A antagonista - Capítulo 1


 

  

 

         O clube mais caro e exclusivo da cidade estava sendo usado naquele dia para comemorar a fundação de uma das maiores construtoras do país. Estava ensolarado, iluminado, não muito quente, agradável para todos os presentes. O lugar tinha quadra de futebol, tênis, piscinas e, ao redor, restaurantes que ofertavam os melhores cardápios. A grama bem cuidada parecia ainda mais verdejante para aquele grandioso evento.

            Era possível ouvir o som dos pássaros serem sufocados pela risada e burburinho dos convidados.

             Antônio Del La Cruz era ovacionado por todos. Alto, porte atlético, cabelos grisalhos, bigode bem cuidado e de sorriso fácil. Era a imagem do ser respeitado e influenciador de sucesso.

            O homem exibia-se diante dos seus amigos. Não era apenas o presidente da corporação, mas também o senador mais votado daquele último ano eleitoral. Ao seu lado estava a esposa, Clarice, e a única filha do casal, Ana Valéria di Pace. Ele controlava cada passo dos membros da sua família. Ninguém fazia nada sem sua autorização, fosse a forma de se vestir, as amizades ou os lugares que frequentavam, até as palavras eram prontas quando falavam em público. O único lugar permitido de visitarem era a igreja, geralmente ocupavam um dos primeiros bancos do sagrado ambiente.

            Os Del La Cruz tinham acabado de chegar. O patriarca cumprimentava os presentes, conversando e contando algumas anedotas que rendiam risos. A esposa e a filha apenas expressavam simpatia e pouco falava.

            -- Ana di Pace está uma moça linda! – A cônjuge de um deputado comentava. – Pena que minha Judie não tenha vindo, está viajando para Paris de férias com os amigos. Acho que só voltará no próximo mês.

            A jovem ruiva nada falou. Apenas ouvia os comentários e tentava se mostrar gentil.

            -- E já está na universidade, vai ser uma grande engenheira. – Antônio dizia orgulhoso. – A melhor... – Colocou a mão sobre o ombro da filha de forma possessiva.

            -- E pretende também seguir para o mundo político? – O deputado questionou.

            O senador pegou uma taça, bebericando o líquido caro.

            -- Quem sabe...Com a inteligência que herdou de mim, pode ser ainda maior que o presidente.

            Todos gargalharam diante da fala, sabendo como o homem ali parado costumava exibir-se.

                Alguns olhavam e cochichavam de modo discreto. Não era segredo que aquele modelo de integridade que era apresentado pelo empresário não passava de fachada. Ele tinha uma amante de longa data e com ela um filho que era um ano mais velho que a herdeira. Se ainda não tinha se divorciado era por questão de poder, pois os sogros eram muito bem-vistos na sociedade, temia um escândalo, ainda mais da instituição religiosa, afinal, ele era um devoto fiel de uma grande e importante congregação.

                Naquele lugar também havia funcionários da empresa. Não tão próximo do alto escalão, mesmo assim foram convidados.

            Em uma das mesas estava a equipe de Trainner. Dois irmãos se destacavam, principalmente a bela loira chamada Lorena. Trevan ocupava-se de fotografar cada momento para divulgar em sites externos, enquanto a irmã era assistente administrativa, mas com ambições maiores.

            -- A filha do chefe olhou em sua direção algumas vezes.

            As palavras foram ditas por um colega da moça.

            A jovem bebeu um pouco de suco, depois mirou a mesa onde a importante família sentava-se.

            Observou a garota. Viu-a inúmeras vezes na construtora. Sabia que ela se comportava sempre de forma fria, arrogante, mas percebia que seus olhares para si eram admiradores.

            -- Comporte-se, Lorena, sabe que não podemos arriscar nosso trabalho. – Trevan sussurrou no ouvido da irmã. – Imagina se essa moça fala ao pai das suas gracinhas?

            A loira apenas exibiu um sorriso travesse, enquanto terminava de beber o suco e seguia para juntos dos colegas que dançavam na beira da piscina.

            O fotógrafo soltou um longo suspiro, pois temia arrumar problemas com o poderoso senador.

 

 

                 Depois de algum tempo sendo cumprimentado, a importante família acomodou-se à mesa onde o próprio chefe do estado se fazia presente ao lado de alguns governadores.

               Sucos eram servidos, acompanhado de bebidas e aperitivos.

             Os garçons pareciam treinados para servir todos em tempo hábil, assim não haveria reclamações. Agiam com cordura, sabiam que qualquer mínimo erro lhe custariam o trabalho, sendo assim, suas ações e movimentos eram bem estudados para não desagradar os ricos e poderosos.

                  – Tudo bem, filha? – Clarice sussurrou no ouvido da jovem.

                  Sabia que a adolescente não quisera ir até ali, ainda mais porque tinha presenciado a briga que tinha tido com o esposo. Também os jovens que estavam presente no evento não se enquadravam no tipo que Antônio permitiria que a garota tivesse alguma amizade.

            Observava o perfil firme, as linhas dos lábios cheios estavam contraídas.

             Ana apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto olhava para o próprio prato.

                A senhora Del La Cruz acariciou a face da menina com o polegar. Às vezes, sentia-se culpada pela herdeira ser tão reclusa, por não enfrentar o marido para defender a adolescente. Não gostava de pensar que Antônio sempre demonstrara desgosto por não ter tido um varão, viu a expressão de desgosto ao saber o sexo da criança que estava sendo gerada.

                – Por que não vai passear um pouco pelo clube? Quem sabe não encontra alguém para conversar. – Incentivou a matriarca olhando ao redor. – Francisca disse que a sobrinha estava aqui, seu pai não veria problemas de você fazer amizade com ela.

              A garota soltou um longo suspiro, encarando-a, parecia buscar algo em seu olhar, porém decidiu fazer o que ela tinha dito.

                 – Para onde ela vai? – O Del La Cruz questionou aborrecido em voz baixa em seu ouvido. – Daqui a pouco o barão chegará e desejo que ele a veja.

                Os olhos claros de Clarice estreitaram-se em irritação.

                   – Ana Valéria nem mesmo tem quinze anos e já pensa em casá-la com um velho pervertido que tem idade para ser seu bisavô.

              O senador bebeu um pouco de suco, enquanto tentava disfarçar o desagrado por ser respondido de forma ignorante. Não costumava dar explicações sobre suas ações, apenas agindo da forma mais conveniente aos seus anseios.

               – Está decidido, ela será a esposa do barão e você não vai se intrometer, preciso fazer bons negócios nessa vida.

                – Sua filha é apenas isso para você! – Falou estarrecida. – Um negócio.

               Antônio enviou-lhe um olhar de advertência e não continuaram a discussão.

 

 

 

 

                 A piscina estava cheia, mas a área de tênis não, ninguém parecia interessado em praticar o esporte. A rede estava armada e um senhor idoso estava limpando um pouco mais a frente. O sol parecia tímido por entre as nuvens. O cheiro da relva trazia aquela sensação campestre, mesmo estando dentro da cidade.

                Ana caminhou até lá, sentando-se no banco. Segurou a raquete e ficou observando como se nunca tivesse tocado no objeto. Queria estar em casa, gostaria de tocar seu violino, enquanto olhava para o céu, imaginando uma realidade totalmente diferente daquela. Sabia que não podia ter aqueles pensamentos, devia ser grata por tudo o que tinha em sua vida, era assim que o dirigente da igreja dizia, porém aquilo não era tão fácil, ainda mais quando ansiava por não viver presa, por poder se expressar sem receber as broncas do seu pai.

            Observou a pulseira que trazia no pulso. Tinha uma medalha com o nome “di Pace”. Fora um presente da sua avó, infelizmente ela morrera há dois meses e isso lhe doía muito, pois perdera seu apoio, sua protetora. Gostava de ir para sua casa, pois era o único momento que podia se comportar como alguém normal.

            Seu olhar centrou-se em uma pequena colônia de formigas. Achou interessante observá-las dividir uma folha e cada uma carregar um pedaço para que as outras não se cansassem.

                – Está tão entediada assim?

                 A garota levantou a cabeça assustada e viu Lorena.

                A moça que contava com quase dezoito anos fazia parte da área administrativa júnior da empresa do seu pai. Conheceu-a nas vezes que fora com a mãe na corporação. Havia algo naquele jovem que a intrigava e assustava, principalmente as sensações que provocavam em seu corpo, algo que nunca tinha acontecido antes.

            Viu-a dançando com outros funcionários, mas ao ser flagrada lhe olhando, evitou fazê-lo novamente.

                  Ana Valéria já ia se levantar, mas a outra a deteve pela mão.

                Os olhos azuis da herdeira de Antônio se estreitaram e ficaram mais escuros.

                – Não quer falar comigo?

                – Não quero! – Desvencilhou-se do toque, afastando-se. – Afaste-se de mim!

            A loira exibiu um sorriso travesso.

               – Mentira, eu sei quer, mas está com medo do seu pai… – Olhou para trás. – Ele está muito ocupado, não vai vir aqui… – Pegou a raquete. – Que tal me ensinar o seu esporte favorito? – Encarou-a.

            -- Não tenho vontade, então me deixe em paz!

– Não deve falar com esse tom de ordem, deveria pedir e não mandar quando deseja algo.

              A Del La Cruz olhou para os lados como se estivesse buscando uma pista de que realmente estavam sozinhas. Sabia que se Antônio a encontrasse falando com uma funcionária da empresa, haveria problemas. Ficou em silêncio por alguns segundos, parecia ponderar.

                Observou a moça de olhos verdes lhe encarando. Era tão bonita. Desde que a tinha visto pela primeira vez algo em seu interior pareceu balançar de forma que ainda não compreendia. Fora assombrada por sonhos pecaminosos e isso a assustara bastante.

                Cruzou os braços, empertigando-se.

                  Não posso jogar, preciso voltar para a festa… – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Estou indo ao vestiário, quer ir comigo? – Convidou corajosa. – Estou pedindo agora...

             Lorena fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Viu que pedir é muito melhor que mandar? – Provocou-a. – Porém seu tom ainda é imperativo.

            A adolescente acabou esboçando um sorriso.

            -- Alguns hábitos não mudam...

            Lorena assentiu, enquanto a observava.

               Sabia que a jovem estava interessada, sentia isso em seus gestos.

               Quem diria que a filha do poderoso Antônio tinha gostos nada ortodoxo. O homem seria capaz de matar para que isso não fosse divulgado. Ela era uma adolescente nada igual as outras que já conhecera.

               Caminhava ao lado dela e vez e outra a olhava de soslaio.

               Linda!

               Era muito bonita a menina, tão bonita que parecia ter sido esculpida pelas mãos de um artista.

               Os cabelos eram de um castanho bem claro que chegava a ser avermelhado. Os olhos não eram azuis, como imagina antes, eram mesclados entre o verde e a cor do céu. Os lábios eram cheios, principalmente o superior. A boca era grande, sensual. Era muito magra, isso era um ponto negativo, pois parecia só pele e osso, devia estar doente, pois antes não estava tão fina.

              Na empresa, todos falavam sobre a herdeira. Diziam que era muito inteligente, era quem fazia os desenhos da maioria das obras que o pai apresentava aos clientes, também diziam que era muito solitária, pois o patriarca a proibia até mesmo de ter amigos. Algumas bocas comentavam que ela estava prometida ao barão das indústrias de café. Um velho que já tinha enterrado quatro esposas.

                Chegaram ao vestiário e estava vazio.

Luxuoso como o resto do clube, espelhos decorados em pérolas adornavam todas as paredes. Carpetes vermelhos afundavam sob seus pés. O mármore em uma cor perolada era visto nas pias. Havia armários projetados em um canto que eram usados pelos visitantes para guardar seus pertences.

              Ana foi lavar as mãos e quando se voltou para a mulher, ela estava tão próxima de si que teve um sobressalto.

                – Eu tenho a impressão que você hipnotiza… – Lorena comentava, enquanto usava o indicador para tocar o lábio superior. – Eu daria tudo para sentir o sabor…Devem ser macios como a seda...

                A adolescente encarou os olhos verdes. A face ficou tão vermelha que parecia que todo o sangue do corpo tinha subido para seu rosto.

                – Meu pai seria capaz de te matar de ousasse tocar em mim…– Disse baixinho. – Então é melhor não alimentar essa vontade...

                – Morreria feliz…

                Antes que a filha do senador pudesse fazer algo, sentiu a boca encostar na sua. Ficou parada, os olhos fixos. Sentia o cheiro de hálito de menta, o corpo colado ao seu.

            Quantas vezes sonhara com isso?

              Eram tão suaves…

              Sentia-a se mover contra si e não conseguiu aguentar, logo beijava-a devagar, sentindo o sabor que sempre aspirou a sentir. Era a primeira vez que o fazia, a primeira vez que provava um beijo e foi como se todo o seu mundo não valesse nada diante daquele ato tão superior.

 

 

 

 

             Clarice olhava de um lado para o outro procurando a filha. Fazia quase uma hora que ela tinha seguido e sabia que Antônio a mandaria procurar a qualquer momento.

           Já pensava em se levantar quando a viu vir em sua direção.

              Suspirou em alívio.

            O barão de Bamberg já tinha chegado e parecia olhar como um predador a jovem que estava chegando.

             O senador levantou-se e segurou a filha pela mão, levando-a até o homem.

            -- Sua filha parece uma deusa, meu amigo! – O velho comentava. – Acho que se me pertencesse eu a colocaria em um vitral para que todos admirassem sua beleza.

               Ana via o olhar guloso, porém não parecia prestar muita atenção, seus pensamentos estavam presos em uma bela loira que aparecia do outro lado da mesa e se acomodava ao lado dos outros funcionários.

              Seu coração batia aceleradamente. Ainda tinha em seus lábios o toque delicado e ousado.

             Sempre que podia ir à empresa, ia apenas para ver de longe a mulher que lhe encantou, mesmo sem terem proximidades.

 

 

 

                Na semana seguinte, Clarice andava bastante atarefada, pois a herdeira completaria quinze anos e haveria uma grande festa. Sabia que isso tinha desagradado Ana Valéria, ela não gostava desse tipo de evento, porém tivera que ceder aos anseios do patriarca.

              Viu os decoradores aparecerem no salão trazendo amostras e alguns tecidos. Uma equipe enorme fora contratada para tornar aquele evento um dos mais importantes do ano.  Tornar-se-ia um comício para Antônio.

           Deixou os assuntos nas mãos dos contratados, seguiu pelo jardim que ficava por trás da mansão.

             A construção de três andares era usada pela família quando estavam na cidade, mas na maioria das vezes estavam na capital do país, na cobertura que ocupavam.

             Aquele lugar tinha sido presente dos pais de Clarice. Ocupava uma grande área daquela região. Muros altos circundava toda a propriedade, evitando que algum penetra invadisse o lugar. Havia um portão de ferro na frente e por lá os carros seguiam. Os jardins eram bastante cuidados. Havia árvores, flores que era cultivadas pela própria esposa do senador e pela filha que amava jardinagem. Vivia cultivando diversas, suas preferidas eram as rosas vermelhas.

              – Ana di Pace já se levantou? – Perguntou a uma das empregadas.

                  –Sim, levei o desjejum. Acho que ela vai até a universidade.

                   A senhora Del La Cruz fez um gesto afirmativo e depois seguiu as escadas.

               A herdeira de Antônio era uma jovem superdotada. Tinha acabado o colegial em tempo recorde e agora cursava engenharia em uma renomada faculdade. Também era musicista, aprendera tocar violino aos quatro anos e a melodia que tirava daquele instrumento lembrava as sinfonias tocadas pelos anjos.

            Bateu à porta e ao entrar, viu a garota já vestida. Estava sentada diante da escrivaninha, maquiava-se cuidadosamente, ficando ainda mais bonita.

            Nos últimos dias, a mãe tinha notado algumas mudanças na forma de se comportar da menina. Parecia mais feliz, agradável, empenhada em suas atividades diárias.

              – Pensei que não teria aula hoje… – A mulher falou ao se aproximar e beijar sua testa. – Preferiria que ficasse e me ajudasse a escolher o cardápio da sua festa. Sabe que há muita coisa para ser decidida.

               – Não me interessa isso, mamãe, nem entendo o motivo de insistirem. –Levantou-se e já guardava os livros na mochila. – Prefiro não me tornar manchete nessa vida pública do respeitado Antônio.

            Guardava os óculos no estojo dourado, parecia inquieta, irritada naquele momento.

             Era possível ver o desgosto na face da matriarca, porém não parecia comover a rebelde adolescente.

             – Não fale assim, filha, sabe que são seus quinze anos, temos que comemorar... Eu mesma estarei tão feliz, mesmo diante dos nossos problemas.

             Ana cruzou os braços.

             – E vamos ter também a amante do papai presente e o filhinho? – Questionou exasperada. – Meus avós morreram esse ano, nem vejo clima para festas aqui. – Passou a mão pelos cabelos. – Queria apenas ficar no meu canto, sem ter que mostrar uma falsa felicidade para um monte de gente que só gosta de fofocar.

               Clarice ficou corada diante da pergunta. Sabia que ela conhecia toda a história, descobrira pela mídia e ao ser confrontada, não negara. Sim, seus pais tinham partido há pouco tempo e isso ainda era triste, pois perdera as únicas pessoas que eram por si.

               – Ana…

              – Ela e o filho estavam presentes na festa dos funcionários, todos viram, mamãe… – Falava gesticulando com as mãos. – Foi humilhante, viramos notícias nas rodas de fofoca… Papai exigi comportamentos santificados, enquanto agi como um pecador.

                A jovem respirou fundo.

                Sabia que estava direcionando sua raiva a pessoa errada, porém não conseguia entender o motivo da mãe aceitar tudo aquilo e esboçar nenhuma reação.

              – Não somos obrigadas a aceitar tudo isso!

              – Já chega, Ana! – A mulher ordenou baixinho. – Não quero ouvir nada sobre isso!

               A esposa do senador sabia que era verdade. O filho da secretária do marido contava com quase dezessete anos e todos sabiam que era fruto dessa relação.

               – Não quero falar sobre isso nesse momento…

             A garota fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto soltava um longo suspiro.

                – Nem eu! – Beijou o rosto da mãe. – Tenho que encontrar um amigo para fazer um trabalho.

             – Os seguranças irão contigo.

            – Claro, mamãe, jamais pensaria o contrário, sou muito valiosa para o papai me deixar por aí sozinha… – Comentou em tom irônico.

    

 

 

             Trevan chegou ao pronto socorro com a filha adotiva nos braços. A menina de oito anos tinha se machucada ao tentar escalar um muro e cortara a lateral do lábio superior de forma a parti-lo.

              O sangue jorrado já tinha manchado a blusa branca do homem.

           Na recepção, todos ficaram horrorizados com a cena, pois por onde passava deixava a marca carmim.

              – Me ajudem, por favor. – Pedia aos gritos.

             Os curiosos aproximavam-se querendo ver o que tinha ocorrido. O lugar estava cheio, então era comum ouvir um mesclado de sons, desde choros de crianças a risadas de pessoas conversando.

            As cadeiras estavam cheias, não havia espaços, enquanto em um painel aparecia o número que seria atendido pelos médicos.

               A recepcionista estava lentamente em atendimento. Sua imagem era protegida por um espesso vidro verde, não parecia apressada em seu trabalho, vez e quando parava para conversar com a colega que estava ao seu lado, rindo e tecendo comentários sobre alguma série que acompanhava. Não parecia muito apressada em desempenhar sua função.

               A batida no balcão para chamar sua atenção não pareceu incomodá-la.

                – Eu preciso de um médico… – O homem implorava.

              – Senhor, todo mundo aqui precisa, acho que deve ter visto a fila que temos… – Retrucou a recepcionista.

             Foi só quando o desesperado pai espalmou a mão coberta de sangue no vidro que parecera chamar atenção da servidora pública.

            A multidão aproximou-se ainda mais curiosa e raivosa por terem seu lugar roubado na vez do atendimento.

              – Afastem-se! – Uma enfermeira baixa e com olhar firme dizia. – Venha por aqui, senhor.

             O interessante daquela cena era que a garotinha não estava aos prantos, gritando sua dor, apenas as lágrimas corriam da sua face e se mesclava com o líquido da vida.

              Os cabelos negros estavam colocados à sua face. Os olhos pareciam perdidos, desolados talvez.

              Os médicos aproximaram-se assustados com a cena que viam.

              – O que houve? – Um dos curas questionou.

                – Ela…ela estava escalando…e caiu… – Trevan falou ofegante. – Ajude-a, doutor, eu imploro…

             Os médicos trocaram olhares de preocupação e rapidamente seguiram com a criança.

 

 

 

              Ana Valéria estava encostada em uma das estantes da biblioteca da universidade, enquanto sentia os beijos de Lorena em seu pescoço.

            Não podia negar que desde que a conheceu sentia seu corpo em brasas pela jovem e depois que provara os beijos atrevidos, tudo se tornou ainda mais forte.

            Aquele era o único lugar que podia se encontrar com a namorada, pois não tinha permissão de sair e sempre tinha que avisar aos pais para onde estava indo.

              – Eu preciso ir… – A filha de Antônio disse se afastando. – Está tarde…papai está na cidade.

              – Não, amor, fique mais um pouco. – Segurou-lhe a mão. – Sinto sua falta…Sinto tanto sua falta...Não entendo por que não podemos falar nem no telefone.

            Ana já tinha explicado antes que tudo era vigiado pelos seguranças. Não havia nenhum tipo de privacidade em sua vida.

                – Eu também sinto, porém sabe que não posso demorar…

                 – Vamos até a minha casa, meu irmão vai viajar…

                 – Como poderia fazer isso? – Indagou perplexa. – Qual explicação daria aos seguranças?

                  – Podemos fugir daqui, fugir dos seus seguranças, vamos conseguir, tenho certeza de que vamos…e depois retorna para cá e ninguém vai ficar sabendo.

               Os olhos azulados brilhavam em ansiedade.

               O que ela mais desejava era ficar mais com a bela amada. Sem pressa, que pudesse conversar, sair juntas, irem ao cinema, porém tinha certeza de que seu pai seria capaz de matá-la se chegasse a descobrir que estava tendo aquele tipo de relacionamento. O Del La Cruz abominava esse tipo de relação entre iguais.

                – Essa semana vai ter a festa do meu aniversário… – Passou a mão nos cabelos. – Está uma correria…

              – Então vamos conseguir…todos vão estar muito ocupados… – Beijou-lhe os lábios. – Por favor, pelo menos vamos tentar…Promete para mim que vai tentar?

             Ana fez um gesto afirmativo com a cabeça.

             Abraçou a loira e permaneceu lá, apenas pensando uma forma para conseguir sair das vistas dos seguranças. Não poderia se arriscar tanto. O pai era uma figura pública e seria capaz de destruí-la se algo acontecesse.

Comentários

  1. Enfim, a espera acabou. Que saudade que eu estava de desfrutar das suas maravilhosas histórias, e felicíssima por te encontrar de novo! Bjs de Luz

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