A víbora do mar - Último capítulo
A
tenente seguiu para os aposentos, sentindo a alegria pulsar tão forte em seu
interior que temia explodir. Não acreditava que estava ao lado da mulher que
amava e que todas as coisas ruins tinham ficado para trás.
Observou
a cama, jogando-se de costas sobre ela. Ainda usava o biquíni, pois ainda nem
mesmo tomara banho.
Fitou
a tina, já estava com água, bastava colocar o sabonete.
Fitou
a aliança que brilhava em seu anelar esquerdo. Estava unida de corpo e alma com
a maravilhosa Samantha Lacassangner.
Fora
naquele quarto que ficara quando fora sequestrada do navio, fora ali que
queimara de desejo pela esposa, mesmo sem ter sido tocada realmente. Como
conseguira negar por tanto tempo o sentimento que chegava a vibrar em suas
veias? Quantas vezes quisera gritar a todos como estava enlouquecendo pela
pirata, como não conseguia nem mesmo respirar sem vontade de senti-la.
Agora,
continuaria a lutar e proteger a filha do Serpente, pois mesmo que as ameaças
tenham passado, ainda temia, principalmente a revolta do avô.
Prendeu
o fôlego ao se recordar dele.
Sir
Arthur não tivera nenhuma mudança em relação ao próprio sangue, continuava
rejeitando a filha de Iraçabeth, até mesmo alegando que era ela culpada de tudo
o que tinha ocorrido com sua preciosa família.
Sentia
um arrepio na nuca só em recordar de como o pai fora cruel…
Meneou
a cabeça como se quisesse espantar essas lembranças. Não queria que nada
destruísse aqueles dias maravilhosos e como estavam buscando construir uma
vida.
Teria
que pensar em como arrumaria um emprego. Agora que deixara a marinha, teria que
exercer sua profissão, estava entusiasmada para começar a trabalhar. Ainda não
tinha conversado com a Lacassangner sobre onde iriam morar, mas sabia que a
esposa gostava de viver na fazenda.
Poderia
pensar em abrir uma clínica, mas não gostaria de cobrar para ajudar aquelas
pessoas, sabia como muitos naquele lugar eram humildes e careciam de cuidados.
Podia falar com o prefeito, porém não gostaria de recorrer ao prestígio da
própria família, não depois de tudo o que se passou.
Fechou
os olhos, estava um pouco sonolenta, despertara cedinho para mergulhar e depois
ficaram passeando de jetski.
Sir
Arthur estava na sala de visitas e seu amigo, Ernesto, o olhava com olhar de
pesar.
–
Estive no casamento, a própria Mel me convidou e jamais faltaria, tenho um
carinho enorme pela filha da Marie.
–
E você veio aqui me falar sobre esse casamento? – Questionou de forma ríspida.
– Acha mesmo que me interesso por isso?
–
Deveria, afinal, é a sua neta, suas netas. – Repreendeu-o.
–
Essa maldita pirata não é minha neta! – Levantou-se colocando as mãos sobre a
mesa. – Foi por culpa dessa miserável que a minha família foi à desgraça. –
Apontou o dedo para si mesmo. – Meu nome foi jogado na lama, meu prestígio,
tudo isso por culpa dessa infeliz.
–
Ela é a filha da Iraçabeth, Arthur! – Insistia em desgosto. – Ela tem o seu
sangue.
–
Tem o sangue do maldito Otávio, aquele maldito que quis subir na vida iludindo
a tola da Beth.
–
Ele nunca quis nada seu, nunca, ele só queria o amor da sua filha.
O
almirante voltou a se sentar, parecia ponderar. Não suportava estar preso
naquelas paredes. Se estivesse fora, teria ido até a cerimônia e buscado
impedir aquela união.
–
Diga a Mel que venha aqui, quero lhe falar.
–
Está viajando, não sei quando retorna.
–
Quero que ela continue na marinha, ela é uma Santorini Del Santorra, precisa
prezar por nosso nome... Não pode simplesmente decidir deixar tudo por culpa
dessa mulher.
–
Acho impossível que isso aconteça… Até já falei sobre esse assunto, porém até
agora, ela deixou bem claro que não deseja voltar à marinha.
–
Tudo isso por culpa da maldita Lacassangner. – Esmurrou a mesa com raiva. – Por
que essa desgraçada não morreu? Eu deveria tê-la matado quando a encontrei.
Ernesto não negava como ouvir tudo aquilo era terrível,
ainda mais por saber como a filha do Serpente sofrera durante toda a vida.
–
Não acho que seja por isso, pois nós sabemos muito bem como a instituição que
defendemos com tanto vigor acabou por decair diante dos olhos da sua neta. Mesmo
que você e Fernando tenham tentado de todas as formas possíveis, vocês perderam
feio na manipulação da garota.
Sir
Arthur ficou em silêncio, parecia ter de certa forma sentido os golpes das
palavras duras que lhe eram dirigidas.
O
almirante sabia que perdera aquela batalha, tinha convicção de que perdera tudo
e sabia que a filha de Marie não o perdoaria tão facilmente, não, enquanto o
homem não aceitasse Samantha.
A
Lacassangner tinha terminado de fazer o almoço e achou estranho que a esposa
não tivesse ido até ali para saber o motivo da demora.
Deixou
a cozinha, seguindo para os aposentos.
Viu
a esposa deitada sobre a cama.
Exibiu
um sorriso.
Parecia
tão doce em seu sono.
Caminhou
até o leito, acomodando-se na beirada da cama.
Fitou-a
intensamente.
Era
tão linda.
Não
sabia se merecia tanta felicidade, se era digna de receber aquele prêmio do
universo, mesmo assim não deixaria jamais de ser grata por ter a desafiadora e
rebelde tenente como sua mulher.
Acariciou-lhe
a face, beijou-lhe de forma delicada e rápida os lábios, como um bater das asas
de uma borboleta, assim não a despertaria.
Seguiu
até a tina. A água já estava lá. Colocou os dedos para sentir a temperatura,
não estava fria, estava boa para um banho.
Cristina
estava deitada nos braços de Virgínia. Descansava depois de terem feito amor.
–
Acha que a Samantha e a Mel vão voltar logo? – A fisioterapeuta perguntava,
enquanto acariciava os cabelos da amada. – Estou com saudades de conversar com
a tenente cabeça dura.
A
agente apoiou-se no cotovelo e fitou a jovem.
–
Eu não sei, amor, porém acho que devem retornar logo, pois haverá a colheita.
–
Vamos ter festa na colheita? – Questionou entusiasmada. – Eu me lembro das
festas na fazenda da Mel, o avô e o pai sempre faziam comemorações e chamavam
quase toda a cidade… – Ficou calada ponderando. – Às vezes, eu não acredito que
o duque fez tanta maldade…
–
Ele foi muito cruel, principalmente com a filha…eu mesma fiquei horrorizada com
tudo o que descobri. Eu não sei se eu teria a força que a tenente teve para seguir
em frente com tudo isso.
Virgínia
posicionou-se sobre a mulher, olhando-a nos olhos.
–
O amor, querida, o amor faz milagres e se não fosse esse sentimento unindo as
duas, elas não teriam conseguido. – Segurou-lhe a face. – Esse é o mesmo amor
que eu sinto por ti…
–
Me ama tanto assim?
–
Muito mais…muito mais…
A
agente virou sobre ela, posicionando-a sob si, depois escondeu o rosto em seu
pescoço, em seguida a fitou e com voz grave disse:
–
Eu te amo…e quero passar a minha vida ao seu lado.
Mel
sentiu a respiração próxima e o cheiro delicioso que se depreendia do corpo da
esposa. Lentamente, abriu os olhos e viu Samantha a lhe observar.
A
jovem espreguiçou-se languidamente.
–
Acabei cochilando… – Falou com um sorriso. – Não me diga que o almoço já está
pronto? – Questionou sentando-se.
–
Sim, dorminhoca, estava esperando que acordasse para tomarmos banho.
A
ex-militar circundou o pescoço da mulher.
–
Então vai me fazer companhia?-- Perguntou com uma expressão travessa.
–
Sim, afinal, estou faminta e não vou esperar que termine para que eu tome
banho. – Desvencilhou-se dos braços, levantando-se, caminhou até a tina. – Se
você ficar aí, vai ficar sem comer e ainda vai ter que lavar os pratos. –
Livrou-se do biquíni.
Mel
a olhava com a mesma sede que a deixava cada vez mais sedenta, mesmo se bebesse
todo o líquido do mundo, aquela ânsia parecia não passar.
Levantou-se,
aproximando-se.
Observava
fascinada a pele bronzeada com as marquinhas deixadas pelo traje de banho.
Depositou a mão em seu quadril, acariciando-o.
–
Também estou faminta…
A
Lacassangner a fitava com olhar desconfiado.
–
Está?
Mel
fez um gesto de assentimento com a cabeça.
–
Sim… – Tocou os seios como se estivesse a massagear. – Estou com muita fome… –
Esboçou um sorriso. – Deixe que te mostre, amor, como meu corpo reclama sem
alimento…
Samantha
estreitou os olhos ao ver a Santorini segurar sua mão e delicadamente pousa-la
sobre o pequeno pedaço de pano que cobria seu sexo.
–
Eu não percebi ainda se está com fome…
–
Oh, como não?! – Indagou em uma exclamação perplexa. – É por que você não soube
descobrir ainda…
A
ousada herdeira do duque Dele Santorra segurou a mão da esposa e fê-la adentrar
em sua minúscula calcinha. Os olhos dourados seguiam encarando os azuis em um
desafio velado.
A
Lacassangner não parecia se amedrontar e lentamente dedilhava a pegajosa
umidade que se depreendia da sua carne.
Mel
semicerrou os olhos, franzindo o cenho, detendo-a.
–
Acho que já deu pra ver que estou com fome, então já podemos tomar banho. –
Disse com um sorriso tentando se afastar, mas foi detida e pressionada contra a
parede. – Pensei que tivéssemos que tomar banho para almoçar. – Falou com falso
ar inocente.
–
Talvez, a minha fome agora seja outra…e superior a sua…
Antes
que a tenente pudesse falar algo, seus lábios foram esmagados por outros ainda
mais macios e delicados.
Uma
semana depois…
Marina
tinha seguido para a capital, pois Mel e Samantha tinham seguido para lá depois
de retornar da lua de mel.
–
Ainda estão dormindo. – Eliah avisou ao chegar à cozinha e ver a babá
preparando o desjejum. – Mas acho que não vão demorar muito a despertar, a Sam
tem uma reunião mais tarde.
A
empregada montava a bandeja com frutas e terminava de preparar o suco.
–
Sabe, amigo, eu não vejo a hora de termos uma criança correndo por toda a casa.
– Arrumava as fatias de bolo. – Já pensou na festa que vai ser na fazenda?
O
pirata parecia ponderar diante da fala da mulher.
Marina
viu a expressão de preocupação e o fitou.
–
Não me diga que também criança não traz sorte? – Debochou.
Ele
fez um gesto negativo com a cabeça e só depois respondeu:
–
Eu fico pensando se a Samantha não tem o mesmo problema da mãe…Ela não podia
ter filho. Diziam que era um problema relacionada à família dos Santorini…
A babá respirou fundo, depois confidenciou:
–
Sim, é verdade…as mulheres do Sir não podiam trazer crianças ao mundo, pois não
tinham estrutura para isso sem que morressem… – Fez o sinal da cruz. – Algumas
pessoas diziam que fazia parte de uma maldição que fora jogada há muito tempo…
–
Maldição? – Questionou com um arquear de sobrancelha.
–
Sim…dizem que o tataravô de Arthur era um homem terrível e muito
cruel…Não tinha respeito por nada nem por ninguém…tomava para si o que
desejasse sem nunca se arrepender. – Interrompeu a pausa para beber um pouco de
água. – Então um dia ele se interessou pela filha de uma curandeira, a moça já
era comprometida e estava grávida, mas isso não o freou e tomou a jovem para si
violentamente…Com isso, ela perdeu o filho e acabou morrendo de tanta
tristeza…Então a mãe da menina rogou uma praga para a linhagem dos
Santorinis…
–
Será verdade isso? – Perguntou com ceticismo. – Não que eu duvide da maldade desse
homem, afinal, o próprio almirante é um monstro…
–
Eu ouvi essa história ser contada muitas vezes e ainda tem o fato das mulheres
da família morrerem ao dar à luz a um filho…
Mel
despertou e viu a esposa ainda dormir ao seu lado. Beijou-lhe a face devagar,
levantou-se e vestiu o robe.
Seguiu
pelas escadas e ao entrar na cozinha ouviu a conversa que se desenvolvia entre
Eliah e Marina.
Sentiu
um frio na espinha ao imaginar que toda aquela história fosse real e que
houvesse um perigo da esposa ter o mesmo destino de Iraçabeth.
Claro
que nunca tinham falado em ter filhos, mas acreditava que acabariam tendo, pois
via como a Lacassangner era gentil e sabia lidar com crianças. Recordava-se de
quando estivera na ilha e a viu muitas vezes se preocupar e cuidar dos pequenos
que lá estavam.
Aquilo
não podia ser verdade, não existia esse tipo de coisa, decerto eram crendices
que foram inventadas no decorrer dos anos.
Entrou
na cozinha e logo foi abraçada pela babá e por Eliah.
–
Começamos a pensar se ficariam fora por um ano inteiro. – A velha reclamou.
–
Ah, não foi tanto assim! – Piscou divertida. – Ora, ora, quanta comida? –
Aproximou-se da bandeja e bebeu um pouco de suco e comeu uma fatia de bolo. –
Que delícia! Estava com saudades da sua comida, não que a Samantha não cozinhe
muito bem, porém seu tempero é único.
–
Tô te achando mais magrinha, não sei se a pirata cuidou tão bem de você.
Mel
gargalhou, sentando-se na bancada.
–
Me tratou sim, muito bem… – Mordeu uma maçã. – Sabem se a Cristina está também
na capital junto com a Virgínia?
–
Ela disse que não sabia, pois tinha que trabalhar e havia pacientes marcados
para hoje.
A
tenente suspirou.
–
Espero conseguir um trabalho também o mais rápido possível…
–
Claro que vai conseguir, você é muito competente, filha, lembro como se saiu
bem na ilha.
–
Claro, menina, eu acho que conseguirá sim e em breve. – Eliah corroborou. – É
uma jovem muito dedicada, se eu tivesse um hospital lhe contrataria.
Marina riu.
A
Santorini esboçou um sorriso em agradecimento, mesmo assim seus temores
persistiam, ainda mais agora que tinha deixado a marinha e não sabia o que
fazer.
Samantha
tinha deixado o banheiro e já se arrumava para ir até a sede da empresa para
uma reunião.
Vestia
a calça preta de tecido fino, colada às pernas torneadas, camiseta preta e
jaqueta de couro vermelha.
Estava
diante do espelho arrumando os cabelos quando a porta abriu e viu a Santorini
aparecer trazendo uma bandeja.
Viu-a
deixar o desjejum sobre a cama e logo a tinha abraçada às suas costas.
–
Tem certeza de que precisa ir? – Indagou com a face encostada ao seu pescoço. –
Não sei se já estou pronta para acabar a lua de mel.
–
Mas não vai acabar nada, amor, apenas preciso voltar ao trabalho. – Acomodou-se
na poltrona e trouxe a jovem para se acomodar em seu colo. – Prometo que não
demoro muito…
A
tenente a fitou.
–
Preciso arrumar algo para fazer…vou morrer de tédio aqui…
–
Princesa, tem certeza de que não deseja mais ficar na marinha? – Segurou-lhe a
mão, beijando-a. – Eu não teria problemas se você continuasse…
–
Eu sei, Sam, porém, foi uma escolha minha, aquele lugar não representa mais as
minhas aspirações.
–
Talvez, a mudança poderá acontecer se você estiver lá.
A
Santorini mordiscava a lateral do lábio inferior, parecia ponderar.
–
Podemos comer, deixaremos essa conversa para depois. – Mel lhe beijou os
lábios. – Vem, não quero que saia sem comer. – Levantou-se e tomou-a pela mão.
A
filha de Fernando seguiu até a varanda do quarto e colocou a bandeja lá. Depois
ambas se acomodaram.
–
Tudo está muito bom. – Samantha comentou ao beber um pouco de suco. – Confesso
que estava faminta.
–
Também estava, amor, ontem não comi quase nada no avião.
–
Você ficou enjoada, acho que deveríamos ter optado por fazer uma conexão.
–
Eu só queria chegar o mais rápido possível em casa… – Comia uma fatia de
queijo. – E já sabe quando vamos para a fazenda?
–
Ainda não, preciso organizar algumas coisas por aqui. – Colocou um morango em
sua boca. – Está pensando em ir logo para lá?
–
Não, só estava pensando se a Cris vai vir até aqui ou ficará lá.
–
A Virgínia está na cidade, vai participar da reunião comigo hoje.
–
Não está precisando de uma secretária ou algo do tipo?
Samantha
riu.
–
Adoraria tê-la como minha secretária, mas não vou desperdiçar seu dom de cura
para ficar entediada ao meu lado.
–
Eu nunca ficaria entediada ao seu lado, minha dama. – Disse a lhe encarar. – Eu
vou ficar ansiosa para encontrá-la à noite.
–
Estarei a sua espera…
Ernesto
estacionou diante da cobertura. Não tinha avisado que iria, nem sabia se a
Santorini já tinha retornado da lua de mel, porém diante da insistência de
Arthur, acabara indo até lá.
Anunciou-se
na portaria e para sua surpresa fora informado que Mel estava em casa e que
poderia subir.
Talvez, não devesse ter ido até lá, mas diante da
insistência do amigo acabara cedendo.
Ao parar diante da porta, a própria filha de Fernando o
recebeu.
Mel sorriu.
Tinha acabado de tomar banho. Os cabelos ainda estavam
úmidos. Vestia uma calça e blusa de moletom.
-- Fiquei surpresa quando avisaram da sua visita. –
Apontou para a poltrona. – Deseja beber algo?
Ernesto fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Na verdade, vim aqui para falar sobre o seu avô.
A Santorini acomodou-se cruzando as pernas.
-- Sei que não deseja vê-lo, mas ele me pediu para falar
contigo...Ele está muito triste que tenha decidido deixar a marinha...também
não sou de acordo com isso, não vou mentir, acho que você deveria
repensar...—Hesitou por alguns segundos. – O fato de existir podridão em um
lugar não condena toda a instituição...há gente boa lá dentro, pessoas que
levam a sério o trabalho.
-- Sim, estou de acordo com as suas palavras, porém há
muito mais em jogo...
-- A Samantha te proibiria de retornar?
-- Claro que não! – Negou indignada. – Ela jamais faria
isso, até mesmo me questionou sobre eu retornar ao meu posto.
-- E então o que te impede?
Mel soltou um longo suspiro, levantando-se.
-- Serei bem honesta com o senhor. – Colocou as mãos na
cintura. – Sinto-me suja por todos os atos que meu pai e meu avô cometeram,
sinto que, de certa forma, compactuei para todas as coisas ruins que se
passaram com a Lacassangner. – Passou a mão pelos cabelos. –Talvez um dia essa
sensação saia de dentro de mim, mas ainda está aqui. – Apontou para o peito. –
Eu sei que não agi diretamente, mas eu contribuí para que tudo isso se
passasse...Eu fui tão desgraçada quanto o duque... – Completou em lágrimas.
O almirante levantou-se, abraçando a jovem.
-- Acalme-se, querida, você não tem culpa de nada o que
aconteceu.
A jovem sufocou um soluço, depois fitou o militar.
-- Eu fui embora por me sentir culpada...mas eu amo tanto
a Sam que não consegui me manter longe como deveria ter feito...
-- E ela te ama, tenha certeza disso. – Usou o polegar
para secar suas lágrimas. – Eu peço que pense. Irei tentar aumentar por mais
uns dias a sua licença, até lá, você saberá o melhor a fazer.
A herdeira de Fernando apenas fez um gesto afirmativo com
a cabeça.
-- Se não for abusar muito da sua paciência, gostaria que
pensasse também em fazer uma visita ao seu avô. Sei que é um homem de cabeça
dura, mas todos somos no final desse mesmo jeito.
A tenente fez um gesto afirmativo com a cabeça.
O almirante não se demorou por mais tempo, indo embora em
seguida.
Mel sentou-se pesadamente sobre o sofá. Parecia ponderar
sobre tudo o que tinha ocorrido.
Ouviu passos e viu Marina aproximar-se com uma bandeja
com sucos e bolos.
-- Pensei que o senhor Ernesto ainda estava aqui. – Disse
surpresa, entregando um copo de limonada a garota. – Está tudo bem, filha? –
Indagou ao ver os olhos vermelhos. – Aconteceu algo? – Indagou, sentando-se ao
lado dela.
A Santorini fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Não houve nada, babá, apenas fiquei pensando sobre
tudo o que aconteceu...
-- Mas não deve ficar assim, ainda mais agora que está
casada com a mulher que ama, deveria estar muito feliz.
-- Eu estou, estou muito feliz, feliz demasiadamente... –
Olhou tudo ao redor. – Acho que preciso de algo para fazer para ocupar a mente.
– Levantou-se. – Acho que a Samantha só vai retornar à noite.
-- Vai sair?
-- Sim, irei dar uma volta, mas não demorarei. –
Depositou um beijo na face da empregada. – Obrigada por estar sempre ao meu
lado.
Já era noite quando Samantha voltou à cobertura.
Mel tinha mandando mensagens mais cedo dizendo que estava
com a Cristina, então ficou surpresa ao entrar no quarto e encontrar a amada
secando os cabelos.
-- Pensei que não tinha chegado ainda. – A pirata disse
ao se posicionar por trás da jovem e lhe dar um beijo no pescoço. – Já estava
decepcionada por não encontrar a minha esposa.
A Santorini viu o sorriso travesse da mulher pelo reflexo
do espelho.
-- Vá tomar banho e se arrume, vou te levar para jantar.
-- Pensei que ficaríamos aqui aproveitando a noite... –
Acariciou-lhe os ombros. – Eu não tenho nada contra... – Piscou ousada.
-- Não, meu amor, dei folga para todo mundo, então vamos
comer fora.
A Lacassangner sentou na cama.
-- Não me diga que preciso me arrumar para isso. –
Deitou-se. – Não posso ir como estou?
Mel foi até a esposa.
-- Você só precisa tomar um banho, colocar uma camiseta e
um short. Vou te levar para comer pizza.
Samantha a puxou pelo braço, fazendo-a cair sobre si.
-- E por que não pede e comemos aqui?
A militar lhe deu um beijo rápido nos lábios.
-- Porque estou entediada de ficar aqui sem nada para
fazer.
-- Mas eu tenho uma lista enorme de coisas que você pode
fazer comigo bem aqui nessa cama...ou no carpete...no banheiro...na
piscina...na mesa da cozinha...
Mel gargalhou.
-- Não estou falando sobre isso, safada! – Levantou-se. –
Estou falando sobre ficar aqui sem fazer nada.
Samantha colocou as mãos por trás da nuca.
-- Meu amor, por que não rever a ideia de deixar a
marinha...eu sei o que você sente em relação a tudo o que aconteceu, mas não
acho que precise ser tão radical a ponto de abrir mão de algo que você gostava
de fazer.
A jovem suspirou.
-- Vá tomar banho, Sam, vamos sair comigo.
A empresária fez um gesto afirmativo com a cabeça,
levantando-se.
-- Mas a gente vai falar sobre isso, não acabou aqui.
A avenida principal do bairro central era bastante
movimentada. Havia vários restaurantes populares com as mais variadas comidas.
Havia pizzaria, comida oriental, sanduíches de vários tipos, sorveterias,
espetinhos e tantas outras delícias.
Mel e Samantha estavam ocupando uma mesinha sob uma
tenda.
A Santorini gargalhava de algo que fora dito pela esposa.
-- Vai me fazer engasgar, sua louca! – A militar dizia. –
Como fica falando essas coisas hein?
A pirata comeu mais uma fatia.
-- Você que fica rindo de tudo, não tenho nada a ver com
isso.
-- Ah, sim, e o que espera?
-- Que leve a sério o que te digo.
-- De onde você tira essas ideias, Sam? – Questionou
corada. – Agora eu entendo sua fama.
-- Minha fama?
-- Você quem acreditava em tudo o que diziam de mim...até
a história dos seios.
-- Mas você bem que gostou de ver os meus.
-- Claro que gostei, até hoje eu amo ver os seus seios,
não só ver, tocar, beijar e fazer muito mais coisa...
-- Para com isso, rum! – Bebeu um pouco de suco. – Vamos
falar sobre outros assuntos.
Samantha assentiu.
-- Me conte como está a Cristina.
-- Está bem, mas um pouco aborrecida pelo fato de
Virgínia ter que viajar.
-- Sim, eu imagino, mas não vai demorar muito...Eu mesma
terei que ir até a fazenda, preciso acompanhar de perto a chegada dos insumos.
-- Irei contigo, acho que não há problema quanto a isso,
porém preciso resolver alguns problemas...—Hesitou. – Vou ver o meu avô.
-- Que bom, amor, vá sim.
-- Não se incomoda com isso?
-- Claro que não, jamais me incomodaria.
Mel segurou a mão da esposa e a beijou.
-- Queria que fosse comigo até lá.
-- Meu bem, você sabe que Arthur jamais deseja me ver.
-- Ele é seu avô, é o pai da sua mãe.
Samantha suspirou.
-- Ele não tem nenhum interesse em ter algum tipo de
diálogo.
-- E você quer?
-- Não, amor, não acho que esse seja o momento certo
ainda, não me sinto pronta para ouvir nada do Santorini. – Umedeceu os lábios.
– Não fique triste comigo.
-- Não estou triste, eu te entendo e não posso te cobrar
que faça algo que não se sente bem para fazer.
Sir Arthur não conseguia dormir, girava de um lado para o
outro na estreita cama. Ernesto tinha ido até lá, falara que tinha falado com a
Mel e dissera como a jovem parecia abatida com tudo o que tinha acontecido.
Sabia que tudo o que tinha se passado fora terrível,
ainda mais com todas os crimes que cometera junto com Fernando.
Arrependia-se não pelo Víbora do mar, mas por a tenente.
Ela não merecia nada do que se passou.
Sentou-se.
Esperava que ela viesse lhe visitar, que buscassem se
entender depois de todo ocorrido. Não iria mais falar sobre a víbora, tentaria
não aborrecer a neta, pois o que mais desejava era tê-la ao seu lado depois de
tudo o que tinha se passado.
A chuva caia forte. Era possível ouvir trovões explodindo
quando tocando a atmosfera. Um vento balançava as cortinas da varanda.
Samantha sentia os lábios da esposa em seu abdômen.
Apoiou-se nos cotovelos para fita-la. O quarto estava mergulhado na penumbra,
mesmo assim era possível ver a expressão de poder no rosto feminino.
-- Você gosta, pirata?
A voz rouca indagou ao mirá-la.
-- Sim, eu amo quando me toca...ain...—Mordeu a lateral
do lábio inferior. – Está me enlouquecendo... – Suspirou ao sentir os dedos
longos lhe massagearem as coxas, passando pela virilha. – Mel... – Chamou-a
baixinho.
-- Relaxe... deixe que lhe faça o que desejo... – Passou
a língua no umbigo. – Eu amo o seu cheiro quando fica excitada... – Usou as
costas da mão em seu sexo. – Está tão molhadinha...
A Lacassagner continuou a observá-la.
Amava-a com todo seu coração e a desejava com a mesma
intensidade.
Sentia os beijos se tornando mais intenso. Gemeu ao
sentir os dentes morder de leve suas coxas.
Abriu-se mais, pois esperava ansiosa pela carícia íntima
que não tardou a acontecer.
Inclinou o quadril para que ela tivesse maior acesso.
Mel dava beijos em todo o sexo, mas não se demorava,
sabendo que isso estava torturando a amada.
Esboçou um sorriso travesso e em seguida usou o polegar
para iniciar os movimentos sensuais. Agora foi mais ousada. Passou a língua,
usando a pontinha para incitar mais o ponto mais sensível do corpo da esposa.
Sabia o que ela queria e não daria nada menos que tudo o que recebera alguns
minutos antes quando fora levada ao topo do prazer por Samantha.
Ouvia-a balbuciar frases desconexas e dentro de todas ela
havia sua declaração de amor mesclada à rogação para que continuasse e não
parasse. Obedeceu-a como uma boa apaixonada, dando até mais do que era pedido,
entregando muito mais do que se exigia.
Devagar, afundou-se em sua carne, mas não o fez com
pressa, fê-lo com calma, depois sentiu-se engolida pela pressa da mulher que
tinha nos braços.
A empresária pedia mais e mais.
Levou a mão aos lábios para morder, pois tinha a
impressão que estava gemendo tão alto que toda a cobertura escutaria.
Mel aumentou a velocidade do toque, tomando-a mais forte,
sentindo-a vibrar, tremer...sim o sexo delicado tremia, parecia no ponto para
explodir em satisfação.
Sabendo que se aproximava o momento, sentou-se sobre o
seu centro de prazer, rebolava, encaixando perfeitamente seus corpos femininos.
Não demorou para a satisfação derruba-la nos braços da amada, colando seus
lábios em um apaixonado beijo.
Passava das duas da tarde.
Sir Arthur estava no pátio quando recebeu o aviso sobre a
visita da neta.
Eufórico, seguiu até a sala de visitas. Estava feliz por
seu advogado ter conseguido a autorização especial, pois tinha quase certeza de
que a filha de Fernando viria.
Viu-a lá de pé. Estava ainda mais linda.
Abraçou-a forte.
Mel permaneceu durante alguns segundos parada, parecia
confusa sem saber o que fazer, porém depois o apertou também e depois de alguns
segundos separaram-se.
-- Estou tão feliz por ter vindo, filha. – Disse
sorrindo. – Sente-se, temos algum tempo para conversarmos.
A jovem fez o que fora dito.
-- Quando Ernesto me disse que tinha chegado pedi que
fosse até lá.
-- Sim, vovô, eu estava viajando...
-- Sim, eu sei, fiquei sabendo do seu casamento e para
não te aborrecer não vou falar nada, mas já sabe a opinião que tenho sobre tudo
isso.
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça. Não iria discutir
sobre esse assunto, pois sabia que não adiantava naquele momento.
-- E o que o senhor deseja me falar?
Ele lhe segurou as mãos sobre a mesa.
-- Que reconsidere sua decisão de deixar a marinha.
-- Ainda não sei, preciso pensar bem sobre o que farei,
ainda mais que agora estou casada e não desejo ficar longe da Samantha.
-- Pode trabalhar no hospital, é uma médica, antes quando
foi punida te deixaram lá, tenho certeza de que não te negariam isso, ainda
mais sabendo de quem é filha e neta.
Mel desvencilhou-se do toque.
-- E de quem eu sou filha? De um assassino da própria
esposa? E de quem sou neta? Do homem que desprezou a própria filha e perseguiu
a neta usando o poder que tinha na marinha real?
-- Independente de tudo isso, meu sobrenome ainda tem
muito poder e ser filha de um duque
também.
-- Eu não quero nenhum privilégio desses sobrenomes,
prefiro conseguir meus objetivos por meus próprios esforços.
-- Está com essas ideias por causa da Víbora. – Disse
irritado.
-- A Samantha não tem nada a ver com isso, vovô, e
prefiro que não volte a insinuar isso, pois ela nem mesmo fala no seu nome. –
Levantou-se. – Venho aqui e penso que suas atitudes irão mudar, mas vejo que
continua tudo do mesmo jeito.
-- Sente-se, Mel, quero conversar contigo, não desejo
brigar.
-- Se não deseja, então não fale mais sobre de forma
depreciativa sobre a Sam, eu a amo e não aceitarei que fale mal dela.
--
Está certo! – Apontou a cadeira. – Sente-se, quero que me conte como está tudo
lá fora. A Marina está bem? E sua gatinha?
As semanas passavam tranquilas. Não havia nenhuma ameaça
na vida das recém-casadas.
Mel tinha sido convidada pelo médico que trabalhara
auxiliando na marinha para lhe ajudar em sua clínica. Ele precisava se ausentar
durante alguns meses e deixara a Santorini responsável por seus pacientes. Ela
ficara bastante entusiasmada com a ideia, pois havia algo para se ocupar
enquanto a esposa cuidava dos negócios. Samantha dividia-se entre a fazenda e a
capital, pois não podia deixar Virgínia sendo responsável por tudo, sem falar
que a sócia tinha viajado para o exterior.
Naquele momento, a Lacassangner estava em seu escritório
na cidade quando a secretária lhe anunciara a presença da filha de um dos
investidores. Recordou-se de que o homem tinha dito que enviaria alguns
portfolios das suas plantações.
A porta abriu-se e a mulher entrou.
Alta, ruiva e de brilhantes olhos verdes. Parecia gastar
bastante tempo em academias, pois suas formas eram bem definidas, mesmo por
baixo das roupas sociais.
Samantha estendeu a mão em cumprimento.
-- Senhora Lacassagner, é um prazer conhece-la.
-- O prazer é meu, senhorita Lucaksi.
-- Pode me chamar de Bianca, toda essa formalidade me faz
lembrar meus trinta e poucos anos.
A empresária sorriu e apontou a cadeira para que ela se
acomodasse, acomodando-se também em sua cadeira.
-- Meu pai está encantado com sua inteligência, nunca o
vi tão entusiasmada, ainda mais depois que ficou doente, então primeiramente
quero lhe agradecer, pois não só eu, mas toda a minha família temíamos que ele
entrasse em depressão.
-- Tenho a mesma admiração por seu pai. – A outra
respondeu com um sorriso.
-- Ele me disse como foi atenciosa e esperou por todos,
mesmo sendo o dia do seu casamento e precisando correr para o lugar da cerimônia.
Espero que não tenha tido problemas com sua noiva...
-- Não houve, tudo deu certo e eu cheguei a tempo.
Bianca esboçou um sorriso misterioso ao fitar a aliança
que descansava no anelar esquerdo.
-- Bem, eu não quero tomar muito seu tempo, sei que é uma
mulher muito ocupada. – Abriu a bolsa e lhe entregou um envelope. – Aqui está o
que meu pai pediu para que entregasse em suas mãos.
-- Agradeço a gentileza dele. – Disse aceitando o
embrulho. – Ao telefone ele também me pediu para que a leve para conhecer a
plantação.
-- Sim, ele me pediu para ir até a usina, já que quando
ele esteve aqui não teve tempo para fazê-lo.
Samantha fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Amanhã às dez horas podemos ir até lá, pedirei que o
motorista a pegue em seu hotel e nos encontraremos no hangar.
Bianca levantou-se e a esposa de Mel fez o mesmo.
-- Então nos veremos amanhã. – Samantha lhe estendeu a
mão.
-- Esperarei ansiosa por isso.
Mel estava deitada no sofá com a Sorte em seus braços.
Fazia carinhos na gatinha, enquanto trocava mensagens por um aplicativo com
Cristina. A TV estava ligada e passava um filme de faroeste, mas a médica não
parecia prestar muita atenção.
-- A Samantha ligou e disse que já está chegando, filha.
– Marina avisou ao entrar na sala. – Acho que essa gatinha está tendo uma vida
muito boa, toda folgada em seu colo. – Sentou-se. – Você chegou um pouco
calada, algo a incomoda?
-- Não, babá, acho que estou ovulando, um pouco
irritada...
A velha senhora riu.
-- E já pensou sobre a marinha?
-- Pensei sim, não vou voltar, esses dias trabalhando no
hospital me mostraram que há vida fora de tudo isso.
-- Isso é verdade...
-- Estou decidida, não quero mais isso, ainda mais que
mesmo depois de tudo o que se passou, ainda tenho o prestígio de fazer
escolhas...fosse outro qualquer, não teriam dado todo esse tempo para pensar...
– Esboçou um sorriso. – O doutor Augustus me convidou para assumir a vaga de um
médico que está se aposentando e eu aceitei. – Soltou um longo suspiro. – Pela
primeira vez em minha vida, eu sinto que estou fazendo algo por minha própria
vontade sem ter que ser manipulada por ninguém.
Ouviram passos e lá estava a Lacassangner.
-- Ora, ora que recepção boa! – Cumprimentou Marina com
um beijo na testa, a esposa com um beijo rápido nos lábios e a gatinha. –
sexta-feira e todo mundo feliz. – Acomodou-se no sofá, colocando as pernas da
amada sobre o colo. – E onde está o Eliah?
-- Está fazendo o jantar, disse que ia prepara uma comida
oriental. – Marina disse levantando-se. – Vou lá ver se ele precisa de ajuda. –
Fitou Mel. – Vou fazer um chazinho para ti, menina.
A empregada deixou a sala.
-- Está doente, amor? – Questionou massageando os pés da Santorini.
-- Estou menstruada e de TPM.
Samantha pegou o controle e mudou de canal para desenho
animado.
-- Por isso andava tão chatiadinha esses dias. – Mordeu
do dedão do pé da amada. – Eu estava vendo a hora ser jogada para dormir no
chão.
-- Que drama, Sam! – Repreendeu-a. – Só porque não gostei
de você ter viajado até a fazenda com a tal da Bianca.
-- Eu estava trabalhando e não tenho olhos para outra
mulher que não seja você. – Levantou-se e foi até a pasta, abrindo-a, tirou
algo de dentro. – Trouxe um chocolate...
Mel tirou Sorte do colo, colocando-a na poltrona, em seguida
abraçou a esposa pelo pescoço, beijando-lhe os lábios demoradamente.
-- Eu te amo e me desculpe se estou chata.
-- Está tão fofa nesse moletom rosa, tá parecendo um
ursinho. – Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Vou tomar um banho e volte para
ficar contigo. Pode escolher o filme.
A jovem assentiu, mas não fez o que a esposa disse.
Seguiu até a varanda.
O dia fora todo chuvoso, estavam no inverno e era comum
naquela época do ano o clima ficar frio.
Não havia movimentos intensos na rua, mesmo sendo apenas
sete horas. Parecia que as pessoas tinham decididos ficar em casa naquele dia.
Apesar dos hormônios enlouquecidos, sentia-se muito feliz por ter a esposa ao
seu lado e também não pode negar que sentiu ciúmes. Confiava na amada, porém
sempre pensava se a esposa não se cansaria de si ou acabaria recordando tudo de
ruim que tinha ocorrido...
Mordiscou a lateral do lábio inferior pensativa.
Voltou para a sala e viu que Sorte continuava a dormir.
Ouviu passos e viu Eliah sempre com sua simpatia trazendo
um balde com uma garrafa de vinho.
-- Não sabia se a Samantha iria quere vinho, mas como fiz
comida oriental e ela sempre gosta desse acompanhamento, decidi trazer.
-- Hun... E esse vinho foi de onde?
-- Veio como presente de um dos sócios.
Mel aproximou-se e viu o rótulo. Bem envelhecido.
-- Traga outra taça para mim, acho que tomarei um pouco.
-- Mas a Marina disse que a senhora não estava bem e que
faria um chá.
-- Tomarei quando for dormir, agora vou comer um pouco e
provar essa delícia.
O velho fez um gesto de assentimento e deixou a sala.
A Santorini encheu o copo da esposa, sentiu o aroma
delicado e depois provou um pouco.
Sorriu ao sentir o delicioso sabor.
Pegou o controle da TV e buscou o filme, demorou um pouco
a escolher o título. Era um programa que sempre fazia com a esposa, assistir a
algum filme, fosse em casa ou no cinema.
Depois de alguns minutos viu um interessante.
Eliah voltou trazendo os aperitivos que tinha preparado.
Sorte já acordou ao sentir o aroma.
-- Não, senhorita! – O pirata a pegou. – Vou leva-la para
comer a ração, não pode comer nada fora da dieta, está muito gordinha.
Mel riu vendo o homem seguir com o felino, repreendendo-o
por sua gula.
Samantha chegou usando um roupão atoalhado. Os cabelos
estavam soltos e úmidos, estava com os pés descalços.
-- Que cheiro bom! – Pegou umas das peças bem montadas de
Eliah.
-- Perfeito! – Exclamou pausadamente fechando os olhos. –
Tem coisa melhor?
-- Você sempre diz a mesma coisa...—Foi até a esposa,
abraçando-a. – Por isso que te amo tanto por sempre ser essa mulher
maravilhosa...
-- E você está com um sabor diferente. – Beijou-a
delicadamente.
A Santorini colocou as mãos em sua cintura, enquanto a
sentia lhe capturar a língua, chupando-a com cuidado, de forma a lhe deixar
mais desejosa.
-- É uma maldade me beijar desse jeito...
Samantha acariciou-lhe a face.
-- Eu amo te beijar...Amo seus lábios...
-- Eu também amo... – Passou o indicador nos lábios
desenhados. – Vamos ver ao filme?
-- Vamos sim! – Seguiram para o sofá, enquanto a
Lacassagner bebericava, assistiam.
Mel deitou a cabeça em seu colo e logo sentia os carinhos
em seus cabelos.
-- E a como está a plantação? – A Santorini indagou. – No
próximo final de semana quero ir até a fazenda.
-- Está iniciando. – Comeu um dos aperitivos. – Tudo já
está sendo preparado. – Beijou-lhe a testa. – E como está o trabalho no
hospital?
-- Está muito bem e o diretor me convidou para assumir a
vaga do médico que vai se aposentar em breve. – Falou com entusiasmo. – O que
você acha?
-- Meu amor, você sabe que te apoio em tudo e se isso te
fizer feliz, saiba que estarei muito feliz também. – Segurou-lhe a mão. – Tem
certeza de que não deseja retornar à marinha?
Os olhos dourados fitaram os azuis que pareciam um
oceano.
Amava tanto aquela mulher que chegava a pensar que não
merecia toda aquela felicidade em sua vida.
-- Eu sei e amo isso em ti, mas realmente essa é a minha
decisão, não quero mais continuar na marinha, amanhã mesmo irei até lá e
comunicarei minha decisão a todos.
Samantha esboçou um sorriso.
-- Então, irei contigo, te acompanharei, quero estar ao
seu lado nesse momento.
-- Pensei que minha esposa fosse uma empresária muito
ocupada que não tinha tempo para isso... – Piscou ousada.
-- Sim, mas eu sou, sou uma empresária cheia de prestígio
e muito importante... – Fez uma careta. – E antes eu era apenas uma pirata...
-- Eu gosto da pirata... – Disse mordiscando o lábio
inferior. – Principalmente na cama...
Mel levantou-se, sentando-se montada nos quadris da
esposa, de frente.
-- Que maldade...
A Santorini colou os lábios na orelha da Lacassangner:
-- Sou louca por você, minha senhora...
Samantha depositou beijos na face da amada, em seguida
capturou os lábios da militar, aprofundando a carícia, enquanto deslizava as
mãos por baixo da blusa que a jovem usava e tocava os seios redondos.
A filha do duque gemeu contra os lábios cheios, detendo
os movimentos.
--
Estão doloridos...
--
Então é melhor voltarmos para o nosso filme ou...
Mel
encostou a cabeça no pescoço dela.
--
Quero ficar aqui no seu colo...mas eu estou ouvindo o filme.
A
filha do Serpente sorriu, permanecendo no mesmo lugar, enquanto a cariciava as
costas da mulher. Não demorou para ouvir a respiração da tenente ficar mais
leve e logo a ouvia ressonar baixinho.
Um
mês depois...
Mel
estava em seu consultório e cuidava de uma criança que estava com sintomas
gripais. Depois de solicitar alguns exames, liberou a mãe e o filho.
Digitava
no computador um relatório quando a secretária foi até ela:
--
Sua amiga Cristina está aqui.
--
Cristina? – Questionou curiosa.
Era
estranho receber a visita da amiga, sempre falava com ela e não falara nada
sobre ir à cidade.
--
Tem mais algum paciente?
--
Não, senhora, só depois do almoço.
A
jovem fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Então peça que ela entre. – Pediu simpática.
Alguns
minutos passaram-se quando a fisioterapeuta entrou. A expressão dela não era a
que sempre costumava exibir, parecia preocupada.
--
Tudo bem? – A Santorini foi logo perguntando.
Cristina
acomodou-se pesadamente na cadeira.
--
Não, aconteceu algo...
--
O que houve? – Indagou preocupada.
--
Lembra a minha ex?
Mel
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Ela me mandou mensagens esses dias dizendo que estava voltando ao país...
--
E você não está dando trégua para essa mulher depois de tudo o que houve...
--
Claro que não! – Negou enfaticamente. – Mas a Virgínia viu as mensagens... –
Suspirou. – Eu não tinha falado nada de mais, porém minha ex estava dando em
cima de mim...eu deveria ter cortado as investidas...
--
E você não o fez...
--
Não e a Vi viu, ficou brava comigo, está aqui na capital, não atende meus
telefones, nem responde as minhas mensagens. – Cobriu o rosto com as mãos. –
Mas eu juro que não falei nada.
--
Mas também não cortou... – Passou a mão pelos cabelos. – Cris, isso é como se
você tivesse gostando, então sua namorada tem toda razão em ficar irritada
contigo... – Meneou a cabeça. – E o que você pensa em fazer?
--
Eu preciso que me ajude. – Deu a volta na mesa e foi até a amiga. – Converse
com ela, explique que não fiz nada de errado.
Mel
mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto ponderava.
--
Pedirei a Samantha para convidar a Virgínia para jantar lá em casa hoje...vou
ligar para saber se ela já voltou da fazenda, se tiver retornado pedirei para
levar sua namorada até lá e você também vai, assim poderão conversar.
Cristina
abraçou a amiga.
--
Obrigada, eu sabia que poderia contar contigo. – Voltou a ocupar a cadeira. –
Eu amo a Vi, eu juro, mas não posso negar que amei ver a outra se humilhar
depois de ter me perdido, mas eu jamais teria algo, não mesmo.
--
Eu acho melhor que não continue com isso, não esqueça que a Virgínia sofreu
bastante na relação que teve com a loira oferecida, então ela deve ser
traumatizada.
--
Sim, eu sei, e o que mais de dói é saber que fui responsável por fazê-la
sofrer...ela não merece.
--
Vai se resolver, hoje vai poder conversar com ela e se livrar desse mal
entendido.
Cristina
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Então me avise se conseguir e irei à sua casa.
--
E onde você está?
--
No apartamento.
--
Naquela bagunça? – Levantou-se. – Vá para a minha casa e aproveite para
organizar o jantar.
--
Está bem, vou agora mesmo. – Deu um beijo na bochecha da amiga. – Obrigada.
A
Santorini viu a jovem sair e continuou lá, seguindo para a poltrona.
Tinha
enviado mensagem para a esposa mais cedo, então pegou o aparelho móvel para vez
se já tinha alguma resposta.
Não havia visualizado ainda e o telefone dava fora de
área. Decerto, ainda estava na estrada.
No dia seguinte, teria que visitar o avô, seria seu
aniversário.
Suspirou.
Passava das três quando o carro de Samantha chegou à
penitenciária militar onde Sir Arthur estava preso. Fora procurado por seu
advogado que dissera que o homem tinha algo importante para lhe dizer.
Ainda tinha pensando em não ir até lá, porém ficara
preocupada, imaginando se seria algo relacionado à esposa.
Permaneceu alguns minutos dentro do veículo, então viu as
mensagens de Mel. Preferiu não a responder ainda, pois se lhe perguntasse onde
estava, não desejava mentir.
Olhava para os grandes muros e por alguns segundos,
recordou-se de quando esteve trancafiada naquele lugar frio e como se negara
várias vezes em deixar as masmorras daquela prisão.
Sentira-se culpada por tanto tempo pela morte da esposa
que perdera todo o sentido da vida até que seus olhos cruzaram-se com os da
filha do duque.
Decidida, saiu do carro e caminhou até a entrada. Passara
por uma simples revista, não pareciam tão meticulosos quanto em uma
penitenciária que acolhia civis.
Seguiram por um longo corredor, passando direto para o
espaço reservado a visitas. Antes de entrar, viu o advogado que tinha ido falar
consigo mais cedo, ele estava lá porque tivera que conseguir uma permissão para
ela vê o almirante.
Arthur estava lá e ao levantar a cabeça viu a mulher o
fitar.
Sua maldição fora ter estampado na face da pirata a cara
de Iraçabeth.
Recordava-se de quando estivera no navio pirata, no dia
que a criança tinha nascido. Pensara em leva-la consigo, mas não para cria-la,
teria entregado para alguém que a mantivesse longe por toda a vida, mas fora
emboscado e o maldito Serpente fugira com a menina.
Observou-a.
Era linda, a beleza que voltará para amaldiçoar e
destruir sua vida.
-- Sente-se, pirata! – O Santorini apontou a cadeira que
ficava do outro lado da mesa. – Não irei lhe fazer nada. – Mostrou as mãos
algemadas.
A empresária acomodou-se.
-- Acredite, almirante, nunca o temi.
-- Você é tão arrogante quanto o seu pai...orgulhosa... –
Esboçou um sorriso amargo. – Nessa lugar há muito tempo para se pensar no que
se fez, sabe...às vezes eu penso que deveria ter ficado contigo...você teria
sido criada junto com a Mel e jamais teria se enamorado por ela.
A morena cruzou as pernas de forma elegante.
-- São conjecturas que não tem importância, afinal, o
tempo não volta, então acho melhor que o senhor concentre seus pensamentos no
presente e quem sabe em um futuro.
Arthur apoiou as mãos presas na mesa.
-- Você deve se sentir realizada, afinal, saiu vencedora
dessa história e ainda levou o que eu tinha de mais valioso.
-- Vencedora? – A jovem indagou por entre os dentes. – Eu
preciso narrar tudo o que foi feito contra mim nessa história toda? – Eu ainda
sinto o ferro que me marcou quando eu era uma criança...ainda sinto as
chicotadas que o senhor ordenou aos seus capangas...ainda sinto a dor de ter
acordado e encontrado a minha esposa morta...ela não tinha nada a ver com tudo
isso e foi vítima de vocês.
O militar via os olhos claros brilharem. A expressão
dura, o olhar inflexível.
-- Não tive nada a ver com o que se passou com a sheika,
e quando descobri fui totalmente contra, pois sabia que enquanto estivesse com
aquela mulher não haveria problemas contigo. – Respirou fundo. – O Fernando era
obcecado por você, louco, tão louco que se tivesse sobrevivido não teria
permitido jamais que a própria filha tivesse o que ele mais ansiava para ter.
Samantha levantou-se.
-- Me chamou aqui para ouvir tudo isso? Não ficarei aqui,
não me interessa nada que me diga.
-- Sente-se que eu ainda não acabei. – Ordenou.
-- Eu sinto muito, sir, mas o senhor não me manda.
Ele apontou novamente a cadeira e usou um tom mais
brando.
-- Acomode-se, preciso lhe falar.
A Lacassagner o fitou por longos segundos em uma batalha
silenciosa e depois fez o que fora dito.
-- A Mel sempre vem aqui, ela não me abandonou como deve
ter sido o seu desejo...fiquei muito triste por ela ter abandonado o sonho de
continuar na marinha...eu tenho quase certeza de que você a influenciou, porém
nada poderei fazer sobre isso, afinal, você venceu.
A mulher não respondeu, permanecia em silêncio. Sabia que
não adiantava falar nada, ele jamais acreditaria em si.
-- A Beth lutara contra mim para te trazer ao mundo,
mesmo quando sabia que se fizesse isso, morreria...eu perdi a minha filha por
sua culpa, Samantha, eu a perdi, então como pode imaginar que terei algum
sentimento por ti?
Os olhos azuis brilhavam em lágrimas.
-- Sim, almirante, houve um tempo sabe que eu pensei que
teria o meu avô...eu lembro que vivia na ilha com o Eliah e eu ficava lá
olhando para o mar e imaginando que o famoso Sir Arthur viria me buscar e nós
poderíamos ter uma vida legal juntos...que ele me contaria histórias e me
falaria sobre a minha mãe... – Limpou os olhos com as costas da mão. – Eu
sonhava que ele me falaria sobre como fora a infância dela, de que gostava, que
mostraria o álbum de fotografia e me consolaria quando eu estivesse com medo. –
Levantou-se. – Mas isso tudo mudou no dia que me sequestrara, de quando me
marcara para o resto da minha vida, de como me chamara da Víbora do mar... –
Apontou-lhe o dedo. – Foi o senhor que me criou, foi o senhor que me fez assim.
– Seguia para a porta.
-- Vai morrer igual a sua mãe quando tiver um filho...
A frase sombria dita pelo militar a fez se voltar.
-- Sim, pirata, vai ter o mesmo fim que ela e que minha
esposa, então tudo o que fez até aqui nada vai valer, vai morrer e deixar a
Mel.
-- E imagino que se isso acontecer vai ficar muito feliz
não?
-- Por você sim, afinal, eu me livraria da sua presença
nesse mundo de uma vez por todas, porém tem a minha querida neta, acho que ela
não merece mais dor...
A morena cruzou os braços e caminhou até ele:
-- Então o objetivo da minha visita é para me dizer que
não devo engravidar... – Desdenhou.
-- Estou lhe fazendo um favor...sem falar que esse mundo
não merece o sangue podre do seu pai multiplicado.
Samantha estreitou os olhos, mas nada falou, deixando o
cômodo sem mais uma palavra.
O jantar tinha sido servido na cobertura, mas Samantha
não comparecera. Tinha ligado para avisar que teria um encontro de negócios.
Mel estava na varanda com Virgínia e Cristina.
-- Acho que vocês devam conversar, afinal, há um mal
entendido em tudo isso e ficar com essa guerra fria não vai ajudar nenhuma das
duas. – A médica dizia. – Cris errou, mas você também o fez por não permitir
que ela se explicasse.
O casal não falou nada, apenas comiam em silêncio,
enquanto ouviam o sermão da Santorini.
-- Bem, eu vou para o meu quarto, já pedi para a Marina
arrumar um quarto para as duas ou podem continuar com essa briguinha boba e
perderem tempo. – Bebeu o resto do vinho. – Boa noite.
Depois que anfitriã saiu, o silêncio persistia até a
fisioterapeuta falar:
-- Eu só queria que soubesse que em nenhum momento pensei
em ter algo com a minha ex. – Suspirou. – Apenas quis sentir o gostinho da
vingança...eu queria vê-la se humilhar depois de tudo que tinha me feito, mas
eu juro que nunca pensei em reatar. – Levantou-se e ajoelhou-se diante da
namorada, segurando-lhe a mão. – Me perdoe por ter te magoado e feito reviver
más lembranças...
Virgínia fitou a mulher, parecia ponderar, depois falou:
-- Fiquei com medo...medo de embarcar no mundo de
mentiras que tive com a Brenda, medo de não ter forças para continuar se isso
acontecesse, pois eu te amo tanto que talvez não conseguisse mais...
Cristina segurou-lhe o queixo, viu as lágrimas presentes
em seus olhos.
Abraçou-a e permaneceram assim durante um longo tempo.
Já passava das duas da manhã quando a Lacassagner chegou
naquela noite.
Fora a um jantar oferecido pelo empresário italiano que
estava no país. Depois acontecera o coquetel e como não pudera contar com
Virgínia, acabara ficando até tarde. Também ficara tão furiosa depois do encontro
que tivera com o duque que preferira não retornar para a casa.
Ao entrar nos aposentos, viu a esposa deitada na cama,
tendo Sorte ao seu lado.
Ficou lá parada durante alguns segundos apenas admirando
a amada. Amava-a tanto que temia perde-la.
Aproximou-se, retirou a gata, depois acomodou-se devagar
na beira do leito.
O quarto estava mergulhado na penumbra, apenas os raios
do luar traziam um pouco de luz.
Acariciou o rosto da jovem.
Mel mexeu-se e acabou fazendo o cobertor deslizar,
expondo os seios mal coberto pelo decote da camisola.
Usou o polegar para tocá-lo devagar.
Lentamente, os olhos dourados abriram-se.
-- Samantha... – Falou confusa e ao olhar para o
criado-mudo viu a hora. – Você chegou agora?
A pirata fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto
continuava a acaricia.
-- Você inventou um jantar para a Virgínia aqui...então
tive que ir...sua culpa...
-- Está bêbada?! – Sentou-se, empurrando-lhe a mão. –
Pensei que estivesse em um jantar de negócios e não em uma festa.
A Lacassangner a puxou para si, enquanto a jovem tentava
afastá-la.
-- Eu só bebi um pouco de vinho... – Beijava o pescoço da
amada. – Nada de mal...
-- Me solta, Samantha...
A Santorini ordenou, mas acabou sob o corpo da esposa que
lhe segurava os pulsos sobre a cabeça.
-- Por que está tão bravinha? – Questionou rindo.
-- Porque está tarde e eu quero dormir porque amanhã eu
trabalho. – Tentou soltar-se, mas foi em vão.
-- Mas ainda é cedo...e eu tô morrendo de vontade de
fazer amor...
-- Fazer amor? – Questionou indignada. – Só se você for
fazer sozinha, porque comigo não vai fazer.
Observou o vestido vermelho que parecia uma segunda pele.
Tentou se mover para empurrá-la, mas a empresária montou
em seu quadril, detendo todos os seus movimentos.
-- Sozinha não tem tanta graça assim... – Provocou-a. – é
muito mais gostoso quando são seus dedos a me tocar...quando estou toda molhada
e você desliza para dentro com maestria...
-- Olha, pirata, acho melhor que vá tomar um banho e se
deite para dormir...
Não podia negar que estava irritada e cheia de ciúmes
pois ficou sabendo por Virgínia que a tal da Bianca estaria no jantar.
-- Só irei quando me tocar...
-- Não farei, então vai ficar aí a noite toda e não vai
receber nada.
-- Não quer? – Soltou-lhe os pulsos e puxou as alças
finas da camisola expondo os lindos montes. – Estão com frios? – Inclinou a
cabeça e já passava a língua sobre o mamilo direito. – Deixe que o aqueça.
Mel cerrou os dentes, enquanto tentava não pensar em como
seu corpo reagia ao toque.
Sentiu as mãos sobre o tecido de seda, levantando-o,
enquanto lhe afagava as coxas.
Tentou empurrá-la mais uma vez, mas acabou deitada de
bruços tendo a esposa sobre seu corpo, sussurrando em seu ouvido:
-- Não acredito que foi dormir com uma calcinha dessas
sem segundas intenções... – Levou a camisola, expondo o minúsculo fio. – Se
você deixar roçar só um pouquinho eu prometo que te deixo em paz... – Alisava
as nádegas bem feitas, enquanto sentia o corpo mais ansioso. – Só um
pouquinho...nem vai incomodar...
A médica sentia o próprio sexo latejar diante da proposta
ousada.
Permaneceu calada, enquanto sentia ela se livrar do
próprio vestido, não demorou para sentir a pele escorregadia sobre seu bumbum.
-- Ain, Mel, não sabe como sou louca de desejo por ti...
Deixa de ser malvada...eu sei que você também quer... – Colocou a mão por baixo
da esposa e tocou no sexo sobre o tecido fino da calcinha.
A militar suspendeu um pouco o quadril para sentir
melhor.
-- Pirata...
-- Fica de quatro pra mim... – Sussurrou em seu ouvido. –
Fica...
A Santorini sentia o indicador esfregar seu sexo e já se
movia contra o toque.
Enlouquecida de desejo, fez o que a esposa pediu,
adotando a posição que lhe dava muito prazer.
Sentia Samantha esfregar-se a si com mais ímpeto,
enquanto era penetrada fortemente.
Ouvia pronunciar suas frases desconexas, mas que a
deixava mais desejosa.
Antes que pudesse se dar conta, já estava deitada de
costas e tendo a boca da mulher deslizando por sua pele.
Sabia que ela passaria horas lhe torturando. Sempre que
faziam sexo e a pirata tinha bebido, ficavam horas no ato, como se ela não
quisesse que o prazer simplesmente acabasse.
Abraçou-lhe pelo pescoço, colando os lábios nos dela,
sentindo a forma rústica do carinho, capturou-lhe a língua, chupando-a. Separou
as coxas, acomodando-a, colando-se, movendo-se no ritmo acelerado que ela
impunha.
Os sons dos gemidos seguiriam por toda a madrugada até
que ambas caíssem exaustas sobre o leito.
Na manhã seguinte, Mel já estava em seu trabalho. Chegara
cedo, pois acompanharia o diretor do hospital em uma cirurgia. O procedimento
fora tão demorado que passava das duas da tarde.
Entrou exausta na sala e teve uma surpresa em ver
Samantha lá acomodada.
-- Pensei que estava na empresa. – Ela sentou-se.
-- Não, acordei tarde e com uma terrível enxaqueca, então
apenas trabalhei em casa mesmo e vim aqui te convidar para almoçar, mas sua
secretária me disse que você demoraria.
-- Sua farra ontem foi muito boa pelo visto, vi sua linda
imagem em inúmeros sites de fofocas... – Fez um gesto negativo com a cabeça. –
E a tal da Bianca estava lá.
-- Ela estava lá porque é filha do empresário...o que
você queria que eu fizesse: não convidem a moça porque minha esposa morre de
ciúmes e sem motivos. – Acomodou-se no sofá. – Vem aqui, não quero que fique
chateada por isso.
Mel a olhava.
A empresária usava jeans colado e uma blusa de mangas e
gola longa branca. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e usava os
costumeiros óculos.
Com um suspiro foi até ela, sentando-se, encostou a
cabeça em seu peito.
-- Tenho ciúmes... – Disse encarando-a. – Ela é tão
bonita e penso que...
-- Linda é você, meu amor... – Beijou-lhe a pontinha do
nariz. – Eu te amo, bobinha, então não precisa ser insegura.
-- Eu sei... – Passou a mão em sua face. – Então a
senhora depois de passar a noite acorda se deu o luxo de ter uma folga...
-- Eu não sabia que tinha uma cirurgia...perdão...te
cansei bastante, espero que tudo tenha ocorrido bem.
-- Ocorreu sim, amor, mas estou exausta...Fui liberada
por hoje, mas ainda tenho que ir até o meu avô, hoje é o aniversário dele.
A pirata ficou em silêncio, não contara sobre a visita e
preferia não falar.
-- E a Cristina se resolveu com a Virgínia?
A médica fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Sim, e vão marcar a data de casamento... – Dizia com
um sorriso entusiasmado. – Já disseram que estão pensando em ter filhos logo.
Os olhos azuis fitavam os dourados.
-- Que bom...
-- Estava pensando se a senhora também deseja ter
filhos... – Beijou-lhe a bochecha. – Eu acho que será uma mãe maravilhosa...já
vi como é doce quando lida com crianças...Imagina um piratinha correndo e me
deixando louca e você rindo...
-- Vai ser muito divertido, mas estamos nessa correria,
você trabalhando bastante, como teremos tempo para cuidar? Quero estar presente
na vida dele e não jogar para outros cuidarem e educarem.
A Santorini soltou um longo suspiro, depois se levantou.
Parecia ter ficado aborrecida ao perceber que ainda não havia planos para terem
uma família e ela deseja ter. Sempre pensara em ter filhos.
-- Vou ao quartel, como sei que não vai comigo, acho que
nos veremos à noite.
Samantha levantou-se.
-- Vou ter que ir para a fazenda e por isso vim aqui, sei
que não pode ir comigo hoje, mas no final de semana pode não é?
-- Vai ficar todos esses dias lá?
A Lacassagner colocou as mãos nos bolsos da calça.
-- Preciso organizar algumas coisas, talvez só volte na segunda-feira.
-- Talvez, eu vá domingo, mas não devo ficar...
A empresária aproximou-se, beijando-lhe a boca de forma
apaixonada.
-- Vou morrer de saudades... – Samantha falou. – Se cuide
e não trabalhe tanto. – Beijou-lhe a testa.
Mel não disse nada, ficando apenas no mesmo lugar,
enquanto via a esposa sair da sala.
Havia um barzinho bastante popular na região central que
era o lugar que a tenente comparecia ao lado da melhor amiga.
Naquela noite, Mel convidou-a para irem até lá.
Ocupavam uma mesa em um canto. Estava tendo música ao
vivo. Era um lugar aconchegante.
-- Acho que a Samantha não quer ter filhos comigo. – A
tenente dizia. – Acho que não deseja misturar nossos sangues, afinal, eu sou
filha de um assassino. – Bebeu um pouco da cerveja. – Hoje estive na prisão e o
meu avô falou algo que me fez pensar sobre isso.
-- Que loucura é essa hein? – A fisioterapeuta dizia
indignada. – Claro que isso é coisa da sua cabeça. Jamais que a pirata não
desejaria ter filhos contigo.
-- Hoje, eu falei sobre isso com ela, disse que você e a Virgínia
estão pensando e falei, né, que também poderíamos... – Bebeu mais um pouco. –
Ela veio com uma história de que somos muito ocupadas e que não deseja deixar
outras pessoas cuidar dos nossos filhos e blá...blá...blá...
Dois rapazes aproximaram-se da mesa chamando as duas para
dançar. Cristina foi logo afastando-os.
-- Não perceberam que somos um casal? Estamos juntos,
fofinhos, então vão perder o tempo de vocês bem longe daqui.
Os dois conquistadores menearam a cabeça em desgosto e
afastaram-se.
-- Mel, você não pode ficar pensando essas bobagens. A
pirata te ama.
-- Sim, eu sei que me ama, mas ter filhos é outra coisa,
vai que pensa que serão ruins como o meu pai. – Suspirou. – Estou triste e
estou chateada...e agora ela está na fazenda.
-- E ontem como foi? Ela chegou que horas? – Bebeu. – Que
bom que a cobertura tem isolamento de som nos quartos...estava morrendo de
saudades da Vi. – Completou com uma risadinha.
-- Chegou de madrugada, acho que duas horas e ao invés de
ir dormir ficou me perturbando.
-- E vai dizer que não gostou...
A médica sentiu a face corar.
-- Sim, eu gostei, estava furiosa, mas depois que começou
a me tocar, não aguentei... – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – A Samantha
parece uma feiticeira...mesmo quando estou furiosa, quero senti-la...
Cristina gargalhou alto, mas cobriu a boca ao ver outras
pessoas lhe fitarem.
-- Por que não vai à fazenda e para de pensar besteiras...
– Segurou-lhe a mão. – Eu tenho certeza de que ela quer sim ter filhos contigo,
talvez pode ser que tenha medo, afinal, a mãe e a avó morreram ao dar à luz.
A filha do duque ponderava sobre o que ouvia da amiga.
-- Sim, tem isso também...pode ser... – Meneou a cabeça. –
A Marina me falou de uma maldição, mas eu não acredito nessas coisas e mesmo
assim, eu posso gerar os bebês.
-- Os bebês? – Indagou surpresa.
-- Claro, amiga, não quero meu filho seja filho único,
não é algo bom, quero que tenha com quem brincar, com quem brigar... – Riu. –
Imagina uma menininha de olhos azuis como a mãe e com aquele sorriso tão lindo...Eu
amo tanto aquela mulher... – Bebeu todo o conteúdo do copo. – E morro de ciúmes
também...
-- Vamos à fazenda e você conversa sobre seus medos sobre
ela não desejar ter filhos contigo...é melhor conversar sobre isso para que não
atrapalhe o relacionamento.
Mel tamborilava os dedos sobre o tampo da mesa.
As chuvas que tinham caído nos últimos dias romperam uma
das barragens que trazia água para a população do povoado. Mais uma vez, várias
pessoas perderam seus bens e estavam desabrigadas.
Alessa ligara para a Lacassangner às dez da noite para
avisar que seguiria com alguns trabalhadores para ajudar, a pirata pegou o
cavalo e seguiu para lá. Não tinha como ir de carro, pois a estrada estava
destruída.
Já estava amanhecendo.
As mulheres distribuíam cobertores e alimentos para os desabrigados
que foram acolhidos na pequena capela.
-- Não está com fome? – A secretária indagou à pirata.
Samantha seguia retirando os destroços junto com outros
voluntários, pois a chuva não dava trégua e a passagem da água tinha sido
interrompida, isso estava causando ainda mais enchentes.
-- Precisamos tirar essas pessoas daqui. – A empresária
disse olhando tudo ao redor.
-- Os bombeiros estão a caminho.
-- Não chegarão aqui a tempo. – Passou a mão nos cabelos
molhados. – Estou com medo da capela ser levada pela correnteza.
O lugar estava totalmente destruído.
Mais uma vez as casas não suportaram a força da natureza.
Tinha ocorrido inúmeros deslizamentos na encosta. O lamaçal não permitia nem
mesmo que carros chegasse até ali.
-- Precisa organizar e seguirem para o alto, há aquela
antiga escola, é o lugar mais seguro para eles nesse momento.
-- E você vai ficar aqui? – Alessa indagou preocupava. –
Não acho uma boa ideia, vamos com a gente, deixe isso aí.
A pirata fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Se não tirarmos esses escombros será pior, o nível de
água vai continuar subindo e aí sim teremos uma tragédia ainda maior. – Olhava para
os homens trabalhando. – Vá rápido e faça o que eu disse.
A mulher ainda abriu a boca para protestar, mas diante do
olhar firme da patroa, fez o que fora dito.
Eliah estava na casa grande.
Tinha ido com a patroa para a fazenda e desde que ela
tinha saído, na noite anterior, estava apreensivo, pois não soubera de nada.
Ouviu o som de um carro e correu até a frente da casa e
viu o jipe da Santorini estacionar.
Rapidamente, ela e Cristina deixaram o veículo correndo
para não se molharem.
A empregada correu trazendo toalhas paras as duas.
-- Deus do céu, o mundo parece estar acabando nessa parte
do país. – A fisioterapeuta comentou. – Quase não chegamos aqui, a ponte caiu.
O pirata fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Mel olhava tudo ao redor e via a cara de preocupação do
homem.
-- Onde está a Samantha? – Colocou as mãos na cintura. – Não
me diga que ela foi para lá? – Indagou preocupada.
Eliah fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Saiu ontem antes das onze da noite, foi a cavalo, pois
não tem como chegar lá de outra forma, até agora não sei o que pode ter
acontecido e já estou preocupado, já pensava em mandar arrumar uma montaria
para mim.
Mel já seguia correndo para o pátio quando viu a mulher
montada no cavalo negro. Ela estava toda molhada e o animal parecia seguir
rapidamente.
O sol já estava se pondo, mesmo assim conseguia
reconhecer a forma etérea sobre o garanhão.
Sem se importar com a chuva, correu até o estábulo e
assim que ela desmontou, abraçou-a tão forte.
Nem sabia o que estava sentindo naquele momento. Um temor
tão grande que algo tivesse acontecido com a esposa.
A Lacassagner permanecia no mesmo lugar, apenas tendo a
amada nos braços.
Ouviu o soluço.
-- Eu estou bem, amor, calma.
Os olhos dourados lhe fitaram chorosos.
-- Como foi até lá sabendo como é arriscado... – A militar
lhe deu bronca. – Quer me matar? Se algo acontecesse a você, eu morreria.
-- Não houve nada, os bombeiros chegaram e já está
relocando as pessoas, conseguimos tirar os escombros e o nível da água baixou.
Mel a olhava perplexa e de repente começou a apalpar.
-- Eu estou bem, só alguns arranhões.
-- Vamos para casa, precisa de um banho, de uma sopa
quente e alguns curativos.
Samantha sorriu e seguiu de mãos dadas com a amada.
O jantar tinha sido servido na fazenda, mas a Lacassagner
não descera. Estava dormindo desde que tomara banho e comera a sopa.
Na mesa estava apenas Cristina e a filha do duque.
-- Não houve nada sério, graças a Deus, eu fiz os
curativos e coloquei uma tipoia no braço, acho que machucou. – A médica dizia.
-- Falei com a Alessa, disse que os bombeiros tinham
conseguido retirar todos os morados. – Tomou uma colherada da canja. – Acho que
está mais que na hora dos governantes fazerem algo por esse povo que vive naquele
lugar. Ainda me lembro de quando estivemos lá e você só não morreu por causa da
Samantha.
-- Sim...Será que estão precisando de ajuda médica? Não é
melhor ir até lá? – Perguntou preocupada.
-- Só há um paciente para a senhora hoje, querida, a
secretária me disse que os poucos feridos que teve já foram atendidos, então
apenas suba e fique com a sua mulher.
A Santorini assentiu e foi isso que fez.
O dia já tinha amanhecido há tempos.
Mel despertara com cuidado para não acordar a esposa,
fora até a cozinha, prepara algo para comerem e depois voltou para a cama.
Agora estava lá, deitada de lado, encarando a linda
pirata.
Ela dormia tão tranquila que ainda não tivera coragem de chama-la.
Observou os arranhões na face bonita. A mão tinha um curativo, pois cortara.
Olhava-a ali e ainda sentia um desespero em seu peito,
temendo que algo lhe tivesse acontecido.
Era a mulher mais corajosa que conhecera em toda a sua
vida. Sabia que ela não se importava em se arriscar para ajudar os outros,
fizera isso quando todo aquele povoado a desprezava.
Naquele dia, pensara que morreria. Tinha conseguido
salvar o garotinho, mas não tivera forças para continuar, a correnteza lhe
puxava de forma tão implacável que sabia que não conseguiria.
Fechou os olhos e se recordou daquele dia:
“Samantha se jogou e buscou a filha de Fernando. Mas a
água estava tão forte que lhe turvava a visão. Chamou-a durante alguns segundos
e foi quando a viu segurando em uma raiz. Lutando contra a natureza, foi até
ela, segurando-a pela cintura.
Viu os olhos dourados a lhe fitarem em total confusão.
-- Segure em meu pescoço, tenente.
A militar pensava se não estava tendo um sonho naquele momento, pois chegara a
pensar que não teria como salvar-se da fúria da natureza.
-- Está tudo bem, vamos sair daqui... – Sussurrou em seu ouvido.
Tinha visto a cena toda a distância, viu quando a corajosa mulher se jogara
para salvar a criança e como fora infeliz e quase afogara com as águas da
barragem destruindo tudo ao redor. Desespera-se ao vê-la ser engolida pelo
lamaçal.
Mel olhava a Lacassangner, sentia o cheiro dela, o hálito fresco ao falar tão
perto de si. Observava os lábios cheios, os olhos azuis fitando-a com tamanha
intensidade que chegava a lhe tirar o fôlego.
-- Como vamos sair daqui? – Indagou. – Logo essa lama vai cobrir tudo. A
correnteza está muito forte.
A pirata segurava na corda e sentia a dor na mão pela força que colocava no
ato.
-- Puxe o cavalo! – Gritou.
A militar não parecia entender nada, mas logo sentia que se aproximavam mais da
margem que já estavam bastante longe.
Continuava abraçada a ela, estando tão perto que conseguia vê-la tão bem como
quando estiveram juntas na festa.
Passara tantos dias sem vê-la, nem imaginara que já tinha retornado das
aventuras sexuais que em todos os jornais anunciavam.
Viu umedecer os lábios. Viu apavorada quando um pedaço de caibro lhe feriu a
têmpora.
A Lacassangner sentiu o impacto, mas tentava a todo custo proteger a militar
dos escombros que viam em suas direções.
Aos poucos aproximaram-se e primeiro fez com que a neta de Sir Arthur saísse,
depois foi a sua vez.
-- Meu Deus! – Cristina exclamou ao abraçar a amiga. – Nunca mais faça isso,
quase morri aqui em desespero. – Dizia em prantos.
A jovem esboçou um sorriso, buscando respirar normalmente. Sentia o corpo
dolorido como se tivesse sido açoitada. Perdera a capa enquanto tentava não ser
levada pela água. Sentia as botas cheiam de lamas, dificultando o caminhar.
-- Temos que sair daqui, logo tudo isso vai ser levado pela água.
Cristina assentiu.
As crianças e a mulher já
tinham seguido até a capela, só ficou o homem para ajuda-las.
A fisioterapeuta viu a mão ferida de pirata.
-- Precisa cuidar disso. – Falou assustada.
-- Cuidarei em breve. – Montou. – Levo vocês duas comigo. – Estendeu as mãos.
O homem já corria na frente, enquanto as três seguiam no grande garanhão.”
Voltando a realidade, uma lágrima descia da face da
Santorini. Parecia abalada com tudo o que tinha ocorrido.
Viu os olhos azuis abrirem-se e sem dizer uma única
palavra, jogou-se nos braços da mulher, abraçando-a.
Samantha parecia surpresa, mas acariciava os cabelos
sedosos, deixando-se ficar lá.
-- Eu te amo, meu amor, e não me importo se não deseja
ter filhos, quero viver minha vida toda ao seu lado. – A tenente dizia contra
seu pescoço.
A Lacassagner segurou-lhe o queixo fazendo-a encará-la:
-- Claro que quero que tenhamos filhos...De onde tirou
essa ideia?
Os olhos dourados lhe fitaram:
-- Pensei que não queria por eu ser filha...
A pirata colocou o indicador em seus lábios para lhe
silenciar.
-- Nunca mais pense ou ouse falar algo assim...Você é o
ser mais maravilhoso que conheço e com certeza será um prazer e uma honra que
nosso filho herde seu caráter... – Beijou-lhe os lábios. – Vamos ter sim um
bebê...
-- Prefiro carregar em meu ventre nosso primeiro
filho...Só depois de você fazer todos os exames e não ter nenhum risco, você
engravidará.
Samantha sorriu.
-- Então, vejo que teremos uma casa cheia de crianças... –
Tocou-lhe o ventre sobre o tecido da camisola. – Será lindo ter uma vidinha
batendo aqui dentro...
Meses depois...
-- São dois... – Samantha estava diante do monitor com
lágrimas nos olhos, enquanto via os seres que estavam sendo gerados pela
esposa. – Vamos ter duas meninas. – Dizia entre riso e choro.
Mel estava deitada na cama e sentia a emoção ao ver a
esposa plena em felicidade, enquanto o médico mostrava as duas as crianças que
estavam se desenvolvendo.
Estava com quatro meses de gravidez.
A Santorini observava os olhos azuis brilhando.
Desde que tivera a confirmação de que conseguira
engravidar, era como se vivessem um sonho. Saiam para comprar roupinhas juntas
e já decoravam o quarto, agora que sabiam que seria uma menina, poderia fazer a
pintura que ainda não tinha sido colocada em prática. Teriam que fazer tudo em
dobro, pois agora não era apenas um bebê, seriam dois.
Não tivera como arriscar que Samantha fosse inseminada,
pois ainda temia que algo pudesse acontecer, então depois de muita conversa,
tudo fora decidido.
Foi logo depois do casamento de Cristina e Virgínia que
fora engravidada.
A amiga ficaria eufórica quando soubesse que seria tia de
duas meninas.
Miranda chegara ao país naquela noite e fora até a
cobertura.
Samantha a recebeu com grande alegria. Abraçaram-se e
depois seguiram para se acomodarem no sofá.
-- Por que não disse que viria?
-- Quando fiquei sabendo das gêmeas, reservei a primeira
passagem e aqui estou. – Olhava tudo ao redor. – E onde está a Mel?
-- Acho que vai chegar um pouco mais tarde, tinha alguns
pacientes para atender.
-- E quando vai entrar de licença?
Samantha foi até o bar e preparou duas bebidas, entregou
uma a chefe do departamento e ficou com uma. Acomodou-se na poltrona de frente,
cruzando as pernas.
-- Ainda é cedo, claro que por mim ela ficaria em casa
desde sempre, mas você conhece a minha esposa e como é teimosa.
-- Isso é verdade, mas sabemos que se ela soubesse que
teria algum risco, com certeza, ela já teria deixado o trabalho. – Bebeu um
pouco do líquido âmbar. – E como se sente?
A Lacassagner passava a mão pelo copo de cristal.
-- Eu acho que nunca pensei que existiria uma sensação
tão grandiosa como essa que está dentro do meu peito...Me sinto tão feliz,
Miranda, tão realizada...É como se...
A porta abriu-se e a Santorini entrou.
A chefe do departamento levantou-se para cumprimentar a
filha do duque, abraçando-a.
-- Que surpresa maravilhosa. – A médica disse emocionada.
– Um prazer tê-la aqui.
-- Pois saiba que desejo estar por perto quando as duas
piratinhas nascerem.
As três gargalharam.
Marina
e Eliah jantaram com todos e já tarde, as duas mulheres seguiram para o quarto.
Sorte
estava sobre a cama.
Mel
a acariciou por alguns segundos, depois Samantha a levou para a poltrona.
Depois deitou-se ao lado da esposa.
--
E hoje vai ter história? – A Santorini indagou.
Todas
as noites, a Lacassagner contava uma narrativa para os bebês, mesmo que ainda
estivessem dentro da barriga, ela sempre o fazia.
--
Claro, com certeza. – Segurou a nuca da esposa, aproximando os lábios. – Mas só
depois de amar intensamente a mãe delas.
Meses
depois...
Sir
Arthur estava agoniado dentro da prisão. Ficara sabendo por seu advogado que a
neta entrara em trabalho de parto. Ficara furioso quando soubera da gravidez,
ainda mais por saber que teria o sangue da pirata e agora temia que algo
pudesse acontecer com a filha de Marie.
Não
acreditava que a herdeira do duque traria uma criança ao mundo com sangue sujo
do Serpente.
Samantha
estivera ao lado da esposa em todo o parto e chorara como uma criança quando
tivera os bebês em seus braços.
Ambas
era cabeludinhas e pareciam fortes e saudáveis.
Seis
anos depois...
--
Xeque mate...
Mel
tinha ido levar as filhas para visitar Sir Arthur. Elizabeth e Maria Fernanda
amavam xadrez e mesmo tendo apenas cinco anos, eram muito boas, pois Samantha
ensinara ambas jogarem.
Sir
Arthur conseguira a liberdade, cumpria prisão domiciliar, pois sua saúde estava
cada vez mais debilitada.
A
Santorini observava a felicidade do almirante.
No
inicio ele não aceitava, mas com tempo apaixonara-se pelas meninas, então uma
vez na semana, trazia-as para visita-lo.
--
Hoje nós vamos ao cinema, mamãe Sam vai levar. –Beth dizia concentrada no jogo.
– Vamos ver um filme muito legal, vovô.
--
Sim, e a tia Cris também vai e vamos brincar com o Felipe... – Maria continuava
entusiasmada.
Virgínia
e a fisioterapeuta também tinham um filho. Era um ano mais jovem que as
meninas. As duas mulheres viviam muito felizes no casamento.
--
Então quando vierem me visitar na próxima semana vou querer saber todos os
detalhes dessa aventura. – O militar dizia.
A
empregada entrou nos aposentos dizendo tinha feitos bolinhos para as meninas.
Elas
saíram em disparada, deixando a mãe e o avô sozinhos.
--
E como está a sua mulher? – Arthur indagou depois de alguns minutos. – E por
que não trouxe o Otavinho para me visitar.
Sim,
havia um menino. Otávio fora gerado por Samantha depois de dois abortos
espontâneos, ela tivera um menino lindo e forte.
Fora
um período conturbado, pois a médica não quisera que a esposa se arriscasse
após a primeira perda, mas a Lacassagner foi teimosa e no final tudo tinha dado
certo.
--
A Samantha está com ele em casa, está resfriado, por isso não trouxe. –
Levantou-se. – Já está na hora de ir. – Foi até ele e lhe deu um beijo. – Semana
que vem terá apresentação na escola, vou gravar para que o senhor veja.
--
Certo, filha, se cuide e cuide dos meus bisnetos.
A
Santorini fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Vou manda-las subirem para se despedirem.
Naquela
noite a lua se mostrava linda e cheia. Estava quente, depois dos dias de inverno,
o frio já se despedia.
Mel
estava na espreguiçadeira, enquanto via a amada dar longas braçadas na piscina.
Foram
ao cinema e depois de colocar as crianças para dormirem, agora estavam
aproveitando.
Viu-a
deixar a água e já seguia para sentar junto a si.
--
Está cansada? – Mel indagou.
--
Não tanto, mas lhe digo que essas crianças têm muita energia.
--
Elas amaram o filme, não pararam de falar sobre isso o caminho todo. – Tocou-lhe
a face. – Não sei como arruma tempo para procurar essas animações. – Acariciou-lhe
os seios sobre biquíni. – Espero que não deseje dormir cedo hoje... –
Sussurrou-lhe ao ouvido. – Estou morrendo de vontade de fazer amor contigo,
pirata. – Mordiscava a pontinha da orelha. – Essa semana nem conseguimos nos
tocar.
Samantha
alisava as coxas bem feitas.
--
O Otávio estava doente e precisamos ficar com ele na nossa cama... – Posou a
mãe nas amarras da parte de baixo do traje de banho. – Mas...todos estão
dormindo...
Mel
segurou o rosto querido entre as mãos e logo devorava a boca carnuda, saudosa
de senti-la em todo seu corpo.
O
teatro estava cheio. Os pais, familiares e amigos lotavam o lugar para
apresentação das crianças.
Miranda,
Marina, Eliah, Cristina, Virgínia, Samantha e Mel estava na primeira fila de
cadeiras.
Todos
aplaudiam as apresentações. Primeiro teve um coral, em seguida iniciou as peças
teatral.
Otávio
estava no braços de Mel, o menino parecia mais preocupado em devorar um
saquinho de pipoca que prestar atenção ao que se passava.
Chegou
a hora do teatro que teria as gêmeas e o filho de Cristina.
O
cenário rapidamente foi montado e havia uma réplica do navio que a Lacassagner
comandava.
Os
olhos azuis da empresária brilhavam em lágrimas e sua emoção foi ao topo quando
sua filha Elizabeth apareceu vestindo roupas parecidas com as que ela usava na
época das navegações.
Ela
trocou um olhar com a médica que pela expressão mostrava também está muito
emocionada.
Alguns
garotinhos vestidos roupas da marinha aproximaram-se junto com a Maria que
representava a tenente.
Miranda
usou o lenço para limpar as lágrimas que rolavam por sua face.
Depois
de pegar a espada de brinquedo, a piratinha começou a duelar com a irmã e
depois de várias investidas conseguiu derrubá-la.
--
Renda-se, tenente, eu sou a Víbora do mar...
Fim...
que final maravilhoso, depois de muitos conflitos elas e intrigas entre ambas elas finalmente conseguiram ser felizes e terem uma familia linda... parabens autora por mas uma historia maravilhosa.
ResponderExcluirQue livro perfeito!😍🔥E esse último capítulo foi lindo demais,estou emocionada e já com saudades dessas grandes mulheres!E a AUTORA está de parabéns como sempre,por tanto talento!E confesso que eu queria mais uns dez capítulos desse incrível livro!Espero mais obras maravilhosas dessa autora brilhante!🙏👏😍
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