A víbora do mar - Capítulo 41 - Em busca das provas.


            Os primeiros raios de sol já tinham surgido há um bom tempo. Havia poucas nuvens escuras, sinal que o dia seria bastante iluminado. As ruas estavam vazias. Talvez muitos ainda estivessem dormindo, enquanto outros indo para a cama naquele momento.

            Um vento movimentou as persianas dos aposentos da sheika.

            Mel abriu os olhos. Tudo ainda estava mergulhado na penumbra. Sentia o corpo da esposa a moldar-se às suas costas. O braço circundava a sua cintura. Sentia a respiração lenta sobre seu pescoço.

            Soltou um suspiro de satisfação.

            Passaram toda a noite amando-se.

            Olhando para o relógio que repousava sobre a cabaceira da cama via que passava das nove horas.

            Fazendo os cálculos, não tinha dormido nem três horas.

            Esboçou um sorriso ao ver as roupas espalhadas pelo chão. Marina ficaria arrasada se visse algo assim, afinal, de acordo com ela, as roupas usadas na ceia de Natal deviam ser guardadas dobradinhas. Como podia ter pensado em algo assim quando se estava embriagada de tanto prazer? Quando sentia os beijos da filha da Iraçabeth pouco ou quase nada conseguia raciocinar, apenas desejando mais e mais.

            Cristina esteve certa o tempo todo. Bastava fazer um mínimo esforço e logo teria a apaixonada pirata para si como seu coração ansiava.

            Acariciou a mão de dedos bonitos, depois segurou-a, beijando-a. Ouviu a esposa resmungar e achou engraçado. Ainda sentia um arrepio na nuca ao se recordar de cada toque recebido, de como a Lacassangner sabia satisfazer os anseios do seu corpo. Permitira que a bela mulher lhe tocasse da forma que desejasse, pois a única coisa que lhe importava era o prazer que ambas sentiam. Em alguns momentos, confessava, que ficara um pouco chocada com algumas práticas, mas elas se mostraram tão excitante ou até mais do que tinham compartilhado em outros momentos.

            Ouviu passos parando diante da porta. Prendeu a respiração por alguns segundos.

            Puxou o cobertor temendo que algum dos empregados entrassem, então ouviu a voz da sua babá dizendo para não entrarem nos aposentos. Podia ter colocado a placa do não perturbe, assim não correria o risco de ser pega em uma situação como aquela. Olhou mais uma vez para o estado de bagunça que se encontrava o quarto, não lembrando de ter feito nem a metade de tudo aquilo.

            Devagar, virou-se, desejando poder ver a face bonita da amada.

            Os lábios rosados e cheios estavam entreabertos. Alguns fios de cabelos caiam sobre seu rosto.

            “Amo você, pirata.”

            Sim, amava-a tanto que temia sufocar-se com esse sentimento tão intenso.

            Olhando-a, recordava-se de quando a teve em seu quarto quando fora ferida pelos homens do seu avô. Lembrava-se de ter sentindo o coração acelerar várias vezes ao olhá-la. Tinha se apaixonado por aquela mulher naquela época?

            Viu a cicatriz que ela ainda trazia no lugar onde tinha penetrado o projetil. Penetrara os dedos para livrá-la da mortal bala.

            Mesmo quando ouvia o duque discursar sobre o ódio que deveria sentir pelo Serpente e por sua filha, havia algo dentro de si que parecia negar-se a ouvir o que o pai lhe dizia, parecia sempre pronto para revoltar-se e mergulhar na imagem daqueles olhos tão azuis.

            Às vezes, sentia-se mal pela forma que tinha agido, pelo modo que tratara Samantha, mas sabia que tinha sido vítima das mentiras que foram contadas por tantos anos.

            Umedeceu os lábios demoradamente.

            Sabia que tinha sido responsável pela forma que muitas pessoas tinham tratado a Lacassangner e chegava a ser assustador imaginar que seus atos pudessem ter ferido a mulher que amava.

            Voltou a olhar o relógio.

            Precisa sair da cama, tinha que tomar um banho e ir até o hospital para visitar ao avô.

            Sir Arthur continuava a se recusar a ter qualquer tipo de proximidade com a verdadeira neta. Irritava aquela postura do almirante, ainda mais sabendo que Samantha era filha de Iraçabeth, sua única legítima herdeira. Será que quando ele olhava para a Lacassagner ele não conseguia enxergar a imagem da jovem que era seu próprio sangue? Muitas vezes ponderava sobre aquilo e não conseguia entender essa postura que o militar tinha decidido adotar para si. Agia de forma tão cruel que nem mesmo podia enxergar o homem amoroso que sempre esteve ao seu lado em todos os momentos.

            Encostou os lábios bem de leve no da esposa, depois saiu do leito.

            Uma fresta de luz entrava por uma pequena abertura na persiana. Pegou um dos lençóis que estavam caídos no chão, enrolando-o em seu corpo para cobrir a nudez. Depois saiu juntando as roupas, levando-as para o banheiro onde tinha um cesto. Seguiu até o box, abrindo-o, ligou a ducha, deixando que a água fria relaxasse seus músculos. Inclinou a cabeça para cima, deixando que o líquido deslizasse por toda a pele, sentindo arrepios nos seios que se mostravam bastantes sensíveis pelos incontáveis toques. Inclinou a cabeça e viu os mamilos eriçados. Estavam doloridos.

 

 

            Samantha ouviu um barulho, lentamente abriu os olhos. Sentia-se exausta

            Estendeu o braço para o lado, mas não havia ninguém ali. Tateou a cama e soltou um suspiro de decepção.

            Teria sonhado?

            Pegou o travesseiro e sentiu o cheiro do perfume da tenente. Então, tudo fora mais que real, fora verdade que tivera a bela Santorini nos braços por toda a noite. Olhou os aposentos em busca da mulher, mas não a viu, tampouco as roupas que sabia que estavam empilhadas no chão estavam lá.

            Um sorriso se desenhou em sua boca.

            Nunca se sentira tão feliz como quando ouvia sair dos lábios apaixonados da militar que a amava. Era como se a luz voltasse a brilhar dentro de si, pois seu amor era ainda maior.

            Sentou-se. Então apurando os ouvidos, descobriu que havia alguém tomando banho.

            Levantou-se e seguiu até lá.

            Viu-a sob a água e não fez nenhum barulho para não denunciar sua presença. Queria apenas admirá-la, vê-la ali como sempre quisera, sem guerra, sem mentiras, sem as malditas invenções do duque.

            Devagar seguiu até onde ela estava.

            A Santorini soltou um grito de susto e logo virava para encarar a esposa.

            -- Pensei que estivesse dormindo... – Disse, enquanto recebia de bom grado um beijo. – Não quis te acordar, por isso não te chamei, tenho que ir ao hospital.

            Samantha diminuiu o fluxo da ducha.

            -- Posso acompanha-la, senhora Lacassangner?

            Os olhos dourados fitaram os azuis.

            -- Senhora Lacassangner? – Indagou com um arquear de sobrancelha. – Gosto do seu sobrenome, na verdade também do seu nome, combina com a sua personalidade...É gostoso de pronunciar...

            -- Isso está sendo dito por alguém que se chama “Mel”... – Caçoou.

            A Santorini já abria a boca para falar, mas teve os lábios esmagados por outros muito mais macios.

            Abraçou-a pelo pescoço, sentindo a carícia em sua cintura, depois seguir pela lateral dos seus seios.

            Sufocou um gemido quando sentiu os polegares lhe incitando os mamilos, deixando-os excitados e deliciosamente doloridos.

            Sentia as mãos deslizarem por suas nádegas, apertando-as para que se comprimisse mais em seu corpo. Esfregou-se a ela, sentindo a coxa entre suas pernas.

            A excitação poderosa começava a lhe fazer perder o raciocínio, ainda mais quando os dedos longos iniciavam carinhos na sua parte delicada.

            -- Está doendo? – Samantha questionou em seu ouvido.

            -- Um pouco sensível...

            -- Então preciso tocar devagar... – Falava, enquanto massageava lentamente seu sexo. – Ontem a machuquei? Fui muito ousada?

            O rosto da militar ficou ruborizado ao ser recordar da forma que foi tomada ao amanhecer quando já estava quase cochilando.

            -- Não, mas fiquei um pouco surpresa... – Encarou os olhos azuis. – Mesmo assim eu gostei, senti que meu corpo tinha sido sacudido tão forte e depois relaxado.

            A filha do Serpente lhe acariciou a face.

            -- Você é tão linda, tenente, me enlouquece...

            Mel voltou a sentir o toque em sua intimidade, seus olhos estreitaram-se, enquanto começava a perder as forças. Não podia permitir que Samantha continuasse, mesmo que assim desejasse, estava atrasada para ir ao hospital.

            -- Eu não posso...não posso me demorar... – Dizia com dificuldades ao sentir o toque se aprofundar. – Estou atrasada... – Deteve-lhe o movimento. – Não agora. – Falou encarando-a seriamente. – Preciso ir ao hospital.

            -- Não pode ir à tarde? – Depositou um beijo em seu pescoço. – Não custa nada.

            -- Não, amor, tenho que ir...Se quiser pode vir comigo.

            -- Acho lindo quando me chama de “amor”. – Falou sorrindo. – Eu irei contigo até lá sim...Só não entrarei no quarto... – Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Podemos depois passar o dia juntinhas?

            Um sorriso travesso se desenhava no rosto da filha do duque.

            -- Se não tiver más intenções de sua parte, podemos sim.

            -- Más intenções? – Ergueu a sobrancelha demonstrando incredulidade. – Eu nunca tenho más intenções, só boas...Ou ontem eu tive atitudes ruins? – Acariciou o seio esquerdo da esposa.

            -- Foram ótimas, mas não vamos nos alongar ou não sairemos daqui e ainda por cima estamos estragando um precioso líquido...

            Samantha riu e voltou a lhe beijar.

 

            No hospital, Sir Arthur tinha se negado a receber a visita do duque. Falara com o ex-genro por telefone e fora informado dos últimos passos do pai de Mel.

            Seguiu devagar até a poltrona, sentando-se.

            Fernando não sossegaria enquanto não tivesse em suas mãos a filha de Iraçabeth. O homem colocara tudo a perder por essa maldita obsessão, como se não bastasse ter que lidar com a herdeira do Serpente.

            Se Samantha tivesse permanecido com a esposa nunca teria retornado ao país, tudo estaria bem, Mel teria casado com o noivo e hoje tudo estaria na mais perfeita paz, porém o Del Santorra agira como um animal que sempre fora. Às vezes entendia o motivo das duas filhas terem tentado a todo custo fugir do aristocrata.

            Fitou o anel que levava em seu dedo. Tinha o brasão de sua respeitável família que foram responsáveis por fundar aquela cidade.

            Não poderia permitir que todo o prestígio que tinha fosse jogado mais uma vez na lama como fizera sua única filha. Teria que arrumar um jeito de deter o duque, de tentar manda-lo parabém longe o mais rápido possível. Essa seria uma boa solução para tudo o que estava acontecendo.

            A enfermeira apareceu, trazia uma bandeja com suco, bolachas e bolos. Colocou-se sobre a mesinha de centro.

            -- Bom dia, senhor, almirante Ernesto deseja lhe falar. Posso permitir sua entrada?

            Sir Arthur ponderava o que o homem queria naquele momento. O militar era seu amigo de longas datas, mas tinham se distanciados depois dos acontecimentos que ele reprovara.

            Fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            Depois de alguns segundos o almirante entrou.

            O velho aproximou-se do Santorini, cumprimentando-o com um aperto de mão.

            -- Sente-se, amigo, não posso lhe oferecer um café, mas quando retornar para a minha casa, convidarei para um almoço.

            O almirante assentiu, puxando uma cadeira, acomodando-se.

            -- Ontem liguei para Mel e me disse que você já podia receber visitas...Não sei se ficou sabendo que o Del Santorra tinha entrado com uma ordem que proibia a tenente de vir até aqui...e também qualquer outra pessoa.

            Sir Arthur fez apenas um gesto afirmativo.

            -- Mas me fale, Ernesto, o que te trouxe aqui?

            O militar comprimiu os lábios e depois de alguns segundos disse:

            -- A justiça internacional está investigando os atos praticados contra o Serpente do mar, todos os militares que estiveram em ativa na época serão ouvidos.

            -- Não vejo problemas quanto a isso, ainda mais se levarmos em conta que todos agiram para defender a nossa amada pátria de um bandido.

            -- Sabemos que esse discurso logo vai cair, afinal, pelo o que foi apurado houve um assassinato quando o homem estava tentando se entregar...Eu estava servindo fora do país na época, mesmo assim terei que apresentar todos os fatos que foram documentados.

            Sir Arthur pegou a bengala, levantando-se. Era possível ver o desagrado em sua face enrugada.

            -- E você acha que tenho medo do tribunal internacional? – Questionou irritado. – Tudo o que fiz foi dentro da lei, então ninguém vai me amedrontar. – Apontou-lhe a bengala. – Otávio era um maldito fora da lei, cometeu sérios crimes, crimes que lhe renderiam uma morte cruel. Um militar que decidiu entrar para a pirataria merece um enforcamento.

            -- Mesmo que tente justificar os atos assim, sabe que não havia um julgamento, ninguém podia simplesmente ir lá e metralhá-lo como aconteceu. – Retrucou calmamente. – Percebo que continua com as mesmas ideias, mesmo depois de tudo o que aconteceu, mesmo depois de tudo o que o duque fez, nada mudou no orgulhoso Arthur Santorini.

            -- Toda a desgraça da minha família veio por culpa do maldito Lacassagner, se ele não tivesse colocado os olhos na minha filha, nada disso teria acontecido.

            -- Se o você tivesse permitido que sua filha escolhesse com quem desejava casar, nada disso teria acontecido. – Corrigiu-o. – Iraçabeth amava Otávio, era possível ver a tristeza que ela sentia quando casou com o Fernando e convenhamos, nunca acreditei que ele a amasse, pois sempre conservara seus casos, mesmo estando comprometido...Sem mencionarmos que a espancava.

            Arthur passou a mão pelos cabelos.

            -- Ela estava grávida de outro, o que queria que ele fizesse?

            -- Está justificando a violência que sua filha sofreu? – Meneou a cabeça. – Pelo amor de Deus, Arthur, a Beth nunca mereceu isso, ela merecia ser feliz... E não bastou a desgraça de ter entregue uma das herdeiras, fez o mesmo com a Marie...Condenou-a a viver ao lado de um monstro. – Alterou um pouco o tom de voz. – Só não fez o mesmo com a Mel porque ela não se permite ser manipulada.

            O Santorini enrijeceu o maxilar.

            Sim, a querida e amada neta Olívia sempre tivera um temperamento forte, pois se fosse diferente, teria casado com o noivo quando ainda estava se recuperando do acidente que tinha sofrido com a explosão do navio. Ela era diferente de Marie, em parte tinha a mesma convicção de Fernando, a mesma força para não baixar a cabeça diante das ameaças. Isso que lhe preocupava naquele momento, pois sabia que se ela tinha decidido ficar ao lado da Samantha, nada, nem ninguém lhe convenceria do contrário, exceto se essa fosse sua própria vontade.

            -- Não sei se também está sabendo, mas a tenente pediu afastamento da marinha.

            Os olhos claros do almirante ficaram surpresos diante do que ouvia.

            -- Como assim? Ela é maravilhosa em sua função, sem falar que não demoraria para subir de patente.

            -- Sim, eu sei, eu mesmo falei com sua neta, mas ela parece segura da decisão...Acredito que esteja cansada e decepcionada com a instituição depois de descobrir toda a verdade sobre o ocorrido. Convenhamos, as mentiras foram muitas.

            -- Também houve verdades, ela mesma fez um trabalho excelente em conseguir desestruturar vários bandos de piratas que viviam a atacar os mercantes e cruzeiros.

            -- Sim, isso é verdade, porém sabemos que ela tinha um alvo... – Esboçou um sorriso. – Engraçado como a Mel se apaixonou exatamente pela mulher que vocês a ensinaram odiar durante toda a vida, é como se fosse a retribuição que o universo deu a todos.

            -- A maldita pirata também fez o mesmo papel que o pai, veio ao mundo para desgraçar meu nome e minha família.

            Ernesto parecia cada vez mais decepcionado.

            -- O meu maior arrependimento foi ter acatado o seu pedido e não ter contado a todos quem era na verdade Samantha Lacassagner...Outra coisa que nunca me perdoarei é ter mantido em total sigilo a prisão da filha do Serpente. – Levantou-se. – Uma pena que mesmo tendo chegado tão perto da morte nada tenha mudado, continua agindo de forma cruel e destrutiva, espero que quando perceba o que fez não seja tarde.

            Ouviram batidas na porta e não demorou para a jovem Santorini aparecesse com um enorme sorriso. Ela cumprimentou Ernesto e depois fez o mesmo com o avô.

            -- Estão em reunião? – Indagou fitando os dois homens. – Tudo bem? – Perguntou ao notar o clima pesado.

            -- Não, querida, vim apenas visitar o seu avô, mas já me demorei bastante. – Estendeu a mão para o amigo. – Nos encontraremos em outra ocasião. Melhoras!

            Depois de se despedir também da tenente, deixou o quarto.

            -- Que bom que está recebendo visitas, vovô. – Falou sentando na poltrona. – E como foi a sua noite?

            O almirante voltou a se acomodar ao lado da jovem.

            -- Dormi cedo, não é algo bom passar o Natal em um lugar como esse. – Fez uma expressão desdenhosa.

            -- Pois tenho uma ótima notícia, falei com o médico e ele disse que amanhã mesmo vai reavaliar seu caso e talvez passe o ano novo em casa.

            Ele não pereceu tão entusiasmado como imaginara que ficaria.

            -- Imagino que esteve com seu pai... – Ele falou tranquilamente. – Sempre é assim que funciona.

            Os olhos dourados pareceram entristecer naquele momento.

            Ainda se sentia mal por não ter podido nem mesmo falar com Fernando. Tentara mesmo ligar antes de ir ao hospital, mas sua chamada fora rejeitada.

            -- Infelizmente não. – Disse mordiscando a lateral do lábio inferior. –Aconteceram coisas...

            Sim, ele sabia da última invenção de Del Santorra, o próprio duque quando ligara exigiu que ele afirmasse que a história sobre a paternidade fosse sustentada. Arthur não aceitara, não seria capaz de chegar a esse nível com a neta querida.

            -- Meu pai está louco, comporta-se com total desespero e temo que possa machucar a todos.

            Sir Arthur suspirou.

            -- Se não tivesse se envolvido com a Samantha isso nunca teria acontecido. – O homem repreendeu-a. – Não percebe como essa mulher está fazendo mal a nossa família.

            A expressão de Mel mostrava total incredulidade.

            -- Não irei discutir minha relação com o senhor, está fora de pauta meu casamento.

            -- Casamento que já deveria ter sido desfeito, quem sabe assim não teria um pouco de paz. Veja, quando era noiva de Juan nunca houve problemas com seu pai... Todos se reuniam no Natal e trocavam presentes, havia harmonia...

            A Santorini levantou-se.

            -- O senhor preferiria que eu fosse infeliz não é? – Colocou as mãos na cintura. – Quem sabe se eu tivesse um fim como a Iraçabeth que precisou fugir para poder viver o amor que sentia agradaria mais o senhor e ao meu pai.

            -- Amor, amor, amor, isso é tudo bobagens que colocam na cabeça por ficarem lendo romances açucarados...Na vida temos que ser práticos.

            Mel suspirou impaciente.

            -- Não quero discutir com o senhor hoje, na verdade, não perderei meu tempo argumentando algo que se torna impossível aos seus olhos.

            Arthur levantou-se, aproximando-se da jovem, acariciando-lhe os cabelos.

            -- Eu te amo muito, minha criança, amo-a desde que estava no ventre da sua mãe e temo que algo de ruim te aconteça...Queria tanto que a Lacassagner nunca tivesse existido.

            -- Ela é sua neta, é filha da sua filha! – Retrucou em lágrimas. – Como consegue ser tão cruel?

            Ele fez um gesto negativo com a cabeça.

            -- Ela é filha do Otávio, do maldito Otávio que ousou seduzir a Beth e por culpa dele e da Lacassagner, ela morreu...a Iraçabeth estaria viva se tivesse escolhido colocar um fim naquela gravidez...

            -- Teria aceitado isso? Assassinar um bebê? – Indagou horrorizada. – Eu teria feito o mesmo que a sua filha, jamais sacrificaria uma criança que foi gerada pelo amor.

            O Santorini suspirou irritado.

            -- Sua escolha vai sair muito cara, Mel.

            -- E o senhor me condena por isso?

            Ele fez um gesto negativo com a cabeça.

            -- Quanto a você e as suas vontades nada mais poderei fazer, não tenho escolhas quanto a isso, pois sei que sua decisão já foi tomada. – Sentou-se. – Vamos falar de outra coisa, por exemplo, fiquei sabendo que entrou com um pedido de afastamento da marinha.

            Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Sim, foi a decisão que tomei, não vejo mais motivos de continuar servindo... – Umedeceu os lábios. – Levando em conta que sempre tudo fora girado em torno de um ódio que tinha sido plantado dentro de mim.

            -- Mesmo assim, filha, não deveria desistir, sempre usou sua farda de forma honrosa.

            Ela suspirou.

            -- Sim, vovô, mas pretendo seguir outros rumos, até já enviei um currículo para um hospital particular, quero exercer mais ativamente a minha profissão.

            -- Eu não estou de acordo, porém não vai adiantar discutir sobre esse assunto, você não mudaria de ideia.

            -- Não mesmo! – Exibiu um sorriso.

 

 

            Miranda tinha despertado cedo e seguido para o escritório. Estava reunida com Virgínia e Belinda que chegara há pouco. A loira acompanhara todos os passos dados por Fernando nos últimos dias e fora preciso fretar uma aeronave para que chegasse logo ao país.

            -- Pensei que tiraríamos o dia para descansar. – A namorada de Cristina comentou, enquanto bebia um pouco de café. – Se soubesse que teríamos trabalho, não teria ido dormir tão tarde.

            -- Eu sei e peço que me desculpem, mas temos coisas urgentes para resolver. – Entregou uma pasta vermelha as duas mulheres. – Belinda retornou porque o duque voltou de madrugada, nesse momento ele deve estar tentando seguir até a mansão do almirante.

            -- Fazendo o quê?

            A loira quem respondeu.

            -- Acredito que está lá as provas que não só ele, mas como nós desejamos. Estive em sua cola durante toda a viagem e ele esteve com um homem que não lembro ter visto nos registros.

            Virgínia viu a foto da figura. Alto, barbudo e com pouco cabelo. Os olhos pareciam negros e frios.

            -- Quem é?

            -- Armando Trevisan, pelo menos foi esse o nome que fora me informado.

            -- Não há nada sobre ele nos nossos registros, porém revisei fotos por fotos, tudo o que tínhamos e nada encontrei.

            -- Então?

            -- Fiz algumas investigações e descobri que ele também servira ao Serpente, era muito amigo de Tobias e deixou a pirataria ainda quando Iraçabeth estava viva...Ele estava no navio no dia que Sir Arthur o invadiu. – Belinda narrou. – Depois disso não tenho mais registros ou aparições.

            -- Talvez o Eliah o conheça. – Virgínia comentou pensativa.

            -- Sim, provavelmente, depois seguiremos até a cobertura para que ele possa ver a imagem... Nesse momento precisamos ficar de olho no duque, ele não teria ido para tão longe se as provas que o Tobias tinham não o comprometesse.

            -- Deixei um agente na cola desse tal Armando, afinal, até que tenhamos certeza de quem se trata, é melhor não baixar a guarda.

            -- Fez bem, não podemos permitir que a situação se complique ainda mais.

            -- Contou para a Samantha? – A loira indagou. – Acho que ela deve ficar ciente dos passos do duque.

            Miranda bebeu um pouco de água.

            -- Acho que ela se reconciliou com a Mel e preferi que ambas consigam se entender antes de trazer mais problemas.

            -- E onde elas estão? – Virgínia questionou preocupada. – Estão no hospital, deixei alguns homens alertas e recebi essa informação.

            Belinda folheava a pasta que fora entregue.

            -- Então se as provas estão na mansão, isso significa que o almirante tem conhecimento de tudo...O velho guardava tudo, mas o que tem a ver as pistas que o Tobias falou com o almirante?

            -- Talvez quisesse apenas desviar do verdadeiro caminho... – Miranda passava a mãos nos cabelos. – Se ele encontrar vai destruir, não podemos deixar que coloque as mãos...Virgínia, preciso que vá até lá, fique de olho nele, tem que tomar cuidado, apenas mantenha uma certa distância, se perceber que ele encontrou algo, tente tirar dele.

            -- Não acha que eu deva ir junto, Maldonado? – A loira indagou preocupada. – Creio que temos que trabalhar juntas para que não exista riscos.

            A chefe do departamento fez um gesto afirmativo.

            -- Faça isso, vão as duas, enquanto seguirei para a cobertura e tentarei buscar mais informações... Preciso falar com Arthur, ele precisa me ouvir e se realmente tiver conhecimentos das provas que entregue antes que algo pior possa acontecer. Me encontrem na cobertura.

             

 

A Santorini encontrou a esposa sentada pacientemente na recepção. Folheava um livro e parecia bastante concentrada. O lugar tinha algumas pessoas e uma criança aproximou-se da pirata, corria e se não fosse por parte da Lacassangner que a segurou, ela teria caído. A morena pegou a pequena nos braços evitando o baque, a garotinha de início mostrou-se assustada, mas depois esboçou um sorriso inocente.

               Mel não se aproximou, apenas ficou apreciando a bonita cena de longe. Lembrou-se da menina que Samantha tinha levado até o hospital quando estavam na ilha, ela agia sempre com muita gentileza e carinho, até convencendo-a a permitir que lhe cuidasse das feridas. Só quando a viu devolver a jovenzinha para mãe que se aproximou.

                 – Vejo que usou bem o seu tempo. – Falou com um sorriso. – Estava linda toda concentrada. – Falou baixinho ao seu ouvido. – Fica ainda mais bonita com esses óculos.

              – Não sabia que andava prestando atenção em mim. – Piscou-lhe, segurando-lhe a mão. – Para onde vamos?

                 – Deixa eu te levar para um lugar comigo.

                – Vou para onde você quiser…estou em suas mãos.

           



              Marina estava arrumando o quarto onde Mel dormia, guardando as roupas que tinham sido passadas quando viu a caixa que ela tinha trazido da casa do almirante.

                   Soltou um longo suspiro, observando o objeto. Quando Iraçabeth tinha morrido, o Santorini tinha levado de volta um objeto idêntico, mas também tinha guardado o de Marie depois de seu assassinato. Olhava com cuidado, pensando de qual das duas mulheres poderia ser. Fernando estaria buscando isso no dia que estivera na mansão? O que poderia ter ali dentro?

                Temia as ações do duque, sabia que ele era um homem cruel, mesmo que exibisse bons modos e um cavalheirismo disfarçado. Sabia como suas duas meninas tinham sofridos. Esperava que tanto Samantha quanto Mel conseguissem viver felizes, ainda mais agora que estavam juntas e pareciam terem se entendido.

               Fechou os olhos e fez uma oração para pedir proteção para as duas, desejando que Deus protegesse ambas do Del Santorra.



             A lancha deslizava pelas águas. O lugar estava vazio, não havia banhistas naquele dia, todos ainda pareciam descansando da noite de Natal. O sol não estava tão brilhante, pois havia algumas nuvens que enfeitavam o abobado. Diferente da manhã cedo que tudo parecia mais brilhante.

                 Mel pilotava o veículo aquático, tendo ao seu lado a esposa que parecia bastante confortável sentada ao seu lado. Evitava olhar muito para a pirata, pois o minúsculo biquíni que usava lhe enchia de desejos.

                – Gosta de água também, tenente? – Samantha indagou acariciando a coxa da Santorini. 

            A militar a fitou sob as lentes escuras dos óculos.

                – Não tanto quanto alguém que nasceu em alto mar… – Disse com um sorriso. – Imagino que sabia nadar desde que era um bebê.

               A morena pareceu ponderar, enquanto observava que já tinha se afastado o suficiente da costa. Puxou-a pela cintura, ouvindo-a gritar, fê-la sentar em seu colo.

                 – Acalme-se, Santorini, aqui fica melhor pra gente conversar. – Sussurrou em seu ouvido. – Mais íntimo até.

               – Sabe que estamos em área da marinha e não pode, nem deve tentar nada, senhora.

                  – Por que estão nos vigiando? – Passou a mão pelos seios mal cobertos pelo tecido preto. 

               – Sim, isso mesmo. – Acomodou-se de lado nos braços da amada. – Então é preciso que se comporte como uma dama. – Falou encarando-a.

                 – Por isso me trouxe até aqui? – Baixou os olhos para apreciar melhor os belos montes. – Para que eu me comporte.

                – Claro que sim, afinal, não pode simplesmente fazer o que deseja onde deseja.

               Mel mordiscou a lateral do lábio inferior quando observou os dedos longos adentrarem o tecido e tocarem seus mamilos. Esfregando o polegar de forma enlouquecedora. Pegou uma uva do cesto de frutas, colocando-o na boca da filha do Serpente. Ela lhe capturou os dedos, prendendo-os entre os dentes, depois passou a língua, liberando-a.

            A herdeira do duque sentiu um arrepio na nuca ao ver o gesto sensual.

                Samantha olhou para trás, como se estivesse checando se tinha alguém por perto.

                – Eu sou uma pirata…não tenho muitos modos, tenente…

                Sim, Mel sabia e isso a excitava bastante, pois amava a forma como a filha do Serpente se comportava. Olhava-a lhe livrar do biquíni e fazê-la sentar montada de frente para si.

                As bocas se encontraram em um beijo exigente. Ambas pareciam prontas para tomar tudo o que desejavam. Prontas se entregar e não aceitar menos.

             A tenente capturou a língua da amada, chupando-a a ponto de lhe arrancar gemidos.

                  Acariciava os cabelos de Samantha, enquanto se perdia em seus toques. 

                    Os lábios da morena deslizaram pelo pescoço da Santorini. Acariciando-a, mordiscando-a. Baixou a cabeça e logo tomava para si os belos montes redondos.

                A militar inclinou-se para trás, empinando-se para que a esposa tivesse maior acesso.

               – Eu amo quando me toca assim…

               Samantha colocou a mão no interior da calcinha, sentindo o precioso tesouro que a deixava louca.

             A Santorini baixou a cabeça e via como o indicador iniciava as carícias.

                – Entra um pouquinho… – Implorou entre gemidos. – Mais um pouco…

                – Assim… – Usou mais um dedo, aumentando a fricção.

                 Mel moviam-se contra ela, não conseguia mais raciocinar e só pensar em como era delicioso o toque que recebia.

                 Ouviu o som de outra lancha, mas parecia tão envolvida que apenas protestou quando as carícias cessaram.

                – Continuamos em outro momento… – Justificou-se diante do olhar irritado da mulher. – Não quero que seja expulsa da marinha por esse tipo de comportamento.

            Só naquele momento, a jovem tinha percebido que ainda não contara para a esposa sobre sua decisão de deixar as forças armadas. Assim que tivesse em um momento propício falaria sobre isso.

           

 

            A mansão de Sair Arthur estava totalmente revirada, porém o duque nada conseguiu encontrar.

          Apoiou-se na escrivaninha de mogno.

          O almirante sempre esteve com as provas que Tobias tinha escondido, fingindo não saber onde estavam.

        Esmurrou forte a madeira.

         Iria até o hospital, obrigaria a Arthur a lhe contar onde estava o material que o bandido tinha produzido durante todos aqueles anos.

         Observou todos os objetos que estavam jogados e dentre eles havia a foto de Iraçabeth.

            Agachou-se, vendo a minúscula imagem.

            Olhou-a por longos segundos, depois a amassou com toda sua força.

             Odiava mais que tudo a filha do almirante. Poderia tê-la matado por todas as humilhações que lhe fizera passar. Ainda era motivo de piadas entre a sociedade desde que Sir Arthur contou para todos que a maldita pirata era sua neta.

                Samantha era outra que pagaria caro por ter escolhido a Mel.

               Sua única filha fora motivo de traição e desgraças, como se bastasse tudo o que tinha passado.

 

 



           Miranda já estava na cobertura quando as duas mulheres chegaram. Samantha ficou preocupada em ver a Maldonado com o semblante sério.

               – Fico feliz que tenham chegado, acho que precisamos conversar.

               Mel viu Belinda e Virgínia acomodadas no sofá. Incomodava o fato da loira já ter retornado ao país.

                – O que houve? – A Santorini indagou.

              A pirata acomodou-se com a esposa ao lado.

               – Temos algumas informações sobre os últimos acontecimentos. – Entregou as duas mulheres uma pasta vermelha. – Estão aí os últimos detalhes da nossa investigação. 

                 – Investigação de exatamente o quê? – Mel perguntou.

               Miranda trocou olhares com a Lacassangner que fez um gesto de assentimento.

              A chefe do departamento internacional narrava todos os fatos. Vez e outro parava para ficar de olho na reação da militar. Contou sobre o ocorrido com o Tobias, sobre as provas que desapareceram e como o duque tinha viajado em busca dos materiais deixado pelo homem que fora assassinado. Contou também do encontro que ele teve com o homem de nome Armando.

            – Então o Eliah confirmou que o conhecia? – Samantha perguntou olhando a imagem.

             Antes que Miranda pudesse responder o pirata apareceu.

              – Sim, filha, eu o conheci, ele fazia parte dos homens que serviam ao seu pai. – Servia chá nas xícaras, enquanto continuava a narrar. – Ele deixou o bando quando sua mãe chegou ao navio, ele a odiava, pois dizia que ela manipulava seu pai, até mesmo a chamava de pequena serpente.

                Mel fitou a imagem que Samantha lhe entregou e por alguns segundos teve a impressão que tinha retornado ao dia que seguira no cruzeiro com os pais.

                  Teve a impressão que o ar não chegava aos seus pulmões.

               A Lacassangner viu o que se passava, então aproximou-se da amada, Mel se levantou e logo caia desmaiada nos braços da esposa.

             

 

               – Esse homem fora quem matou a mãe da Mel, ela o reconheceu.

                As mulheres agora estavam no escritório.

              – Já acionei a polícia, mas não há nada que pudesse fazer uma ligação entre o assassinato, porém como havia uma ordem de prisão em aberto por uma bagunça que tinha ocorrido em um bar, será usado isso para prendê-lo. – A Maldonado dizia preocupada. – Se esse homem realmente cometeu esse crime, Fernando está por trás de tudo isso também.

            Samantha sentou-se na cadeira de couro diante da escrivaninha. Olhava a foto de Armando.

              – Eu não sei como a tenente vai reagir se isso realmente for verdade. – Meneou a cabeça. – Como ele pôde ser tão cruel? – Passava a mão pelos cabelos. – Uma verdade dessa será terrível.

              – Eu irei até o hospital, tentarei falar com Sir Arthur, exporei todos os fatos, será minha última apelação para que ele nos ajude de uma vez para que possamos encerrar tudo isso... Fernando não encontrou nada, então o almirante deve ter escondido em outro lugar.

             – Você acha que ela fará? Sabemos bem que ele também está envolvido em tudo isso.

               – Se há algo de sincero nele é o amor que tem pela neta e vou apelar para isso. – Soltou um longo suspiro. – Fique com a Mel, sei que ela vai precisar muito do seu apoio. 

       

                  

  

 

             Mel estava no banho. Samantha tinha saído, enquanto a jovem tenente dormia. Sentia o líquido lhe molhar as costas, tentava relaxar. Marina tinha lhe dado um chá e acabara dormindo até tarde, ao despertar viu que estava sozinha na cama.

             Sua mente não parava de pensar em tudo o que estava acontecendo, ainda mais o fato do pai estar enlouquecido atrás das provas. Assustava-se ao imaginar que ele podia ser responsável por tanta coisa ruim que tinha acontecido. Ainda tinha em suas lembranças a imagem do assassino da sua mãe...Se realmente tudo se passara como a Maldonado tinha contado, então seu pai mantinha contato com o bandido que invadira o navio?

            Desligou o chuveiro e seguiu até o quarto.

            A esposa ainda não tinha retornado.

            Rapidamente, secou-se, vestindo uma calça e uma camiseta, depois calçou os tênis, deixando os aposentos em seguida.

              

             Miranda estacionou o carro diante do hospital. Observou o prédio. Havia agentes seus por perto. Fernando não tinha ido até lá, pelo menos não ainda. Sabia que estava tentando algo que tinha muito mais chances para fracassar, porém seria sua última cartada com o militar e rezava a Deus para que naquela noite tudo terminasse de uma vez por todas.

            Desceu do veículo e seguiu pelo jardim, adentrando ao centro de saúde. Sabia que aquele não era mais horário de visita, tampouco era da família, mas tentaria vê-lo.   Pediu a recepcionista para entregar um bilhete ao almirante, pois sabia que se apenas se anunciasse não seria recebida.

             Esperava pacientemente por uma resposta, demorando mais que o suficiente, imaginando que o pai de Iraçabeth devia estar hesitando vê-la.

               Depois de quase meia hora, a moça avisou que a chefe do departamento internacional podia entrar.

                A Maldonado encontrou o almirante sentado em uma poltrona. Viu que ele parecia mais saudável e devia ter se arrumado para que não mostrasse tanta fragilidade.

           – O que deseja? – O velho indagou fitando-a. – Bem que já imagino, afinal, toda vez que esteve a pedir por uma audiência comigo era para defender o seu bandido preferido, mas como ele morreu, agora vive protegendo a maldita pirata.

             – Sim, já estive outras vezes a lhe pedir não é verdade? – Aproximou-se dele. – mas quando o fiz, o senhor tomou a pior decisão ao permitir que seu doente genro agisse como quisesse…o senhor, almirante, fechou os olhos para o que acontecia, penso que se tivesse honrado sua farda naquele dia, nada disso estaria acontecendo naquele momento.

               – Está me acusando? – Indagou furioso. – Veio até aqui para me insultar?

               – O senhor sabe muito bem os atos que cometeu, não cabe a minha pessoa lhe apontar seus erros ou fazer seu julgamento, creio que essa parte foi reservada a outro ser muito superior a mim.

            Ele parecia ponderar e só depois de algum tempo falou:

              – Então por que veio aqui?

              – Vim aqui porque por uma única vez o senhor pode fazer a coisa certa, não pela Lacassangner, pois é óbvio que a odeia, mas talvez tenha chegado o momento de pensar na Mel…– Fez um gesto com as mãos para impedi-lo de protestar. – Nós sabemos bem o que se passou com a filha de Marie…o senhor foi contra a vida toda que ela entrasse na marinha, mas o fez porque sabia que Fernando a estava usando apenas para ir contra a Samantha…o duque estava tão obcecado em limpar seus rastros que chegou a criar um ataque para mentir que se tratava de um ato orquestrado pelos piratas…mas ele não contava com um erro, Tobias jogaria uma bomba verdadeira contra o navio e sua neta quase morreu.

            Os olhos claros do almirante pareciam surpresos com o que ouvia.

            – Sim, eu sei, vim investigando o caso há muito tempo e quando tive contato com o Tobias ele se exibiu dizendo que quase tinha acabado com a tenente...Era um desgraçado e não tinha nenhuma consciência em agir com covardia, afinal, fora ele junto com Ester que te entregou a Lacassagner.

             – Desgraçado! – O militar falou por entre os dentes. – Ele fez de propósito, queria se vingar...Tentou matar a Mel...

               – Tudo o que vocês tentam acaba saindo do controle…afinal, será que a morte de Marie foi proposital?

              – Eu jamais atentaria contra a vida dela...Amava-a como se fosse do meu sangue.

              – Eu não estou tão convicta disso, ainda mais quando pensamos que ela foi assassinada a sangue frio…Bem, almirante, estou aqui para lhe dar uma chance de evitar que uma tragédia aconteça com a sua neta, Mel. Estou aqui para possamos resolver tudo sem que mais sangue seja derramado. – Sentou-se. – O duque está desesperado atrás das provas que o Tobias deixou…está revirando a sua casa nesse momento…então o senhor estava o tempo todo com ela…

               O almirante exibiu um sorriso.

             – O Tobias já estava dando muito trabalho, então tive que pagar pelas provas…

                – O senhor sabe que ele está morto…

               – Sim, e fico muito feliz por isso. Deve estar pagando o que deve no inferno.

                  – Por que preferia a morte dele?

                 – Bem, Miranda, vou lhe contar tudo o que se passou durante todos esses anos, no final, será sua palavra contra a minha…Não creio que poderá usar nada do que digo contra a mim.

            A Maldonado fez um gesto afirmativo com a cabeça, curiosa para saber de tudo o que se tratava.

                – Vamos falar do assassinato da sheika…foi um incidente horrível… – O velho começava. – Fernando ficou sabendo do casamento e enlouqueceu…na época, Mel tinha acabado de ser aceita na marinha…o duque perdeu a cabeça e foi até o oriente…Ele estava com Tobias e Armando…Eles entraram na chácara, as duas dormiam, ele colocou a substância em seu nariz, ficou desmaiada, uma droga muito potente…a sheika não, ela despertou e foi aí que começou toda a desgraça…

                – Então, o duque realmente esteve envolvido nisso…

               – Armando quem a matou, mas não era essa a intenção, Fernando queria levar a Lacassangner consigo… mas acabou acontecendo o assassinato…tudo foi montado para que Samantha fosse condenada.

              – E como pode ser provado que o duque realmente não participou ativamente?

                – Tem um vídeo…está em um pendrive…mas claro que o Del Santorra será responsabilizado por tudo isso, afinal, ele estava lá…

               Miranda meneou a cabeça negativamente.

                – E Marie?

                – Fernando sabia que a Marie iria tirar a Mel dele, ele não permitiria, jamais permitiria isso… -- Dizia pensativo. – Minha querida filha não suportava mais o marido e a obsessão que ele tinha pela pirata...ela estava decidida a pedir o divórcio...

              – Então ele armou tudo isso e ainda por cima cometeu o crime na frente da menina… – Passou as mãos no rosto. – Como alguém pôde ser tão cruel? E o senhor sabia de tudo…já imaginou como a tenente vai se sentir sabendo de tudo isso? 

             – Preciso que me ajude, não posso permitir que a Mel saiba disso e estou disposto a fazer qualquer coisa, mas que ela não fique sabendo que o próprio pai orquestrou a morte da mãe… – Segurou na bengala levantando. – Me ajude e entregarei todas as provas.

 

Comentários

  1. Cacetada... Que desgraça desse filho de uma quenga. Mano, a Mel vai sofrer tanto. Ah, que a Sam possa estar com ela nesses momentos.

    ResponderExcluir
  2. Acho que o pior de todos é esse almirante monstro!Como pode ter permitido tanta maldade contra suas filhas e netas?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A antagonista - Capítulo 25

A antagonista- Capítulo 22

A antagonista - Capítulo 21