A víbora do mar - Capítulo 40 - Feliz Natal


A moto deslizava pelo asfalto, seguindo em direção ao bairro nobre que por muitos anos fora sua residência. Mel ficara furiosa ao saber que a proibição de poder ver o avô tinha partido do próprio pai. Fernando voltava a ataca-la. Por sorte, conseguira conversar com o médico, pedindo-lhe que não contasse ao almirante sobre o ocorrido, não queria que ficasse agitado e acabasse comprometendo sua recuperação.

            Parou no semáforo.

            O dia estava nublado.

            Viu as lojas com seus enfeites de Natal. A época do ano já se aproximava. Sempre se recordava da mãe e da forma delicada que arrumava tudo. Ela fazia questão de cozinhar todos os pratos que seriam servidos na ceia. Havia sempre convidados e seu pai parecia se tornar um homem diferente quando estava na frente dos amigos. Sir Arthur nunca faltava. O avô era bastante espirituoso e participava dos jogos que eram propostos.

            Viu mais a frente uma loja de artesanato em madeira. Ficou tão encantada com os objetos que estavam sendo expostos na calçada que não tinha percebido que o sinal tinha mudado para verde e logo ouvia buzinas atrás de si.

            Suspirando, deu partida no veículo.

            Pegou a alameda e logo estava seguindo pela rua dos altos pinheiros imperiais. O portão da residência do duque circundava quase todo o quarteirão. Parou em frente e logo adentrava e estacionava diante da mansão.

            Observava tudo ao redor.

            As árvores já traziam frutos.

            Retirou o capacete, deixando-o na moto e logo subia os degraus e entrava na casa.

            A madrasta estava no hall e tinha uma caixa grande de luzes, já prepara tudo para as comemorações de fim de ano.

            A mulher assim que a viu, deixou tudo de lado e foi lhe abraçar.

            -- Querida, que surpresa boa te ver aqui. – Seguiu até a poltrona. – Sente-se, vou pedir para que prepare algo.

            Ela fez um gesto negativo, enquanto olhava tudo ao redor.

           – O que houve? – A advogada indagou preocupada ao ver o semblante da enteada. 

            – Onde está o duque? 

            A esposa do Del Santorra percebeu nesse momento que algo tinha acontecido.

           – Seu pai precisou viajar, disse que tinha algo para resolver.

            A tenente passou a mão pelo cabelos em um gesto de exasperação.

           – Me conte o que houve. – Pediu Anna segurando-lhe a mão.

            – Papai entrou com uma ação judicial me impedindo de me aproximar do vovô.

           – E por que ele faria algo assim nesse momento?

           – Porque ele sabe que voltei para a cobertura!

           – Voltou? – A mulher questionou perplexa.

           – Te contarei o que se passou… – Apontou o sofá. – Preciso que me ajude.



               – Fernando está buscando o mesmo que a gente, está claro isso e se está tão desesperado, isso só pode significar que está mais comprometido do que imaginávamos. – Miranda dizia.

                 Samantha tinha ido até o escritório da chefe do departamento. Estava sentada na poltrona, enquanto ouviu atenciosamente as narrativas de Belinda que ficara durante aqueles dias na cola do duque.

               – Também entrou com um pedido na suprema corte para que o julgamento fosse anulado, alega que todos que agiram contra o Serpente o fizeram por acreditar que o homem realmente era uma grande ameaça… – A Maldonado bebeu um pouco de café. – Claro que não obteve sucesso, afinal, eles serão julgados por terem assassinado um homem a sangue frio… Já fui intimada a depor. – Disse com um suspiro. – Acredito que só quando terminar as comemorações de final de ano que teremos mais ação do tribunal.

               O telefone tocou e a Maldonado atendeu. Passaram alguns segundos e logo desligava.

             – Os advogados já conseguiram que a Mel visse o avô.

              A Lacassangner cruzou as pernas.

              Na última semana pouco tinha visto a esposa. Dedicara-se a tentar descobrir onde poderia estar o diário de Tobias. Nem mesmo ficara sabendo da proibição para que a militar entrasse no centro clínico.

            – O duque vai usar todas as armas que estiver ao seu alcance para castigar a filha por ter voltado para ti. – A loira disse sentando ao lado da pirata. – E ele nem sabe que a tenente já sabe que não é sua titia. – Piscou. – Eu fico imaginando como ela deve ter ficado destruída quando o velho contou essa mentira… estava transando com a sobrinha o tempo todo… pior, ele ainda queria transar, mesmo sabendo a verdade.

              Os olhos azuis estreitaram-se, mas nada disse.

             – Bem, a Santorini deve estar nesse momento no hospital, acredito que não vai demorar para Sir Arthur receber alta… talvez fosse uma boa ideia que fosse até ele, Sam.

               – E qual seria o propósito disso?

              – Talvez depois da quase morte, ele repense suas ações e tenha algo interessante para confessar.

              – Você parece bastante otimista.

             – O Natal a deixa assim! – Belinda disse gargalhando. – Vamos ter muita comida e bebida.

            Em seus trinta e quatro anos, Samantha nunca tinha vivido um Natal, nem mesmo se importara com aquilo. Seu pai parecia mais triste naquela época, sempre agia como se fosse um dia qualquer.

             – O que quero é descobrir onde está o diário do Tobias. – Disse levantando-se.

             – Nada disso acontecerá agora, vamos esperar passar essa data e depois pensaremos em como devemos resolver tudo isso. – Miranda retrucou. – Sam, vamos organizar um jantar e depois conversamos sobre o diário. – Seguiu até a pirata. – Confie em mim e aproveite esse descanso.



            – Gostaria de estar em casa, não passar o Natal nesse lugar. – O almirante dizia, enquanto comia a sopa que fora servida.

              Mel ouvia o avô reclamar, enquanto seus pensamentos estavam nas atitudes do pai. 

             Ele ainda não tinha retornado e tampouco atendera suas ligações. Parecia ter sido tragado pela terra.

               O que estava buscando?

             Ouviu o som do celular e logo tinha a mensagem de Cristina, porém não lhe respondeu de imediato.

            --Não precisa ficar assim, haverá outros.

            -- Na minha idade, a gente sempre acha que será o último. –Falou ranzinza, terminando a refeição e encostando a cabeça no travesseiro. – Lembro que minha filha Iraçabeth amava o Natal, ela enfeitava a árvore e depois enrolava caixas vazias com papéis de presentes, então eu ia lá e substitua tudo por caixas com presentes e ela achava que o papai Noel tinha ido até lá.

            Mel ficou surpresa ao ver o avô falar da mãe de Samantha. Puxou a cadeira para mais perto.

            -- Vi fotos da sua filha, ela era muito linda...

            -- Sim, parecia com a minha esposa, tinha os mesmos traços clássicos que ela...Eu sempre sonhei que ela faria um casamento pomposo...Todos queriam namorá-la... – Disse pensativo.

            -- Eu acho que os pais esquecem que a vida dos filhos não lhe pertencem e que precisam permitir que devam seguir suas próprias vontades.

            Sir Arthur meneou a cabeça, mas nada mais falou, fechou os olhos e permaneceu calado, dando por encerrado a conversa.



            A cobertura tinha sido arrumada com luzes coloridas. Uma linda árvore fora montada na área da piscina. Uma mesa enorme estava montada com deliciosas iguarias. Havia vários tipos de sobremesas, saladas, apetitosas carnes e tortas tanto doce quanto salgada. Uma bandeja com frutas frescas e vários vinhos e um em especial que fora mandado pelo príncipe Ralf.

             Mel passara o resto da tarde dormindo.

            Aquele era o primeiro ano que não passava as comemorações de Natal ao lado do pai e do avô. 

            Pegou o celular e viu a mensagem da madrasta. 

             " Seu pai está fora do país, recebi uma notificação do cartão de crédito."

             O que estaria acontecendo com Fernando?

            Levantou-se e viu sobre a poltrona o vestido que usaria naquela noite. Marina tinha passado o elegante modelo vermelho de alças finas.

            Parou diante do espelho.

            O rosto estava inchado da soneca.

            Tinha chegado do hospital e tomado banho, ainda vestia o roupão rosa e os cabelos também estavam úmidos.

           Soltou um longo suspiro.

           Estaria presente na ceia a pirata?

           Nem mesmo a via naquele apartamento. Sempre estava fora e dormia nos aposentos adjacentes. 

            Percebera que ela recuara um pouco depois da última conversa que tiveram, porém não fora surpreendia com nenhuma manchete desagradável, isso significava que ela não andava se envolvendo com as amantes.

            Sentou-se na poltrona diante do espelho.

            Não queria estar naquele lugar e não poder estar ao lado da Lacassangner. Não queria que aquele casamento continuasse apenas pelo desejo de vingança, queria que a pirata lhe quisesse em sua vida, da mesma forma que a queria.

            Ouviu batidas na porta e não demorou para ver Cristina aparecer.

            -- Pensei que estivesse pronta, não vamos arrumar nossos penteados? – Entrou logo dizendo. – Parece tão desanimada, o que houve?

            -- Acho que estou um pouco cansada...Nem sei se estou interessada em penteados. – Olhava os cabelos. – Acho que vou deixa-los soltos, apenas isso.

            -- Vai perder a chance de fazer a Víbora babar diante da tua beleza? – Indagou cruzando os braços. – Se eu fosse você me arrumaria para fazê-la ficar sem fala.

            Mel riu com o que a amiga disse.

            -- E ela vai estar presente?

            -- Claro que sim, a Virgínia me falou, acho que quem não estará será a Belinda. Miranda lhe deu licença para que viajasse e ficasse com a mãe.

            -- Pensei que ela não perderia a oportunidade de passar junto com a pirata.

            -- Acho que ela percebeu que esse jogo está perdido, afinal, todo esse tempo e a Lacassangner não a quis, imagina agora que te tem aqui.

            A tenente levou o polegar aos lábios e começou a mordiscar, mas a fisioterapeuta lhe deu um tapa na mão.

            -- Vai destruir suas unhas que estão lindas? Ah, por favor, Mel.

            A Santorini suspirou, enquanto mordiscava a lateral do lábio inferior.

            -- Desde que vim para cá não houve nada entre a gente...

            -- Bem, não esqueça que ela passou dias machucada...

            -- Sim, eu sei, mas eu tive a impressão que ela está me evitando...

            -- Talvez, tenha chegado o momento que conversarem, você a ama e eu sei que ela também te ama...Pode seduzi-la hoje e depois conversam...

            -- Seduzi-la?

            -- Sim, tenho certeza de que conseguirá...Vamos nos arrumar...Tenho certeza de que vai fazer a poderosa sheika cair aos seus pés...

            Um sorriso brincou nos lábios da filha do duque. Talvez, Cristina estivesse certa, poderia tirar vantagem do desejo que a esposa sentia e conquista-la de uma vez por todas. Amava-a e a queria para si, queria tê-la ao seu lado...

            

           

 

          

          Samantha usava seu vestido azul longo, não tinha alças, sustentavam-se em seus seios e ombros de maneira perfeita. Apertava-se a sua cintura e descia de forma elegante. Os cabelos estavam soltos, menos compridos porque tinha cortado. Usava os elegantes óculos de aros dourados. Também exibia um colar com o pingente de serpente, aquele fora um presente do pai quando ela fizer doze anos.

            Alguns convidados já tinham chegado. Ralf estava presente com sua família, Miranda e Virgínia também.

           Aceitou a taça que o príncipe lhe ofereceu.

            – Não ficaremos até tarde, tenho outro compromisso, porém não poderia deixar de vir até aqui e lhe dar um abraço. – Dizia o regente. – Saiba que logo os crimes contra seu pai serão julgados e cobrados...Fiquei muito feliz quando o tribunal internacional aceitou meu pedido, sinto-me em dívida contigo desde que salvou a minha vida e da minha família.

            A Maldonado aproximou-se.

            – Já tinha contado a ela sobre isso e tem mais…

            A Lavassangner ouvia o que era dito até seus olhos serem capturados pela imagem da bela Santorini em seu vestido lindo.

              Sentou vertigem a vê-la de tão encantadora que estava.

             O tecido vermelho era longo. Havia uma fenda na lateral direita. As alças finas destacavam os ombros bonitos e pareciam sustentar com precisão os seios redondos que ainda se mostravam sob o decote. Viu o cordão que ela usava com o pingente a descansar em sua pele delicada.

                Os cabelos soltos traziam cachos e duas tranças finas em cada lateral. Viu os olhos dourados brilharem.

            Como podia estar ainda mais linda?

               Bebeu mais um pouco da bebida.

               Passara todos aqueles dias tentando se concentrar em outros assuntos para não pensar na bela militar. Decidira ocupar o outro quarto, assim não cairia em tentação de toma-la para si, não desejava força-la em fazer algo que não queria, ainda mais por que fora inescrupulosa ao usar chantageá-la para que retornasse à cobertura.

            Viu-a lhe fitar e lhe exibir um sorriso, depois falar algo com Marina.

            Soltou um longo suspiro que chamou a atenção do príncipe e de Miranda. Nem mesmo sabia do que eles estavam falando naquele momento. Sua cabeça só pensava em como estava maravilhosa a Santorini e como desejava ir até ela.

              Não negaria que ficara furiosa quando soube da mentira que o duque tinha inventado e se sentira ainda mais brava quando ela continuou a levar o divórcio em frente, mesmo tendo descoberto a verdade, porém agora percebia que talvez tivesse agido do mesmo jeito, como poderia pedir para que a jovem duvidasse do próprio pai?

                Ralf e a esposa foram cumprimentar a tenente, ficando apenas na companhia da chefe do departamento de segurança internacional.

            -- Vejo que ficou hipnotizada ao ver sua esposa... – A mulher dizia divertida. – Se eu fosse você, começaria engolir logo esse orgulho bobo e buscaria uma reconciliação.

            O garçom passou servindo mais bebidas e alguns aperitivos. Miranda pegou um pratinho e mais uma taça entregando a filha do Serpente.

            Cristina e a namorada aproximaram-se.

              – Para Virgínia, vejo que seu trabalho na ilha foi muito proveitoso. – Comentou com um sorriso a pirata.

              A agente ficou corada, mas o mesmo não se passou com a fisioterapeuta que parecia sempre ter a resposta na ponta da língua.

               – Sim, mas não sei se foi tão bom quanto a sua exploração ao navio…Soube que lhe rendeu até algumas costelas quebradas...Só não sei como as quebrou...

                – Bem, isso você só vai descobrir se as palavras saírem dos lábios da sua amiguinha. – Pegou uma maçã e deu uma mordida. – Ela não te contou que quase me matou? Nem sabia que a tenente era tão boa em luta corporal, pensei que só se garantia com a espada.

            -- Você ainda não viu nada, pirata, então é melhor que ande sempre na linha, igual um trem...

            Miranda gargalhou, ainda mais quando viu que os olhos azuis estreitaram-se em irritação.

               Marina e Eliah estavam participando da ceia, pareciam felizes naquela noite.

              Mel cumprimentou a todos e já se dirigia para onde estava a amiga.

               Beijou as duas mulheres na face, mas não fez o mesmo com a esposa que continuava a degustar a fruta.

              – Está tudo muito lindo! – Cris dizia, enquanto aceitava uma taça de vinho. – Obrigada pelo convite.

                – Digo o mesmo, senhora Lacassangner. – Virgínia completou com uma piscada.

              – Na verdade, devo confessar que a Marina quem se responsabilizou por tudo, sabem que ela ama essa época do ano e como senhora pirata parece ter aceitado fazer a comemoração, permitiu que tudo fosse comprado.

               – Valeu cada centavo só para te ver nesse vestido! – Samantha comentou com um sorriso.

           A militar ainda abriu a boca para falar algo, mas a esposa já se afastava.

             Era uma deusa linda e debochada!

             Quem comprava aquelas roupas para a filha do Serpente?

             Era tão linda com aquele sarcasmo brilhando nos olhos azuis, na boca de lábios cheios.

            Soltou um suspiro que não passou despercebido pelas duas mulheres que trocaram olhares de cumplicidade.

             Aceitou a taça que a Maldonado lhe entregou.

                – O Ralf pareceu triste com o seu pedido de afastamento da marinha… – Miranda comentava de forma quase inocente. – A Sam não está sabendo desse episódio ainda da história… Não deveria contar?

              A Santorini bebeu todo o conteúdo do copo de uma única vez.

             – A Lacassangner anda muito ocupada com seus próprios problemas.

           – Ora…ora… a ilustre convidada chegou! – Marina falou sorrindo.

            Mel então virou a cabeça e viu a Sorte aparecer com seu cachecol vermelho. A bichana olhava maravilhada para tudo ao redor e o que mais lhe chamou a atenção fora a árvore de Natal com seus enfeites. A felina estava lá parada a observar e tinha ao seu lado a Samantha que também parecia encantada com o monumento. Viu quando a pirata pegou a gatinha nos braços, acariciando seus pelos negros e lhe mostrando cada adorno. A patinha travessa mexia em tudo, mas pareceu distraída balançando uma estrela de um lado para o outro.

             – Eu sempre pensei que os piratas não gostassem de gatos! – A Maldonado disse rindo. 

            – Quem não gosta dessas bolinhas de pelos? – Eliah falou gargalhando. – Confesso que pensei em joga-la do navio quando a vi, mas…Agora está aí, parece a dona da cobertura, anda tudo isso aqui com seu olhar inquisidor, depois se acomoda em uma poltrona até choramingar por sua comida preferida… somos todos seus escravos!

            Todos riam das peripécias que o velho homem narrava.

            Cristina e Virgínia já faziam planos de terem dois felinos, discutindo o sexo que escolheriam e não pareceram entrar ainda em um consenso. Mas a agente muito esperta, cobriu os lábios da amada com um beijo rápido, assim, por enquanto, cessaria a discussão.

            

 

           O jantar foi servido e todos pareciam bastante entusiasmados, exceto a Lacassangner que parecia bastante pensativa, enquanto comia.

               Mel tinha sentado ao lado da esposa.

               – Tudo bem, pirata, imagino que nosso Natal está muito massante em comparação aos que tinham em alto mar.

              A morena esboçou um sorriso grande.

              – Essa é a primeira vez que participo de algo assim…

             Os olhos dourados pareciam surpresos.

              – Nem mesmo quando estava casada?

              Os olhos azuis ficaram mais escurecidos. A militar até pensou que ela não responderia, mas ficou surpresa ao ouvi-la.

               – Eram outros costumes, minha dama, costumes diferentes dos seus.

                – Então não está te agradando nossos costumes? – Pegou uma passas e retirou do prato.

             – Ao contrário, estou gostando bastante, muito mesmo…

                – Então por que parece tão pensativa?

                – Por alguns segundos fiquei pensando na Iraçabeth e em meu pai e em como essas datas deviam ter sido importantes para eles… papai nunca falava sobre o Natal, apenas conheci quando comecei a minha vida sozinha e nunca achei interessante…

             A tenente lhe segurou a mão.

             – Então seja bem-vinda, minha senhora, ao nosso Natal…acho que até vai ganhar presentes… – Apontou para os embrulhos embaixo da árvore.

               – Eu não sabia que teria que comprar! – Riu. – Acho que devia ter feito uma pesquisa sobre.

                – Bem, é a sua primeira vez…Pode ser perdoada...ou quem sabe pode ser um presente menos convencional...

            Miranda contava uma piada e todos acabaram prestando atenção a ela, participando da animação da grande Maldonado.

 

             A horas dos presentes tinha chegado e realmente a filha do Serpente não tinha comprado nada para ninguém. Passara os dias bastante ocupada para prestar atenção nas narrativas da Miranda sobre aquela época do ano, porém todos pareceram entender a pirata e todos havia comprado mimos para a Sheika. Mas de todos, um em especial lhe chamou a atenção. Um barco feito em madeira era a réplica do Víbora do mar. Havia até piratas e a boneca com trajes característicos e cabelos longos e olhos azuis seguravam o timão.

            Foi possível ver os olhos de Samantha brilharem ainda mais em alegria ao ler o cartão:

              " Para a mais bela Víbora do mar."

           Viu o nome da militar e a fitou emocionada.

             – Acho que sua amada amou o presente! – Cristina cochichou em seu ouvido. – Valeu a pena.

               Há alguns dias, Mel tinha ido até o centro da cidade, sabia que ali havia um artesão muito talentoso e ele já tinha algumas réplicas do navio, mas precisou fazer algumas modificações e acréscimos para que ficasse na forma do presente perfeito.

            A Santorini se sentia imensamente feliz ao ver o brilho na face da bela Lacassangner. Se soubesse que ela ficaria com aquele ar despido de arrogância, teria pensando no presente antes.

              Sabia que nos últimos dias, a Sheika tinha voltado a se fechar em sua concha. Afastara-se totalmente, nem mesmo dividiram os aposentos como ela tinha dito que fariam. Cristina falara que com certeza a esposa tinha ficado triste com os últimos acontecimentos e pelo fato de mesmo sabendo a verdade, a militar não tinha cancelado o divórcio, precisando ser obrigada a fazê-lo.

              Observou-a conversar com a Miranda e depois se retirar. Viu quando recebera a ligação da Belinda e não pôde evitar d

 

e queimar por dentro em ciúmes. Mesmo que soubesse que não havia nada entre elas, tinha certeza de que a loira a queria, bastava ver como fitava a pirata.

              – Tudo bem? – A fisioterapeuta questionou ao sentar ao seu lado. – Está com o cenho franzido.

              – Estava pensando no meu avô. – Mentiu, enquanto comia um pouco da sobremesa que fora servida. 

             – Não deve ficar assim, ele está bem e logo vai retornar para casa. – Falou bebendo um pouco de champanhe. – Não deve ficar triste hoje, é Natal.

              – Eu sei, mas há tanta coisa acontecendo… – Suspirou. – Meu pai…

             – Mel, o duque se comportou mal o tempo todo e continua a agir assim, então não pode se sentir culpada…

             – Meu pai é tão ruim assim, Cris?

             – Ele apenas se perdeu em suas ambições, minha amiga, mas a gente sabe que apesar de tudo, ele te ama e em algum momento vai perceber como agiu errado contigo. – Segurou-lhe a mão. – Pense em ti agora…acho que já está mais que na hora de fazer isso. – Depositou um beijo em sua testa, afastando-se.



               Samantha tinha seguido até o quarto. Procurava algo na gaveta da escrivaninha e quando encontrou, usou o celular para tirar uma foto e enviou a Belinda.

               Se não fosse a insistência da Maldonado, teria seguido em busca do diário de Tobias, assim, encontraria as provas e colocaria um fim naquela história de uma vez.

              Seguiu até a varanda do quarto.

             A noite estava nublada e um vento frio penetrava e balançava as cortinas.

             Seguiu até a penteadeira e já segurava as alças do vestido para livrar-se da roupa quando ao fitar o próprio reflexo viu banhada pela luz noturna a Santorini bem atrás de si.

            – Já vai dormir tão cedo?

            A voz da militar sussurrou bem em sua nuca, arrepiando-a.

             A Lacassangner não se virou, continuou parada, fitando a bela mulher e sentindo o hálito mesclado de menta e etílico. Fitava-a e percebia como estava bela a filha do inescrupuloso duque. Às vezes pensava que jamais conseguiria livrar-se daquele anseio de tê-la para si. Nem mesmo sabia como não fora ao encontro da jovem nas noites solitárias, precisando ficar até tarde em suas pesquisas para pensar apenas no descanso da madrugada.

             – Pensei que todo ritual natalino já tivesse terminado… – Disse depois de alguns segundos.

              – Mas o papai Noel nem chegou ainda… – Disse com um sorriso largo. – Mas se deseja descansar, deixe que te ajude a se despir… – Depositou as mãos em seus ombros. – A babá fala que a roupa que usamos no Natal deve ser retirada com delicadeza e dobrada para que assim traga boa sorte.

              Samantha fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Se a Marina falou deve ser verdade, ela parece muito sábia...

            Mel exibiu um sorriso grande.

            – Seu vestido é lindo, senhora pirata…

            – O seu também é… ficou ainda mais lindo vestido em ti…

           A tenente continuava sem fazer nenhum movimento, apenas com as mãos pousadas nas alças finas. Aproximou os lábios da orelha da esposa.

               – Acha mesmo? – Questionou em voz baixa.

                – Sim… – Disse umedecendo os lábios. – Mas confesso que prefiro quando não há nada em seu corpo…

             A Santorini sentiu as faces correrem diante das palavras, mas não recuou, talvez o vinho a tenha deixado mais corajosa.

              – E por que prefere assim? – Baixou as alças do vestido da sheika lentamente e logo aparecia os seios totalmente despidos. – Está com frio? – Perguntou ao ver os mamilos intumescidos. – Deixe que te aqueça.

               Samantha sentia as mãos em forma de concha para proteger seus montes redondos e estreitou os olhos em prazer.

              – Tenente… – Falou em um sussurro que lembrava um gemido. – O que você deseja?

              A filha do Serpente via o olhar provocante pelo reflexo do espelho. Os olhos dourados que estavam escurecidos.

             – Quero o meu presente de Natal…

             A Lacassangner virou-se devagar e agora encarava a jovem.

            – E o que seria esse presente? – Perguntou com os olhos a brilharem.

             – Você, pirata, você é o meu presente… quero você…

              As bocas se encontraram em uma carícia delicada de início. Mel parecia relutante, temerosa, mas quando sentiu a língua da esposa buscando a sua, os temores foram expulsos.

                Circundou o pescoço da amada, enquanto se quedava ali, sentindo as mãos delicadas da mulher lhe acariciar a cintura.

               O beijo parecia querer prolongar-se por horas, não parecendo se importar com o tempo.

             O delicado vestido da Samantha tinha parado em sua cintura.

              – Esse é o presente que você queria, tenente? – Indagou contra a boca carnuda.

             – Não, eu a quero por completa, para mim por toda a eternidade… Pode me dá?

               Os olhos azuis pareciam confusos, mas a filha do duque não se importou com tal fato, então devagar fez a peça cara cair no assoalho e agora só restava uma calcinha na mesma cor do vestido. Delicados fios a prendia no quadril.

              Espalmou as mãos nos seios redondos, acariciando-os.

               – Você é uma feiticeira, minha linda pirata…Pensei que não havia nada sob sua roupa...

            -- Se soubesse da sua visita, nem teria me dado o trabalho de usar...

            -- É tão minúscula... – Tocou-a delicadamente.

            Samantha semicerrou os olhos ao sentir os beijos que agora seguiam por seu pescoço, parando em seus montes…

              Beijava-os com verdadeira devoção. Tocava ambos, sentindo como pareciam pronto para si… Passava a língua em um, enquanto usava o polegar e o indicar para estimular o outro.

             A Lacassangner acompanhava tudo com crescente excitação.

              Cerrou os dentes quando uma das mãos da bela militar adentrou sua calcinha. Estava tão molhada que logo a sentia deslizar para seu interior.

              Seus quadris moviam-se contra ela…

             Há quanto tempo a queria assim?

             Como fora difícil aqueles dias sem poder toca-la…Como penara na cama enlouquecida por sua vontade...

             Estava com os olhos fechados em deleite, mas logo a carícia tinha sido interrompida, frustrando-a, porém ao olhar para baixo, viu a Santorini ajoelhada diante de si. Não havia mais calcinha, apenas seu sexo que estava sendo explorado como uma delicada peça por uma especialista.

              Gemeu baixinho quando viu a boca rosada se encontrar com outra um pouco mais delicada… 

               Olhava apaixonada para o beijo que desenrolava ali.

              Mexeu-se mais contra ela.

              – Eu amo seu cheiro e o sabor do seu corpo… – Mel sussurrava. – Poderia passar toda a eternidade provando do seu delicioso néctar…

            Samantha seguia com sua curiosidade e logo via como era deliciosamente penetrada por um indicador que percorria seu caminho com maestria. Exigiu como apenas uma rainha sabe fazer que mais um fosse colocado e como uma boa serva, Mel atendeu ao pedido.

           A pirata mexia-se contra ela, enquanto lhe segurava a cabeça para lhe manter cativa. Delirava no toque e dos seus lábios saiam frases sem nexos, mas o nome da amada era pronunciado tantas vezes que parecia se tratar de um eco que reverberava sem parar.

           Não demorou para que seu corpo fosse tomado por um prazer indescritível que parecia não ter fim.

           A tenente levantou-se e tomou a boca na sua. Abraçando a esposa que tremia sob seus braços.

            Sorriu ao ver a face da bela Lacassangner banhada pelo brilho da lua que agora aparecia por trás das nuvens escuras. Ela estava com as faces rubras.

             Já se preparava para falar algo, mas a pirata logo a livrou do vestido, tomando-a em uma carícia.

             Aos poucos seguiram até o leito e logo a última peça de roupa e os elegantes sapatos formavam uma pilha jogados no meio dos aposentos.

           Samantha estava sobre sua amada. Apoiava-se nos braços, enquanto uma das pernas estava acomodada no meio de outras mais torneadas.

               – Deixe que lhe dê mais presentes…– Falou em seu ouvido. – Não foi suficiente ainda…

               Mel sorriu languida. 

              Amava a forma como a filha do Serpente a tomava para si. Era como se soubesse todos os segredos mais íntimos que nunca tinha falado a ninguém. Abraçou-a, fincando suas unhas nas costas feminina, movendo-se, enquanto a via rebolar sobre seu sexo molhado.

            -- Deixe que retribua o prazer que me proporcionou...

            A Santorini apoiou-se nos cotovelos e via como a boca da esposa distribuía beijos por cada parte de si. Deteve-se em seus seios, chupando-os, usando a língua para incitar os mamilos que já seguiam a implorar pelo toque.

            -- Ain... – Gemia. – Ah, Samantha...ah…

            A morena continuou sua exploração, beijando o abdômen, enquanto massageava as coxas torneadas, seguindo até a virilha...

            Mel inclinou a cabeça para trás a afastou mais as pernas, deixando-as mais abertas para permitir total acesso.

            A pirata sorriu e depois iniciou beijos pela parte de fora do triângulo, passava a língua devagar, brincando e provocando-a, pois sabia que ela queria muito mais que aquilo.

            -- Por favor...ain... – A militar pedia.

            A pirata acatou seu pedido e logo abria mais sua carne e passeava com a língua por toda extensão. Beijava-a, lambia...mordiscou e ouviu-a gemer mais alto. Devagar, começou a explorá-la por dentro, invadindo-a, chicoteando sua carne...

            Os quadris da filha do duque movimentava contra si, esfregava-se toda contra sua face...

            Rebolou mais e mais, porém antes que chegasse ao clímax, Samantha montou-a e mais uma vez conduziu-a ao supremo prazer.



               O sol já estava alto, mas os aposentos da Lacassangner continuava fechado.

            Mel tinha acabado de sair do banho e sua esposa ainda estava dormindo entre os lençóis de seda.

             Sorriu.

             Passaram toda a madrugada amando-se e já era dia quando foram dormir.

             Mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto a olhava.

              Se não tivesse que ir até o hospital, passaria o dia nos braços da amada.

               Não resistiu a vontade de lhe dar mais um beijo, então seguiu até a cama, sentando-se na beirada. Tirou alguns fios que caiam sobre a face da pirata, depois lhe beijou e não demorou para os olhos azuis abrirem-se sonolentos.

             – Continue a dormir, meu amor… está cedo…

            Samantha olhava tudo ao redor e aos poucos começava a lembrar de como fora maravilhoso a noite. Em alguns segundos chegara a pensar que fora um sonho, mas ao ver a esposa a lhe fitar, percebia que tudo tinha acontecido realmente.

              A pirata espreguiçou-se como se fosse uma gata manhosa e o lençol cedeu expondo o seio redondo.

               Aprumou-se no leito, sentando com as costas encostada na cabeceira, arrumando o cobertor.

              – Tenho que ir até ao hospital, preciso ver o meu avô. – Segurou-lhe a mão, beijando-a. – Mas não vou demorar…

           Antes que pudesse se afastar, Samantha lhe segurou a mão, puxando-a para si, acomodando-a ao seu lado.

              – Antes preciso saber se estou sonhando…

              Mel já abria a boca para protestar, mas seus protestos foram sufocados por um beijo que aos poucos parecia se aprofundar mais e mais. A tenente espalmou as mãos sobre os seios da amada, tentando detê-la.

                – Não foi um sonho, pirata… – Acariciou-lhe a face. – Sei que há tanta coisa em nosso caminho, porém mesmo assim, eu te quero… quero que me ame, quero que fique comigo…

               Samantha sentia uma felicidade imensa, mas ainda parecia temerosa.

             Segurou-lhe a mão.

             – Irei contigo ao hospital, espere apenas que tome um banho, não queria que saia sozinha.

               – Não, amor, irei com os seguranças, prometo que vou me cuidar… – Beijou-lhe os lábios rapidamente.

               Um miado foi ouvido e a porta arranhada.

                – A Sorte está reclamando…

               Antes que Samantha pudesse falar algo, a esposa escapou.

 

            

              O duque andava de um lado para o outro no quarto de hotel onde estava hospedado.

                 – Preciso encontrar essas provas antes que a maldita pirata encontre! – Esbravejava.

                   Ester estava sobre o leito ainda despida.

                – Acho que a sua filha está distraindo muito bem a Samantha.

              Os olhos castanhos de Fernando estreitaram-se furioso.

                  Ainda não engolira o fato de Mel ter retornado para a cobertura, então fizeram uma investigação simples e descobrira que ela tinha feito o maldito exame de DNA e constatara que tinha sido vítima de uma mentira.

              – A tenente é uma tola… não vai demorar para que a pirata a jogue fora…Eu mesma irei ajudar…

               O Del Santorra foi até a cama e segurou a jovem pelo pescoço, fazendo-a levantar.

                – Não use seus truques sujos contra a Mel, acha mesmo que esqueci que você foi responsável pela queda que ela sofreu?

             – Apenas fiz para que tivesse mais raiva da esposa…– Dizia perdendo o fôlego. – Sabe bem que não queria que nada de ruim acontecesse.

               O homem estreitou os olhos e apertou um pouco mais e depois a soltou.

                – Não se aproxime da minha filha, deixe que com a Lacassangner eu me vire… vou mandar a Mel para bem longe, seu irmão vai me ajudar, quero que ela saia dessa história…

               – E deixe o caminho livre para que tenha a Sam só para ti…

               – Ela vai me pertencer, vai pagar a afronta que a maldita Iraçabeth me fez, tenho direitos sobre a filha do Serpente e não vou parar até tê-la para mim.

             – E como vai conseguir algo assim?

             – Quando tiver as malditas provas nas mãos conseguirei manipular a maldita pirata…eu sei que conseguirei…

             – Não sei se será algo tão fácil assim… – Comentou. – Samantha não é tola como a maioria das pessoas… vai precisar de muito mais que isso para convencê-la.

               – E quem disse que terei que convencê-la? 

                Ester via nos olhos dourados uma insanidade infinita.

                Não havia dúvidas da obsessão que ele tinha pela Lacassangner e como estava disposto a tudo para tê-la para si.



             Samantha ficou sentada na recepção, enquanto esperava a esposa que acabara de entrar no quarto do almirante. Tinha conseguido alcança-la no corredor dos aposentos, então tivera que esperar pela filha do Serpente para que fossem juntas.

             A Lacassangner cruzou as pernas e ficou rabiscando em um bloco de notas. Sabia que precisava encontrar as provas que Tobias tinha deixado, mas ainda não conseguia pensar onde ele poderia ter escondido. O navio Víbora já estava descartado e quanto ao Serpente? Teria tido acesso, mesmo depois de tomado pela marinha? Pensava e pensava e chegava a ser agonizante imaginar que outros colocariam as mãos em todos aqueles fatos.

               Ouviu passos e ao levantar a cabeça viu Juan a lhe fitar em desafio.

             – Acha mesmo que esse seu casamento vai durar muito, pirata? – O homem indagou com ar de ironia. – Se eu fosse você aproveitaria bastante, pois logo não vai restar nada.

            Samantha esboçou um sorriso.

            – Imagino que esteja esperando para catar as migalhas…que papelão hein… devia ter mais orgulho próprio.

             A face do empresário ficou vermelha em um claro sinal de cólera.

              – Vai se arrepender…Vai se arrepender da mesma forma que se arrependeu quando casou com a sheika… Lembra o corpo ensanguentado sobre o carpete persa… pena que você não morreu também…

           Os olhos azuis abrirem-se em perplexidade.

                Levantando-se, caminhou até ele, segurando-o pelo colarinho.

                – Como sabe disso? – Questionou por entre os dentes.

 

 

 

Comentários

  1. Esperando o feliz ano novo, autora...kkkk Feliz ano novo e obrigada por nos proporcionar ótimas leituras!

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