A víbora do mar - Cpítulo 24 - Ponto para o almirante
O dia iniciava
ensolarado, algo bom para as festividades que aconteceriam naquela noite. No
caminho de volta encontrara alguns trabalhadores que executavam alegremente
suas funções, pois já imaginavam os prazeres que os aguardariam um pouco mais
tarde.
O duque e Sir Arthur sempre fizeram questão de patrocinar
aquela festa em especial, principalmente o almirante, já que nascera naquele
humilde povoado. Sua família era dona de quase todas aquelas terras, por essa
razão era tão respeitado por todos.
No retorno à fazenda Santorini, as duas mulheres também encontraram
vários subordinados da sheika que seguiam para a labuta.
Cristina observou a amiga seguir por uma bifurcação, fez
o cavalo acompanhar os passos, tomando mais cuidado, pois o terreno era bastante
acidentado, imaginando que ela seguiria primeiro até o canavial.
Mel observava com atenção as marcas que o fogo deixara.
Fora concentrado em um círculo e era possível ver que fora provocado para que
não se espalhasse. Moveu o cavalo devagar, percebia que se realmente a intenção
fosse incendiar, não haveria nada salvo naquele momento, teriam perdido o
trabalho de meses.
-- Tenho quase certeza que fora feito para incriminar
alguém...
A fisioterapeuta que parara o animal ao lado dela, fez um
gesto afirmativo com a cabeça.
-- Parece óbvio não é!
A tenente respirou fundo.
-- Está com seu celular? – Indagou a amiga.
-- Sim, estou, mas você sabe que não tem sinal.
A filha do duque estendeu a mão, pegou-o, tirou algumas
fotos, depois desmontou, seguia por entre a plantação. Pisava devagar e olhava
tudo com olhos investigativos. Fotografou mais algumas vezes, depois agachou,
tocava a terra...Estava fria...
Queriam incriminar a Lacassangner?
Essa ideia a incomodava bastante, pois era como tivesse
que acreditar que tudo o que já se passara fora armado contra a pirata.
Ouviu passos, levantando a cabeça, viu Matias
aproximar-se.
-- Conseguimos controlar as chamas, senhorita, graças a
Deus não houve prejuízos na plantação.
Ela fitava curiosa o empregado que mantinha em suas
terras a contragosto.
-- O delegado ficou de ir até a sede conversar com o seu
pai, irá apurar tudo, porém nós sabemos quem é a culpada.
Os olhos dourados estreitaram-se.
-- E quem é? – Indagou já sabendo qual seria a resposta.
O homem tirou um cigarro de palha do bolso da camisa,
depois o acendeu. Não parecia ter pressa para condenar seu culpado, melhor, sua
culpada favorita. Deu alguns tragos, em seguida disse:
-- Desde que apareceu por essas bandas, a Víbora do mar
vem causando todas as desgraças...Ela odeia a sua família, odeia a senhorita,
então não vejo outros suspeitos para esses atos de vandalismo. – Olhava tudo ao
redor. – Não quis lhe contar, mas alguns animais que pertence aos Santorinis
foram maltratados pelos trabalhadores da vagabunda, tudo por terem passado para
o outro lado do rio.
Mel não gostou da forma que ela se referira à mulher,
porém tentava manter o controle dos seus atos.
-- E por que os animais passaram para o outro lado? –
Indagou levantando-se. – Acho que se cuidasse melhor das nossas criações não
haveria esse tipo de incidente.
A expressão do peão demonstrou irritação, mas ele sabia
que não poderia agir desrespeitosamente com a patroa.
-- As terras da pirata oferecem muitos atrativos...boa
água, bom pasto...Foi muito triste que sua família não tenha conseguido fechar
o negócio com antecedência...Se tivessem apressado, não teríamos a infeliz como
vizinha... – Tirou o cigarro da boca, jogando-o no chão. – Se ela for
condenada, quem sabe não podemos tentar mais uma vez.
A militar observou a pequena chama acesa unir-se a palha
seca e logo algumas fagulhas renasciam, usou o celular para registrar o
ocorrido, depois gravou-o. Lentamente, ela foi até lá, pisando e apagando o
pequeno foco diante do olhar atônito do empregado.
-- Acho que qualquer um poderia ter provocado o incêndio
que aconteceu aqui ontem, você mesmo fê-lo agora. – Exibiu um sorriso. – Acho
melhor não fumar perto da plantação, na verdade eu acho que não deveria fumar,
faz mal à saúde. – Será que não foi isso que aconteceu para causar o pequeno
incêndio?
-- Claro que não, sou muito cuidadoso! – Negou indignado.
-- Sim, eu percebi. – Guardou o celular. – Se acusar a
Lacassangner, terá que provar sozinho, pois dessa vez não terá meu advogado
para livrá-lo de processos e também não entrarei nesse jogo para sair com cara
de idiota. – Alertou-o. – Então procure logo as evidências que a apontam como
culpada ou esqueça essa historinha.
-- Ela estava por essas bandas, fora vista na estrada...
O que fazia aqui? – Retrucou.
Sim, ela sabia que ela estava cavalgando, encontrou-a
chegando de um passeio norturno.
-- Acredito que ontem muita gente fora vista na estrada,
afinal, havia uma multidão em minha fazenda comemorando a festa da padroeira. –
Rebateu-lhe. – O delegado terá que interrogar a todos.
-- Seu pai...
-- Meu pai não é o dono dessas terras! – Interrompeu-o
calmamente. – Eu sou a dona!
O empregado baixou a cabeça diante do olhar desafiador da
patroa, pedindo licença, afastou-se.
-- O que pensa em fazer agora?
A voz de Cristina soou a suas costas.
Mel suspirou, encarando a amiga.
-- É óbvio que o Matias é um inimigo para a Samantha... –
A fisioterapeuta dizia. – Mas ele não está sozinho, segue ordens de alguém, não
acha?
A médica deu de ombros.
-- Melhor voltarmos para casa!
Seguiu até o cavalo, montando-o, pegaram o caminho de
casa.
O café na fazenda da Víbora tinha acabado de ser servido.
A esposa de Domingos sempre caprichava no desjejum, pois raramente a patroa
voltava para o almoço quando ia para a usina.
Serviu as deliciosas torradas, o bolo, sucos, cafés,
leite que tinha acabado de ser tirado da vaca. Também trouxe queijos e frutas.
Eliah tomava um pouco do líquido preto com torradas
quando viu a filha do Serpente aproximar-se já pronta para mais um dia de
trabalho. Olhava-a com curiosidade. Havia um brilho diferente nos olhos azuis.
Na noite anterior temera pelas duas mulheres,
assustara-se, imaginara que uma tragédia pudesse acontecer, mas depois
percebera que ambas se queriam com a mesma intensidade, deixando ainda mais
temeroso, pois sabia que haveria muitos problemas em seus caminhos.
-- Bom dia, minha senhora! – Cumprimentou-a com um
sorriso.
-- Bom dia! – Respondeu, sentando-se.
Samantha via a discrição presente no olhar do companheiro
de tantas aventuras, mas também havia curiosidade.
Serviu-se de um pouco de suco, depois pegou uma fatia de
um bolo que ainda estava quentinho.
Comia pensativa.
Ainda não acreditava em tudo o que se passara, ainda
achava que estava em um sonho quando se recordava dos beijos...dos toques...da
ardente tenente que teve em seus braços durante toda a noite.
Respirou fundo e teve a impressão que sentia o cheiro
dela...
O que faria agora?
Havia tanta coisa entre elas, uma história suja que pareciam
persegui-las...
Fechou os olhos e viu o olhar travesso e provocante...
Queria-a...Queria-a...queria-a ainda mais naquele dia.
Não desejara que amanhecesse, não quisera que ela tivesse partido, pois temia
que tudo voltasse ao normal e tornasse a enfrenta-la...
Fitou a aliança que sempre carregava em seu anelar
esquerdo.
Depois de tantos anos, entregara-se mais uma vez, provara
novamente do prazer que se negara por tanto tempo.
Cometera um erro deixando que sua paixão falasse tão
alto?
Tentara não sucumbir, fugira do desejo que sentia, porém
não pensara que a disciplinada militar seria tão ousada a ponto de lhe tirar
todas as defesas.
-- Ouviu o que eu disse, Sam?
Ela fitou o amigo com expressão confusa.
-- Eu estava dizendo que dei permissão para os empregados
irem até o povoado hoje à noite, as festividades da padroeira será na praça.
A morena suspirou pesadamente.
-- Só espero que não haja problemas, diga que tomem
cuidado e evitem cair em provocações.
Eliah a observava com atenção.
-- Pensei que depois de toda a guerra tivesse selado a
paz...
A sheika sentiu o rosto corar, depois exibiu irritação.
-- Calma, filha do Serpente, apenas foi um comentário
inocente.
-- Inocente? – Indagou deixando a comida de lado. – Sabe
muito bem que os Santorinis estarão nessa festa, o duque estará lá e não
acredito que as pessoas que trabalham aqui serão bem-vindas.
-- A tenente também estará lá...Pensei que agora já
fôssemos amigos...
A Lacassangner prendeu o fôlego só em ouvir a menção à
militar.
Pegou uma maçã, mordendo-a, ponderava, enquanto sentia o
sabor da fruta suculenta.
-- Preciso falar com a Miranda...
-- Por quê?
-- A filha de Fernando sabe que Iraçabeth é a minha mãe.
O velho fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Sim, eu sei, encontrei-a na cidade e a senhorita
Cristina me disse.
Os olhos azuis demonstraram surpresas.
-- E por que não me contou?
-- Pediram-me segredos...Não imaginei que ela viria até
aqui te enfrentar...e te contar... – Tomou um pouco de leite. – Acho que já é
hora da filha do duque saber muitos dos acontecimentos.
Samantha levantou-se exasperada.
-- Não entende que ela não deveria saber, é perigoso que
a Mel descubra essa história.
-- Eu já acho que você deve contar tudo para ela, diga
quem é o duque e quem é Sir Arthur.
-- O duque é o pai dela e Sir Arthur o avô querido que
sempre a protegeu de tudo e de todos os perigos... – Passou a mão pelos
cabelos. – Não quero que ela se intrometa em tudo isso, não sei o que há de
mais podre nessa narrativa maldita. – Enrijeceu o maxilar. – Também não
acredito que ela possa acreditar em mim em detrimento da família.
-- Está apaixonada por ela... – Eliah falou baixinho. –
Já parou para pensar em como será difícil essa relação?
A pirata sentou-se.
-- Não estou apaixonada! – Negou com veemência. – Eu não
poderia me apaixonar, ainda mais pela Santorini... Sinto-me atraída, é uma
mulher muito bonita...
-- Então é o quê? – Questionou com ceticismo.
-- Sexo! – Terminou de beber o líquido. – Simples não é.
A herdeira do Del Santorra é muito sensual, acredito que seja algo normal. –
Levantou-se. – Vou para a usina, não sei que horas retornarei, então não me
espere.
O velho assentiu, vendo-a afastar-se.
Sabia que ela negaria até o fim o que sentia pela jovem
militar. Não admitiria os próprios sentimentos, mesmo que fosse algo tão óbvio.
Via o brilho no olhar que ela exibia quando via a garota.
Tomou mais um pouco de café depois fez sua costumeira
oração..
A mesa tinha sido posta sob a sombra de uma árvore na
fazenda Santorini. Não estavam presentes apenas os membros da importante
família, mas as figuras públicas que participaram das festividades também
compartilhavam o desjejum.
Mel e Cristina aproximaram-se.
-- Filha, ficamos preocupados com sua ausência! –
Fernando foi logo antecipando, enquanto beijava as duas jovens. – Marina disse
que passou mal ontem e que tinha saído cedo hoje.
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Não era do seu costume mentir, mas sabia que não poderia
dizer que passara a noite nos braços da mulher que eles odiavam.
Juan foi até ela, tomando-lhe a mão possessivamente,
depois seguiram para acomodar-se.
A tenente viu o olhar perscrutador da cunhada para si,
viu sob as camadas de maquiagem que usava a marca que lhe deixara e não se
arrependia por isso. Ester merecera muito mais e teria feito se a amiga não
tivesse se intrometido.
A conversa transcorria animada. Sir Arthur contava
algumas aventuras no mar. Vez e outra fitava a neta, parecia analisa-la,
observar suas reações.
A militar apenas comia e ria de algumas anedotas.
-- Precisamos conversar.
O noivo lhe sussurrou.
-- O que houve? – Indagou virando-se para ele.
-- Minha irmã disse...
-- Sua irmã fora muito desagradável e serei bem honesta,
não a quero na minha casa.
Os olhos do Bragança demonstraram surpresa.
-- Você bateu nela!
-- Sim, ela me provocou e bati.
-- Você não é assim, amor, é uma dama. – Tomou-lhe a mão.
– Conversaremos nós três e tudo se resolverá. – Beijou-lhe. – Não esqueça que
ela está trabalhando para o seu avô, está seduzindo a Víbora para conseguir
informações para destruí-la... Ela está ajudando a fazer a mulher que fora
responsável pela morte da sua mãe pagar caro por ter retornado.
Mel cerrou os dentes fortemente, enquanto sentia uma
pontada no peito ao ouvir a acusação que carregara consigo a vida toda.
Não sabia o que mais a irritava, pensar que a cunhada
estaria nos braços da Samantha ou imaginar que a pirata era culpada por todas
aquelas barbaridades.
Meneou a cabeça e já abria a boca para falar algo, mas
decidiu que o melhor era se colocar em silêncio.
Sentia o ciúmes queimar em seu interior.
Não conseguia nem pensar que a sheika podia se entregar a
outras como fizera consigo. Feria-a imaginar que beijava outras bocas, que
tocavam em outros corpos...
Sentiu-se nauseada com esses pensamentos.
-- Bem, foi um prazer tomar o café da manhã com todos,
mas preciso ir para o meu trabalho. – Ester disse com um sorriso triunfante. –
Não me esperem para o almoço, quanto à festa, não perderei... – Deu uma pausa
mirando diretamente os olhos dourados – só se a Víbora me cansar muito... –
Levantou-se, deixando à mesa.
A tenente bebeu um pouco de água, sentiu o líquido
cristalino lhe queimar como se fosse fogo, igual a bebida que ingerira na noite
passada. Apertou tão forte o copo que pensou se não o quebraria.
Olhou para o avô, ele a encarava, parecia interessado em
acompanhar suas emoções.
Baixou a vista para o próprio prato.
Não acreditava que a Lacassangner pudesse ficar com a
cunhada depois de tudo o que houve entre ambas.
Estava tão irritada em imaginá-las juntas que temia não
se controlar.
Encontrou o olhar de Cristina de advertência. Baixou a cabeça,
pediu licença, depois seguiu para o interior da fazenda.
A fisioterapeuta viu o olhar curioso de todos, então
decidiu que era melhor ir até a amiga.
Mel encontrou a cunhada descendo as escadas.
-- Para onde está indo? – Indagou tentando não perder a
calma.
-- Vou ao encontro da minha maravilhosa pirata! – Disse
bem perto dela. – Estou levando a mochila porque talvez não retorne para casa
hoje... – Suspirou. – A Samantha é muito possessiva...Até já exigiu que assine
os papéis do divórcio...Mas sejamos sinceras, vale a pena, rica, linda, sexy...
e na cama é um furacão...
A tenente fechava as mãos ao lado do corpo.
-- Para a minha casa você não retorna hoje nem nunca
mais! – Disse por entre os dentes. – Não te quero em minhas terras.
-- Está me expulsando? – Indagou perplexa. – Sou irmã do
seu noivo.
-- Isso não te faz minha família!
-- Está louca! – A Bragança acusou-a. – Primeiro me bateu
e depois me expulsa. – Fez um gesto negativo com a cabeça. – Seu pai e seu avô
não deixarão que faça isso e se caso sua birra for muito grande a ponto de ir
contra eles, pedirei para a Sam me hospedar...
Os olhos dourados estreitaram-se ameaçadoramente,
enquanto tentava manter o controle.
-- Você não tem vergonha! – Disse por fim.—Vive se
oferecendo para uma pirata... Parece uma mercadoria barata.
-- E você trocou de perfume? – Ester indagou com ironia.
– Odeia tanto a Víbora a ponto de querer cheirar como ela!
-- Eu lhe dei de presente! – Cristina chegou e foi logo
dizendo. – Nem sabíamos que a filha do Serpente tinha o mesmo gosto que o meu.
A irmã de Juan olhava de uma para a outra.
-- Bem, vou indo, não quero me atrasar... Tenham um bom
dia.
A mulher afastou-se.
Mel seguiu para os aposentos tendo a fisioterapeuta em
seu encalço. Abriu a porta, depois de adentrar o espaço, seguiu até a janela,
observava o movimento no pátio, tentava manter o controle da respiração, pois
temia sufocar-se de tanta raiva que estava a sentir.
-- Não pode cair nas provocações da Ester! – Cris
advertia. – Ela sentiu o cheiro da pirata em ti!
A tenente começou a livrar-se das roupas ali mesmo,
depois seguiu para o banheiro e depois de alguns minutos retornou usando um
roupão.
-- Não tive tempo de me trocar, você disse para seguirmos
direto para a mesa. – Justificou-se aborrecida. – São tão íntimas que ela
identifica até o aroma da Víbora.
-- Se não tivesse vindo até aqui e chegado tão perto,
talvez ela não tivesse sentido...Realmente é um cheiro peculiar, delicioso e
não acredito que passe despercebido.
Sim, a Santorini concordava. Adorava sentir o perfume que
ela exalava. Tinha a impressão que estava impregnado em sua pele.
-- Não pode agir dessa forma com a irmã do Juan.
-- Eu não quero a Ester aqui, não quero! – Frisou. –
Quero-a longe de mim!
-- Não pode simplesmente expulsá-la, Mel, é sua cunhada,
além de amiga da sua família.
-- Eu a detesto!
Cristina observava a militar com curiosidade.
-- Na verdade você tem ciúmes, porém eu tenho certeza de
que a Samantha não tem nada com a Bragança!
-- Como pode ter certeza disso? – Indagou com as mãos na
cintura. – A Ester é uma mulher muito bonita, atraente, sabe seduzir e já
estiveram juntas no passado. – Suspirou, sentando-se na poltrona. – Tem a
Belinda também...
-- Amiga, eu acredito que a pirata gosta de ti... –
Acomodou-se na cama. – Não conversaram?
Mel fez um gesto negativo com a cabeça.
-- E o que fizeram durante toda a noite? – Indagou com
olhar saliente.
A tenente sentiu o rosto corar, depois umedeceu os lábios
demoradamente.
Passaram todas aquelas horas entregando-se ao desejo que
parecia não ser saciado. Sentia-se cansada das inúmeras vezes que fora
seduzida, das inúmeras vezes que fora arrebatada pelo prazer intenso.
-- Fiquei de ir até a usina para que pudéssemos
conversar...mas como irei até lá com a Ester?
A fisioterapeuta puxou a cadeira da escrivaninha,
colocando-a bem perto da amiga.
-- Me conte tudo o que se passou ontem. – Pediu ansiosa.
– Quero todos os detalhes!
-- Pelo amor de Deus, Cris, não vou te contar nada! –
Disse incomodada. – Não há nada que deva saber, são intimidades!
-- Não precisa narrar as partes do sexo, só o que houve
quando chegou lá... – Disse revirando os olhos.
A médica fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Contou todo o ocorrido até o banho gelado que fora
obrigada a tomar e a relutância da Lacassangner em entregar-se.
Em algumas partes, Mel ruborizava, enquanto Cristina
fazia caras e bocas ao ouvir a história. Ambas riam em algumas passagens.
Alguns minutos passaram-se até a fisioterapeuta emendar:
-- Eu acho que ela pensou que você ainda estava bêbada...Esse
deve ter sido o motivo para não ter te tomado nos braços rapidamente.
-- Depois de ter me jogado naquela água gelada? – Indagou
incrédula. – Fiquei sóbria rapidinho...
-- Você bateu nela também... Deus me livre, Marina ainda
queria que te segurasse ontem, até eu teria apanhado.
As duas gargalharam.
-- Há algo naquela mulher... – Dizia pensativa – não é de
agora, mas desde que eu era uma adolescente e ouvia as histórias...era como se
me perturbasse ao extremo...Sinto-me enfeitiçada...desejosa...
-- Está apaixonada...
-- Eu não sei, porém te juro que a última coisa que
desejava hoje era ter retornado para casa, queria ficar lá, queria ouvir a voz
baixa e controlada...Observar o olhar firme...abraçá-la... – Arrumou os cabelos
por trás da orelha. – Você acha que ela gosta de mim ou só me deseja
sexualmente?
-- Claro que gosta, eu vejo quando ela te olha.
-- E as outras?
-- Você também tem um noivo! – Retrucou.
A militar cobriu o rosto com as mãos.
-- Meu Deus, eu traí o Juan miseravelmente... – Confessou
com pesar.
-- Ele já te traiu tantas vezes...
-- Isso não justifica o meu ato... – Suspirou. – Preciso
resolver essa situação. – Levantou-se. – Não o amo, não quero me casar, acho
que já está mais que na hora de colocar fim nesse compromisso.
-- Concordo...
Ouviram batidas na porta. Trocaram olhares preocupados.
Alguém teria ouvido o que conversavam?
-- Posso entrar, Mel?
A voz de Sir Arthur foi ouvida.
-- Vou terminar meu café que estou faminta. – A
fisioterapeuta lhe deu um beijo. – Conversaremos depois.
O almirante entrou. Olhava a neta com curiosidade
crescente. Foi até ela, depositando-lhe um beijo na testa.
-- Tudo bem, filha? – Sentou-se na cama, depois bateu com
a mão para que ela se acomodasse também. – Não parece bem.
A militar aproximou-se, mas não sentou.
-- Acho que a bebida de ontem não me fez bem, estou com
muita dor de cabeça. – Justificou-se. – Não sou acostumada...
O homem assentiu, depois falou.
-- Matias me disse que ontem saiu a cavalo, depois não a
vi mais...Onde foi?
A médica engoliu em seco.
-- Ele me disse que...que havia fogo... queria ver...Temi pela plantação...
-- Entendo! – Dizia encarando-a. – Hoje pela manhã
acordei cedinho...Estive no estábulo...Seu cavalo não estava!
-- Eu saí...—Apressou-se em dizer. – Saí muito cedo.
-- Sim, é verdade, mas saiu sozinha, porque eu também vi
quando a Cristina saiu e ela estava sozinha...Por que a Marina falou que foram
juntas cavalgar?
A filha do duque empertigou-se, levantando o queixo.
-- Estou sendo vigiada, vovô? – Indagou aborrecida. – Não
sabia que deveria dar satisfação de todos os passos que dou... às vezes tenho a
impressão que esquecem que não sou mais uma garotinha, sou uma mulher.
O almirante parecia surpreso com a resposta que recebeu.
-- Apenas me preocupo contigo, ainda mais sabendo que a
Víbora está tão perto, ela é perigosa, traiçoeira, não tem ideia de como pode
te fazer mal. – Dizia calmamente. – Não deve confiar...É uma assassina...Foi
presa acusada de matar a própria esposa...teve sua mãe...
Os olhos dourados estreitaram-se.
-- A Víbora que é a sua neta!
O velho não pareceu surpreso diante do que ouvia.
-- Sim, vovô, eu sei que a Lacassangner é filha da
Iraçabeth!
O militar levantou-se, andava pelos aposentos, parecia
ponderar, depois se aproximou.
-- Quem te contou isso? – Segurou-lhe pelo braço. – Foi a
maldita pirata!
-- Não...—Negou. – Vi uma foto da sua filha...Não era
possível tanta semelhança...São idênticas...Como as pessoas que conheceram sua
única herdeira não fizeram essa ligação?
Não fariam porque Iraçabeth sempre vivera isolada de
todos, tivera poucas aparições públicas, sempre fora mantida reclusa, pois
tinha ideias que desafiavam o pai.
Arhur soltou-a, depois seguiu cabisbaixo até a poltrona,
sentando-se, olhava para os próprios pés em silêncio.
Mel sabia que não deveria ter falado, mas não conseguira
controlar a língua ao ouvi-lo cuspir tanta acusação contra a morena.
Fitou o homem que sempre admirara, via-o agora e não o
reconhecia.
-- Como pode viver assim? – Indagou inconformada. – Como
pode desprezar tanto alguém que tem o seu sangue?
-- O pai dela destruiu a vida da minha única filha... –
Falou baixinho. – Levou-a com ele, sequestrou-a... – Encarou a tenente. – Ele
sabia que ela não podia ter filhos...Seu pai quando apaixonara-se por ela
entendera esse fato, mas o desgraçado do Serpente queria se vingar de mim,
usou-a para isso! – Passou a mão pelos cabelos em um gesto nervoso. – Otávio
Lacassangner era um ambicioso militar, de início o admirava muito, era
destemido, impetuoso, um ótimo combatente, subira rápido, era tenente, mas ele
queira muito mais que isso...O olhar dele queimava pelo poder e fora isso que
pensara ao conhecer a minha frágil filha. – Dizia em lágrimas. – Ele não se
importara em comprometê-la, mesmo sabendo que estava para casar com o Fernando,
seu pai a amava, amava-a tanto que aceitara...—Soltou um doloroso suspiro. –
Otávio sabia que iria me atingir através dela, alertei-a sobre isso... Ele
nunca perdoo o fato de não ter recebido a promoção que o levaria a um posto
superior...
A médica ouvia tudo com cautela, pois não sabia mais no
que acreditar depois de tanta mentira.
-- Otávio buscou o poder, associou-se com os bandidos que
jurara combater, desonrara a marinha, desonrara a mim...Não se importava em
sair destruindo, matando apenas por seu bel prazer...Egoísta e arrogante, um
desgraçado que usara das armas mais baixa para me atingir e atingir o seu pai!
– Aumentou o tom de voz.
-- E que culpa tinha a criança que fora gerada? – Parou
diante dele, puxando uma cadeira, sentou-se. – Se o senhor a tivesse criado, já
parou para pensar como tudo poderia ter sido diferente? Seria sua herdeira, sua
neta...Teria evitado tanta coisa!
-- Ela é igual ao pai! – Meneou a cabeça. – Sim... Você
pode me ver como um monstro, mas me diga o que faria se estivesse na minha
posição e visse que seu sangue tinha que ser punido? Eu sempre cumpri a lei,
mesmo sabendo que ela era filha da Iraçabeth! – Levantou-se. – E quanto a
cria-la, como poderia fazer se ela fora levada para longe, escondida...
Reencontrei-a depois de anos, nem sabia quem era ela...Quando aconteceu o
assassinato da Marie percebi que nada pararia o ódio da Samantha...Ela está
fazendo o mesmo que o Serpente fizera...Está te usando contra mim!
Os olhos dourados começavam a trazer fagulhas de dúvidas.
-- O senhor a marcou a ferro quando era uma garotinha! –
Insistia. – Como foi capaz, vovô?
Sir Arthur trazia lágrimas e algumas desciam por sua
face. Começava a chorar copiosamente, era como se estivesse a rever a cena.
-- Sim...Fiz...Minh tripulação fora pega em uma emboscada
pelos piratas...Não sabia quem era aquela menininha de cabelos tão negros e
olhos da cor do mar...
-- Por que o fez?
-- Porque se não o fizesse eles a matariam! – Bateu com o
punho fechado contra a escrivaninha. – Eu fiz para salvá-la...Eu nem sabia de
quem se tratava...Depois que me falaram...O serpente apareceu e saiu matando a
todos, perdi minha tripulação naquele dia, homens inocentes, fui jogado no mar,
sobrevivi por um milagre...
“Meu pai matara a todos.”
Recordou-se de quando fora levada por Samantha e ela
contara sobre o ocorrido.
Mel Sentia-se confusa diante de tudo o que estava sendo
narrado. Passou a mão pelos cabelos.
-- Por que usou a Ester para prendê-la naquela noite? –
Indagou levantando-se. – Ela fora ferida...
-- E você cuidou dela...
Então ele sabia.
Sempre pensara que o almirante desconhecia esse fato.
-- Eu sempre soube, apenas nunca quis tocar nesse
assunto, pois sabia como carregava a culpa de tê-la salvado... – Meneou a
cabeça. – Somos parecidos, Mel, mesmo que agora esteja a me julgar, você sabe
que sempre se perguntou se sua mãe não estaria viva se não tivesse socorrido a
pirata... Eu faço a mesma pergunta...Porque não a entreguei às autoridades, fui
contra quem eu era para protege-la...Mandei-a para longe, pois sabia que se
fosse presa, seria morta...
-- Não há provas...Ela estava muito ferida...Como podia
atacar o cruzeiro? – Indagava em desespero.
-- Sim, mas também não há provas de que ela seja
inocente... – Aproximou-se, tocando a face da neta. – A Lacassangner não voltou
para retomar a vida como deseja que todos pensem, ela retornou para se vingar,
querida, vingar-se de mim, do seu pai...e eu acho que ela já sabe quem usar
para nos atingir... – Tocou-lhe os cabelos sedosos. – Ela não casou com a
sheika por amor, acho que ela não sabe o que é isso...desejava o poder...agora
está aqui e encontrou a vítima perfeita... – Meneou a cabeça em decepção. – Não
vou te repreender por ter caído nessa sedução...A pirata sabe usar a
beleza...Você não é a primeira...Meus homens passaram por isso... – Encarou-a.
– Seu pai também estivera nos braços dela...Ela o seduziu...
A médica cerrou os dentes, enquanto os olhos abriam-se em
horror.
-- Tome cuidado para não agir mais uma vez como fizera há
tantos anos...Temo que perca mais alguém, não acho que conseguiria sobreviver
com mais essa culpa. – Beijou-lhe a face. – Descanse, não foi um dia fácil para
ti.
Sir Arthur deixou os aposentos, deixando para trás uma
Mel totalmente arrasada e duvidosa.
Passara anos culpando-se pela morte de Marie. Assombrada
pelos olhos amorosos sem vida. Dia após dia arrependendo-se por ter salvo a
vida da pirata, por tê-la protegido e escondido do avô...
Sentou-se pesadamente na poltrona, enquanto mais uma vez
sentia a dor de anos pulsar ainda mais forte dentro de si. A saudade da mãe, as
noites de pesadelos sem poder correr para os braços da mulher que sempre a
protegera...
Soluçou.
Fechou os olhos e as cenas da noite anterior invadiram
sua mente...
Os beijos que lhe deixavam ser ar...
As carícias ousadas...
A forma que se movia deliciosamente contra si...
Já estava escuro.
Samantha passara o dia ansiosa pensando que receberia a
visita da Santorini, mas isso não aconteceu.
Já era noite quando subiu para o escritório.
Tudo estava pronto para ser colocado para funcionar. O
engenheiro e os mecânicos tinham passado todo o dia ajustando e fazendo
inúmeros testes nas máquinas.
-- Tudo foi um sucesso!
A Lacassangner sentou-se, enquanto via Ester aparecer com
uma agenda.
-- Consegui alguns fornecedores de cana, não foi fácil,
porém não desisti. – Entregou-lhe a pasta.
A morena observou a papelada.
-- Está de parabéns, pois pensei que daria mais trabalho.
Ela sorriu, depois seguiu até a estante e pegou uma
garrafa. Serviu em dois copos o líquido âmbar.
-- Vamos comemorar! – Sentou-se. – E relaxar, pois hoje
foi um dia difícil. – Bebeu um pouco. – Queria até te perguntar se teria algum
problema de ficar dormindo aqui na
usina.
-- Dormir aqui? – Indagou sem entender a pergunta. – Por
que dormiria aqui?
-- Porque fui expulsa da fazenda Santorini! – Bebeu mais
um pouco. – A Mel ontem me esbofeteou e hoje disse que não me queria mais lá.
-- E por que isso?
-- Porque eu te defendi das acusações...Todos estão
dizendo que foi você a responsável pelo fogo no canavial e eu abri a boca para
te defender e ela surtou.
Samantha recordou-se de que na noite passada ela falara
superficialmente sobre isso, acusando-a implicitamente, porém estava tão bêbada
que nem mesmo terminara as sentenças coerentemente.
-- Você é irmã do noivo dela...Com certeza vai repensar...
Deve ter feito em um momento de raiva.
-- Sim, porém já estou me cansando disso, por isso já
estou me antecipando e pedindo um lugar para ficar antes de ter as minhas
roupas jogadas no pátio da fazenda.
A pirata fez um gesto afirmativo com a cabeça, mas nada
disse.
Observou o copo de cristal, depois bebeu um pouco.
Não tivera como falar com a Miranda, tampouco com a
Belinda. Faria-o assim que chegasse, mas antes iria até o povoado, desejava
encontrar a filha de Fernando, ansiara por isso durante todo o dia.
A população ouvia o sermão do padre na praça do povoado.
A missa abria os festejos.
Fernando estava ao lado da esposa, pareciam apaixonados.
Mel estava de mãos dadas com Juan, o almirante, Ester e Cristina também
participavam do ritual católico.
A fisioterapeuta olhava para a amiga, percebeu-a bastante
calada. Não conseguira falar mais com ela no transcorrer daquele dia, pois a
tenente trancara-se no quarto e só saíra na hora de seguirem até o povoado.
O que teria se passado na conversa com o almirante?
Percebia muito séria e havia frieza em seus olhos
dourados. Preocupou-se.
A homília estendeu-se por mais de uma hora, depois o
padre encerrou e todos já seguiam para se divertirem.
Caminharam até a mesa que fora montada paras ilustres
pessoas. Como de costume, todos pareciam animados, exceto a herdeira do duque.
-- Você está bem? – Juan indagou depois de algum tempo. –
Parece que está em um velório e não em uma festa.
-- Estou com dor de cabeça e não gostaria de ter vindo. –
Respondeu secamente.
-- Seria de muita falta de educação se não tivesse vindo.
-- Por isso que vim, quis ser educada! – Disse
desdenhosamente.
Viu o olhar do avô sobre si, parecia analisa-la. Decerto,
ele ainda não contara nada ao duque, pois ainda não fora confrontada.
Foi oferecido bebidas, mas ela não aceitou. Ainda sentia
a ressaca do porre que tomara, só em sentir o cheiro do álcool, sentiu-se
enjoada.
Viu o olhar perscrutador de Cristina, arqueou a
sobrancelha em sarcasmo, depois voltou sua atenção para as pessoas que pareciam
animadas. Observou a banda subir ao palco. O prefeito discursava, depois de um
monte de frases vazias, chamou o duque e o almirante.
Ouviram fogos barulhentos e coloridos.
Mel levantou-se.
-- Para onde vai? – O Bragança questionou surpreso.
-- Preciso de um pouco de ar.
-- Espero que não suma igual ontem!
-- Quem sabe não é...Se eu sumir vai saber que estou em
paz dormindo na minha caminha. – Esboçou um sorriso.
A fisioterapeuta viu-a seguir entre a multidão e decidiu
ir atrás. Encontrou-a diante de uma barraca de tiro ao alvo.
-- O que você tem, Mel? – Cris questionou diretamente. –
Passou o dia trancada e desde que te vi, está com essa expressão fechada.
Tinha a impressão que tinha de volta a jovem que conhecera
na academia militar. Trancada dentro de si, fechada em sua concha, buscando
apenas uma finalidade em sua existência.
A tenente pagou a ficha e logo derrubou todos os alvos.
-- Estou bem! – Entrego-lhe os doces que tinha ganhado. –
Amanhã retorno cedo para a capital.
-- Mas só precisamos voltar depois de amanhã.
-- Tenho coisas para resolver. – Seguiu vendo as outras
brincadeiras. – Ficarei na mansão do vovô, não vou para o apartamento.
-- Por quê? O que você tem?
Antes que pudesse responder, sentiu alguém puxando a
barra da saia de couro. Abaixou a cabeça e viu uma garotinha loira, pequena e
com o rosto sujo.
-- O que houve? – Indagou agachando.
A menina fechou a mão em concha e cochichou-lhe no
ouvido.
Cristina entregou-lhe os doces que recebera da amiga e
viu-a afastar-se feliz.
-- O que ela queria?
A Santorini não respondeu de imediato, olhando tudo ao
redor. Buscava um par de olhos azuis a lhe observar, porém não os encontrou.
-- A Víbora está por aqui! – Dizia pensativa.
-- E você vai encontra-la não é? Afinal, ela se arriscou
em vir até aqui para te ver.
Os olhos dourados estreitaram-se.
-- Claro, jamais a deixaria esperando... – Disse com um
olhar misterioso. – Fique aqui, volto logo.
Samantha tinha estacionado o jipe por trás de uma antiga
construção. Não quisera ir até onde estava os Santorinis, tinha visto-os, viu-a
a bela militar, então pedira a garotinha para ir até ela.
Cruzou os braços.
Estava escuro, não havia ninguém por ali. Ao longe
conseguia ouvir a voz do duque a discursar.
Sentiu o vento frio lhe assanhar os cabelos.
Ouviu passos e ao se virar viu a bela mulher
aproximar-se.
Encantara-se quando a viu ao lado da família. Usava uma
blusa de botões sem mangas e uma saia longa de couro marrom. Os cabelos estavam
soltos. Achou-a ainda mais linda.
Mel seguia lentamente, sabia que começava um jogo
perigoso, mas não sairia daquela história carregando novamente o fardo grande
da culpa. Se realmente a Lacassangner sentia algo por si, usaria isso ao seu
favor.
Viu-a encostada no carro.
Usava calças jeans preta justa, camisa branca de mangas
longas e um colete de couro que lhe apartava os seios e destacava a cintura
fina.
-- Olá, Víbora! – Cumprimentou-a. – Pensei que não teria
coragem de vir até aqui.
-- Bem, a senhorita disse que iria até a usina, esperei e
esperei, mas nem sua bonita sombra esteve por lá.
A Santorini fitava os olhos azuis.
-- Tive um dia difícil...
A sheika a olhava curiosamente. Sentia relutante,
distante...fria...
-- O que se passa? – Segurou-a pelo pulso, trazendo-a
para mais perto. – Não parece a mesma de hoje pela manhã nem de ontem. –
Umedeceu os lábios demoradamente. – Aconteceu alguma coisa?
Mel desvencilhou-se do toque.
-- Apenas estou com dor de cabeça. – Deu-lhe as costas,
enquanto olhava tudo ao redor. – Não tinha como ir até a usina, iria encontra a
Ester...
Sentiu-a aproximar-se, o cheiro dela era enfeitiçante, a
respiração contra sua nuca. Teria que ser forte para não se perder no desejo
que sentia, deveria calcular cada uma das ações...Seduziria cada vez mais a
pirata até conseguir descobrir toda a verdade e ai dela se estivesse a mentir,
pagaria caro por isso... Não seria usada, não cairia em desgraça como
acontecera com Iraçabeth.
-- Deixe-me fazer uma massagem...Sinto-a tensa. –
Depositou as mãos em seus ombros. – Se tivesse ido até a usina eu poderia ter
inventado algo para me livrar da Bragança. – Continuava o relaxante toque. –
Passei o dia todo ansiosa para te ver... – Depositou os lábios em seu pescoço.
– Passei o dia lembrando de como fora delicioso amá-la.
Mel cerrou os olhos ao se recordar, depois deu alguns
passos para trás, tentava não cair na teia de sedução que parecia sufoca-la.
-- Se tivesse ido era para que conversássemos e não para
essas coisas...Afinal, passamos a noite juntas e todas as vezes que tentei
iniciar uma conversa, negava-se.
A Víbora exibiu um sorriso misterioso.
Abriu a porta do carro.
-- Entre, vamos conversar um pouco, tenente, aqui fora
está frio e muito escuro, mal consigo ver suas expressões.
Ela soltou um longo suspiro, depois fez o que fora dito.
Samantha acendeu a luz interna, depois fitou o perfil que
parecia inflexível.
-- O que houve, tenente?
-- Não houve nada, apenas não acho agradável que tenha um
monte de amantes... – Respirou fundo. – A Ester só falta gritar da sua
performance na cama.
-- Não tenho nada com a sua cunhada! – Segurou-a
delicadamente, fazendo-a sentar sobre suas pernas. – Não há nada! – Negou
firme.
-- E a outra? – Indagou encarando-a. – A Belinda!
A Sheika fitava a mulher em seus braços e pensava que não
podia lhe contar toda a história, Miranda não permitiria que o fizesse.
Usou as costas da mão para lhe acariciar a face.
-- Só desejo você, senhorita... – Usou o indicador para
lhe contornar os lábios. – Não há outras...
-- Gosta de mim ou só deseja fazer sexo comigo?
A Lacassangner fitava os olhos dourados, parecia buscar
algo lá.
-- Gosto de você, Mel... – Encostou a testa contra a
dela. – Gosto tanto que isso começa a me assustar... – Engoliu em seco. –
Assusta-me gostar de ti...
A militar sentia a intensidade do olhar para si, sabia
que estava sendo analisada, então tomou-lhe os lábios em um beijo.
Sentia o coração acelerar ao sentir a boca colada na sua,
a forma como ela se movia, como era macia, como a língua explorava
pacientemente como se desejasse apenas ficar ali eternamente.
Abraçou-a pelo pescoço.
Era tão difícil não perder o controle quando estava em
seus braços. Sentiu as mãos passearem por suas costas, depois seguirem pela
lateral dos seus seios, sentiu-os enrijecerem.
Sentou-a, montando-a de frente.
Abriu os botões e expôs os seios protegidos por um
delicado sutiã.
-- Como pode ser tão linda? – A sheika dizia embevecida.
-- Você também é maravilhosa, Samantha... – Agora começou
a livrá-la do colete, em seguida, abriu-lhe a blusa. – É tão perfeita... –
Abriu o fecho frontal. – Sinto que não há nada mais que deseje a não ser
você...
-- Vamos para a fazenda comigo... – Acariciava-lhe os
seios. – Te trago de volta... – Usava o polegar para brincar com o mamilo
durinho. – Prometo que não terá problemas...
-- Sabe que não posso... – Dizia com a respiração
acelerada. – Preciso retornar para a festa... – Sentiu as mãos lhe massagear as
coxas sob a saia. – Precisamos conversar...Há tanta coisa para me explicar...
-- Fique mais um pouco... Deixe-me ter certeza de que
ontem não foi um sonho...
A herdeira do duque sentia a paixão que emanava da
inimiga, sentia o calor lhe sufocar a ponto de não conseguir manter o
raciocínio.
Passara toda a tarde trancada no quarto ponderando sobre
suas ações e como deveria agir depois do que passara. Ficara na linha com o
detetive que contratara por longas horas, ouvia-o narrar atos suspeitos da
filha do Serpente, ele enviara algumas provas que em parte corroboravam com o
que fora dito por Sir Arthur, mas não podia tê-las como a verdade definitiva,
por isso decidira planejar aquele jogo perigoso de paixão, aproveitar-se da
atração que havia entre ambas para definitivamente conseguir esclarecer toda aquela
história. Sabia que não era certo o que estava a fazer, porém se realmente ela
fizesse parte da vingança tão ansiada pela pirata, seus atos seria
justificáveis.
Fechou os olhos ao ouvi-la sussurrar em seu ouvido,
ruborizou ao sentir os dedos delicados sobre a seda da sua calcinha.
As bocas já voltavam a se encontrar quando um carro
passou por elas em alta velocidade.
A Santorini voltou para o banco do passageiro, enquanto
arrumava as roupas.
-- Não podemos fazer isso aqui, Lacassangner, preciso
voltar para a festa.
A morena lhe segurou pelo braço.
-- Vá até a fazenda amanhã...
-- Amanhã cedo retorno para a capital! – Dizia enquanto
arrumava os cabelos. – Voltarei para o trabalho.
-- Mas tão rápido...
-- Sim! – Sorriu. – Não sou você que fica aqui brincando
de fazendeira.
Samantha sentia que havia algo errado, mas preferiu não
voltar a questionar.
-- Está bem, volte para a festa, também estou cansada,
preciso de um banho e da minha cama.
-- E quando retorna para a capital? – Indagou ansiosa.
-- Não sei, acho que vou ficar mais um pouco brincando de
fazendeira.
Mel mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente,
enquanto admirava o perfil bonito.
Sabia que não podia agir assim com tanta frieza, mas não
estava conseguindo disfarçar os sentimentos e a raiva que sentia.
-- Então quando cansar, retorne e nós conversaremos.
Depositou um beijo rápido em seus lábios, depois deixou o
carro.
Cristina permaneceu no mesmo lugar e ficou surpresa ao
ver a amiga se aproximar.
-- Pensei que demoraria mais.
-- Ah, não, apenas o suficiente para deixar a pirata
enlouquecida por mim.
-- Não entendi...
-- Bem, vou usar o que a Samantha sente para lhe armar
uma armadilha, fazê-la pagar por seus pecados...
-- Pecados? – Indagou perplexa. – Que Diabos está
falando?
-- A Víbora não é inocente nessa história toda.
-- Sir Arthur te envenenou direitinho... – Meneou a
cabeça em decepção.
-- Talvez eu apenas tenha aberto os olhos...
-- Seu jogo é perigoso...Está agindo igual a Ester. Vai
entrega-la também ao almirante?
-- Quero apenas me resguardar e não ter que viver
novamente com o fardo da culpa.
-- E não se sente culpada por estar usando os sentimentos
de outra pessoa? Já pensou em como vai ser quando ela descobrir seu plano sujo.
Mel umedeceu os lábios demoradamente.
-- Bem, não será algo tão ruim, afinal, ela vai poder
satisfazer a lascívia dela em meu corpo.
-- Não estou te reconhecendo!
-- Eu passei muitos anos, Cristina, me sentindo culpada
por ter ajudado a Víbora, senti-me culpada por tê-la cuidado, senti-me culpada
porque a minha mãe fora morta e não vou repetir o mesmo erro.
-- E você está pronta para o que vai te acontecer depois
que ela descobrir teu jogo? Eu mesma não gostaria nunca de estar em tua pele.
A fisioterapeuta afastou-se.
Eu não tô bem KKK
ResponderExcluirNossa, essa capítulo me deixou depre e decepcionada com a Mel. Pqp!
Vontade de socar a cara dela.
Acredito que a Mel terá muitos problemas ao resolver seguir por esse caminho, não é bom brincar com os sentimentos de alguém como a Samantha...
ExcluirA Víbora perto da Mel é uma Caninana (cobra sem veneno). Rsr
ResponderExcluirOlha que ela ainda vai mostrar o veneno viu kkkkk
ExcluirA víbora não é burra Mel,mesmo apaixonada ela vai descobrir seu jogo. A Mel ainda vai fazer muitas besteiras,mas espero que pague caro por sua ingenuidade(burrice),pois conheceu as maldades do velho e continua nessa. Sam,tomara que faça a Mel se ferrar.(Que raiva!!!).
ResponderExcluirEm choque com os planos da Mel!
ResponderExcluirE eu achando que depois de uma noite de amor a Sam cantaria: "Mel, tua boca tem o mel" kkkkkkkk
Samantha não merece ser traída mais uma vez. 😔
Olá! Tudo bem?
ResponderExcluirAlguém surpresa com o rumo da história? Sério?
Temos uma víbora que gosta de ser enganada e uma pseudo médica militar que ainda não saiu da adolescência... É claro que só poderia acontecer isso...
Enfim, esperemos o desenrolar da trama...
É isso!
Post Scriptum:
Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.
Friedrich Wilhelm Nietzsche,
Filósofo.
A citação caiu como uma luva não é...uma Víbora e um pseudo tenente...mas ainda teremos muitos momentos para as duas mostrarem quem realmente são nessa complicada história kkkkkkkk um abraço!
ExcluirTe amo Gerlane. Você escreve o tipo de romance que eu amo ler.
ResponderExcluirOlá, querida, agradeço o carinho e por esses anos de parceria, é sempre um prazer encontrá-la por aqui. Um abraço.
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