A víbora do mar - Capítulo 30 - O ataque do duque


 

 Naquele momento não havia sons, nem mesmo a respiração de ambas podiam ser ouvidas, como se tivessem sidos suspensas.

            Samantha olhava a mulher parada a sua frente, via a expressão bonita transfigurado pela raiva. Os olhos dourados estavam lacrimejantes. O maxilar enrijecido.

 Segurou-lhe o braço.

           – Repete o que você disse! – Ordenou.

           Mel mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto a fitava, nem percebera quando tinha falado, porém isso não importava agora, afinal, o temor era o que o pai poderia fazer, isso que a assustava naquele momento.

             – Samantha, meu pai sabe que estou apaixonada por ti e por isso está furioso. – Repetiu cheia de coragem. – Eu vi no olhar dele que será capaz de tudo para conseguir o que tanto deseja, ele te quer.

             A Lacassangner observava-a, parecia perdida no que tinha acabado de ouvir, depois a olhou cuidadosamente, observando-a de acima abaixo. Nem mesmo se importava com o que fora dito sobre Del Santorra, apenas a declaração lhe deixara estática.

            --Não deve ceder aos desejos dele! – Insistia a tenente.

            A sheika cerrou os dentes, aliviou um pouco a pressão que fazia na pele da militar.

             – Ele te machucou?

               Mel fez um gesto negativo com a cabeça.

              – Mas o meu medo é que ele te faça algo…

            A pirata afastou-se, dando alguns passos para trás. Passou a mão pelos cabelos úmidos. Sentia-se confusa diante do que tinha acabado de ouvir, não acreditando no que tinha sido dito. Mais uma vez sentia que estava sendo usada por aquela mulher, mais uma vez se sentia uma peça naquele jogo doentio.

            -- Meu pai vai fazer de tudo para...

            Antes que pudesse terminar de falar, a filha do Serpente partiu para cima da jovem, segurando-a firmemente pelo pulso, apertando-o, enquanto a pressionava contra a porta.

            -- Está louca! – A médica exclamou perplexa.

            -- Que joguinho sujo é esse hein, tenente? – Apertou-a ainda mais. – Qual o plano agora? Primeiro foi até a minha fazenda, praticamente implorara para que a tomasse, no outro dia foi fria e petulante, na manhã seguinte deixou claro que apenas desejara me usar e agora vem com a história que está apaixonada por mim! – Aumentou o tom de voz. – Acha mesmo que sou uma tola que vai acreditar em suas mentiras?

            Mel olhava os olhos semicerrados, o nariz arrebitado, a irritação que enfeitava os traços bonitos.

            Não se importava com o fato de ela não acreditar em suas palavras, nem quisera confessar o que sentia, mas já que fora dito, não voltaria atrás em suas palavras, não mesmo.

            -- Problema seu se acredita ou não em mim! – Tentou se livrar da pressão, mas não conseguiu. – Acha mesmo que eu gosto de sentir algo por ti? Olha, Víbora, infelizmente, não sei como aconteceu, mas aconteceu, só que não vou morrer por causa disso, cedo ou tarde acredito que vai passar, porém o que me importa nesse momento é a ameaça que o meu pai representa, ele quem contou ao comandante sobre o que eu tinha feito, então não duvido mais de nada que ele possa fazer.

            -- Não tenho medo do duque! – Falou bem perto dos lábios rosados. – Nem tenho medo de ti, então acho bom que tome cuidado com o que fala.

            A Santorini conseguiu desvencilhar do toque insistente, mantendo-se longe. Olhou-a furiosa pela forma que estava sendo tratada.

            -- Digo o mesmo para ti, pirata, não me amedronta seus ataques, apenas não permitirei que o meu pai ou o meu avô aja de forma reprovável, tenho muita dignidade para desaprovar algo assim.

            -- Então agora percebe que sua maravilhosa família não presta! – Comentou cruelmente.

            -- Isso não importa... – Disse enquanto meneava a cabeça negativamente. – A única coisa que me interessa é descobrir quem foi o responsável pela morte da minha mãe, ela não tinha nada a ver com essa história e não merecia ter tido um fim tão cruel.

            -- Não se meta nessa história, deixe que as investigações sejam feitas por outras pessoas, não percebe que está se colocando em risco?

            A jovem levantou a cabeça de forma altiva.

            -- Não tenho medo! – Disse pausadamente.

            A Lacassangner tinha a impressão que havia uma enorme confusão em sua mente. Primeiro o fato da filha do duque ter dito que estava apaixonada, agora a preocupação em vê-la se colocando no meio daquela história suja.

            Fitou-a e desejou abraça-la, toma-la para si mais uma vez, porém não o faria, não podia se deixar levar por aquele sentimento que queimava dentro de si, por aquela agonia que já conseguira lhe dominar uma vez, fazendo baixar a guarda.

            -- Preciso da espada, disse que me entregaria se eu viesse até aqui buscar.

            As palavras ditas em tom neutro lhe tiraram de suas divagações.

            Sim, Samantha tinha dito que entregaria, dissera para a jovem ir até ali, nem mesmo sabia o motivo disso, na verdade, sabia sim. Na noite anterior ficara com tanta vontade de tê-la para si, tocá-la, sentir novamente a boca macia e carnuda que acabara pedindo para que fosse, queria-a...Queria-a muito...

            Umedeceu os lábios demoradamente, sentia-os secos, sentia a própria garganta seca.

            -- E então? – Insistia a Santorini. – Preciso seguir até a arena, não tenho muito tempo, na verdade, já estou até atrasada.

            Samantha seguiu pelo corredor, enquanto Mel permanecia no mesmo lugar.

            Respirou fundo e sentiu o delicioso perfume que se depreendia do corpo da bela mulher.

            Cruzou os braços.

            Nem sabia o motivo de ter contado a verdade dos sentimentos, não conseguiu controlar as palavras e falara do seu amor... Amor?

            Não, estava apenas sentindo paixão, talvez algo mais comum que o normal, vendo como era maravilhosa a filha do Serpente. Seu corpo reagia com a proximidade, chegava a doer pelo anseio de senti-la, por tocá-la mais uma vez.

            Observava tudo ao redor.

            A cabine era na verdade uma espécie de apartamento. A sala era bem decorada e era possível ver uma porta de vidro na lateral que dava para uma ala exclusiva.

            Caminhou até lá e viu a morena que era a provável amante da sheika a se deliciar com a piscina.

            Jamais poderia se submeter a um relacionamento com a Lacassangner, ainda mais quando pensava como ela se dava ao desfrute o tempo todo com outras mulheres. Parecia insaciável, desavergonhada...

            Soltou um suspiro de impaciência e ao se virar viu a Víbora parada um pouco atrás de si.

            Observou-a com um estojo grande e de couro marrom.

            -- Aqui está o que veio buscar! – Samantha disse. – Sabe que não é sua, apenas a usará.

            -- Sim, eu sei, já me disse isso.

            A outra lhe estendeu e Mel a pegou, já seguindo para a saída, porém foi detida pelo braço.

            -- Boa sorte!

            A tenente apenas esboçou um meio sorriso, deixando os aposentos.

 

 

 

            A arena fora organizada para situar o campeonato.

            Foram montadas arquibancadas, com um bom número de assentos para os que ansiavam por apreciar o esporte tão elitizado por aquela sociedade.

            O duque seguiu ao lado do embaixador, ocuparam a ala reservada ao príncipe Ralf.

            Havia champanhes, os melhores uísques, vinhos e outras bebidas mais exóticas. Os garçons serviam aperitivos.

            Todos pareciam entusiasmados para que começassem logo as rodadas daquele dia. Cada competidor teria apenas uma chance, se perdesse, estava fora. O prêmio seria totalmente doado para a reconstrução da cidade que fora destruída. Também havia um setor para apostas, cada uma das personalidades ali presente trouxera um atleta para lhe representar.

            Miranda coordenava a segurança da alteza e da família, estava atenta a tudo, enquanto comandava um número extenso de agentes.

            Observava o duque conversar de forma animada, agindo como fosse um dos homens mais íntegros do mundo. Sabia como por baixo daqueles trajes bem arrumados e caros havia uma personalidade apodrecida. Vez e outra via o olhar masculino sobre si. Conhecia-o bem e temia o que podia fazer.

            Fitou o relógio e achou estranho a demora da Lacassagner, ela também duelaria naquele dia, seria a última da tarde. Pensara que ela acompanharia a batalha da Santorini, mas até agora não a viu em parte alguma.

            Samantha era sua prioridade. Redobrara os cuidados desde a última vez que ela sofrera a emboscada, mesmo assim lidava diariamente com sua rebeldia, agindo sempre de forma a lhe dificultar o trabalho. Não era segredo que sempre arrumava um jeito de se livrar da segurança que a acompanhava, até mesmo estivera sozinha com o Del Santorra, algo que reprovara totalmente.

            Já se preparava para entrar em contato com a Virgínia, quando viu a filha do Serpente se aproximar. Ela não usava os meus trajes que as outras, essa fora a condição para que fizesse parte. Vestia calça de couro, marrom, colada às suas pernas, botas de cano longo, preta, camisa branca de tecido fino, mangas longas que eram presas nos pulsos por abotoadeiras do mesmo material que a calça, no peito ela se fechava por fios encruzilhados. Os cabelos longos estavam trançados na lateral do ombro esquerdo.

             Samantha sentiu o olhar do duque sobre si, mas nada comentou, recebendo os cumprimentos de todos o que estavam lá, menos do aristocrata que apenas a fitava sem disfarçar sua vontade de tê-la. Chegava a ser nojento a falta de caráter daquele homem, parecia ter perdido totalmente a vergonha e o pudor.

            – Todos estão ansiosos para te ver exibir sua perícia, Lacassangner. – Ralf comentou fazendo um brinde. – Eu a escolhi como minha vencedora. – Beijou a mãe da pirata. – Está maravilhosa.

            A filha do Serpente esboçou um sorriso, enquanto observava a todos os presentes.

                 – Pelo que sei, a senhora Sheika aprendeu a arte da esgrima com grandes professores. – Comentava Fernando chamando a atenção de todos. – O Serpente sequestrava os mestres para ensinar a filha. – Gargalhou.

                Apenas quem achou graça do que fora dito foram os amigos do Del Santorra, os outros acharam totalmente deselegante o comentário.

                  Samantha aceitou um pouco de água que estavam a lhe oferecer, depois respondeu:

                   – Realmente isso é verdade, senhor duque, mas todos sempre foram bem pagos para que me ensinassem… engraçado como meu pai sendo pirata tinha mais dignidade que muitos homens que exibem seus títulos.

                 A expressão do pai da tenente demonstrava o desagrado pelas palavras, mas nada falou, pois todos já se organizavam para verem o primeiro confronto.

            A morena caminhou até uma das cadeiras acolchoadas, sentando-se e vendo pelo vidro os competidores. Tinha acabado um confronto, naquele dia já tinha ocorrido dois. O campeonato duraria pouco, apenas o suficiente para que os ricos presentes doassem grandes quantias. Isso era o que importava naquele momento, conseguir a quantia que pudesse ajudar as pessoas reconstruírem suas vidas e sua dignidade.

            Observou as duas jovens serem apresentada para o próximo embate. Uma das presentes era uma conhecida esgrimista, conheceu-a na noite anterior e pelo que sabia tinha bastante habilidade, porém não era ela quem lhe chamava a atenção, mas sim a militar que cumprimentou a todos que gritavam seu nome, sabia como era popular a tenente, não apenas como a filha de um respeitado aristocrata, mas como a campeã da espada. Ela estava sem a proteção do rosto, então era possível ver o lindo rosto esbanjar simpatia.

            Queria aquela mulher aos seus pés, desejava isso mais que tudo naquele universo, fazê-la implorar por si até poder se sentir vingada pela forma que caíra em seus encantos.

            Umedeceu os lábios demoradamente.

               A Lacassangner olhava hipnotizada a filha do seu maior inimigo mostrar toda sua maestria. Era fascinante vê-la, parecia uma garça cheia de elegância, era impetuosa e cheia de si, como se pudesse enfrentar todo o universo.

               Recordou-se de quando a enfrentou pela primeira vez, sabia que se não tivesse distraido-a, teria demorado para vence-la, ainda mais por que ela não parecia estar levando na brincadeira o confronto, partindo para cima de si com ímpetos de lhe arrancar um pedaço do couro.

            Naquele dia sentira o corpo vibrar por tê-la tão perto. Depois de tantos anos, sentira vontade de se entregar mais uma vez ao desejo da carne.

            Cruzou as pernas incomodada.

            Desejava tanto aquela mulher que chegava a sentir o incômodo em todas as células do seu ser. Ainda pensava em como fora delicioso a forma que ela se entregara, como fora ousada a tocá-la, senti-la, possuí-la.

            “Ele sabe que estou apaixonada por ti.”

            Apaixonada?

            Deus, seria verdade ou um truque mais uma vez sujo para destruí-la?

                – Acha que pode vencer a tenente?

                A voz de Miranda lhe soou perto, mas não a fitou.

               Tentou esquecer o que estava pensando, buscando se concentrar na conversa.

               Viu o olhar do duque passear por si, parecia desconfiado, observando-as.

               – Eu acho que a militar apresenta pequenos erros na hora da defesa, tem muito porte, muita beleza nos passos, mas só sabe o que fora ensinado por grandes teóricos. – Disse sem tirar os olhos da Santorini. – Perde muito tempo criando estratégias, poderia simplesmente terminar logo com o duelo.

                   – Eu a treinei e muitas vezes fui superada por ela… – Insistia. – Não vai usar proteção mesmo? Tem um rosto muito bonito para ficar tão exposto, pirata. – Exibiu um sorriso. – Eu acho que se for a final com a bela Mel, ela vai sentir um prazer quase sexual em te tirar esse ar de superioridade.

                A Sheika sabia que estava sendo provocada e por isso não parecia se importar, voltando a atenção para a dona dos seus pensamentos.

                  Prendeu o fôlego quando por pouco ela não fora subjugada pela adversária, mas rapidamente a jovem se recuperou, vencendo a oponente com gritos de euforia.

                – Minha filha não manda recados! – Dizia orgulhoso o duque. – Está para nascer alguém que a vença, pratica esgrima desde os quatro anos.

                  Samantha nem mesmo se importou com o que ouvia, pois conhecia bem a hipocrisia daquele homem.

              Viu o apresentador exaltar as duas competidoras, enfatizando a vencedora daquela rodada.

            Um garçom apareceu trazendo várias garrafas de champanhe e aperitivos.

            -- Logo será sua vez, Samantha! – O príncipe dizia alegremente. – Estou em euforia para te ver lá.

            A Lacassangner fez um gesto afirmativo com a cabeça, ficando durante alguns segundos conversando, depois pediu licença, alegando precisar organizar a espada que usaria.

               Seguiu para fora, passando pelo corredor, viu quando o soldado seguia de perto a Santorini, parando apenas quando ela entrou no vestiário.

             Observou-o, parecia bastante interessado em fazer seu trabalho de vigiar a militar de perto.

            Passou por ele, não se importando com o olhar que o homem lhe dirigiu.

            O lugar tinha sido preparado para ser usado para as competidoras usarem se precisassem. Havia chuveiros, um banco grande de madeira e uma bancada de mármore. Havia também alguns armários metálicos.

            Abriu a porta e permaneceu lá, apenas observando.

           Encontrou a jovem tirando o traje, vestindo apenas a calcinha de seda box, curta, e um sutiã.

            Travou a fechadura para que ninguém as interrompessem.

           A Santorini levantou a cabeça, olhava perplexa a figura que ali estava.

            Tinha conseguido vê-la no camarote, até se distraíra por alguns segundos, quase perdendo a batalha para a adversária. Mas como não perder o foco ao ver aquela deusa do mar exibindo-se.

            Nem sabia como conseguira vencer, pois sua cabeça estava fervilhando desde o momento que abrira a boca e confessara que estava apaixonada. Por que tinha dito isso? Sabia que ela nunca acreditaria e agiria cada vez pior consigo.

             – Bem, não precisa me fuzilar com seu lindo olhar, sabe bem que esse é o vestiário de todas as competidoras.

            Sim, isso era verdade, porém ela não acreditava que a tal pirata estava ali de forma inocente.

               Olhou-a por alguns segundos, vendo os trajes que vestia. Ela gostava de ostentar aquele lado de rainha do mar. Não podia negar que ficava ainda mais sexy vestindo-se assim, era maravilhosa com aquele ar de arrogância.

             Pegou a mochila, depois tirou uma calça de moletom preto e uma camiseta branca, vestindo-se, sem olhar para a outra.

            Pensara que Cristina estaria ali, esperando-a, mas deve ter se distraído com as conquistas novas.

            Ao terminar, viu a mulher lhe olhar com aqueles olhos incisivos.

           Arrumou as coisas e já seguia para a porta quando foi detida pelo braço, fitou-a.

            – Quero você, tenente, quero transar contigo hoje.

            Os olhos dourados a fitaram com perplexidade. Via a provocação e a zombaria no olhar da pirata.

            – Está doida!? – Indagou em confusão. – Quem te deu o direito de agir de falar comigo assim? Pensa que sou uma das suas vagabundas?

            – Não, não estou, apenas quero e sei que também deseja.

             – Desejo? – Praticamente cuspiu a palavra. -- Acha que só porque falei que estava apaixonada, significa que vou deitar contigo? – Retrucou indignada. – Saiba que não tenho interesse, vá atrás das suas amantes para saciar a sua safadeza.

             – Por que não? – Disse exibindo um sorriso. – Somos adultas, e não temos que ficar fingindo que somos virgens puritanas. – Provocou-a. – Eu não gosto de bancar a inocente.

                    Samantha divertia-se ao ver o vermelho corar a face da militar. 

                  – Não sou virgem, mas isso não significa que vou sair dando para qualquer uma desavergonhada. – Disse, enquanto encarava-a.

                 – Desavergonhada? – Acariciou-lhe a face. – Está apaixonada por uma pirata, Mel?

              A tenente sentiu um arrepio na nuca ao ouvi-la falar seu nome. Parecia que estava sendo profanada em seu âmago. Não gostava quando pronunciava, parecia uma carícia íntima em seu ser.

               – Não quero falar sobre isso! 

               Samantha Afastou-se e foi naquele momento que a Santorini percebeu que ela estava apenas provocando-a. Observou-a se afastar.

               – Eu não sei se o que fala é verdade, mas se for é melhor que não diga isso a ninguém, vai ser melhor para que não seja alvo de nenhum atentado.

               – Não acho que o meu pai faça algo contra mim… – Disse relutante.

               A Sheika cruzou os braços sobre os seios.

                 – Eu não sei, mas prefiro não arriscar… – Perscrutou-a. – Por que mudou de ideia? Por que agora acha que seu pai e seu avô não são inocentes?

                 – Eu não mudei de ideia, apenas vejo as coisas de forma mais clara. – Disse desconversando, sabia que não deveria dizer o que fora contado por Miranda.

                 A Lacassangner estreitou os olhos em desconfiança.

                 – Certo, senhorita.

                   Mel abriu a porta.

                 – Como já terminou com suas gracinhas, vou embora.

               A pirata fez um gesto negativo com a cabeça.

              -- Se você me vencer, já te disse que devolverei a espada, porém se eu sair vencedora, quero que se entregue para mim, quero que me deixe saciar meu desejo. – Falou tranquilamente. – E agora não estou brincando.

            -- Está louca? – Praticamente voou sobre ela.

            A filha do Serpente nem mesmo se moveu ao vê-la chegar perto ameaçadoramente.

            -- É um trato justo, vença e nada acontecerá entre a gente.

            -- Quer me humilhar não é? – Questionou furiosa. – Consigo perceber que essa é a sua vontade, humilhar-me. Não bastou o que houve na piscina?

            -- Quero te devolver o que me deu, tenente, te entregar toda a sua petulância.

            -- Pensei que tivesse devolvido quando fez tudo aquilo...

            Estavam tão próximas que era possível sentir o hálito de ambas.

            -- Confesso que pensei que estaria te castigando naquele dia, mas a verdade é que você gostou... Quem diria, a pomposa aristocrata gosta de apanhar na hora do sexo.

            Mel nem piscou quando esbofeteou a cara da pirata. A Lacassagner nem mesmo se moveu, parecia que já esperava e daquela vez apenas aceitou.

            -- Ok, víbora, eu aceito a sua proposta suja, porém se eu vencer, vai se submeter ao que eu quiser, qualquer coisa.

            -- Pensei que sua parte era apenas a espada.

            -- Quero mais! – Esboçou um sorriso. – Estava tão segura da sua vitória, pensei que já estivesse certa de ser a campeã.

            -- Faremos como você deseja, tenente... – Concordou mordiscando a lateral do lábio inferior.

            A Santorini assentiu, depois deixou o vestiário.

             Seguiu até a pia, apoiando-se na pedra de mármore, enquanto fitava a própria imagem no espelho.

              O duque não aceitaria de forma alguma que houvesse algo entre as duas mulheres, claro que nem mesmo cogitava se envolver novamente com a jovem militar, sabia que se voltasse a ter algo com ela, acabaria ferindo-se mais uma vez, apenas seria sexo e isso já lhe arrepiava.

 

 

 

            No fim da tarde, aconteceu o último embate daquele dia.

            Cristina convencera a amiga a acompanhar o duelo, assim ficaria sabendo o que teria que esperar nos próximos passos do campeonato.

            Aquele era o momento mais esperado para todos. Não era segredo que os presentes ali ansiavam por saber como seria a filha de um dos maiores piratas usando a espada.

            -- Tenho certeza de que você e ela se enfrentarão na final, está claro que nenhuma das competidoras presentes conseguirão vencer vocês.

            Mel não respondeu, apenas continuava a observar.

            Não tinha seguido até o camarote para cumprimentar o príncipe nem o duque, na verdade, estava evitando o pai depois do que acontecera mais cedo. Não queria nem pensar nas palavras que ele falara, no brilho em seu olhar quando deixara claro suas intenções. Ele queria Samantha, mas não permitiria que ele se aproximasse, que ousasse feri-la como fizera com Iraçabeth. Ponderava o tempo todo como Sir Arhur permitira que Fernando fizesse tudo o que tinha feito. Será que sua mãe sabia? Recordava-se de várias vezes ter presenciado as discussões entre eles e em certas ocasiões, a duquesa o acusava de ser obcecado pela filha do Serpente.

            -- O que houve? – A fisioterapeuta indagou ao ver a expressão perturbada da amiga. – Você está bem?

            Mel fez um gesto negativo com a cabeça.

            -- Algumas lembranças voltaram a minha mente!

            Cristina pareceu mais perplexa, pois sabia que quando a amiga sofrera o acidente, muitas coisas tinham sido esquecidas, principalmente da infância e adolescência.

            -- O quê?

            Os gritos do público pareciam enlouquecidos.

            Mel voltou a atenção para a competição e viu a Lacassangner vencendo facilmente a adversária.

            -- Vamos voltar para a nossa cabine!

            Antes que Cristina pudesse responder, viu a amiga seguindo apressada por entre as pessoas.

            Seguiram rapidamente, evitando os conhecidos para não precisarem parar para conversar. Caminhavam pelos corredores e não passou despercebido o olhar do soldado que vigiava a militar, ele já tinha advertido-a sobre o encontro que tinha acontecido com a filha do Serpente, decerto, isso já tinha sido repassado ao superior.

            Mel praticamente corria e logo chegou aos aposentos.

            -- O que se passa? – A fisioterapeuta indagou sem fôlego. – De que lembrou.

            A tenente andava de um lado para o outro, enquanto passava a mão pelos cabelos presos.

            -- Eu lembrei as vezes que presenciei meus pais brigando. – Parou ao lado da cama. – Quando eu voltei para casa, depois do casamento da Ester... – Cobriu o rosto com as mãos. – Minha mãe gritava que o papai estava obcecado pela pirata, ela dizia que ele a queria porque era idêntica a Iraçabeth...Meu pai esbofeteou a minha mãe naquele dia... – Sentou-se. – Mesmo assim foi ao cruzeiro...

            Cris sentou ao lado dela, abraçando-lhe os ombros.

            -- Não deve pensar nisso agora...

            -- Cristina, acha que meu pai teria sido capaz...

            -- Não, não, Mel, isso não, por favor, uma coisa é o duque desejar a pirata, outra totalmente diferente é ele ser responsável por algo tão terrível...

            -- Então o que houve com a minha mãe? – Levantou-se. – Por que aqueles homens disseram que estavam cumprindo ordens da Víbora? Está claro que ansiavam por culpa-la, mas por quê? As únicas pessoas que conheço que poderiam querer destruir a Samantha são meu avô e meu pai... – Massageou as têmporas. – Meu Deus, o que há de tão sujo em tudo isso?

            -- O duque sempre quis a pirata, está claro isso, então por que ele iria querer faze-la pagar por esse crime?

            -- Para que ela precisasse dele, assim, cederia aos desejos... – Completou enojada.

            -- Não, Mel! – A fisioterapeuta levantou-se. – Isso seria muito cruel.

            -- Preciso proteger a Samantha... Só não sei como farei, mas é isso que devo fazer... Assim que voltarmos irei até o vovô, preciso falar com ele, preciso apelas para o resto humanidade que lhe resta... A Víbora é neta dele...

            -- Acha que isso vai adiantar? – Questionou apreensiva. – Na verdade, o que deveria acontecer era que a sheika tivesse ainda mais visibilidade...

            Os olhos dourados estreitaram-se em confusão.

            -- Pense bem, seu pai e seu avô declararam abertamente que odiavam a Lacassagner, sempre diziam que se algo te acontecesse, seria ela a culpada, mas e se fosse o contrário?

            -- Como assim?

            -- Pense, o que aconteceria se você e a pirata ficassem unidas, tão unidas a ponto de que qualquer coisa que acontecesse com ela fizesse abertamente todos pensarem logo na sua família...

            -- Unidas? Como assim? – Questionou incrédula já pensando no que a outra diria.

            -- Mel, se você casasse com a Samantha, sua família seria a primeira na fila de suspeitos se algo acontecesse com a pirata... Pense...Seria uma forma de proteger não só apenas ela, como seria mais fácil para que conseguisse descobrir tudo.

            A Santorini engoliu em seco.

            -- Está louca...

            -- Não e você sabe que tudo o que eu falo tem fundamento...

            -- Como me casaria com a Víbora? – Sentou-se. – Ela teve a cara de pau de falar que se me vencer, eu terei que me deitar consigo... – Falou com a face corada. – Não tem vergonha na cara, é uma perdida...

            -- Se você vencer, obrigue-a a casar contigo.

            -- Não desejo me casar com ela! – Retrucou exasperada.

            -- Isso seria apenas para protege-la, quando conseguir descobrir toda a história, separe-se...

            -- Casar-me com a Víbora? – Meneou a cabeça. – Não aceitaria ter algo com aquela mulher, mesmo que seja inocente, sei que eu estaria vendo a minha alma ao demônio se ficasse com ela...

            -- Case-se, mas não tenha intimidade, apenas se case...

            -- Sem sexo?

            -- Bem, se você quiser...

            -- Não, eu não quero! – Apressou-se em dizer. – E você acha que de que forma eu obrigaria ela a aceitar o matrimônio?

            -- Bem... – Abriu o frigobar e tirou o suco. – Ela disse que se vencer, você vai transar, então se você vencer, faça ela aceitar o casamento...

            -- E acha que seria tão fácil assim?

            -- Ela é uma pirata, filha do Serpente, dizem que ambos sempre honravam com a palavra dada.

            A tenente apenas ponderava.

            Era um absurdo tudo aquilo, mas não deixava de ter lógica o que a amiga dissera sobre o fato de ser uma forma para proteger a Lacassangner e praticamente obrigar o duque e o almirante a se mostrarem e quem sabe assim, não apenas eles, mas outros se mostrassem e assim conseguissem descobrir toda a verdade.

            Era um absurdo, mas pelo menos evitaria que Fernando ousasse chegar perto da sheika.

            -- Sem falar que também se livraria do comandante e das suas exigências, ele não iria poder te proibir de se aproximar da tua esposa.

            Mel apenas suspirou, enquanto bebia um pouco de água.

            Não, aquilo não estava em seus planos, nem de brincadeira poderia cogitar essa possibilidade.

 

 

 

            -- Você foi muito bem!

            Samantha estava sentada no sofá. Tinha chegado há pouco tempo, tomou um banho e agora ouvia a Miranda falar.

            -- Que bom que seguiu até o príncipe quando terminou, deve ter percebido como o duque te olhava.

            A morena brincava com as amarras do roupão atoalhado.

            Observou a mulher preparar um drinque, entregando-lhe.

            -- A Mel não foi até o camarote, achei estranho, afinal, o pai estava lá, deveria ter ido cumprimenta-lo. – A Maldonado sentou-se. – Sabe se aconteceu algo?

            A pirata bebeu o líquido amargo vagarosamente, parecia se deliciar com a bebida.

            -- Acho que Fernando está passando dos limites, creio que isso não agradou a filhinha mimada. – Disse por fim.

            -- Não acho que se trate apenas de uma crise de menina mimada, Sam, a tenente parece bastante preocupada com tudo o que está acontecendo...

            -- Como sabe disso? – Questionou interessada. – Falou com ela?

            -- Não preciso falar para saber... – Desconversou. – A Santorini está passando por um momento complicado, está sendo punida por intermédio do próprio pai.

            -- Já disse que não me importo com isso, até gosto, assim a tiro do meu caminho.

            -- Seu caminho? – Levantou-se indignada. – Acha mesmo que me engana? Está claro o que sente...

            -- Sinto desejos... Já te disse que a ideia de subjugar a petulante militar é excitante para mim.

            -- Não deveria se comportar assim, Lacassangner, não acho que ela mereça.

            -- Miranda, eu não quero falar sobre isso! – Levantou-se. – Estou cansada com toda essa história, cansada de nunca nada ser resolvido, eu simplesmente estou aqui há tanto tempo e você não me deu respostas.

            -- O mais importante nesse momento é te proteger!

            -- Não! – Negou um pouco mais alto. – O mais importante é descobrir o que houve com o meu pai, o importante é descobrir quem está por trás do assassinato da minha esposa... Não quero perder tempo pensando nas bobagens da Mel, ela não é uma prioridade.

            -- Mesmo sabendo que ela corre risco?

            Os olhos azuis estreitaram-se.

            -- Acha mesmo que ela também não é um alvo para as pessoas que estão todo esse tempo querendo te ferir?

            -- Então, proteja-a, já disse para que faça isso.

            Miranda fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Vou voltar para os meus aposentos, não esqueça do jantar beneficente que teremos hoje.

            Samantha apenas assentiu, enquanto a chefe do departamento deixava sua cabine.

 

            O jantar daquela noite estava bastante animado, parecendo mais uma grande festa. Mais uma vez tinha apresentação musical, bebidas de ótimas qualidades e muita comida feita pelas mãos dos mais renomados chefs.

            Fernando cumprimentava as personalidades, sempre demonstrando simpatia e conversando com todos. Algumas pessoas pareciam comentar de forma discreta sobre a ausência da filha do duque no camarote, nem mesmo estivera lá para comemorar a vitória ao lado do pai. Acharam estranho a atitude da tenente que simplesmente seguiu para os aposentos, algo que não era comum acontecer.

             O Del Santorra não tivera tempo de falar com a herdeira, pensou em ir até onde ela estava, mas acabou por desistir da ideia. Estava irritado com toda aquela situação, ainda mais pelo fato de a única filha agir de forma que desaprovava. Tudo teria sido muito fácil se ela tivesse simplesmente casado com Juan. Agora estaria longe e não seria um empecilho em seu caminho.

              Conversava com um importante banqueiro quando viu Samantha Lacassangner aparecer acompanhada da amante.

               Observou-a encantado.

               Naquela noite vestia um vestido preto longo e com uma abertura lateral que expunha suas pernas longas. Não havia mangas, o decote se moldava em forma de dábliu. Usava luvas que chegavam até os cotovelos. Os cabelos estavam soltos e nas laterais usava pequenas e finas tranças.

               Mesmo diante do olhar de todos, o homem seguiu até a Lacassangner.

               Samantha sorria quando viu o duque se aproximar.

                Deu um beijo delicado na face da acompanhante, sussurrando para que se afastasse por algum tempo. Virgínia lhe enviou um olhar de advertência, porém acatou o que fora dito.

                – Sua amante teve algum problema? – Fernando questionou  com um sorriso. – Ou a dispensou para que pudéssemos conversar? – Entregou-lhe uma taça. – Prove essa safra, você vai adorar, claro que não é acostumada com vinhos tão requintados...

                – Não estou bebendo. – Dispensou a oferta. – Quanto à Virgínia, lembrei de algo e pedi que resolvesse para mim... – Arqueou a sobrancelha esquerda. – Quanto aos vinhos requintados... meu pai uma vez roubou uma frota da própria rainha...

                 O aristocrata bebeu um pouco, depois a fitou. Olhava-a e via a imagem da Iraçabeth fisicamente, porém quando se tratava da personalidade, era totalmente oposta. Poderosa e perigosa, isso o deixava enlouquecido.

                 – E então? Pensou na minha proposta?

                 – De me tornar sua esposa? – Indagou em desdém. – Sinto muito, mas não tenho interesse em ser uma duquesa... Um título muito abaixo dos meus dotes...

                 – Então vai querer que as coisas aconteçam da forma mais difícil… – Tocou-lhe a face. – Uma pena…Pensei que quisesse fazer justiça pelo seu amado pai, porém percebo que tem outros interesses... Ainda lembro o dia que o pirata foi assassinado... como foi lindo sua emboscada...Na verdade uma traição...

                O maxilar da sheika enrijeceu.

                – Duque, eu acredito que o senhor tem culpa por tudo, mas não tenho interesse nesse assunto, tenho mais é que curtir a vida…

                 – Acha mesmo que acredito nisso? – Esboçou um sorriso. – Sei bem que não retornou apenas por amar esse lugar, veio para descobrir a verdade e punir os praticantes… – Bebeu mais um pouco. – Para você acreditar que não estou brincando e que sei muito mais do que imagina, vou te dizer quem levou o seu querido papai para a armadilha… – Pegou outra taça de um garçom que passava. – Assim você percebe como posso te ajudar nessa empreitada...

                 Samantha via-o beber, estudava-a e sentia o ódio crescer ainda mais. Sempre sentira nojo daquele homem, ainda mais quando fora quase violentada, sentia asco em vê-lo, já se preparava para responder, porém, então seu olhar foi capturado pela tenente que acabava de descer as escadas. Virou-se para olhá-la, sentia-se em euforia ao ver aquela mulher, parecia que seus sentidos se intensificavam, como se fosse uma caça em busca de uma presa.

Não imaginou que ela compareceria ao evento. Observou-a com seu vestido branco de gola alta, que chegava no meio das coxas. Usava um cinto dourado na cintura e sapato de salto alto. Observou o olhar determinado e desafiante a lhe fitar.

Prendeu o fôlego.

Queria-a, queria-a tanto que seu corpo doía em desespero.

            A expressão de Fernando se irritou ao ver o que tinha chamado a atenção da Víbora. Antes que o homem pudesse expressar sua fúria, um importante senador o chamou para que participasse de uma disputa e mesmo a contragosto, ele teve que ir.

             A Lacassangner viu a militar aproximasse e sentiu o delicioso aroma.

              – O que estava fazendo com o meu pai? – Mel Indagou irritada. – Parece que ainda não percebeu que deve manter distância.

              – Eu já percebi, mas ele quem veio falar comigo. – Disse, depois a observou de cima abaixo. – Pena que ainda falta mais dois duelos para que a gente se enfrente, minha vontade é que tivesse acontecido, assim eu já teria o meu prêmio.

               – Está muito segura que vai ganhar, Víbora… – Suspirou. – Se eu ganhar vai me dá o que eu quiser?

                Samantha esboçou um sorriso arrogante.

               – Se você ganhar, coisa que não vai acontecer, pode ter o que quiser, tenente, seu desejo será uma ordem. – Falou bem perto dos lábios rosados. – Peça e eu farei...Mas não exagere no seu poder, não pode pedir que mergulhe de cabeça na boca de uma baleia...

               -- É tão arrogante e convencida que diria que se sobreviveria igual ao Jonas bíblico.

              Um sorriso algo se desenhou na expressão da sheika.

              -- Às vezes esqueço que você era uma quase freirinha...

             A tenente viu o pai um pouco distante, ele a olhava com uma fúria grande na expressão. Parecia pronto para ir até lá e começar uma batalha.

            Em muitos momentos não acreditava que tudo aquilo era real. Parava e ficava a pensar como de repente alguém que admirava em demasia tornara-se um vilão. Talvez devesse ir até ele, tentar mais uma vez conversar, tentar alertá-lo sobre as atitudes que estava tomando, como agia de forma inadequada, porém sabia que ele não reconsideraria, não mesmo.

            Soltou um longo e frustrado suspiro.

             – Tenho a sua palavra? 

             – Sim, tem!

             Mel fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois se afastou da mulher ao ver Cristina.

 

         

                

             O jantar transcorria sem imprevistos. Samantha esteve o tempo todo ao lado do príncipe. Ralf fazia questão de mostrar o apresso que sentia pela filha do Serpente e como a admirava. Em algumas ocasiões, a Sheika já estivera com a esposa e o filho do regente, sempre sendo tratada com bastante carinho e gentileza.

               A requintada comida já tinha sido provada e agora algumas bebidas estavam sendo servidas. Miranda estava sempre de olho nas movimentações, parecia preocupada com a presença do duque.

                Mel e Cristina se retiraram cedo, nem mesmo aproveitaram todo o glamour da noite. A tenente usou como desculpa a necessidade de precisar treinar, porém antes disso pousou duas vezes para fotos ao lado do pai. Pensou em se negar, mas não desejava criar mais polêmicas em torno do nome da família.

               A Lacassangner aproveitou que todos pareciam distraídos com as piadas que estavam sendo contadas e seguiu para a proa. Queria ver o mar, observar o céu estrelado.

               Sentia-se em casa quando navegava, era como se houvesse paz em seu coração, algo que sempre fora impossível existir.

               – Lembrando-se de quando pilhava os sete mares ao lado do seu pai?

                A voz de Fernando lhe soou tão próxima e ao virar a cabeça viu o odioso homem bem próximo de si.

              – Eu não já te disse para manter distância da minha filha, Víbora? – Indagou encarando-a. – Gosta mesmo de ser usada de forma tão vergonhosa? – Meneou a cabeça. – Afaste-se se não quiser acabar como o seu pai, a Mel está armando para ti.

              Samantha apenas deu de ombros, voltando o olhar para o mar.

              – Lembro como se fosse hoje da morte do seu pai… foi glorioso… Sir Arthur ordenou os tiros e o estúpido do Otávio acha do que teria um julgamento justo… você parece com ele em tolice…

              – E você deve ter regozijado ao ver o que acontecia não é mesmo?

              – Claro… porém não fui eu quem tramou tudo…mas foi muito bem articulado…Fazer Otávio acreditar que teria um julgamento justo… Miranda se superou, ganhou uma promoção por isso…

              Os olhos azuis abriram-se em um misto de surpresa e depois a raiva aparecia.

              – Você não sabia que foi a Miranda? – Debochou Fernando. – Eu tive a impressão que há uma certa proximidade entre vocês… ela não te contou? – Estendeu o braço para lhe acariciar os cabelos, mas foi rechaçado. – Bem, você já sabe que tenho o conhecimento, se aceitar a minha proposta poderá fazer todos que tentaram te destruir pagar. – Esboçou um sorriso. – Espero que tenha uma boa noite!

             A Lacassangner o viu se afastar, enquanto sentia a fúria crescer dentro de si.





            – Escute-me, Samantha…

           A Maldonado tentava sem sucesso explicar o que tinha acontecido, porém parecia impossível convencer a Sheika.

           – E eu acreditando em você esse tempo todo! – A pirata esbravejava.

           Passava das duas da manhã e a chefe do departamento fora surpreendida com a visita da filha do Serpente.

           – Sam, não entende que o duque está querendo te jogar contra mim, ele sabe que estou ao seu lado.

           – Então me diga que ele está mentindo, que você não fez nada disso! – Exigiu por entre os dentes. – Negue!

           Miranda baixou a cabeça e fez um gesto negativo com a cabeça.

           – Então não me peça para acreditar em ti, não mais, acho que já teve tempo suficiente para resolver essa situação e nunca o fez, talvez porque você não deseje que isso aconteça, talvez porque também seja uma desgraçada que está armando tudo para também me destruir… quão diferente você é do duque e de sir Arthur?

          Antes que a Maldonado pudesse responder, viu Samantha deixar a cabine.

          Suspirou, sabendo que agora a situação se complicaria, pois conhecia bem a Lacassangner, sentiu como fora rejeitada no início e agora que tinham construído uma relação de amizade, Fernando decidiu destruir tudo, mas havia uma arma que poderia usar.

    

 

 

            -- A Lacassangner venceu!

            Mel estava na área de treinamento. Tinha acabado de fazer as flexões e agora estava deitada, olhava para o teto, sentindo o cansaço diminuir depois do tempo dedicado ao exercício.

            Ouvia a voz de Cristina e não se surpreendia com isso, pois nunca duvidara que ela chegaria a final, era muito boa, tão superior que todos temiam enfrenta-la.

            A fisioterapeuta trouxe o gelo e começou a cuidar do pé da amiga. No último confronto acabara tendo um estiramento e agora temia o que poderia acontecer.

            -- Mel, eu acho que você não vai conseguir vencer a Samantha se não contar com a ajuda da Miranda, não acredito que a pirata vá baixar a guarda.

            A tenente sabia bem disso.

            -- O plano da Maldonado não é o melhor, porém se eu não ganhar, não tenho como pedir para a Víbora se afastar do meu pai...

            -- Se aceitar o que a Miranda te propôs, vai casar com a sheika... Eu concordo que se casem, mas não desse jeito, afinal, não sabemos como a pirata vai reagir quando ter noção do que aconteceu...

            -- Eu também não quero me casar com ela! – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Sei muito bem que apenas teremos mais e mais batalhas...

            -- Porém, você mesma entendeu que essa seria uma forma para proteger a Samantha.

            Ouviram passos e ao se virarem viram a chefe do departamento caminhar até ela.

            A Maldonado estava esgotada das inúmeras tentativas para tentar conversar com a Lacassangner, mas todos os seus atos tornaram-se vão, sabia que a filha do Serpente se colocava em total perigo em decidir seguir o próprio plano, acabaria como o pai, mas dessa vez não permitiria que isso acontecesse.

            -- Vai conseguir enfrenta-la? – Questionou sem ao menos cumprimentar as duas.

            A militar levantou-se, depois se sentou em um banco, continuava usando a bolsa de gelo para aliviar a dor.

            -- Pelo que vejo não! – Miranda disse ao observá-la. – Infelizmente, terei que agir de forma que reprovo, mas será o melhor nesse momento, ainda mais porque descobri que o seu pai teve conhecimento que fora eu quem tirei a Samantha da prisão, então, ele agiu de forma calculada quando contou a ela sobre o que se passou com o Otávio.

            A Santorini soltou um longo suspiro.

            -- Eu não sei se o que está planejando é algo bom, ainda mais pela razão que a Lacassangner vai ficar ainda mais furiosa contigo.

            -- Isso não é importante agora, Olívia, porém o que temos que levar em conta é que o duque jogou direitinho... Já imaginou o que pode acontecer agora?

            -- Não acredito que ela aceite casar com o meu pai... – Afirmou, mesmo tendo receio dessa ideia. – E por que eu deveria me arriscar tanto? Posso simplesmente deixar que a pirata aja de forma impensada como é de costume.

            -- Você vai fazer isso porque ama a Víbora, vai fazer isso porque está apaixonada pela sheika.

            Os olhos dourados estreitaram-se.

            -- Não posso simplesmente entrar nesse jogo contra a minha família. – Protestou levantando-se. – Não entende que seria algo sério...

            -- Assim que retornar, seu pai fará tudo para que sua punição aumente, pense em como ele pode manipular esse jogo para te deixar totalmente fora dessa história, vai ao extremo para te obrigar a aceitar o casamento e você vai estar tão encurralada que vai fazer o que ele te disser.

            Cristina olhava as duas mulheres e via a apreensão no olhar da amiga.

            -- Miranda, a Mel quem estará na linha de frente da fúria da Samantha quando tudo for descoberto... – A fisioterapeuta começava tranquilamente. – Eu mesma estou de acordo que ambas se resolvam, fiquem juntas... mas dessa forma... Arrepio-me só em pensar o que a pirata pode fazer.

            A Maldonado entendia o temor de ambas, porém nada a faria parar.

            -- Santorini, se não fizer o que deve ser feito, não será apenas você a pagar por sua covardia, a Samantha também pagará e eu acho que a sua família já tirou muito dela para que você apenas assista tudo como se não fosse da sua conta.

            -- O que pede é algo que vai contra os meus princípios morais. – Retrucou. – Uma coisa era o fato de eu poder vencê-la e pedir para que mantenha distância do meu pai, porém sei que não vencerei, entretanto o que você planeja é algo sujo.

            -- Há momentos que só nos resta jogar com as armas que possuímos. – Suspirou. – O seu confronto é à noite, você tem apenas duas horas para aceitar o que deve ser feito, depois não haverá lugar para arrependimentos.

 

 

 

 

 

 

 

Comentários

  1. Que história envolvente, aliás como todas que você escreve. Beijos de Luz!

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  2. Cadê todo mundo? Cadê a Geh? Kkkkkk Bem que poderíamos criar um grupo no Twitter ou no Telegram para interagirmos sobre os capítulos. Não? tá bom, foi só uma ideia. 😉
    Às vezes me sinto igual aquele meme do John Travolta kkkkkkkk.
    Bjssss

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