A víbora do mar - Capítulo 31- A tenente e a Víbora.


 

Aquela noite teria o último duelo. A tenente Olívia Santorini representava a marinha e toda sua pompa, enquanto a Lacassangner apenas ansiava por derrotar a jovem diante de todos. Cada uma das competidoras conseguiram vencer tranquilamente as adversárias, sendo agora a hora de todos saberem quem era a melhor. Nos corredores do navio se via os eufóricos convidados ansiando para descobrirem quem superaria as expectativas. Havia até torcidas organizadas para a filha do duque. Algo que era comum. Mel sempre fora bem vista e quista, era o modelo que todos pareciam ansiar para que seus filhos seguissem. Quanto à herdeira do nome e da reputação do Serpente, essa parecia furiosa diante dos últimos acontecimentos. Nem mesmo comparecera ao desjejum oferecido pelo príncipe, tampouco justificara a ausência.

Samantha estava em sua cabine. Não deixara o espaço por um único momento. Sua irritação chegava a ser quase palpável. Ponderava e ponderava e não conseguia acreditar que mais uma vez fora ludibriada naquela história. O que mais saberia Fernando? Estaria blefando ou realmente tinha conhecimento de tudo que falara?

Ouviu o telefone que fazia contato entre os quartos, nem precisava atender para saber de quem se tratava.

 Negara-se mais uma vez em falar com a Miranda. Sentia-se traída pelo que descobrira. Ela fora culpada pelo assassinato cruel do seu pai, o que mais poderia ter feito? O que estaria tramando, afinal ? Por que se dera ao trabalho de tirá-la daquela prisão? Ponderava por horas e tudo parecia cada vez mais confuso. Novamente estava sozinha e não havia em quem confiar.

Soltou um suspiro aborrecido, enquanto sentava na poltrona.

Precisava pensar quais passos daria e como se portaria. Precisava ser esperta, pois não tinha como confiar no Del Santorra, porém faria o possível para conseguir as informações que ele escondia tão bem.

Ouviu batidas na porta e lá estava a Virgínia. Já tinha dito que não a queria ali, mesmo assim, a agente vez e outra aparecia para ver como tudo estava.

-- Não precisa me olhar com essa expressão, sheika, vim apenas te ajudar para o confronto que acontecerá logo mais. – Acomodou-se ao lado dela. – Sei que anseia por humilhar sua oponente...Vi a última luta dela, creio que não está tão bem como deseja aparentar.

Samantha olhou a mulher desconfiada. Não estivera presente no último confronto, mas também não tinha interesse em saber o que se passava com a militar, apenas a venceria e depois mostraria a ela sua superioridade.

-- Está quente, trouxe frutas frescas! – Mostrou a sacola.

A morena apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça, não queria discutir naquele momento. Estava cansada de pensar em tudo o que se passava e só deveria se concentrar no confronto que teria com a neta de Sir Arthur. Sim, ansiava por mostrar a todos que a arrogante tenente não era tão boa quanto vendia para todos.

Alguns segundos se passaram e logo a voz da outra mulher soava.

-- Eu acho que deve dar uma chance para a Miranda tentar te explicar tudo o que aconteceu. – Começou. – Ela está desolada diante de tudo isso, sabe que o duque está apenas jogando para te destruir... Ele te quer e vai fazer de tudo para conseguir!

Samantha deu de ombros levantando-se.

Virgínia seguiu até a cozinha, pegou os apetrechos para preparar o refresco.

Depois de alguns segundos retornou e viu a pirata de pé observando a espada. Ela parecia compenetrada com sua arma. Sabia que aquele artefato fora do seu pai, que Otávio a levava consigo em todas as batalhas.

Observava o roupão preto que a bela mulher usava. Conseguia ver como estava tensa, parecia que a fria Víbora perdera o controle das ações.

-- Trouxe para que se refresque. – Parou ao lado dela, entregando-lhe o copo.

A outra apenas assentiu, bebendo devagar o líquido.

-- Conseguiu ver qual a próxima parada do cruzeiro? – Questionou depois de alguns segundos. – Preciso desembarcar, tenho coisas para resolver.

-- Sim, eu sei, já tinha me pedido. Vi que estaremos passando por um porto pela manhã.

-- Então irei ficar, já arrumei a minha mala.

-- Vai retornar à capital?

-- Sim, preciso ver o Eliah.

A agente assentiu, ponderando que o que fora planejado pela pirata não se realizaria da forma que pensara.

 

 

 

Fernando estava na piscina.

Sentia-se vitorioso. Sabia que tinha tirado a Miranda da história. Fora muito bom descobrir que a chefe do departamento estivera todo o tempo ao lado da Lacassagner e achara estranho, afinal, a tola Maldonado tinha sido ludibriada quando jovem e entregara o Serpente do mar.

Tomou um pouco da bebida que estava sendo servida.

Agora seria muito mais fácil para colocar seus planos em prática. A bela filha de Iraçabeth estaria disposta a tudo para descobrir quem matara sua preciosa esposa.

Esboçou um sorriso.

-- Vejo que os bons ventos estão ao seu favor, meu caro! – O outro comentou quando mais uma vez perdeu uma partida.

-- Não costumo entrar em jogos para perder!

Levantou a cabeça e viu a filha se aproximando. Pela forma que caminhava com os ombros erguidos e o olhar inflexível, imaginava que enfrentaria mais rebeldia.

Bebericou um pouco mais do líquido.

Conseguira entrar em contato com Frederico, assim que a competição terminasse, a tenente teria que retornar, isso lhe daria tempo para continuar com seus planos.

-- Preciso conversar com o senhor!

O duque ouviu a voz petulante. Esboçou um sorriso perigoso, pedindo licença, ficou sozinho com a herdeira. Apontou a cadeira para que ela sentasse.

-- Diga, minha querida, qual é o problema? – Indagou com cinismo. – Imaginei que nesse momento estivesse se aprontando para sua batalha contra a pirata...Seu superior disse que você deve desembarcar no próximo porto, espero que já tenha arrumado tudo, não deve arriscar mais punições... Não gostei da forma que falou, nem mesmo cumprimentou...

-- Quero que deixe em paz a Lacassangner! – Falou interrompendo-o. – Não me importo com o que possa fazer comigo, peça pra o Chiavenato me expulsar da marinha ou me jogar em uma cela, porém exijo que deixe em paz a Lacassangner!

O Del Santorra não demonstrou o desagrado que sentia ao ouvir a ordem. Apertou tão forte o copo que segurava que temeu parti-lo.

-- E eu já disse para não se intrometer nessa história, não aprendeu nada com as punições que recebeu? – Falava baixo. – Case-se com o Juan, Mel, esqueça essa pirata e tudo vai voltar a ser como era antes. – Levantou-se. – O que houve contigo? Sua cabeça está virada!

-- O senhor quem está louco, precisa de um tratamento.

Os olhos castanhos claros do aristocrata se estreitaram ameaçadoramente.

-- Não seja boba, não entende que tudo o que estou fazendo é para vingar a sua mãe, parece que esqueceu da Marie...Esqueceu o que aqueles homens fizeram, eles mataram sua mãe e foi a mando da maldita filha do Serpente.

-- Casando-se com a Víbora? – Sibilou incrédula. – Acha mesmo que acredito no que diz?

-- Casar-me com ela será a forma que encontrei de destruí-la, vou fazê-la se arrepender por todo mal que fez. – Estendeu a mão para tocar na jovem, mas ela se afastou.

A tenente cerrou os dentes.

-- Eu vou destruir a Samantha, ela vai se arrepender de tudo o que fez com a nossa família. – Voltou a tentar tocá-la, mas foi vã sua tentativa. – Eu sei que acabou sendo seduzida, mas não entender que essa mulher só quis fazer isso para te humilhar... Ester contou como ela riu da sua inocência...A Víbora vai te destruir como fez com todos...Ela matou a própria esposa!

Mel fez um gesto negativo com a cabeça.

-- Afaste-se dela! – O duque ordenou. – Não seja boba!

-- Eu me afastarei de uma vez por todas da Lacassagner, mas só o farei se o senhor também o fizer.

-- Não imponha condições! – Falou um pouco mais alto. – Sou seu pai!

Algumas pessoas que passavam por perto acabaram ouvindo e pareciam curiosa com o que acontecia. A piscina estava cheia, muitos eram conhecidos e acharam estranho o que se passava.

O aristocrata percebeu e esboçou um sorriso para disfarçar seu estresse.

-- Vai ser expulsa da marinha, vai carregar a vergonha por tudo o que fez e se brincar pode ainda ficar presa por todas as transgressões... – Falou mais baixo. – Tentei de todas as formas te convencer do que deve ser feito, porém continua agindo como uma rebelde, vai se arrepender.

-- O senhor também vai! – Retrucou levantando-se. – Infelizmente o senhor também vai.

Fernando a viu seguir com a cabeça erguida e pisando duro.

Iria tirá-la de uma vez por todas do caminho. Falaria com o almirante, mandaria-a para longe, tão longe que não ameaçaria mais seus planos.

 

 

Cristina arrumava tudo para o acontecimento daquela noite. Estava um pouco preocupada com a amiga, mesmo assim, entendia que Miranda estava certa em planejar tudo aquilo, pois as coisas começavam se complicar.

Viu a porta abrir e lá estava a militar.

-- E então? – Questionou temerosa. – Falou com seu pai? – Perguntou esperançosa.

Mel seguiu até o frigobar e pegou uma garrafa, abriu-a, bebendo grandes goles e só  depois falou:

-- Inútil! – Sentou-se. – Foi inútil!

Voltou a beber o líquido. Tentava se acalmar, pois ainda pensara que conseguia obter algum êxito nessa tentativa.

-- Então vai fazer o que a Maldonado propôs?

A Santorini fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Deus do céu! – Exclamou cobrindo a boca com a mão. –Você já imaginou como vai ser quando a Lacassangner despertar? – Acomodou-se ao lado dela. – Não sei o que será pior...

-- Não era você que dizia que eu devia me casar com a Víbora? – Questionou com sarcasmo. – Então sua ideia vai se concretizar... Vai ser até a madrinha! – Levantou-se irritada.

-- Mas não era assim que eu queria, queria que ficassem juntas porque se querem e não usando de um plano tão...tão... nem sei o que dizer. – Passou a mão pelos cabelos. – Foi até a Miranda?

-- Sim, está tudo pronto...Eu vencerei, a Samantha vai ser drogada e quando despertar estaremos casadas...

-- Você não é obrigada a fazer isso... Talvez seu pai não consiga convencê-la a casar...

Os olhos dourados pareciam brilhar em lágrimas.

Ela já falara para si inúmeras vezes naquele dia que não era obrigada a participar daquele plano, porém em seu interior se sentia culpada por tantas ações que foram praticadas, ainda mais por ter se envolvido com quela mulher. Faria o que era preciso, mesmo que soubesse que isso fosse algo que poderia definitivamente transformar a Lacassangner em sua inimiga.

-- Eu farei!

 

 

   A plateia olhavam encantados para as duas mulheres que estavam na arena. Mel optara por não usar a proteção no rosto, apenas usando o traje, enquanto a oponente usava calça de couro marrom, botas pretas e camiseta. Ambas trançaram os cabelos.

 Todos que estavam ali sabiam de como a família da tenente Santorini odiava a filha do Serpente. Todos esperavam ansiosos por esse confronto. As apostas foram triplicadas, os milionários pareciam divididos em quem venceria aquele embate. Eles sabiam que a Lacassangner era muito boa com a espada, mas também sabiam de como a militar fora bem treinada durante anos e anos de sua vida.

  Mel viu o sorriso da pirata, mas decidiu ignorar. Observou o olhar encorajador de Miranda em sua direção.

  A jovem deu alguns passos, tentava não mancar, mas mesmo tendo tomado alguns analgésicos, sentia dificuldade em se locomover.

   – Tudo bem, Santorini? – A Sheika indagou com expressão preocupada. – Parece debilitada…

   A jovem não respondeu, apenas ouvia a voz do apresentador que falava sobre as duas competidoras. Não demoraria a começar o confronto e pensava se não deveria ter tentado mais uma vez convencer o pai a deixar a pirata em paz ou quem sabe tentar convencê-la a não se aproximar do duque. Porém nada conseguira fazer, apenas aceitar o plano que a Maldonado traçara de forma emergencial. Sabia que enfrentaria uma fera quando tudo aquilo cessasse e ela voltasse a si, mesmo assim, se essa fosse um paliativo para todo aquele problema, estava disposta a fazer tudo o que pudesse.

      Estava tão distraída que não ouviu que tinha dado início a disputa. Afastou-se quando a espada veio em sua direção. Defendeu-se, tentando mover-se, mas sabia que não teria muita chance. Observava os olhos azuis exibir arrogância. Levou a mão a face e sentiu o líquido pegajoso. Fora arranhada.

Cerrou os dentes exasperada.

     – Pensei que seria mais difícil… – Samantha sussurrou próximo dos lábios rosados. – Não acho que dure muito... Vou tentar não te ferir mais, preciso que esteja inteira para poder aproveitar do seu lindo corpinho.

      O tilintar do aço se chocava no ar.

     A Santorini deu alguns passos para trás e acabou tropeçando, ergueu a arma para se livrar de mais um ataque.

    A plateia gritava em euforia.

   Mel observava os olhos azuis que brilhavam em provocações e arrogância. Lentamente, conseguiu se colocar de pé mais uma vez e comandou o ataque. Via o sorriso da filha do Serpente. Ela parecia se divertir e muito com tudo aquilo. Ignorou por alguns segundos a dor que sentia, enfrentando a mulher que exibia toda sua perícia em manejar a espada.

 -- Mais uma humilhação para a petulante filha do duque!

-- Você fala muito, Víbora! – Rebateu o ataque irritada. – Só sabe lutar assim?

Samantha conseguiu encurralá-la contra a tela de proteção. As armas pareciam que se partiriam com a força que ambas exerciam.

Os olhos se encararam, eram como se quisessem se fundir.

-- Sua marinha não tem mais a campeã!

A Santorini já se preparava para responder, mas percebeu que a pirata parecia zonza, sinal que o que lhe fora dado para beber já estava fazendo efeito. Sentiu-se grata por isso, pois já não tinha mais forças.

Olhava-a com calma.

              A pirata levou a mão direita aos olhos, esfregando-os. Tinha a impressão que a imagem estava embaraçada, não conseguia ver com precisão a mulher parada a sua frente. Deu alguns passos para trás. Cambaleou.

     O que se passava?

    Ouviu o tilintar das espadas, então deu alguns passos para trás. Tentava prestar atenção nos sons da adversária, mas sua mente parecia confusa. Era estranho, começava a perder a percepção de tudo, mesmo tentando manter a concentração. 

-- Relaxe, Víbora... – Mel falou baixinho. – Relaxe...



      Miranda olhava tudo com atenção. Percebeu o momento exato que a erva indígena começara a fazer efeito. Sabia que passara de todos os seus limites ao agir daquela forma, mas não tivera escolha, apenas percebera que deveria fazer, pois caso contrário, a Lacassangner teria o mesmo fim do pai. Viu o olhar da Santorini. Sabia que ela estava temerosa, sabia que tivera que usar de muita pressão para convencê-la. Usara a informação que Virgínia lhe passara sobre a confissão da jovem estar apaixonada pela Sheika.

      Soltou um longo suspiro ao ver a expressão sádica do duque. Ele não venceria daquela vez, imaginava a reação dele ao descobrir que sua filha tinha tomado partido em todo aquele plano.

      Observava a força interna que tinha a filha de Otávio. Mesmo sentindo os sintomas, ela continuava tentando, acreditando que sairia vitoriosa. Não demoraria para ela perder alguns sentidos, mesmo que não desmaiasse, pouco teria consciência do que se passava.

       Deu o sinal para Virgínia e não demorou para que todas as luzes do navio se apagassem. A segunda parte do plano iniciaria.





       Os aposentos estavam mergulhados na penumbra.

      Mel olhava para o céu estrelado, sentindo o vento frio emaranhar seus cabelos. Não conseguira descansar um segundo sequer depois que deixara o navio. Tudo acontecera tão rápido. Seguiram até o porto em uma lancha, o juiz já estava pronto para realizar o matrimônio, mesmo que uma das noivas mal conseguisse balbuciar algo, apenas ficando parada, estática sem ter ideia do que estava acontecendo. Isso não importava, apenas era a assinatura que constava lá, mesmo que não estivesse em tão bom estado. Usara da desculpa de que a amada tinha se empolgado na despedida de solteiro e essa era a razão de ela estar daquele jeito.

   Não demoraria para o sol começar a aparecer e junto com ele traria muitos desafios.

    Segurava as amarras do roupão atoalhado. Seguiu para o interior do quarto e viu a mulher que dormia inocentemente sem imaginar o que tinha acontecido.

A filha do Serpente era tão linda...

Umedeceu os lábios demoradamente.

Gostaria que tudo tivesse acontecido de forma diferente. Porém sabia que jamais seria diferente.

Sentou no leito, estendendo a mão, arrumou uma mecha que caia sobre a face bonita da pirata.

Desde que era uma menina fora fascinada por aquela mulher... Depois quando a viu em seu quarto...Ferida...

-- Samantha...

 

 

      Horas antes…

      – O que se passa?

     Aquela pergunta fora feita inúmeras vezes, enquanto seguiam na luxuosa lancha. O transatlântico tinha ficado para trás. Virgínia e Cristina seguiam com a herdeira do duque e a Sheika.

     – Sabe que o que está sendo feito é considerado um crime não é? – A fisioterapeuta aproximou-se da amiga que estava encostada no guarda corpo, apenas olhando o mar iluminado pela lua. – Meu Deus, quando falei em casamento não imaginava um desfecho como esse. – Ria nervosa. – Vamos ser presas!

    Mel umedeceu os lábios demoradamente, sentia-os ressecados.

    – Sabe que fiz tudo o que podia para evitar que isso acontecesse.

    – A Miranda ultrapassou todos os limites e quando a Lacassangner despertar, você será o alvo para a fúria que ela derramará. – Dizia aflita. – Ela vai te matar...ou quem sabe fica feliz...sei lá...

     – E o que você queria hein? – Indagou com as mãos na cintura. – Meu pai está louco, ele vai fazer até o impossível para ter a Samantha para si e agora que ela simplesmente rejeita a segurança que a Maldonado lhe deu, pode acontecer algo pior que quando meu avô a mandou para o oriente. – Passou a mão pelos cabelos. – Não entende que a minha família vai fazer tudo para destruir essa mulher que infelizmente nasceu do ventre de Iraçabeth... Isso que estamos fazendo vai evitar que o duque a tenha para si.

      Cris via as lágrimas brilhar nos olhos dourados.

      – E você ama a Víbora e vai fazer de tudo para protegê-la, mas também deseja proteger sua própria família… – Constatou tristemente. – Estou assustada com tudo isso.

      – Eu só preciso de tempo, o meu casamento será abertamente jogado na mídia, meu pai e meu avô são inimigos declarados da Samantha e a lógica é que isso aumente ainda mais, porém se assim o for, eles seriam os primeiros suspeitos, então deverão tomar cuidado com os próximos passos.

       – E como vai acalmar a fera quando ela despertar? – Indagou preocupada. – Você não falou nada sobre isso, parece que não pensou, acha que se realmente a pirata tinha planos para descobrir tudo se envolvendo com teu pai, ela não vai aceitar tão feliz esse plano.

    – Não quero pensar nisso agora, não é o momento para pensar nisso.

    – E quando será o momento? – Indagou perplexa. – Ela vai em busca da anulação.

     – Ela não vai conseguir tão facilmente…

     Cristina a viu seguir para o outro lado, sabia que ela entraria naquele jogo para vencer.

               

 

      Miranda ouvia o duque esbravejar e se sentia feliz em seu interior. Fernando sabia que perdera uma batalha e temia o que teria ocorrido com o sumiço da filha e da filha do Serpente. Estava colérico, dizia aos berros que a pirata levara sua filha.

      A sala tinha a presença de várias pessoas. O responsável pela segurança se pronunciava.

      – A senhorita Santorini seguiu por livre e espontânea vontade ao lado da senhora Lacassangner.

      – Mentira! – O Del Santorra bateu contra a mesa grande. – isso é mentira.

    – Na verdade não é! – O príncipe disse. – Veja as imagens mais uma vez.

  A Maldonado olhava tudo novamente e via os momentos que a tenente trocara beijos com a pirata, fora isso que combinaram, assim tudo seria visto como natural e não como realmente se passara.

    – Bem, vejo que temos duas mulheres apaixonadas e querendo aproveitar a vida. – Miranda disse levantando-se. – Não acho que devamos perder tempo com isso, Ralf.

     O olhar de Fernando mostrava que ele sabia quem era a Miranda em toda aquela história. Sim, ela sabia que ele tinha descoberto tudo e por esse motivo tentara colocá-la contra si, pois sabia que assim seria a forma mais fácil de destruí-la.

      – Falarei com o almirante agora mesmo, isso não vai ficar assim!

       – Acho que o senhor deveria se acalmar, duque. – Miranda disse. – Não há nenhum problema aqui, apenas vamos esperar as duas entrarem  em contato.

       Todos assentiram e depois de alguns segundos, decidiram aproveitar as festividades da noite. Menos o aristocrata que queimava de ódio e ansiava pelo momento que faria todos pagarem pelo que tinha acontecido. Não sairia daquele jogo de forma tão fácil.

            

 

        Momento atual…

       Samantha sentiu um vento frio em seu rosto. Sentia-se tão cansada, era como se tivesse sido anestesiada por longos tempos. Tentou abrir os olhos, mas parecia sem forças para isso. 

        Cerrou os dentes fortemente e quando tentou abri-los, dessa vez conseguiu, mas sua visão parecia embaraçada. Piscou inúmeras vezes, e depois de algum tempo conseguiu focar na janela aberta e na cortina sendo balançada pelo vento. Estava claro. Concentrava-se, parecia buscar o barulho marítimo, mas não era esse o som que invadia o ambiente.

Virou a cabeça e sentiu uma dor terrível.

Ouviu passos e não demorou para ver uma figura conhecida de si.

Miranda tinha conseguido chegar à capital em tempo suficiente de conversar com a pirata antes do confronto que seguiria com a Santorini.

 Retirou uma folha da pasta e colocou sobre a cama.

 Samantha com muito esforço sentou-se, encostando as costas na cabeceira acolchoada da cama.

  Esfregava os olhos.

  Cerrou os dentes para não gemer alto do incômodo que a perturbava.

 Tinha a impressão que perdera todas forças. Sentia um gosto amargo na boca, uma sensação de ressaca.

  Olhava para o lugar que estava e aos poucos percebia que estava no quarto em seu apartamento.

  – O que se passa? – Indagou em confusão. – Não, não…– Levou a mão à cabeça. – Eu estava na arena…o duelo… – Tentou levantar-se, mas se sentiu tonta, segurou-se na parede. – O que houve, Miranda? Eu me senti mal...Tudo estava escurecendo...

  A Maldonado pegou um copo sobre a mesa e lhe entregou:

-- Beba, vai se sentir melhor.

A pirata parecia relutante, mas acabou aceitando, ingerindo todo o conteúdo.

-- O que você está fazendo aqui?

A chefe do departamento cruzou os braços.

-- Algumas coisas aconteceram, precisa ter calma, sei que vai entender, talvez não agora, mas com o tempo vai perceber que só desejamos te proteger.

  Samantha não entendia nada que estava ouvindo. Massageou as têmporas, latejava sua cabeça.

   – Por que estou de volta em casa? – Perguntou confusa. – Lembro que me senti mal quando estava na arena, depois parece que tudo apagou em minha mente...

   Miranda lhe estendeu o papel. A outra relutou, mas aceitou a folha com timbre oficial.

    Os olhos azuis de estreitavam à medida que lia o que ali estava. A pele bronzeada ficou pálida, depois vermelha de cólera.

    – Que palhaçada é essa? – Indagou em voz alta, arrependendo-se em seguida, fitando-a.. – O que você armou?

   A Maldonado não respondeu.

Observou a filha do Serpente levantar e parar no meio do quarto, olhava o papel, lia e lia várias vezes como algo estivesse passando despercebido dos seus sentidos.

      – Apenas fiz o que deveria fazer. – Respondeu simplesmente.

     A pirata deu passos longos até a outra e por alguns segundos pensou a chefe do departamento que seria agredida, mas não foi isso que aconteceu.

      – Você está louca!?

      – Agora você está ligada com a Santorini, veja como vai agir, pois seus passos poderão colocar em risco a vida dela.

       – Você planejou tudo isso… – Meneava a cabeça. – Foi a forma que encontrou para me manter cativa em suas mentiras. – Dizia furiosa. – Envolveu a filha do duque nessa sujeira.

       – Foi a forma que encontrei para te salvar de cair nas mãos do maldito Fernando! – Retrucou aborrecida. – Sim, eu sei que deveria ter te contado a verdade quando nós nos conhecemos, mas você sempre foi tão relutante, desconfiada que temi que se negasse a aceitar a minha ajuda, o que na verdade sempre aconteceu, afinal, só aceitou por causa do Eliah. – Parou para respirar. – Sim, Sam, eu fui uma tola em acreditar que dariam um julgamento justo para seu pai, porque ele queria pagar a dívida que tinha com a sociedade para que você pudesse ter uma vida normal, sim, era isso que Otávio queria e morreu pensando nisso, em te salvar…

       – Você o levou para uma armadilha. – Disse apontando-lhe o dedo. – Você agiu como uma idiota ou será que fez parte de toda essa trama suja? E agora me jogou em uma também!

       Miranda passou a mão pelos cabelos.

       – Não vou gastar a minha saliva contigo nesse momento, não vai adiantar nada, apenas te digo que agora tem em suas mãos a vida da Santorini, então cuidado com suas ações.

        – Você a colocou em risco!

   – Por isso protegerei as duas, ela e você.

   – Como foi capaz de manipular toda essa história de forma tão terrível?

   – Um dia vai entender…

  – Eu nunca vou entender e agora mesmo irei até meus advogados, falarei com eles sobre sua armação, devem ter me dopado, farei exames e quero ver como ficará sua reputação diante de tudo isso.

   A Maldonado jogou algumas fotografias sobre a cama.

   Samantha olhava perplexa as imagens que mostravam certa intimidade entre ela e a Santorini.

    Engoliu em seco.

   – Vamos ver se vai conseguir algo… Um divórcio demoraria bastante tempo, então o melhor é seguir o plano e aceitar a sua esposa.

    – Vai pagar caro por isso! – Ameaçou-a. – Vai pagar muito caro.

     – Estou disposta a pagar tudo o que for necessário, porém dessa vez eu não perderei você.

     Antes que a pirata pudesse falar algo, viu a mulher deixar a sala.



    Mel estava na sala. Eliah lhe trouxe um chá. Estendeu-lhe a xícara.

   – Beba, minha senhora, vai se sentir melhor.

  A filha do duque esboçou um sorriso de agradecimento, bebendo um pouco do líquido. Miranda tinha deixado a cobertura há poucos minutos e pelo que ela falara, não seria uma situação fácil.

  – A Samantha não vai lhe machucar fisicamente, sabemos que ela está furiosa, mas acredito que pode fazê-la entender tudo o que foi feito.

 A militar não sabia o motivo de estar tão tensa, afinal, ela aceitara participar de tudo, então deveria simplesmente seguir em frente com tudo aquilo.

  – Não tenho medo da Lacassangner.

  – Pois deveria ter e ter muito medo!

 Ambos voltaram o olhar para a escadaria.

 A filha do Serpente descia os degraus com uma expressão não apenas arrogante, mas cheia de desdém. Usava calças de couro preta, camisa de mangas longas com botões e um sobretudo preto que chegava às botas que usava. Os cabelos estavam soltos, usava os costumeiros óculos de aros dourados. Era possível ver o brilho perigoso nos olhos azuis.

  A tenente não se mexeu, permanecia no mesmo lugar, olhando-a. Parou diante da aristocrata com expressão furiosa.

  – Você vai agora mesmo até esse juiz e dizer que tudo foi uma farsa. – Disse-lhe segurando o braço, levantando-a. – Vai acabar com essa brincadeira de criança agora mesmo.

   – Não irei a lugar nenhum, senhora minha esposa.

   Os olhos azuis fuzilaram os dourados.

    – Como ousou participar desse plano? – Apertou-lhe o braço. -- O que ganha com tudo isso?

    – Desejo evitar mais tragédias…Estou cansada de toda essa guerra... – Respondeu serenamente.

Eliah olhava tudo temeroso. Já abria a boca para falar algo, mas ficou calado diante do olhar da filha do Serpente.

   – E para isso decidiu fazer um trato com o próprio demônio? – Apertou-a mais. – Quer proteger sua maldita família e para isso entrou no plano da Miranda. – Esbravejava. – Não entende que está fazendo papel de tola mais uma vez.

    Mel nem teve tempo de responder e se viu sendo praticamente arrastada escada a cima. 

    O homem olhava tudo com perplexidade. Fora informado de todo o plano que fora traçado pela Maldonado para proteger a Samantha, porém ele percebia que a parte mais difícil ficara para a filha de Fernando.

    

 

   A herdeira do Serpente parecia possessa. Quando entraram nos aposentos, praticamente, jogara militar na cama. Andava de um lado para o outro no quarto, lembrava uma leoa enjaulada e pronta para atacar a presa.

   – Vista-se, vamos agora mesmo resolver toda essa situação.

   A jovem se apoiou no cotovelo, depois a fitou.

   –  Não seja tola, pirata, não irei a lugar nenhum, apenas aceite que estaremos casadas durante algum tempo.

    Samantha fez um gesto negativo com a cabeça.

 – Vai se arrepender de ter aceitado participar desse plano… vai perder a sua patente na marinha quando descobrirem o que fez… vou fazer um exame e provar que você me drogou. – Apontou-lhe o indicador. – Vamos ver se vai agir com tanta calma depois disso.

  – As ervas que tomou não serão detectadas…

    A Lacassangner foi até a cama e mais uma vez tomou a jovem pelos ombros, levantando-a.

      – Como foi capaz de tudo isso? É uma médica, sabe o que fez? Tem ideia de como agiu?

       Os olhos dourados desviaram-se dos azuis, pois tinha a impressão que estava sendo invadida de uma forma que jamais sentira antes.

      Mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, mas não respondeu. Sentia a rejeição da pirata e isso a incomodava.

     – Em menos de uma semana de arrependerá de ter entrado nesse jogo da Miranda. – Soltou-a.

Passou a mão pelos cabelos, enquanto observava a jovem em seu robe de seda rosa.

Observava a face e ficava a busca entender as razões que a levaram a participar daquele jogo sujo.

Respirava fundo para tentar manter a calma.

Segurou-a novamente.

-- Venha comigo, prometo que não terá problemas, eu mesma explicarei o que houve. Anularemos o casamento e tudo vai voltar a ser como era antes.

Mel sentia o cheiro dela, senti-a tão perto de si e ansiava para que houvesse uma trégua.

            – Quero que haja paz… Decidi fazer o que a Iraçabeth desejara fazer com o Serpente…Não entende que tudo isso é para poder acabar com tanto ódio entre as nossas famílias? Vamos tentar enfrentar isso juntas, Samantha, perceba que estará até mesmo mais protegida agora.

     A Lacassangner tinha a impressão que tinha se transformado em um peixe e que naquele momento caíra em uma rede e quanto mais se debatia, mais enrolada ficava.

      – Seu sacrifício será em vão, garota estúpida! – Empurrou-a no leito. – Estúpida!

        Samantha jogou os cabelos para trás em um gesto nervoso. Depois observou a bela mulher deitada a lhe olhar. A filha do duque não era apenas uma tola, era também uma das mulheres mais lindas que já tinha visto em sua vida. Observou as coxas que ficaram expostas, os cabelos úmidos que formavam cachos nas pontas, os pés descalços. A face que tentava aparentar uma serenidade que tentava disfarçar algo em  seu interior.

     – Vai se submeter a esse casamento? – Fitou-a com olhar perturbador. – Sabe o que vai ter que suportar sendo a minha esposa? – Indagou com olhar cheio de insolência. – Acho que pensa que vamos brincar de boneca nessa sua fantasia doentia.

    – Nunca pensei em brincar de bonecas contigo, não parece alguém que seja adepta desse tipo de brincadeira. – Respondeu com firmeza.

  Um sorriso perigoso desenhou-se na face da pirata. Não havia humor ali, não havia nada que pudesse ser visto como compreensivo, apenas a frieza mascarada.

     – Então vai deitar-se no nosso leito, despir-se e aceitar que te use para satisfazer minhas vontades…

     A tenente sentia a face corar, não respondendo de imediato, mas a outra continuou seu discurso ameaçador.

      – Mas sabe que não será a única a receber minhas atenções.

A militar levantou-se.

  – Bem, Víbora, acredito que eu prefiro que satisfaça as suas vontades entre suas inúmeras amantes, pois jamais me prestaria a algo tão humilhante.

  Samantha fez um gesto afirmativo com a cabeça.

   – Então vamos até o juiz agora mesmo, diga que foi uma brincadeira, uma armação… anule isso enquanto pode.

   – Não o farei! – Respondeu desafiadora levantando a cabeça.

    – Então se prepare para o que estar por vir! 

    Antes que Mel pudesse falar mais alguma coisa, viu a Lacassangner deixar os aposentos furiosa.

    A jovem soltou um longo suspiro, depois jogou-se de costas na cama, apenas olhando para o teto, tentando acalmar as batidas do próprio coração que batia de forma descompassada. 

    Não cederia, mesmo que sua vontade fosse acabar logo com tudo aquilo, seguiria o plano da Miranda, faria isso sim, tinha certeza de que a chefe do departamento tinha experiência em conduzir tudo aquilo que se passava.

     Uma hora daquelas todo o país já sabia do seu casamento. Tudo fora colocado nos principais jornais, a publicidade perfeita para que ninguém ousasse duvidar do matrimônio.

      Deitou-se de lado, encolhendo-se, teria que ir até os superiores, sabia que seu pai faria tudo para castigá-la depois de tudo o que tinha feito. 




        – Desejo que anule esse casamento!

        Os advogados que prestavam assessoria para a Sheika trocaram olhares diante do ordenado.

       A sala parecia ainda mais fria com a presença da poderosa mulher. Ela seguirá direto até o prédio de trinta andares que ficava na avenida principal daquela área nobre.

       Os três especialistas em lei já tinham sido contactados pela filha do Serpente mais cedo e rapidamente buscaram se inteirar do caso para poder ajudá-la. Agora todos estavam sentados, enquanto  Samantha estava parada no centro da sala observando-os e fazendo exigências.

        Pela panorâmica janela era possível ver o dia ensolarado. A visão para o principal parque da cidade era reconfortante e tranquilizadora, mas não parecia funcionar com piratas.

       – Até agora o que podemos dizer é que o casamento realmente foi legal, porém se diz que foi dopada durante a cerimônia, o exame que pedimos será uma prova concreta de que tudo fora armado.

      Ela fez um gesto afirmativo e esperava que conseguissem resolver toda a situação o mais rápido possível.

      – As manchetes nos jornais… preciso que desmintam que houve esse casamento!

     Mais uma vez os advogados trocaram olhares.

     – Podemos sim fazer isso, senhora, porém seria melhor que evitasse um escândalo, pense como seria escandaloso se todos soubessem o que houve nesse momento sem que existam provas concretas.

      – E acham que me importam isso? – Indagou por entre os dentes. – Quero que a Santorini e a Miranda respondam pelo que armaram.

     – Mas, senhora, vamos pelo menos esperar até o resultado do exame sair, assim será muito mais fácil… – O homem pigarreou. – Seria bom que também não houvesse contatos íntimos entre a senhora e sua esposa…

-- Contato íntimo? – A mulher praticamente cuspiu as palavras. – Acha mesmo que haverá algo assim?

O homem rapidamente se adiantou.

-- Digo...digo para que possamos anular...Claro que estou dizendo algo desnecessário, sei que não haveria nada.

-- Tenha paciência, logo tudo estará resolvido, vamos anular, porém espere que o resultado do exame saia.

 A mulher parecia ponderar, enquanto os três advogados torciam para que ela aceitasse o que estava sendo pedido e por fim soltaram um suspiro aliviado, pois ela acatara o que tinha sido proposto.

 

            

 

    O motorista estacionou o veículo em frente ao prédio, mas o homem sentado no banco de trás não fez menção de sair.

      O empregado esperava pacientemente como fizera durante todos os anos que servira ao patrão. O bairro era arborizado, isso deixava-o mais fresco. O vento da tarde balançava os galhos e as flores primaveris. 

      Sir Arthur apenas olhava tudo com seus olhos de lince. Trazia sobre as pernas as inúmeras edições dos jornais com a notícia do casamento da neta estampada. Sabia que a pressão que Fernando começara a fazer contra a própria herdeira seria algo que não daria certo e causaria um efeito contrário. Conhecia muito bem a Mel, apesar de agir sempre com obediência, tinha uma personalidade forte e acabaria enfrentado o pai na primeira oportunidade que tivesse. Não havia dúvidas de que aquele casamento fora uma forma poderosa de desafiar o duque, mesmo assim, ele temia pelo que viria agora.

        Fez um sinal para o motorista e logo o homem se apressou em abrir a porta e o velho alto e envergado seguiu até a portaria. Observou o sorriso gentil do rapaz que o atendeu com simpatia, mas quando interfonou para a cobertura sua expressão mudou. Imaginou que ouviria um sonoro não, mas não foi isso que se passou.

    – Irei acompanhar o senhor até a cobertura.



      Samantha tinha chegado há algumas horas e para seu alívio não teve que encontrar a filha do duque. Tomou um banho e já se preparava para sair mais uma vez quando a empregada lhe avisara sobre a indesejável visita. Pensara em não aceitar, mas acabou permitindo que aquele terrível homem fosse liberado.

        Estava de pé quando viu a serviçal abrir a porta e lá estava o grande e poderoso Sir Arthur. Olhava-o e pensava como perdera tempo acreditando que aquele homem um dia lhe aceitaria, isso jamais aconteceria, estava muito mais que claro.

        – Diga-me a que devo a honra da sua visita? – Indagou com a voz arrastada de sarcasmo.

        O almirante apoiava-se na bengala. Olhava de um lado para o outro, parecia buscar alguém.

       – Ah, sim, sua preciosa neta não se encontra. – Apontou o sofá para que ele se acomodasse, não esperando que ele fizesse, sentou-se com as longas pernas cruzadas.

       – Sabe bem o que você fez? – Ele indagou aborrecido. – Seus atos terão consequências gravíssimas.

       – Meus atos? – Indagou com um arquear de sobrancelha. – Perdoe-me, porém não sei do que o senhor está falando.

       – Eu te disse para manter distância da Mel, falei para ti, porém é tão desgraçada quanto seu maldito pai, vai destruir a vida da minha neta como fez com a da Iraçabeth. – Dizia sem se sentar. – Eu me arrependo de não ter dado fim a gravidez quando tive tempo.

     Samantha estreitou os olhos ameaçadoramente.

    – O senhor teve oportunidades para se livrar de mim… deveria ter aproveitado. – Retrucou com falsa calma. – Poderia ter poupado muitos problemas se tivesse dado fim a minha vida.

   – É amaldiçoada, um ser que veio ao mundo para trazer desgraças. – Aproximou-se pisando duro. – Porém não permitirei que destrua a Mel. 

     Antes que a Lacassangner pudesse expressar alguma reação, viu a pequena arma sendo apontada em sua direção.

  – Mas se eu acabar contigo agora tudo vai se resolver.

Era aquele homem o pai da sua mãe?

Na sua inocência sempre pensara que o avô a amaria quando a visse. Sempre aprendera tudo o que fora ensinado para se comportar como uma dama, assim o almirante se orgulharia.

-- Vi fazer companhia ao seu pai no inferno! – Dizia aos gritos. – O maldito quis tirar de mim a minha filha, destruiu-a, engravidou-a mesmo sabendo que não podia ter filhos, matou-a, então acabarei contigo também!

 – Acabe! – Samantha falou levantando-se. – Acabe logo com isso, como quando deveria ter feito quando sua filha me trouxe ao mundo… – Esboçou um sorriso amargo. – Acha mesmo que me importaria se o fizesse, Sir? – Meneou a cabeça. – acha mesmo que me sinto bem por ter nascido da sua preciosa Iraçabeth? Eu preferiria ser filha de uma prostituta de esquina!

   O maxilar do velho enrijeceu, enquanto sua mão tremia.

    – Combinaria muito mais com o fato de você ser uma maldita cadela. – Rosnou furioso. – Acabe com essa relação com a Mel, faça isso antes que o doente do Fernando faça alguma loucura. – Baixou a arma. – Não entende que ele é obcecado por você, está cego e não vai poupar nem mesmo a própria filha se estiver em seu caminho.

       – A sua querida neta armou tudo isso! – Cuspiu as palavras praticamente. – Sua amada Mel quem tramou tudo isso. Acha mesmo que desejava me unir a filha do duque? Enoja-me que meu nome de pirata esteja no mesmo papel que o dela.

         Os olhos do almirante demonstravam total confusão. 

       – Mentirosa! – Disse baixo – Ela jamais faria algo assim, minha neta foi muito bem criada. – Dizia tentando esconder a desconfiança.

       – Tão bem criada que armou tudo isso, me dopando e agindo de forma como é característico do próprio pai.

O almirante segurou a bengala fortemente. Teria ido tão longe a militar? Teria usado tudo isso para se vingar do que Fernando tinha feito?

 – Estou avisando, maldita Víbora, afaste-se da minha neta ou vai pagar caro por isso. – Aproximou-se dela. – Por sua culpa ela vai acabar sendo expulsa da marinha.

     – Minha culpa? – Indagou cheia de sarcasmo. – Continua sendo tolo, apenas ficou velho. – Seguiu até a porta e a abriu: -- Da próxima vez que vir até aqui com as suas ameaças, cumpra-as! Tenha coragem, Sir!

O militar seguiu altivo, parando quando se aproximara da neta:

-- Ainda não acabamos!

Samantha fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois o viu deixar a cobertura.

A Lacassangner permaneceu parada no mesmo lugar, então viu Eliah se aproximar. O amigo tinha um olhar perscrutador.

-- Onde está a cria do duque? – Indagou aborrecida. –Onde está a maldita Santorini?

-- Sua esposa saiu.

A filha do Serpente estreitou os olhos ameaçadoramente quando ouviu a forma que o pirata se referiu à tenente.

-- Ela não é a minha esposa! – Disse por entre os dentes. – Não é!

-- Mas eu vi a certidão. – Falou com falsa inocência. – E sinceramente, eu acho que formam um lindo casal, deveria aceitar e aproveitar sua mulher.

Samantha ainda abriu a boca para responder, mas apenas lhe dirigiu um olhar de advertência, deixando o apartamento.

 

 

 

-- Deu entrada em uma licença quando simplesmente agiu totalmente contra as ordens que recebeu! – O superior de Olívia esbravejava. – Sabe onde vai chegar com esse seu maldito comportamento? Está colocando na lama a reputação da marinha.

Ela permanecia de pé, olhava para o homem que demonstrava sua fúria.

-- Estou apenas exigindo o meu direito.

-- Seu direito? – Frederico apoiou-se na escrivaninha com ambas as mãos. – Hoje mesmo darei publicidade a tudo o que fez, todas as suas transgressões.

-- Faça, vai ser melhor assim! – Respondeu serenamente. – Assim terei a chance de fazer a minha defesa.

-- Nunca lhe neguei defesa, tenente! – Disse com um suspiro irritado. – Apenas tive consideração pelo fato de ser filha de um grande amigo, mas vejo que cometi um grave erro.

Ela apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça, esperando que ele a dispensasse e foi isso que aconteceu depois de algum tempo.

 

 

 O dia já estava escurecendo. O sol aos poucos desaparecia no horizonte.

  Mel seguia em sua moto pela orla. Seguia devagar, parecia interessada no vento que sacudia as palmeiras que enfeitavam o lugar.

  Sentia olhares sobre si. Talvez algum conhecido, afinal, era a tenente da marinha, neta querida de Sir Arthur e filha do duque de Del Santorra ou simplesmente pensassem o que faria por ali sozinha uma recém-casada, não deveria estar em núpcias? Nunca pensara em um casamento como algo tão maravilhoso. Lembrava-se de quanto estivera prestes a casar com o ex-noivo e sofrera o acidente. Nem mesmo se importara em se arrumar para aquele momento único, importando-se apenas em buscar a mulher que sempre pensara que tinha lhe tirado a mãe. Depois, mais uma vez suas núpcias fracassara, pois fora tirada da cerimônia e agora casara com a pirata que sempre fizera parte dos seus fantasmas.

        Parou a moto, em seguida se livrou do capacete. A brisa fria lhe assanhou os cabelos. Fechou a jaqueta de couro.

Observou as crianças brincando com seus patinetes, alguns animais seguiam com seus donos, casais aproveitavam o som marítimo para namorar.

Retirou o celular do bolso e viu as inúmeras mensagens de Cristina. A amiga estava em desespero para saber o que estava acontecendo, mas não desejava falar agora. Viu uma ligação da babá, do avô, porém não havia nada do duque. Imaginava como devia estar possesso, pois agora não podia seguir com suas chantagens, afinal, sua querida Víbora estava casada e não podia tê-la.

Respirou fundo.

Precisava saber como deveria se comportar com a “esposa”, pois não demoraria para que tivessem um novo confronto.

  Virando a cabeça viu o carro que a acompanhara durante todo o dia e para sua surpresa atrás havia outro veículo e de dentro desceu Miranda. 

   Acompanhava tudo do retrovisor da motocicleta. A chefe do departamento vestia um terninho azul-marinho. Parecia bastante séria e não demorou para tê-la bem a sua frente.

    – Gostei do seu brinquedinho… – A Maldonado comentou ao observar o modelo japonês. – Que bom que não saiu correndo como uma louca, não teríamos te alcançado.

      Mel a olhava desconfiada.

      – O que faz aqui? Algum problema novo para substituir os antigos?

      A outra esboçou um sorriso.

       – Na verdade, apenas que sua esposa esteve reunida hoje com os advogados e está em busca de anulação do casamento. – Acomodou-se no banco. – está fazendo de tudo para provar que foi dopada… mas as ervas que ingeriu não deixam vestígios, então não se preocupe. – Dizia enquanto observava a moto. – Custou muito caro essa máquina?

        A Santorini relanceou os olhos em impaciência.

         – Você não veio aqui apenas para falar da minha moto.

        A Maldonado fez um gesto negativo com a cabeça.

       – A questão é que sua esposa linda vai lutar muito para anular esse matrimônio… Já pensou em consumar seu casamento?

      Os olhos dourados abriram-se de forma estupefata.

       – O que está sugerindo?

      – Amei a jaqueta de couro… o perfil tá lindo…

      – O que está sugerindo?

      – Por que não a seduz? Sabemos que ela te quer.

-- Me quer? – Indagou estupefata. – Ela deseja me humilhar, me subjugar.

-- A Samantha te quer, aproveite e faça isso valer a pena... Já está no fogo mesmo, qual o problema de se queimar?

      A face da filha do aristocrata corou diante do que estava ouvindo.

    – Mel, pode tornar seu casamento real, talvez seja o melhor para vocês.

    A tenente desmontou da moto. Cruzou os braços sobre os seios, enquanto demonstravam total indignação.

      – Primeiro me convenceu a aceitar esse casamento, agora acha que posso tornar isso real? – Baixou o tom de voz ao perceber que estava alterada. – Sabe o que a sua amiga falou para mim hoje?

      – A Lacassangner está chateada, é normal nesse momento. Apenas tenha calma e paciência que logo isso vai resolver. – Respirou fundo. – Seu avô esteve na cobertura hoje e acredito que a situação não foi uma das melhores.

        A indignação foi substituída pelo temor.

       – Mel, a Belinda vai retornar e vou precisar que a pirata a aceite como segurança.

       A militar tentava não demonstrar a irritação em saber do retorno da loira. Não a suportava e não acreditava que ela simplesmente fazia o papel de guardadora da filha do Serpente.

-- Acredito que essa parte você quem deva fazer. – Disse simplesmente. – Estou tentando o máximo seguir o seu plano, estou fazendo tudo isso para poder evitar mais tragédias, só que simplesmente não pode me pedir para fazer determinadas coisas.

-- Sim, eu entendo e sabe que estou muito grata pela forma que está se comportando, não acredito que outro fizesse o mesmo em seu lugar. – Colocou a mão em seu ombro. – Porém agora que já está na dança deve ir até o fim.

Mel não respondeu. Miranda lhe dirigiu um sorriso de encorajamento e depois foi embora.

 

 

Samantha estava em uma das inúmeras boates que costumava frequentar. A música alta e as luzes coloridas enaltecia o ambiente.

A sheika estava em um dos camarotes e tinha ao seu lado Virgínia.

-- Participou do plano da Miranda! – Acusou a morena. – O que a sua chefe pensa que vai conseguir com tudo isso?

-- Ela só deseja o seu bem, sabem muito mais disso que eu, porém bastou o duque destilar o veneno e você caiu.

-- Ela estava envolvida em tudo!

-- Não é verdade, o único erro que cometeu foi ter temido sua reação e por isso não contou tudo.

A Lacassangner bebeu um pouco do líquido que estava em sua taça.

-- Colocou na história a filha do Fernando! – Disse aborrecida.

Ainda não conseguia acreditar que estava casada com a Santorini. Lutava contra a vontade de não desejar vê-la e o anseio de castiga-la por tudo o que tinha feito consigo.

-- Aproveite!

A filha do pirata levantou.

-- Não é só você nessa história, Samantha, pense no Eliah, pense como ele também corre riscos.

-- Continue fazendo seu trabalho de protege-lo!

-- Vamos te proteger também!

 

 

A cobertura estava às escuras. Passava das duas da manhã.

Eliah descia as escadas quando viu a porta abrir. O homem não tinha conseguido dormir, pois estava preocupada com a Lacassangner. Sentiu-se aliviada quando viu com quem estava, Virgínia, sinal que estava mais acessível à Miranda depois de tudo o que tinha acontecido.

Viu quando a guarda costa foi embora.

Seguiu até a sala e viu a jovem sentada na poltrona, nem mesmo tinha acendido as luzes.

-- Não vai dormir?

A voz do pirata despertou a sheika.

-- Pensei que você já estava a fazer isso. – Inclinou a cabeça para trás. – O dia foi muito longo, mas por mim eu continuava até o amanhecer. – Levantou-se. – Preciso de um banho. – Suspirou. -- Acho melhor que vá para os seus aposentos.

O homem fez um gesto afirmativo com a cabeça.

Samantha seguia pelas escadas lentamente. Tinha bebido um pouco mais do que costumava fazer

Entrou nos aposentos e estranhou a TV ligada. Nem sabia que aquilo funcionava, pois nunca ligara. Observou a silhueta sobre o leito e ficou pasma ao ver de quem se tratava.

Já se preparava para esbravejar quando viu que a filha do duque dormia profundamente. Conseguia ouvir a respiração da militar. Observou-a cuidadosamente. Vestia um pijama de bolinhas composto de um shortinho minúsculo e uma blusa que exibia um decote bonito para os seios redondos.

Não conseguia acreditar que a filha do Del Santorra tenha decidido ajudar a Miranda naquele plano. Como aceitara um casamento? Não havia dúvidas de que ela acreditava que isso ajudaria o pai e o avô naquela escalada de ódio.

Passou a mão pelos cabelos, depois observou a tela colorida e gigante que exibia algum filme açucarado, pois aparecia um casal aos beijos.

Soltou um longo suspiro e isso foi suficiente para despertar a Santorini.

Mel abriu os olhos lentamente, o quarto estava mergulhado na penumbra e apenas as luzes externas invadiam o ambiente. O céu naquela noite estava lindo e estrelado, além de exibir uma linda lua. Tinha seguido para a cobertura quando na verdade desejara ir para seu apartamento, porém se quisesse que o plano da Miranda desse certo deveria ficar ao lado da pirata. Não ficara surpresa ao saber que ela não estava em casa, decerto, estava em algumas das suas farras, então tomara banho e ficara assistindo a um filme. Eliah tinha vindo mais cedo e lhe preparado um sanduíche e um suco. O homem a tratava muito bem e com grande gentileza, isso a confortava.

Viu a mulher parada diante de si, via o olhar acusador mesmo na penumbra. Pensou que ela falaria algo, mas simplesmente a pirata seguiu para o banheiro e isso deixou a Santorini aliviada.

Levantou-se e seguiu até a varanda, apoiando-se no guarda corpo. A rua estava deserta, mas vez e outra era possível ver um carro passar.

Teria feito o certo em se jogar naquela história desse jeito?

Fitou o anelar, havia uma aliança discreta comprada pela Maldonado.

O avô e o pai tentariam fazer algo contra a Lacassangner agora, mesmo sabendo que seriam considerados suspeitos. Em uma das muitas manchetes que tinha sido colocadas nos jornais, uma fora bastante sensacionalista, deixando claro o desagrado da família da Santorini com aquela união.

Levou a unha do polegar à boca e começou a mordiscar.

Estava casada com a pirata que passara a vida toda odiando. Estava casada com a mulher que mexia com seus sentimentos de forma tão perturbadora que nem mesmo sabia lidar com o que sentia.

Casara apenas para tentar proteger a todos ou por que era o que desejava em seu mais íntimo ser?

Ouviu passos, mas não se voltou. Sentia o aroma do pós-banho. Sentia o cheiro dela tão perto de si que temia se virar e vê-la tão próximo.

-- O que faz eu meu quarto, tenente?

Samantha falou bem próximo do seu ouvido. A pirata sabia que não deveria ter ido até ela, mas o álcool em seu sangue a deixava ainda mais impetuosa.

-- É o quarto que devo ocupar... – Disse sem se voltar. – É o seu quarto, então é o meu quarto.

A Víbora a segurou pelo braço, fazendo-a fita-la.

-- Não dividirei a cama contigo, a menos que deseje se submeter a mim.

A militar fitou os lábios bem desenhados. O roupão atoalhado que provavelmente não trazia nada por baixo. Sentiu um arrepio na nuca.

-- Me submeter a ti é aceitar que se deite com suas amantes e depois te acolha em meus braços de forma apaixonada?

 A Lacassangner passou os olhos pelo pescoço esguio, pelos seios redondos, os biquinhos que se mostravam sob o tecido como botões de flores.

-- Acha que seria diferente? – Questionou enquanto passava o indicador pela borda superior da blusa. – Quando todos descobrirem que mentiu, que me dopou para que esse casamento acontecesse, quero ver como vai ser... Vou anular essa armação que chama de casamento.

Mel esboçou um sorriso gentil.

-- Então faça...Anule, prove que foi dopada, encerre o casamento!

Já seguia para o interior dos aposentos, mas foi detida pelo braço.

-- Eu não acabei de falar...

-- Estou cansada, senhora minha esposa, quero apenas dormir.

-- Acha mesmo que vai dormir na minha cama?

-- Vou!

Samantha a segurou contra o guarda corpo, pressionando os corpos.

-- Não sabe com quem está brincando, Santorini.

-- Estou brincando com uma víbora! – Falou com um sorriso. – Uma víbora...

Os olhos azuis se estreitaram enquanto fitava os lábios cheios, sentia o hálito amontoado, o aroma delicado típico da tenente. Observava os seios redondos. Sentia o desejo queimar dentro de si, sua mente aos poucos eram dominadas pelo desejo que tinha de sentir mais uma vez a filha de Fernando.

Segurou-lhe a nuca e logo unia as bocas em um beijo grosseiro.

 

Comentários

  1. Agora chega a parte em que eu morro de tanta ansiedade. Rsr.

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  2. Essas duas tem muita química, mas também muita raiva😂.
    Fico sempre na ansiedade para o próximo capítulo.

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  3. Essa Samanta só sabe falar,Essa víbora mas parece uma cobra verde,sem veneno nenhum!Parece que só tem fama e nenhuma atitude!

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