A víbora do mar - capítulo 43 - O recomeço


           O helicóptero sobrevoava as terras de Samantha. Mel sentia o coração pulsar mais forte em pensar que não demoraria e mais uma vez veria a mulher que amava. 

              Torcia as mãos em um gesto claro de nervosismo.
            Sabia que não retornaria como se nada tivesse acontecido. Tinha visto nos olhos da pirata como fora dolorido deixá-la. Nem mesmo estivera lá para se despedir, simplesmente tinha deixado a cobertura cedinho e desde então nada mais fora dito entre ambas. Não gostaria de que tudo tivesse acontecido daquela forma, porém não sabia o que fazer naquele momento, estava tão perdida em sua dor, tão desesperada em seus próprios sentimentos, sua agonia, seus medos. 
              Segurou o pingente que sempre trazia consigo em sua corrente no pescoço.
             – O tempo ainda não foi suficiente, meu bem?
               A voz de Miranda lhe tirou das suas divagações. 
               Levantou a cabeça, fitando-a.
              – Às vezes penso que nunca tudo isso vai passar, como se dentro de mim houvesse um vazio que não consegue ser preenchido.
A chefe do departamento internacional não deixara de praguejar contra o duque um único dia naqueles seis meses. Ainda não conseguia acreditar em todas as barbaridades que aquele homem fora capaz de fazer.
              – Eu entendo…nunca te critiquei…sempre entendi o que precisava ser feito.
A jovem fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto observava a paisagem, depois encarou a mulher:
             – E a Samantha? – Perguntou receosa.
               A agente desviou o olhar por alguns segundos, depois de algum tempo voltou a encarar a militar.
                – Como te disse, pouco tive contato com a Lacassangner nos últimos meses, não porque não queria, mas pelo fato de saber que ela não parecia muito acessível. – Deu uma pausa. – A Belinda esteve no país…
               Como sempre, a Santorini sentiu o ciúmes queimar dentro de si só em pensar que ela estivera perto da esposa.
                – E o que ela disse?
                – Pouca coisa, pois mal se falaram, a Sheika estava muito ocupada, usou toda sua energia para projetar a usina e agora é um sucesso.
                 – Ela falou algo sobre mim? – Perguntou sem esconder a ansidedade.
                 – Serei honesta contigo, Mel, pois sei que deve entender também, afinal, você partiu, então agora está retornando, mas vai precisar de um pouco de paciência.
                – Eu não sei se teria vindo se não fosse por ti, afinal, não sabia de nada que estava acontecendo…não tive mais contato com a Sam…
               A Maldonado fez um gesto afirmativo com a cabeça e depois falou:
                – Ela sabia onde você estava o tempo todo, eu mesma contei…
                Os olhos dourados pareciam perplexos.
               – Ela respeitou seu desejo, decidiu que o melhor era te deixar decidir o que seria melhor.
              – Talvez eu não devesse ter vindo… – Umedeceu os lábios demoradamente. – Tenho medo depois de todos esses meses.
               – Você a ama?
               – Sim, amo-a tanto que passei todo esse tempo ansiando por vê-la, mas temendo…temendo que tudo o que o meu pai fez ficasse entre a gente… – Uma lágrima rolou em sua face. – Tenho medo de que ela não me queira mais, porém estou disposta a fazer tudo para reconquistá-la, acho que já passamos muito tempo separadas.
             Miranda esboçou um sorriso.
              – Desejo vê-las felizes.
             Mel fez um lento gesto afirmativo com a cabeça e depois voltou a sua atenção para o lugar que logo se tornava conhecido aos seus olhos.
               Demoraram para chegar ao país e só agora tinham conseguido decolar, pois havia uma névoa que impedira que a decolagem tivesse sido feita antes.

              
            A casa da fazenda não fora o lugar escolhido para a inauguração da usina, mesmo assim havia grande movimento no lugar, pois era daí que as ordens estavam sendo dadas. 
                 Cristina e Virgínia estavam organizando tudo junto com Samantha. A agente decidira abrir mão do mundo de adrenalina e iniciara uma parceria com a Lacassangner. A fisioterapeuta também tinha decidido deixar a marinha, não aceitara mais ficar no lugar, ainda mais depois da saída da Mel. Tinha aberto uma clínica na cidade e trabalhava em sua profissão.
               – Samantha, eu irei junto com a Vi, vai demorar a chegar? Não esqueça que teremos muitos empresários interessados em fazer negócios.
                A Sheika estava terminando de se maquiar, mas ainda usava roupão preto, pois tinha acabado de sair do banho.
                  – Sigam na frente, encontrarei vocês depois.
                 – Não demore, por favor.
                A pirata foi apenas até a porta, fechando-a, mas antes esboçou um sorriso. Depois retornou até o espelho, fitando os próprios olhos.
             Tinha escolhido um vestido vermelho para aquela grande conquista. O modelo estava sobre a cama, todo passado e pronto para ser usado. Ele não tinha mangas, o decote alto formava uma espécie de "M" pontudo e se moldava em perfeição em seus seios. Na cintura tinha um cinto dourado que fazia par com os pares de luvas que chegavam até o cotovelo. O sapato também tinha sido escolhido para combinar com os acessórios. Alto e de bico fino.
             Terminou de pintar os lábios, depois soltou as madeixas que tinham sido trancadas perfeitamente em estilo boxeadora. 
                Começou a vestir-se devagar, tentando pensar apenas na grande conquista que tinha conseguido, mas seus pensamentos novamente seguiram para longe.
                Samantha cerrou os dentes em irritação.
                Não desejava mais pensar em Mel Santorini, tinha decidido bloquear suas lembranças quando passara tanto tempo sem ao menos receber uma ligação. De início entendera que ela precisava desse período, mas depois começara a se questionar por que não podia ficar ao lado dela e ajudá-la a superar tudo isso, afinal, se realmente se amavam, aquela seria a melhor forma para seguirem em frente.
                Abriu a gaveta do criado-mudo que ficava ao lado da cama e no fundo havia um papel amassado e já aborrotado. Aquele era o número e o nome do lugar que Belinda lhe passara para ir ao encontro da esposa, porém não foi, chegara a pensar que deveria ir, até mesmo planejara, mas depois desistira e jogara o papel ali.
             Soltou um longo suspiro.
             Fernando conseguira ganhar também aquela batalha, mesmo depois de morto. Conseguira separá-las. 
              No dia seguinte falaria com o advogado, o melhor seria encerrar de uma vez aquele suplício. O casamento não poderia prosseguir, mesmo que amasse cada dia mais a bela herdeira do duque.
              Ouviu mais uma vez batidas na porta.
             Levantando-se, seguiu para ver de quem se tratava agora, ao abrir deparou-se com a assistente que fora contratada. Era uma jovem que morava no povoado, era filha do banqueiro e era bastante dedicada e pronta para ser reconhecida pelos próprios méritos. Alessa tinha acabado de se formar em administração e era bastante competente em sua área. A jovem também tinha passado por um divórcio conturbado e por essa razão tinha ido viver naquele lugar com os pais. 
                – Perdão, senhora, mas o príncipe Ralf já chegou à usina, fui informada ainda pouco da presença.
              – Sim, ele tinha me confirmado, mas não precisa se preocupar, vou terminar de me arrumar e logo seguirei.
               – Posso ajudá-la, assim, pode terminar mais rápido.
                 Samantha sorriu.
                 – Não é necessário e se desejar já pode seguir até o local, eu partirei em seguida.
                – Não, se não for contrariar sua ordem, espero-a, não há problemas certo?
              A pirata cruzou os braços.
              – Acredito que sua beleza seria bastante útil para distrair a todos do meu atraso.
               A mulher corou diante do elogio.
               Alessa era realmente muito bela. Os cabelos eram curtos, chegavam a altura da nuca. Não era muito alta, chegava na altura dos ombros de Samantha, porém o corpo era bastante definido pelas horas que gostava de gastar na academia. Os olhos eram de um verde escuro, tinha um sinal minúsculo sobre o canto do lábio superior.
              – Não acredito que possa fazer tal coisa, então a esperarei lá embaixo.
             A sheika assentiu e mais uma vez fechou a porta ficando sozinha com suas lembranças.
              Sabendo que realmente já estava atrasada, decidiu se vestir. Livrou-se do roupão, enquanto pegava a minúscula calcinha de renda, começando a vestir, mas logo desistia, colocando apenas o tecido diáfano por baixo e depois colocando o vestido. Não demorou a estar pronta e gostou bastante do resultado que via no reflexo do espelho. Não podia discordar de ser uma mulher bonita, tinha realmente os traços marcantes dos Santorinis. 
               De repente, pensou em Sir Arthur. 
               O almirante tinha sido condenado por crimes contra a nação e destituído dos privilégios que gostava de se vangloriar de possuir. O militar nunca demonstrara nenhum tipo de arrependimento, apenas mostrando seu total desdém quanto a todos os fatos ocorridos. Talvez, ele apenas tenha se preocupado com a Mel, isso sim, ele demonstrara esse fato de acordo com a Miranda.
             Voltou a menear a cabeça para se livrar dos pensamentos que tinha que envolviam a esposa.
              Por que não conseguia se livrar das lembranças da tenente? Era como se estivesse presa em seu interior, presa em seus momentos, em sua vontade de continuar a seguir.
             Depois que tudo tinha terminado pensara em seguir para longe daquele lugar, mas não o fizera, ficara ali naquelas terras que fora tão perseguida.
               Pegou os óculos, limpava as lentes delicadamente, depois os colocou sobre o nariz arrebitado.
               Estava pronta!

           O helicóptero tinha pousado há pouco tempo e de lá, Mel e Miranda seguiram para a usina.
            A filha de Fernando tinha se vestido antes de seguirem para aquelas terras. Usava um vestido perolado que a Maldonado tinha levado para si. Fazia tempo que não usava aquele tipo de roupa, desde que fora embora, trocada todos os luxos por trajes simples e confortáveis, afinal, naquela época fazia muito calor naquela ilha.
             O jipe não demorou a chegar na entrada da usina e a Santorini ficou maravilhada com todas as melhorias que tinham sido feitas por ali. Viu logo na entrada o nome que a esposa sempre ostentava com orgulho: A víbora do mar.
               Sorriu ao ver que a mesma imagem que tinha no navio tinha sido reproduzida ali. Tinham sido plantados pinheiros em cada lado da estrada que também trazia gramas bem aparadas. As luzes de lead iluminava tudo com perfeição. Havia muitos carros estacionados na área que fora reservada para os visitantes.
               Assim que se aproximou viu Cristina vir ao seu encontro e logo era abraçada fortemente. 
               Mel tinha lágrimas nos olhos ao rever a grande amiga. Sentira muita falta da fisioterapeuta, dos seus conselhos malucos, das suas histórias que lhe distraiam das suas preocupações.
               – Que bom que a convenceu a vir, Miranda. – A fisioterapeuta dizia emocionada. – Nem vou te dar umas palmadas agora, mas logo vamos acertar nossas contas, rum.
As duas mulheres riram.
              – Não tive muito trabalho. – A agente falou. – E acredite, fui pronta para negociar e se não desse certo, havia cordas e algemas para trazê-la de todo jeito.
               – Você sabia também? – A ex-militar indagou. – Tive a impressão que essa ideia partiu de ti.
               Cristina piscou com um olhar travesso.
             Mel meneou a cabeça repreendendo-a com o olhar.
             Observou tudo ao redor. 
             Não demorou para ser cumprimentada por vários conhecidos que mostraram alegria em revê-la. Conversou por alguns segundos com algumas pessoas, depois o garçom passou com a bebida que fora produzida naquela usina e a jovem decidiu provar, sentindo o líquido descer queimando em sua garganta.
             Cristina gargalhou.
             – É tão forte quanto o temperamento da sheika. – Comentou. – Falando nisso, a poderosa pirata está no escritório. – Apontou para a grande construção. – Ela esteve com o príncipe Ralf ainda pouco, depois se trancou em sua caverna.
             – Ela não participou do evento? – Indagou mordiscando a lateral do lábio inferior.
               – Sim, esteve aqui até ainda pouco, mas depois se retirou, até agora não voltou. – Tocou-lhe o ombro. – Vá até lá, acho que já passaram muito tempo separadas.
             Mel bebeu mais um pouco.
            – Talvez não queira me ver… – Disse baixinho.
            – Bem, vocês são casadas, devem conversar e se você continua amando-a, lute por isso, lute por seu amor, amiga, lute…
             A Santoni fez um gesto afirmativo com a cabeça, seguindo por entre os convidados, andava com cuidado, pois ainda não estava totalmente recuperada do tiro que tinha recebido. Enquanto dava passos, sentia o coração acelerar, batia tão forte que precisou parar em determinado momento, pois pensara ter um ataque com a ansiedade de reencontra-la.
Alguns conhecidos foram até si, pareciam interessados em saber sobre sua vida. Tentou ser gentil, depois inventou uma desculpa e logo se afastava.
              Parou diante da porta e viu a esposa sentada em sua cadeira diante da escrivaninha.
               Como podia estar ainda mais bela?
              Observou a cabeça inclinada com o olhar perdido. 
               Quantas noites passara ansiando pelo abraço da Lacassangner? Como ainda tinha em sua lembrança o olhar ferido quando decidira que o melhor era partir. Não sabia se teria a mesma atitude agora, porém naquela época estava muito machucada, muito triste com tudo o que tinha acontecido com o pai, sobre as tristes revelações que ainda a assombravam. 
               Permaneceu ali, apenas observando e quando deu um passo, ouviu a voz rouca e impaciente.
           -- Já disse que descerei depois. – Disse Samantha sem levantar a cabeça.
            -- E vai demorar muito para descer?
            A sheika levantou a cabeça surpresa, imaginando se não estava imaginando coisas, mas a realidade era que a Santorini estava parada na porta e exibia um sorriso tímido. 
            Deixou o copo de lado.
            Observava a filha do duque e percebia que a distância e o tempo só a deixaram ainda mais bela. Analisou a roupa que parecia uma segunda pele no corpo bonito, observou que ainda usava a bota na perna para não se esforçar muito.
Fitou o copo e pensou se tinha bebido o suficiente para estar imaginando coisas.
             Fitou os olhos dourados e quase perdeu o fôlego em ver o brilho presente no olhar forte.
               – Espero que não se importe por eu ter vindo de penetra…–Mel falou com um sorriso, enquanto caminhava para o interior da sala. 
A voz baixa era verdadeira. Não estava devaneando, realmente tinha diante de si a mulher que a tinha abandonado.
             – Não achei que um convite a traria até aqui, minha senhora. – Apontou a cadeira para que ela se sentasse a sua frente. – Mas não acho que seja necessário um...
             A jovem sentou-se.
Olhava tudo ao redor. Viu o quadro grande que cobria grande parte da parede. Reconhecia o barco pintado a óleo. Observou os livros bem arrumados e a janela panorâmica que deixava ver o céu estrelado com a lua de fundo.
Observou os olhos azuis lhe examinarem com interesse.
              – Realmente… – Disse por fim. – Mas não sei se poderia me negar a vir prestigiar um momento tão importante em sua vida. 
            Samantha bebeu mais um pouco do líquido.
             – Espero que esteja bem…
             – Sim, estou…
             A Lacassangner fitou os lábios bem feitos e pensou em como se imaginara várias vezes tocando-os, como passava as noites acordada desejando a presença da amada.
              Continuavam a encarar-se como se buscassem algo, como se precisassem ver alguma coisa que ainda não estava presente.
               – Os convidados à espera, senhora…
              Alessa pareceu surpresa ao observar quem estava com a empresária no escritório. Conhecia a tenente Olívia, seu pai fora muitas vezes à casa de Sir Arthur com os pais. Sabiam que ambas eram casadas, mas não sabia o que tinha acontecido para que ambas tivessem se separados.
               Mel viu a antiga conhecida.
              – Como vai, Olívia? – A moça a cumprimentou.
              A ex-militar levantou-se e recebeu os cumprimentos da mulher, apertando-lhe a mão.
             – Não sabia que estava morando aqui.
             – Me divorciei há algum tempo e vim passar um tempo com os meus pais e foi quando me candidatei a vaga de assistente da senhora Lacassangner.
              Mel fitou a esposa e depois esboçou um sorriso para a mulher.
              – Fico feliz por isso.
              – Sim, terminei o curso de administração e ganhei essa oportunidade. – Fitou a chefe. – Bem, só vim avisar, mas já estou indo, espero não ter interrompido nada.
              – Não, Alessa, já estou indo até. – Levantou-se. – Vem comigo, tenente?
              Mel fez um gesto afirmativo, depois falou:
             – Se não se importa, ficarei um pouco aqui descansando, acho que forcei um pouco a minha perna, então vou continuar sentada aqui, depois encontro vocês.
             Alessa então seguiu, mas Samantha não fez o mesmo, foi até a esposa que já tinha sentado, então agachou.
                – Quer que a leve ao médico? – Indagou preocupada.
             A Santorini sentiu o toque da mão sedosa em sua perna e sentiu o desejo que parecia cada vez mais vivo em seu interior vibrar. 
              Sentiu a face corar só em se recordar das várias vezes que sonhara com os beijos e as carícias da Lacassangner.
              – Acho que eu quem sou a médica. – Disse sem jeito. – Mas não se preocupe, só preciso descansar um pouco… Pode ir até lá, há muita gente desejando te cumprimentar.
             Samantha fitou os lábios cheios e a face com as bochechas rosadas tão lindas. 
              Tocou-lhe o rosto.
              – Não há mais hematomas… – Usou o polegar para tocar no canto da boca que tinha sido cortado pelos inúmeros tapas que recebera de Juan.
               Ainda sentia raiva quando lembrava como o maldito fora cruel com a militar, como a machucara. Não haveria nenhum tipo de clemência com nenhum dos dois.
              – Não dói mais…pelo menos não o físico…
             A pirata fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois se levantou.
             – Eu irei até a comemoração, quando se sentir bem, venha ou se não se sentir, veremos o que devemos fazer.
              Mel assentiu e ficou lá, apenas quieta, ponderando sobre o que deveria fazer.
             Estava claro que Samantha não parecia muito acessível, mesmo sendo gentil, conseguiu ver a frieza em seu olhar e isso foi tão incômodo como quando fora embora.

               
     
           Samantha conversava com os empresários, porém sua cabeça só pensava na Santorini. Ainda não acreditava que ela estava ali, não acreditava que tinha retornado depois de tantos meses ausentes.
            Bebia um pouco, enquanto ouvia um dos comerciantes da região elogiando a bebida e dizendo que faria o triplo da compra daquela vez.
           – Estamos dispostos a exportar para fora… 
          A Lacassangner apenas fazia um gesto afirmativo com a cabeça, tendo seu olhar fixo na porta da usina, então a viu deixar o local.
            Observou-a pisar devagar e foi naquele momento que notou que ela não usava salto, mesmo assim não havia uma mulher naquele salão mais linda.
           Viu-a seguir até onde estava Cristina.
          – Parabéns, Lacassangner, você triunfou em seu projeto. – Miranda disse.
           A pirata recebeu um abraço da amiga.
          – Não sabia que tinha chegado. – A morena falou sorrindo. – Pensei que não estaria aqui, já que sua agenda é tão apertada.
           – Jamais deixaria de comparecer.
          Ambas seguiram até a mesa de churrasco, mas não sentaram.
            – E já viu a Santorini? – A Maldonado indagou, comendo um pedaço de carne.
             – Então foi sua ideia trazê-la para cá! – Meneou a cabeça exasperada.
            – Não gostou de vê-la?
            A empresária apenas deu de ombros.
            – Sabe muito bem que sempre achei que você deveria ter ido até a Mel, te dei o endereço, o telefone e você nunca a procurou.
          – Respeitei a vontade dela, foi o que ela escolheu e nada mais podia ser feito.
           Miranda revirou os olhos em irritação.
           – E agora? – Entregou-lhe um copo. – Veja, sua esposa é linda e é sua, então tente compensar o tempo perdido.
              Samantha bebeu todo o conteúdo, depois voltou sua atenção para os outros convidados.
     

           – Achei que você não viria. – Cris comentava.
            Elas tinham se acomodado em uma mesa. Estavam apenas as duas, pois Virgínia fora conversar com alguns clientes.
                – Não sei se fiz bem em vir. – Comentava pensativa. – Talvez a Samantha não tenha gostado de me ver.
              A fisioterapeuta meneou a cabeça negativamente.
              – Talvez ela esteja um pouco chateada com sua ausência, mas isso é normal, eu mesma fiquei muito triste com sua partida.
            – Eu precisava, você sabe como foi difícil para mim.
              – Sim, eu sei e sinto muito por tudo isso, Mel, porém agora precisa reassumir o seu papel de esposa, de mulher da Samantha.
              Os olhos dourados fitaram Alessa indo até a chefe, parecia bastante interessada na empresária.
                – Você conhece a assistente da Lacassangner? – A namorada de Virgínia indagou ao ver o interesse da amiga ao examinar a mulher.
                A ex-militar bebeu um pouco de suco.
                  – Sim, conheço-a, o pai frequentava a casa do meu avô, então tivemos algum contato…
                 Cristina sabia que a filha do duque era ciumenta e via em seu olhar as faíscas queimando, talvez devesse provocá-la, assim, ela pudesse reagir mais rápido.
                  – Ela é muito competente e bonita, a Vi me contou que é muito prestativa também…
                 – Bem, creio que isso faça parte da função dela… -- Falou incomodada. – Ou você acha que tem outros interesses?
A fisioterapeuta bebeu um pouco e só depois respondeu:
                  – Sim, claro…eu acho…faz parte da função...
                 Mel baixou os olhos para as mãos e ficou em silêncio. Não desejava ouvir mais nada sobre a secretária da esposa. Também não tinha nem mesmo como discutir ou exigir nada da parte da filha do Serpente, não depois de tudo o que tinha feito.
               De repente sua mente voltou há alguns meses, quando decidira que deveria ir embora.
           "Marina entrou em seu quarto assim que a Lacassangner tinha saído. A Santorini voltava do banheiro com os olhos inchados de tantas lágrimas que havia derramado. O pranto desesperado tinha retornado com bastante ímpeto, de forma tão assustadora que lhe sacudira por completo. 
              A babá correu para lhe ajudar a se acomodar na poltrona, ajudando-a a manter a perna sobre o encosto acolchoado.
             – Filha, estive agora com a sua esposa, disse-me que vai embora. – A mulher disse receosa, enquanto lhe entregava uma xícara de chá. – Por que quer ir para longe dos que te amam?
                A jovem não respondeu de imediato, continuou apenas em silêncio, olhava para o líquido dentro da peça de cerâmica e em sua ingenuidade ansiava para aquele líquido pudesse retirar parte da sua angústia.
                Não conseguia dormir, pois sua mente estava repleta de cenas horríveis, medos, culpas…
               Fitou a fiel empregada, via o olhar preocupado.
                 – Eu apenas preciso muito ir embora, Bá.
               – Mas e a pirata?
               – Ela vai sobreviver sem mim…– Umedeceu os lábios demoradamente. – Como posso ficar ao lado dela diante de todas as barbaridades cometidas por meu pai? – Indagou com a voz embargada. – Eu mesma não consigo nem mesmo olha-la nos olhos…
               Marina via a dor da jovem, sabia como estava destruída e como tinha se fechado em uma concha que poucos conseguiriam penetrar. Parecia até mesmo pior de que quando perdera a mãe.
                Ouviram batidas à porta e não demorou para a Lacassangner entrar.
                  A babá pediu licença, deixando as duas sozinhas.
                    A tenente observou a esposa por alguns segundos, mas depois desviou os olhos.
              – Falei com a Miranda, disse-me que pode ficar…
               – Eu não quero ficar com a Miranda! – Interrompeu-a. – Na verdade, eu mesma nem quero que você saiba onde estou.
             Samantha encarou-a.
             – Mel, eu entendo pelo o que você está passando, porém não pode simplesmente ir embora sem que eu saiba onde está, ainda mais que…
              – É a minha vontade e espero que respeite-a. – Interrompeu-a mais uma vez.
              A Lacassangner passou a mão nos cabelos, enquanto andava de um lado para o outro nos aposentos.
              – Não me ama mais? O que houve? – A pirata perguntava temerosa. – Eu fiz algo que te magoou? 
              A militar fez um gesto negativo com a cabeça.
              Devagar, apoiando-se nas muletas, a jovem levantou-se.
             – Não acho que depois de tudo o que meu pai te fez possamos ficar juntas, não acredito que isso vai dar certo…
              Samantha tentou se aproximar, mas foi repelida. 
            – Por favor, não me toque! – Dizia em lágrimas. – Eu imploro que me deixe, que não me procure…se me ama, me deixe em paz…
             Nos olhos azuis era possível ver o brilho de lágrimas. O maxilar forte enrijecido, parecia pronta para falar algo, mas mudou de ideia.
               – Farei a sua vontade, tenente, não irei procurá-la, deixarei-a em paz…não se preocupe…
                Mel a viu deixar os aposentos e mais uma vez entregou-se à dor, deitando-se na cama, tentava sufocar os soluços com o travesseiro."

           Já passava das duas da manhã, mesmo assim ainda havia muita gente. Samantha ficara um bom tempo conversando com os empresários, mas agora decidiu sentar-se à mesa que fora reservada para si. 
            Acomodou-se ao lado da Santorini.
            Virgínia, Cristina e Miranda contavam algumas anedotas e era possível ver o sorriso que brincava nos lábios da esposa.
             Ao cruzar as pernas, acabou roçando na coxa da militar, viu-a corar e sentiu um arrepio na nuca.
             Nem se passasse todos os anos deixaria de desejar aquela mulher. Parecia que havia um feitiço em seu corpo e em suas emoções que mesmo ainda estando muito ferida com as atitudes que foram tomadas pela filha do duque, ainda a queria para si.
           – E como é retornar? – Questionou à jovem, enquanto bebia mais um pouco.
             Mel fitou os olhos azuis e a boca tão bonita que passara tantas noites em claro lembrando como era delicioso toca-los.
              – Ainda não sei… – Falou sincera. – Creio que há um misto de emoções em meu interior que ainda não consegui decifrar.
               A empresária apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
               – E sua perna?
               – Está bem melhor, apenas não posso correr por um bom tempo… – Gracejou com um sorriso. – Mas não me faz muita falta…
             Novamente Samantha apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
             Permaneceram em silêncio, apenas fitando-se. Os outros presentes na mesa tinham deixado as duas sozinhas. Tudo parecia bastante animado para os convidados, ainda tinha crianças brincando e correndo, mesmo estando tão tarde.
               – Tudo está muito organizado e bonito…fiquei muito feliz por ter concretizado seu desejo…– Falou sincera.
               – A Alessa é bastante competente e cuidou da organização de tudo… – Bebeu mais um pouco. – Também me sinto bem por ter conseguido vencer esse desafio…afinal, quem daria crédito a uma pirata né? 
                 Mel a viu a mordiscar a lateral do lábio inferior e sentiu um impulso tão forte de beija-la, mas não o fez, sentia-a fria e não conseguia nem mesmo tentar um diálogo mais íntimo.
                – Tenho que resolver algumas coisas, aproveite tudo, nos veremos depois.


               Já passava das três da madrugada quando Mel seguiu para a sede da fazenda com Cristina. Samantha tinha ido deixar Alessa no povoado e não parecera se preocupar com a esposa.
                A Santorini entrou nos aposentos, estava mergulhado na penumbra.
                  Acendeu as luzes e viu que o lugar tinha passado por uma redecoração. 
                Talvez não devesse ter ido até ali, talvez devesse ter seguido para a própria fazenda.
                  Respirou fundo e sentiu o cheiro da esposa.
                 Caminhou devagar até a frente do espelho e já se livrava do vestido lentamente. Mirou os próprios olhos, estavam brilhantes em lágrimas.
                 Deixou as roupas e seguiu para o banheiro.

                 Samantha estava no quarto adjacente. Chegara e tomara banho, agora estava parada diante da janela, observando o céu que ainda estava escuro. Deixara a festa assim que se afastara da mesa onde a Santorini estava sentada. Sentia-se fraca quando estava próximo da esposa, como se não tivesse forças para resistir e toma-la para si.
          Amarrou o cordão do roupão e depois deixou o quarto, entrando no outro e foi quando viu o vestido na chão. Agachou-se, pegando-o, sentiu o aroma e isso foi suficiente para atiçar todos os seus desejos novamente.
              Ouviu o som do chuveiro e caminhou até o banheiro que estava com a porta aberta. Viu a filha do duque sob a ducha, estava de costas para si, a cabeça inclinada para trás.
              Permaneceu lá parada por algum tempo, apenas apreciando a beleza daquela mulher que a machucara tanto.
           Sentia uma vontade de ir até ela, sentir o sabor…
            Tremia de tanta ânsia…
            Mas acabou se afastando.
            Mel sentiu que alguém a observava e sabia bem quem podia ser, pois sentiu um arrepio na nuca ao se virar, mas não havia ninguém.
             Desligando a água, pegou a toalha, usando-a para prender ao redor do corpo. Depois saiu do banheiro e encontrou a empresária no meio do quarto. Observou que usava um roupão, então devia ter chegado há algum tempo.
           – Desculpe ter ficado no quarto principal, mas todo mundo já estava dormindo.
              Samantha cruzou os braços sobre os seios.
                – É o nosso quarto, então não há problemas. – Disse por fim.
               A filha de Fernando mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, enquanto na penumbra, fitava a filha do Serpente. Tinha tantas coisas para dizer depois de todo esse  tempo, mas havia algo em sua garganta, algo que prendia suas palavras. Estava enciumada e desejosa da mulher que ali estava.
                 – Pensei que demoraria mais em levar a sua secretária em casa…
                  A Lacassangner deu de ombros.
                  – Não se preocupe com a Alessa. – Seguiu até o banheiro.
            Mel permaneceu no mesmo lugar, parecia ansiosa, enquanto esperava, levou a unha do polegar à boca e começou a mordiscar como era de costume.
               Alguns minutos se passaram e logo sua amada retornou com uma camisola de seda vermelha que mal cobria as coxas bem feitas.
                 – Tem algum problema, parece preocupada. – Samantha indagou, aproximando-se. – Está sentindo algo?
A tenente sentia o cheiro de creme dental e o aroma da bebida.
                 – Acho que devemos conversar…
                 – Nesse momento a única coisa que quero é dormir, estou um pouco cansada. – Caminhou até o leito, acomodando-se. – Acho melhor que faça o mesmo.
Mel suspirou exasperada, apenas observando a mulher.
                 – Não sei onde está a minha mala, espero que não se importe se eu dormir com pouca roupa. – Livrou-se da toalha. – Na verdade, sem nada.
               A pirata fitou o corpo totalmente nu e sentiu suas células todas reagirem. Uma incômoda dor abaixo do ventre, enquanto os mamilos ficavam tão doloridos, como se implorassem pelo toque. Sua maior fraqueza continuava sendo a filha de Fernando e depois de todos aqueles meses, sentia o desejo aumentar.
                Fechou os olhos, enquanto a via deitar ao seu lado e sentiu o cheiro da jovem invadir seus sentidos.
                 Permaneceu quieta durante alguns segundos, depois se virou de lado para fitar a militar.
                Mel a encarava.
                – Você não deveria se comportar desse jeito… – A pirata advertiu-a. – Sabe que não é uma boa forma para agir.
                – Não tenho culpa se não tenho roupa…e como já está tarde, não quis procurar...Se está incomodada veja se acha algo para que eu vista.
                Samantha observava os seios desnudos, depois encarou os olhos dourados. Sentia que bebera mais que o suficiente e isso a deixava ainda mais ansiosa e excitada.
                   Segurou-lhe o pulso, trazendo-a para mais perto de si.
                 – Incomoda a minha nudez? – A Santorini indagou com o rosto bem próximo da esposa. – O que a deixa tão perturbada? É ruim não é quando estamos irritados, mas nosso corpo vai contra nossa vontade...
              A pirata encarou-a durante alguns segundos, parecia enfeitiçada por aquele olhar que denotava ao mesmo tempo força e receio.
             Levantou-se, seguindo até a janela, ficou parada lá, observava o céu claro pela lua cheia, tudo estava tão lindo.
                Mel virou de costas, sentia-se ansiosa.
                – Samantha, precisamos falar…Eu preciso que me escute…
               A pirata foi até ela, segurando-a mais uma vez pelo pulso, fê-la levantar, depois a empurrou contra a parede.
               – Nesse momento eu só quero uma coisa, Santorini.
             As bocas se encontraram em um misto de saudades e raiva. Sentiam urgência do contato.
             As línguas travaram uma batalha para ver quem dominaria o carinho, mas logo ambas venciam e se deliciavam com as investidas que recebiam. 
            Mel chupava de forma impetuosa, arrancando sons guturais da garganta da esposa. Afastou as pernas, pois já sentia os dedos procurando sua intimidade. Estava tão molhada que a sentia escorregar. Tomou-lhe a mão atrevida, e cessando o beijo, passou a lamber o indicador que já buscara seu sexo. Lambia diante do olhar feminino e guloso.
Os olhos azuis brilhavam diante da imagem.
Segurou-lhe os cabelos, e mais uma vez a trouxe-a para bem perto de si.
-- Apenas sinta e me deixe te sentir... – Sussurrou. – Quero apenas me perder no fogo que queima em meu interior...
-- Faça o que quiser de mim, pirata, sou sua... – Baixou as alças finas da camisola, expondo os montes redondos da esposa. – Sou sua... – Usava os polegares para acariciar os mamilos que se mostravam muito enrijecidos. 
Samantha semicerrou os olhos, enquanto sentia o desejo aumentar mais e mais diante do toque delicado.
Não demorou para estar totalmente nua.
Mel segurou-lhe as mãos, entrelaçando-as e mais uma vez as bocas se uniram dessa vez com mais paciência. Os corpos colados pareciam reconhecer seus lugares, como se nunca tivessem se separado, mas também com o desespero de tanto tempo distante.
Lentamente seguiram até o leito e em meio a tantos gemidos de prazer, perderam-se na imensa paixão e no amor que as uniam desde tempos imemoriais.


Já passava das dez da manhã na fazenda da Víbora do mar. O dia fora dado para descanso dos empregados, depois da grande festa de inauguração da usina de Samantha.
Eliah passava um café para Marina que ocupava a mesa da cozinha tendo Sorte no seu colo.
-- Fico tão feliz que tenham retornado –dizia o homem – a Sam sofreu muito com a viagem da menina Santorini.
-- Eu imagino...fiquei em êxtase quando a dona Miranda chegou lá para nos buscar...Agora vamos torcer para que ambas se entendam de uma vez por todas, afinal, não há nada mais em seus caminhos...
O velho pirata fez um gesto afirmativo, enquanto bebia o líquido fumegante.
  -- Vamos até o pátio, quero lhe mostrar minha plantação de ervas.

Samantha abriu os olhos e viu os dourados a lhe fitar. Por alguns segundos chegou a pensar que estava sonhando como ocorrera tantas vezes naqueles meses, mas ao sentir o toque delicado dos lábios rosados nos seus, recordou-se de como tivera uma noite maravilhosa.
             Ficou ali, apenas observando-a, fascinado pela beleza da esposa.
Depois de longos segundos a se olhar, Mel falou com voz baixa:
-- Me perdoa por ter ido embora...sei que...—Hesitou . – Sei que fui covarde e cruel ao partir...mas eu estava tão ferida, havia tanta dor dentro de mim...
A Lacassangner viu uma lágrima rolar na face da jovem.
-- Era como se tudo de ruim que o meu pai tinha feito me sufocasse de um jeito que eu não conseguia mais raciocinar, não conseguia pensar em nada... – Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente. – Havia tanta treva dentro de mim que temi que isso te destruísse...então fiz a única coisa que imaginei que me ajudaria...
-- E ajudou? – A pirata indagou, enquanto lhe secava as lágrimas com o polegar. – Não posso negar que senti muita raiva...Pensei que superaríamos tudo juntas...que nosso amor seria suficiente...Mil vezes por dia, pensava em ir até onde você estava, outras mil vezes eu pensava em acabar com nosso casamento...Mil vezes eu sonhava com seu toque...com seus beijos. – Passou a mão nos cabelos. – Eu tive a impressão que enlouqueceria.
Permaneceram em silêncio durante alguns segundos, apenas olhando-se. Era possível ver o temor na face da tenente, pois mesmo que tivessem se entregado ao desejo que sentia durante horas, a relação de ambas não podia se resumir apenas ao sexo, havia muito mais entre ambas. Conseguia ver nos olhos azuis a dor que sua ausência causara.
-- Eu te entendo... – Disse baixinho. – E vou entender se não me desejar mais ao seu lado, mesmo que isso me doa muito...
-- E vai partir de novo se eu disse que não te perdoo?
A Santorini fez um gesto negativo com a cabeça.
-- Não, ficarei e lutarei dia após dia para que em algum momento possa me perdoar e me aceite novamente como sua mulher...como sua esposa...Nem que eu tenha que esperar mil anos para isso... – Segurou-lhe a mão. – Eu te amo, Samantha, eu te amo mais que tudo nesse mundo...fui uma tola em partir...não posso mudar o passado, mas posso mudar o presente...
Um sorriso brotou no canto dos lábios da pirata.
-- Então fique e me prove que nosso amor será suficiente dessa vez...Me faça acreditar mais uma vez...
Mel fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Provarei...

Na manhã seguinte, Mel seguiu até o povoado junto com Cristina. Seguiram até uma sorveteria, sentando-se em uma das mesas da calçada.
-- E como está sua reconciliação com a toda poderosa? – A fisioterapeuta indagou, enquanto provava da iguaria. 
A Santorini olhava as crianças brincando de amarelinha, depois fitou a amiga.
-- Bem, ela não me expulsou da fazenda...Isso já é um ponto positivo. – Dizia pensativa.
-- Bem, eu acredito que logo tudo vai se resolver... – Encarou a amiga. – Seduza mais uma vez...
Mel sentiu a face corar.
Na noite anterior não voltaram a transar. Samantha ocupara o quarto adjacente, talvez ela soubesse que se ficassem no mesmo aposento acabariam por não resistir e voltariam a se tocar.
-- Eu disse que provaria que nosso amor seria suficiente e vou provar...mas não desse jeito... – Comeu um cereja. – Eu sei que ela também me ama, então vou esperar...
-- Você parece a sua gata, toda preguiçosa...
A Santorini riu.
-- A Sorte está me fazendo companhia na, enquanto minha esposa ocupa outra cama...
-- Eu vou até a usina, quero falar com a Vi, vamos comigo?
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.


Samantha tinha seguido pela usina para inspecionar o trabalho dos funcionários. Havia muitos pedidos para serem entregues e precisava acompanhar para que tudo estivesse pronto no tempo acordado.
Depois, seguiu até o escritório tendo Alessa ao seu lado.
Acomodou-se na cadeira de couro diante do computador que estava ligado.
-- Já enviei todos os relatórios enviados pela auditoria. – A secretária disse. – Vou expor os dados.
A pirata fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Ouvia a voz da mulher, mas seus pensamentos não pareciam muito concentrados no que estava sendo dito.
Fitou o relógio, pensando a hora que retornaria para a casa e voltaria a ver a linda Santorini.
Mesmo que tenha decidido que o melhor era esperar um pouco antes de decidir se realmente deveria reatar o casamento, vivia em constante ansiedade para encontrar a filha de Fernando. Também achara melhor não dividirem o quarto, pois sabia que seu corpo não obedecia a sua cabeça quando se tratava da tenente, enlouquecia de desejo muito rápido e depois não havia como voltar atrás.
Ainda estava magoada por ela ter partido, porém sabia que a jovem passara por momentos terríveis, não saberia se poderia ter tido um comportamento diferente. O duque fora muito cruel, tão cruel que deixara sequelas que talvez não desaparecesse tão fácil assim.
-- Tudo bem, senhora?
A voz da secretária soou insistente.
-- Eu estava...Sim, eu me distraí, repita por favor.
-- A dona Virgínia se reuniu mais cedo com os empresários europeus e conseguiu fechar a venda.
-- Isso é ótimo! – Disse, levantando-se e seguindo até a janela panorâmica e foi quando viu Mel encostada no jipe de Cristina. – A Cris está na usina? – Indagou sem se voltar para a secretária.
-- Sim, chegou ainda pouco acompanhada da sua esposa.
A Lacassangner suspirou, enquanto continuava a fitar a bela militar que parecia distraída.
-- Depois terminamos o que estamos fazendo. – Pegou a jaqueta de couro vermelha. – Preciso resolver algo.
Alessa apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.


Mel observava os trabalhadores.
Nem parecia que há algum tempo ninguém aceitava trabalhar para a filha do Serpente. 
Recordava-se de quando a bela morena chegara àquele lugar, dos encontros que tiveram, das discussões.
Tirou amendoins do bolso da calça. Tinha ganhado de uma senhora no povoado que conhecia sua família. Encontrara muitos conhecidos e tinha visto como alguns comentavam baixinho, decerto sobre tudo que tinha acontecido e das barbaridades que o duque tinha feito.
Comia distraída quando ouviu passos e ao levantar a cabeça viu a Lacassangner a lhe fitar.
Observou-a em suas roupas estilosas. A calça jeans de tecido rústico era bem justa, usava camisa de botões branca e jaqueta de couro vermelho. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e tinha os óculos dourados a descansar sobre o nariz arrebitado.
-- Que surpresa vê-la aqui. – Samantha comentou ao fita-la.
A Santorini engoliu a leguminosa e só depois respondeu:
-- A Cris me chamou para vir aqui, estávamos no povoado e ela disse que precisava ver a Virgínia...disse que não demoraria, mas já faz um tempo que entrou e até agora não voltou.
Samantha colocou as mãos nos bolsos da calça, assim ocupava as mãos e não limpava o canto dos lábios rosados que traziam resquícios de amendoins.
-- As visitas da Cristina aqui nunca são rápidas. – Riu. – Estou voltando para casa, se quiser, te dou uma carona.
Mel continuava comer, então estendeu a mão para a pirata.
-- Aceita?
-- Acho que não...são muito afrodisíacos para a minha condição...
De início a Santorini não pareceu entender, mas depois corou ao se recordar de que já tinha ouvido falar sobre as propriedades de estimulante sexual que tinha as leguminosas que ganhara.
-- E então, vem comigo?
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça e seguiu ao lado da esposa até o veículo.


-- Você sabia que a pirata não resistiria ao ver a tenente...
Virgínia e Cristina estavam no escritório e observaram o encontro entre as duas mulheres. Agora a ex-agente estava sentada na cadeira com a namorada em seu colo.
-- Claro que sim...Ou acha que traria a Mel aqui por nada.
-- E como as duas estão? Ainda não se entenderam?
-- Não vai demorar...A Samantha é louca pela minha amiga, apenas está magoada pelo o que houve, porém logo estarão unidas e dessa vez nada irá separá-las.
-- E quando isso acontecer vamos nos casar, certo? – Virgínia lhe beijou a ponta do nariz.
-- Sim, assim que elas se entenderem, casaremos, foi isso que concordamos.


Já estava escurecendo quando o veículo chegou à fazenda da Víbora.
O trajeto tinha sido feito entre conversas entre as duas mulheres. Falavam de coisas triviais e Mel também falara sobre os planos de montar um consultório no povoado e trabalhar por ali.
A Santorini já se preparava para sair do carro, mas Samantha lhe segurou a mão.
Os olhares se encontraram.
-- Jante comigo hoje... – A Lacassagner falou. – Não com todo mundo, mas apenas nós duas. 
O coração da filha do duque batia acelerado.
-- Pedirei que montem a mesa na área da piscina...às oito te encontro lá.
Antes que Mel pudesse responder, Samantha deixou-a sozinha.

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