreditava que ela retornasse naquela noite, devia ter encontrado uma mulher para se divertir.

                Não se importava, assim não teria que suportá-la.

              Mas para sua surpresa a porta abriu-se e mesmo na escuridão conseguia decifrar a silhueta da ruiva.

               Fingiu estar dormindo, observou-a tropeçar. Estava bêbada.

               Ficou lá, quieta, observando a luz do luar iluminar o corpo feminino. Viu-a livrar-se da blusa e percebeu a dificuldade em fazer o mesmo com o sutiã.

               Ouvia-a suspirar impaciente, resmungando algo que não entendeu.

               Continuava a olhar com atenção.

               Prendeu o fôlego ao ver os seios expostos. O lua fazia sombras...

                Eram tão lindos…

            Recordou-se de quando os tocou e teve a impressão que fora atingida por uma descarga elétrica.

                Viu-a levar as mãos à braguilha da calça e logo se livrava dela, exibindo uma minúscula calcinha.

                 Por que aquela mulher usava algo tão minúsculo que mal cobria sua intimidade?

                Ana Valéria devia usar a beleza para manipular a todos, assim como fizera com o avô.

            Sentia o cheiro feminino. Era uma delícia aquele aroma…

                Fechou os olhos, apertando-os fortemente.

               Queria ir embora daquele lugar, não suportava ficar perto daquela mulher, algo a incomodava ao extremo.

                 Viu-a seguir em direção ao banheiro e se sentiu aliviada. Queria que ela não tivesse voltado, que tivesse ido dormir com uma das amantes que sempre viviam atrás dela.

                 Abraçou Luna e sorriu ao vê-la reclamar, mesmo dormindo.

                 Sua menina!

                  Sim, amava a pequena Del La Cruz e se ainda não aceitara seguir o que a Lorena tinha falado é porque não queria deixar a menina.

               Pensou em Miguel e em seu doce sorriso e na sua gentil de lhe tratar. Gostava muito dele e estava triste por não ter como ir almoçar com o jovem.

                   Lembrava bem a primeira vez que o tinha visto no convento, ele tinha ido visitar a tia. Encontrara o jovem no jardim e ficou impressionada como ele era bonito e inteligente. Ficaram conversando durante longos minutos e ele sempre voltava na semana seguinte, até o dia que trocaram um delicado beijo.

              Sempre pensara que ninguém desejaria beijá-la por ter uma cicatriz no lábio superior, mas ele não parecia se importar com isso.

             Ouviu passos e não demorou para ver mais uma vez a Del La Cruz. Agora usava uma camisola branca.

             Viu-a aproximar-se.

              – Por que não colocou a Luna no berço?

              A voz baixa inquiriu.

              Gabi desviou o olhar da camisola transparente.

             – Não vejo problemas que ela durma comigo.

                 – Mas eu vejo, não quero que ela tenha toda essa dependência de você, afinal, quando sair com seu namoradinho, a menina não vai ficar esperando você voltar para dormir. – Aproximou-se mais. – Coloque-a no berço.

              A Bamberg ia argumentar, mas a outra já caminhava até a mesa e pegava um vinho, abrindo, colocou um pouco na taça e bebia. Caminhou até a varanda.

              Gabi levantou-se e pegou a menina pondo no lugar onde a baronesa ordenou junto com seu ursinho.

               Já retornava para a cama, mas a voz feminina a chamou.

              – Venha aqui, freirinha, quero falar contigo.

            Sentiu um arrepio na nuca.

                 – Não é muito tarde para isso? – Indagou irritada. – Estou com sono, quero dormir.

              – Venha aqui! – Ordenou.

               A neta de Bernard acabou indo, pois temia que a outra acabasse acordando Luna.

              – Pronto, o que quer?

              Ana estava encostada ao guarda-corpo, olhava para a praia.

               – Então comeu a pizza que enviei… – Falou encarando-a. – Deveria te deixar morrer de fome...

                A moça vestia um conjunto de moletom composto de calça e camiseta. Os cabelos estavam trançados.

                – Me chamou aqui para dizer isso? – Indagou aborrecida. – Sim, comi, mais alguma coisa?

                Ana fez um gesto negativo com a cabeça. Bebeu todo o conteúdo da taça.

                – Quero que assine uma procuração, quero que firme um acordo comigo sobre as ações, quero ter certeza de que no final desse ano não vai mudar de ideia e vai me vender.

                   A Bamberg irritou-se e já se afastava, mas foi segurada pelo pulso.

                – Eu não quero falar sobre isso agora, baronesa, me deixe ir dormir.

                 Ana não a soltou, ao contrário, conseguiu mantê-la cativa contra o guarda-corpo.

                 – Diga que vai assinar e te deixo ir.

                Gabi observava os lábios bonitos tão próximos dos seus. Via os dentes alvos, sentia o hálito de bebida. Os olhos brilhavam junto com o luar.

               – Eu não assinarei nada! – Disse irritada, tentando afastá-la, mas sua ação foi em vão. – Apenas terá minha palavra.

               – Então eu estava certa, você não pensa em vender suas ações para mim… eu sabia que estava unida ao maldito Otávio para me destruir.

                 – Não tem nada a ver com o meu advogado, apenas não desejo me comprometer…-- Respondeu impaciente. – Espere terminar o prazo e vamos ver como fazemos.

                   Ana a segurou ainda mais forte, usando o corpo para não a deixar sair.

               – O que você quer pelas ações…diga o que você deseja e lhe darei…qualquer coisa que me pedir…Tudo será seu...

               A Bamberg percebia que a esposa do avô estava bêbada. Viu-a passar a língua sobre os lábios e algo a incomodou com aquela visão.

           – Quero que me deixe em…paz…estou cansada…

            A baronesa para surpresa da jovem estendeu a mão e com o polegar delineou o lábio superior, tocando a cicatriz.

            Encarava os olhos azuis...Via algo presentes neles que não sabia identificar.

              – Fez um sacrifício tão grande por um gatinho e por que não pode fazer o mesmo por mim?

             A voz baixa e rouca indagou.

             – Por que não pode pensar que também sou um gatinho e que preciso da sua ajuda…

            A morena sentia uma sensação embriagante como se voltasse a ficar ébria como na noite passada.

            – Porque você não é… – Disse sem fôlego, hipnotizada com a visão da ruiva. – A senhora não é um gatinho...

                Sentia-se estranha com a presença daquela mulher, sentia como se sua alma estivesse sendo invadida.

                 – Está com frio, freirinha? – Sussurrou em seu ouvido. – Deve ser aquecer melhor – Fitou-lhe o rosto.

                 Antes que Gabi pudesse responder, viu o olhar da mulher em seus seios. Os mamilos estavam eriçados, doloridos…Desejosos de algo que ela nem mesmo sabia o que era.

                  – Sim, estou…e por isso quero ir para cama… -- Respondeu corada. – Deixe que eu vá... – Pediu bem próxima dos lábios rosados.

               – Se usasse sutiã… – Usou a outra mão para tocar o mamilo…

                A Bamberg teve a impressão que uma descarga elétrica passava por todo seu corpo quando sentiu ela encostar os dedos em seu seio…

            Viu-a usar o polegar para tocá-lo...

               Era algo tão estranho, dolorido, mas extasiante, sensação que percorria todo seu corpo trilhando um caminho perigoso.

            Fitou-a e viu como a expressão da Del La Cruz não parecia a mesma irritante que sempre exibia consigo.

               – Posso esquentá-los…

               Para sua surpresa, Ana Valéria colocou as mãos por baixo da camiseta e começou a massageá-los. Apertando-os...Brincando com a maciez e delicadeza dos dois belos montes...

            -- Assim não vai sentir frio...

                Os olhos da Bamberg se abriram em surpresa, depois fecharam, ficando semicerrados, enquanto tinha a impressão que morreria diante do prazer que sentia. Não fez nenhum gesto para impedi-la, apenas permaneceu lá, sentindo a carícia que parecia queimar sua carne.

              A baronesa sentia a bebida em seu sangue, o álcool parecia confundir sua cabeça, mas de repente parecia que seu corpo mergulhava em um terreno pantanoso, onde era praticamente impossível sair de lá. Na noite anterior sentira tanta vontade de tocá-la, de lhe sentir o delicioso saber. Nem sabia onde conseguira buscar tanto controle, enquanto tinha a neta do marido tão próxima de si.

                 Aproximou a boca da garota, sentindo a textura da pele delicada. Encostou os lábios nos dela e logo aprofundava a carícia. Sentiu-a aceitar sua investida, então devagar penetrou-a com a língua.

             Gabi sentia que o mundo girava ao seu redor. Estava embriagada.

            Era tão macia e delicada...gentil...

            Fechou os olhos...Abraçou-lhe pelo pescoço, mergulhando naquela carícia que parecia espalhar-se por todo seu corpo.

            Pensou que morreria...

            Respirou fundo, sentindo o delicioso aroma da ruiva que parecia deliciar-se em seu beijo.

               Sentia a boca ser devorada, gemeu baixinho quando a sentiu chupar sua língua, era como se isso conectasse todo seu corpo.

                De repente, tudo acabou.

                Viu a baronesa lhe fitar com expressão curiosa, perplexa...assustada.

            Encarava-a e pensava o que tinha feito ela parar...Não podia negar que sentia vontade de continuar...

            Ouviu a voz fria como gelo.

                – Vá dormir, freirinha… – Ordenou. – Saia daqui! – Cerrou os dentes. – Saia!

            A Bamberg ainda pensou em falar algo, mas era como se houvesse algo preso em sua garganta que evitasse falar.

             Sentia as pernas tremerem, mas mesmo assim conseguiu seguir para a cama. Cobrindo dos pés à cabeça, temendo que a outra fosse atrás de si.

               Passaram alguns minutos, então ouviu a porta ser fechada, foi quando olhou tudo ao redor e viu que a baronesa não estava mais ali.

     

 

                          O carro estacionou diante do hotel.

              Branca ainda parecia surpresa, pois recebera uma ligação de Ana que já estava na capital pedindo que ela fosse ao litoral buscar Gabi e Luna.

              Passava das três da tarde, pois o tempo não estava bom e tivera dificuldade em viajar.

              Desceu do veículo e viu a Bamberg com Luna nos braços.

               Ainda não tinha entendido o motivo da baronesa ter ido embora sozinha e deixado as duas ali.

              Seguiu até elas, cumprimentando-as.

              – Vamos, o jatinho já está pronto para decolar.

              A jovem não disse nada, apenas entrou no veículo e permaneceu em silêncio durante todo o trajeto. Naquela manhã recebera a visita de Pierre que lhe avisara que Ana Valéria tinha partido e que a Wasten chegaria para levá-la embora. Nem sabia se sentia feliz por isso ou se estava chateada pela forma que a Del La Cruz  agira.

                – O que houve entre você e a Ana?

               A voz da administradora lhe tirou das suas divagações.

              A face da jovem corou, porém não disse nada.

               – Discutiram? – Insistia.

              Gabi desviou o olhar.

               Não conseguira dormir durante toda a noite, sua cabeça fora invadida pela cena da carícia que fora submetida. Seu corpo parecia mergulhado no próprio fogo. Uma sensação que a deixara ansiosa, agoniada e desejosa de uma forma que nunca imaginara sentir.

            Quando a baronesa deixara o quarto, a neta de Bernard permanecera lá por algum tempo, estática, sem nem mesmo conseguir mover-se. Depois seguiu para o banheiro, entrando na ducha com roupa e tudo, buscando apagar os vestígios do toque daquela terrível mulher.

                Nunca em sua vida sentira nada assim, nem quando Miguel a beija com mais paixão. Tivera a impressão que fora enfeitiçada…

                 – Me fale o que houve, só assim poderei ajudá-la. – Branca continuava. – Brigaram não foi?

                Diante da insistência da outra, Gabi assentiu.

               – Sim, brigamos e mais uma vez agiu da forma já conhecida…mas não acho que isso seja surpresa.

              A Wasten sentia a revolta em casa palavra, pensou em falar mais alguma coisa, porém permaneceu em silêncio. Algo estava estranho. A baronesa não parecia muito segura como era normal, parecia abalada até, algo que nunca tinha visto.

 

 

 

               – Me deixou sozinha e agora vem aqui com essa cara de cínica?!

             A baronesa tinha chegado ao apartamento da amante.

                    – O que veio fazer aqui? – Gritava a modelo. – Some a aparece como se nada tivesse acontecido.

                Ana exibiu um sorriso.

                – Quero gozar na sua boca, então pare de discutir, pois tem coisa bem melhor para fazer.

              A jovem ainda pensou em protestar, porém não resistia aos encantos da filha de Antônio, ainda mais quando ela agia com aquele jeito de safada sem nenhum escrúpulo.

                Sentiu a boca ser tomada pela outra e se entregou a vontade de ser mais uma vez invadida por aquele prazer que só ela conseguia lhe fazer.

 

  

 

                  Era manhã de quarta-feira. Otávio tinha chegado à mansão, pois precisava levar Gabi ao médico, havia consulta com o ginecologista marcada.

                 A jovem seguia no veículo com o advogado, parecia pensativa. O homem parou o carro em frente a uma loja e Lorena entrou, acomodando-se ao lado da Bamberg.

               – Onde esteve? Pensei que iria ao aniversário do Miguel.

                  A neta do barão deu de ombros. Não tinha nenhum interesse em falar com a irmã de Trevan, não estava interessada em manter um diálogo. Desde que retornara do hotel, não tivera o desagrado de encontrar a baronesa, mas na noite passada ouviu o som do violino, então ela devia ter retornado dos braços da amante. Sabia que estava com ela, pois Lia tinha dito que Paloma fora pessoalmente buscar umas roupas para Ana.

                Suspirou e isso chamou a atenção da outra.

               – Vai ao ginecologista e depois vai a uma sexóloga, quero que converse com uma especialista, pois acho que esse tempo todo dentro de um convento te deixou com problemas sexuais.

               A Bamberg a fitou.

             – De que está falando? – Indagou exasperada. – Não preciso disso, estou bem, apenas quero ir ao ginecologista.

               – Você vai e pronto! – Lorena ordenou. – Não seja boba, precisamos que saiba como deve agir.

              A jovem ainda pensou em retrucar, mas sabia que seria mais um problema para lidar naquele dia e ela não queria de forma nenhuma isso.

              

 

 

             Ana sabia que Gabi tinha saído, tinha sido informada por Branca sobre a consulta que a jovem teria com o ginecologista.

              A baronesa estava na sala de exercícios. Voltava a sua rotina, pois ficara dias sem ir lá. Ficara fora de casa, ao lado da amante Paloma tinha seguido viagem, porém agora tinha retornado, pois precisava cuidar de algumas ações. Logo, precisaria viajar para a fazenda, pois chegava o tempo da colheita do café para a produção e exportação. Essa era uma das atividades que fora deixada pelo barão que ela gostava, as outras ficavam mais mas mãos da administradora sob seu monitoramento.

                Viu passos e logo Tereza aproximava-se.

              A governanta trazia uma jarra com limonada.

             – Trouxe para a senhora, sei que deve precisar se hidratar.

              Ana estava exercitando os braços na barra, então deu uma pausa, sentando-se. Pegou uma toalha e secou o rosto que estava banhado em suor.

             – Obrigada! – Aceitou o copo que lhe foi ofertado. – Já ia pedir para Lia.

             – Não acho que ela traria, pois está sem tempo, está cuidando da Luna, pois desde que acordou está chorando atrás da babá.

               A baronesa bebia um pouco do líquido, enquanto ponderava.

               Não voltara a ver a neta do marido, não sabia se tinha sido intencional ou porque seus caminhos não se cruzaram…Ainda sentia algo estranho quando recordava da boca de Gabi colada a sua. Da sensação eletrizante que sentira ao lhe tocar os seios...

               Sentira tanta vontade de tocá-la naquela noite que chegara a tremer. Não sabia se fora pela bebida ou se fora o desejo que sentira pela moça.

              Levantou-se.

             – Vou tomar um banho e depois leve a Luna até o meu quarto, vou tentar ficar com ela para Lia fazer os afazeres.

             Tereza parecia surpresa, mas não falou nada.

 

 

 

                A sala de espera do consultório da sexóloga estava vazia. A recepcionista estava lá e parecia bastante compenetrada em seu computador.

              Gabi, mesmo que não tenha desejado ir, acabara cedendo, ainda mais pela promessa de encontrar o pai para almoçar.

              Ouviu seu nome ser chamado e entrou no consultório.

                Por trás da escrivaninha havia uma mulher de meia idade, era morena e usava óculos. Os cabelos eram negros, exibia um sorriso gentil no rosto.

               – Prazer, senhorita Bamberg. – Disse levantando-se, enquanto estendia a mão em cumprimento. – Sou Sofia. – Sorriu gentil. – Sei que não queria vir, eu até te entendo, mas não precisa se preocupar, tudo o que falarmos aqui ficará aqui.

              A neta do barão fez um gesto afirmativo com a cabeça, sentando-se.

              Mexia nas mãos, nem sabia o que dizer, nem desejava estar ali, mas faria que tudo terminasse o mais rápido possível.

                – Fui informada que passou a infância e adolescência em um convento…interessante. – Lia no computador. – Não fez os votos?

               A jovem fez um gesto negativo com a cabeça.

             – Eu estudava…era interna nesse colégio.

              – Nessa idade que esteve lá é comum termos mais conhecimentos, exploramos mais o mundo…imagino que lá nunca tenha vivido algo assim.

          – Não sei do que a senhora está falando…

              – Querida, me chame de Sofia, e não precisa agir na defensiva já disse que estou aqui para lhe ajudar.

              A garota levantou-se.

             – Eu não preciso de ajuda, na verdade não há nada que a senhora possa fazer para me ajudar, eu estou bem.

              Sofia fez um gesto para que a Bamberg voltasse a sentar.

              – Eu sei que é estranho, mas se você falar comigo, posso tirar muitas das suas dúvidas e não diga que não tem, pois tem sim, todos temos, ainda mais no campo sexual.

           A jovem cerrou os dentes, depois acomodou-se.

              – A primeira coisa que deve entrar na sua mente é que sexo não é pecado, ao contrário, meu bem, faz parte da nossa anatomia, fomos criados com essa sensibilidade para que possamos ter prazer.

              Ela continuava em silêncio, pois de repente em sua memória veio a cena da noite em que estava no hotel litorâneo e ao toque que recebera da baronesa.

               – Sei que tem um namorado…sabe que em algum momento o rapaz vai querer ir mais fundo na relação… – Sorriu. – Vou lhe dar um conselho… – Falou mais baixo. – Eu não acho que já tenha se permitido tocar seu próprio corpo…se o fez, isso é ótimo! – Disse entusiasmada. – Mas se ainda não o fez, faça, querida. Masturbação é algo que deve ser rotineiro, ainda mais se vai esperar que outro te dê prazer…

            Ela não se importava com nada que estava sendo dito, não tinha interesse ou intenção de dialogar com a mulher que ali estava. Não era freira, apenas vivera com elas, porém sabia como era o mundo e como se dava as relações entre namorados.

            – Há também relações sexuais entre iguais…

            Depois da mulher falar durante longos minutos chegou a um ponto que parecia ter chamado a atenção da jovem.

            Sofia percebeu o incômodo da cliente e decidiu explorar mais esse tópico.

            – Sexo entre mulheres tem um infinito de possibilidade, você não imagina…tudo pode produzir prazer…

            – Pensei que o certo seria o sexo entre diferentes. – Provocou.

            – Gabriele, se formos pensar em convenções sociais não sairemos daqui hoje e verdadeiramente nessa área poucas regras existem…

            – Como duas mulheres se agarrando pode ser algo prazeroso? – Indagou aborrecida.

            Na mesma hora que fez a pergunta sentiu a pele enrubescer. Na sua memória ela provara de algo que poderia muito bem explicar aquele questionamento.

            – É exatamente aí que mora o perigo…talvez, você ou tantas outras pessoas digam que são héteros, porém sexualmente falando não há nomenclaturas. – Gargalhou diante do olhar cético. – Aí onde você está sentada já passaram muitos casos curiosos de pessoas que se autodeclarava totalmente averso ao sexo homo e acabaram caindo nessa malha de sedução…Sei que não é o seu caso, mas nada é impossível nesse universo de possibilidades, querida.

            A Bamberg levantou-se.

            – Nego-me a continuar a ouvir tantas bobagens.

            Sofia ficou lá parada, enquanto imaginava o que fora que deixara a moça tão furiosa quando não fizera nada para irritá-la daquela forma demasiada.

 

            A sala de TV da mansão da Del La Cruz tinha sido adaptada para receber pequena Luna. O cercadinho tinha sido colocado lá, várias almofadas sobre o carpete felpudo que estava sendo usado para a criança ficar ao lado da tia. Pandora também estava presente e mesmo com seu tamanho demasiado, o animal era bastante doce com a criança e a herdeira parecia ter adorado a cadela.

            Ana Valéria estava deitada e via a um filme de animação ao lado da pequena. Passara o dia assim, cuidando da sobrinha.

            Branca fora mais cedo para ver se precisava de ajuda, mas ao ver como ambas pareciam em paz tirando uma soneca juntas, decidiu retornar para casa. Estava feliz, pois sabia que, mesmo que negasse, a baronesa gostava da garotinha e isso era algo bom, pois havia poucas pessoas que ela tinha algum tipo de sentimento puro.

            Seguia de carro para buscar a neta do barão, pois Otávio tinha um compromisso e não podia levar a jovem para casa.

            Encontrou-a em uma cafeteria, estava sozinha e parecia pensativa.

            Sentou-se.

            – E então, senhorita, já fez tudo o que tinha planejado para hoje?

            A Bamberg exibiu um sorriso.

            Tirando o encontro com a sexóloga, o resto do dia fora muito bom. Estivera com o pai adotivo e também com Miguel. Almoçaram e depois foram até um shopping. Divertiram-se muito em um parque e agora tinha sido deixada naquele lugar. Fora muito bem ver o namorado. De repente, livrara-se dos pensamentos que estavam lhe perseguindo em relação à esposa do avô.

            A administradora fez um aceno para a garçonete e quando teve sua atenção pediu um suco.

            – Pensei que deveríamos chegar logo à mansão. – A Bamberg comentou.

            – Passei por lá e para minha surpresa, titia Ana Valéria está se saindo muito bem com a Luna.

            A jovem pareceu não se sentir à vontade ao ouvir o nome da mulher.

            – Pensei que ela não estaria lá… – Disse simplesmente sem esconder o suspiro de frustração.

            Branca analisava-a, enquanto dizia:

            – Realmente, depois que ela retornou sozinha do litoral vocês não voltaram a se encontrar. – Deu uma pausa, pois a garçonete lhe trouxe o suco. – Ainda não entendi a razão de Ana ter te deixado sozinha lá… – Fitou-a. – O que realmente houve entre vocês hein?

            A moça mordiscou a lateral do lábio inferior, ponderava.

            Não tinha coragem de falar o que tinha se passado. Nem mesmo tinha coragem de verbalizar...

            – O que foi que ela te disse? – Indagou curiosa. – Ou não teve coragem de lhe perguntar?

            – Não disse nada, ela não fala nada, mas não esperava isso de você. – Bebeu mais um pouco. – Bem, não vou insistir, mas saiba que um dia vou descobrir. – Sorriu. – Estava pensando sobre seus estudos.

            Os olhos escurecidos mostraram curiosidade.

            – Estive no convento falando com a madre…Por que não disse que tinha se inscrito na faculdade de Gastronomia?

            Ela nem voltara a pensar nisso, ainda mais depois que o avô a proibiu de pensar em cursar. Gostava da ideia de preparar pratos exóticos, do mesmo jeito que gostava da Filosofia e das Letras,.

– Não recebi permissão para seguir cursando, então tive que desistir. – Disse por fim.

– Pois eu reativei sua matrícula, na segunda você retorna ao seu curso. – Disse com um sorriso. – Fiquei surpresa quando soube do seu desejo de seguir por essa área.

A jovem parecia perplexa.

– Mas, como vou cursar se necessito do dinheiro para a mensalidade e sabe bem que nada terei até que acabe o prazo que foi dado.

A administradora levantou-se, deixando sobre a mesa uma cédula para pagar o suco.

– Consegui uma bolsa no escritório de advocacia do meu marido. – Apontou para o carro. – Acho melhor irmos embora, pois não vai demorar a anoitecer.

O céu já mostrava sombras do fim do dia.

– Sabe muito bem que ainda há um empecilho em toda essa história… – Hesitou – Como vai convencer a baronesa?

A administradora deu uma piscada, exibindo um sorriso misterioso.

– Você acha que a senhora Del La Cruz é um monstro? – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Não nego que às vezes me assusto com sua forma de se comportar, porém ela não é esse monstro que criou em sua cabecinha.

– Não é?

Branca não respondeu, seguindo para o veículo.

 

 

 

Lia estava na cozinha, preparava sucos para levar para a sala de vídeo.

A modelo tinha chegado ainda pouco à mansão e não parecia muito feliz por saber que a amante estava cuidando da sobrinha ao invés de estar livre para ficar ao seu lado. Quando fora lá para levar o lanche para Luna tinha ouvido, porém a senhora Del La Cruz não parecia pronta para fazer as vontades da bela.

Tereza entrou no recinto, parecia satisfeita e não irritada como quando tivera que abrir a porta para a senhorita Paloma.

– Pode suspender os sucos, a modelo já foi embora.

A cozinheira colocou as mãos na cintura.

– Mas o que houve?

A governanta pegou um pouco de água para beber.

– O que houve foi que ela esqueceu que estava lidando com Ana Valéria e não com qualquer outra mulher que pudesse manipular. – Sorriu. – Não que eu goste de que a baronesa fique cuidando daquela pirralha, mas pelo menos não saiu com a talzinha.

– E você acha que isso vai te ajudar em quê? – Lia indagou provocando-a. – Sabe muito bem que depois a senhora vai até lá e a outra a receberá de braços abertos, então é melhor que não fique criando expectativas.

            – Minha vida não é da sua conta! – Disse irritada deixando a cozinha.

            – Coitada, está se iludindo à toa.

            A porta da cozinha abriu-se segundos depois, porém agora era a Bamberg que vinha com um enorme sorriso.

            – Ora, vejo que seu dia foi bom.

            A jovem fez um gesto afirmativo com a cabeça, pegando um copo com suco que estava sobre a bandeja.

            – Adivinhou que eu iria querer foi? – Bebeu todo o conteúdo de um único gole. – Delicioso.

            – Não era para a senhorita não viu… – Repreendeu-a. – Tínhamos visitas.

            A Bamberg sentou-se, então começou a ouvir o som do violino. Sentiu um arrepio na nuca só em pensar que a baronesa estava por perto. Muitas vezes, ficava ouvindo-a tocar em seu quarto, sentindo como a melodia parecia delicada.

            – Olha, ouça, a esposa do seu avô está lá na sala de vídeo cuidando da sobrinha e agora tá tocando para a menina…Você sabia que Luna adora? Fui lá e a vi hipnotizada vendo a tia tocar.

            – Ela não chorou quando eu deixei?

            – E como chorou! – Cobriu a boca rindo. – Mas bastou a baronesa ir lá e ela ficou um anjinho. Estão juntas, passaram o dia lá vendo TV e dormindo junto com a Pandora.

            – Aquela cadela enorme está lá? – Questionou preocupada.

            – Calma, menina, a cadela se saiu muito bem, gosta da Luna e jamais faria nada com a garotinha.

            Gabi tamborilava os dedos sobre o balcão.

            – Então os sucos eram para elas?

            Lia fez um gesto negativo com a cabeça.

            – A senhorita Paloma estava aqui, veio buscar a amada para um evento e ficou furiosa quando a outra disse que não iria.

            A Bamberg deu de ombros.

            Fingia que aquela informação não lhe afetava em nada, porém só em pensar que a tal amante esteve ali, sentia uma inquietação.

            – Vou me trocar para cuidar da Luna, acho que já abusamos muito da madame hoje. – Deu um beijo na face da senhora. – Tenho novidades…

            Antes que ela saísse da cozinha, a empregada a deteve:

            – Deixe que a baronesa fique um pouco mais com a sobrinha, quem sabe compensa um pouco o tempo… – Puxou a cadeira. – Sente-se e me conte. – Acomodou-se, servindo sucos para ambas. – Não me diga que o bonitão tentou avançar o sinal?

            A face de Gabi corou e logo enviou um olhar enviesado para a outra.

            – Claro que não foi isso! – Negou irritada. – Miguel é um rapaz muito bem-educado e não faria isso jamais. – Bebeu um pouco do líquido. – A dona Branca reabriu meu curso de gastronomia.

            Lia esboçou um sorriso de felicidade.

            – Que coisa boa, filha, fico tão feliz por você, ainda mais porque sempre falava como gostava de estudar a culinária… – Segurou-lhe as mãos por sobre a mesa. – Então vamos ter o famoso restaurante da Bamberg?

             A jovem mordiscou a lateral do lábio inferior.

            – Eu não sei…ainda tem o fato da senhora Ana Valéria permitir, pois alguém vai precisar ficar com a Luna quando eu for para a universidade.

            – Eu posso ficar! – Disse entusiasmada. – Coloco o carrinho dela aqui e faço os afazeres com ela perto.

            A jovem beijou as mãos da senhora.

            Desde que chegara naquele lugar fora aquela mulher quem lhe fizera se sentir bem. Quantas vezes assumira os erros que ela cometera para que não fosse alvo da madrasta.

            – Vamos esperar…

 

 

 

            A TV continuava exibir uma animação, mas Luna parecia mais preocupada em encaixar algumas peças geométricas em seus espaços. Estava sentada sobre o carpete, tendo a coluna encostada em algumas almofadas. Vestia apenas a fralda descartável, os cabelos estavam presos em “maria-chiquinhas”. Pandora parecia curiosa, olhava para a menina e acompanhava suas ações.

            A baronesa estava sentada na poltrona, tinha o notebook sobre o colo. Parecia concentrada em seu trabalho, porém não deixava de observar a sobrinha em suas brincadeiras.

            Teria muito trabalho quando seguisse para o cafezal. Havia bastantes encomendas e também buscava manter a qualidade da bebida. Aquela era uma das atividades que mais gostava de se envolver, era uma verdadeira terapia para a jovem. Aquele também era um dos lugares que costumava usar para fugir do assédio de Bernard.

            Um endereço de e-mail institucional apareceu na janela de notificação, pensou se tratar de algo relacionado às empresas, abriu-o.

            “ Veja sua história trágica jogada nas redes.”

            Ana voltou imediatamente para um buscador e ao digitar seu próprio nome, viu todas as manchetes que tinham sido feitas sobre si.

            Cerrou os dentes tão fortemente que sentiu o maxilar doer.

            Observou uma das matérias, havia fotos que expunham sua vivência no hospício. Observou a expressão drogada pelas quantidades de remédios que era obrigada a ingerir.

            Fechou a tela do computador portátil, depois se levantou.

            Respirava fundo e tentava controlar os sentimentos ruins que trazia em seu interior.

            Fechou as mãos ao lado do corpo, pressionando as unhas contra a palma.

            Ouviu a porta abrir e a administradora entrar sorridente.

            – Já trouxe a Gabi…

            Parou de falar ao ver a expressão da ruiva. Arqueou a sobrancelha em interrogação, afinal, quando deixara a mansão tudo parecia bem.

            – Acesse as redes por seu buscador e digite meu nome… – A baronesa ordenou entredentes.

            Branca retirou o aparelho da bolsa, fazendo o que fora dito. Ficou horrorizada diante da exposição.

            Quando Ana fora internada, como Antônio era uma figura poderosa, houve uma exclusão de muitos fatos sobre a herdeira do Del La Cruz, mesmo assim, algumas coisas foram colocadas, porém quando Ana estava com o barão, conseguiu processar alguns sites e logo tudo fora excluído, tanto que tudo relacionada a ela resumia-se à atualidade.

            – Falarei com o Rogério agora mesmo, pedirei que entre com um processo contra essas pessoas…

            – Não acredito que tenha algum registro, apenas estão usando a anonimidade para expor minha vida.

            Luna deu gritinhos de felicidade ao encaixar a última peça do brinquedo, isso chamou a atenção das duas mulheres.

            – Leve-a para a babá, quero ficar sozinha.

            Branca tocou-lhe o ombro.

            – Não adianta ficar assim, querida, isso só vai te fazer mal…

            A ruiva desvencilhou-se do toque.

            – Leve a menina e me deixe em paz!

            A administradora sabia que nada poderia dizer naquele momento. Agora, ela se trancaria em seu interior mais uma vez e reviveria tudo o que passara naquele terrível lugar.

            Suspirou, depois fez o que fora dito, mesmo contra a vontade de Luna que começava a chorar ao ser levada de perto da tia.

            Deixou a sala e encontrou a Bamberg descendo as escadas.

            – Já estava indo buscá-la. – Disse ao chegar ao térreo. – E como essa princesa ruiva se comportou na minha ausência. – Beijou-lhe os cabelos. – E o que houve com as suas roupas? – Luna jogou-se nos seus braços.

            Gabi percebeu a expressão preocupada da administradora.

            – Tudo bem? Aconteceu algo?

            Branca pensou em falar com a jovem, porém achou melhor não o fazer naquele momento. Agora estava muito assustada para uma conversa.

            Fez um gesto negativo com a cabeça.

            – Vou ao escritório, preciso fazer umas ligações.

            A jovem apenas assentiu com a cabeça, enquanto via a mulher seguir pelo corredor.

            Fitou a porta da sala de vídeo. Estaria lá a baronesa ainda? O que acontecera que deixara a Wasten tão descontrolada?

            Ouviu a criança falar seu famoso “mamamama”, decidindo seguir para os aposentos.

 

                


 

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