A víbora do mar - Capítulo 28 - O cruzeiro
A
noite já tinha caído na ilha. As pessoas pararam os trabalhos, pois a chuva
fina engrossou e isso impediam que prosseguissem com a reconstrução do lugar.
Algumas crianças inocentes pareciam não ter conhecimento da gravidade de tudo o
que acontecia, continuavam a brincar como se tudo fosse como antes.
Na
tenda da chefe do departamento internacional a conversa continuava.
Os
olhos dourados da Santorini se estreitaram diante das últimas frases proferidas
pela Maldonado.
Não
queria nem imaginar a ideia de o pai desejar a pirata. Chegava a lhe ferir por
dentro só em pensar nisso.
--
Já imaginou como seria ter a Samantha como madrasta?
Miranda
sabia que não deveria provocar a tenente, porém ansiava por saber o que ela
sentia pela inimiga, desejava entender o que havia entre ambas. Estava claro
que tinham transados, mas não acreditava que era apenas isso. Conhecia bem a
filha do Serpente, sabia como ela passara todos aqueles anos em celibato, não
cedendo nem mesmo aos avanços de Belinda, então não ficara com a militar apenas
por desejo, mas e a Mel, o que a fez entrar naquela relação?
--
O que está insinuando? – A aristocrata indagou por entre os dentes. – Odeio meia
palavras, seja mais clara, senhora!
A
outra fez um gesto afirmativo com a cabeça e continuou:
--
Que o seu pai é obcecado em ter para ele a Lacassangner, por isso tenho certeza
de que ele não atentou contra a vida dela. – Soltou um longo suspiro. –Bem,
você já sabe o meu segredo, contei tudo para ti e se não acreditar – Pegou
outras pastas, entregando-lhe – veja você mesma. – Cruzou os braços. – Agora é
a minha vez de saber o motivo de você ter se deitado com a mulher que você
sempre deixou claro que odiava... – Esboçou um sorriso. – Transou com a
Samantha por qual razão? Você está noivo não? Pensei que fosse hetero...
Mel
ainda observava o invólucro que recebeu quando ouviu a pergunta. Sentiu a face
corar.
Não
queria falar sobre o que tinha acontecido, ainda mais com aquela mulher.
--
Pelo o que vejo a sua protegida adora contar as aventuras sexuais... – Falou
irritada. – Ela não te contou todos os detalhes?
--
Já disse que ela não falou nada, mas os seguranças me disseram que você chegou
lá bêbada e passou toda a noite... – Sentou-se cruzando as pernas. – Deduzi que
não ficariam conversando todo esse tempo, então... – Apontou a outra cadeira
para que ela se acomodasse. – Diga-me, não resistiu ao sarcasmo da bela pirata?
Foi seduzida?
--
Não tenho que te responder nada! – Retrucou furiosa. – Se me deitei ou não com
ela não é seu problema, a menos que também a queira.
Miranda
gargalhou.
--
Ainda por cima está com ciúmes! – Gracejou. – Querida Mel, tome cuidado com a
expressão do seu rosto quando está no mesmo lugar que a Víbora, todos conseguem
ver o que se passa, você é muito transparente...
--
Acha que só porque fiz sexo com a pirata isso significou algo para mim? –
Questionou indignada. – Foi apenas sexo!
--
Você não se deitaria apenas por se deitar, ainda mais quando tinha um
compromisso com outro.
Mel
cerrou os dentes, parecia pronta para continuar a discussão, mas não o fez.
--
Santorini, eu gosto muito da Sam, sinto que tenho uma dívida enorme com ela,
ainda não contei como conheci o Serpente, ela não conhece a história, talvez
não me perdoe por ter sido tão tola, fui muito ingênua e burra... mesmo assim,
vou protege-la e se você for uma ameaça em potencial, não hesitarei em tirá-la
do caminho.
--
Está me ameaçando?
--
Não, estou apenas te avisando... – Suspirou. – Você não tem ideia de como a
Lacassangner sofreu com o que aconteceu com a esposa, ela se fechou em um mundo
de escuridão, decidida a não seguir mais em frente...Foi espancada várias vezes
naquela prisão, jogada em celas de castigos sem nunca abrir a boca para se
defender... Mel, se há algum sentimento dentro de ti em relação a Sam, tome
cuidado para não destruir tudo com suas dúvidas...
A
filha de Fernando engoliu em seco.
Não,
não podia haver nenhum sentimento em relação àquela mulher, sabia que não podia
sentir nada, temia o que poderia acontecer... Não apenas por temer ser
machucada, também havia outros fatos que impediriam que se relacionassem.
Observou
a pasta, sentou-se e lentamente foi passando uma por uma das páginas. Era um
verdadeiro dossiê. Havia imagens, reportagens, até mesmo depoimentos sobre tudo
o que a chefe do departamento internacional tinha contado. O pai e o avô tinham
ido tão longe contra aquelas pessoas, por quê?
Tudo
fora apenas mentiras e mentiras. Desde o início tinha sido enganada por todos,
sendo manipulada para que odiasse a pirata...Mas por que era tão importante que
odiasse a Víbora?
Deus,
teriam sido capazes até de criar toda a história sobre a morte da própria mãe?
Ouviram
passos e não demorou para Samantha adentrar a tenda, estava toda molhada. Ficou
surpresa ao encontrar a tenente.
Fitou-a
e teve a impressão que havia algo incomodante naquele olhar dourado. Observou-a
com cuidado, parecia ainda mais bonita com aquela expressão séria.
--
Algum problema? – Indagou ao mirar a Maldonado. – Aconteceu alguma coisa?
Miranda
trocou olhares com a filha do duque, parecia fazer um apelo silencioso.
--
Não, sheika, apenas pedi para a doutora vir até aqui para te examinar. Contei a
ela que passou a noite sentindo fortes dores nos ombros, então ela veio para
ver se pode te ajudar. – Falou sorridente. – Aproveite e tire logo a blusa,
assim evita um resfriado e já facilita para a Santorini.
Mel
mordiscou a lateral do lábio inferior. Parecia ponderar, sabendo que não
poderia dizer o que tinha acontecido ali, ficaria em silêncio quanto ao
assunto, mas agora mais que nunca buscaria toda a verdade, mesmo que o pai e o
avô fossem os vilões daquela história.
--
Não acho que seja necessário! – Samantha parecia pouco interessada em ser
paciente. – Tomei um analgésico, estou bem.
--
Eu sinto muito, Lacassangner, mas não posso permitir que negligencie a sua
saúde, principalmente porque a trouxe para cá, mesmo sabendo que estava
machucada.
Miranda
levantou-se, seguiu até a pirata, parando de frente para ela, tirou o sobretudo,
deixando-a apenas de camiseta, em seguida tirou um canivete da cintura e o usou
para tirar a blusa, deixando-a apenas de sutiã.
--
Examine-a, Olívia, vou buscar o kit para que faça os procedimentos, não demoro.
Mel
fez um gesto de assentimento, depois se levantou, seguindo até onde estava a
filha do Serpente.
O
sutiã preto de renda moldava sensualmente os seios redondos. Recordou-se de
como era bom senti-los, tocá-los, beijá-los...
Meneou
a cabeça tentando se livrar dos pensamentos, concentrando-se nos hematomas que
pareciam estar por toda parte.
Encarou
os olhos azuis. Eles pareciam tão escuros naquela noite. A luz parda que
iluminava o interior da barraca parecia fazer sombras em sua face.
--
Eu acho que a Maldonado está exagerando, já disse que não foi nada sério e se
senti dores foi porque me esforcei.
--
Mesmo assim deve tomar cuidado, na verdade, deveria estar em repouso. –
Estendeu a mão e receosamente tocou-lhe o ombro. – Vou colocar ataduras, vai te
ajudar a mantê-lo no lugar e não terá tanta dor.
Samantha
apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
O
melhor era fazer logo isso, assim, poderia se livrar daquela situação.
Respirou
fundo, sentindo o cheiro da filha do duque.
Observou-a,
enquanto ela parecia distraída em lhe examinar. Observou a blusa de gola alta
que usava, os cabelos presos em um coque, a pele sedosa e bonita, os olhos dourados
que pareciam concentrados. Fitou os lábios rosados e entreabertos e se recordou
como era delicioso beijá-los, senti-los.
Os
dedos longos passeavam por sua pele de forma gentil, parecia bastante
interessada em ver as marcas em seu corpo.
Prendeu
o fôlego.
Olhava-a
com cuidado, os lábios estavam entreabertos, eram carnudos.
Por
que teve que reencontrá-la?
Estivera
disposta a manter total distância, pois sabia que isso seria o melhor para si,
ainda mais depois de tudo o que tinha acontecido.
Viu
os olhos dourados perscrutarem.
Miranda
retornou.
--
Tudo o que precisa estar aqui, doutora, mas eu acho que é melhor que a sheika
vá primeiro tomar um banho, em seguida pode fazer tudo com calma.
Mel
fez um gesto afirmativo com a cabeça. Afastando-se alguns centímetros.
--
A água já está pronta, hoje não vou poder te ajudar no banho, mas com certeza a
dedicada médica o fará. – Viu os olhos das duas em temor e foi logo se
adiantando. – A questão, tenente, é que a Sam não pode se despir sozinha,
tampouco se lavar bem, hoje eu a ajudei, ela acabou por se machucar quando
salvou a garotinha dos escombros. Você é médica, isso é algo comum na sua
profissão, deve já ter visto tanta gente nua.
A
Santorini sabia que a chefe do departamento estava provocando-a.
--
Realmente não é preciso, Miranda! – Samantha a cortou. – Conseguirei fazer
sozinha.
--
Não e não! – Protestou a chefe. – Da última vez que disse que conseguia fazer
sozinha acabou machucada. – Aproximou-se de Mel. – Santorini, por favor,
ajude-a, não quero ser penalizada por não ter cuidado bem da sheika que se
voluntariou para nos ajudar nessa missão tão complicada.
A
herdeira do duque soltou um longo suspiro, depois fez um gesto afirmativo com a
cabeça.
--
A Miranda está certa! – Disse por fim. – Deve tomar cuidado para que não fique
pior.
O
duque estava em seu escritório.
Recebia
um dos comandantes da marinha, amigo particular, Frederico Chiavenato.
Chamara-o até sua residência ao ficar sabendo sobre a ida de Samantha até a
ilha. Ficara furiosa quando um dos soldados lhe contara que a tinha visto com a
filha.
--
Estranhei o seu chamado, Fernando! – Comentou, enquanto bebia um pouco da
bebida que fora servida. – Ando muito ocupado com a licença do almirante, mas
fiz o possível para encontra-lo.
--
Preciso de um favor. – Disse, sentando-se. – Tenho provas que a minha filha
andou burlando as regras da marinha, fazendo investigações, mesmo quando tinha
sido proibida... Fora outras coisas condenáveis.
O
militar parecia confuso. Olhava o aristocrata e imaginava o que poderia estar
passando por sua cabeça.
--
E o que deseja? – Indagou com relutância.
--
Puna-a! – Bateu com o punho fechado sobre a mesa. – Castigue-a!
--
Mas ela é sua filha... – Disse de forma confusa.
--
Não importa, é um péssimo exemplo e não desejo que meu sobrenome seja associado
a esses tipos de atitudes.
O
outro olhava para o líquido que estava no copo. Não parecia entender o motivo
do pedido do amigo, achava estranho que ele estivesse agindo assim.
--
Se é verdade o que diz, a Santorini cometeu crimes...
--
Pois ela deve receber as consequências dos seus atos! – Falou com um sorriso. –
Assim ela aprender a deixar de ser mimada e petulante. – Bebeu um pouco. –
Porém, preciso que aja com discrição... Deixe-a detida por algum tempo...
Frederico
parecia ainda mais confuso.
--
Sabe que não é bem assim que funciona as coisas, há todo um processo que a
tenente deve passar...Temos que buscar por provas, ela terá o direito de se
defender...
--
Apenas faça como estou pedindo... Saberei como agradecer... – Encheu o copo do
amigo. – Apenas quero que ela perceba que se continuar a agir assim vai ser
muito pior.
Samantha
estava de pé, tendo ao seu lado a médica.
Uma
tina de madeira fora colocada e o banho tinha sido preparado.
Mel
posicionou-se de frente para a Lacassangner, enquanto levava as mãos a
braguilha, abrindo os botões da calça justa. Sentia os dedos tremerem, parecia
que não tinha controle.
Ouvia
a respiração da outra bem perto de si.
Fê-lo
sem olhar para o corpo feminino, fê-lo de forma que não pensasse em nada que
havia acontecido. Sabia que a Miranda estava testando-a, percebera isso em
todas as suas palavras. A chefe do departamento internacional ansiava por saber
o que havia em seu interior por aquela mulher que permanecia impassível, apenas
acompanhando seus atos com olhar investigador.
Conseguiu
livrá-la da calça, agora restava a minúscula calcinha. Deveria ser proibido se
usar uma peça tão minúscula e sensual. Observava as coxas torneadas...
Levantou-se.
--
Vou pegar uma tesoura.
Samantha
a segurou pelo cotovelo, detendo-a delicadamente.
--
Se rasgar as minhas roupas como a Maldonado está fazendo vou acabar saindo nua
porque ficarei sem nada. – Abriu o fecho frontal do sutiã. – Eu mesma farei
isso, nem mesmo preciso de ajuda. Não nego que está doendo, mas não estou
inválida...
Mel
observou os seios despidos. Eram tão lindos...Redondos... Viu os mamilos
intumescidos.
Fitou
os olhos azuis.
Prendeu
o fôlego.
--
Não precisa se preocupar, consigo me virar.
--
Vou fazer meu trabalho, Lacassagner.
--
Por quê? – Indagou curiosa. – Não acho que tenhamos algum tipo de afinidade,
ainda mais depois de tudo o que aconteceu.
Mel
desviou-se do olhar inquisidor.
--
Apenas vamos esquecer o que se passou! – Disse por fim. – Somos adultas, vamos
lidar com isso... Estou aqui como médica, então apenas me veja assim.
Samantha
pegou uma toalha, cobrindo-se, assim escondia os belos montes.
--
Sim, somos adultas e não tenho problema em lidar com o que aconteceu. – Deu
alguns passos para frente. – Confesso que me excedi no nosso último encontro...
Os
olhos dourados estreitaram-se.
--
Não deveria ter cedido aos meus impulsos selvagens.
--
Está me pedindo desculpas? – Mel indagou interessada.
A
Lacassangner cruzou os braços.
--
Não, não estou pedindo, confesso que me excedi, mas o único arrependimento que
tenho é que não tenha satisfeito também o meu desejo naquele dia na piscina...
Fiquei tão excitada que meu corpo...
--
Chega! – Mel a interrompeu. – Não quero ouvir nada sobre isso, estou aqui para
te ajudar, não estou aqui para ouvir nada sobre o que se passou.
--
E eu já disse que não preciso de ajuda para nada, não sei por qual razão a
Miranda a trouxe aqui, estou muito bem e consigo me cuidar.
--
Irei fazer as ataduras, esperarei que se banhe e realizarei o que estou aqui
para fazer.
A
pirata esboçou um sorriso, depois se livrou da toalha, em seguida da calcinha,
sem mesmo se importar com a presença da outra.
Caminhou
até a tina, sentia a água lhe relaxar os músculos. Inclinou a cabeça para trás.
Sim,
estava tudo dolorido, ainda mais o ombro, mesmo assim não pensara em pedir
ajuda para a jovem médica, ainda mais porque o toque dela lhe incendiava a pele
como se fosse brasa pura.
Observava-a
separar o material que usaria para lhe cuidar, parecia bastante concentrada,
mesmo que a flagrara lhe olhando durante alguns segundos. Não deveria se
aproximar, tampouco permitir que sua vontade fosse forte o suficiente para
controla-la.
Pegou
a esponja e passou no pescoço, depois nos seios, descendo pela barriga,
seguindo pelas coxas.
Mel
ajeitou tudo e ficou a esperar que o banho terminasse, até pensou em pedir para
que ela se apressasse, mas não o fez, ficou apenas lá, olhava para os materiais
como se nunca tivesse vistos.
Miranda
sabia o que havia acontecido entre ambas. Ela sabia que tinham feito sexo,
porém desejava saber o que sentia.
O
que sentia?
Estava
tão confusa com tudo o que lhe fora mostrado, com toda a história contada pela
Maldonado. Samantha era apenas a vítima de tudo aquilo.
Fitou-a
e seus olhos foram capturados por outros azuis que lhe fitava também.
Mordiscou
a lateral do lábio inferior.
O
pai estaria realmente apaixonado pela pirata?
Isso
a perturbava tanto, perdia o sono só em imaginar que Fernando ansiava para ter
Samantha para si.
Quem
a atacara?
Sir
Arthur?
Como
podia atentar contra a vida da própria neta?
Ele
tinha dito que não faria nada, disse que se ela mantivesse distância, nada
aconteceria, porém...
Passou
a mão pelos cabelos. Alguns fios tinham se soltado do coque.
--
Como conseguiu esses ferimentos? – Perguntou de supetão.
Samantha
não respondeu. Levantou-se, pegou a toalha e começou a se secar. Não parecia
interessada em responder.
--
Como conseguiu? – Mel insistiu. – O que houve?
A
Lacassangner vestiu o roupão, depois se aproximou.
--
Um pequeno incidente... – Disse por fim.
--
Um pequeno incidente não faria algo assim.
--
E o que acha que aconteceu?
--
Não sei, porém gostaria que me contasse.
--
E por que eu contaria? Qual o seu interesse, tenente?
A
filha do duque deu de ombros. Não podia contar o que a Maldonado tinha dito.
--
Vou cuidar do seu ombro e depois vou para minha tenda descansar.
Samantha
assentiu, apenas deixando que ela fizesse o trabalho.
Já
era tarde, Samantha esperou por Miranda e quando a viu aparecer começou.
--
O que você deseja com a presença da Santorini? – Indagou irritada. – Trouxe-a
para cá por qual razão?
A
Maldonado tirou a jaqueta.
--
Pensei que veria ambas deitada e se amando. – Debochou. – Sei o que houve entre
vocês duas e gostaria de saber se foi apenas sexo.
--
E por que isso te interessa? – Indagou ainda mais furiosa.
--
Porque eu sinto que você a ama!
--
Está louca! – Negava. – Eu não a amo, confesso que a desejo, mas é apenas isso!
– Aproximou-se. – Não a quero envolvida nessa história, deixe-a de fora de tudo
isso.
--
Teme por ela...
--
Só não quero que ela seja mais uma vítima do louco do pai ou de Sir Arthur.
--
Vamos protege-la!
--
O melhor é que continue a existir o ódio, a raiva, as acusações da parte dela,
assim não haveria riscos.
Miranda
sentou-se com um suspiro.
--
Se você sente algo por ela...
--
Só sinto desejo sexual! – Interrompeu-a. – Natural, ela é bonita, muito
sensual, e ainda por cima tem essa raiva que me deixa desafiada...
--
Desejo sexual?
A
Lacassanger passou a mão pelos cabelos.
--
Miranda, proteja a Mel da mesma forma que deseja me proteger.
A
chefe do departamento internacional fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Amanhã mesmo deixo a ilha.
--
Irei contigo.
Samantha
apenas fez um gesto afirmativo.
Dia
depois...
--
Apresentara-se no cruzeiro porque foi um pedido especial do príncipe Ralf, mas
quando retornar terá que arcar com as consequências dos seus atos.
A
tenente tinha voltado há uma semana e desde que retornara estava em prisão
disciplinar.
Nem
tivera tempo de falar com ninguém. Assim que deixara a tenda da Miranda, um dos
soldados pediu que lhe acompanhasse, passara a noite na área militar e pela
manhã cedo já fora levada de volta à cidade.
O
comandante Frederico tinha inúmeras provas de suas transgressões, até mesmo
ficara sabendo que ela fora até o navio Víbora do mar, mesmo quando não tinha
permissão para fazê-lo.
Ouvira
todas as acusações em silêncio. Preferira não se defender, pois seus motivos
pessoais não seria justificativa para suas ações.
--
O advogado já foi chamado para assumir a sua defesa.
--
E acha que conseguirei sair desse problema, senhor? – Indagou com a cabeça
levantada de forma orgulhosa. – Creio que os que lhe entregaram essas provas
não anseiam que eu saia ilesa de tudo isso.
Ela
imaginava que aquilo fora montado pelo pai, sabia bem da amizade que o ligava
ao Chiavenato, decerto lhe pedira um favor.
--
Isso não importa, pois todos precisam de defesa técnica! – Levantou-se. –
Participe da apresentação do príncipe e depois será trazida de volta... Outra
coisa, não volte a se aproximar de Samantha Lacassangner, se o fizer, então
seus problemas serão maiores.
Então
era isso, o duque a queria longe da pirata.
Custava
acreditar que o pai estava agindo de forma tão miserável. Então aquele era o
plano.
--
Achei que as punições me impedissem de participar de qualquer tipo de
apresentação... – Falou calmamente. –Pelo menos foi isso que foi lido para mim
quando listaram minhas infrações.
O
comandante fitava a filha do amigo.
Sabia
que ela era muito inteligente e temia que o favor que fora pedido pelo duque
lhe pudesse comprometer. Fernando deixara claro que o assunto do castigo da
filha deveria ser mantido em total sigilo, sem falar que não deveria ser
abertamente explicitado para o comando geral, algo que não seguia nenhum dos
protocolos.
--
Tenente, pense nessa apresentação como um pedido especial, afinal, é uma ação
nobre, o dinheiro arrecadado servirá para que reconstruam a ilha, a senhorita
esteve lá, viu o sofrimento daquelas pessoas, por isso estou abrindo essa
exceção.
Ela
levantou-se.
--
Farei como o senhor diz. – Disse séria. – Quanto ao advogado, mudei de ideia,
mas quero alguém que eu confie.
--
Está sendo insolente!
--
Estou apenas sendo prática. – Cruzou os braços. – De repente mandou seus
soldados me tirarem da ilha sem explicações, me trouxeram para cá, deixou claro
que todo o processo correria em segredo...
--
Segredo porque não desejo expor sua ilustre família a esse escândalo!
--
E vai me manter detida e eu devo aceitar isso como algo natural, apenas ficar
grata porque está livrando a minha ilustre e respeitada família de enfrentar
escândalos... – Meneou a cabeça. – Eu sinto por minha família, mas acho que
prefiro enfrentar tudo de forma clara, não quero privilégios.
--
Não entende que está agindo de forma errada, vai acabar sendo expulsa! – Dizia impaciente.
– Por que não se casa com seu noivo? Poderia tirar uma licença, tudo seria
esquecido...
Os
olhos dourados se estreitaram ameaçadoramente.
--
Se for a punição que mereço, estou pronta para isso! – Soltou um longo suspiro.
– Quanto ao casamento, não sei se ficou sabendo, meu noivado foi rompido, então
não tem como existir casamento. – Esboçou um sorriso. – Irei participar do
cruzeiro, mas quero que a Cristina esteja comigo, ela foi minha fisioterapeuta
quando me recuperava do atentado, também me ajuda bastante no treinamento.
Ele
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Ela irá contigo, outros soldados também estarão lá, então cuidado como age e
mais uma vez repito, mantenha distância da sheika ou seus dias de tenente da
marinha real acabarão.
Ela
fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois saiu do escritório.
Um
baile tinha sido oferecido pelo governador naquela noite para começar a juntar
o dinheiro que seria doado para a reconstrução da cidade que tinha sido
devastada.
Samantha
chegara acompanhada de Virgínia. Fora praticamente arrastada para aquele
evento, pois não estava interessada em agir com polidez diante de todas aquelas
pessoas.
Fora
cumprimentada pelas autoridades presentes, trataram-na com grande cortesia,
afinal, mesmo sendo filha do Serpente, ela era a sheika, uma poderosa mulher
naquele meio de gente ambiciosa.
Viu
Juan ao lado de Ester. Estranhou que a militar não estivesse presente, pois
mesmo que fosse apenas uma tenente, ela era filha de um dos homens mais
influentes do país, de um sobrenome carregado de poder.
Sorriu
para a ex-amante, mas não fez gesto para que se aproximasse, não estava
interessada em tê-la por perto.
Acomodou-se
na enorme mesa que tinha sido montada de frente ao palco. Havia algumas
apresentações musicais.
Viu
o príncipe Ralf se aproximar, levantou-se para cumprimenta-lo, o homem
depositou um beijo em sua mão, depois acomodaram-se.
--
Fico muito feliz que tenha comparecido. – Ele disse a encará-la. – Miranda
tinha me falado que não estava muito bem nos últimos dias.
--
Cansada apenas...
Ele
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
E como está dos machucados? – Recebeu a taça do assistente. – Espero que
consiga ir ao cruzeiro amanhã e consiga se apresentar.
--
Já estou bem, com certeza conseguirei sim.
--
Isso é ótimo! – Bebericava, enquanto tinha o olhar perscrutador em busca de
alguém. – O Del Santorra acabou de chegar, o duque mostrou bastante interesse
em participar do evento... Achei estranho, mas fiz questão de lhe enviar três
convites...
A
Lacassagner fitou o odioso homem.
Ele
estava acompanhado da esposa e distribuía simpatias e sorrisos.
--
Estranhei a jovem Olívia não estar presente... – Disse encarando a pirata. – Eu
tenho a impressão que a marinha usa mais a tenente como uma relações públicas
que como uma médica. – Gracejou. – Normal, ela tem aquele espírito impetuoso,
parece que demonstra algo muito mais que o maçante trabalho de marinheiros.
Samantha
não respondeu, apenas ficou em silêncio.
Não
gostava quando o assunto era a militar, sentia-se encurralada, temerosa, pois
era como se não conseguisse ter o controle dos atos.
Depois
de alguns minutos de conversa, pediu licença para ir ao banheiro.
Caminhava
por entre os convidados e em alguns pontos conseguia ver os seguranças que
pareciam ainda mais empenhados em cuidá-la. Ela não arrumara mais desculpas
para seguir sem os agentes, estava fazendo tudo o que a Maldonado tinha
ordenado, assim garantia também a segurança de Eliah.
Desde
que retornara da ilha, não conseguira ainda retornar à fazenda. Alguns fatos
aconteceram nesse interim. O homem que fora preso por ser um possível suspeito
do assassinato da esposa aparecera desacordado na cela, tinha sido envenenado,
mas não morrera, estava em estado de coma e os médicos não pareciam
esperançosos com sua possível recuperação.
Não
havia dúvidas de que alguém tentara contra a vida dele para impedi-lo de falar.
Parou
diante do espelho do luxuoso toalete.
Estava
vazio.
Apoiou-se
na pia de mármore.
Queria
que tudo fosse esclarecido o mais rápido possível, mas a cada dia isso parecia
um objetivo mais distante.
Havia
a morte da esposa, a morte do próprio pai e ninguém fora punido.
Tinha
total certeza de quem estava por trás de tudo aquilo. Sir Arthur estivera certo
quando dissera que ela era amaldiçoada, pois era essa impressão que tinha.
Ouviu
a porta abrir e pelo reflexo viu o implacável duque aparecer.
Viu
o traje elegante. A barba sempre bem feita e os olhos castanhos claros. O
sorriso era o mesmo de sempre, havia crueldade e sadismo. Os cabelos negros
estavam grisalhos, mas ainda agia com aquele charme que a enojava. Ele deveria
odiar o Serpente por ter lhe roubado a mulher. Iraçabeth deixara um dos
partidos mais cobiçados do país para ficar com um bandido.
Fitou
o relógio que trazia no pulso, sabia que podia pedir ajuda se algo a ameaçasse,
mas decidiu não fazer nada, queria saber o motivo de ele ter ido até ali.
--
Acho que o senhor se enganou de banheiro, duque Del Santorra, acho que a idade
não o faz pensar direito.
Ele
não parecia se importar com a insinuação, apenas se aproximou, parando ao lado
dela.
--
Não se preocupe, pirata, não seremos incomodados...
Ela
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
--
Assim sua reputação estará protegida... – Ela virou-se para fita-lo. – O que
deseja?
Mais
uma vez viu os dentes alvos se abrirem em um sorriso.
Odiava-o
tanto que tinha esquecido disso.
Tivera
inúmeros encontros com aquele homem na adolescência. Ele a perseguia sem pausa.
--
Minha reputação é inatingível, Víbora, sabe muito bem disso. – Mirava os olhos
azuis. – Sabe, eu sempre pensei que fosse mais inteligente que o seu pai.
Samantha
desvencilhou da mão que se aproximou para lhe tocar a face.
--
Meu toque não lhe agrada? – Indagou com falsa tristeza. – Mas se fosse a minha
filha você não iria reagir assim não é? – Indagou, enquanto retirava a luva de veludo
que trazia nas mãos. – A Mel sempre fora muito esperta, fora treinada para
isso, para te destruir...
O
maxilar da Lacassangner enrijeceu.
--
Então foi treinada muito bem...Eu mesma não tenho nada a reclamar da
performance... – Provocou-o.
Naquele
momento os olhos de Fernando escureceram, parecia não ter mais o controle de
antes.
--
Tudo isso se resolveria se decidisse aceitar a proposta que lhe fiz há alguns
anos... Haveria paz na sua vida...Soube que sofreu um atentado...
Os
olhos azuis estreitaram-se ameaçadoramente.
Teria
sido ele então?
--
Sir Arthur está furioso por ter se aproximado da Mel...Tome cuidado, acho que
da próxima vez ele pode destruir essa sua carinha linda... O que seria uma
pena...
--
E você não? – Questionou com um arquear de sobrancelha. – Também não ficou
furioso?
Então
eles sabiam do que tinha acontecido entre ela e a tenente. A médica teria
contado?
Ele
voltou a tentar tocá-la, mas ela voltou a se afastar.
--
Antes eu a queria para aquecer minha cama...Uma puta...Sempre achei que esse
seria um cargo a sua altura, mas agora, veja, você é um sheika, eu sou um
duque...Poderíamos casar e toda essa perseguição teria fim...Confesso que não
desejo que seja machucada... Você é muito mais linda que a sua mãe, a Iraçabeth
não tinha toda essa sensualidade...
Ela
sentiu o estômago embrulhar só em pensar que teria algo com aquele homem.
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Casar-me contigo? – Questionou em deboche. – Realmente há uma maldição em minha
vida.
Ele
a segurou pelo cotovelo de forma grosseira. Samantha não reagiu, apenas
permaneceu quieta, esperando o que viria.
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Não seja tola, Víbora, eu posso lhe oferecer tudo...Eu posso até mesmo lhe
entregar as provas que seu querido papai fora inocente de tudo...Até mesmo te
entregaria o assassino da sua querida esposinha...
Os
olhos azuis brilharam.
--
Pensei que fosse você o responsável por tudo!
Ele
fez um gesto negativo com a cabeça.
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Não, minha criança, eu apenas avistei tudo de longe, assim não há provas contra
mim... Por isso que mesmo buscando em todos os lugares, nunca consegue nada que
me comprometa.
Em
parte o que ela falava parecia verdade.
Nunca
conseguia associá-lo a nada, diferente de Sir Arthur que parecia ser o
antagonista da história.
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Tudo o que fiz tem respaldo na lei, então nada poderá fazer contra mim.
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É um homem casado, duque, não acho que deveria propor casamento a alguém nessa
posição.
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Casamentos acabam, Lacassangner, o seu nem durou muito não é verdade?
Ela
desvencilhou-se da mão que a detinha.
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Foi assim que se livrou da mãe da sua filha? – Voltou a provoca-lo.
--
Não, não faria algo assim com a mãe da Mel, eu fui testemunha de como ela
sofreu com tudo o que se passou... Nunca quis que a minha amada herdeira sofresse...
--
E por isso eu levei a culpa?
--
Samantha... – Arrumou-lhe um fio de cabelo dela que estava fora do penteado. –
Você é muito tola, parece que sempre teve confiança total em todos que te
serviram não é mesmo? – Meneou a cabeça. – Seu pai foi assassinado assim, ele
também confiava bastante em alguém a ponto de baixar a guarda. – Esboçou um
sorriso. – Eu estava presente naquele glorioso dia... O serpente se entregando
e sendo fuzilado... Se continuar agindo assim, terá o mesmo destino e não vou
poder salvá-la. – Suspirou. – Até mesmo caiu no teatro da minha filha...
O
maxilar da morena enrijeceu.
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Em quem meu pai confiou?
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Isso é conversa para outro momento. – Voltou a colocar as luvas. – Você tem uma
proposta formal para viver ao meu lado como uma duquesa... – Seguiu até a
porta, mas não saiu, voltou-se para a ela. – Quanto a Mel, prefiro que mantenha
distância, não gostei de saber que andou sendo tocada por minha filha, mesmo
sabendo que a minha tenente só o fez para buscar as provas que necessitava para
te condenar, mesmo assim, não gostei desse método, então não volte a cair nos
truques da minha herdeira... Ela já sabe que não deve voltar a chegar perto de
ti...
--
Acredite, duque, não é fácil não cair de boca em certos truques...
Samantha
viu o olhar furioso do homem antes que ele deixasse o banheiro.
Ela
permaneceu lá, ponderava sobre o que ele tinha dito. Quem poderia ser a pessoa
que ele dissera que traíra seu pai no dia que fora assassinado?
O
transatlântico que fora usado para o quase casamento de Olívia Santorini fora o
mesmo escolhido para o cruzeiro que angaria verbas para ajudas as vítimas da
catástrofe natural que devastara tudo.
O
navio ancorou no porto.
A
segurança particular tinha sido redobrada. Miranda fizera questão de se
responsabilizar por essa parte. Também seguiria ao lado do príncipe.
O
mega evento contaria com apresentações artísticas, leilões e um dos mais
esperados acontecimentos seria o campeonato com os melhores espadachins do
país.
A
guarda marinha também fora chamada para cuidar para que tudo pudesse acontecer
na mais possível paz. Alguns navios bélicos seguiriam escoltando o
transatlântico, fora o monitoramento aéreo.
Os
ilustres e importantes convidados chegavam e eram direcionados às suas cabines.
Cristina
estacionou o veículo, tinha ao seu lado a amiga.
--
Isso tudo é um absurdo, Mel, você sabe que alguém está manipulando tudo para
que seja punida.
A
tenente sabia disso, seu pai era o responsável por tudo.
--
Deve falar com o almirante, o comandante não pode agir de forma arbitrária.
--
Sim, eu sei, porém nesse momento nada poderei fazer, pois como disse o meu
superior, está tentando esconder do público um escândalo que sujaria o nome de
tão importante família.
--
E você vai aceitar isso? – Indagou escandalizada. – O duque está fazendo isso para
te manter longe da pirata.
A
Santorini observava o navio ancorado.
Sim,
aquela fora a forma que Fernando encontrara para mantê-la afastada. Viu os
soldados parados ao lado do veículo. Estaria sendo vigiado o tempo todo.
Viu
as pessoas seguindo para o navio.
Pensaram
várias vezes em negar-se a ir, mas decidira fazê-lo para ajudar aquelas pessoas
que necessitavam.
--
Assim que tudo isso terminar falarei com o duque, vamos ver o que ele vai
dizer.
--
Acha que ele está agindo assim por que você transou com a Samantha?
Mel
prendeu o fôlego só em ouvir a menção ao ato sexual que aconteceu com a Víbora.
Tentava
não pensar em tudo o que tinha acontecido, mas seu corpo vez e outra lhe traia,
fazendo-a ansiar novamente pelo toque que jamais experimentara tão maravilhoso
em toda a sua vida.
Recordava-se
da última vez que a viu na tenda da Miranda.
Nem
sabia como tivera forças para não se entregar nos braços dela.
Cerrou
os dentes.
Não
contara nada do ocorrido para a amiga, nem mesmo o que Miranda lhe confessara.
Na verdade, nem tivera tempo para isso, pois naquela mesma noite fora levada
para outra parte do acampamento.
--
Provavelmente... – Disse por fim, enquanto levava a unha do polegar à boca e
começava a mordiscar. – Acho que meu pai deseja a pirata para si...
--
Isso é uma loucura! – Cris falou nervosa. – Seu pai é um homem casado, tem
idade para ser pai da Víbora...
Mel
suspirou.
--
Eu não quero pensar nisso, não quero pensar nisso agora, nem mesmo treinei para
participar desse campeonato, e a última coisa que desejo é ficar ainda mais
desconcentrada pensando no desejo doentio que meu pai tem pela Lacassangner.
--
Já imaginou tendo-a como sua madrasta? – Disse rindo. – Desculpe! – Falou rapidamente
ao ver o olhar irado da médica.
A
fisioterapeuta percebia que a amiga não estava para brincadeiras, ainda mais
daquele tipo.
--
Eu acho que deve falar com o almirante. – Insistia.
--
Mesmo que eu fale com ele, sabemos que as acusações que estão sendo feitas são
verdadeiras sim... – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Eu passei por
cima das ordens que tinha, invadi o Víbora do mar, busquei documentos
confidenciais que não me era permitido e o pior é que nem mesmo consegui o que
procurava.
--
Sim, você fez, mas eles estão fazendo mais errado em te punir de forma não
pública, agindo por debaixo dos panos, manipulando os fatos para te deixar
detida.
Sim,
ela sabia disso, eles cometiam um crime ainda maior, mas se agisse como a amiga
aconselhava corria o risco de levar todo o prestígio da família para a lama.
--
Eu não quero falar sobre isso agora. – Abriu a porta do passageiro. – Vamos
embarcar, antes que fiquemos aqui e eu receba mais uma punição.
Samantha
seguia de mãos dadas com Virgínia.
Precisara
resolver alguns assuntos relacionados à usina antes de partir, quase perdera o
horário.
Quando
se aproximou viu a jovem Santorini acompanhada da amiga.
Os
olhos dourados encararam os azuis por alguns segundos, depois passearam
desdenhosamente pela mulher que seguia ao seu lado.
--
Trocou a loira por uma morena... – Cristina assoviou. – Não podemos negar que
ela tem bom gosto para escolher as amantes.
Mel
relanceou os olhos em irritação, seguindo com a mochila nas costas.
--
Já pensou o que respondera quando perguntarem por que não estará usando a
espada da família Santorini na competição? – A amiga indagava, enquanto seguiam
pelo corredor luxuoso. – Sei que já se apresentou sem, mas agora eu acho que
vai querer saber.
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Vou dizer que a Víbora trapaceou e a tirou de mim, pronto, simples assim.
--
Por que não pede a ela que te devolva? – Pararam na cabine que ambas ocupariam.
– Não sei por que o comandante me escalou para ser responsável por ti, até o
quarto vamos ter que dividir.
O
lugar era espaçoso.
Havia
duas camas de solteiro. Um frigobar, uma mesa pequena para as refeições. Alguns
aparelhos de eletrodomésticos. Um banheiro que não tinha hidromassagem, apenas
chuveiro.
--
Acho que o comandante escolhera a dedo nosso alojamento...Acho que está te
punindo até nisso.
Mel
deixou a mochila de lado, depois tirou a jaqueta de couro preta, tirou os
tênis, deitando-se.
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E eu não me importo com isso, se ele pensava que iria me atingir, vai ter que
fazer melhor. – Observou o teto. – Para mim está tudo maravilhoso.
Cristina
ocupou a outra cama.
--
Não vai poder deixar os aposentos se não for para a competição. – Dizia,
enquanto lia a lista de recomendações. – Porém se eu achar que algo vai servir
para te ajudar a relaxar, posso te dar permissão para fazer. – Completou com um
sorriso. – Claro, não sou apenas sua fisioterapeuta, sou sua técnica. – Pegou o
estojo que trazia a espada. – Amiga, não acho que você vai se sair bem com essa
lâmina não.
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Assim eu perco e vamos embora logo.
--
Não! – Levantou-se. – Nada de perder, você é muito boa, Mel, precisa fazer o
seu melhor, eu mesma irei até a Lacassangner e vou pedir que devolva a tua
espada.
--
E você acha que ela trouxe a espada para o navio? – Indagou perplexa.
--
Bem, ela pode ter trazido sim, afinal, eu já tinha falado antes com a maravilhosa
morena de olhos azuis.
--
Quando você falou com ela? – Indagou curiosa.
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Encontrei-a em uma boate, estava lá arrodeada de mulheres. Fiquei na minha e
depois de algum tempo ela foi até a minha mesa, conversamos por cerca de cinco
minutos, indagou a razão de estar sozinha...
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E você estava fazendo o que nesse lugar sozinha?
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Amargando o pé na bunda que levei não é! – Fez um gesto com as mãos. – Mas eu
acho que quando questionou eu estar sozinha, a intenção era saber onde você
estava.
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E por que desejava saber isso?
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Porque como você ela não admite, mas a verdade é que se querem.
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Ah, sim, ela em uma orgia e me querendo, por favor, Cris! – Disse exasperada. –
Olha, independente de ser ou não culpada de tudo, não posso ter nada com a
Samantha, não me proporia a ficar com alguém tão safada, sei muito bem que
morreria de ciúmes.
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Tenho certeza de que ela deixaria todas por ti.
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Não desejo isso, pois seria mais fácil o inferno congelar que algo pudesse dar
certo entre a gente, ainda mais com essa história do meu pai... E se minha
família realmente for a responsável por tudo que aconteceu com a vida dela,
acha que ficaria comigo mesmo assim? – Fez um gesto negativo com a cabeça. –
Seria praticamente impossível, então não venha plantar coisas em minha cabeça,
não basta ter me convencido a me deitar com ela.
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Eu te convenci? – Indagou levando a mão ao peito.
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De certa forma sim, ficava falando aquelas coisas e acabou que não resisti e me
entreguei ao desejo que sentia. – Começou a despir-se. – O melhor é que eu
fique no meu canto e ela bem distante, assim quem sabe não poderemos ter um
pouco de paz.
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Tem medo de saber que esse tempo todo esteve enganada e que a vilã da história
não é a pirata.
Mel
fez um gesto afirmativo, depois seguiu para o banheiro.
Cristina permaneceu parada, imaginando como deveria ser horrível estar na pele da amiga em todo aquele enredo. Tudo estava cada vez mais difícil, ainda mais se realmente o duque tinha desejos escusos pela filha do Serpente.
Não sei como a Samantha deixou esse nojento chegar tão perto. Que agonia, eu queria sentar a porrada. Aaaaah, que ódio.
ResponderExcluirVale a pena sempre, a espera, amando a história.
ResponderExcluirA Mel já está sentindo na pele a crueldade de seu querido pai.
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