A víbora do mar - A Víbora - Capítulo 25

 


A fazenda Santorini estava em total silêncio. Não havia trabalhadores seguindo para a labuta, tampouco havia o barulho costumeiro de ouvi-los cuidando dos animais. Todos tinham recebido o dia de folga. As festividades da padroeira estendera-se por toda noite, encerrando-se nos primeiros raios de sol.

            A ilustre e respeitável família de Sir Arthur ficara até o fim, pois receberam visitantes importantes, políticos que tinha reputações de grande valor em todo o meio social. Juan caprichara em sua propaganda pessoal, estava ansioso para conseguir fechar algumas sociedades para sua empresa que enfrentava sérios problemas financeiros.

            Marina estava preparando o desjejum para a tenente. Sabia que os outros não se alimentariam, que só levantariam para o almoço que naquele dia sairia tarde, porém era diferente com a herdeira de Fernando. Passara por lá e ouvira seus passos nos aposentos. Nem mesmo parece ter dormido depois de ter chegado. Viu-a mais cedo rejeitando a presença do noivo, Juan aparecera bastante interessado em dividir a cama com a futura esposa, mas não fora aceito, ela praticamente o expulsara. O duque e o almirante já tinham seguido para os próprios quartos, não presenciaram a cena caótica.

            A empregada tinha certeza de que não havia amor entre o casal. Conhecia-a bem para ter convicção que só aceitara o relacionamento por pura comodidade e insistência do pai e do avô.

            Arrumava as coisas com cuidado, colocando os alimentos que a militar mais gostava.

            Sabia que algo não estava bem com a sua menina. Desde que retornara da fazenda da Lacassangner e tivera uma conversa com o avô mudara drasticamente. Trancara-se o dia todo e quando seguira para a comemoração demonstrara uma frieza que não era costumeira.

            Seguiu pelo corredor com a bandeja. Andava devagar para não despertar os outros.

Parou diante da porta, hesitou, bateu, mas não recebeu permissão para entrar, tocou na maçaneta gélida, entrou. As cortinas estavam parcialmente trancadas.

 Imaginara se a jovem tinha caído no sono, mas não, estava vestindo um roupão atoalhado, sentada em uma poltrona e tinha entre as mãos o porta retrato que exibia uma foto da mãe e sua quando era ainda uma adolescente. Quando Marie fora cruelmente assassinada, a garota vivia com aquela imagem o tempo todo, como se precisasse dela para continuar sobrevivendo.

            -- Trouxe algo para que coma, meu bem. – Disse baixinho. – Ontem não almoçou e não jantou, duvido que tenha comido algo naquela festa.

            Os olhos dourados cheios de lágrimas fitaram a empregada por alguns segundos. Estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Não conseguira nem mesmo dar um cochilo, ficara rolando na cama até se cansar e decidir tomar um banho, desde então estava ali sentada, perdida em seus pensamentos, lutando contra si mesma.

            Observou os alimentos que estavam sobre a escrivaninha. Sucos, pães, bolos, torradas, frutas e leite...

            Sentiu o estômago embrulhar só em olhar.

            Realmente a última vez que comera algo fora no desjejum do dia anterior, depois disso apenas tomara água.

            Fitou a aliança que estava jogada no carpete. Tirara e jogara contra o noivo quando ele ousara lhe exigir que cumprisse com seu papel de mulher.

            Idiota!

            Quem pensava ser para lhe exigir sexo?

            Não o desejava, não queria seu toque e não seria obrigada a recebe-lo em seu leito. Estava disposta a colocar um ponto final naquela relação. Desde que sofrera o acidente e que lentamente se recuperava tinha que ouvir o Bragança jogar em sua cara que nada teria acontecido se não tivesse se entrado naquela aventura, ele não a entendia, sempre achara que sua dor era algo superficial. Agora insistia com o matrimônio, crendo que a levaria para longe, como se fosse isso que ela desejasse, como se ela não pudesse opinar sobre a própria vida.

            Viu Marina agachar e pegar o objeto de ouro, pondo-o sobre a cama.

            -- Estou cansada, babá... – Disse em um fio de voz. – Não aguento mais tudo o que está acontecendo.

            A empregada foi até ela, puxou uma cadeira, sentando de frente.

            -- O que se passa, minha menina? – Tomou-lhe a mão entre as suas. – O que aconteceu para te deixar tão triste?

            Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça e só depois de alguns segundos conseguiu falar com voz embargada.

            -- Estou perdida em sentimentos... Sinto tanta raiva...Me dói sentir tanta raiva... – Soluçou. – Me dói tanto...é como se eu tivesse morrendo aos poucos aqui olha... – Apontou para o peito. – Parece que algo me feriu...uma dor física...

            Marina arrumou-lhe os cabelos, limpou suas lágrimas, mesmo que continuassem vertendo abundantemente.

            -- Quando você era uma menininha e tudo aconteceu, eu pedia a Deus todos os dias para que tirasse essa dor de dentro de ti... Eu sempre soube que cedo ou tarde você não a suportaria...Nunca conseguiu se libertar...

            A tenente mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente, depois se levantou, seguindo até a janela.

            Olhava o pátio, apenas fitava-o, estava vazio...

            Observou o céu tão azul, não havia nuvens naquele dia, o sol brilhava forte. Viu a moto que deixara estacionado em frente a casa, pois seus planos era retornar para a capital, mas não tivera forças para fazê-lo, não conseguira.

            Pensou em procurar a amiga para conversar, mas já sabia o que Cristina falaria, sabia que ela não aceitava que agisse de forma traiçoeira com a Lacassangner.

            Prendeu o fôlego ao lembrar-se da Samantha, de como fora perfeito a forma que lhe tocara, os beijos de veludo, o cheiro que ainda assombrava sua pele... Por que a queria tanto?

            Apoiou-se no batente, apertando-o fortemente.

            Havia uma batalha acontecendo dentro de si...

            -- Filha, coma um pouco ou a Sorte vai devorar seu lanche.

            Mel fitou a gatinha olhando gulosa para o farto café da manhã.

            Seguiu até o leito, sentando-se, colocou o animal sobre o colo, acariciava os pelos macios e negros distraidamente.

            Marina sabia que ela estava apaixonada pela pirata.

            Deus, como algo assim fora acontecer? Era como se fosse uma espécie de castigo contra Sir Arthur e o orgulhoso duque que passaram toda a vida a perseguir a filha de Iraçabeth.

            Sentiu um arrepio na nuca só em imaginar o que Fernando faria se descobrisse que havia algo entre as duas mulheres. Ela sabia que ele tinha outras intenções com a Samantha, era possível ver em seu olhar a doente obsessão que carregava pela bela Víbora. Seria uma tragédia se ele ficasse sabendo de tudo aquilo. Tinha a impressão que revivia toda a desgraça que se abatera sobre a única herdeira do almirante. Recordava-se de quando ela confidenciara seus sentimentos sobre o jovem tenente Otávio, nunca tinha visto a moça que sempre demonstrara recato, tão entusiasmada, enamorada. Sempre soube que aquela relação não seria aceita, mesmo assim fora contra o pai, ousara de uma forma que jamais imaginara que faria, mas o fez e essa fora sua perdição.

            -- Não pode ficar assim ou acabará doente! – A empregada acomodou-se na cama. – Precisa ser forte nesse momento como já fora em outros momentos.

            Mel deitou com a cabeça sobre o colo da babá, sentia o carinho nos cabelos, era como tantas outras vezes, como sempre a consolara e passara noites ao seu lado, ajudando-a em suas insônias, em seus pesadelos.

            -- Não pode se entregar assim, precisa aprender a buscar as suas verdades.

            Os olhos dourados fitaram o da mulher.

            -- O que devo fazer? Vovô me disse barbaridades sobre a Samantha, contou-me coisas terríveis...O detetive que contratei enviou-me cópias de vários depoimentos de testemunhas dos cúmplices dela...—Soluçou. – Deus, do céu, como suportarei descobrir que ela realmente fora responsável pela morte da minha mãe.

            -- Eu não acredito que tenha sido... – Falou calmamente. – Não acredito mesmo.

            -- Babá, o vovô sabia que eu tratei da pirata, sabia que a tive em meu quarto... Mas como?

            A empregada temia tanto o almirante, ainda ouvia as ameaças que lhe fizera, de como deixara claro que faria tudo para desacreditá-la junto à neta a ponto de ela ser desprezada. Não suportaria, não aguentaria, pois amava aquela menina como se fosse do seu próprio sangue.

            -- Ele é muito esperto... – Disse por fim. – Deve ter descoberto de alguma forma...

            -- Se assim o for, então ele não mentiu quando me disse que não queria machucar a Lacassangner, se fosse o contrário teria a tirado de lá a força.

            Marina apenas assentiu. E se contasse toda a verdade? Pensava toda a noite em dizer o que tinha acontecido naquela manhã que a pirata fora encontrada, deveria dizer-lhe que a moribunda tinha sido cruelmente espancada mesmo estando naquele estado.

            Ficou em silêncio ponderando, mas depois falou:

            -- Por que não fala com o senhor Eliah? Ele estava presente em praticamente toda a vida da Víbora, talvez possa te trazer alguma luz.

            Mel limpou os olhos com as costas da mão. Pareceu interessada na sugestão que lhe fora dada.

            -- E se mentir? – Questionou temerosa. – Se me enganar para que eu não apedreje a pirata?

            -- Há tantas mentiras nessa história, minha criança, talvez a dele seja menos cruel...

            Seria uma boa ideia, mas não desejava encontrar com a sheika, não desejava vê-la, precisava de tempo para conseguir retomar o próprio controle, estava tão dividida entre seus desejos e sua raiva que temia a forma de agir. Na noite anterior quase perdera o controle quando sentira a boca atrevida lhe tomando sensualmente.

            Começou a mordiscar a unha do polegar.

            -- E se ela estiver lá?

            -- Acredito que não esteja, vi a Ester comentando ontem quando estava se arrumando para sair que a Samantha passaria o dia todo na usina, parece que tinha alguns equipamentos para receber...

            Decerto a Bragança iria até lá assim que acordasse, iria manter a amante ocupada.

            Sentia uma angústia quando imaginava as duas juntas, uma raiva por imaginá-las...

            Sentiu os dedos delicados da babá lhe secarem o pranto.

            -- Coma um pouco, farei um chá para que consiga descasar, depois você poderá ir até lá.

            A mulher já se preparava para levantar, mas foi detida.

            -- Não, babá, fique aqui comigo, não desejo ficar sozinha.

            Marina assentiu, permanecendo no mesmo lugar, acariciando os fios macios dos cabelos, rezando para que ela conseguisse relaxar um pouco, pois a sentia tão tensa, tão fora de si.

           

 

            A Lacassangner tinha ido até a usina, mas não ficara por lá, pois tinha combinado de ligar para a Miranda. Precisava contar os últimos acontecimentos.

            Estacionou o jipe, mas não saiu imediatamente, permaneceu lá, olhando fixamente para a direção.

            Tivera uma noite péssima, sentira-se usada miseravelmente pela filha de Fernando. Fechava os olhos e via como fora tola, totalmente rendida a vontade incontrolável de tê-la para si.

            Lembrava-se dos olhos dourados escurecidos pelo desejo, dos sussurros apaixonados.

            “Quem sai aos seus não degenera.”

            Seu pai costumava dizer isso e realmente era real, pois a militarzinha era tão traiçoeira quanto o duque.

            Observou o relógio no pulso, não queria se atrasar, então saiu do veículo. Observou os homens que faziam a segurança da fazenda, protegendo a todos de algum ataque dos inimigos.

            Subiu os degraus que levava a casa, seguindo direto até o escritório. Acomodou-se na cadeira de couro e já discava o número. Não demorou para ouvir a voz da mulher que de certa forma tornara-se uma amiga.

            Narrou o ocorrido com a herdeira do Santorini, omitindo a parte relacionada ao sexo. Não queria falar sobre sua intimidade, tampouco confessar que fora feita de tonta.

            -- Então a Mel já sabe... – A Maldonado disse depois de algum tempo. – Eu sabia que cedo ou tarde ela chegaria a essa peça do quebra cabeça.

            -- Sim, ela me confrontara sobre o assunto.

            Sim, o fizera de forma superficial junto de outras inúmeras acusações. Depois não tivera mais tempo de conversar.

            Remexeu-se de forma desconfortável.

            -- Ela continua sendo um perigo, já falei com o almirante Ernesto para tentar mantê-la ocupada, mas eu sei que ela continua a investigar todos os fatos e tenho a impressão que o detetive que ela contratara não era alguém a quem pudesse confiar... Busquei algumas informações e descobri uma ligação com Del Santorro.

            -- Bem, acredito que tudo que a tenente faz é sabido por seu pai e por Sir Arthur, não acredito que eles sejam tão burros a ponto de deixa-las descobrir verdades que não lhe convém.

            -- São muitos escorregadios, sempre apagando os rastros que deixam pelos caminhos... Agora entendo o motivo do seu pai nunca ter conseguido pegá-los... – Suspirou. – Tenha cuidado, mandarei a Virgínia até aí, quero-a ao seu lado.

            A morena franziu a sobrancelha.

            -- E a Belinda?

            -- Vai demorar para retornar, a mãe está doente, acabou se complicando um pouco mais e decidi estender sua licença.

            A Lacassangner não gostou de saber disso. Gostava de ter a loira ao seu lado, era uma amiga, alguém que sempre a entendia e parecia conhece-la muito bem.

            Pegou uma caneta e ficou-a girando entre os dedos.

            -- Em breve haverá um cruzeiro que será oferecido ao príncipe, ele já deixou claro que deseja a sua presença, acho que se sente seguro contigo.

            -- Poderei ficar por aqui até esse evento?

            -- Não vai ficar enfurnada por aí, quero que vá a uma boate famosa esses dias, agora que a Mel sabe da sua origem é interessante que continue exibindo seu lado de pirata vagabunda.

            Samantha ouvia o riso da outra, permaneceu em silêncio.

            -- Por que é tão importante que eu aja assim? – Questionou depois de alguns segundos.

            -- Porque eles não podem ter a certeza de que você veio para fazê-los pagar por tudo, precisam realmente acreditar que você é uma devassa... Uma aproveitadora que apenas torra a fortuna que fora deixada por sua esposa.

            A filha do Serpente fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            Ouvia a Maldonado, porém seus pensamentos estavam presos na menina que exibia ares de mulher. Às vezes ansiava por toma-la para si, abraça-la, não a deixar partir; mas havia outros momentos que só desejava lhe dar uma lição, mostrar-lhe com quem estava a lidar. Ninguém nunca fora tão longe com sua paciência. Nunca fora tão desafiada em todos aqueles anos.

            Lembrou-se da boca sedenta, provocante, da forma desajeitada de lhe tocar, do sorriso que fora agraciada quando a sentiu desabar de prazer em seus braços.

            Estava ficando louca, perdendo toda a sanidade diante da filha do duque. Era como uma doença que chegava a tomar conta de todo o seu ser...Um castigo ou uma praga que lhe fora rogada...

            Meneou a cabeça.

            Não deixaria que a jovem Santorini desse as cartas naquele jogo. Não ficara conhecida como a Víbora do mar simplesmente por ser filha do maior pirata da modernidade.

            -- Está me ouvindo, Sam?

            A voz insistente da mulher soara impaciente.

            -- Sim, estou.

            -- Eu disse que já falei com o engenheiro, vai criar um projeto de harém na sua propriedade. – Dizia mais alto. – Ouviu agora?

            -- Harém? – Indagou confusa.

            -- Não lembra que conversamos sobre isso e Belinda sugeriu, seria na verdade um lugar seguro, um esconderijo para que pudesse se proteger.

            -- Sim, sim...mas não sei se esse povoado vai estar pronto para isso. Já imagino o escândalo quando souberem dessa construção...Vão espalhar para todos que vou sequestrar as mulheres.

            -- Temos uma lista das que irão sem precisar usar a força.

            Samantha não respondeu o comentário.

            -- Ficarei fora durante alguns dias, mas se tiver algum problema poderá falar com a minha secretária. – Deu uma pausa e depois continuou. – Tenho que ir até um condado, um homem fora preso por arrombamentos a residências.

            -- Pensei que lidasse apenas com crimes internacionais... – Comentou abrindo um livro que estava sobre a escrivaninha.

            Miranda ficou em silêncio, apenas se ouvia a respiração dela, depois disse:

            -- Sim, porém esse suposto bandido tem a mesma aparência do suspeito que fora visto pelas dependências do sítio quando acontecera o crime contra a sua esposa.

            Os olhos azuis abriram-se. Deixou a brochura de lado.

            -- Quero ir contigo!

            -- Agora não, tenha calma e paciência, assim que tiver mais informações te passarei.

            -- A minha mulher foi assassinada!

            -- Sim, mas nada vai adiantar sua presença, sheika, fique onde está.

            A Lacassangner levantou-se irritada.

            -- Acredita mesmo que vou me manter aqui, bancando a vadia, enquanto tem um suspeito de ter cometido aquele crime bárbaro em algum inferno desse mundo!

            A Maldonado sabia que ela reagiria assim, até pensara em não lhe contar, porém sabia que seria bem pior ela descobrir por outros.

            Não podia permitir que ela viajasse, não era uma boa ideia, sabia como a filha do Serpente desejava punir os que cometeram o assassinato, isso poderia alertar os cúmplices.

            -- Você disse que faria o que eu mandasse, que seguiria minhas ordens!

            -- Só o fiz pelo Eliah! – Disse por entre os dentes.

            -- Sim, eu sei, caso contrário tinha decidido morrer naquele buraco. – Falou irritada. – Às vezes fico a pensar se realmente era a destemida Víbora que todos falavam...porque parece perdida nesse mar de dor...Acha mesmo que sua esposa gostaria de vê-la assim?

            -- Ela não pode me ver porque um miserável a tirou da minha vida! – Jogou o telefone longe.

            Passou a mão nos cabelos.

            Sentia a respiração acelerada, ofegava, enquanto tinha o olhar fixo em um ponto qualquer do escritório.

            Era isso que sempre evitara, perder o foco, perder a calma. Fora por isso que decidira morrer naquela prisão, pois sabia que lá não poderia agir de forma impulsiva, lá não teria como se vingar por todas as desgraças que ocorrera consigo...

            Não demorou para o pirata aparecer, olhava a cena preocupado.

            Recolheu o telefone, colocando-o no lugar.

            -- Tudo bem? – Indagou temeroso.

            Não demorou para que o aparelho milagrosamente voltasse a tocar.

            Samantha sentou-se, mas não fez menção de atender, então o amigo o fez. Passou alguns segundos até que ele desligasse.

            -- A senhora Maldonado disse que a Vírginia chegará em breve...Pediu que tivesse paciência, que tudo vai se resolver.

            Ela não falou nada, continuava quieta, apenas em silêncio.

            -- A piscina está limpa...Tem o lago, porque não tenta relaxar um pouco? – Seguiu até a porta. – Se precisar me chame.

            Mais uma vez ela não respondeu, ficou apenas calada com olhar perdido.

 

 

            Os seguranças estavam na entrada da fazenda da sheika e tentavam barrar a entrada de Matias e outros capangas.

            Estavam armados com espingardas e ameaçavam a todos. O capataz agia como se fosse o verdadeiro senhor daquele lugar. Agia com arrogância e buscava intimidar.

            O pirata estava saindo da casa para ir até o estábulo quando viu a discussão. Seguiu até lá. Viu os empregados do duque montado em cavalos.

            -- Chamaremos a polícia, não vamos deixar que nos roube! – O capataz esbravejava.

            -- O que se passa? – Eliah questionou.

            Abelardo, um dos guarda costas explicou.

            -- Esse empregado da fazenda Santorini insiste que alguns animais da propriedade na qual trabalha estão aqui, já estamos resolvendo, não se preocupe.

            O fiel escudeiro de Otávio pareceu confuso. Chegara a ter a ilusão de que haveria paz depois do encontro entre as duas mulheres, mas não parece ter surtido efeito.

            -- Não há nada aqui! – Disse calmamente. – Acho melhor que saiam.

            -- Não temos medo! – Mostrou a arma. – Vamos fazer nosso trabalho. Nossos patrões ordenou.

            Eliah já abria a boca para tentar argumentar e não continuar aquela discussão, mas ouviu passos atrás de si, nem precisava virar-se para saber de quem se tratava, assustou-se.

            -- Não há nada de vocês aqui, então deixem minhas terras! – Ordenou de forma tranquila. – Guardem seus brinquedinhos e voltem para debaixo do seus donos.

            -- Queremos ver se os animais estão aqui...Acho melhor que permita ou voltaremos com o delegado.

            -- Vocês podem voltar com o papa, com toda a inquisição, com o exército e a marinha...Não colocarão os pés aqui! – Disse com um sorriso.

            -- Vai se arrepender, pirata!

            -- Vocês também vão! – Fez um gesto mostrando alguns seguranças que ficavam em pontos estratégicos. – Diga aos seus patrões que se estão enfrentando necessidades, talvez eu possa doar umas vacas.

            Matias a olhou com ódio, depois seguiu com os homens.

            A Lacassangner deu alguns passos para observar. Sabia que não deveria confiar no duque e tampouco em Sir Arthur, fariam qualquer coisa para tirá-la do caminho e agir como se tudo não passasse de legítima defesa.

            -- Acho melhor que fique por aqui hoje, Sam, essas pessoas são bandidos, temo por sua segurança.

            -- Ficarei por aqui, mas não por teme-los, apenas não há nada para ser feito na usina. – Caminhou até o estábulo. – Vou trocar de roupa para tomar um banho de piscina.

            -- É uma boa ideia, pena que a senhorita Belinda não está para lhe fazer companhia.

            -- Acho que vai demorar para retornar, a mãe está doente.

            -- Por isso que a senhorita Virgínia vai vir no lugar?

            Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Por que ficou tão irritada com a senhora Miranda?

            -- Porque estou cansada de me manter inerte, agindo da forma que ela acredita ser o melhor... – Passou a mão pelos cabelos. – Traga um dos vinhos que a Belinda trouxe, talvez me ajude.

            O velho fez um gesto afirmativo, afastando-se.

 

 

            Mel vinha da cozinha. Tinha ido deixar a bandeja do desjejum, estranhara não encontrar Marina, porém teve o desprazer de se deparar com a cunhada, ela estava sentada, tomava café e parecia pronta para sair.

            -- Bom dia! – A Bragança a cumprimentou com entusiasmo. – Seu pai já me disse que reconsiderou e que poderei continuar hospedada aqui.

            A tenente não tinha nem conversado com Fernando sobre o assunto, mas preferiu apenas assentir.

            Pegou a jarra e encheu um copo com água, bebendo-o devagar.

            -- Pensei que aproveitaria o dia todo para dormir, eu gostaria, mas vou à usina, acho que a Sam precisa de mim.

            -- Que patroa ruim...Nem te dar um dia de folga... – Comentou, afastando-se.

            A Santorini sabia que estava sendo provocada. Seguiu até o escritório, pegou a chibata que usava quando cavalgava. Iria aproveitar para ir falar com Eliah.

            Seguiu até a porta e viu o capataz com Marina, aproximou-se.

            -- Já disse que Sir Arthur e o duque estão descansando, não poderá falar com eles! – A empregada dizia aborrecida diante da insitência.

            -- O que se passa?

            Matias tirou o chapéu diante do olhar repressivo.

            -- Senhorita, essa manhã percebia que algumas vacas sumiram, temos certeza de que foram roubadas por trabalhadores da pirata.

            Mel relanceou os olhos em irritação.

            Não aguentava mais aquelas acusações.

            -- Quais são as provas que tem? – Indagou com as mãos na cintura. – Diga quais são, mostre-me para ver se perderei meu tempo.

            -- Por isso quero falar com o duque, ele...

            -- Eu sou a dona dessa fazenda e sabe de uma coisa, Matias, estou cansada das suas acusações, cansada da sua amnésia que parece esquecer o tempo todo que eu sou a dona dessa fazenda e não meu pai. – Arrumou o chicote no traje de montaria. – Fale com o contador, está demitido, não preciso mais dos seus serviços!

            A babá a olhou com espanto.

            -- Não pode me demitir!

            -- Ah, não me diga, pois está demitido, querido...Agradeço por seus serviços, mas não precisamos mais. – Fez um gesto chamando outro peão.

            Antonino aproximou-se, respeitosamente retirou o chapéu.

            -- Pois não, senhorita, deseja algo?

            -- Sim, desejo, primeiro quero que sele meu cavalo, vou sair, depois ajude o Matias a arrumar as coisas para deixar minha fazenda, e por fim, assuma o cargo de capataz.

            Ele olhou para o outro e viu a raiva em seu olhar.

            -- Farei com a senhorita diz, com sua licença.

            Ambos os homens afastaram-se.

            -- Não deve agir desse jeito com o Matias, não confio nele. – A babá advertiu-a. – Sempre age com petulância e até os trabalhadores o temem.

            -- Não tenho medo e já estou cansada da forma que ele se comporta.

            -- Ele veio da fazenda da Samantha, estava lá ameaçando-os, com certeza.

            Mel viu o peão trazer o cavalo. Depositou um beijo na face da empregada e seguiu até o animal, montando-o.

 

 

 

            Eliah cuidava dos animais. Levou alguns cavalos para o cercado, sabia que eles gostavam de ficarem lá e como o dia estava ensolarado, gostariam, principalmente a montaria da Lacassangner, essa parecia mais inquieta que a dona.

            Seguia quando viu ao longe uma conhecida amazona. Viu-a seguir em sua direção, pensou se haveria mais problemas. Já estava pronto para negar todas as acusações.

            -- Senhorita, algum problema? – Questionou deixando no chão a bolsa com cenouras. – Já adianto que não pegamos seus animais, ninguém aqui é ladrão.

            Mel desmontou, depois amarrou o cavalo no galho de uma árvore.

            -- Preciso falar contigo. – Observava tudo ao redor. – Não tem nada a ver com as acusações do Matias, não se preocupe!

            -- Eu estou um pouco ocupado... – Disse relutante. – Estou organizando o estábulo... Mimando os animais um pouco.

            Mel o fitou, guardou o chicote na sela da montaria.

            -- Te ajudo então, enquanto conversamos.

            O pirata olhou para os seguranças, depois acabou cedendo diante da determinação da jovem. Pensara por um segundo que ela fora reclamar dos animais que o capataz falara que tinha sumido, porém não parecia ser o assunto. Também não pareceu interessada em falar com Samantha. Olhou em direção à piscina, temeu que ambas se encontrassem

            Arrumava o feno e sentia o olhar da Santorini sobre si.

            -- Esses animais são lindos... – Alisou o pelo de um cavalo branco. – É árabe?

            -- É sim, faziam parte da criação da esposa da Sam.

            Sim, Mel sabia, fizera algumas investigações e descobrira que ela era apaixonada por animais.

            -- Eliah... – Começava relutante. – Pode me dizer mais sobre o meu avô...Se ele procurou pelo Serpente...Se em algum momento quisera cuidar da filha da Iraçabeth... Preciso muito saber disso... e eu tenho certeza de que sabe de toda a história.

            O pirata levantou a cabeça e viu a sheika observando a cena com um olhar cheio de sarcasmo. Percebia em seu olhar que não deveria dizer nada e jamais desafiaria aquela mulher tão determinada.

            Encarou a militar, queria que ela percebesse que não estavam mais sozinhos.

            A tenente sentiu um arrepio na nuca, ouvia os passos macios, o aroma dela que parecia profanar seu oxigênio.

            -- Acredito que o meu velho amigo não vai te responder nada...Que pena!

            Os olhos dourados fitaram os azuis. Pareciam tão penetrantes. Arqueou a cabeça de forma orgulhosa.

            Não imaginara encontra-la...Então não tinha ido até a usina? Ou teria já chegado...

            Observou o minúsculo biquíni que cobria o corpo esguio. Sentiu lhe faltar o fôlego ao fita-la.

            A pele estava ainda mais bronzeada.

            Fitou os seios redondos e mal cobertos pelo pequeno pedaço de pano branco. Viu as pernas longas e torneadas expostas... Agradeceu aos céus por ela ter tido a decência de usar uma saída para não exibir-se ainda mais.

            -- Bem, Eliah, conversaremos depois, preciso resolver algumas coisas... – Disse ignorando a pirata. – Nos vemos depois.

            O homem fez um gesto afirmativo com a cabeça, parecia preocupado.

            A herdeira do aristocrata deus alguns passos, mas não teve tempo de sair da construção, pois foi detida pelo braço.

            -- Pensei que não tinha tempo de ficar por aqui brincando de fazendeira. – Provocou-a.

            -- Estava cansada...Então decidi ficar mais um pouco. – Exibiu um sorriso. – Boa tarde, minha senhora, está bem?

            -- Estou ótima...

            Observou-a com atenção. Usava o traje de montaria, a calça preta colada em suas pernas, enquanto usava blusa de mangas longas branca e botas de cano alto, deixando-a um pouco mais alta.

            -- Se não se importa, preciso ir, está quase na hora do almoço... Foi um prazer encontra-la. – Puxou o braço. – Aproveite seu banho!

            Mel já se afastava, mas os seguranças aproximaram-se, ela enviou um olhar de advertências, mas não pareceu intimidá-los.

            -- A senhorita Santorini não tem permissão para deixar a fazenda!

            A tenente ouvi a voz firme soar.

            -- Não pode me prender aqui, está louca, só pode estar louca.

            Samantha caminhou até ela.

            -- Estarei na piscina, vou espera-la para que conversemos, caso contrário ficará aqui até que eu enjoe de olhar para sua carinha linda.

            -- Está cometendo um crime... Não sei se sabe, mas nesse país todos temos a liberdade de ir e vir.

            -- Você falou muito bem, no seu país, porém aqui é a minha fazenda...

            A herdeira do duque seguiu de cabeça erguida até o cavalo, mas o segurança antecipou-se.

            Mel Samantha se afastar com um sorriso debochado, parecia estar em uma passarela, pois andava como se fosse uma rainha e estivesse acima de todos.

            Prendeu a respiração.

            Levou o polegar a boca, mordiscava a unha nervosamente como já era de costume.

            Se soubesse que encontraria aquela mulher jamais teria ido até a fazenda. Por que não fora ao encontro da amante? Ester ficaria muito decepcionada em não a encontrar na usina.

            -- Se ousarem me deter, chamarei o delegado e serão presos! – Falou olhando para os homens. – Estão seguindo ordens manifestamente ilegais, serão punidos também!

            O pirata via tudo com uma crescente preocupação.

            Lentamente, caminhou para tentar amenizar a situação.

            -- Vá até ela, quem sabe não se resolvem... – Eliah aconselhou-a. – Pergunte a ela, ela sabe muito de toda essa história.

            -- Acha mesmo que essa pirata fora da lei vai me dizer algo? – Questionou com a mão na cintura. – Sabe muito bem que não o fará, vai apenas exibir arrogância. – Gesticulava. – Ordene a esses homens para me deixar ir! – Pediu.

            O velho fez um gesto negativo com a cabeça.

            -- Não posso, senhorita, tenho muito apresso por sua pessoa, porém jamais iria contra uma ordem da Sam.

            Sim, ela sabia, via como ele era fiel.

            Passou a mão pelos cabelos, arrumando-os. Olhava tudo ao redor como se ponderasse o que deveria fazer. Estava claro dentro de si que a última coisa que ansiava era ter uma conversa com a Lacassangner, mas não havia outra solução.

            Ela fez um gesto afirmativo e saiu pisando duro.

 

 

Na fazenda Santorini era possível ouvir os gritos do duque no escritório. 

            Sir Arthur observava a explosão do aristocrata e tentava não perder a calma. Ester insinuara que havia algo entre a Mel e a pirata, isso fora suficiente para enfurecer Fernando.

             – Ela vai casar, nem que eu tenha que arrastá-la até a igreja. – Esbravejava. – Se eu souber que ela está realmente interessada na Samantha, sou capaz de matá-la.

             O almirante olhava-o irritado.

             – Não seja estúpido! – Repreendeu-o. – Nossa inimiga é a Lacassangner, ela quem deve ser punida, ela quem costuma usar o charme para seduzir a todos.

             Fernando sentou-se. O rosto estava vermelho em cólera.

             – Quero a Mel fora dessa história, estou cansada das intromissões dela, tive que gastar muito para conseguir fazer com que o detetive só passe as informações que me interessam. – Seguiu até a mesinha e preparou um drinque. – Juan é um idiota, não consegue nem mesmo conseguir manter minha filha interessada.

            – Precisamos ter calma, também não adianta agirmos assim, a Ester pode ter inventado toda essa história porque está irritada por ter sido esbofeteada. – Tentava convencer o outro. – Sua filha é muito certinha, não agiria assim, ainda mais porque odeia a pirata.

           Sim, ele sabia que realmente a filha de Marie tinha caído na teia de sedução da Víbora, porém não podia permitir que o duque descobrisse, sabia como ele vivia obcecado pela filha do Serpente, enlouqueceria se chegasse a comprovar que realmente isso era real.

            Precisava mostrar a Mel que Samantha era uma assassina, que não merecia confiança, conseguira plantar a dúvida no dia anterior e se tudo desse certo, faria ainda mais.




              Mel observava Samantha nadando. Parecia uma sereia.

            O lugar ficara muito bonito depois da reforma. Havia espreguiçadeiras e duas mesinhas convidativas. Muitas vezes estivera naquele lugar quando estava abandonada. Arrendara as terras para plantação e sempre tivera planos de comprar o lugar, queria-o, pois além de bem maior que a sua fazenda, tinha o lago que sempre gostar de tomar banho.

            Concentrou-se na inimiga da sua família. Parecia bastante interessada em seu banho, decerto regozijava-se por sua vitória em obriga-la ir até ali.

            Cruzou os braços esperando para que lhe desse atenção. Viu a garrafa de vinho e a taça cheia.

            Observou-a finalmente subir pelas escadas, vindo em sua direção.

            Novamente fitou seus olhos, queria evitar fitar o corpo quase desnudo com as peças pequenas que usava. Como alguém conseguiria manter uma conversa com a Lacassangner em trajes tão provocantes?

            Recordou-se de como era ainda mais bela totalmente nua.

            Sacudiu a cabeça para se livrar da visão que povoava seus pensamentos.

            – Ora…ora…fiquei tão surpresa em te ver aqui…– Pegou o copo. – Fiquei curiosa…muito curiosa…Sentiu saudades…? – Entregou-lhe a bebida. 

            Mel observou o líquido escuro, depois fitou-a.

             – Não quero!

             – E por que não? – Questionou com um sorriso preguiçoso. – Antes de ontem você parecia tão à vontade…-- Olhou-a dos pés à cabeça de forma safada. – Eu confesso que fiquei surpresa.

            Mel sentia o sangue subir para a face. Sentia um arrepio passar por toda a espinha.

            – Olha, Víbora, diga aos seus capangas para me deixar sair, exijo que faça isso!

            A morena sentou-se na espreguiçadeira de vime. Retirou os óculos pretos do compartimento, colocando-os. Olhava para a água da piscina, parecia interessada na coloração, depois mirou a jovenzinha.

             –  Mel…minha doce Mel, diga-me… me usou sexualmente? Decidiu experimentar como era transar com uma pirata?

             A militar engoliu em seco.

            O que responderia? Que se entregara porque a queria? Seria mais uma na extensa lista da filha do Serpente, por que ela se importava tanto com o que acontecera?

              – Acha que todas as mulheres e homens devem cair em seus braços? – Indagou exasperada. – Pensa que depois do que aconteceu eu deveria me jogar para ti, me oferecer em uma bandeja de prata para que devorasse?

             Samantha pegou o protetor solar, passou pelos braços, ombros, depois nas longas pernas. Parecia ter todo o tempo do mundo.

            Ouvia as palavras que eram ditas e pensava que deveria simplesmente deixá-la ir embora de uma vez por todas. Era melhor que mantivesse distância, porém não era tão simples assim, sentia-se desafiada como há tempos não se sentia, humilhada...Ferida em seu âmago.

            – Sabe o que desejo, tenente da marinha real, fazer você engolir esse seu orgulho de goela abaixo. – Disse calmante. – Você decidiu me usar para sexo… Por que não disse que era só isso que desejava, eu teria caprichado mais na sua primeira experiência lésbica… – Levantou-se. – Eu deveria ter te mostrado como uma Víbora faz…

              Mel deu alguns passos para trás, pois de certa forma se sentia intimidada.

               – Vamos conversar em outro momento. Não há nada para falarmos agora.

               – Mas por quê , minha linda militar? – Estendeu a mão, mas a outra se afastou. – Quero que me diga se desejou apenas me usar…Conte-me, gostou de como fui tola em meus carinhos, tratando-a como se fosse um cristal frágil...Preocupando-me em fazê-la apreciar tanto quanto eu apreciava aquele momento...

                Não, não fora isso, mas não adiantava falar sobre isso agora. Encarou-lhe os olhos que pareciam escurecidos naquele momento.

               – Responda-me você, minha senhora, diga-me, gosta de usar seu charme para seduzir a todos? Usava sua beleza para se livrar dos soldados…e de quem mais? Do meu pai? – Provocou-a. – Fale, você, qual a sensação de sir por aí como um devassa?

               Os olhos estreitaram-se ameaçadoramente, mas continuava com o sorriso a brincar em seus lábios.

                – Sim, eu seduzia todos que aparecessem… precisava me livrar das emboscadas…usava minha beleza para isso...Há momentos que precisamos utilizar as armas que estão ao nosso alcance. – Umedeceu os lábios demoradamente. – Nunca fez isso?

                A morena deu mais uns passos e a filha de Fernando fez o mesmo, tentando manter distância.

                –  E está fazendo o mesmo comigo não é? Deseja que eu faça parte da legião de fãs que se jogam aos teus pés...

            -- Jogar-se aos meus pés? – Questionou em provocação. – Gosto que se jogue... Mas não nos meus pés...Há outros lugares bem melhores...

            Mel arregalou os olhos, pois entendera muito bem o que ela quisera dizer.

            -- Não quero saber das suas safadezas!

            Quando deu outro passo para trás, acabou caindo na piscina. Soltou um grito assustada.

                A Lacassangner riu alto, depois seguiu até a mesinha e tomou todo o conteúdo da taça.

            – Vamos aproveitar nosso dia…na piscina…

           Mel xingou-a mentalmente, enquanto emergia e olhava para a cara debochada da pirata.

           Viu-a se jogar na água e não demorou para tê-la perto de si. Observou-a, sentia-se fascinada com a beleza da fora da lei.

            – Que descuido, militarzinha, não imagina como estou me sentindo mal pelo que aconteceu. – Chegou mais perto, encurralando-a contra o azulejo. – Deixa eu te ajudar a tirar essa roupa para que não pegue um resfriado.

           Mel cerrou os dentes.

           – Deixe-me! – Ordenou tentando livrar-se das mãos que lhe tocava. – Deixe-me!

           – Não, rainha da marinha, eu vou cuidar bem de ti, imagina se ajo com uma pirata desalmada e sem educação, você é filha de um duque, aristocrata… -- Ironizava. – Deixe que essa pobre e desastrada serva lhe trate como merece.

              A Santorini viu-a lhe livrar da blusa rapidamente, nem sabia o que fazer, apenas observava a cena como se lhe faltasse forças para defender-se. Olhava-a concentrada em seu ato, via os lábios tão carnudos pertos dos seus. Fechou os olhos, sentiu os dedos longos que logo começava a se ocupar com a calça, em poucos minutos,  retirou-a, jogando para fora da piscina.

           – Agora sim, queridinha, você está ótima... Não vai correr o risco de morrer...

            A Santorini espalmou as mãos contra os ombros dela, tentando manter a distância. Via-a e era como se tudo se repetisse em sua cabeça, como a primeira vez que a viu em seu quarto...

            – O que você quer, Víbora? – Questionou com a respiração acelerada. – Que Diabos deseja?

            – O que eu quero? – Samantha Indagou com um arquear de sobrancelha. – Eu quero que me diga o que passou por essa sua cabeça oca quando veio aqui e se jogou nos meus braços.

           Ela via a raiva brilhar nos olhos azuis, sabia que estava furiosa e desejou que ela ficasse ainda mais. Queria feri-la também, ansiava que tivesse a mesma sensação de angústia que lhe apertava o peito. Sim, talvez tivesse agido errado, deixara-se levar pela vontade de amá-la, mas também não era a vilã daquela história como parecia ser pintada.

            -- Fala! – Samantha exigiu. – O que passou por sua cabeça ao iniciar essa brincadeira e depois agir com toda aquela frieza? – Bateu a mão fechada contra a água. – Responda-me!

             – Estava com vontade de experimentar como era fazer sexo com a famosa pirata… -- Gritou. – Todos costumam falar da sua performance, quis experimentar se era tão boa assim!

            -- E foi bom?

            -- Pelo que ouvia, pensei que fosse mais talentosa...

            Mentira!

            Nunca pensara que pudesse existir tanto prazer em ser tocada por uma mulher como fora...Mas não era qualquer um, era a Víbora do mar.

            O maxilar da Lacassangner enrijeceu.

            – O seu noivinho é tão fraquinho assim? – Pressionou-a com mais força. – Não consegue te satisfazer? É uma cadela no cio por acaso? – Ofendeu-a.

             Mel conseguiu empurrá-la e já levantava a mão para esbofeteá-la, mas dessa vez não funcionou, pois a pirata segurou-lhe o pulso com força.

             – Você gosta de bater não é? – Estapeou-a, mas não o fez com força. – Eu também gosto…Adoro bater...Não leu naquela sua agendinha sobre mim isso?

             Mel já se preparava para protestar, mas teve a boca esmagada bruscamente.

            Sentiu a língua forçar por entre seus dentes e mesmo que tentasse resistir não conseguia livrar-se. Mordeu-a, mas não parecia incomodar  filha do Serpente que parecia disposta a subjuga-la.

            Tentava soltar-se, empurrá-la, mas parecia impossível.

            Sentiu a língua passear por seus lábios, era como se estivesse sendo torturada. Sentia as pernas tremerem, ansiou por ela de forma tão miserável que se odiou.

            Odiava a fraqueza que sentia quando era tocada por aquela mulher, era como se não conseguisse resistir.

            Lentamente permitiu o beijo acontecesse...Sentiu o sabor de vinho...Queria abraça-la, aconchega-la mais uma vez em seu corpo, permiti-la conhecer cada pedacinho de si...

            Deus, estava perdida!

            Samantha apertou-se contra ela, esfregava-se à herdeira do duque. Não tinha mais o controle que construíra durante os longos anos.

             – Você deve ter lido muito sobre mim, garotinha estúpida, deve saber que não se brinca com uma pirata, ainda mais com uma tão perigosa...

              – Não tenho medo! – Voltou a tentar empurra-la. – Deixe-me ir.

              – Vou te deixar ir, mas antes vamos acertar nossas contas.

              Samantha voltou a lhe tomar os lábios, fe-lo de forma impetuosa, segurando-lhe as mãos para não acabar machucada. Aos poucos a carícia ficou mais intensa, sentiu-a corresponder, capturou-lhe a língua, chupou-a forte, tão forte que lhe arrancou gemidos roucos.

            Colocou a coxa entre as pernas da aristocrata, movimentava-a de forma a provoca-lhe a carne, incitá-la a ponto de vê-la entregar-se mais uma vez. Sim, sabia que ela também sentia o mesmo fogo que lhe habitava.

 Desceu a boca pelo pescoço esguio, enquanto sussurrava em seu ouvido.

          --Nunca mais vai brincar comigo…Vai aprender a nunca mais cruzar o meu caminho, tenentizinha birrenta.

           Os olhos dourados estreitaram-se em confusão, depois já sentia o toque nos seios. Observou-a abri-lhe o fecho frontal, viu-a usar o polegar para acariciar os mamilos, apertando-os...

             Mordeu o lábio inferior ao senti-los tão doloridos que teve a impressão que imploravam pelas carícias...Queriam o toque, estavam prontos para entregar-se, como se fosse ela sua dona.

              Observou tudo ao redor, imaginando se alguém apareceria e isso fez seu corpo ficar mais excitado.

               – Samantha… – Chamou baixinho. – Pare! – Tentava não se render. – Pare...

              A Lacassangner introduziu a mão por entre sua calcinha.

              – Fica molhadinha tão rápido…e não é da piscina… -- Exibiu um sorriso. – Sinta, apenas sinta...Dessa vez não irei decepcionar vossa majestade...

            Ela fechou os olhos e encostou a cabeça no pescoço da amante. Sentia o toque íntimo e desejou que não cessasse nunca...

            -- Samantha... – Voltou a chamar por ela. – Pare, está me deixando louca...

             A Lacassangner segurou a lateral da calcinha, rasgando-a. Livrando-se do incômodo tecido.

            – Tão frágeis essas peças íntimas…– Falou bem perto dos lábios rosados. – Vamos ver se está tão escorregadia como da outra vez…

            A pirata usou o polegar para massagear o sexo, sentindo-o receptivo.

            – Que macia… – Invadiu-a, mas não fez devagar, fê-lo forte. – Sinta… sinta…Está bom assim, birrentazinha!

            Mel semicerrou os olhos, mordendo o lábio inferior diante da brusca invasão.

            Fitou-a, buscava a mulher da noite passada ali...

            A face estava enrubescida.

                – Para…-- Tentou detê-la, mas foi repelida.

                – Por que quer que eu pare? – Penetrou-a mais forte. – Você não queria dar pra mim? Agora vai dar, tenentezinha!

             A Santorini sabia que deveria estar indignada naquele momento, porém seu corpo estava tão excitado, louco por ela mais uma vez, louca por ela, desesperada por senti-la um milhão de vezes até não aguentar mais.

             Samantha a encarou.

             – Você não é a única que pode fazer joguinhos…

             Usou dois dedos e fundiu-se a ela com toda sua indignação.

             Ouvia os gemidos e forçava-a mais e mais…

             Sabia que logo ela não resistiria. Sentiu a perna esquerda enrolar em seu quadril.

             – Eu não sou um brinquedo, não sou seu brinquedinho.

            A Santorini gemia enlouquecida. Não tinha mais como parar, nem queria que ela fizesse isso, só desejava mergulhar naquele mar perturbador de prazer que parecia querer traga-la.

            Chamou-a baixinho, implorando por ela...

              – Eu sou uma pirata...Agora você sabe que sou uma pirata!

              Samantha usou uma das mãos para esbofeteá-la, bateu-lhe novamente...

              Mel ficou indignada de início, mas o impulso em seu sexo ficava ainda mais gostoso, mesclado com o castigo que a outra queria lhe inflingir.

                Movia os quadris mais rápido, queria que ela aumentasse mais a pressão. Queria tudo o que ela pudesse lhe dar, tudo o que viesse daquela mulher...

            -- Por favor... Por favor... – Murmurava enlouquecida. – Eu...te quero...quero...

           – Você é muito apertada, tenente… fiquei com vontade de chupar e meter minha língua…-- Disse em seu ouvido. -- Veja, eu também sei bater, gosta de apanhar… gosta… gosta não é, dama da alta sociedade. – Esboçou um sorriso. – Faz tempo que merece uma boa surra! – Estapeou-a mais uma vez.

            Continuou a massagear seu sexo, aumentando mais e mais a carícia. Ouvia-a e sentia o próprio sexo implorar, mas não se entregaria daquela vez, não mesmo.

            -- Está bom par ti agora?

           Mel gritou em um orgasmo tão poderoso que pensou que iria desmaiar.

            Apoiou-se nela. Circundou-lhe o pescoço. Tremia como se estivesse congelando. Pensou se perderia os sentidos. As batidas do seu coração pareciam os tambores de uma escola de samba.

            Samantha cerrou os dentes fortemente. Esperou-a se recuperar, tentando não ceder a vontade que tinha de beijá-la, não o faria, não deixaria que a jovem Santorini tivesse em suas mãos seus sentimentos.

            Estava completamente apaixonada pela militar, porém não se entregaria a esse sentimento, não seria um brinquedo para a birrenta herdeira do duque.

            Deu alguns passos para trás, retirando os braços que abraçava seu pescoço. Viu o olhar confuso.

              – Você não sabe quem é a Víbora… – Fitou-a – nunca mais se aproxime de mim ou vai se arrepender pelo resto da sua vida!

           Mel ainda abriu a boca para falar algo, mas a Lacassangner nadou até a outra borda, saindo da piscina.




Comentários

  1. Uau
    Que capítulo foda. Eu tô dividida, sério. Uma de amor e odio. Você é realmente ótima em entrar na nossa cabeça, autora. Tô SEM CHÃO.
    Ansiosa por mais. Indiquei sua escrita pra minha amiga e ela está viciada. Um abraço.

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    1. A intenção é essa, dividir nossas emoções e opiniões. Como a própria Mel ponderou, a gente só julga as ações dela, mas não pensamos que ela tá enfrentando uma barra grande por estar apaixonada pela mulher que não deveria...tadinha da sua amiga, trouxe-£ para esse mundo de loucura kkkkk um abraço

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    2. É verdade, a Mel está sob uma pressão tremenda e poder ver ela externando isso com mais profundidade, faz com que a gente entenda.
      Ela adorou este mundo de loucura. Estávamos falando sobre. Geralmente, fofocamos sobre as obras que acompanhamos. E esta é com toda certeza nossa pauta do dia a dia. Ela logo, logo chegará a este cap. Enfim, sou sua fã. Obrigada por dividir seu talento conosco 😊

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    3. Então cuidado pra não passar spoiler. Deixe que ela chegue no capítulo. :)

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  2. Essa foi para a Mel aprender a lição de casa. kkkkkk Toma! Agora corre atrás.
    Fantásticoooooo!!! Amo a maneira como vc consegue mexer com as nossas emoções, pode ter certeza que estaremos aqui até o final.
    Amei o capítulo!
    Bjssss!

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    1. Oi, querida, realmente a Mel estava precisando de um chega pra lá, a Sam foi muito paciente durante os 24 capítulos, mas o sentimento também mexeu com o controle dela e devia estar pronta para fazer a jovem tenente aprender uma lição. Abraços e obrigada por estar por aqui.

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  3. Engraçado que não gostei da sensação que senti quando a Sam bateu na Mel, no entanto não me incomodo quando é o contrário, talvez porque acho que o lado mais forte é que deva apanhar, rsr. Muito fã das suas histórias e elas mexem enormemente com as minhas emoções, vida longa para você Geh, gratidão.

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    1. Eu tenho a mesma ideia, Eloísa, também acho o mesmo nesse quesito, mas as vozes da minha cabeça inventaram de fazer esse capítulo kkkkkk eu agradeço o carinho e a atenção com as minhas histórias.

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  4. Cheguei ao cap. 25 haaaa, agora vou ficar ansiosa pelos próximos, parabéns autora que trabalho lindo, duas personagens maravilhosas que personalidades, estou totalmente rendida. esse hot mds fico louquinha haha, abraços.

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    1. Olá, que bom, venho acompanhando a sua saga pelos capítulos e fico feliz por estar gostando. Fiquei até mesmo curiosa se é a amiga de outra leitora aqui que falou ter recomendado a minha história. É sempre um prazer ler os comentários que recebo, pouco tempo me sobra para responder, mas estou tentando fazê-lo, pois vcs quem me ajudam a construir a história. Abraços!

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  5. Valeu Sam! A Mel está precisando dessa atitude.
    Beijos autora.

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