A víbora do mar - A volta - Capítulo 19
O silêncio pairava no quarto iluminado apenas por uma
parda luz. A temperatura estava agradável. O mar estava calmo naquela noite,
porém não havia um manto estrelado sobre as águas que aparentavam a escuridão e
não o azul que espelhava do céu nas manhãs de verão. Embora escusa, era
possível perceber a majestosa lua a ser encoberta pelas nuvens negras, apenas
esperando o momento para iluminar as águas majestosamente.
A tripulação estava sempre alerta, mesmo que tudo
aparentasse calmaria, sabiam como era perigoso navegar por aquele canal. No
resgate da filha do duque de Del
Santorra só foram escolhidos os melhores marinheiros, os mais experientes para
que assim não houvesse nenhum problema. O almirante Ernesto estava preocupado
com a reação da Santorini. Não desejava expor de forma negativa tudo o que
aconteceu, ainda mais pelo fato da repercussão dos últimos acontecimentos que
começava a desacreditar o trabalho importante que a marinha real desenvolvia.
Tentara manter um diálogo com Sir Arthur e com Fernando, mas era quase
impossível quando o alvo da discussão estava centrado em Samantha Lacassangner.
Aos poucos iniciava uma minuciosa e secreta investigação e muito do que fora
descoberto era alarmante.
Estava em sua cabine a fumar quando ouviu batidas. Apenas
ordenou que entrasse.
Olhava para a chefe do departamento internacional de
investigação e ponderava quais seriam os passos que ela seguiria após os
últimos acontecimentos. Não a conhecia intimamente, porém ela sempre fora uma
grande colaboradora nas investigações que se desenvolvia e fora uma grande
surpresa vê-la tão empenhada nos problemas relacionados a família Santorini.
-- Perdoe-me o incômodo, porém preciso ter uma conversa
com o senhor.
Ele estava sentado diante da escrivaninha, levantando-se,
apontou a cadeira para que ela se acomodasse.
-- E como está a
Lacassagner? – Ele indagou depois que ambos se sentaram. – Entrei em contato
mais uma vez com o piloto, acredito que logo poderá chegar aqui.
-- Fico bastante agradecida por isso. – Miranda falou
aliviada. – A tenente está cuidando dela, acredito que está fazendo um ótimo
trabalho.
O homem fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois
começou com voz pesada.
-- Imagino que esteja preocupada com a reação da Olívia.
Ela assentiu.
-- Sabia que ela não gostaria nada dessa situação, mesmo
assim não pensava que reagiria assim.
O almirante soltou um longo suspiro.
-- Não foi surpresa para mim, por isso da minha
insistência em acompanhar tudo de perto. – Inclinou de forma ereta. – Conheço a
Santorini há muitos anos, conheço-a desde que era uma menina... Sempre fora
doce e gentil, mas tudo mudara com o assassinato da mãe. – Deu uma pausa,
observando a reação da outra. – Eu nunca fui a favor de tê-la na marinha, estou
confidenciando isso, a Marie também não queria. Ela temia que o duque
envenenasse a única herdeira... Ela foi até mim, pediu-me ajuda para evitar...
-- Eu acredito que a tenente não é uma pessoa má, tem
muito caráter, mas sofre muita influência do Sir e de Fernando.
-- Estou pensando em manda-la para longe... Em
missão...Afastá-la de tudo o que ainda vai acontecer.
A Maldonado não acreditava que seria fácil fazer isso,
via nos olhos dourados a determinação e força da filha do poderoso duque. Em
sua opinião o melhor seria conseguir convencer a jovem da inocência da
Lacassagner, porém não acreditava que ela conseguisse lidar com as possíveis
revelações. Sabia que havia muita sujeira por trás de tudo aquilo e isso era
preocupante, ainda mais se ficasse claro a participação daqueles homens em tudo
o que se passara com a Samantha e o pai.
-- Talvez o melhor seja deixa-la apenas em funções
internas, ela é médica, ocupe-a com isso, quem sabe ela não ocupa a mente com
outras coisas e esquece as investigações. – Sugeriu.
O militar ponderava, poderia ser uma boa ideia.
O silêncio dos aposentos da sheika era quebrado apenas
pelo suave som das respirações das duas mulheres.
Havia algo muito poderoso entre elas. Um fascínio que
chegava a perturba-lhe o controle, um temor que se instalava em seus
interiores, pois era assustador o misto de sentimentos e sensações que
experimentavam quando estavam próximas.
Mel observava o tom dos olhos claros.
Ansiava por penetrá-los, por buscar ali a verdade de tudo
o que se passava, por encontrar todos os acontecimentos e saber quem realmente
era a Víbora do mar.
Observou o corado das bochechas que decerto tinham sido
provocado pela febre que ainda não cedera.
A morena parecia
fascinada com a mulher deitada ao seu lado. Olhava-a com atenção, achando-a
ainda mais linda. Por que sentia-se tão encantada pela filha do homem que
sempre fizera tudo para destruí-la? Olhava-a e era como se nada mais
existisse...
-- Delirei?
A militar assentiu.
Sentia a mão tocar a sua e teve a impressão que uma
corrente elétrica percorria todo seu corpo.
Fitou os lábios tão próximos dos seus. A respiração
estava quente... Os olhos estavam vermelhos...
Tocou-lhe a face, depois lhe segurou a nuca, puxando-a
mais para perto. Chegou tão próximo que conseguia ouvir as batidas do seu
coração e logo tocava a boca bonita com a sua.
A Lacassangner sentia os lábios contra os seus e pensava
tratar-se de mais um dos devaneios que lhe invadiam a mente. Sentia-se tão
confusa que não conseguia distinguir o que era realidade ou fantasia naquele
complexo episódio.
Não era possível que a Santorini estivesse consigo
naquele momento. Não mesmo depois de tudo o que se passara. Viu o olhar de ódio
que ela lhe dirigira quando passara por si no corredor do navio. Sim, estava a
sonhar com o toque que tanto desejava. Sentia a mão delicada massageando sua
nuca, puxando-a para estreitar ainda mais o contato. Os lábios da filha do
duque permaneciam inertes, apenas colados aos seus. Isso não era suficiente
para aplacar a vontade de senti-la, então colocou mais pressão, fazendo-a
aumentar o carinho. Ouvia a respiração da tenente, sentia o cheiro dela e
poderia afirmar que era o aroma mais delicioso de todo o universo. Sentia o
corpo em brasas...
Mel sentia a vontade incontrolável de senti-la mais uma
vez. Sabia que quando retornasse tudo estaria ainda pior em relação a ambas,
afinal, ela era sua inimiga. Não podia permitir que nenhum sentimento lhe
tirasse o foco dos seus objetivos. Precisava buscar as provas para provar a
culpa da bela pirata. Sim, deveria fazer isso, era seu objetivo, fazer com que
aquela mulher pagasse por seus pecados... porém agora queria novamente o beijo
da víbora, queria muito, tanto que seu corpo doía em ânsia e excitação. Apertou os olhos, tentava livrar-se
das recriminações que seu cérebro enviavam, não queria que seu autocontrole lhe
barrasse naquele momento. Queria sentir aquelas poderosas sensações que nunca
provara em sua vida. Nada se comparava com o impacto que tinha quando era
tocada pela Lacassagner, era como se nada em todo o mundo fizesse sentido, só a
forma como reagia a ela.
Suspirou impaciente, aprofundando o contato das bocas. Os
da pirata eram ainda mais macios, estavam quentes pela febre...pelo desejo?
Como aquela mulher podia deseja-la tendo tantas amantes?
Via a Belinda e percebia como parecia gostar da sheika...
Odiava vê-las juntas, odiava saber que estavam juntas...
Pensava em cessar o interlúdio, porém ao sentir a língua
ao encontro da sua, sufocou um gemido prazeroso. Permitiu que a carícia se
aprofundasse, sentindo-se estremecer quando Samantha mordiscou-lhe
delicadamente, depois chupando-lhe e dominando-a.
Teve a impressão que fora arrebatada... Não conseguia
pensar em mais nada, apenas no beijo que parecia querer ora lhe devorar a alma,
ora lhe massagear as feridas.
Abraçou-a mais forte como se temesse soltar-se.
Queria ficar ali e não voltar nunca mais para a
realidade. Permitiu-se ficar lá, permitiu que sua boca fosse tocada, dominada...desejava
que o contato se prolongasse no tempo.
Acariciou mais a nunca, sentindo a maciez dos cabelos
negros, aspirando o perfume que depreendia-se deles.
A pirata deslizou a mão pelos ombros da militar, alisando-os,
depois foi descendo por seus braços, posicionando-se em seu colo.
Sentiu espasmos quando os dedos tiveram contato com os
seios redondos.
Por alguns segundos, recordou-se de que os virá, que
exigira que ela pagasse a parte que lhe cabia no acordo que tinham feito. Ainda
não conseguira compreender como conseguira controlar a excitação que
experimentara naquela noite. Ansiara por despi-la ali mesmo e consumar a paixão
que lhe dominara. Eram lindos!
Sentiu-a estremecer.
Tateava-os sem pressa, queria guarda-los para sempre em
suas lembranças. Fazia-o com cuidado, como se fosse um inestimável bem que não
poderia ser maculado.
Sentia o sexo vibrar...
Como queria satisfazer aquela loucura que se instalara em
seu interior. Há tantos anos nada assim lhe acontecia que chegara a pensar que
tinha morrido sexualmente.
Seria aquilo realmente um sonho?
A Santorini mordiscou os lábios feminino quando os
polegares começaram a brincar com seu colo. Eles tocavam em seus mamilos como
se estivesse a tocar em algo frágil e delicado, aumentando ainda mais a
tortura.
Como podia ser tão delicioso?
Recordou-se do olhar da pirata quando abrira a blusa e
lhe mostrara o busto. Sim, tinha visto o fogo queimar nos olhos azuis, tinha
visto o desejo nela e sentira o mesmo...Quando a viu, naquela noite, inclina a
cabeça para lhe cortar o fio que estava solto do seu sutiã, desejara mais...mesmo
que nunca ousasse admitir, quisera mais...
Sentiu-a pressionar suas pernas, então afastou-a para
sentir entre elas a coxa torneada da sheika. Sentiu o sexo colar na pele da
inimiga, ele estava tão molhado que escorregava diante do movimento que a filha
do Serpente impunha.
Nunca ficara tão pegajosa...
Gemeu contra ela.
Viu-a abandonar seus lábios, seguindo por seu pescoço,
beijando-os até chegar aos montes...
Os olhos dourados abriram-se.
Acompanhava todos os movimentos com crescente ansiedade.
Observava a boca bem desenhada passear com calma, como se não tivesse pressa.
Empinou-os mais...
Mordeu o lábio inferior para controlar o murmurar...
Desviou o olhar quando viu a pontinha de língua tocar em
seu mamilo...Os olhos azuis lhe fitavam...
Era tão delicioso o contato...Era como se tudo se
resumisse àquelas poderosas sensações.
Voltou a fitar o que a outra fazia tão bem.
Observava circundar cada um deles... Ora lambia um,
enquanto afagava o outro, amassando-o, apertando-o...
Queria muito mais...
A coxa mexia em seu sexo e ela seguia o mesmo ritmo...Mexia
o quadril... Fazia-o timidamente, estava temerosa...
Gemeu alto quando a viu mamar como um animalzinho faminto.
Fechou os olhos em prazer.
-- Ah... Samantha... – Sussurrava o nome da pirata. – Por
favor... por favor...
Era a primeira vez que o pronunciava e parecia tão
forte... tão poderoso... Falou-o novamente...e novamente... Era uma linda
melodia...
A Lacassangner espalmou as mãos nos seios, massageando-os,
depois voltou a beija-los, dando atenção aos biquinhos rígidos e sensíveis,
sugando-os, depois os mordiscando devagar.
Mel sentia que iria desfalecer a qualquer momento. Tinha
a impressão que morreria de tanto prazer... Não tinha forças para resistir, não
queria resistir, desejava saber até onde aquelas sensações chegariam.
Mesmo não sendo virgem, não tinha experiências sexuais
que a levassem para aquele abismo. As vezes que estivera com o noivo, era
sempre ele que agia, sempre fazia o que queria e depois desabava em seu prazer
adormecendo, enquanto ela apenas suportava.
Viu-a levantar a cabeça, fita-la.
Segurou o rosto bonito em suas mãos, beijando-a
ardentemente, usando a língua para dominá-la, segando-a forte.
Ouviu-a gemer roucamente.
Sentiu-a retirar a perna do meio das suas, já pensava em
protestar, porém sentiu os dedos longos passearem por seu sexo...
Como podia existir tanto prazer assim?
Tentou detê-la, segurando-lhe a mão, temendo o que
poderia acontecer, então ouviu a voz baixa e rouca:
-- É apenas um sonho... tenente... estou a sonhar
novamente...
Os olhos dourados estreitaram-se em pavor.
A pirata estava delirando? Deus do céu, ela estava
mergulhada em um devaneio...
Fê-la cessar os movimentos, mesmo que seu corpo quisesse
o contrário, não podia continuar. Samantha estava muito doente, decerto nem
sabia o que estava a fazer.
Aproveitara-se de uma moribunda?
-- Sim... É um sonho... – Abraçou-a para livrar-se das
carícias. – Descanse... Descanse... – Sussurrava em seu ouvido.
Seguiu fazendo carinhos em suas costas, enquanto
continuava a murmurar baixinho. A pirata protestou por algumas vezes, encarou a
filha do duque, mas acabou sendo vencida pelo cansaço, adormecendo.
Mel sentia o corpo em chamas e a culpa pesarem ao mesmo
tempo. Como pudera agir de maneira tão baixa? Aproveitara-se da fragilidade de
uma mulher que não estava em condição de defender-se.
-- Perdoe-me... Perdoe-me... – Dizia entre soluços.
O que estava acontecendo consigo?
Lentamente, afastou-a, depois deixou o leito. Buscou as
roupas, vestindo-a. Sua mente estava perturbada, confusa.
Pegou o elástico, prendendo os cabelos.
Fitou a pirata que dormia tranquilamente. Como podia ser
tão linda?
Passou as mãos no rosto em um gesto de desespero. Depois,
sentou-se em uma cadeira, enquanto olhava para os próprios pés, parecia
desolada.
Levou o polegar à boca, mordiscando a unha...
Aquilo não podia ter acontecido...
Levantou-se, enquanto caminhava de um lado para o outro
nos aposentos. Parou diante do leito. Ela voltara a adormecer...
Viu o corpo nu mal coberto pelas cobertas...
Estava louca de desejo? Como pudera comportar-se de
maneira tão vil?
Foi até ela, cobrindo-a... Observava os lábios
entreabertos...
O que sentia por aquela mulher afinal? Tinha virado uma
promíscua sexual?
Seguiu até a poltrona, sentando-se.
Como explicaria tudo aquilo?
Ouviu batidas e a porta abriu-se. Não olhou para ver de
quem se tratava, apenas permaneceu na mesma posição.
-- Trouxe mais água quente para a febre e também já
alimentei a bichana.
Mel soltou um longo suspiro e só naquele momento fitou
Eliah.
-- Acho que está com menos febre. – O homem comentava,
arrumando-lhe as compressas. – Que maravilha!
A Santorini sentia o rosto em chamas, estava tão
envergonhada por tudo que não conseguia concentrar-se em nada.
-- Viu a temperatura dela?
Ela fez um gesto negativo com a cabeça, depois foi até a
maleta, pegando o termômetro foi verificar e para sua surpresa realmente estava
menos quente.
-- Será que ainda será precisa que vá para o hospital? A
senhorita está cuidando tão bem... Estou tão grato! – Disse com um sorriso
gentil.
A jovem afastou-se, cruzando os braços. Voltou a
mordiscar a unha do polegar, via o olhar curioso do pirata sobre si, então
decidiu responder:
-- Deve ir sim, será o melhor para que consigam
investigar a causa de tudo.
Novamente ouviram batidas e logo a loira entrava.
Ambas as mulheres encararam-se por alguns segundos. A
agente trazia um olhar desconfiado, acusador. Mel não baixou a cabeça, não o
faria, não diante dela.
-- O helicóptero logo estará aqui.
-- Que bom, assim poderá fazer todos os exames
necessários. – Disse com descaso. – A febre cedeu um pouco, mesmo assim, parece
muito fraca.
Belinda nada disse, apenas aproximou-se do leito,
sentando-se, segurou-lhe a mão. Viu o sangue.
-- O que houve?
Só naquele momento a Santorini percebera que ela tinha se
livrado do soro.
-- Não sei como permiti que cuidasse dela! – A agente
falou irritada. – Decerto, nem se importara com o que acontece a ela.
A tenente enrijeceu o maxilar.
-- Então cuide dela, você! – Respondeu irritada.
Belinda já abria a boca para falar algo, mas acabou
ficando em silêncio ao ver os olhos azuis a fitarem.
-- O que se passa? – Questionou baixinho.
A Santorini prendeu o fôlego ao vê-la desperta. Encarou-a
e viu o olhar perscrutador em sua direção.
-- Você teve muita febre, não está muito bem, o
helicóptero vai pousar daqui a pouco e vamos seguir até um hospital. – A loira
explicou. – Deixou-me muito assustada. – Acariciou a face.
-- Não, eu estou bem... – Tentou levantar-se, mas foi
detida pela falsa amante.
-- Na verdade, ainda não está. – Mel retrucou calmamente.
– Suspeito de uma possível pneumonia, então quanto mais rápido for tratada,
melhor será.
Novamente o olhar da pirata analisava curiosamente a
militar. Encararam por alguns segundos, então a herdeira de Fernando baixou os
olhos.
-- Bem, acho que já fiz o que tinha que fazer, vou voltar
para o meu quarto.
-- A senhora Maldonado disse que a senhorita também irá,
assim retorna para sua casa mais rápido. – A agente esclareceu. – Então,
arrume-se, não vai demorar para seguirmos.
A Santorini suspirou alto, depois deixou os aposentos.
Samantha tentou levantar mais uma vez. Fechou o roupão
que usava, depois sentou-se.
Sentia-se confusa... Cansada...
Então a filha do duque estivera mesmo ali?
Pensara tratar-se de um sonho, mas ela estava nos
aposentos...então não fora um devaneio?
Umedeceu os lábios demoradamente e teve a sensação dos
lábios macios... Teria também sido uma ilusão as carícias? Não... sentia o
cheiro em seu corpo ainda...
Sentia-se fraca, mesmo assim sabia que estava totalmente excitada, desejoso...
Olhou para Belinda.
-- O que a tenente estava fazendo aqui? – Indagou curiosa.
-- A Miranda pediu para que cuidasse de ti... – Disse
irritada. – Eu fui contra, não confio na mimada militar.
-- Mas eu estou de prova que ela cuidou muito bem da Sam,
vi como se dedicou... –Eliah intrometeu-se.
-- Cuidou? – A morena indagou com um arquear de
sobrancelha.
-- Sim, por isso sua febre baixou.
A Lacassagner pensou em dizer que havia outra febre ainda
maior queimando em seu interior, mas preferira poupar energia. Depois tentaria
descobrir se o que se passara fora um sonho ou realmente estivera nos braços da
linda filha de Fernando.
O retorno no helicóptero fora feito em total silêncio.
Miranda acabara dormindo, enquanto Belinda seguia ao lado
de Samantha. Mel sentara-se de frente para as duas, mas tentava não olhar para
ambas.
Sentia-se incomodada com a presença da pirata e mais
incomodada ainda quando a via ao lado da amante.
Inclinou a cabeça para o lado, tentando não pensar na
confusão de sentimentos que havia em seu interior.
Talvez devesse contar a Lacassagner o que tinha acontecido
no quarto, dizer-lhe que não imaginara que ela estivesse a delirar quando
trocaram carícias, esse era o certo a ser dito. Deixaria que ela decidisse o
que fazer. Talvez a denunciasse, mas isso não importava, precisava ser punida
pelo que tinha feito, era culpada por ter se aproveitado da fragilidade de uma
mulher que não estava bem.
Cerrou os dentes incomodada.
Fechou os olhos, talvez o melhor fosse dormir um pouco.
Quem sabe não esqueceria aquele pesadelo que se tornara sua vida.
Ouvia a voz do piloto informando sobre o tempo e quanto
demoraria para seguir até a base.
Não levava a gatinha consigo, pedira a Eliah para que
ficasse com ela até que pudesse busca-la.
-- Tudo bem, tenente?
A voz baixa e sensual da inimiga lhe questionou.
Fitou-a e viu que a loira dormia.
A aeronave estava mergulhada na penumbra, mas era
possível ver a expressão afetada da sheika. Parecia bastante abatida.
Observou-a atenciosamente e só depois respondeu:
-- Sim, estou bem! – Disse por fim. – E como você se
sente?
-- Sinto-me um pouco fraca, mas acho que estou bem
melhor. – Encarou-a. – Quero agradecer por seus cuidados...sei que foi muito dedicada...
A Santorini sentiu a face em chamas.
Não conseguiu sustentar o olhar que a outra lhe dirigia.
Sentia a respiração acelerada e as batidas do coração
intensa.
Inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos mais uma
vez.
Queria voltar para sua casa, esquecer aqueles dias que
passara, as carícias que provara...
-- Acalme-se...
Os olhos dourados abriram-se em susto ao ver que pirata
estava sentada ao seu lado e sussurrara ao seu ouvido.
-- Eu sei que não foi um sonho e acredite, eu não estava
tão fraca a ponto de não poder me defender...Infelizmente estava muito fraca
para seguir em frente...
Mel a fitou em perplexidade.
-- Foi uma pena você ter cessado... – Disse bem perto da
boca bonita. – Mesmo sabendo que não devemos, a minha vontade era continuar...
– Umedeceu os lábios – queria ter provado muito mais...queria ouvir você chamar
meu nome mais vezes... ouvir o seu gemido...
A jovem ainda pensou em falar algo, mas nada disse. Viu a
mulher retornar para o lugar que ocupava. Observou-a afivelar o cinto, depois
observar pela pequena janela a noite escura.
As luzes ainda iluminavam a madrugada da capital.
A avenida ainda tinha movimentos naquele final de semana.
Olhava-se pela janela do carro e via alguns pedestres ocupando alguns
barzinhos, outros tinham a maquiagem e as roupas amarrota mostrando as consequências
de uma noite bem aproveitada.
Mel estava sentada no banco de trás do veículo.
Sir Arthur e o noivo foram busca-las na base da marinha.
Ouvia Juan esbravejar contra a Lacassangner, enquanto Sir
Arthur apenas permanecia em silêncio, segurando-lhe a mão.
-- Já falei com os meus advogados, seu pai está de
acordo, vamos processar a todos, isso é um absurdo! – O empresário continuava.
– Você foi sequestrada, foi sequestrada pela maldita víbora e no final ela está
sendo vista como uma heroína.
A jovem nada dizia.
Não queria pensar naquela mulher. Queria esquecê-la,
tirá-la da sua mente pelas próximas encarnações. Sentia-se fragilizada com o
que se passara, assustada com a intensidade do próprio desejo, da falta de
controle que tivera ao senti-la.
E se não tivesse interrompido? Teriam transado?
Precisava de um banho demorado e bem gelado, era o que
precisava naquele momento.
Estava tão distraída que nem percebera que adentrava os
portões da mansão do avô.
O automóvel estacionou e o noivo apressou-se em abrir-lhe
a porta.
Ela nem esperou por eles, apenas seguiu pelos degraus e
logo entrava na casa. Fernando veio ao seu encontro, abraçando-a.
-- Eu mesmo farei todos pagarem pelo que fizeram! –
Disse, enquanto lhe segurava a face. – Isso não vai ficar assim.
Ela apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça. Não
queria falar nada, não queria discutir, desejava ir para o quarto e dormir.
-- Vamos destruir a maldita víbora, eu te prometo.
-- Deixe que ela vá para os aposentos, precisa descansar.
– Sir Arthur intrometeu-se. – Vá, meu anjo, descanse e depois conversaremos. –
Beijou-lhe a testa. – Qualquer coisa estarei por aqui.
-- Irei contigo, amor. – O noivo ofereceu-se.
-- Não, quero ficar sozinha, depois nos falamos. – Disse pela
primeira vez dirigindo-se a ele.
O empresário não parecera gostar da negativa, mas nada
dissera, apenas vendo-a subir as escadas.
O hospital central era um dos melhores do país. Havia
profissionais capacitados e tecnologia de última geração.
Samantha fora levada diretamente para lá, passara por
alguns exames e fora comprovada a suspeita de Mel, realmente era o início de
uma pneumonia.
-- Não acho necessário que fique aqui, Miranda. – A
Lacassagner dizia. – Pode ir para o hotel descansar.
O médico decidira que a pirata ficaria em observação
durante vinte e quatro horas e só depois veria se poderia manda-la para casa
para seguir com o tratamento.
-- Não estou tão cansada quanto você. – Puxou uma
cadeira, sentando-se. – Ainda não mostrei toda a minha gratidão pelo que fez. –
Segurou-lhe a mão. – Você é a mulher mais corajosa que conheço, seu pai teria
muito orgulho.
A sheika nada disse, apenas permaneceu quieta.
Ocupava um apartamento no vigésimo andar. Apesar de tudo
não era de todo mal. A cama era confortável, havia uma poltrona, uma TV e um
bebedouro.
-- Os bandidos que queriam sequestrar a Mel já foram
presos, porém sustentam que foram enviados por ti, mas isso é algo totalmente
desacreditado, sabemos que você não estava envolvida.
-- Mesmo assim é notório que Sir Arthur e o duque farão
tudo para que essa história seja jogada para mim.
-- Não esqueça do noivo da tenente, esse parece ainda
mais interessado e sentindo ódio. – Tirou o celular da bolsa. – Vou
providenciar o pagamento de todas as despesas do casamento o mais rápido
possível, pois sei que os advogados já entraram com um processo contra ti.
Samantha não gostava de imaginar a Santorini casada. Era
uma tortura pensar que outro a tocaria.
Isso era um absurdo!
Não deveria se importar com o enlace. Uma coisa era
sentir-se atraída sexualmente pela militar, outra coisa bastante diferente era
sentir algo além disso. Nem mesmo gostava dela, achava-a mimada e petulante ao
extremo, sem falar em como estúpida.
Era apenas sexo!
Queria sexo com a jovem. Queria senti-la, queria tocá-la
e depois não haveria mais nada, apenas a lembrança do prazer.
Fechou os olhos.
Conseguia recordar-se da boca devorando os seios
redondos, de passar a língua por seus biquinhos excitados... Queria ter sentido
o sabor do sexo que estava tão molhado...
Deliciosa...
Não podia voltar a tocá-la, era um perigo aproximar-se da
tenente.
Quando o helicóptero pousara na base da marinha, a filha
do duque fora a primeira a deixar a aeronave. Não dissera uma única palavra,
apenas fora embora sem nem olhar para trás. Mas o que esperava?
Aquele era o mesmo quarto que a Santorini ocupara na
adolescência quando passava os dias com o avô. Nada mudara, tudo continuava em
perfeita ordem.
A jovem deixou o banheiro depois de quase uma hora. Viu o
sanduiche e o leite sobre o criado-mudo.
Tirou a toalha dos cabelos.
Não iria secá-los, não tinha vontade de fazer nada a não
ser dormir.
Livrou-se do roupão, seguindo até a o armário, pegou uma
camisola de seda. Depois colocou o robe na cor de cetim. Pegou o copo e tomou
um pouco do líquido, mas não tocou no lanche.
Seguiu até a janela, abrindo-a.
Sentia o vento frio.
O grande jardim estava iluminado...
Fechou as persianas e depois seguiu para a cama,
deitando-se. Puxou os lençóis, cobrindo-se.
Suspirou!
Sentia-se envergonhada. Pela primeira vez em vinte e seis
anos tocara-se sexualmente para tentar frear o desejo que ainda queimava em si.
Fechara os olhos enquanto estava na hidro, acariciando-se, lembrando de como a
pirata fizera, de como era perfeito o toque ousado.
Como fora capaz de tocar-se?
Nunca sentira essa necessidade, nunca ansiara tanto como
naquele dia e mesmo assim ainda não ficara satisfeita.
Uma semana depois.
-- Pensei que achasse que esses animais trouxessem azar!
– Samantha comentava.
A Lacassagner tinha retornado para casa pela manhã.
Recebera alta e poderá retornar, surpreendendo-se ao encontrar na cobertura
Eliah com a gatinha.
-- A Santorini pediu que ficasse com ela até poder
busca-la.
A pirata observou a felina dormindo sobre o sofá, parecia
bastante à vontade.
-- Está tendo amizade com a inimiga é? – Sentou-se. –
Saiba que ela está movendo céus e terras contra mim. Perdi as contas de tanta
coisa que estou sendo processada.
-- Eu a entendo em parte, afinal, não acredito que outra
atitude poderia ser esperada.
A morena nada comentou. Parecia interessada em ver a
pequena gatinha escalar seu roupão, acomodando-se em seu colo.
-- Eu não a entendo e tampouco me interessa saber de algo
relacionado a ela ou a família de bandidos. – Disse irritada. – Quero ver como
ela vi ficar quando descobrir que fizera papel de tola esses anos todos.
-- Ela é uma boa menina, Sam, não tem culpa se passou
toda a vida sendo envenenada.
-- Isso não me interessa! – Cortou aborrecida. – Ela
merece umas boas palmadas, assim deixa de ser mimada.
O hospital da marinha estava um pouco movimentado naquele
dia.
Há quinze dias, Mel retomara seus trabalhos internos ao
lado de Cristina. A Santorini gostaria de não ficar presa ali, mas aceitara o
convite do almirante Ernesto para exercer a medicina durante aqueles dias, pois
ocorrera algumas emergências e foram recrutadas para ajudar.
-- Estou cansada!
A tenente estava na lanchonete. Passava das cinco da
tarde e só naquele momento pudera seguir para comer algo. Viu a amiga
aproximar-se.
A fisioterapeuta também estivera de licença e como a
amiga retornara, fizera o mesmo.
-- Não estou aguentando a rotina.
Mel a fitava em reprovação.
-- Estava costumada com a vida boa de ficar na fazenda
né?
-- Acho que sim...
-- Gosto de trabalhar...
-- Mas você gostaria de estar em busca de informações
sobre a pirata e não aqui...
Os olhos dourados estreitaram-se.
Sentia-se grata por ter muito trabalho, assim não havia
tempo para pensar em coisas desagradáveis.
-- Não quero falar sobre essa mulher! – Retrucou
irritada.
A fisioterapeuta a fitava curiosa.
-- Desde que retornou não me falou nada do que aconteceu
nesse “sequestro” – Fez um gesto com os dedos. – Toda vez que te pergunto, muda
de assunto bruscamente.
A atendente aproximou-se com um copo de suco, depois se
afastou.
-- Não tenho nada para falar sobre a Víbora!
-- Poderia ter aproveitado os dias que passaram para
tentar descobrir mais sobre a vida dela.
A Santorini demonstrou confusão diante das palavras.
-- Claro, amiga, entenda que seria uma oportunidade para
descobrir os fatos que se passaram.
-- E você acha que ela me falaria? – Indagou incrédula.
-- Então use a Ester, afinal, ela está disposta a se
entregar de graça, poderia tirar uma vantagem.
A médica parecia ainda mais aborrecida e já se preparava
para discutir quando o celular tocou e viu o nome do noivo.
Não queria atender, mas era bem melhor que ficar ouvindo
a amiga e suas invenções.
Atendeu.
-- Oi, Juan!
-- Oi, amor, vou chegar no fim de semana, vou te
acompanhar a festa de confraternização da marinha.
Ela nem desejava ir, mas acabou apenas aceitando, em
seguida desligou.
-- Quando vão remarcar o casamento?
Novamente foram interrompidas pelo toque do celular. Era
o número do detetive que tinha contratado.
Ouviu-o falar durante alguns minutos, depois a ligação
foi encerrada.
-- O que houve?
-- Depois de tantos anos o navio a víbora do mar fora
encontrado... – Disse com um sorriso. – Com certeza é um lugar que deve ter
muitas provas contra a Lacassagner.
Olá autora!
ResponderExcluirEssa Mel continua nessa insistência,pois só quero ver quando descobrir a verdade. Desejo vê a tenente de joelhos pedindo perdão a Sam. Beijos geh.
O orgulho da Mel vai deixar com que ela peça perdão pra Sam quando toda a verdade aparecer? Mulher difícil. Pela deusa...
ResponderExcluirPs' não estou a reclamar. Haha
A Mel está aos poucos se deixando vencer pelos desejos, mas entendo sua confusão de sentimento, uma linha tênue entre o amor e o ódio.
ResponderExcluir