A víbora do mar - capítulo 34 - A neta de sangue
A
noite estava estrelada, não tão bonita quanto acontecia no período noturno do
interior, porém parecia bastante brilhante para a poluição urbana. O fluxo de
veículos não era ouvido no alto da cobertura, então era possível fingir que não
se estava na badalada capital dos mares.
Mel
não tinha conseguido se concentrar em seu livro por muito tempo. Vez e outra
seus pensamentos eram invadidos pela imagem da pirata atirando contra a
serpente. Nem lembrava ter visto a cabeça da cascavel dilacerada, apenas o som
do estampido e o olhar da esposa em seu controle total. Não sabia que a arrogante
mulher era tão boa com armas, pois a distância que estava para alguém
inexperiente seria um desafio grande acertar o alvo. Ainda não agradecera a
Lacassangner pelo o que ela tinha feito, na verdade ficará tão chateada quando
Marina falara sobre os comentários do povoado que apenas se concentra em sua raiva,
esquecendo da gratidão que sentia por ter sido salva e encontrada pela morena
de olhos da cor do mar.
Observou
a brochura que tinha deixado de lado, vendo a capa colorida…
O
texto falava de um amor impossível, um sentimento que não poderia de forma
alguma acontecer, um sentimento que parecia inverossímil ter nascido, mas
nascera e agora parecia um furacão passando por cima de tudo o que estava no
caminho.
Fitou
a própria perna que estava imobilizada. Poderia ter sido bem pior.
Usava uma bota que imobilizava seus movimentos. Não podia
abusar, assim logo se recuperaria.
Segurou
a medalhinha que trazia no pescoço e abriu-a, viu a foto da mãe que sempre
carregava consigo. Aquele fora o último presente que recebera de Marie. Nunca
deixara de sentir sua falta em todos aqueles anos.
Ouviu
passos e pensou que era a babá que já tinha retornado. Mas ao levantar a cabeça
com um sorriso, viu a esposa.
Observou
a camisola de seda preta expondo as coxas torneadas e os pés descalços.
Sempre
que a via parecia que seu coração pulsava em um total descontrole. Não queria
chegar perto dela, pois percebia que seu controle era perdido.
Viu-a
lhe fitar e parecia surpresa com sua presença.
Esperava
que a babá retornasse o mais rápido possível. Não desejava falar com a
protegida da Miranda, pois sabia que acabariam discutindo.
–
O que faz aqui? – Samantha questionou se aproximando. – Não deveria estar
descansando?
A
Lacassangner observou a mulher acomodada semideitada na espreguiçadeira.
Desde
a última vez que a viu no hospital não tinha a visto mais, na verdade estava
evitando, pois sabia que teriam um novo confronto.
Parou
diante dela e seus olhos automaticamente fitaram o tecido de seda do roupão que
estava um pouco levantando expondo boa parte da coxa.
Se
soubesse que a encontraria, não teria ido até ali.
–
Não sabia que precisava da sua permissão para vir aqui.
Mel
respondeu e ao ver o olhar desavergonhado da esposa, arrumou a roupa, sentindo
a face corar.
Aquela
mulher só podia ser um doente sexual! – Pensava furiosa.
Com quantas outras se deitaria e ainda não parecia
satisfeita...
Samantha
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
–
Está muito rebelde desde a fazenda! – Reclamou jocosa.
–
Bem, já que não corro mais o risco de ter meu matrimônio anulado, não preciso esbanjar
simpatia. – Disse, enquanto voltava a pegar o livro.
A
pirata exibiu um sorriso.
A
herdeira do duque prendeu o fôlego.
Maldita Víbora linda!
Samantha
puxou a outra espreguiçadeira para bem perto de onde a militar ocupava, depois
se acomodou sentando.
–
Então tudo estava calculado quando transou comigo! – Exclamou com humor. –
Tenente, jamais imaginei que era tão importante continuar sendo minha amada
esposinha.
Mel
relanceou os olhos e teve que segurar a vontade de jogar o exemplar açucarado
nela.
Fitou a aliança que carregava em seu anelar. Desde que
tinha sido armado o casamento não a tinha tirado, mas já sentiu vontade de
jogá-la bem longe.
Mirou os olhos azuis que brilhavam o sarcasmo.
Estava
claro que a Lacassangner tinha bebido mais que o suficiente. Ela não estaria
ali com aquele deboche todo se estivesse sóbria.
–
E que milagre é esse que não está em boates com as suas concubinas?
–
Estava cansada, então decidi ficar em casa. – Segurou as pontas do cordão que
fechava o roupão, parecia distraída. – Esses dias não foram fáceis, acho que
ainda estou com a impressão que você está perdida naquele barranco e aquela
cobra é apenas uma ameaça pequena em relação a outras piores.
Antes
que a Santorini pudesse falar algo, ouviram passos e Marina aproximou-se. Em
uma mão equilibrava uma bandeja com lanches, na outra trazia a gatinha que
parecia bem à vontade, miando quando viu a dona.
A
empregada soltou a bichana que saiu disparada até a militar.
O
pelo negro brilhava. Acomadada no colo da sua humana preferida, parecia não se
importar com o clima que se instalara entre as presentes.
--
Boa noite, senhora! -- Marina cumprimentou a Sheika. -- Não sabia que estava
aqui, se quiser preparo algo para que lanche.
--
Quanto a isso não precisa se preocupar, não estou realmente interessada em
comida. – Levantou-se.
A
tenente pensou aliviada que ela iria embora, porém ficou surpresa ao ver que a
pirata livrou-se da camisola e agradeceu a Deus por ela estar usando um
conjunto de lingerie, porém se arrependeu ao ver como era provocante a peça
delicada. Não passava de um fio em suas nádegas firmes.
Baixou
a vista ao ver Marina a lhe fitar. Sentiu a face em brasas.
–
Vai entrar agora, filha?
Mel
pegou o copo de suco e bebeu um pouco. O sabor do maracujá estava delicioso e
lhe ajudaria a dormir melhor, quem sabe acalmaria seus nervos.
–
Daqui a pouco, babá, esperarei um pouco pelo sono.
Assim que terminou de formular a frase, arrependeu-se,
afinal, poderia livrar-se da presença irritante da filha do Serpente.
Já abria a boca para retratar-se quando ouviu Marina.
–
Está bem, avise que venho te ajudar. – Beijou-lhe o topo da cabeça. – Vou
entrar porque aqui está um pouco frio para mim.
A
Santorini assentiu com desgosto e logo via a empregada se afastar. Sorriu ao
ver Sorte querendo roubar um dos biscoitos, então o partiu e lhe deu um pedaço
pequeno.
Ouvia
o som da água. A esposa tinha mergulhado e nadava de um lado para o outro como
se estivesse em uma competição.
Continuou
comendo e não demorou para a morena deixar a piscina e seguir até o lugar que
tinha se acomodado antes. Mel tentava apenas olhar para seus olhos, pois se
sentia hipnotizada diante da beleza do corpo feminino.
–
Essa gatinha está de volta é?
Como
o animal estava sobre o colo da Santorini, não foi possível evitar o contato do
seu braço com a militar quando acariciou o felino.
–
Sim, eu te pedi para trazê-la não lembra?
Um
sorriso de lado surgiu nos lábios cheios.
–
Claro que sim, e ela é bem-vinda a minha casa, mas se aprontar como da última
vez, vamos ter gato ensopado no jantar.
Os
olhos dourados lhe enviaram advertência.
–
Não acho que estamos na época da sua selvageria não.
–
Ah, não, por quê? – Disse, fingindo-se de ofendida. – Eu mesma pensei que você
era adepta disso.
Mel
via naqueles olhos do que ela estava a falar.
–
Pensei que gostasse…
Samantha
ficou brincando com a gatinha, enquanto a Mel apenas tentava evitar olhá-la.
Achou
engraçado quando Sorte cravou os dentes no pulso da pirata e depois saiu
correndo com medo de ser punida.
–
Isso que você anda ensinando a sua filhota é? – Reclamou sisuda.
–
Você estava perturbando-a, ela apenas se defendeu.
–
Ora, então você também morderia? – Indagou esfregando o pulso. – Depois sou eu
a selvagem...
–
Para me defender, sim, com certeza que morderia.
–
Então essa sua boquinha tem muitas utilidades não é? – Segurou-lhe a mão. –
Conte-me.
Mel
tentou se livrar do toque, mas a outra não permitiu.
–
Que aliança bonita… – Comentou. – Uma mulher casada completa. – Desdenhou.
–
Minha esposa bebeu muito, acho melhor que volte para o quarto ou para algum
cabaré que goste de frequentar. – Falou puxando a mão. – Deixe-me sozinha, pois
a sua presença tira a minha paz... Me desagrada muito tê-la por perto.
Samantha gargalhou.
O som rouco parecia gostoso de se ouvir.
–
E você acha que não tira a minha? – Questionou aproximando a face da dela. –
Acha que prefiro não ficar por aqui por qual motivo? Sinto verdadeira agonia
quando penso que está aqui, quando sei que está tão perto.
Mel
Observou-a umedecer os lábios e viu a pontinha da língua. Sentia o hálito
mesclado ao vinho. Não havia mais o humor irritante.
–
Não entende que desde que cruzou o meu caminho tudo se tornou complicado? Antes
eu agia como se nada me interessasse, não me importava, porém agora estou
sempre perdendo a paz que erroneamente pensei que tinha.
–
E você acha que a minha vida é um mar de rosas depois que chegou? – A Santoni
indagou impacientemente. – Acha que é fácil lidar com a Víbora do mar?
Samantha
chegou mais perto, segurando-lhe a nuca, fazendo aproximar o rosto.
–
Deixa eu te mostrar como é fácil…
Antes
que a militar pudesse protestar, sentiu a boca rosada tomar a sua.
Cerrou
os lábios, porém a outra era muito insistente.
–
Deixa eu te beijar, minha esposa…
A
voz rouca e baixa pediu de forma que era impossível dizer não.
Fitou
os olhos azuis, eles brilhavam.
Deixou-se
beijar e foi como se nada mais importasse enquanto a boca mergulhava na sua.
Deixou
a língua penetrar e segurou-a por alguns segundos. Sentiu a outra fazer o
mesmo, chupando-a devagar, depois colocando mais pressão.
Mel
sentiu a mão aliviar a firmeza em sua nuca e logo as sentia tocando seu corpo
sobre o tecido de seda. Não demorou para os dedos passearem por seus seios,
tocando-os pacientemente.
–
Eu os adoro… – Sam sussurrou. – Quando os vejo fico com vontade de chupar…Passar
a língua nos biquinhos e vê-los desabrochar como botões de rosas...
A
Santorini sentia o corpo em brasas.
Engoliu em seco. Buscava o controle, tentava não pensar
nas sensações que sentia quando era tocada, quando era acariciada...
"Deus,
parecia que nada mais existia, só aquelas sensações perturbadoras e
deliciosas."
A
militar voltou a beijar os lábios, enquanto permitia que as carícias em seu
busto continuasse. Só mais um toque não iria fazer mal, logo retomaria o
controle e a discussão seria retomada.
Samantha
se acomodou de lado na mesma espreguiçadeira que a esposa, assim tinha mais
facilidade para tocá-la. Virando-se para ela.
Baixou
as alças e expôs os seios.
–
Vai chegar alguém… – Mel advertiu-a.
A
Lacassangner usava o polegar para fazer os movimentos circulares nos mamilos
até senti-los incitando-os. Parecia interessada em ver a reação que provocava,
nem mesmo ouvindo a queixa que se fazia.
A
morena baixou a cabeça e passou a beijar seu pescoço, depois desceu, beijando
os seios, passou a língua sobre os biquinhos, fazendo-o sem pressa, apenas desejando prolongar o momento.
Mel
ficou ereta, empinando-os para sentir com maior intensidade. Inclinou a cabeça
para trás e gemeu baixinho. Acariciou os cabelos molhados da amada, sentia-a
cada vez ousada. Não demorou e logo percebia que uma das mãos já passeava por
suas coxas e logo posava sobre sua calcinha.
A
tenente sentiu-se acanhada, pois a peça íntima que usava não tinha nada de
sensual, mas a pirata não parecia se importar com esse detalhe.
Sentia
o toque delicado sobre o tecido, mas logo a mão atrevida tocava sua pele nua.
Deteve-a,
segurando-lhe o pulso.
–
Não… não devemos… – Falou com pouca convicção e com a respiração acelerada. –
pare…
Os
olhos azuis lhe fitaram.
–
Negue que me deseja, porém faça isso olhando para mim. – Segurou-lhe o queixo.
– Eu sei que me quer, eu sinto isso…Então me negue.
Fitavam-se, ambas buscavam algo diferente a encontrar.
–
Não posso ficar com uma mulher que vive cheia de amantes…
–
Amantes? – Exibiu um sorriso. – Até aquela noite que chegou à minha fazenda
pronta para se entregar… fazia dez anos que não tocava nem era tocada por uma
mulher… – Usou o polegar para lhe acariciar o lábio inferior. – Não sentia nada
depois que a minha esposa morreu, era como se eu estivesse morta… até te
encontrar e sentir que todas as labaredas queimavam dentro de mim.
Os
olhos dourados pareciam surpresos com o que ouvia. Como assim? Seria realmente
verdade?
Já
pensava em questionar o que ouvia, mas logo se sentia excitada com o toque em
sua boca e não demorou para passar a língua pelo indicador da Sheika. Depois
chupou-o, enquanto não desviava o olhar da amante.
Mel
viu-a voltar a colocar a mão no interior da sua calcinha e logo sentia o
polegar acariciando seu pelos ralos. Dobrou a perna que não estava machucada,
assim dava um acesso melhor ao seu sexo.
Estava
tão molhada e excitada que sentiu-a deslizar para seu interior sem quase
esforço.
Enquanto
friccionava a carne molhada, colava os lábios em sua orelha.
–
Ah, tenente, eu sou louca por você…nunca em minha vida me senti assim com ninguém…
Mel
não sabia o que mais a estava enlouquecendo, o toque que aumentava aos poucos
ou as palavras ousadas que eram pronunciadas.
Gemeu
alto.
–
Quero mais… – Pediu. – Mais...
Movia-se contra ela...
Sentia os movimentos aumentarem e ansiou por tocá-la
também.
As bocas estavam unidas, perdidas em um beijo...
Os pensamentos conflitantes da tenente estavam
adormecidos naquele momento, ela apenas sentia e queria sentir muito mais.
A sheika ouvia a respiração acelerada.
Mergulhou os lábios em seu pescoço.
Ouvia as frases desconexas da esposa e sentia o próprio
corpo implorar por satisfação.
-- Mais rápido...mais...mais...
Samantha
fez o que ela pedia e não demorou para senti-la se derramar em prazer.
Ouviram
passos e a pirata voltou a se acomodar na própria espreguiçadeira.
A
morena viu Mariana se aproximar. Observou a face corada da militar. Observou-a
com mãos trêmulas arrumar a camisola.
A
mulher olhou para as duas mulheres.
–
Bem, me disperso, preciso descansar, boa noite! – A pirata disse levantando-se.
– Tenha uma boa noite de sono, jovem Santorini.
Mel
a viu se afastar no seu minúsculo biquíni e sentiu uma vontade enorme de
tocá-la.
Suspirou
ao ver a própria perna.
Seu
corpo ainda estava em chamas sedento por muito mais do que o que teve.
–
Seu avô, filha…
A
voz da babá soou insistente, pois já era a segunda vez que dizia.
Os
olhos dourados fritaram Marina e a viu lhe estender o telefone.
–
Ah, sim! – Disse pegando o aparelho.
Ouvia
a voz de Sir Arthur que pouco falou, apenas dizendo que no dia seguinte estaria
na cobertura para que resolvessem toda aquela história de uma vez por todas.
Apenas
assentiu, enquanto o almirante encerrava a chamada.
O
que teria acontecido para o avô decidir de uma forma tão desesperada? Saberia
de algo?
–
Tudo bem? – Marina questionou preocupada.
A
jovem fez um gesto negativo com a cabeça.
–
Não sei, veremos amanhã. – Tentou de ajeitar, sentando-se. – Acho que vou para
o meu quarto.
–
Chamarei um segurança para te levar.
–
Não, consigo ir usando as muletas.
A
babá lhe entregou o apoio e seguiram devagar para o interior da cobertura.
Samantha
saiu do banho usando apenas uma toalha ao redor do corpo. Demorara um pouco
mais, pois precisara tocar-se várias vezes para tentar amenizar a vontade que
sentia de sentir prazer. Isso sempre acontecia quando estava na presença da
Santorini. Ainda estremecia quando lembrava como ela se deliciara com suas
carícias há pouco na ala da piscina. Não era qualquer mulher, era a sua esposa
e só em pensar que estavam ligadas assim, enchia-se de vontade e de temor por
estarem juntas.
Caminhou
até a janela e ficou lá apenas observando a noite escura. Teria que retornar à
fazenda, mas isso não era algo que se interessasse nesse momento. Sentia-se temerosa
em deixar a tenente sozinha na capital, ainda mais porque ainda não tinha
acreditado que ela simplesmente caíra do cavalo. Alguém podia ter armado tudo
aquilo e por pouco algo pior não tinha acontecido. Quando pensava o que se
tinha ocorrido, sentia um frio na espinha. Não sabia o que teria feito se algo
terrível tivesse se passado com a militar. Protegeria-a de tudo e de todos,
mesmo que soubesse que seria o maior perigo na vida da Santorini.
Na
manhã seguinte, Mel tomou banho ajudada pela fiel babá e depois seguiu para a
sala. Sentiu o cheiro gostoso de desjejum que estava sendo preparado. Nem tinha
percebido o quanto estava faminta naquele dia. Na noite passada não dormira tão
bem, não porque estivesse sem sono, mas pelo fato de ter em seus sonhos o tempo
todo a presença envolvente da pirata. Era como se ela estivesse lá, como se
suas mãos atrevidas passassem por seu corpo de forma despudorada como tinha
feito na piscina.
Sentia
a face corar só em pensar em como fora gostoso a forma que fora tocada.
Gostaria de ter continuado, adoraria ter passado a noite nos braços da filha do
Serpente, apenas se deliciando com a forma ousada e deliciosa que era tomada.
Meneou
a cabeça para livrar-se desses pensamentos. Não podia se deixar levar
simplesmente pelo sexo, não mesmo, isso seria algo que não aceitaria. Não de
alguém que não lhe respeitava, tampouco lhe inspirava confiança.
Ouviu
a campainha e não demorou para a empregada abrir. Viu o avô. Não se levantou
para ir até ele.
–
Estou disposto a fazer o que você deseja, contanto que acabe de uma vez por
todas com esse casamento. – Ele foi logo dizendo sem nem mesmo cumprimentá-la.
– Vou contar a todos que a Víbora é na verdade a minha neta, filha da
Iraçabeth…
Os olhos dourados pareceram confusos.
–
E acha que isso é suficiente para protegê-la?
–
Vou contar a todos a forma como o Serpente foi morto, estou disposto a fazer
tudo isso, mas venha comigo hoje mesmo. Quero que fique comigo, Mel. – Sentou
ao lado dela, segurando-lhe a mão. – Nada vai acontecer com a Lacassangner,
exporei todos os acontecimentos e isso vai ajudar a respaldá-la ainda mais.
A
jovem tinha um semblante confuso.
–
Não acho que só isso vá ajudar.
–
Já fiz uma denúncia contra um dos membros da tripulação do Serpente, ele quem
me entregou a Samantha no dia que fora se encontrar com a Ester. Eu acredito
que ele sabe muito de toda a história. Vamos fazer tudo o que você deseja, mas
venha comigo.
–
Vovô, eu continuarei aqui até que realmente veja algo concreto, o senhor apenas
diz o que vai fazer, porém nada vejo que possa ajudar a proteger a Samantha.
Sir
Arthur passou a mão pelo escasso cabelo.
Não
tinha conseguido dormir pensando nas palavras do duque, sabia que ele não
estava brincando. Faria tudo para tirar a filha daquela jogada, ele estava
totalmente obcecado pela pirata.
–
Filha, não é uma boa ideia ficar ao lado da Víbora. Essa mulher é um perigo na
sua vida… – Suspirou. – Mas vou fazer tudo o que disse e não vai demorar para
que saia dessa história. Você vai para longe, bem longe, irei contigo. Deixe tudo
para trás e refaça a sua vida longe dessa mulher.
Mel
fez um gesto de assentimento.
–
Ligarei para ti assim que tiver resolvido tudo.
–
Ora que surpresa acordar e encontrar uma pessoa de tão grande renome na minha
humilde residência. – A Lacassangner esboçou um sorriso. – Café da manhã entre
família? Preciso de uma roupa nova para esse evento.
A
Santorini e o avô se viraram para o som baixo e cheio de sarcasmo.
A
militar viu a esposa exibindo aquele sorriso cheio de desdém. Ela parecia
pronta para sair. Usava calça de cintura alta, branca. Uma blusa de gola meio
longa adentrava para o interior do tecido. Os cabelos negros estavam soltos,
usava óculos e tinha uma expressão sarcástica.
–
Não sabia que teríamos visitas para o café da manhã. – Comentou fitando ambos.
– Posso me juntar a vocês? – Questionou com um arquear de sobrancelha.
Mel
soltou um longo suspiro.
Odiava
quando a Lacassangner exibia aquele ar de superioridade. Detestava aquela
expressão que nunca exibia o que realmente sentia, mas mascarava seus
sentimentos por trás daquela camada de deboche.
Respirou
fundo e sentiu o delicioso perfume que se depreendia dela. Sempre se perguntava
qual era a essência que ela usava, pois nunca tinha sentido aquela fragrância
em lugar nenhum.
–
Bem, você pode ficar com a gente, será um prazer tê-la ao nosso lado. – Mel
comentou. – Afinal, estamos em família.
Sir
Arthur levantou-se, beijou a face da neta.
–
Falo contigo depois, e assim deixará essa casa o mais rápido possível.
Mel
fez um gesto afirmativo com a cabeça e não demorou para o homem sair sem nem
mesmo dirigir uma única palavra a verdadeira neta.
–
Parece que o vovô não gostou do cardápio do desjejum. – Samantha comentou
sentando-se na poltrona de frente. – Teve uma boa noite de sono, minha esposa?
– Indagou com um sorriso desavergonhado. – Espero que sim.
–
Não estou interessada nas suas provocações, víbora do mar!
–
Não é assim que se chama uma esposa… prefiro ser chamada de "meu
amor", "minha vida", "meu tesão", " docinho de
coco"...
Mel
cerrou os dentes fortemente.
–
Passarei o dia fora resolvendo algumas pendências. – Falou, levantando-se. –
Mas volto à noite. Cuide-se e não faça nada para que possa te machucar. – Foi
até ela, depositando um beijo em sua face. – Ah, a partir de hoje vamos dormir
no mesmo quarto e na mesma cama. Estou cansada de dormir sozinha, afinal, se
estou casada, vou viver como casada até o dia do nosso divórcio. – Piscou. –
Tenha um ótimo dia, minha linda mulher.
A
tenente jogou uma almofada, mas a outra desviou e saiu rindo da cobertura.
–
Cadela safada! – Rosnou furiosa.
Miranda
estava em seu escritório, sentada confortavelmente e ouvindo o detetive
particular na presença da Samantha. Esse tinha sido o homem que fora contratado
pela Santorini, o mesmo que tinha escondido os fatos descobertos.
–
O senhor recebeu dinheiro e fez totalmente o contrário! – A Lacassangner falou.
Em
mais de duas horas de conversa, aquela fora a primeira vez que a pirata tinha
dito algo. Ela permanecera em silêncio durante todo o tempo, mas parecia que a
paciência tinha acabado.
–
O duque disse para que saísse dessa história! – O homem se protegeu temeroso. –
Disse que teria sérios problemas porque a tenente estava transgredindo as
ordens que tinha recebido… fiquei assustado.
–
Assustado? – Samantha indagou baixinho de forma ameaçadora. – Apenas agiu como
um desgraçado sem se importar em inventar mentiras.
A
Maldonado enviou um olhar para a filha do Serpente, pedindo calma.
–
Você agora está disposto a cumprir com o seu dever…
O
homem fez um gesto afirmativo com a cabeça, parecia apressado para confirmar
que colaboraria.
A
chefe do departamento levantou-se, estendeu a mão em cumprimento e logo o homem
saia.
–
Você precisa manter a calma, Sam. Sabemos que estamos lidando com pessoas
perigosas.
–
Calma? – Indagou com os olhos semicerrados. – Acha mesmo que terei calma, você
acha mesmo que a Mel vai estar segura com tudo isso? – Levantou-se. – Miranda,
você colocou a tenente diante do fogo cruzado. – Andava de um lado para o
outro. – Diga-me, foi um acidente mesmo a Mel ter caído do cavalo?
A
chefe do departamento fez um gesto negativo com a cabeça.
–
Não sei, acredito que pode ter ocorrido algum problema…
–
Diga de uma vez! – Exigiu.
–
Ou a sela estava muito gasta ou… alguém cortou-a.
Os
olhos azuis estreitaram-se.
–
Então, você sabe que não foi um acidente.
–
Samantha, vai dar tudo certo, tenha calma e faça sua parte. – Colocou a mão
sobre o ombro da pirata. – Vá à recepção do almirante Ernesto, o duque estará
lá, é importante que se aproxime, vamos ver o que ele vai fazer diante da sua
presença.
–
Se acontecer algo…
–
Não vai acontecer nada com a Mel nem contigo. – Exibiu um sorriso. – Quando
tudo isso passar, você estará ao lado da Santorini, porque você a ama e ela
também te ama.
A
face da pirata empalideceu diante do que ouvia, mas rapidamente se recuperou e
demonstrou total irritação.
Já
passava das vinte horas. Mel tinha decidido jantar no quarto, pois já tinha
passado muito tempo forçando a perna machucada. A TV estava ligada, ela estava
assistindo a um campeonato de esgrima, enquanto tinha sobre o colo uma bandeja
com sopa, pão e alguns biscoitos. Marina tratava a jovem militar como se ainda
fosse a mesma menininha que cuidava quando estava doente.
Tomou
um pouco da sopa e não demorou para a porta abrir, pensou que era a babá, mas
para sua surpresa era a Sheika.
Ela
passara o dia todo fora, não imaginou que a veria naquela noite.
Observou
a expressão cansada e preocupada, mas nada disse.
Os
olhos azuis lhe fitaram.
–
Boa noite, minha esposa, como está? – Indagou seguindo até a outra porta,
seguindo até o closet. – Espero que não tenha feito nenhuma peripécia, precisa
se recuperar.
Mel
não respondeu e depois de alguns minutos a viu voltando, trazia um vestido azul
nas mãos.
Samamtha
caminhou até a militar, sentando ao seu lado, comeu um pedaço de pão.
–
Infelizmente, não poderei ficar aqui apreciando sua beleza, tenho uma recepção
para comparecer.
A
tenente não respondeu, apenas tomou mais uma colherada de sopa.
–
Não vai falar comigo? – Indagou horrorizada. – Não faz nem um ano que estamos
casadas e já age assim? – Levantou-se. – Queria tanto casar comigo e agora age
desse jeito, não deveria ser mais gentil e amável?
–
Oh, sim, tinha me esquecido desse detalhe. – Mel fingiu uma falsa preocupação.
– Boa noite, querida, como foi seu dia? – Esboçou um sorriso que mais lembrava
uma careta. – Posso esquentar a sua água? Te fazer uma massagem nos pés? –
Relanceou os olhos em tédio.
–
Que linda! – Inclinou-se e lhe beijou os lábios de forma rápida. – Você fica
ainda mais linda assim, porém vou ter que deixar a massagem nos pés para outro
momento. – Comeu mais um pedaço de pão. – Tenho um compromisso, amada esposa. –
Piscou e depois deixou os aposentos.
A
tenente não respondeu. Apenas continuo interessada no campeonato e ficou a
pensar na amiga, Cristina, será que estaria bem? Assustava-se com o que o pai
podia fazer. Ainda não recebera um único telefonema do duque. Conhecia bem sua
personalidade, sabia que agiria como se fosse o dono da verdade.
Deixou
a colher que usava de lado.
Seria mesmo que o avô iria dizer a
todos sobre a origem da Víbora?
Se
assim o fosse, a pirata seria vista como a herdeira do almirante Sir Arthur,
porém não acreditava que isso fosse resolver os problemas.
Soltou
um longo suspiro.
O
avô estava tão descontrolado. O que estaria temendo?
O
pai seria capaz de tentar algo contra si?
Não
acreditava nisso, porém ele já tinha armado todas as provas para lhe prejudicar
na marinha. Seu processo corria e sabia que sua punição não seria pequena. Até
o dia que fora até o navio sem permissão entrara no relatório. Não queria nem
pensar se soubessem a razão de não ter gritado e denunciado a Lacassangner.
Naquela noite estivera totalmente perdida explorando o corpo feminino que se
mostrava para si como uma tentação mais temível que a própria maçã para Eva.
Permaneceu
ali por quase uma hora, ponderando sobre tudo o que tinha acontecido. Marina
entrou e levou a bandeja e depois de alguns segundos a esposa saiu do quarto
adjacente.
Prendeu
o fôlego ao vê-la em seu vestido azul idêntico ao tom dos olhos. Aquela era uma
peça única. Não tinha mangas, moldava aos seios redondos como se fossem uma
segunda pele. Era longo e tinha uma fenda lateral que expunha a perna longa
coberta por uma delicada meia de seda. Usava luvas pretas que chegavam ao
cotovelo. Os cabelos estavam presos no alto e alguns fios moldava a face
delicada que exibia uma maquiagem discreta, mas que realçava ainda mais a
beleza da pirata.
–
Gostou, minha esposa? – Samantha indagou com um sorriso divertido.
A
militar deu de ombros. Mas isso não foi algo que deixou a filha do Serpente
chateada. Sentou-se ao lado dela e lhe segurou a mão, depositando um beijo em
sua palma.
–
Vai ser um tédio essa festa… estou acostumada a te ter do outro lado da salão
me olhando com ódio… Sabia que me deixava com tesão quando me olhava com esses
lindos olhos soltando chispas de raiva?
Mel
mordiscou o lábio inferior para não rir.
–
Sinceramente, pirata, não tem nada para fazer não? Acho melhor sair logo ou
chegará atrasada.
–
Chegarei? E você acha que isso me importa? Não estou brincando quando digo que
detesto esses eventos, só irei porque é necessário… Quando chegar, conversamos.
– Dei-lhe um beijo rápido nos lábios.
–
Você acha mesmo que ficarei até madrugada te esperando retornar de uma festa?
–
Claro! – Pegou a elegante bolsa. – É minha esposa não? – Conferiu tudo que
estava dentro do objeto. – Você armou um casamento e agora não quer agir como
alguém que está casada… – Meneou a cabeça negativamente. – Se você não deseja
desempenhar suas funções, basta dizer, os papéis do divórcio estão quase
pronto, rapidinho vai se livrar de mim, porém se não o fizer, vamos ter um
casamento de verdade.
–
Está usando isso para me pressionar a assinar o divórcio! – Constatou atônita.
–
Sim, estou, você escolhe como deseja.
Antes
que a Mel pudesse responder, a morena saiu dos aposentos.
A
festa do almirante seguia bastante animada. Os convidados pareciam interessados
em partilhar com o bom homem a sua aposentadoria.
Samantha
chegou à festa acompanhada com o príncipe Ralf. Todos os olhares se voltaram
para a bela mulher em seu traje sensual e elegante. Mas daquela vez não era
apenas pelo fato da beleza estonteante, mas sim pelo casamento que já tinha
sido noticiado em todos os noticiários com a filha do aristocrata Santorini.
Outro fato também tinha a ver com o escândalo que estava se tornando o caso da
tenente. As más línguas diziam que ela fizera86656 tudo para favorecer a
amante, pirata, e por essa razão transgredira todas as regras da marinha.
A
Lacassangner viu o olhar furioso do duque para si.
Sabia
que ele quem tinha armado tudo aquilo. Manchava o nome da filha e ia até a
mídia dizer que reprovava totalmente o agir da herdeira.
Odiava
aquele homem mais ainda por tudo o que ele estava fazendo com a militar. Como
um pai poderia agir de forma tão miserável?
Foi
cumprimentada por alguns conhecidos e foi de grande surpresa quando viu Sair
Arthur aparecer no evento. Há muito tempo não o encontrava nesses lugares.
Deu
de ombros e se acomodou quando Ralf puxou a cadeira para que sentasse.
Já
passava da meia noite quando Miranda chegou ao lado da Belinda. Percebeu quando
Samantha saiu até o toalete e não demorou para ver o duque seguir atrás dela.
Pediu a agente para segui-lo de forma discreta. Não permitiria que ele tentasse
nada contra a pirata, mesmo sabendo que essa não era a intenção naquele
momento.
Samantha
seguia pelo corredor da mansão. Andava a passos lentos e não demorou para
sentir a mão segurando-a pelo braço.
Virou-se
e fitou o Santorini.
–
Boa noite, duque! – Cumprimentou-o com um sorriso.
–
Acha mesmo que esse seu joguinho vai funcionar? – Apertou-a mais. – Eu te disse
para se afastar da Mel.
A
pirata desvencilhou do toque.
–
Na verdade, a sua filha decidiu agir de forma a me proteger e achou que o
casamento seria o melhor caminho.
Os
olhos castanhos estreitaram-se.
–
Acha mesmo que permitirei essa relação, sua tola! É uma boba se pensa que
vai conseguir ficar com a minha filha. Jogou fora a chance de descobrir tudo o
que aconteceu. – Fez um gesto negativo com a cabeça. – E ainda desgraçou a vida
da Mel.
O
maxilar da Sheika enrijeceu.
–
Como pode agir contra seu próprio sangue? – Questionou por entre os dentes. –
Sua falta de caráter supera tudo o que já conheci.
–
Você é a culpada de tudo isso! – Esbravejou. – Saia da vida dela, eu mesmo
conseguirei que ela consiga o perdão pelos atos, farei com que a mandem para
longe e ela continuará a vida dela em paz. Longe de tudo, longe de você.
–
Seria capaz de tentar contra a vida dela? – Indagou horrorizada.
–
Você mais que ninguém deveria saber que uma militar como a minha filha não
saberá lidar com todas essas desgraças… pense no seu pai, veja o que a desonra
fez com ele… É isso que deseja para a minha filha?
Sim,
ela sabia muito bem o que aconteceu com o próprio pai. De como ouvia suas
dores, suas decepções e como parecia triste com o fato de ter saído da sua
amada marinha.
–
Se o senhor ousar fazer algo com a Mel… – Ameaçou.
–
Já estou fazendo, querida,e logo ela vai ficar pior que o seu pai… Uma pena –
estendeu a mão e lhe tocou a face – pergunto-me se realmente amou tanto a sua
amada esposa, Sheika, ou apenas quisera o dinheiro que ela tinha, afinal,
casou-se com a minha filha… Esqueceu de como encontrou sua esposa ao acordar?
Ainda lembra como você estava cheia de sangue? ... Em seu sono profundo...
Samantha
teve a impressão que fora socada tão forte no estômago que perdeu todo o ar.
Viu
o duque se afastar com um olhar sarcástico.
Apoiou-se
à parede, pois sentia que não conseguia respirar.
Miranda
aproximou-se a passos largos, apoiando-a. Fitou os olhos azuis da pirata. Tinha
ido até lá, pois tinha acontecido algo na festa que deixara todos perplexos e
por essa razão decidiu encontrar a Lacassangner.
–
O duque sabe… – A voz da morena soou baixa. – Ele sabe até mesmo do sangue que
estava em meu corpo… como ele sabia desses detalhes? Tudo isso ocorreu em
segredo… – Afastou-se. – Se acontecer algo com a Santorini eu nunca me
perdoarei, nem a você por tê-la colocado nessa maldita história.
A
Maldonado tinha ouvido as últimas frases de Fernando e entendia bem o que se
passava na cabeça da Víbora.
–
Tenha calma, nada vai acontecer… Já disse…
–
Mas já aconteceu ou esqueceu da queda do cavalo?
–
Não acho que tenha sido o duque…
–
Então quem?
Maldonado
fez um gesto negativo com a cabeça.
–
Não é o momento para falarmos disso agora, pois se trata apenas de uma
suspeita. – Passou a mão pelos cabelos. – Vim aqui porque se passou algo
terrível na festa…Sir Arthur usou o microfone e falou para todos que você é
neta dele, filha da Iraçabeth.
–
Como assim? – Indagou em perplexidade.
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