A víbora do mar - Capítulo 14 - O casamento
Era possível ainda ouvir
o som da chuva caindo lá fora. Alguns trovões faziam-se ressoar.
Marina e Cristina olhava para as duas mulheres.
A Santorini estava tão corada que parecia que tinha
colocado blush nas faces. Samantha já não demonstrava nenhum sentimento. A
expressão apenas denotava desinteresse, como se nada tivesse acontecido naquele
quarto.
A fisioterapeuta tentava falar, mas parecia engasgada,
tentou novamente e dessa vez conseguiu.
-- A gente bateu... – Olhava para a amiga. – Mas ninguém
respondeu, então entramos... – Começou a recolher as coisas que caíram no chão.
– Viemos aqui porque a babá queria trazer um chocolate quente...pra aquecer...e
eu vim ver se estava tudo bem, afinal – levantou a cabeça fitando as duas –
vocês são inimigas, pensei se não estariam se matando...ou...
Mel cruzou as mãos sobre os seios, mas se arrependeu,
pois ainda estavam sensíveis com os toques que recebera. Nunca seu corpo
estivera tão fora de controle como nas vezes que aquela maldita mulher ousara
tocá-la.
Respirou fundo, como se estivesse buscando forças para
falar.
Olhava para a babá e via como parecia surpresa e
assustada com o que acabara de ver, diferente da amiga que trazia uma expressão
divertida em seu olhar.
-- Eu converso com vocês duas daqui a pouco, deixa apenas
que eu resolva um probleminha.
Marina não conseguia falar nada, apenas assentindo,
deixou os aposentos ao lado da fisioterapeuta.
A Lacassangner sabia que não deveria ter cedido ao desejo,
mas ter aquela mulher tão perto de si fora muito para seu autocontrole.
Realmente tinha que admitir que havia um problema seríssimo. Sentia-se muito
atraída pela tenente, atraída como nunca ficara por outra pessoa. Nem mesmo em
seus romances adolescentes sentira essa vontade incontrolável de sentir alguém
como acontecia com a militar.
Passou a mão nos cabelos úmidos, viu a filha do duque ir
até fora do quarto e voltar com suas roupas. Permaneceu parada quando ela jogou
as peças contra si.
-- Como ousou me tocar? – Mel esbravejava. – A minha
vontade é voar sobre ti para ver se aprende uma lição.
A morena apenas a encarava.
-- Acha que sou uma vagabunda como você? – Indagou
apontando-lhe o dedo. – Nunca mais ouse se aproximar de mim, maldita Víbora! –
Bradava. – Vou te denunciar, assim nunca mais verei a tua cara!
-- Olha, tenente...
-- Não fale comigo! – Retaliou. – Nunca mais dirija sua
palavra a mim... Eu preferiria ter morrido naquelas águas que ter suas mãos
encostando no meu corpo!
A filha do Serpente retesou o maxilar.
Não era uma situação fácil lidar com a jovem militar. Ela
agia impetuosamente, atropelando que tudo que estava diante de si sem ao menos
dar uma chance para dialogar. Quando fazia uma afirmação não deixava espaços
para argumentos ou negociações.
Fitou os olhos que agora pareciam queimar como fogo.
-- Da próxima vez eu deixo! – Recolheu as roupas molhada.
– Você não passa de uma garota estúpida e mimada, esse seu orgulho... Cedo ou
tarde vai ter que engolir!
Mel aproximou-se furiosa, levantou a mão para
esbofeteá-la, mas a pirata foi rápida, segurando-lhe o pulso.
Fitaram-se durante longos segundos.
A filha do duque sentia o ódio pulsar em cada célula do
seu corpo.
-- Se você bater na minha cara eu te coloco no colo e
encho de tapas o seu lindo traseiro, coisa que seu pai deveria ter feito para
que não criasse um ser tão insuportável! – Empurrou-lhe. – Vou me vestir e ir
embora, Santorini. – Pegou as roupas. – A calcinha você fica com ela, estou
muito molhada para usar essa peça! – Esboçou um sorriso.
Mel desviou da peça que voou em sua direção, enquanto
sentia a face pegar fogo, pois entendera o que lhe fora dito por último.
Viu-a deixar o quarto, decerto iria procurar outro lugar
para se trocar.
Sentia uma raiva incontrolável em seu interior. Se pudesse
teria trucidado aquela vagabunda com suas próprias mãos. Queria gritar,
esbravejar, descontar a afronta que mais uma vez sofrera.
Sentia a indignação queimar ainda mais forte dentro de
si, sentia a vontade de destruí-la, o anseio de fazê-la pagar por tudo que fez.
Observou a minúscula calcinha caída no chão. Pisou-a como
se quisesse fazer o mesmo com a dona.
Usou as costas da mão para limpar os lábios, fazendo-o de
forma grosseira, parando apenas ao sentir dor. Porém o padecimento não fora
resultado do seu ato, mas do beijo que recebera, como se quisesse lhe devorar a
carne.
Respirou fundo!
Iria falar com o advogado, buscaria todos os meios para
manter a Lacassagner longe de si. Acusaria-a, deixaria claro que ela era uma
ameaça, mas não permitiria que voltasse a se aproximar.
Ouviu movimentações lá fora, seguindo até a minúscula
janela, então a viu montar no garanhão preto e sair a todo galope na chuva.
Ouviu a porta abrir, mas não fitou, pois sabia bem de
quem se tratava.
-- Nossa, até a calcinha fora deixada para trás...
A Santorini virou-se para mirar a amiga com uma expressão
furiosa.
A fisioterapeuta levantou as mãos.
-- Calma, eu não sou a Víbora! – Sentou-se na cama. –
Confesso que fiquei surpresa com o que vi, pensei que estariam se matando e não...
-- Ela quem me agarrou – Protestava indignada -- aquela
mulher é uma vagabunda, uma desavergonhada, uma safada ridícula!
Cristina mordiscou o lábio para não rir.
-- Bem, pelo ângulo que vi, foi totalmente o contrário.
A tenente caminhou pisando duro até a amiga.
-- Está insinuando que eu quis? Que compactuei com
aquilo? – Respirou fundo. – Ela me agarrou quando estava cuidando dos
ferimentos... Espero que tenha uma infecção e morra!
E se tivesse sido outra pessoa a presenciar àquele
vexame? E se fosse o noivo? O padre? O pai ou o avô?
-- Amiga, você tá com muito ódio nesse coraçãozinho, não
pode ser assim não.
-- Eu vou destruir Samantha Lacassangner, vou fazê-la se
arrepender de ter cruzado o meu caminho...
Cris percebeu que não deveria continuar a provocar a neta
de Sir Arthur, então apenas ficou ouvindo tudo o que ela estava dizendo.
Samantha seguiu até a usina, desceu do cavalo e foi ver o
que tinha acontecido.
Inspecionou cada canto da construção, vendo do alto o
caminho que a água tinha tomado, desviando devido às barreiras que encontrara
no caminho.
O jipe já estava estacionado lá e o segurança veio falar
consigo, demonstrava preocupação pela demora.
-- O Domingos e a Eliza seguiram para o distrito, não
tive como ir até lá.
A Lacassangner colocou o cavalo no reboque.
-- Acho que as águas desviaram, felizmente está tudo bem!
– Disse terminando a inspeção. – Podemos retornar para a fazenda agora.
O segurança assentiu, enquanto seguiam para o veículo.
Teria que contratar alguns químicos para trabalhar e
buscar um fornecedor para a cana de açúcar. Também teria que buscar
trabalhadores para que pudesse dar início ao processo.
Seguiam lentamente, pois havia bastante poças de lama. A
chuva tinha amenizado, mas ainda havia bastante detritos sendo carregados pela
água da barragem.
Sentia frio, pois tivera que usar a roupa toda molhada e
acabara deixando a capela sem usar a capa, nem sabia onde tinha deixado.
Inclinou a cabeça para trás, tentando não pensar no que
acontecera há algum tempo. Perdera novamente o controle, não poderia deixar que
isso acontecesse, estava ficando perigoso sentir o desejo queimar mais forte.
Queria possuí-la, fazê-la engolir aquele orgulho, fazê-la admitir que também
sentia o mesmo. Sim, percebera isso, ouvira os gemidos ao lhe acariciar o colo,
ao beijar os lábios tão bem desenhados...
Respirou fundo.
Não podia continuar com isso... Era como se estivesse
prestes a se jogar de um precipício.
O sexo ainda doía pela interrupção do interlúdio. Ainda
sentia o gosto da boca arrogante... Tocara nos seios redondos... Quisera passar
a língua nos mamilos, senti-la...
Que maldição era aquela?
Não queria, não podia se entregar, não deveria voltar a
aproximar-se.
O carro do duque estacionou na frente da casa grande.
Trazia junto consigo, Sir Arthur, Juan, e Ester. A esposa não o acompanhara,
tivera um problema e decidira ficar na capital para resolver.
A razão daquela visita era que precisava convencer a
filha de remarcar o casamento, precisava que ela deixasse o país o mais rápido
possível, apenas assim poderia ficar tranquilo e agir contra a Lacassangner.
Mel estava na sala e recebia a todos com simpatia.
Fazia dois dias do ocorrido na capela. Assim que
retornara, entrara em contato com o advogado e pedira que o advogado
conseguisse manter a pirata afastada de si, ainda não tinha recebido resposta,
mas esperava conseguir.
O noivo foi ao seu encontro, depositando um beijo em seus
lábios.
-- A Marina fez um almoço maravilhoso e acredito que em
pouco tempo vamos comer. – Disse tentando mostrar entusiasmo.
Arthur a abraçou, depois o pai fez o mesmo. Apenas a
cunhada permaneceu sentada.
A tenente tentava esconder que a presença da Bragança não
era bem-vinda, não a queria ali, ainda mais quando sabia quais eram as
intenções dela.
Todos se acomodaram e uma empregada apareceu com uma
jarra de sucos.
-- Estamos aqui porque queremos que escolhamos a data do
casamento, filha. – Fernando falou sem rodeios depois de um gole do refresco.
-- Até já falei com o padre. – Cruzou as pernas. – Também falei com Ernesto,
assim que retornará da lua de mel poderá retomar seu posto.
Os olhos dourados brilharam com a notícia.
-- Sim, amor, estamos pensando em fazer toda a cerimônia
em um navio, vai ser maravilhoso, tenho certeza de que vai amar.
A Santorini ponderava que talvez aquela fosse a solução
para os seus problemas.
Poderia retornar à marinha e casaria com o empresário,
assim se livraria dos pesadelos que continuavam a persegui-la.
Viu a amiga aparecer, sabia que ela tinha ouvido a última
parte da conversa, mas preferiu ignorá-la, pois sabia que se a olhasse, veria o
olhar inquisidor.
Cristina chegou cumprimentando a todos.
Escutara a menção ao enlace e ficou a observar a amiga por
alguns segundos. Imaginava se ela protestaria diante da insistência do
casamento como sempre fazia, porém não fora isso que aconteceu, manteve-se em
silêncio, de forma que era possível entender que dessa vez concordaria com o
matrimônio.
Percebera como Mel estava estranha, como se comportara
depois que retornaram do distrito. Agia com total frieza e já ordenara aos
empregados que não deveriam deixar ninguém da fazenda da Víbora aproximar-se
dos limites das suas terras, até mesmo ordenara que usassem armas se assim
fosse preciso.
Não acreditara quando ela falara que fora forçada pela
pirata. Conseguira ver bem que ambas participavam do interlúdio sensualmente.
Para si estava claro que a Lacassangner desejava a
tenente... E a tenente estava negando desejar a inimiga.
Iria casar para fugir do desejo?
-- Podemos marcar para dentro de dois meses, amor, tudo
estará pronto até lá, vamos fazer uma lista de convidados... – Juan dizia
entusiasmado.
A Santorini ouvia tudo, percebia como faziam os planos
para suas núpcias, mas ela nada dizia, apenas esboçava gestos de assentimentos,
aceitando que o enlace deveria acontecer o mais rápido possível.
Viu o olhar inquisidor da fisioterapeuta em sua direção,
mas voltou a postergar.
A Cris já tentara inquirir várias vezes sobre o ocorrido
nos aposentos da pequena casa do padre, mas deixara claro que nada sobre o
ocorrido deveria ser dito ou comentado.
Odiava Samantha!
Mais cedo conseguira falar com o detetive e pelas
informações que lhe dissera, não havia dúvidas dos crimes que aquela mulher
cometera. Assim que contraísse núpcias e voltasse da lua de mel, retornaria ao
seu posto na marinha e não pouparia esforços para provar a culpa da pirata.
Observou Ester.
Ela apenas tomava refresco e exibia um sorriso delicado
como se fosse uma mulher inocente.
Marina veio avisar que o almoço estava servido.
Samantha observa o jet-ski que fora colocado no grande
lago que cortava suas terras e seguia até os limites da fazenda dos Santorinis.
Ainda não tinha se aventurado, porém Belinda insistira
tanto que estava às margens. Usava um minúsculo biquíni preto, um colete azul.
Os cabelos estavam soltos, também estava com os óculos de aviador.
A agente era sempre muito entusiasmada e transformava qualquer
coisa em uma grande festa.
-- E então, sheika, está pronta? – A loira indagou.
Antes de responder, olhou-a.
Era
muito bonita e sempre deixara claro que não se importaria em envolver-se
sexualmente com a pirata, nada que atrapalhasse a relação profissional que
tinha, mesmo assim a filha do Serpente do mar não sentia-se tão certa que
deveria fazê-lo, pois não era por ela que seu corpo clamava.
-- Sim, estou! – Montou no veículo aquático. – É um lago
muito grande. – Dizia olhando tudo ao redor.
-- Sim, vai até além das terras da sua vizinha! –
Posicionou-se atrás da morena. – Pelo que sei, não só você, mas outras pessoas
utilizam essas águas para irrigação. – Depositou um beijo no pescoço esguio. –
Pode seguir, confio em ti.
A Lacassangner deu a partida. Seguia lentamente, apenas
aproveitando o vento em seus cabelos.
Depois de longos dias de chuva, o sol voltava a brilhar.
Decidira aproveitar o domingo, pois logo teria que retornar à capital e depois viajaria
ao Oriente. Deixara claro para a Miranda que desejava acompanhar de perto as
investigações do assassinato da esposa. Em poucos dias faria mais um ano do
crime que ainda não fora solucionado.
Na sexta-feira recebera a presença do seu advogado.
A Santorini abrira um processo contra si, ousara
justificar que a presença da pirata era uma ameaça a sua pessoa.
Samantha acelerou um pouco mais.
Assim era melhor, pois não iria ceder ao desejo pela
filha do duque.
Porém não fora apenas isso que começara a acontecer.
Sabia que ela estava agindo contra si mais uma vez. Novamente fora destruída
uma das cercas que limitavam o acesso do gado, com isso duas cabeças
desapareceram. Domingos também informara que na cidade, aumentava a agressão
contra si e os outros que trabalhavam lá.
Aumentou mais um pouco a velocidade.
Mel cavalgava por sua fazenda, Ester e Cristina estavam
consigo.
O noivo, Sir Arthur e Fernando tinha ido até a cidade,
mas não demorariam para retornar. Ela sabia que eles se reuniam com os líderes
locais para tornar a vida da pirata cada vez pior. Dessa vez não se
intrometeria, afinal, nada estava a fazer, manteria total inércia diante dos
acontecimentos. Estava convencia que era aquilo que a Víbora merecia, desprezo.
Respirava o ar puro da manhã, sentia-se bem ao sentir o
sol queimar em sua pele.
A Santorini decidira sair para relaxar um pouco, aceitara
a companhia da amiga, mas não gostara quando Ester mostrara-se interessada,
seguindo com ambas.
Fez com que o animal acelerasse o passo.
Aprendera a montar com a mãe. Marie amava aquelas terras,
era seu lugar favorito para passar as férias e mesmo que a filha gostasse mais
de estar ao lado do pai navegando, conseguira fazê-la se apaixonar por aquele
mundo de calmaria.
Suspirou.
A saudade sempre estava presente em sua vida.
-- Vamos para a margem, quero nadar um pouco!
A tenente ouviu a voz da amiga, então seguiu por entre as
árvores, fazia mais lentamente, pois sabia que o terreno era mais encharcado,
ainda mais após as chuvas que seguiram quase diariamente.
Havia uma reserva da mata atlântica naquela parte e logo
que atravessavam ficavam diante do enorme lago de águas cristalinas que cortava
a fazenda.
-- Estou com fome. – Cris afirmou ao desmontar. –
Deveríamos ter trazido uns lanches, seria bom fazer um piquinique.
Mel observou-a despir-se, ficando apenas de maiô. Sabia
que ela faria isso. Era comum quando iam até ali tomarem banho, porém não a
imitou, apenas se acomodou sobre uma pedra grande, observando tudo ao redor.
Viu a cunhada aproximar-se.
-- Podemos voltar? – Dizia aborrecida sem descer do
animal. – Há mosquitos aqui, imagino as doenças que podem transmitir.
-- Bem, você veio porque quis, então se não gosta,
retorne para a casa grande. – Disse com um sorriso. – Acho que sabe o caminho.
Dobrou as pernas, encostando os queixos nos joelhos.
Ouvia o som dos pássaros, a calmaria da natureza.
Talvez agora começasse a se sentir mais tranquila, mais
segura e controlada depois dos dias que passaram. Distraia-se ao planejar o
casamento e ver Juan falando sobre onde iriam morar, deixando-a que decidisse,
isso a agradou bastante, pois não queria seguir para fora do país.
Mesmo com a insistência do Bragança, não fizeram sexo,
não sentia vontade e chegava a se sentir suja pelo que tinha acontecido. Como
se tivesse traindo-o...
-- Não vai aproveitar a água, tenente, não sabe nadar? –
Cristina a provocava, jogando-lhe água.
-- Sei bem mais que você, mas não vou até aí só para te
provar isso.
A fisioterapeuta gargalhava.
A Santorini ficou de pé sobre a rocha e logo começava a
se livrar da camiseta, expondo um biquíni branco, depois fez o mesmo com as
botas e logo se livrava das calças.
-- Não vai, Ester? – Indagou fitando a outra sobre os
ombros. – Lá os mosquitos não picam... – Enviou-lhe um sorriso debochado. – só os
peixes... mas não tem piranha...
Mel jogou-se na água, nadando durante alguns segundos,
depois parando ao lado da amiga.
-- Acho que sua cunhada não gosta de banho.
A Santorini riu da brincadeira, enquanto aproveitava o
líquido frio refrescando a pele.
Fazia tempo que não ia até ali, ainda mais devido às
tempestades que assolaram a região. Começava a recardar doações para poder
reconstruir as casas que foram destruídas. Os desabrigados continuavam usando a
escola como habitação, alguns também se hospedaram na casa dos familiares.
Ambas ouviram um som distante e logo ia ficando mais
alto. Viraram a cabeça e foi quando viram o jet-ski aproximar-se pelo outro
lado da margem. Há muito tempo não via aquele tipo de veículo por aquelas
áreas.
Os olhos dourados estreitaram-se para observar de quem se
tratava.
Prendeu o fôlego.
Samantha Lacassangner!
A presença daquela mulher parecia um castigo em sua vida.
Só em saber que ela estava tão perto de si era motivo suficiente para
perturbar-lhe a paz.
Viu-a diminuir a velocidade.
Ela estava acompanhada da amante que sempre estava
consigo.
Cerrou os dentes, observando-a.
-- Ora... Ora...Acho que sua cunhada não está mais
entediada.
Mel a viu seguir pelo monte de terra, parecia interessada
em ser notada pela pirata.
Suspirou, enquanto tentava não pensar nos intensos olhos
azuis.
-- Acho que está colocando em prática o plano do meu
avô...
-- Então faz parte do plano? – Indagou curiosa. – Ela é
uma ótima atriz... – Dizia olhando sobre os ombros da militar.
A tenente não olhava para a cena, mantinha-se de costas,
não desejava ver Samantha, não desejava nem pensar que ela estava ali.
Mergulhou durante alguns segundos e quando submergiu viu
a Lacassagner aproximar-se da Bragança.
Observou quando ela nadou até onde estava a irmã de Juan.
Andava com aquela pose de senhora do universo. A cabeça
erguida, os ombros eretos...A beleza de feiticeira...
Observou o corpo bem feito, sabia que ela deveria fazer
algum exercício para ter as formas tão definidas.
Os cabelos estavam soltos, usava óculos...
Viu a cunhada abraça-la calorosamente.
Fechou as mãos ao lado do corpo.
Cristina a viu deixar o lago e pensou se ela iria até a
pirata, mas ela simplesmente vestiu as roupas, montando no cavalo, deixando a
região.
Voltou a observar a cena por alguns segundos, depois
decidiu ir atrás da amiga.
Juan voltou para a fazenda e viu a noiva aproximar-se
montada no cavalo.
Chegou mais perto para ajuda-la a desmontar.
-- Tudo bem? – Indagou ao observar a face irritada.
-- Preciso de um banho, apenas isso.
Ele não a soltou, acariciou-lhe a mão.
-- Que coincidência, também estava pensando nisso. –
Depositou um beijo em seus lábios. – Acompanho você... Estou morrendo de
saudades...
A Santorini suspirou exasperada.
A última coisa que desejava era transar com o Bragança.
Só em pensar nessa possibilidade, sentia-se mais chateada.
-- Estou com dor de cabeça, não seria uma boa hora... –
Desvencilhou-se do toque. – Nos vemos depois.
Ele ainda abriu a boca para falar algo, mas ela já tinha
seguido para o interior da residência.
Sir Arthur sentou-se na poltrona do escritório, enquanto
Fernando lhe servia um drinque.
-- Bem, agora que conseguimos que esse casamento saia, o
próximo passo é fazer que a pirata seja vista novamente como uma criminosa. – O
duque disse, sentando-se. – Essa será a única forma de podemos enfraquece-la e
destruí-la.
O pai de Iraçabeth pegou um charuto que estava no bolso,
colocou-o nos lábios, acendendo-o.
-- Ela não está sozinha, não acredito nisso.
-- E o que acha? – Desdenhou. – Essa vagabunda vive de
orgia em orgia... É uma idiota igual o maldito pai. – Levantou-se. – A sorte
dela foi ter aberto as pernas para a sheika, caso contrário, não teria tanto
poder agora.
O mais velho meneou a cabeça negativamente.
-- A Lacassagner não é burra... Não podemos achar que
será tão fácil destruí-la, observe como ela se torna escorregadia...
-- E o que pensa em fazer?
O almirante soltou umas baforadas.
-- Primeiramente, vamos focar no casamento, quero minha
neta segura e longe dessa mulher.
Fernando caminhou pelo escritório, ocupando a cadeira de
couro que estava diante da escrivaninha.
-- Já imaginou como seria se as pessoas tivessem
conhecimento de que a sua neta é realmente a pirata?
-- Isso não vai acontecer nunca! – Bateu com os punhos
fechados contra o braço da poltrona. – Jamais permitirei!
-- Permitir? – O pai de Mel questionou com um arquear de
sobrancelha. – Não é você quem tem esse poder, a Víbora poderia fazer isso...
-- Antes eu a mato!
-- O senhor perdeu a chance de fazer isso há alguns anos
quando a deixou sobreviver... Agora eu a quero viva!
Os olhos do limitar perscrutava o genro.
-- Para quê?
-- Quero-a pra mim, afinal, preciso ser ressarcido por
ter perdido a minha mulher para o maldito Serpente.
-- Você a quer? – Perguntou revoltado. – Teria coragem de
sujar seu nome ao se envolver com uma bandida?
-- Quando chegar o momento certo, todos saberão quem ela
é, assim não haverá essa mancha sobre sua pessoa... Vou dominá-la!
-- Está enfeitiçado como todos os que a desejaram!
Fernando viu o sogro deixar o escritório, mas isso não o
abalou. Queria a filha da Iraçabeth para si e não sossegaria até tê-la,
humilhá-la, possuí-la...
Mel tomara banho e seguira para a cama.
Realmente estava com dor de cabeça, então não mentira
quando dispensara o noivo. Mesmo que não o quisesse ao seu lado, não desejava
ser tocada por ele, não naquele momento.
Ouviu batidas na porta.
Esboçou um sorriso ao ver que se tratava do avô.
Ele trazia uma bandeja com uma fatia de bolo, um
sanduíche e suco.
-- Disseram que tinha uma princesa que estava doentinha,
então vim trazer uma comidinha para que ela possa ficar forte logo.
-- Obrigada, vovô, acho que estou tendo o início de uma
enxaqueca. – Disse, enquanto se sentava, encostando as costas na cabeceira da
cama.
Ele colocou a encomenda sobre as pernas dela, depois
puxou a poltrona sentando a sua frente.
-- Então deve descansar, sempre é o melhor para se
recuperar. – Inclinou-se, beijando-lhe a testa.
-- Isso que farei. – Tomou um pouco de suco.
-- Estive no povoado e todos comentam sobre sua coragem
ao seguir até o distrito para ajudar àquelas pessoas.
-- Não poderia ficar aqui sabendo o que estava ocorrendo.
Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- A Víbora esteve lá também? – Indagou curioso.
Os olhos dourados desviaram por alguns segundos, enquanto
pensava o que deveria dizer, mas não foi preciso explicar nada.
-- Bem, se ela esteve, não deveria ter ido, ela não é
bem-vinda em nenhum lugar por aqui. – Arrumou-lhe uns fios rebeldes dos cabelos
-- Estou feliz por ter aceitado remarcar a data do casamento. É o melhor a
fazer...
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Porém não deixarei a marinha, tampouco abandonarei as
minhas investigações... Já deixei claro isso com o Juan.
O almirante anuiu.
-- Mesmo assim não deveria perder tempo com a pirata, seu
pai e eu estamos encurralando-a, logo não andará por aí exibindo aquele ar
orgulhoso.
A tenente mordiscou o sanduíche, parecia pensativa,
depois inquiriu:
-- Está usando a Ester para isso?
Arthur sabia que a neta era bastante inteligente,
admirava isso nela, mas sabia que era perigoso em alguns momentos.
-- Não posso negar... há anos ambas tiveram um tipo de
relação, seja discreta quanto a isso, mas essa é a verdade... Então pedi a sua
cunhada para se reaproximar, que descubra as fraquezas da nossa inimiga.
-- E acha que ela vai fazer? – Questionou incomodada.
-- Sim, claro que vai.
Mel suspirou exasperada.
-- Pois eu não acredito, das vezes que vi a Ester com
aquela mulher, ela estava se derretendo... Não entende que pode ser perigoso
uma relação entre ambas? Se o Juan descobrir...
-- Ele já sabe e está me apoiando no plano.
Os olhos dourados mostraram surpresa.
-- Não se preocupe com isso, filha, já te disse que não é
algo que deva te aborrecer, vamos conseguir vencer essa mulher, vamos usar
ótimas armas para isso. – Segurou-lhe a mão, beijando-a. – Coma e depois
descanse, quero que esteja bem para descer para o jantar.
Aquelas não eram as respostas que gostaria de ter ouvido
do avô. Ansiara para que fosse mentira o que a Bragança dissera, que não
tivesse realmente fazendo parte do plano do almirante. Nem mesmo agora poderia
ter o apoio do noivo para impedir que aquele romance ocorresse.
Deixou a bandeja sobre a poltrona, perdera o apetite.
E por que isso a incomodava tanto? Por que não queria que
Ester se entregasse nos braços da Lacassangner.
Fechou os olhos e logo as imagens perturbadoras invadiram
sua mente.
Levou o indicador aos lábios, contornando-os...
Cobriu o rosto com as mãos em gesto de desespero talvez
ou de medo...
Ouviu batidas na porta e logo Cristina estava diante de
si com aquele olhar perscrutador.
-- Ainda não está bem? – Foi logo indagando.
-- Não, não estou. – Respondeu secamente. – E também não
estou com paciência para suas tagarelices infinitas.
-- Nossa! – Exclamou. – Eu vim apenas saber se estava
bem.
-- Não, você não veio apenas fazer isso, com certeza está
aqui para questionar por que deixei o lago, por que me comporto assim quando
estou diante da Víbora... – Tomou fôlego – Sabe muito bem que detesto essa
mulher, que a odeio, que gostaria de vê-la enforcada na praça do povoado.
A fisioterapeuta cruzou os braços.
-- Diferente da Ester...
-- Não me importa o que ela faz e com quem ela faz...
-- Você está muito irritada...
-- Estou e também sem paciência, então me deixe
sozinha...
A outra não parecia se importar com a explosão da
tenente. Seguiu até a cama, deitando-se ao lado dela.
-- Vou ter que ir para a capital... A Flávia conseguiu
uns dias de folga, vem me visitar...
Mel respirou fundo, depois esboçou um sorriso.
Sabia que tinha sido grosseira com a amiga e ela não
merecia ser tratada assim.
-- Fico muito feliz por isso... Sei como está com
saudades dela.
-- Estou morta de saudades... Não sei se vou aguentar
tanto tempo com esse romance a distância...
A Santorini virou-se para ela.
-- Se a ama deve esperar...
-- Sim, eu sei, mas sinto tanta falta...
Viu a outra relancear os olhos.
-- Não estou falando apenas de sexo, como me julga mal,
estou falando sobre deitar com ela, conversarmos, maratonar séries... Comer
besteiras nos fins de semana...
-- Você costuma fazer isso comigo... Já que estou nessa
licença infinita...
-- Mas agora que vai casar como vai ser? – Sentou-se de
pernas cruzadas. – Eu vou ser a sua madrinha não é?
-- Sim, claro que vai...
-- Estou começando a me entusiasmar com isso...
Precisamos ver as roupas... Seu vestido tem que ser o mais bonito de todos...
-- O Juan já pensou nisso... Logo vão tirar as minhas
medidas...
-- você vai ser a mais linda noiva...
Mel apenas assentiu. Ouvindo os planos que a amiga fazia
para sua lua de mel. E agradecida por ela não falar na pirata, pois a única
coisa que queria era esquecer sua existência.
Dois
meses depois...
O
grande cruzeiro marítimo tinha sido escolhido para a celebração do casamento.
O
conhecido e importante empresário Juan Bragança fizera questão de convidar
inúmeras pessoas para o enlace que se realizaria em alto mar. Convidados da
alta classe da sociedade, além do príncipe real e os abastados controladores do
país. Sentia-se orgulhoso por ter conseguido remarcar o matrimônio, mesmo tendo
lidado com inúmeras negativas da filha do duque, logo seriam marido e mulher.
O
cruzeiro seguiria até o norte do país, desembarcariam lá para seguirem em lua
de Mel.
A
cerimônia aconteceria em dois dias, pois antes haveria um jantar especial que
os noivos ofereciam a todos.
O
navio escolhido como palco de tão importante evento contava com cinco piscinas,
sendo uma com teto retrátil, aquapark, tobogã, quadra poliesportiva, simulador
de Fórmula 1, cinema 4D, teatro com shows ao estilo Broadway, 17 bares e
lounges, MSC Aurea SPA, academia equipada com aparelhos da Technogym e o
produto premium MSC Yacht Club. O enorme salão exibia uma escada de cristal de
quinze degraus que leva ao piso superior. Os hóspedes mais exigentes podem
optar pelo luxo exclusivo do MSC Yacht Club, um “iate dentro de um navio”
composto por suítes exclusivas, serviço de mordomo e instalações dedicadas,
como um bar panorâmico, restaurante à la carte.
O
duque fazia questão de ostentar todo seu poder no enlace da única herdeira.
--
Amiga, nem os navios da marinha são tão chiques, pelo menos não os que estive.
A
tenente deitou na cama de casal de braços abertos.
A
suíte que ocupava era bastante espaçosa, além do quarto todo decorado em tons
dourados, havia um banheiro com hidromassagem, uma piscina privativa, uma
cozinha equipada com eletros de última geração. Aquele seria os aposentos que
ocuparia com o futuro marido, assim que o matrimônio acontecesse, seria aquele
o lugar onde os noivos se amariam.
A
Santorini soltou um suspiro alto, enquanto olhava para o teto. Havia um enorme
lustre de cristal sobre sua cabeça.
Ainda
não entendia como fora persuadida a aceitar o casamento de forma tão rápida e
também não entendia o motivo de estar se questionando sobre isso, afinal,
quando sofrera o atentado, estava em dia de se unir definitivamente ao noivo. O
que tinha mudado em todos aqueles meses?
Passara
os últimos dois meses tentando se livrar das investidas do futuro marido,
evitando o sexo que ele sempre cobrava.
--
Você está bem? -- A fisioterapeuta questionou, sentando na beira da cama. --
Hoje terá o jantar e você ainda está ai vestindo um roupão, seu vestido já foi
trazido para cá. -- Apontou o cabide no closet com a peça exclusiva na cor
rosa, longo, sem mangas e com uma fenda lateral.
--
Queria apenas poder dormir e dormir muito. -- Levantou-se. -- Mas como não
posso, vou começar a me arrumar.
Cristina
passara alguns dias fora, pois a namorada estendera a estadia no país, mas
desde que retornara encontrara a amiga mais controlada com suas emoções, talvez
mais fria do que costumava aparentar.
--
Vai se confessar? O padre Antônio perguntou, afinal, faz parte do ritual.
Mel
cruzou os braços sobre os seios.
Mesmo
tendo passado parte da infância e adolescência em um convento, não se sentia
vontade quando se tratava de narrar seus pecados, porém como o pároco era
conhecido seu, sentia-se mais tranquila.
--
Sim, irei, preciso fazê-lo.
--
E vai contar tudo?
A
face da jovem foi tingida por um vermelho intenso. Ela sabia bem o “tudo” que
ela comentava.
Cris
a observava com atenção.
--
Sinceramente, amiga, eu acho que é melhor que omita algumas coisas… Por
exemplo, os beijos que você trocou com a pirata.
Os
olhos dourados se arregalaram.
--
Eu não a beijei, ela o fez e grosseiramente… A minha vontade quando a maldita
fez foi cortá-la com a minha espada.
Não
tivera mais o desprazer de encontrar a filha do Serpente do mar, mas ficara
sabendo que ela tinha viajado para o oriente e não retornara.
Devia
estar temerosa de ser descoberta e por isso resolvera fugir.
--
Vai contar que ela tocou em teus seios? -- Voltou a indagar arqueando a
sobrancelha esquerda em zombaria.
--
Você sabe muito bem o motivo disso, sem falar que isso não impactou nada em
minha vida.
--
Unhun, com certeza…
--
Está duvidando? -- A filha do duque questionou com as mãos nos quadris. -- Sabe
muito bem que a única coisa que anseio dessa pirata é poder fazê-la passar o
resto da vida em uma prisão.
--
Bem, isso seria algo improvável. -- Caminhou até a freezer, pegando uma garrafa
de água. -- A Ester já chegou, mesmo atrasada, pensei que ela não viria,
afinal, pensávamos que ela iria aproveitar para passar duas semanas ao lado da
amante.
A
tenente seguiu até o espelho, arrumando o roupão.
Fitava
o próprio reflexo.
Não
lhe interessava o fato da cunhada viver nos braços da Lacassangner, mesmo que
fosse uma mulher casada.
Sabia que ela estivera fora do país e tinha
total certeza de que fora atrás da sheika.
Fechou
as mãos ao lado do corpo.
Odiava
a Víbora, odiava-a tanto que mesmo que tivesse grandes chances de ela não ter
sido a responsável pelo ataque ao navio no qual estava sua mãe, mesmo assim a
condenava por tudo o que lhe fizera passar.
--
Vou me arrumar para a festa.
Samantha estava na capital. Tinha
retornado da estadia no Oriente.
Chegou
ao apartamento, sentando-se no sofá.
O
dia fora cansativo, mesmo assim muito proveitoso, pois conseguira alguns
investidores que estavam interessado em sua usina.
Levantando-se,
foi até a pequena adega e preparou uma bebida. Sentou-se no balcão, enquanto
fitava o líquido âmbar.
Seus
pensamentos começavam a perturbar sua paz e não desejava de forma nenhuma se
deixar levar por lembranças que se passaram há algum tempo.
Tentava não pensar na filha de Fernando,
mas era quase impossível.
A
tenente não tinha limites em suas acusações, tampouco na forma de agir, estava
sempre arrumando problemas e criando intrigas com a população da pequena
cidade.
Desde o último encontro, percebera que estava
sofrendo mais ataques das pessoas, sendo necessário redobrar a vigilância em
suas terras.
Umedeceu
os lábios demoradamente, ainda sentia o gosto da boca rebelde e era como se
quisesse sentir mais e mais.
Como
podia ainda querê-la após todo o tempo distante?
Bebeu
todo o conteúdo do copo.
Ouviu
passos e não demorou para Belinda aparecer. Usava roupas de ginásticas, os
cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.
--
Onde você estava? Te liguei no celular e não atendeu. -- A agente foi logo
falando. -- Miranda está louca para falar contigo, é algo urgente.
Samantha
não pareceu muito preocupada com o que a bela mulher lhe falava, voltou a
colocar a bebida e algumas pedras de gelo.
--
Esqueci o aparelho…
A
loira lhe enviou um olhar enviesado, enquanto pegava o próprio celular e
discava para a chefe em uma chamada de vídeo.
Alguns
segundos se passaram e logo ela atendeu.
--
Não vou nem perder minha paciência reclamando por seu sumiço, não tenho tempo
para isso. -- Ela foi logo dizendo. -- Preciso muito de você, Lacassangner,
preciso que use todo seu conhecimento de pirata para uma missão.
Os
olhos azuis encararam a loira que estava ao seu lado com um olhar inquisidor.
--
Missão? -- Indagou voltando a bebericar. -- Quer que eu roube uma carga ou
enfrente a Marinha real? -- Desdenhou. – Ou faça os marinheiros de idiotas?
A
sheika via a irritação nos olhos da mulher que se tornara uma espécie de amiga.
Estivera com ela na viagem, fora exposto várias investigações, então agora
percebia como seu caso era um pouco complicado, pois as pistas apresentavam-se
soltas.
--
Quero que pegue o navio e vai até o Cruzeiro no qual a Olívia Santorini está,
deve tirar ela de lá imediatamente.
Samantha
prendeu o fôlego.
Sabia que por aqueles dias o enlace entre a
tenente e Juan aconteceria e tentava não pensar nisso, buscava esquecer esse
detalhe.
--
Por quê? Sei que casamento não é algo tão bom, mas não vejo motivos para fazer
isso... Talvez não seja um castigo tão grande para o Bragança... – Desdenhou.
--
Lacassangner, ela vai ser sequestrada e você vai levar a culpa por isso, só
Deus sabe o que farão com a filha de Fernando.
A
Víbora deixou o copo de lado.
--
Você vai fazer isso, já tenho os agentes que irão contigo, precisa agir rápido.
Eliah seguirá contigo, pois precisarão navegar para longe.
--
Não seria melhor que você avisasse ou sei lá, mande todas as forças lá. –
Comentou preocupada. – Acho melhor que o faça...
--
Avisamos, pedimos que não fizessem a cerimônia, mas não aceitaram, tampouco
redobraram a segurança, temos um transatlântico, um monte de gente e apenas
alguns guardas para proteção.
Samantha
fitou Belinda por alguns segundos. Sentia a apreensão em seu peito. Só em
pensar que algo poderia acontecer com a militar deixava-a assustada, temerosa.
--
Lacassangner…
A
voz de Miranda soou como uma súplica.
--
Eu irei. -- Disse por fim a pirata. – Iriei até lá...
Olívia
estava sobre o pequeno banco, enquanto era vestida por uma importante estilista.
O vestido era peça única e fora criado exclusivamente para a filha do duque.
A
tenente levantou a cabeça e fitou o espelho, mirando-se demoradamente.
O
tecido era tão branco que chegava a brilhar como diamante. Não havia alças, ele
moldava-se aos seus seios como uma concha que acolhia sua pérola. Descia até a
cintura com fios que lhe cruzavam como um cadarço em suas costas de forma
elegante. Na cintura jazia uma cinta dourada, cravejada em joias preciosas e lá
estaria sua espada. Em seus quadris ele seguia solto, armado em rendas e
cetins.
Usaria
a arma que ganhara de presente de Juan já que a que pertencia aos Santorinis
continuava nas mãos da inimiga.
Sempre
que pensava na pirata sentia uma apreensão no estômago.
A
mulher se aproximou com as luvas, colocando-as delicadamente em suas mãos.
--
A senhorita está lindíssima, tenente, seu noivo vai ficar maravilhado.
Mel
apenas esboçou um singelo sorriso. Ouviram batidas e logo Cris aparecia com seu
vestido de madrinha na cor verde claro.
--
Você está maravilhosa, amiga, muito linda. -- Falou com orgulho. -- É a noiva
mais linda do universo.
--
Foi o que pensei quando a vi. -- A estilista corroborou, enquanto começava a
recolher os pertences espalhados pelo quarto. -- Acho que todos vão ficar
encantados, eu mesma estou. -- Terminou de juntar os objetos. -- Estou indo
para os meus aposentos, qualquer coisa é só me chamar, irei me arrumar para a
cerimônia.
Quando
as duas amigas estavam sozinhas, a fisioterapeuta já soltou.
--
Padre Antônio está desolado por você não ter ido se confessar, até falou em não
realizar o casamento.
A
tenente desceu da banqueta, seguindo até a penteadeira, mirando o reflexo
maquiado. Realmente estava linda. Os cabelos foram presos no alto da cabeça e
havia uma tiara enfeitando sua testa como se fosse uma coroa.
--
Como se eu tivesse tido tempo. Você viu quantas horas passei aqui sendo
arrumada? -- Relanceou os olhos. -- Me confessarei assim que tiver tempo.
--
Depois do casamento não é? -- Provocou-a.
--
Não posso nem sentar! -- Comentou irritada. -- Que horas o duque vem me buscar?
--
Eu acho que Sir Arthur quem te levará até o altar e lá estará seu futuro marido
e seu pai, foi o que me disseram.
Mel
soltou um longo suspiro de felicidade.
--
Que bom que o vovô pôde vir, estava meio triste pensando que não estaria
presente.
O
almirante estivera acamado durante alguns dias, apresentava um quadro de
infecção, mas já estava recuperado.
--
Sim, conseguiu alcançar o Cruzeiro no porto e já está aqui. -- Tomou um pouco
de água. -- Vou terminar de organizar tudo e em uma hora retorno com seu
padrinho para seguirmos ao encontro do seu amor eterno. – Ironizou.
Samantha
seguia junto com quatro agentes que lhe foram disponibilizados. Tinham seguidos
como garçons da grande festa. Teriam pouco mais de trinta minutos para tirar a
tenente do navio e seguirem até o navio. Não demoraria para que houvesse a
última parada antes que o transatlântico seguisse e esse seria o momento da
fuga.
Precisava
ir até os aposentos da filha do duque e tirá-la de lá sem escândalos e lutas.
Algo que não seria fácil, poderia tentar convencê-la como Miranda aconselhara,
mas isso seria algo impossível quando se tratava daquela mulher.
--
Use a substância para desacordá-la, você sabe que ela não virá de bom grado,
nem ouse explicar o que se passa, seria um perigo.
A
Lacassangner ouvia as palavras de Belinda e sabia que ela estava certa. Não
haveria conversas, agiria como uma pirata para ter sucesso naquela missão.
Olívia
seguia de um lado para o outro no quarto, Marina tinha acabado de sair, estava
feliz por ter conseguido convencê-lo a ir ao casamento naquele navio. A babá
não falara nada sobre a cena que presenciara na casa do padre e se sentia grata
por isso, pois nem saberia como explicar.
Olhou
para o relógio que descansava sobre o criado mudo. Ainda faltava vinte minutos
para seguir para o matrimônio.
Em
breve estaria casada com Juan…
Mordiscou
o lábio inferior demoradamente.
Fora
aquela melhor decisão que tomara?
Ouviu
um barulho e ao se virar ficou paralisada, mas antes que pudesse esboçar uma
reação, sentiu os sentidos adormeceram, mas antes de fechar os olhos viu outros
tais azuis que pareciam o próprio oceano.
Ainda
tentou balbuciar algo, mas apenas desfaleceu nos braços da sheika.
Samantha
fitou a face bonita e sentiu vontade de sentir novamente os lábios macios, como
fizera antes… Quase não conseguira ir até ela, pois ficara fascinada ao vê-la
tão linda que paralisara, derrubando um pequeno jarro que estava sobre a
mesinha. Segurava-a, sentindo o delicioso aroma, a face rosada, a boca
entreaberta.
Se
não fosse o risco que ela correria, não teria aceitado ir até ali, não desejara
aproximar-se mais uma vez.
--
Temos que nos apressar! -- A voz de Belinda soou baixo.
A
Lacassangner assentiu e não demorou para os outros agentes se aproximarem para
retirar a noiva do navio.
Caramba... ah, isso vai deixar a Mel puta em níveis extremos. Já até sinto pena da Sam, ela vai ouvir maus bocados.
ResponderExcluirNão sei se estou vivendo ou apenas esperando pelas atualizações. Que obra incrível.
Maravilhosa!!!
ResponderExcluirEssa autora me surpreende a cada cap, adoro o efeito que uma tem sobre a outra haaaaa..
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