A dama selvagem - último capítulo


Dois anos depois...

A galeria estava cheia de pessoas elegantes.

A exposição mais esperada do ano estava acontecendo.

Diana passara duas semanas em Londres e só retornara naquele dia para participar do grande evento. Garçons elegantes serviam bebidas.

Os jornalistas e fotógrafos não deixavam passar um ú nico momento sem registrar.

Alessandra Calligari estava no auge do seu trabalho e seus quadros valiam uma verdadeira fortuna.

 

 

 

 

 

Aimê corria pelos corredores da universidade.

As pessoas a olhavam, afinal, uma bela mulher, usando vestido de festa e salto alto não era comum, ainda mais em passos tão acelerados.

Ela sabia que estava atrasada... Sabia que tinha ultrapassado o limite da tolerância... Parou no enorme estacionamento e tentou recordar em qual lugar tinha deixado o carro. Não costumava praguejar, porém sentira enorme vontade de fazê-lo.

Respirou fundo e sua mente pareceu clarear, então seguiu ao local correto. Pegou as chaves na bolsa, adentrando o veı́culo.

Fitou o painel e notou como estava tarde.

Não tivera como faltar a aula naquela noite, pois tinha um seminário para fechar a nota do semestre e não haveria recuperação.

Apertou forte o volante...

Ainda pedira ao professor para antecipar sua apresentação, mas ninguém desejara mudar e por essa razão ficara para o final.

Colocou a chave na ignição.

Suspirou alto.

Pelo menos tinha tirado nota máxima...

Deu partida e quando chegou ao semáforo fechado, pegou o celular para ligar para a esposa. Daquela vez não conteve a lı́ngua.

Praguejou baixinho ao ver que o aparelho estava sem bateria.

Olhou para o sinal vermelho e teve a impressão que estava demorando mais do que o costumeiro. Tamborilava os dedos na direção impacientemente.

Fazia dias que não via a esposa e só se falavam por chamada de vı́deo e ansiedade de vê-la estava maior. Sabia que ela tinha ficado irritada por não ter ido viajar...

Sabia disso e agora parecia que ao invés de conseguir consertar as coisas, fazia tudo errado novamente.

A partida foi liberada e Aimê saiu tentando respeitar os limites de velocidade. Pelo menos naquele horário, o trânsito estava estável.

Ligou o aparelho de som e uma música romântica começou a tocar.

“Com um suspiro

Fico cheio de saudade

E me entrego ao passado Ao seu sorriso

Comprometido com nosso amor.”

Sorriu...

Aqueles anos foram maravilhosos...

Em seu cérebro sempre recordava do momento que se uniram diante da lei... Quando dissera sim... Aquele SIM mudou a sua vida...

Sentia-se a mulher mais feliz do mundo e mesmo que vez e outra, tenham algumas discussões, a relação só se fortalecia.

Não negava que a maioria dos problemas vinha dos seus ciú mes e do seu tempo corrido, mas a Calligari contornava tudo e sempre se resolviam.

Amava-a...

Cada dia mais...

Sempre soubera que estava perdidamente louca pela major e quanto mais o tempo passava, mais essa ideia aumentava.

Parou diante dos portões, enquanto buscava a autorização que Vanessa lhe deu para entrar. Viu um carro buzinar atrás de si e logo se desesperou a perceber que não encontrara o convite. O que faria?

Um segurança forte e alto se aproximou. Aimê baixou o vidro.

-- Eu perdi a autorização... – Dizia aflita. – Sou Aimê Calligari, esposa da Alessandra.

O homem a observava curioso.

Talvez aquelas palavras não significassem nada, afinal, qualquer uma louca poderia chegar ali e dizer que era a esposa da famosa pintora.

-- Por favor, moço, estou atrasada... Então eu peço que tente, pelo menos, checar se o que eu estou dizendo é verdade.

O segurança viu o carro que estava logo atrás buzinar, então precisava agir rápido.

-- Espere um pouco!

Ela assentiu, enquanto o via fazer uma checagem e não demorou para retornar.

-- Pode entrar, senhora, desculpe-me!

A jovem assentiu, enquanto adentrava o portão e seguia até o estacionamento. Acendeu as luzes internas para checar a maquiagem, retocando o batom.

Por fim, deixou o veı́culo e logo o manobrista se aproximou. Aimê entregou as chaves, parando diante da escadaria.

As luzes iluminavam a parte externa.

Havia pessoas em todas as partes. Umas conversavam, outras apenas bebiam. Todos desfilavam com trajes elegantes pelo local.

A filha de Otávio subiu as escadas e ao adentrar o espaço ficou a procurar pela esposa entre tantas cabeças. Alguns olhares se voltaram para a bela florista, mas ela não parecia perceber o quão bela era.

Arrumou os cabelos e sorriu ao ver Vanessa se aproximar. A empresária a cumprimentou com um afetuoso abraço.

-- Como é bom vê-la! – A empresária disse. – A sua esposa está ansiosa por sua presença e muito preocupada...

Aconteceu algo?

-- Eu me atrasei... – Disse eu um fio de voz. -- Onde ela está?

Vanessa fez um gesto com a cabeça e não demorou para sentir o coração enternecer ao ver a imagem.

A famosa pintora Alessandra Calligari conversava com algumas pessoas e tinha nos braços um lindo bebê de cabelos pretos lisos de franjas, pele branquinha e olhos azuis.

A garotinha brincava com o cordão que a mãe usava no pescoço, chamando a atenção da mãe que lhe beijava a face.

 Eloá Alessandra Villa Real de Calligari!

Sua filha!

A menina fora gerada por Aimê, pois a major tivera um problema de saú de, o que impedira que passasse pela inseminação, mesmo assim, tudo saı́ra bem e a famı́lia aos poucos estava a crescer.

A pequena Eloá a viu e começou a se contorcer no colo da mãe e foi naquele momento que os olhos tão negros e intensos cruzaram com os seus.

Sentiu-a ainda mais penetrante... Ainda mais intensa... Linda...

Viu o arquear de sobrancelha...

Sabia que ela se perguntava o que tinha se passado para que demorasse tanto para aparecer. Sorriu contidamente e logo viu a major se aproximar.

Não havia mulher mais bela no mundo e mais apaixonante do que aquela que tanto amava.

Agradecia todos os dias por ter conseguido conquistá-la, por tê-la convencido a aceitar o casamento, mesmo que sempre batesse naquela tecla de ainda ser muito jovem...

Quando a pintora chegou perto suficiente, a menina se jogou em seus braços. A morena a abraçou, depositando um beijo em sua testa.

-- Ma ma ma...

Eloá gargalhava e falava naquela sua linguagem tão peculiar e desconexas.

-- Estava preocupada... – Diana falou. – E morrendo de saudade de ti... Por que demorou tanto? Sorriu para a filha, brincado com seus dedos.

-- Eu também estou, meu amor... – Mordiscou o lábio inferior. – Desculpa ter demorado, mas o professor me segurou até o fim... – Respirou fundo. – Não tive como chegar antes...

Os olhos negros se estreitaram.

-- Pedi para Vanessa te ligar, mas só dava desligado... Imagino que esteja descarregado... A neta de Ricardo fez um gesto de assentimento com a cabeça.

Não demorou para o bebê pular novamente para o colo da pintora.

-- Falou para mamãe que estávamos morrendo de saudades dela. – Aimê dizia, segurando a mão rechonchuda da pequena. – Fala pra ela não passar tanto tempo longe... Fala... Fala para ela me desculpar por ter chegado atrasada...

Os olhos das duas não se afastavam.

Os negros pareciam sempre tão fortes... Os azuis doces...

-- Nesse momento eu queria ir para nossa casa... – A pintora falou. – Estou um pouco cansada... Mas Vanessa teria um treco se saı́sse assim...

-- Não pode ir, mas prometo que quando chegar o momento, vou te encher de carinhos...

Antes que Diana pudesse falar algo, Cláudia e Antônia se aproximaram.

-- Que bom que chegou, filha! Aimê recebeu o abraço das duas.

-- Eu tive um problema, mas também me sinto feliz por estar aqui.

-- E Diana já te mostrou a obra mais famoso da noite? – A esposa de Ricardo questionou ao ver o clima um pouco abalado entre as duas.

A florista pareceu confusa, então a Calligari lhe tomou a mão e seguiram juntas diante de um quadro em uma vitrine.

Havia marcas de pequenas mãos em inúmeras cores, tornando tudo muito vivo e alegre.

Aimê sorriu.

-- Eu não acredito... – Disse com lágrimas nos olhos.

-- Bem, você me pede para ficar com a nossa filha, enquanto estou pintando, então eu a deixo na cadeirinha e lhe dou as tintas... Assim nasceu essa linda obra.

A filha de Otávio a fitou demoradamente.

-- Pois, saiba que darei o preço que for para ter ele... quero-o em minha sala.

-- A gente pode negociar, Mimadinha... – Piscou ousada.

A Villa Real pareceu se sentir melhor ao perceber que a névoa que tomava conta do rosto bonito da amada parecia ter se dissipado.

Cláudia voltou a interromper a troca de olhares.

-- Acho melhor levarmos a Eloá, está tarde e isso não é hora de estar acordada. – Antônia falou.

-- Também acho, sem falar que ainda demorarão aqui. – Cláudia apoiou a Calligari.

Aimê e Diana assentiram, mas a pequena não pareceu interessada em deixar as mamães.

-- Mamãe promete que amanhã passa o dia todo brincando contigo, princesa. – A major consolou a filha.

A garotinha sorriu e como prêmio recebeu beijos das mães.

 

 

 

A exposição seguia animada e Aimê não saı́ra do lado da esposa um só momento.

A major sorria para todos, enquanto flertava com a filha de Otávio, provocando-a com toques inocentes. Já era quase duas da madrugada quando deixaram o local.

A Calligari seguia com a mão depositada na cintura da esposa.

O manobrista trouxe o carro e antes que a pintora pegasse a chave, a florista o fez.

-- Você bebeu, então eu dirijo, senhora!

A major assentiu, enquanto entrava no lado dos passageiros e esperava a esposa ocupar o outro lugar. Ligou o som, inclinando a cabeça para trás.

-- Imagino que esteja cansada, amor... Afinal, você saiu da Inglaterra e veio direto para cá. – Mirou-a de soslaio. – Desculpa por não ter chegado mais cedo... Desculpa por ter deixado a Eloá contigo.

Diana se virou para ela.

Não falou nada de imediato, apenas mirou o perfil delicado... O nariz arrebitado... O maxilar...

-- Você é linda... – Deposito a mão em sua coxa sobre o vestido. – Estou com saudade do seu corpo nu colado ao meu.

Aimê parou no semáforo, fitando a esposa. Uma mú sica tocava baixinho.

-- Morro de saudades quando fica tanto tempo fora. – Mordiscou o lábio inferior. – Adoro ficar ao seu lado... Adoro quando nos amamos... – Cerrou os dentes ao sentir os dedos tocando em sua meia. – Diana... – Chamou baixinho.

A pintora sentia o tecido fino da cinta liga...

O sinal ficou verde e a filha de Otávio deu a partida, mesmo sentindo as investidas da esposa mais fervorosa. Tentava se concentrar, mas se tornava cada vez mais impossível.

-- Conte-me como foi sua apresentação... Afinal, preciso saber o que anda tomando tanto o seu tempo...

A jovem suspirou alto...

Sabia que a irritação da major ainda estava presente...

-- Foi bom... Tirei nota máxima...

Os dedos da Calligari chegaram à calcinha.

Aimê sabia que deveria detê-la, mas adorava aqueles avanços primitivos da amada... Seu corpo reagia e desejava muito mais...

-- Que bom, Mimadinha, sei como é inteligente e esforçada... – Sorriu. – E como vai a floricultura?

A Villa Real sentiu o toque no sexo...

Estava molhada... úmida e dolorida... Louca para se entregar a ela... Diminuiu um pouco a velocidade, fitando-a rapidamente.

-- Safada... Você não tem vergonha... Ain... – Gemeu ao senti-la mais forte.

-- Dirige! – A pintora ordenou. – Presta atenção...

Aimê a encarou, enquanto ouvia um carro buzinar atrás de si. Não tinha alternativa a não ser continuar conduzindo o veı́culo, mesmo desejando parar e sentir ainda mais as carı́cias.

-- Eu adoro quando fica assim molhada... – Provocou-a. – Adoro esse cheiro de sexo molhado...

A florista mordiscou o lábio inferior, enquanto afastava um pouco as pernas para sentir melhor. A major deslizava de baixo para cima...

-- Quer que eu pare? – Questionou, enquanto forçava mais. – Pode dizer se assim o desejar...

A garota a fitou de relance.

Passou a lı́ngua pelo lábio superior...

-- Não... eu não quero que pare... Quero que continue. – Disse em voz baixa. Diana deu um riso de lado e continuou o interlúdio.

Usava os nós dos dedos para incitá-la sobre o tecido de renda, enquanto buscava adentrar. Mesmo na penumbra do carro, era possıv́  el ver a face corada da filha de Otávio.

-- Estou com vontade de uma coisa... Sentiu a sutil penetração...

Sentiu parar bem no inı́cio... Sentiu o polegar tocando seu clitóris. Aimê parou no semáforo e se voltou para a esposa.

Os olhos azuis se estreitaram enquanto via a pintora levar o indicador cheio de mel à boca.

-- Já disse que seu sabor é único e perfeito? – Usou a lı́ngua para lamber o excesso...

A expressão de Aimê era de pura agonia.

-- E você sabia que está me enlouquecendo?

A Calligari acariciava suas coxas, subindo até o decote dos seios.

-- Dirija... – Ordenou-a, enquanto se acomodava no banco. – Amanhã quero que saia comigo e com a Eloá, quero ir até a fazenda... Não quero atrasos...

A jovem voltou a dar partida no carro, mas pareceu incomodada pelo contato ter cessado.

-- Só preciso passar na floricultura antes de irmos... A Bianca está viajando...

A morena nada disse sobre isso, apenas fechou os olhos...

Aimê tentou se concentrar nas músicas que ouvia, tentando esquecer a frustração do prazer interrompido... Aquilo fora um castigo...

O caminho fora feito em silêncio e não demorou para estacionar dentro da mansão.

A major se livrou do cinto e a esposa fez o mesmo, mas antes que a florista abrisse a porta para deixar o veı́culo, fora puxada para o colo da morena.

Mirou-a surpresa, mas antes que pudesse falar algo, seus lábios foram tomados em um beijo esmagador. A Calligari lhe segurava os cabelos para mantê-la cativa.

Sentia as mãos tentando empurrá-la, mas conseguiu vencer a resistência e logo sentiu os braços circundá-la pelo pescoço.

Fez banco do veı́culo se deslocar mais para trás, assim ficaria ainda mais espaçoso.

Aimê gemeu ao sentir lı́ngua exigente indo ao encontro da sua... Chupou-a, desejando dominá-la e adorou o gemido que escapou dos lábios da major.

Seu corpo estava em chamas e mesmo que pudessem ir para o quarto, desejava que começassem ali, que se amassem ali, afinal, já tivera os toques ousados em si e ansiava por mais...

Sentiu os seios livres e as mãos recaı́rem sobre eles, amassando-os, apertando-os com a perı́cia que a levava à loucura. O polegar e o indicador incitavam os bicos.

A morena a deixou nua até a cintura, abandonou sua boca, seguindo até seu queixo, mordiscando-o, depois até seu pescoço, lambendo-o e dando mordidas ali também.

-- Ain, Diana, adoro quando faz isso... – Inclinou a cabeça para trás, oferecendo os seios. – Mama, chupa eles... – Pedia. – Estou com saudades...

A Calligari levantou os olhos para ela, enquanto usava a ponta da lı́ngua para contornar o mamilo. Ouviu a respiração acelerada...

-- Eu adoro seus seios... – Lambeu mais rápido. – Adoro o seu sabor... O seu cheiro...

Aimê sentiu as mãos da esposa afagando suas coxas, levantando seu vestido, até sentir os dedos adentrarem a sua calcinha.

Moveu-se para frente, indo contra ela, esfregando-se... Roçando contra ela... Sentia-se dolorida no abdome, sentia-se desesperada para se derramar para ela...

Não costumavam ficar tanto tempo separadas, sem falar que a relação entre elas tinha uma quı́mica muito grande.

Amavam-se inúmeras vezes e só na época da gravidez precisou dar uma pausa, pois precisara de maior cuidado, pois sofrera riscos.

-- Eu não quero que me deixe tanto tempo sozinha... – Dizia entre gemidos. – Ain, eu não aguento... não aguento ficar sem você...

– Mete dentro de mim...

A respiração acelerada da filha de Otávio deixava a morena ainda mais excitada. Penetrou o indicador...

Encararam-se.

-- Quer mais? – Diana questionou com um sorriso safado.

A Villa Real mordiscou o lábio inferior.

-- Quero... Você sabe que eu quero muito mais...

Diana mordeu de leve sua orelha, começou a sussurrar palavras em seu ouvido.

-- Dá bem gostoso para mim... Eu adoro quando dá bem gostoso... – Penetrou-a duplamente.

– Mexe... Mexe... Ain, mexe dentro de mim... Princesa... Mexe... Ain...

Não demorou para que o prazer total fazer a Villa Real abafar o grito no pescoço da amada.

-- Vamos pra dentro... Quero te amar a noite toda, minha dama selvagem... A morena a fitou.

-- Eu quero essa boca devorando todo o meu corpo... – Beijou-lhe rapidamente os lábios.

-- E eu só vou parar quando o dia amanhecer... Diana cerrou os dentes em desejo.

A Calligari arrumou a roupa da esposa e não demorou para que seguissem abraçadas para a mansão. Como prometido, a noite fora curta para as duas.

 

 

 

O sol já estava alto quando a Calligari despertou.

Estava abraçada à esposa, tendo os cabelos dela em seu rosto, quase entrando em sua boca. Sorriu!

Adorava despertar com ela em seus braços. Beijou-lhe a nuca.

Sentia-se muito feliz... Tão feliz que nem mesmo se recordava de tudo que já passara em sua vida... Dos momentos difı́ceis, das perdas... Era como se fosse preciso passar por tudo aquilo para agora ter ao seu lado Aimê.

Sua esposa...

-- Eu te amo... Te amo muito... – Sussurrou em seu ouvido.

Sabia que ela não acordaria agora, estava cansada e pouco dormiram. Voltou a beijá-la e logo se levantou.

Precisava de um banho e depois iria ver a filha.

 

 

 

 

Antônia e Cláudia estavam no jardim, embaixo da framboesa. Um colchonete fora colocado para que Eloá brincasse.

A menina estava vestindo moletom, enquanto brincava com os brinquedos, mordendo a cabeça da boneca.

-- Que bom que conseguimos distraı́-la... – Antônia dizia. – Diana e Aimê devem ter chegado tarde. Que bom que ficou para cuidar dela comigo.

A senhora Villa Real sorriu.

-- Eu adoro ficar com ela... – Fitou a menina. – Eu acho que ela tem a personalidade da major mesclado ao olhar doce da minha neta. – Estendeu os braços. – Vem aqui, princesinha...

A garotinha veio de quatro, mas parou e começou a rir ao olhar além das mulheres.

-- Ma ma ma ma ma...

A Calligari vinha de roupão em direção a elas.

As duas mulheres não precisavam se voltar para saber de quem se tratava... Os pequenos olhos azuis brilhavam em contentamento.

Diana aproximou-se, agachou-se, tomando a filha nos braços.

 

-- Está dando trabalho para suas avós? – Beijou-lhe o pescoço. – Que garotinha cheirosa... E que sorriso sapeca é esse hein? E esses dentinhos...

A cada beijo dado, a pequena se derramava em risos, segurando com suas diminutas mãos o rosto querido da pintora.

-- Bom dia! – Cumprimentou as duas com um sorriso. – Desculpem a demora e obrigada por terem ficado com essa mimadinha em miniatura. – Sentou-se com elas. – Aimê disse que iria a floricultura, pois desejo ir até a fazenda, mas não tive coragem de acordá-la.

Diana brincava com a garota distraı́da sobre a toalha estendida.

-- E que horas chegaram? – Dinda questionou com olhar provocador. – Eu acho que vi seu carro estacionar e demoraram muito para sair... Tiveram algum problema?

Eloá perdera o interesse nos brinquedos e agora só queria brincar com as madeixas negras do cabelo da mãe. A artista deu um biscoito para a filhe e só depois encarou a tia.

-- Estávamos conversando, Dinda, afinal passamos logos dias sem nos ver... Sabe como são essas coisas...

Cláudia gargalhou da forma que a filha de Alexander se mostrou na defensiva.

-- Então não viagem e fique tanto tempo fora, afinal, sua famı́lia sente sua falta. – Antônia completou.

-- E eu sinto a deles, por mim, sempre que viajasse levaria todos, mas Aimê tem as responsabilidades dela e não posso obrigá-la a seguir comigo. – Respondeu aborrecida.

Quando a garotinha ouviu o nome da outra mãe, pareceu desesperada, chamando por ela. Diana a trouxe para os braços, levantando.

-- Vou para o estúdio, levarei essa pequena comigo.

Cláudia e Dinda assentiram, enquanto as observavam se afastar.

-- Não deveria ter repreendido a major, afinal, sabemos como ela é dedicada à minha neta e a filha, apenas temos que lembrar de que ela tem o trabalho dela... Porém acho que é Aimê que ainda em uma correria só... – Suspirou. – Sei que já discutiram por isso...

-- Eu sei... Diana não é de reclamar, mas já a vi aborrecida, sei que Aimê tem as aspirações dela, mas não acho interessante que fiquem tanto tempo separadas... Minha sobrinha já teve comportamentos difı́ceis com mulheres e não desejo que isso ocorra de novo.

Cláudia assentiu.

-- Mesmo assim, isso foi algo que ficou no passado... Nunca vi minha neta reclamar da Diana... Só a questão da teimosia mesmo.

A conversa entre as duas se estendeu por um bom tempo.

 

 

 

 

Já passava das onze quando Aimê despertou.

Virou-se em busca da esposa e só encontrou a cama vazia. Abriu os olhos.

O quarto estava mergulhado na penumbra. Pegou o celular e percebeu que já era tarde. Suspirou alto.

Há dias não dormia tanto... Estivera tão ocupada com os estudos, com a filha e com a floricultura que dormir era a parte menos explorada.

Espreguiçou-se, sentindo-se dolorida em alguns pontos especı́ficos. Sorriu.

Tivera uma noite maravilhosa ao lado da mulher que amava... Ainda sentia o efeito do prazer sentido... Abraçou o travesseiro e o sorriso não abandonou seu rosto.

Levantou-se, caminhou até a varanda, respirou fundo, sentindo o cheiro de grama. Vestiu o roupão.

Espreguiçou-se novamente.

Precisava ir á floricultura, havia coisas a resolver antes de seguir para a fazenda...

Ouviu batidas na porta e não demorou para uma sorridente Cláudia aparecer com uma bandeja de café da manhã. Colocou-a sobre a mesinha.

-- Bom dia, querida! – Aproximou-se, abraçando-a e lhe beijando a face. – Fiquei te esperando para irmos até a floricultura... Estava demorando tanto que decidi vim te acordar.

A jovem cerrou os dentes.

-- Ah, vovó, desculpa, acabei dormindo demais... Vou tomar um banho e vamos.

-- Não tem pressa, falei com Alanna e tudo está bem... Coma alguma coisa.

Aimê mordiscou o lábio inferior, enquanto se aproximava da comida, pegou um copo de suco de laranja e tomou lentamente, enquanto sentava na cama.

-- A Diana quer ir para a fazenda e acho que demorei muito na cama... – Bebia lentamente. – Sei que tem muito trabalho esses dias, mas não quis me negar a ir com ela, terı́amos uma discussão...

-- Ela comentou isso, acordou faz um bom tempo... Está com a Eloá no estúdio. – Sentou-se ao lado dela. – Você sabe que em parte ela tem razão... Sei que tem muita coisa para dar conta, mas não deve deixar sua amada para escanteio... – Tomou-lhe a mão. – Eu vi nesses anos o amor e a dedicação da Calligari... Vejo-a ser sempre paciente... Então acredito que será necessário que se esforce um pouco nesse sentido...

Um sorriso encantador se desenhou nos lábios da jovem florista. A esposa do general a fitava maravilhada.

-- Ama-a muito, não é filha? – Questionou.

-- Sim, vozinha, eu amo a Diana ainda mais do que quando a conheci... Nesses anos que estamos juntas, o sentimento por ela, apenas cresceu... – Suspirou. – Tentarei não ser tão displicente...

-- Eu sei... Eu vejo isso em ti... Vejo como se amam e como são felizes... Diana te ama muito e nem podemos falar da devoção que ela tem pela Eloá.

A jovem sorriu.

-- Sim... – Comeu uma torrada. – Vou tomar um banho e logo te encontro para sairmos. – Levantou-se. – Desejo voltar logo para seguir até a fazenda e aproveitar o final de semana.

 

 

 

 

Diana estava diante de uma tela.

Usava short e camiseta, um avental que não era suficiente para não a sujá-la de tinta.

 

A pequena Eloá vestia seu moletom e um minúsculo avental. A garotinha estava em sua cadeirinha e diante de si também havia uma tela e ela usava as muitas tintas que estavam sobre a cadeirinha para rabiscar, imitando os gestos da sua mãe.

A criança de cabelos negros soltava gritinhos de entusiasmos e a major se derretia, indo até ela e lhe enchendo de cheiros.

-- Você está se sujando todinha, princesinha... Se sua mãe te ver assim... – Limpou-lhe o nariz. – É para pintar aqui...

– Apontou para a tela.

A menina pulava alegre e tocou o rosto da morena com a tinta.

Aimê observava tudo da porta e sentia o coração se encher de amor ao ver a cena. Aproximou-se e os olhares das duas se voltaram para ela.

-- Olha quem apareceu, a bela adormecida da mamãe. – Diana sorriu.

Eloá deu gritinhos de felicidade.

A filha de Otávio olhava de uma para a outra e fingia estar brava.

-- Então é isso que fazem nas horas vagas? Se pintam? – Colocou as mãos na cintura. – E eu pensando que continuavam a criar obras de arte.

-- Não, amor, estamos pintando um quadro, não é filha...

A menina riu alto e os pequenos dentinhos da frente puderam ser vistos.

-- Ma ma ma ma ... – Repetia a ladainha.

Aimê lhe beijou os cabelos, mirando as mãos sujas.

-- Ela está se pintando, amor! – Repreendeu a esposa.

-- Essa tinta não tem problema... – Justificou-se. – Não são tóxicas e saem com água.

A Villa Real estreitou os olhos azuis, mordiscou o lábio inferior, enquanto olhava para as duas.

-- Está bem, minhas artistas... – Beijou a face da filha. – Irei até a floricultura com a vovó. Não demorarei, prometo! – Levantou a mão direita em juramento. – Pedirei que a Liah dê banho na Eloá e você também se prepare para irmos à fazenda...

A Calligari assentiu.

-- Não precisa pedir a babá, eu mesma darei banho nessa mimadinha...

Aimê lhe circundou o pescoço.

-- Não prefere ficar pintando?

-- Não, amor, estou ansiosa para viajar. – Beijou-lhe o queixo. – Estou com vontade de montar no Cérbero.

A florista sorriu.

-- Então, prometo não demorar... Tudo já está arrumado... Coloquei as roupas em uma mala... Basta que leve para o carro.

Diana lhe beijou a boca rapidamente.

A Villa Real se despediu da filha e logo deixou o estúdio.

 

 

 

 

Na floricultura demorou um pouco mais do que o previsto.

Bianca precisar viajar até outra cidade, pois estavam abrindo uma floricultura lá, então apenas a gerente, Alanna, e dois funcionários estavam trabalhando e a demanda estava grande.

-- Tem certeza de que darão conta disso sozinhas?

Aimê estava no escritório e tinha a avó e a gerente sentadas a sua frente.

-- Com certeza, filha!

-- Sim, Aimê, afinal, você nunca para e precisa dar um pouco de atenção a sua esposa e a pequena Eloá. – Alanna disse. – Já fez de mais... Perdi a conta de quantos buquês montou hoje... Até entregas fez.

O entregador estava doente e precisara faltar naquele dia.

A Villa Real sabia que andava muito ocupada ultimamente e tinha certeza de que estava negligenciando a major, mesmo que ela ainda não tivesse verbalizado as queixas, sabia que andou meio chateada por isso antes de viajar.

Fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Qualquer problema podem me ligar!

 

 

 

 

Já era quase dezesseis horas quando chegaram à fazenda.

Diana dirigia, enquanto Aimê seguia no banco de carona e Eloá na cadeirinha no banco de trás. Conversaram durante todo o percurso e a pequena acabou dormindo.

Falaram sobre os próximos trabalhos da Calligari e como fora premiada na ú ltima viagem.

Apesar do diálogo, a filha de Otávio sabia que a esposa estava um pouco chateada por ter demorado tanto. Quando foi explicar a demora, fora cortada em sua explanação e agora preferia não falar mais sobre o assunto. Adentram o caminho de palmeiras imperiais e logo estacionavam em frente à casa grande.

A morena desceu, abriu a porta de trás, pegando a filha adormecida. Alguns empregados se aproximaram para cumprimentar a major.

-- Selem o Cérbero, vou apenas trocar de roupa e não demoro a retornar.

O peão assentiu, enquanto a jovem famı́lia Calligari seguia até o interior da mansão. Subiram as escadas e adentraram o quarto da criança.

Diana a deixou no berço e seguiu para os próprios aposentos.

Aimê a seguiu e quando entraram, decidiu que seria uma boa ideia se desculpar.

-- Amor, perdão por eu ter demorado... – Começava.

A pintora seguiu até o banheiro e não respondeu nada. Depois de um tempo retornou, vestia calça jeans azul claro que colava às suas pernas, botas de cano longo, camiseta branca.

-- Depois conversamos sobre isso, pois se eu falar agora, vamos brigar e eu não desejo isso... Não depois desses dias todo longe de ti e da nossa filha. – Falou firmemente. – Apenas deixarei claro que ultimamente você está sempre muito ocupada e já estou perdendo a minha paciência com isso.

A Villa Real abria a boca para falar algo, mas a esposa deixou os aposentos rapidamente. Suspirou desanimada!

Sentou na cama.

Sabia que a Diana estava certa quanto àquilo, afinal, nos ú ltimos meses estava sempre trabalhando e estudando.

Estavam expandindo os negócios, sem falar na universidade que estava bem puxado, ainda tinha a filha...

Às vezes nem se tocava das ações...

Sabia que a pintora se mostrava sempre paciente e empenhada, mas sua tolerância já tinha acabado. Ouviu batidas na porta e a empregada entrou com a pequena valise.

-- Licença! – Colocou a mala sobre a cama. – Dona Alessandra me pediu para trazer.

-- Obrigada! – Aimê disse com um sorriso.

-- Deseja algo especial para o jantar?

A jovem mordiscou o lábio inferior demoradamente.

-- Você está liberada por hoje... Eu farei o jantar.

A moça sorriu.

-- Na cozinha tem tudo o que precisar e se desejar algo diferente posso conseguir.

-- Não, acho que é mais do que necessário o que tem. Farei algo simples, porém bem gostoso.

 

 

 

 

 

Diana cavalgava rapidamente. Seus cabelos voavam com o vento.

Cérbero conhecia sua dona e sabia que ela não estava bem, sabia que ela precisava daquela adrenalina para aliviar a tensão.

Seguiram até o rio.

As grandes árvores serviam para esconder o pequeno paraı́so dos olhares curiosos. A Calligari desmontou, depois se livrou das roupas e entrou na água fria.

Nadou e nadou por algum tempo até que sentiu a mente mais leve. Seguiu até a borda, sentando-se.

Limpou o excesso de água no rosto. O sol logo se poria...

Talvez devesse ser mais paciente, afinal, a esposa estava começando a vida agora... Tinha ambições...

Mas ultimamente estava sentindo tanta a falta dela... Desejou tê-la ao seu lado quando ganhou o prêmio... Acostumou-se mal...

Precisava ter paciência, era isso que sua relação necessitava.

 

 

Já estava escuro na fazenda.

Aimê banhou e arrumou a filha, depois terminou de preparar a comida e usou a mesa da varanda do quarto como lugar escolhido para o jantar.

Colocou Eloá nos braços e ficou observando o pátio em busca da esposa. Já estava tarde e nada dela retornar.

Começava a ficar impaciente...

Não demorou para a morena aparecer sobre o poderoso garanhão.

Eloá se mexeu em seus braços, sabia como a pequena era apaixonada pela pintora. O peão veio buscar Cérbero e logo Diana entrou na casa grande.

A Villa Real esperou ansiosa e quando a porta se abriu os olhares se encontraram.

Quantos anos teriam que passar para não se sentir apaixonada diante daqueles olhos negros e intensos.

 

-- Que cheiro gostoso! – A major se aproximou beijando a filha nos braços da florista. – E essa pequena hein? Por que está tão linda? Amanhã a levarei para passear comigo... Vamos cavalgar muito.

Aimê ria ao ver a garotinha gargalhar.

-- Não! – A filha de Otávio a repreendeu ao ver tentar cravar os pequenos dentes no pescoço da mulher.

A Calligari a encarou confusa.

-- Ela estava querendo te morder... Quando a banhei ainda pouco cravou os dentes na minha mão. – Mostrou-lhe.

-- E o mordedor dela? – Indagou sorrindo. – Então quer dizer que essa pequenina está virando uma selvagenzinha é? – Beijou-lhe os cabelos. – Vou tomar banho... Não demorarei.

Aimê suspirou ao vê-la sair.

-- Espero que a sua mãe me perdoe... Você pode me ajudar?

A garotinha parecia mais interessada em mexer em seu relógio do que naquele diálogo. Seguiu até a cadeirinha, sentando-a e depois começou a servir a comida.

Abriu o vinho, colocando nas taças, tomou um pouco.

Não costumava beber, mas naquela noite sentia que precisava de um pouco. Alguns minutos se passaram e a morena retornou.

Aimê a viu e sentiu aquele desejo de abraça-la e beijá-la.

Os cabelos estavam presos em um coque e vestia a camisola de seda preta e o robe amarrado na cintura. Sentiu o cheiro do hidratante que ela usava e teve a impressão que isso inebriava seus sentidos.

Mirou as pernas longas de fora...

Cruzou os braços sobre os seios tentando se conter, depois decidiu sentar.

-- Não estava com fome, mas esse cheiro acabou por me convencer do contrário. – Sentou-se ao lado da filha. – E você, pequena? Está querendo provar esse macarrão delicioso.

A pequena mesa redonda de vidro comportava as três.

Eloá começou a usar o pequeno garfo, mas logo o deixou de lado e usou as mãos para pegar o alimento. Aimê a olhou com desgosto porque sabia que ela se sujaria toda.

-- Deixe-a, eu a limpo depois... – Diana disse ao fitá-la. – Gosto quando ela se senta com a gente.

Comeram em silêncio, só tendo a filha a se divertir com os alimentos e ainda fazendo birra para tomar do vinho dos adultos.

 

 

Diana lhe deu o suco.

A Villa Real não parecia estar com fome...

Tinha o olhar perdido, ainda mais por que sabia que a esposa ainda estava irritada consigo.

A morena se levantou.

Eloá estava cochilando.

-- Vou limpá-la e colocá-la no berço. – Tomou-a nos braços.

-- Precisa de ajuda?

-- Não, pode ficar aı́...

Aimê deu de ombros, enquanto bebericava o vinho lentamente. Já se sentia mais relaxada. Apoiou os cotovelos na mesa e neles o queixo.

Ouviu o som do celular da Diana. Estendeu a mão, pegando-o.

Fitou a tela e viu o nome de Marcella.

Não atendeu, apenas bebeu mais um pouco.

A insistência da ligação continuou por logos segundos até que parou. Aimê continuou no mesmo lugar... Pouco tinha comido...

 

 

 

A Calligari deixou a filha dormindo e retornou para os aposentos. Parou um tempo diante da porta e ficou a observar a esposa.

Linda!

Ainda estava chateada com ela, mas ao vê-la ali, sentiu vontade de abraçá-la forte e não a deixar nunca mais, não permitir que ela se afastasse da sua vida.

Ouviu o som do próprio telefone móvel. Aproximou-se e viu de quem se tratava.

Fitou a filha de Otávio e viu os olhos azuis tão intenso lhe mirando. Estavam mais brilhantes do que de costume.

Viu-a tomar o conteúdo do copo de uma vez e estranhou. Desde o jantar, ela não parecia economizar na bebida, coisa que não fazia.

-- Não vai atender a sua fã?

Diana meneou a cabeça negativamente, enquanto puxava a cadeira e sentava perto dela. Pegou a taça das suas mãos, depositando-a na mesa.

Viu-a umedecer os lábios...

Tomou-lhe a mão, trazendo-a para sentar em suas pernas. Segurou-lhe o queixo, fazendo-a encará-la.

-- Continua com ciúmes dela? – Tocou o robe de seda branco. – Depois de todos esses anos?

Aimê arrumou os cabelos.

-- Eu morro de ciúmes de ti... E ainda mais dessa mulher que queria ser pintada nua...

-- Eu não a pintei... E jamais houve outra mulher depois de você, mimadinha... – Tocou-lhe o cordão de ouro que tinha a medalha com a foto de Eloá com a pintora. – Eu só quero você... Só penso em você...

-- Mesmo eu sendo um fracasso como esposa? – Disse em lágrimas.

A Calligari teve que morder a lı́ngua para não gargalhar diante das palavras. Arrumou-lhe os cabelos, pondo-o por trás da orelha, assim poderia ver a face bonita. Amava-a...

-- Você não é um fracasso como esposa... – Pousou os lábios em seu pescoço, aspirando o delicioso aroma. – Você é a minha mulher... Devo ter paciência porque está começando a voar agora...

-- Quero voar ao seu lado... Não me deixe... – Pedia em lágrimas.

A morena lhe tomou a face, encarando-a.

-- Ei, eu jamais cogitei essa possibilidade... Eu sou louca por ti e não nego que me irritei, mas isso já passou, isso foi antes e não agora... – Sorriu. – Eu te amo e mesmo que briguemos, isso não significa que deixarei de te amar...

Diana a beijou delicadamente, sentindo o sabor do vinho. Ajudou-a a levantar, seguindo até a cama.

Amaram-se com delicadeza, aproveitando cada momento e cada toque...

 

 

 

 

Na manhã seguinte, Diana acordou cedo e levou a filha para passear a cavalo. Quando retornou, fora informada que a esposa estava tomando banho de piscina.

Trocou-se, colocando um biquı́ni e colocou um maiô em Eloá, passando protetor em todo seu corpo.

-- Agora vamos lá com a mamãe!

Aimê estava na água.

Quando despertou, Diana já tinha saı́do com a filha... Fora mais uma noite deliciosa... E quando fora dormir já ouvia o galo a cantar.

Sorriu ao ver os amores da sua vida se aproximar e não conseguiu desviar os olhos da major. Linda!

Ela trazia a garota nos braços e no outro uma boia em forma de sapinho e alguns brinquedos. Fofa...

-- Segura ela, Mimadinha! – Entregou a filha e depois entrou. – Vem aqui, princesinha, deixa mamãe te colocar na boia.

A Villa Real a viu montar direitinho no pequeno objeto de plásticos e logo começou a se debater e molhar as mães.

As duas adultas riram da algazarra da pequena.

A Calligari entregou o brinquedo a ela e a menina levou logo à boca.

-- Ma ma ma ma ...

A morena abraçou a esposa pela cintura.

-- Vamos ter outro bebê? – Sussurrou em seu ouvido. – Quero uma famı́lia maior... Eloá não vai quere crescer sozinha...

Aimê a encarou, fitando os olhos negros, tocou-lhe a face.

-- Eu quero ter um monte de filhos contigo... – Dizia emocionada. – Eu adoro a forma como trata a nossa pequena... O seu cuidado... A sua atenção... O seu carinho... – Acho que agora é a sua vez... – Tocou-lhe o ventre. – Quero que ela tenha esses olhos e esse sorriso... Que tenha esse coração que de inı́cio parece de gelo, mas que na verdade é tão grande e aconchegante...

Diana a beijou, segurou-lhe a nuca, trouxe-a para si... A filha de Otávio a abraçou pela cintura...

 

 

 

Uma semana depois foram até a vila de Piatã...

O velho ı́ndio se emocionou ao ver a pequena filha da princesa...

-- Uma indiazinha de olhos azuis! – Dizia com ela nos braços.

 Aimê sorria.

-- Mas ela parece mais doce... – Segurou-lhe a mão.

A Calligari e a Villa Real sentaram na mesa, enquanto o ı́ndio continuava de pé com a criança a brincar com seus cabelos.

-- E tem notı́cias de todos? – A major indagou.

-- Há duas luas estive na tribo... Tupã estava bobo com o filho e Sirena já espera outro.

-- Nossa! – Aimê se surpreendeu. – Gostaria muito de revê-los. Diana sabia que aquela não seria uma coisa que pudessem fazer. Não podia colocar seu povo em risco...

Passaram a noite com o amigo e no outro dia retornaram para casa.

 

 

 

 

Dois anos depois...

Aimê estava de mãos dadas com a esposa...

Eloá nos braços da morena, enquanto o pequeno Alexander dormia nos braços do avô Ricardo.

O nome da major fora falado e logo ela seguia até o palco para receber o prêmio tendo a filha mais nova agarrada a si e a esposa ao seu lado.

Todos aplaudiram.

Mesmo não sendo do seu costume falar, naquele dia sentira essa vontade. Vanessa e Antônia pareceram surpresas...

-- Bem... Acho que todos aqui já estão acostumados a serem ignorados por mim... – Começou. Os jornalistas riram muito com a declaração.

-- Porém, hoje será diferente... Talvez eu deva isso a vocês... – Sentiu a mão da esposa sobre a sua. – Quando comecei a ser conhecida por meus trabalhos, adotei meu primeiro nome... Assinei os quadros como Alessandra... Alguns fatos ocorreram no meu passado e acredito que não será necessário mencionar aqui, afinal, no velho google tem toda a minha história... Mas não tem a continuação dela... – Sorriu para a esposa. – Sim, agora ouvirão por meus lábios e pararão de especular... Sim, eu sou casada com Aimê Villa Real realmente... Amo-a... Sou completamente louca por ela e independente de qualquer coisa que aconteceu... Então... Anotem nas folhas dos jornais de amanhã e nas revistas de fofocas... Não criem teorias... O amor é a única explicação para isso... Obrigada pelos prêmios e boa noite... – Completou com um sorriso.

As pessoas aplaudiram de forma entusiasmada sua artista arrogante, orgulhosa, talentosa e polêmica...

Naquela noite, depois de terem colocado as crianças para dormirem, Diana e Aimê seguiram até a enorme varanda. Deitaram na rede e ficaram olhando para o céu...

Uma estrela cadente cortou o grande abobado e a Villa Real fechou os olhos fazendo um pedido. A Calligari a fitou curiosamente.

-- O que pediu?

A florista se ajeitou, acomodando-se sobre a amada, fitando-a com um sorriso travesso.

-- Curiosa, princesa?

-- Sim, Mimadinha... – Tocou-lhe o nariz com o indicador. – Conte-me...

A jovem mordiscou o lábio inferior demoradamente... Fitou o céu e sussurrou em seu ouvido.

O sorriso da pintora iluminou a noite... Os olhos negros brilhavam tanto quanto as constelações... Os lábios se encontraram em um beijo terno...


Comentários

  1. Perfeito... Que lindo em todos os seus momentos. Estou feliz em ter lido esse romance tão perfeito.
    Obrigada, querida autora.
    Você é maravilhosa ❤️

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  2. Perfeito como sempre!
    Muito obrigada por proporcionar tamanho prazer! 😍❤️

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  3. Ola! Tudo bem?

    Parabéns! História MA - RA - VI - LHO - SA... Diferente de ''Dolo Ferox'', ''A Dama Selvagem'' foi perfeita em tudo: quantidade de capítulos, palavras e voltas e reviravoltas na medida certa.

    É isso!

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  4. Nossa que linda história 😍😍😍🥰 tudo com a maior delicadeza e suavidade da alma feminina !!

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  5. Você está bem, autora? Sinto saudades das suas estórias maravilhosas.
    Volte logo, por favor.

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  6. É isso, estamos com saudades! Espero que vc esteja bem.

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  7. Oi Geh, sinto falta das suas lindas histórias, gostaria muitíssimo de saber como você está, espero que bem e que logo estaremos sendo presenteadas novamente com o seu talento. Te desejo tudo de bom que a vida tem pra oferecer. Um abraço!

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  8. Maravilhoso reler esse romance, como sempre, perfeito!!!

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  9. Geh,quando volta com mais uma história?

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  10. Geh, alguma possibilidade de disponibilizar alguma história na Amazon?

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