A víbora do mar - capítulo 44 -- A caixinha

               A noite estava fresca. Um vento balançava os galhos das árvores. Uma mesa tinha sido montada na área da piscina. Havia um vinho em um balde de gelo, algumas iguarias que foram preparadas por Marina e Eliah.

                 Samantha nadava de um lado para o outro, enquanto esperava a esposa aparecer. Tinha bebido algumas taças e parecia cada vez mais ansiosa.

                 Deixou a água e pegou o roupão branco, vestindo-o.

                Não demorou para ver Mel se aproximar. Ela vestia um short curto, camiseta. Os cabelos estavam soltos.

              – Não sabia que deveria vir de biquíni. – Falou sorridente.

              A pirata lhe entregou uma taça.

             – Não resisti.

             Mel bebericou um pouco e depois seu olhar passeou pela comida, sentindo o estômago reclamar.

              – Gostou? – Samantha indagou ao ver o olhar curioso.

               – Parece delicioso. 

              Samantha puxou a cadeira para que a Santorini se acomodasse, sentando-se, depois começou a servir a ambas, em seguida se sentou.

            – Esse peixe foi preparado pelo Eliah, ele sempre foi muito bom na cozinha, enquanto vivíamos no navio.

              A militar comeu um pouco e fechou os olhos em prazer.

             – Muito bom, nossa, amo peixes.

              O jantar transcorria em um clima animado. A Lacassangner narrava sobre como organizara a usina no decorrer dos dias e como pensara que não conseguiria e como temera que as pessoas do povoado não viessem para o evento.

            – Já faz tempo que você não é vista como uma vilã…

               – Às vezes sinto falta disso. – Bebericou um pouco mais. – Afinal, não podemos negar que era engraçado em alguns momentos.

               – Sim, era víbora do mar que todos gostavam de inventar histórias… lembro-me do diário…de como havia coisas absurdas escritas.

              Samantha gargalhou.

              – Sim, ainda mais quando você pensava que eu faria um acordo se me deixasse tocar em seus seios… fiquei furiosa naquele dia e mais furiosa quando nos encontramos no jantar e você foi petulante, acho que foi por isso que exigi que pagasse sua parte na história.

               Mel corou ao se recordar de como perdera o fôlego naquela noite diante do olhar faminto da filha do Serpente. Desejara que ela lhe tocasse, desejara tanto aquilo que nem mesmo conseguira dormir naquele dia.

               – Precisei de muita força de vontade para não ter perdido o controle… – Disse encarando-a. – Eu já perdia a cabeça naquela época por ti.

                A jovem umedeceu os lábios, enquanto via a esposa encher seu copo.

                   Bebeu mais um pouco e depois falou:

                 – Sente muito desejo por mim? – Indagou receosa.

                  – Sinto…muito… Não sente o mesmo?

                 Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.

                   – Sinto muito desejo, tanto que perco o controle diante do seu olhar…

                   – Já se tocou pensando em mim, tenente?

                 Mel baixou a cabeça, sabia que as faces estavam tingidas de vermelho. Ao voltar a encarar a mulher, viu que havia deboche brilhando nos olhos azuis.

                – Sim, já fiz algumas vezes… – Disse levantando a cabeça em desafio. – Vai rir agora e dizer que nunca fez?

                   Samantha bebeu todo o conteúdo de uma vez da taça, depois puxou a cadeira da esposa para ficar perto de si.

                  – Ontem mesmo eu fiz isso pensando em ti… – Segurou-lhe a mão e colocou na própria coxa. – Eu fico louca quando te vejo, tenente, enlouqueço…

              A militar acariciava a pele sedosa sob o roupão, sentindo um arrepio na nuca.

               – E por que não foi até o meu quarto e me chamou? Eu teria gostado de saciar seu desejo.

              – Teria? – Sussurrou em seu ouvido. – Desejo sua boca em mim…

               – Onde deseja a minha boca, pirata?

               Samantha lhe guiou a mão, depois afastou um pouco as pernas e deixou que ela tocasse em seu sexo.

                – Aqui…bem aqui…

                   Ouviram um miado e não demorou para Sorte aparecer roçando nas pernas das mulheres.

             A tenente aprumou-se em sua cadeira, enquanto colocava a bichana no colo.

               – Vejo que sua gatinha já centra suas atenções em ti. – Samantha disse, enquanto estendia a mão para acariciar os pelos macios da felina. – Sabia que antes ela vivia enfurnada no meu quarto, só faltava ir à usina comigo.

            – Eu pedi para que ela cuidasse da minha esposa, enquanto eu estivesse fora. Disse a ela para se comportar bem e ficar sempre de olho na mais linda pirata que já conheci.

             A Lacassangner comeu uma azeitona, enquanto ponderava sobre sua situação com a filha do duque. Mesmo que pensasse que deveria dar mais um tempo para só depois ter certeza de que o melhor seria realmente reatar a relação, em sua cabeça só passava como estava perdendo tempo, como desejava ficar com a militar de uma vez por todas, afinal, já passaram por tantos momentos difíceis que só ansiava por tê-la ao seu lado para todo o sempre.

              – Acho que vou dar um mergulho, hoje está um pouco mais quente que os outros dias.

            Mel assentiu, observando-a levantar e livrar-se do roupão, exibindo o corpo deliciosamente belo em um biquíni preto que pouco cobria seus tesouros.

             Desviou o olhar.

             Tinha certeza de que a Samantha lhe queria, estava claro em sua cabeça, mas não sabia ainda se isso significava que a perdoava e a aceitava de volta ou era apenas aquela paixão que ambas sentiam de forma desenfreada.

            Claro que a queria sexualmente, não tinha nem mesmo como fingir que não, porém temia que depois de se entregar mais uma vez, ela ainda tivesse relutância em lhe aceitar de volta. Sim, amava-a, amava-a tanto que temia que de repente, ela decidisse que o melhor fosse que se separassem, porém não poderia forcá-la a lhe aceitar de volta, não depois de tê-la abandonado.

             A gatinha desceu do seu colo, seguindo para o interior da propriedade.

               Mel bebeu um pouco de vinho, depois se levantou, caminhando até a borda da piscina

            Observava a mulher nadar de um lado para o outro.

             Olhou o céu. Havia muitas estrelas e uma lua que parecia ter sido pintada pelo mais brilhante artista.

              Sentiu alguém lhe segurar o calcanhar. Assustou-se, então viu que era a pirata que parara na borda e lhe fitava.

              – Entra!

             – Não estou de biquíni.

             – E o que há por baixo dessa roupa? 

             – Um sutiã e uma calcinha, oras, o que mais seria?

            – Então pronto, pode entrar sim, está ótimo esse traje.

              Mel cruzou os braços.

              – Acho que estou com frio…

              – Eu esquento você, senhora. – Nadou para mais longe.

              A Santorini estava tentada a entrar na água, mas ainda relutava, então sentiu a água sendo jogada em si. 

              Viu o sorriso debochado e acabou sendo vencida.

                  Retirou o short e depois a blusa. Usava uma lingerie branca. Não era muito sensual, mas era bastante confortável.

               Pulou na piscina e sentiu o corpo relaxar.

              Nadou um pouco e depois parou em um dos batentes, apoiando-se.

              Não demorou para sentir a esposa parar atrás de si e sentiu a pele toda arrepiar diante da presença dela.

              – Eu disse que a água estava uma delícia… – Samantha sussurrou em seu ouvido. – E confesso que amei o seu traje de banho.

              – Gostou? – A jovem questionou sem se voltar.

            – Sim, gostei muito. – Virou-a para si, fazenda-a sentar no degrau da piscina, acomodando-se entre suas pernas. – Sabe que eu pensei que não quero mais esperar… – Acariciou-lhe a face com as costas da mão. – Eu te amo e fico louca de vontade de te tocar e não vou reprimir o meu desejo, então saiba que está perdoada…que em parte entendo o que se passou contigo, mas gostaria muito que a partir de agora, possamos enfrentar juntas tudo o que acontecer, seja bom ou seja ruim.

              Os olhos dourados brilhavam em felicidade. Um sorriso se desenhou em seus lábios.

              – Preciso dizer algo sobre isso ou apenas falo que te amo e que não quero te perder…

               – Sim, meu amor, eu quero ouvir você dizendo que me ama todos os dias da nossa vida…

                Mel aceitou os lábios rosados tomarem os seus.

                 Sentia-se tão feliz naquele momento, como se nada de ruim tivesse acontecido, como se agora só importasse o amor que sentia pela esposa. Circundou-lhe o pescoço, apertando-a mais perto de si. Sentia a língua deslizar por sua boca, mexia, parecia pronta para tomar tudo o que lhe pertencia naquele momento. Chupou-a, arrepiando-se com a vontade de se entregar. Não demorou para sentir as mãos atrevidas começarem a acariciar seus seios.

              Abriu as pernas para acomodar a mulher entre elas.

                De repente a boca da pirata deslizava por seu pescoço, mordiscava seu queixo, baixando até chegar ao seu colo. Abriu o fecho frontal do sutiã e logo seus olhos brilhavam diante dos seios redondos.

                 Fitou-a, enquanto depositava beijos nos lindos montes, demorando-se nos mamilos.

              Mel mordiscou a lateral do lábio inferior. Depois usou os dedos para penetrar a minúscula calcinha do biquíni. Mexia os dedos devagar e sorriu ao ver como estava escorregadia.

                 – Amo quando você está assim… – A tenente falou ousada.

               Os olhos azuis a fitaram, havia puro desejo neles.

               – E eu estou esperando que entre bem gostoso dentro de mim…– Mexeu o quadril contra ela.

                 Devagar, a Santorini entrava em seu centro de prazer. Fazia-o lentamente de forma que via a expressão da esposa modificar-se. Encarou-a e pôde ver a frustração por não ter prosseguido com os movimentos. Viu-a mover-se mais para frente, enquanto rebolava o quadril com um movimento lento e depois seguia aumentando-o.

                  As bocas voltaram a se encontrar, porém agora o beijo parecia replicar cenas do tão ansioso ato sexual.

              Samantha continuava a explorar os seios bonitos, incitando os mamilos, beliscando-os de leve. Ouviu a militar gemer e então colocou mais empenho em sua jornada. Fê-la circundar sua cintura com as pernas longas, assim estreitava mais o contato e também podia lhe tocar. Ouvia-a pedir com voz rouca para que lhe tocasse o sexo e foi o que fez, atendendo prontamente ao pedido. As carícias prosseguiam, aumentando o impulso e logo ambas gritavam em êxtase.

                 

 

                   Mel despertou. O quarto ainda estava mergulhado na penumbra. Abriu os olhos devagar, tateou a cama em busca da esposa.

                 – A Samantha saiu há um bom tempo.

              A tenente teve um sobressalto ao perceber que a amiga estava parada no meio do quarto, olhando-a.

                Puxou o cobertor, enquanto a fisioterapeuta abria as cortinas.

                 – Pelo que vejo vocês já se acertaram, isso é ótimo. – Batia palmas em animação. – Agora já podem ser as madrinhas do meu casamento.

             A Santorini ainda estava sonolenta, enquanto ouvia a amiga narrar seus planos.

                Mel sentou-se, apoiando as costas na cabeceira da cama.

                – Você não podia ter esperado para que eu acordasse?

                – Não acha que já esperei o bastante? – Indagou com as mãos na cintura. – Seis meses que a senhora saiu pelo mundo e só agora retorna, eu não aguentava mais esperar. – Olhava a bagunça que estava nos aposentos. – Não sei como não quebraram a cama.

                A filha do duque corou diante da brincadeira.

                 – Onde está a pirata? – Perguntou para disfarçar o constrangimento.

                  – Provavelmente na usina, acho que tinha uma reunião com alguns empresários, pelo menos foi isso que a Vi me disse.

                 A militar parecia um pouco decepcionada. Imaginara que despertaria nos braços da amada, quem sabe até fariam amor mais uma vez.

                Ficou espantada com o próprio pensamento, pois tinham passado a noite se tocando de diversas formas, não era possível que ainda desejasse mais.

              Suspirou.

               – Preciso que venha comigo até a capital, quero arrumar meu vestido, tenho que falar com meus pais e gostaria que fosse comigo, não sei se terei coragem sozinha. – Jogou-se na cama. – Porque agora eu vou me casar, não é apenas um caso, é sério, eu amo a Virgínia e quero passar a minha vida toda ao lado dela.

                – E seus pais não a conhecem ainda?

                – Na verdade sim, mas eu acho que eles devem achar que é apenas algo passageiro como foi com as outras…não sei se estão preparados para serem avós.

                 – Mas tão rápido? 

                 – Sim, amo crianças e a Vi também, amiga, quero que tenhamos várias…

                 Mel se levantou com o cobertor enrolado em seu corpo, sabia que não dormiria mais, pois a amiga não permitiria.

                 – Eu preciso de um banho e também preciso falar com a Miranda. – Abriu o armário e já procurava uma roupa. – Preciso de um banho também, então me espere para que continue a me contar sobre seus planos.

               – Convença a Lacassangner a passar o final de semana na capital, assim vocês não precisam se separar, enquanto você me acompanha.

                A Santorini mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, enquanto ponderava.

               Não desejava viajar sem a esposa, ainda mais agora que tinham se reconciliado e passado tanto tempo separadas.

                Fez um gesto afirmativo com a cabeça.




              A sala de reunião tinha sido preparada para a presença dos empresários asiáticos. A grande mesa comportava 12 cadeiras, tendo a Lacassangner encabeçando-a.

                Alessa terminou de expor os documentos e logo assinavam os contratos. Champanhe fora servido para comemorar.

                 – Tudo foi perfeito! – A assistente dizia.

             Samantha e Virgínia estavam agora no escritório.

             – Agora temos que aumentar a produção e contratar mais empregados. – A ex-agente falava, enquanto digitava no notebook. – Próxima semana vamos fazer o anúncio.

               – Já temos alguns currículos no nosso banco. – A secretária dizia. – Podemos ver se tem como aproveitar.

               A pirata apenas ouvia em sua cadeira de couro.

               Já passava das duas da tarde e a única coisa que desejava era voltar à fazenda e encontrar a esposa. Só a deixara naquela manhã porque tinha essa reunião para participar que acabara se estendendo por quase todo o dia.

             – O que acha, senhora?

             A voz de Alessa a tirou dos seus pensamentos.

            – Sim, acho que é uma boa ideia. 

            – Então vou organizar tudo agora mesmo. – Disse a assistente deixando a sala.

            – Vou fazer alguns levantamentos e te envio por e-mail. – Virgínia também saiu.

             Samantha aproveitou que estava sozinha para ligar para Mel, mas a empregada avisara que ela não estava em casa.

             Sentia-se frustrada, pois tinha imaginado que almoçariam juntas, mas não tivera tempo para isso.

               Ouviu batidas na porta e para sua felicidade era a Santorini com seu lindo sorriso. Observou-a vestindo roupa de montaria, os cabelos soltos e a expressão sapeca.

              – Espero não incomodar…

             A morena foi até ela, segurando-a pela cintura, trouxe para si, beijando-a apaixonadamente.

            – Nunca vai me incomodar…– Beijou-lhe a pontinha do nariz. – E o que faz aqui?

              – Eu fui até a minha fazenda, está abandonada depois de tudo o que se passou…preciso pensar o que irei fazer.

              – Podemos unir as duas, amor, provável que precisarei de mais matéria prima…

               Os olhos dourados estreitaram-se.

              – Depois falamos sobre isso. – Segurou-lhe a mão, beijando-a. – Também vim aqui porque…– Hesitou. – Queria que fosse à capital comigo, sei que está muito ocupada, mas preciso ir lá e como não desejo ficar sem você…pensei…

             Samantha lhe depositou um beijou no pescoço, depois o mordiscou de forma a deixá-la ansiosa pelo toque.

               – Depende do que ganharei nessa viagem… – Tocou no botão da blusa. 

              – Bem, eu vou lhe dar tudo o que você quiser e um pouco mais…sem falar que quero te levar pra jantar comigo…

                 – Tem como resistir?



                Sir Arthur tomava sol. Olhava para o nada, enquanto ponderava.

              Desde que fora condenado a prisão tentara inutilmente várias vezes tentar falar com a neta, mandara cartas, mas nunca recebera resposta. Quando Ernesto estivera lá em visita contara que ficara sabendo que Mel tinha partido para longe sem nem mesmo deixar endereço.

             Estranhara o fato de ela ter partido sozinha, separando-se da pirata. Teria o duque conseguido o que tanto desejara depois de morto?

              Fitou as próprias mãos.

              Não passaria muitos anos naquele lugar, sabia disso, mesmo assim sentia-se totalmente condenado quando pensava que não teria mais o carinho da filha de Marie. Ela nunca o perdoaria por tudo o que fez, por não ter falado a verdade quando descobrira que Fernando quem fora o responsável pela morte da esposa. Mas como poderia ter falado algo tão cruel para uma adolescente?

                 Nada disso teria acontecido se Samantha Lacassangner tivesse sumido de uma vez por todas das suas vidas. Poderia ter ficado no oriente com a tal Sheika, mas o genro tivera que mais uma vez seguir atrás dela e causar toda aquela desgraça.

               Iraçabeth e Otávio começaram tudo aquilo há muito tempo quando foram contra todas as regras por um amor estúpido. Não se arrependia de nada que tinha feito para separar a filha do maldito pirata, não se arrependia nem mesmo de ter tentado várias vezes se livrar da Lacassangner, fizera tudo isso para proteger sua família, a família que ele amava e sua querida Mel.

            Já se preparava para seguir para a cela quando um oficial que conhecia bem veio até si.

           – Há uma visita para o senhor.

           O Santorini parecia confuso, afinal, não era o dia reservado para isso e a única pessoa que ia até ali era Ernesto e seu advogado.

           – Venha, o general permitiu, mas não por muito tempo, então apresse-se.

             Arthur não tinha interesse em ver ninguém, mas mesmo assim caminhava devagar apoiado em sua bengala. Passou pó corredor e logo era levado até a sala do general. Mais uma vez achou estranho, não era o lugar de visitas, porém ao abrir a porta seu coração parecia pular de alegria ao ver a neta sentada.

               – Mel… – Falou baixinho.

              A militar levantou a cabeça, vendo o homem que mais admirara em toda a sua vida, a pessoa que sempre ansiara por ser, desejou com todo o coração ser tão honrado quanto ele, mas agora sabia que tudo passara de mais uma grande mentira.

            Levantou-se e quando percebeu a intenção do homem lhe abraçar, afastou-se.

              Encarou-o e viu a dor em seus olhos.

             – Que bom que retornou, filha… – Acomodou-se na cadeira. – Soube que estava viajando…

             Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça, voltando a se acomodar na poltrona.

             – Estou aqui porque preciso de algo. – Abriu a sacola e entregou o objeto a ele.

              Arthur olhava com expressão curiosa. Observando bem percebeu que era o que estava em seu escritório.

              – É de quem? – Mel perguntou curiosa.

              – Esse era o da Beth. – Segurou a caixinha, observando-a. – O da sua mãe está no cofre do seu pai…

               A esposa de Samantha fez um gesto afirmativo.

              – Abra-o, desejo entregá-lo a única pessoa que tem o direito de possuir.

              O velho suspirou.

                – A pirata? – Disse em escárnio. – Isso não pertence a ela, era da minha filha.

               A jovem parecia decepcionada diante daquelas palavras.

               – Depois de tudo o que feito, de todas as maldades e das armações, o senhor deveria sentir vergonha de falar algo assim da Samantha, porém não vou perder meu tempo com isso, sei que não vai adiantar, apenas abra, por favor, a Sam merece ter algo da mãe.

              O almirante nada disse, apenas tinha sua atenção para o objeto.

               Passaram-se alguns segundos e de repente se ouvia a voz baixa e grave da patriarca.

              – Iraçabeth tinha mudado a senha da caixinha…Eu a confisquei do navio depois que ela morreu…trouxe-a comigo e passei anos tentando descobrir uma forma de abri-la, então consegui…é o número de série no navio Serpente do mar e a data do aniversário da bisavó…ela também se chamava Samantha…a Beth amava a velha bisa…

              Mel viu-o mexer e depois de ouvir um clique, entregou-lhe.

             – Tudo está aí, nunca retirei nada, porém eu vi tudo, sei de tudo que está aí…

               – E por que não queimou? Afinal, o senhor odeia tanto sua neta… – Falou curiosa.

              – Porque eram lembranças da minha filha e apesar de tudo, eu a amava muito, mesmo que nunca tenha conseguido demonstrar esse amor… – Limpou uma lágrima que descia por seu olho. – Talvez não acredite, também nesse momento não posso pedir para que o faça…mas, minha querida, se eu pudesse teria feito tudo diferente para te proteger de todas as maldades…só não me arrependo de ter feito sua mãe casar com o Fernando, foi graças a isso que tive você e isso foi a coisa mais maravilhosa da minha triste vida.

               A tenente fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois se levantou.

              – Preciso ir.

             O almirante assentiu com a cabeça.

             – Espero revê-la outras vezes.

             Mel não disse nada, apenas deixou a sala.



             Eliah e Marina tinham terminado de arrumar na varanda dos aposentos das duas mulheres a mesa para o jantar. Um vinho descansava sobre um balde de gelo, várias iguarias foram preparadas. Frutos do mar ficaram por parte do pirata, já a babá tinha se responsabilizado pela sobremesa.

               Mel já estava lá e olhava tudo maravilhada quando viu a esposa aproximar-se vestindo um vestido branco que chegava no meio das duas coxas. Alças finas enfeitavam seus ombros bem feitos. Os cabelos estavam trançados e havia um sorriso em seus lábios.

                  – Está linda, minha esposa… – A tenente serviu duas taças, entregando-lhe uma. – Aceite.

           A Lacassangner também parecia encantada diante da herdeira de Fernando. Usava uma blusa de gola alta preta, um short curto e uma camisa longa que chegava aos seus joelhos. Os cabelos estavam soltos.

              – Senti sua falta. – Beijou-lhe os lábios delicadamente. – Passou o dia todo fora. – Aceitou a taça.

              – Tive umas coisinhas para resolver… – Puxou a cadeira para que a esposa se acomodasse e depois sentou-se também. – Havia algumas coisas para se fazer.

              Samantha esboçou um sorriso e depois ficou curiosa ao vê-la lhe entregar uma caixinha de madeira.

              – O que é isso?

              – É um presente…

              – Seu? – Indagou com um arquear de sobrancelha.

             – Não…da sua mãe…

             Era possível ver o semblante da pirata modificar-se, parecia temerosa, enquanto tocava o objeto como se fosse algo que pudesse lhe ferir.

             – Abra, meu amor… – Encorajou-a. – Confie em mim…

               Lentamente ela fez o que a esposa dizia e pareceu surpresa ao ver que havia várias coisas em seu interior. Um par de sapatinhos bordados à mão, brinquinhos infantis, um livrinho de histórias e havia um papel envelhecido pelo tempo.

                Pegou a folha delicada, abrindo-a.

               " Minha linda e amada filha, acredito que agora não deve ser mais uma criancinha, se bem conheço o seu avô, já é uma mulher…não acho que chegar até aqui tenha sido fácil, mas eu sei que você é forte, eu te sentia em meu ventre e te dizia que as coisas não seriam tão fáceis nesse mundo de pessoas tão complicadas.

                 Você foi o milagre que eu pedi a Deus, foi a resposta às minhas preces, a maior dádiva…eu sabia que não estaria aí para acompanhar seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus tombos…Não vou poder te segurar nos braços e te colocar para dormir, tampouco estarei aí para espantar seus pesadelos…fisicamente não estarei, mas meu amor sempre te acompanhará. 

                Minha doce Samantha, eu te amo, te amo mais que tudo nesse universo e te amarei mesmo quando der meu último suspiro de vida…"

                A Lacassangner deixou de lado a carta, não parecia ter mais forças para continuar lendo.

             Mel aproximou-se, abraçando-a. Ouvia os soluços da amada, mas sabia que não era algo ruim, pela primeira vez percebia como Iraçabeth não era uma desconhecida para a filha, via sua emoção.

              Beijou-lhe a fronte.

              – Continue… – Voltou a incentivá-la. – Estou aqui contigo.

             A morena fez um gesto afirmativo com a cabeça.

             "... Nesse momento estamos em alto mar, eu olho para o céu que não apresenta nenhuma estrela, vai chover…vai chover muito…eu aprendi a sentir quando as tempestades acontecem…eu acho que você nascerá hoje…O Eliah costuma dizer que crianças não devem nascer nessas épocas, pois serão amaldiçoadas, porém você não será, será muito abençoada e vai ter um sorriso lindo igual o do seu pai…Talvez hoje o Otávio não tenha conseguido seguir sem mim, mas ele também te ama…eu me deito e ele começa a contar histórias e você pula em meu ventre…Ele te protegerá, te livrará de todos os males, eu confio…Há também o seu avô, Sir Arthur, esse é um alma pobre, digno de pena, pois apesar de tudo não conseguiu evoluir, espero que no dias atuais, ele tenha aprendido com os próprios erros, cometeu tantos, porém não o odeio e desejo que também não o faça, não se permita mergulhar dentro desses sentimentos mesquinhos que apenas destruirá sua alma…Há alguém que amo muito, não a vejo há algum tempo, está estudando fora…minha irmã de coração, Marie, sua tia Marie, pode confiar sua vida a ela, sei que quando eu não estiver aqui, você poderá contar com ela…é um ser gentil, doce e benevolente, sentirei saudades das nossas conversas…ela sabia de tia, foi a primeira a saber e ficou tão feliz…

              Minha filha amada, agora preciso voltar para meus aposentos, estou ansiosa com a sua chegada, feliz por saber que logo poderei te ver. Meu grande guardião Eliah vai fazer meu parto, ele vai cuidar bem de ti, vai cuidar tão bem que já informei que será seu tutor, não lhe dê muita dor de cabeça…

                 Sempre estarei ao seu lado, minha linda Samantha, te amo por todo o sempre, maior que o infinito…

                 Assina: Mamãe. "

               – Sua mãe te amava, meu amor, eu sempre soube disso… – Beijou-lhe as lágrimas. – E sei que onde ela está agora, continua cuidando e olhando para ti. – Segurou-lhe a mão.

               A Lacassangner apenas ficou em silêncio.

               Sempre pensara em si como filha apenas do Serpente. Não queria pensar na mãe, tentava a todo custo apagar de sua memória que existira uma Iraçabeth, pois assim conseguia se proteger das próprias frustrações de ter sido tão odiada pelo avô. Quantas vezes desprezara a própria origem? Ainda mais quando tivera a esposa assassinada.

              Ouviram passos e viram Marina e Eliah trazer bandejas.

                – O jantar está servido! – Anunciou o pirata feliz. – Fiz tudo o que pediu, senhora tenente.

              As duas mulheres levantaram-se e voltaram a atenção para a comida.

              – Deus, para que tudo isso? – Samantha questionou surpresa. 

                 – Eu não pedi muito, mas não se preocupe, amor, nada vai se perder. – Pegou um camarão. – Delícia. – Colocou na boca da esposa.

               – Está delicioso mesmo.

               – Então aproveitem… – Marina piscou. – Tenham uma boa noite.



               A noite transcorrera em um clima menos pesado depois do jantar. As duas mulheres tomaram bastante vinho e pararam em seu leito em outro encontro apaixonado de amor.

             – Tenho outra coisa para a senhora, minha amada. 

             Samantha viu a esposa levantar enrolado em um lençol, depois retornou com uma caixinha de veludo.

               Mel sentou-se sobre os calcanhares.

              A morena fitou o par de alianças.

              – Quer ser minha esposa, linda Lacassangner?

               A pirata sentou-se, puxando o cobertor para esconder a nudez.

                – Pensei que eu já fosse…

                – Sim, porém você estava drogada quando casamos…quero ver a emoção em seus olhos quando me aceitar por todos os dias da sua vida.

             Samantha sorriu ao se recordar de como ficara indignada quando descobrira o casamento.

              Estendeu a mão para a tenente.

              – Claro que aceito, aceito tudo o que você me propor…tudo, meu amor.

             Mel colocou o delicado aro no dedo da esposa.

               – Eu te amo, te amo muito…


 

Comentários

  1. Que capítulo emocionante 🤧chorei muito!Enfim elas irão aproveitar a felicidade!

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  2. amei esse capitulo enfim elas poderao viver em paz e felizes

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  3. a Geh Padilha está sem notebook, por isso ainda não tivemos atualização do capítulo.

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    Respostas
    1. Não abandonarei o barco kkkk aguardando ansiosamente.
      Obrigada por avisar!

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  4. alguem sabe de alguma noticia da Geh? sera que ela ja conseguiu um notebook ?

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  5. Ainda estou por aqui aguardando mais capítulos!Espero q a AUTORA esteja bem!

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