A dama selvagem - Penúltimo capítulo


Os sons matutinos já podiam ser ouvidos, mas a aldeia ainda não estava totalmente banhada pelo sol. Os animais cantavam animados...

Os macacos pareciam desejar acordar a todos...

Os galhos das árvores balançavam ao dançar dos ventos...

Ainda se via no grande pátio o resto da fogueira... As cinzas de uma noite de comemoração... De renascimento... De paz com um passado turbulento e conflitante.

O pajé fazia suas orações e purificava aquela terra com seus cânticos... Mirava o céu e agradecia pela grande vitória que caı́ra sobre todos...

Ajoelhou-se, baixou a cabeça... Beijou aquele chão tão protegido e amado por todos... O falcão observava tudo... Tinha a postura respeitosa...

Enquanto isso dentro da oca...

Diana despertou lentamente... Temerosa... Tinha a impressão que ainda estava sobre os galhos das árvores... Abriu os olhos e aos poucos foi se acostumando com a penumbra...

Tinha acabado...

Aquela agonia, aquele medo tinha ficado no passado... Cerrou os dentes...

Sua mão descansava possessivamente na cintura da amada e sua cabeça repousava em seu pescoço esguio.

Aimê...

Inspirou o cheiro gostoso.

Deus, como estava grato por ela não ser se ferido...

Teria passado por tudo quantas vezes fosse necessário... Teria ido até o fim do mundo para salvá-la... Amava-a infinitamente...

Sorriu ao ver os cantos dos pássaros...

Estavam deitadas de lado... Começou a acariciar os quadris macios... Desceu até a coxa... Sorriu ao ouvi-la resmungar algo incompreensível.

A voz doce e rouca...

Beijou os cabelos sedosos...

Fechou os olhos...

Não conseguira dormir direito... Pois ficara todo o tempo aproveitando por estar com a mimadinha e por ela está bem.

Apertou-a mais forte.

Passara por tantas coisas naqueles dez anos que agora só desejava construir uma vida ao lado da esposa...

Precisava torna-la sua esposa diante das leis dos brancos... E mesmo que soubesse não ser tão fácil a convivência, lutaria dia a dia para que esse amor que sentiam só aumentasse.

Tomou-lhe a mão na sua... Levou até os lábios, beijando-a...

O destino era caprichoso mesmo...

Como fora se apaixonar pela filha do homem que destruı́ra sua vida? Ouviu o som do falcão.

Precisava se levantar...

Poderia ter seguido com o exército, mas achava melhor ir ao encontro da Villa Real... Mesmo ainda não tendo digerido direito a acusação que recebera...

Sentou-se!

Espreguiçou-se!

Sairia cedo e ao anoitecer estaria na vila.

Levantou-se.

Seguiu até a mochila e encontrou as roupas. Precisava dos trajes normais...

Sua vida de ı́ndia ficaria em suas lembranças... Já fizera as pazes com seu passado, agora teria que viver o seu presente... Sua mãe e seu pai estariam orgulhosos de si naquele momento?

Pegou a camiseta preta, a calça em estilo militar que se moldava as suas pernas malhadas... Calçou as botas.

Passou a mão pelos cabelos longos, viu o broche...Tomou-o em suas mãos... Fora presente de Alexander... Era tão delicado e tinha o formato de um sol... A rainha do sol...

Sentiu os olhos lacrimejarem... Queria muito ter conhecido a mãe...

-- Diana...

A voz baixa e relutante a tiraram de suas divagações.

Guardou a joia no bolso, terminou de arrumar o calçado e logo seus olhos se voltaram para a Villa Real.

 Encararam-se por intermináveis segundos...

Aimê estava apoiada no cotovelo, enquanto tinha a pele sobre o corpo.

Umedeceu os lábios demoradamente... Sentia-os secos... Entreabriu-os, deixando a mostra os dentes alvos... Sua esposa estava ainda mais linda...

-- Bom dia! – A major a cumprimentou com um sorriso, enquanto terminava de se arrumar. – Sei que o sono está maravilhoso, mas temos que seguir nosso caminho.

Agora a luz do dia já penetrava pelas frestas.

Aimê fez um gesto de assentimento com a cabeça e sentiu o latejar nas têmporas. Massageou-as.

Observava tudo com atenção, enquanto a pintora arrumava a mochila e tirava uma roupa para a garota usar. Permanecia parada, olhando tudo com a expressão preocupada.

Na verdade, ela não recordava de nada que se passara na noite anterior... Sua memória estava turvada. Recordava- se de ter visto a morena entrar na oca... Mas não conseguia saber o que se passara depois daquilo.

Teria sido tomada como prêmio? Sentiu o rosto em chamas...

Levou o polegar à boca, roı́a...

Teria sido tocada pela major e não se recordava?

Levantou-se e se não fosse a esposa que se aproximara rapidamente, ela teria caı́do. Encararam-se novamente.

Os olhos azuis eram tão intensos... Pareciam desejosos de mergulhar no grande mar negro... Sentiu as mãos dela em sua pele... Os dedos longos e calejados dos dias de batalhas intensas...

-- Amor, não deveria ter bebido tanto caxiri. – Repreendeu-a. – Sente-se mal? – Indagou preocupada.

Aimê não pareceu interessada em se afastar. Ainda mais por sentir aquelas mãos em sua cintura... Deu um passo para frente e os corpos se tocaram...

-- A sua voz fica ainda mais sensual quando me chama de amor... – Disse eu um sorriso nervoso. – Eu não imaginei que essa bebida fosse tão forte... Nem mesmo sei o que se passou ontem... – Mordiscou o lábio inferior. – Eu devo ser o pior prêmio que alguém poderia escolher... Bêbada...

Ambas caı́ram em uma gargalhada.

A Calligari parecia de olho em cada movimento dela... em cada gesto...

 

Viu-a abrir a boca, mas as palavras não saı́ram de imediato... Então a florista fez novamente e vociferou seus pensamentos.

-- Desculpa...

Diana aproximou as bocas...

Sabia que se ela não tivesse dormido, teria a amado loucamente... Seu corpo reagira rapidamente à visão da filha de Otávio...

-- Eu ainda quero meu prêmio... E assim que tiver a chance, irei cobrar... Quanto ao caxiri ou cariri... – Riu. – Prefiro que beba em pequenas quantidades...

-- Cariri? – Questionou confusa.

A morena meneou a cabeça e depositou um beijo rápido em seus lábios.

-- Vamos nos apressar... Temos um caminho longo...

Quando ela já se afastava, a Villa Real a deteve pelo braço, trazendo-a para bem próximo de si. Diana arqueou a sobrancelha em questionamento.

-- Desculpe-me... por tudo... – Cerrou os dentes. -- Eu te amo...Amo muito... Se me aceitar novamente, tentarei ser menos infantil... Menos estúpida... Menos boba...

A morena segurou-a pela nuca, colando os lábios aos dela com uma paciência infinita. Sentia a maciez, contornava-os e foi em busca da sua lı́ngua...

Prendeu-a...

Chupou...

Dançou junto a ela e gemeu ao senti-la lhe sugar com mais vigor...

A florista se aproximou ainda mais... Desejando senti-la ainda mais forte. Os seios se batiam... As pernas se enroscavam... A jovem encostou o quadril ao dela...

Movia-se sutilmente...Mas logo a Calligari se afastou alguns centı́metros, mesmo diante dos protestos.

-- Não se recorda de nada que se passou ontem? Aimê meneou negativamente a cabeça.

-- Não... Só de te ver entrar... – Suspirou. – É como se houvesse uma névoa em meu cérebro...

Diana lhe segurou a mão, levando-a aos lábios, beijando cada um dos dedos delicadamente.

-- Não podemos conversar agora... Mas quero que saiba que te amo e que desejo ficar ao seu lado... Os olhos azuis brilharam em emoção...

O rosto ficou corado.

Abraçou a esposa!

-- Agora precisamos nos apressar... Nossas famı́lias devem estar em alvoroço por tudo... A caminhada é um pouco longa...

A Villa Real assentiu afirmativamente.

-- Vista-se, estarei lá fora! – Beijou-lhe a boca rapidamente.

-- Está bem, amor...

Viu a morena afastar a porta improvisada e sair. Fechou os olhos e fez uma prece de agradecimento.

-- Deus, não permita que eu seja tão tola...

 

 

 

 

As pessoas já começavam a deixar suas ocas.

Diana viu Tupã em seu local, o lugar onde ele costumava fazer seus agradecimentos aos deuses. Seu irmão!

Era estranho, ainda mais depois de tudo o que passaram no passado... Respirou fundo!

Sua mãe voltara por ele e mesmo assim não tivera a oportunidade de lhe dizer a verdade... Aproximou-se lentamente, mas não falou nada.

Fitou o céu que ainda não se mostrava totalmente claro...

Mirou as árvores frondosas... Sentiu o ar fresco penetrando seus pulmões...

-- Então a major já está pronta para retornar para seu mundo! – Ele virou-se para ela com um sorriso. – Talvez, eu sinta muito a sua falta...

Diana o encarou, colocando as mãos nos bolsos frontais da calça. Mordiscou a lateral do lábio inferior.

-- Nesses dias que passamos juntos, percebi que esse povo não teria um lı́der melhor, mais valente, mais corajoso...

Só se fosse eu, porém como tenho minha vida longe daqui... Passo para suas mãos essa responsabilidade.

O ı́ndio a abraçou, rindo da ironia.

-- Espero que seja muito feliz, princesa, espero que a vida retribua tudo o que te roubou... A filha de Alexander apertou-o forte...

Ouvia o coração dele em sintonia com o seu...

O que teria acontecido se ela não tivesse chegado? Como teria escapado?

-- Ela já me retribuiu... – Fitou-o. – Espero que seu filho com a Sirena coroe ainda mais o amor de vocês...—Suspirou com lágrimas. – Obrigada, Tupã, obrigada por ter ido ao meu resgate... Eu não teria conseguido sem a sua ajuda...

O jovem chefe lhe arrumou o cabelo.

-- Perdoe-me por não ter ido antes...

A morena voltou a abraça-lo, em seguida se afastou. O guerreiro assentiu, enquanto a via seguir.

-- Sinto-me lisonjeado por saber que temos o mesmo sangue, major...

A Calligari se virou para ele.

-- Digo o mesmo, meu irmão...

 

 

 

 

 

Diana, Aimê, Alanna e Piatã já estavam prontos para seguirem sua viagem.

Naquela manhã nenhum ı́ndio deixara a aldeia, nem para caçar e nem para pescar, pois a despedida a sua princesa era uma ocasião importante para todos.

Os visitantes recebiam os cumprimentos... Recebiam presentes como cordões, pulseiras, brincos e até mesmo o famoso caxiri...

Sirena abraçou Aimê

-- Não permita que a princesa se sinta a dona da situação... Ela gosta dos seus desafios... – Beijou-lhe a face. – Vou sentir saudades de beber contigo.

A major sorriu ao ver o rosto da esposa corado diante da menção à bebida. Tupã também a abraçou.

-- Seja feliz, jovenzinha, e faça a minha arrogante irmã feliz...

 

A garota pareceu surpresa diante das palavras e ao olhar para a amada, recebeu um gesto de cabeça em confirmação.

Irmãos?

Mas como?

Antes que pudesse fazer seus questionamentos, foi a vez do pajé se chegar na herdeira de Otávio.

-- Você foi muito corajosa, Aimê, e fora valente em todos os momentos... Tenho certeza de que a princesa não encontraria uma outra mulher a sua altura... – Abraçou-a. – Terá filhos com ela... – Sussurrou em seu ouvido. – Terão uma famı́lia linda e o passado ficará para trás...

Quando o chefe se afastou os olhos azuis estavam em lágrimas. As despedidas continuavam até o momento da partida.

Alguns guerreiros seguiriam com eles. Uma escolta os acompanharia até o barco. Ubiratã abraçou a princesa.

-- Como é se sentir viva de novo? – Indagou ao seu ouvido.

-- É a melhor sensação de todas... – Disse com um sorriso.

 

 

 

 

A floresta não estava silenciosa.

Era possível ouvir os macacos, os pássaros...

Aimê via tudo com mais atenção, mais encanto... Observava o imenso verde, ouvia os passos ao pisar no carpete de folhas secas...

Sorriu ao ver uma preguiça e se aproximou dela.

A Calligari fez um gesto para que Piatã seguisse com Alana, enquanto se posicionava por trás da amada.

-- Ela é tão linda... – A jovem dizia. – É a mesma?

A filha de Alexander se recordou do dia em que deixara a florista tocar no animal e como fora tocante ver a emoção em seus olhos que ainda não enxergavam.

Abraçou-a por trás.

-- Eu não sei... – Disse em seu ouvido. – Temos uma infinidade de fauna... Seria difı́cil dizer com precisão.

A florista hesitou um pouco, mas acabou tocando no animal...

Sentia os pelos...

Inclinou a cabeça para trás, fitando a esposa.

-- É ela, Diana... – Disse com lágrimas nos olhos. – Eu sei que é...

Ficaram mais algum tempo ali, até que a morena precisou lembrá-la de que deveriam seguir.

-- Sim... – A jovem assentiu.

A Calligari lhe tomou as mãos e retomaram a caminhada. Acelerando os passos para alcançar os outros. Seguiam incansavelmente, parando apenas para tomar água e comer algumas frutas.

-- Eu gosto desse lugar... – Aimê dizia. – Acho selvagem... Primitivo... Como você...

 Diana a fitou de soslaio com um sorriso a brincar na face.

-- Sou isso, amor?

-- Sim... Minha dama selvagem...

A major parou, beijando-a rapidamente.

-- Queria reclamar meu prêmio... Mas podemos encontrar uma onça faminta e não seria eu a devorar você...

Aimê sorriu.

-- Prometo que assim que estivermos longe daqui... Te darei seu prêmio de uma forma deliciosa... – Piscou ousada.

Seguiram por longas horas...

Pegaram o barco e já era noite quando chegaram a vila.

-- Vão com Piatã, preciso entrar em contato com o piloto. – A morena ordenou. Todos assentiram.

A major seguiu até a pequena cabana, sentou-se na cadeira, inclinou a cabeça para trás, enquanto tentava descansar um pouco.

O corpo doı́a muito... Aqueles dias foram de grande esforço e nem mesmo tivera tempo de descansar realmente. Sentiu a ferida no abdome e nas costas reclamarem... Suas pernas doı́am...

Precisava da sua cama...

Estava velha para aquelas aventuras...

Pegou o rádio e não demorou para entrar em contato com o piloto. No dia seguinte, ele estaria cedo ali.

Despediu-se, mas não deixou o local.

Baixou a cabeça, apoiando-a na mesinha... Fechou os olhos...

 

 

 

 

-- Estou muito feliz por tudo ter saı́do bem... – Alanna dizia. – Cheguei a pensar que não conseguirı́amos...

Aimê e a mulher já tinham banhado e agora estavam sentadas nos bancos, diante da mesa rústica.

Piatã tinha servido chá, enquanto preparava uma canja. A Villa Real colocou a mão sobre a dela.

-- Disse que te ajudaria a encontrar seu filho... Assim que voltarmos para a cidade é isso que faremos... Eu sou muito grata a ti...

Ficaram em silêncio por alguns segundos até que questionou relutante.

-- Acha que vai me aceitar? – Indagou receosa.

A Villa Real via o medo naquele olhar sofrido e rezou para que ela pudesse ser perdoada...

-- Nunca devemos desistir do que o nosso coração deseja com tanto fervor... Precisa lutar... Lute com seu amor...

 O ı́ndio se aproximou com um singelo sorriso.

-- A menina está certa... As coisas podem ser difı́ceis... Mas sempre valerá a pena se é o desejo do seu coração...

Alanna sorriu mais esperançosa.

-- A comida já está pronta! – Piatã anunciou.

A Villa Real olhou para a porta.

-- Diana não voltou... Não sabia que demoraria tanto para executar essa tarefa.

-- Acho melhor você ir lá, filha! – O ı́ndio pediu. – Ela precisa tomar banho para comer, ainda não está totalmente recuperada.

A jovem assentiu, levantando-se. Seguia pela rua estreita.

Viu as crianças brincando, as pessoas sentadas nas portas das humildes residência... As luzes pardas iluminavam o caminho...

Viu a pequena cabana de madeira. Abriu a porta... Entrando...

Uma luminária artificial era usada...

Viu a esposa com a cabeça apoiada nos braços... Ouvia a respiração pesada... Estava dormindo... Enterneceu-se ao vê-la... Parecia tão indefesa... Tão menina...

Aproximou-se.

Tentava não fazer barulho...

Depositou as mãos nos ombros da major... Inclinando-se, beijou-lhe o pescoço... Sussurrando em seu ouvido:

-- Princesa... – Chamou baixinho. – Meu amor...

Lentamente a Calligari levantou a cabeça. Parecia confusa... Aimê deu a volta, sentando-se em seu colo.

Beijou-lhe o rosto.

-- Preciso de um banho... Comer algo... E depois poderá dormir...

Diana respirou fundo...

-- Estou cansada... Acho que dormirei uma semana completa... – Ajeitou-se para acomodá-la melhor. Encostou a testa na dela.

-- Quero dormir uma semana... Mas quero acordar todos os dias ao seu lado...

-- Ah, Diana, eu te amo tanto que não imagino nada mais perfeito do que ficar assim contigo... A morena sorriu, mas de repente pareceu séria de mais.

Segurou a mão da jovem na sua...

-- Amor, o que acha que seus avós irão dizer disso? Afinal, além de ser uma relação que ainda é vista com bastante preconceito, ainda tem o agravante de eu ser Diana Calligari.

A Villa Real umedeceu os lábios demoradamente.

Sabia que não seria fácil... Já imaginava o avô esbravejar... Mas não podia abrir mão da mulher que amava... Mesmo que amasse muito aquelas pessoas que sempre a protegeram a e amaram durante toda a vida, não podia abrir mão dos sentimentos.

-- Eu não sei... Apenas desejo ficar contigo... Eu quero você... Só você... A major assentiu...

Talvez aquele não fosse o momento adequando para pensar naquilo... Suspirou...

-- Acho melhor irmos embora! – Beijou-lhe a pontinha do nariz. – Preciso dormir um pouco.

Aimê se levantou e esperou pela esposa. Seguiram de mãos dadas... Sob o céu estrelado...

 

 

 

A sala da mansão da Calligari estava em verdadeiro alvoroço. Ricardo abraçou a esposa.

Vanessa tinha os olhos cheios de lágrimas ao lado de Antônia.

-- O que o coronel falou? – Todos questionavam.

 

-- Diana entrou em contato com eles... Foram ao socorro dela e trouxeram vários dos participantes dessa máfia. – Ricardo dizia. – Crocodilo está morto.

-- Mas por que não retornaram com eles? – Dinda indagava. – A Diana não está ferida e nem a Aimê?

-- Não... Disse-me que estão bem... Deus, elas estão bem!

-- Provavelmente Diana deve ter entrado em contato com o piloto... – A empresária falava entusiasmada. – Não demorarão para que retornem...

-- Devemos muito a sua sobrinha, Antônia! – Cláudia começava. – Devemos a vida da nossa neta a ela... E não saberemos jamais como saudar uma dıvida tão grande.

Dinda e Vanessa trocaram olhares.

-- O importante é que estão bem e logo estarão de volta.

Tinham uma preocupação nova, ainda mais depois que o prefeito gritara alto sobre Diana ter um caso com Aimê.

O general ficara possesso, mas a esposa o acalmara e pedira para não acreditar em tudo o que o bandido falava, pois seu único desejo era destruir a todos.

Quando as duas retornassem, teriam que esclarecer aquele assunto, mas naquele momento, apenas a felicidade reinava ao saber que ambas estavam bem e já retornavam para a casa.

 

 

 

 

 

 

 

Na manhã seguinte, o jato pousava na pista improvisada.

Alanna e Aimê se despediram de Piatã e caminharam até a aeronave, enquanto Diana abraçava o bom amigo.

-- Obrigada por sempre ter estado ao meu lado... Obrigada por aguentar a minha arrogância e o meu orgulho... – Afastou-se um pouco. – Obrigada por ter ido até lá... Não sabia o que teria se passado se não tivesse chegado e salvado a Aimê...

 

-- Amo você, menina... É como se fosse a minha filha... Como se corresse em suas veias o meu sangue... – Dizia em lágrimas. – Agora desejo que possa ser feliz... Desejo que esteja ao lado da mulher que ama...

-- Eu viverei sim... – Levantou a mão direita. – Prometo!

 Piatã voltou a abraça-la.

-- vá, princesa...

-- Prometo que trarei a pequena Diana para te conhecer um dia...

 

 

 

 

Aimê observava a cena da pequena janela da aeronave.

Viu a pintora de aproximar com a mochila nas costas, notou quando ela limpou os olhos... Chorara...

Ela amava aquelas pessoas... Aquele senhor de fı́sico frágil e sorriso grande e gentil a amava também.

Depois do que passaram, agora entendia por que Piatã a tirara de lá... Se não tivesse feito, com certeza não teriam chance de terem sobrevivido.

Diana entrou, mas antes de se acomodar foi falar com o piloto, depois seguiu até onde a esposa estava. Sentou-se ao lado dela.

Tomou-lhe as mãos nas suas... Encarou-a.

Aimê sorriu.

-- Acho que é a segunda vez que fazemos essa viagem...

-- Sim... – Acariciou a face, trazendo para mais perto de si. – Porém agora é diferente... – falou bem perto da boca dela. – Antes eu queria beijar seus lábios... Mas odiava querer isso... – Passou a lı́ngua contornando-os. – Agora não...

-- Você era uma ogra... – Disse com um sorriso. – Eu imaginava você com uma aparência terrível... Quando abri meus olhos naquele dia e te vi... Deus... Eu me apaixonei ainda mais...

-- É ?

-- Sim... Eu gosto de te olhar... Gosto de ver as reações que passam por sua face... Esse relancear de olhos quando fica impaciente... Quando morde a lateral... – Beijou o canto da boca.

-- Eu sempre gostei de te olhar... Seu sorriso... Seus olhos... Mimadinha...Adoro seus olhos... As bocas se encontraram com calma...

O barulho da aeronave que levantava voo não parecia preocupar o casal.

Aimê sentiu a mão atrevida subir por sua coxa e por alguns segundos desejou que estivessem sozinhas naquele lugar.

Afastou-se sem fôlego.

-- Temos companhia... – Disse baixinho.

Diana exibiu aquele olhar de frustração, mas acabou parando. Ajustou-se melhor na poltrona.

-- Amor... – A Villa Real a chamou depois de algum tempo.

-- Sim?

-- Preciso que me ajude com a Alanna... Eu prometi ajudá-la... Tem famı́lia... Tem filho, mas faz tanto tempo que foi embora e teme ser rejeitada.

-- Não se preocupe... Auxiliarei em tudo que for necessário... Ela se arriscou muito e poderia ter sido cruelmente castigada quando foi contra os planos do Crocodilo.

Aimê depositou um beijo em sua face.

-- Obrigada... – Falou, encarando-a. – Eu sabia que poderia contar contigo...

-- Você sempre poderá... Disso não tenha dúvidas... – Segurou-lhe a mão, levando-a aos lábios, beijando-a. – E você?– Mirou-a. – Quais são seus planos para o futuro? O que deseja?

A garota mordiscou o lábio inferior demoradamente.

-- Quero você na minha vida... Quero que esteja ao meu lado... E quero estudar muito... Conhecer mais sobre as flores...

-- Então o negócio da floricultura continua? – Falou com um sorriso. – Não serei sua cliente... Achei bastante caro suas flores...e não recebi tratamento vip...

Aimê gargalhou.

-- Será uma pena para ti... Afinal, onde encontrará uma florista tão encantadora? – Provocou-a. A major fez aquela cara de safada que já era bem conhecida.

-- A minha cama é um lugar certo dela estar...

-- Ah, não diga! – Relanceou os olhos.

Ambas riram do gesto.

-- Aprendi contigo, minha dama...

A viagem continuou tranquila e elas passaram todo o tempo conversando e fazendo planos para o futuro que vislumbrava com tanto entusiasmo e esperança.

 

 

 

 

Vanessa estava parada na sala da enorme mansão. Dormira lá, pois imaginava que a qualquer momento teria o retorno das jovens e não desejava estar longe quando isso acontecesse.

Dinda ocupava uma poltrona, Ricardo e Cláudia outra. A empresária tinha as mãos nos quadris.

Uma das empregadas apareceu com uma bandeja de chá, servindo a todos.

-- O que esse homem do exército falou? – Antônia questionou impaciente. – Por que minha sobrinha não retornou com eles? Tem certeza de que ela está bem? Por que não chegaram ainda?

O Villa Real falara com o general e tudo lhe fora passado sobre a operação na floresta.

-- Disse-me que a major não quisera seguir com eles, pois ainda tinha outras coisas para resolver... Aimê não estava com ela, pelo que me disse, estava com uma tribo.

A irmã de Alexander se levantou com uma agilidade enorme para sua idade. Ouvia-se o tic tac do relógio que marcava quase quinze horas.

-- Ligue para o piloto, Vanessa, hoje mesmo seguirei até aquele lugar e verei por mim mesma o que se passou com a Alessandra.

Cláudia trocou olhares com a empresária.

Nos últimos dias a amizade entre elas crescera bastante e a fiel amiga de Diana se tornara um grande apoio para a mãe de Otávio.

-- Eu não acho que seja uma boa ideia... – Vanessa começou relutante. – Temos que esperar...

-- Esperar? – A mulher esbravejou. – Não confio na Diana no meio daqueles selvagens e se tudo já fora resolvido, deveria estar aqui...

Antes que algo pudesse ser dito, as grandes portas da sala foram abertas e lá estavam as duas aventureiras. Cláudia e Ricardo correram imediatamente até a neta, enquanto Diana exibia um enorme sorriso de felicidade. Mirou a tia e viu as lágrimas presentes naqueles olhos tão adoráveis.

Caminhou lentamente até ela.

-- A sua sobrinha selvagem está de volta...

Antônia a fitou de forma como se desejasse repreendê-la, mas apenas a acolheu forte em seus braços cansados.

A pintora piscou para a empresária, enquanto fazia um gesto para que se aproximasse e participasse da acolhida e fora isso que ela fez.

 

Havia muitas lágrimas, mas não era de dor e sim de felicidade... A felicidade de saber que tudo tinha acabado bem, que elas conseguiram sair viva daquela empreitada tão difı́cil.

Aimê via o choro dos avós e se sentia grata por ter retornado...

Em muitos momentos duvidara disso, ainda mais quando tivera que presenciar as barbaridades que a mulher que tanto amava passara.

Fitou-a entre os que a queriam tanto e mais uma vez fez uma prece em agradecimento por tudo ter acabado bem.

-- Tivemos tanto medo... – O general dizia. – Medo que não retornasse. – Abraçava a neta forte.

-- Se não fosse a Diana, eu não teria tido chance nenhuma...

A morena se livrou do abraço, mas continuou ao lado da tia e da empresária, enquanto Aimê permanecia protegidamente entre os avós.

-- Devemos muito a você! – Cláudia falou para a pintora. – Nem se vivêssemos mil anos poderı́amos pagar tudo o que fez por nossa neta...

Ricardo fez um gesto afirmativo, enquanto seguia até a major.

-- Estou disposto a fazer o que for de sua vontade... Sei que errei e mereço ser punido, agora percebo que nada disse interessa, não agora que sei que Aimê está segura...

Os olhos negros fitaram os daquele homem que um dia odiara tanto...

Recordou-se do próprio pai... Das suas palavras de conforto... Do abraço aconchegante que não podia mais sentir... Fitou Aimê...

Tudo mudara em sua vida depois que se apaixonara pela filha de Otávio...

Recordava-se do pajé ter lhe falado que ela não vivia naquela época que fora ao primeiro resgate da jovem, mas que agora tudo mudara...

Sim...

Agora só havia um desejo dentro do seu peito... Construir uma vida ao lado daquela garota que parecia tão infantil em algumas ações, mas imensamente madura e corajosa em outras...

Estendeu a mão para Ricardo.

Todos pareceram surpresos com o gesto. O general apertou-a firme.

-- Obrigada... – O homem disse emocionado. A major esboçou um sorriso.

-- Estou cansada de toda essa raiva... Acho que preciso seguir em frente... O passado já foi muito doloroso para todos...

A herdeira de Otávio limpou uma lágrima...

Mordiscou o lábio inferior demoradamente, desejando ir até a esposa, desejando abraça-la bem forte e não se afastar nunca mais...

Viu o olhar perscrutador da avó e corou imediatamente.

-- Bem, eu acho que nossas heroı́nas precisam descansar... – Vanessa se antecipou. – Um banho... Uma cama... Coisas civilizadas...

Todos riram diante das palavras.

-- Realmente estamos cansadas... – A pintora passou a mão nos cabelos. – Viemos direto e só paramos para resolver um problema... Estou com saudade da minha cama...

-- Graças a Deus que não me ficou com aqueles ı́ndios! – Antônia lhe beijou a face. – Já estava me imaginando no meio daquela floresta para ficar ao seu lado.

-- Ah, Dinda, você iria amar... Pergunte a Aimê, ela até provou do Caxiri e ficou encantada com a bebida... Mais uma vez a jovem ficou corada ao recordar desse detalhe.

-- Não, prefiro morar por aqui... – Antônia lhe tomou a mão. – Vamos, prepararei um banho para ti e poderá me contar mais sobre sua aventura...

Diana assentiu.

Antônia seguia lentamente, mas não foi direto, parou diante da neta de Ricardo. Abraçou-a forte.

-- Depois teremos uma conversa... – Sussurrou em seu ouvido. – Mas te adianto que estou muito feliz por vê-la bem, meu anjo... – encarou-a. – Não nego que fiquei um pouco irritada de inicio, até culpei-a por minha sobrinha correr perigo, porém eu entendo agora a razão dela ter ido... – Beijou-lhe a face.

Aimê deu um sorriso tı́mido, enquanto via as três deixarem a sala.

Desejou descansar com Diana, mas agora que estavam de volta a realidade, não podia, ainda se dar a            o luxo de acompanhá-la...

-- Acho que você também necessita de um descanso... – Cláudia a abraçou novamente.

 

 

 

 

Vanessa e Dinda esperavam na cama, enquanto Diana estava banhando. Conversavam trivialidades e depois de um bom tempo, a pintora retornou.

Os cabelos úmidos, usava um roupão preto.

-- Desculpem a demora, mas eu tinha ultrapassado o nível de sujeira do Cascão. Sentou-se na poltrona, cruzando as pernas.

-- Diga-me como estão as coisas por aqui.

Antônia trocou olhares com a empresária que desatou a falar.

-- O prefeito segue preso... Fizemos como você dissera... Será julgado como cumplice do bandido... Alex ainda segue no hospital... Mas já se encontra fora de perigo...

-- E a polı́cia já esclareceu a participação dele em tudo isso?

-- Sim... Pelo que fora apurado, ele sabia de tudo, mas acabou se arrependendo e até tentara alertar Aimê... A morena jogou a cabeça para trás.

-- Amanhã irei mais a fundo nesse caso... Por enquanto desejo apenas descansar... – Inclinou o pescoço para trás, fechou os olhos.

-- E você pretende casar com a Villa Real? – Antônia questionou. – Um vı́deo das suas aventuras nada ortodoxas fora mencionado ao general e mesmo que afirmamos que não passava de invenções descabidas... Sabemos o que realmente se passa.

A Calligari a mirou e viu Vanessa tentando segurar o riso.

-- Tia, eu não sei se desejo discutir algo tão ı́ntimo com a senhora. – Respirou fundo. – Quanto ao conteúdo desse vı́deo... Eu já sou grandinha e Aimê também para assumirmos nossas responsabilidades.

Antônia se levantou colando as mãos na cintura.

-- Ah, então agora temos assuntos que não poderão ser discutidos? – Indagou irritada. – Pois saiba que desejo saber quais são seus planos, ainda mais depois de tudo o que passaram.

Diana respirou fundo, encarando Vanessa.

-- Eu a amo... E a quero para mim... Quero tê-la ao meu lado por todos os dias da minha vida...

-- Já falou com Ricardo e Cláudia? Já pensou sobre a menina ainda ser muito jovem para assumir um compromisso tão sério?

A major assentiu afirmativamente.

-- Penso nisso sempre e esse é o único motivo para não ter decidido o que farei ainda...

-- Eu acho essa coisa de idade uma besteira! – A empresária se manifestou. – Conheço gente que tem quarenta anos e age como criança e parece que nunca vai amadurecer... – Levantou-se. – Aimê te ama, Diana, disso não tenho dúvidas, afinal, quem aguentaria tudo o que se passou, se não houvesse amor? Fale com ela, converse, mostre sua relutância e deixe que ela decida...

A Calligari assentiu.

Não demorou para falarem sobre outros assuntos, em seguida deixaram que a morena descansasse.

 

 

 

-- Não estou com fome, vovó, comemos antes de chegarmos aqui.

 Aimê se deitou na cama.

Cláudia sentou, trazendo a cabeça da neta para seu colo.

-- Ah, filha, fiquei com tanto medo de te perder... – Acariciou os cabelos molhados da jovem. – Rezava todos os dias para que tudo acabasse bem... Posso imaginar as coisas horríveis que passou com aqueles bandidos...

A garota a fitou.

Mordiscou o lábio inferior.

-- Foram dias terríveis... – Respirou fundo.

-- Eles não a machucaram? – Alisou sua face. – Não fizeram uma maldade dessas? Aimê meneou a cabeça negativamente.

-- Não... Mas a Diana sofrera muito...

A filha de Otávio narrou uma a uma as torturas que tivera que submeter a mulher que amava. Ao final do relato, Cláudia trazia lágrimas nos olhos.

-- Como foram capazes de tanta maldade...

-- Eles queriam feri-la, queriam machucá-las através de mim... – Engoliu em seco. – Eu a feri tanto...

-- Ei, pequena, você não teve culpa... A Diana sabe disso... Tenho certeza... – Beijou-lhe a testa. – Precisa se esquecer desses dias terríveis... Tudo já  passou.

A jovem assentiu, enquanto se sentava na cama com as pernas cruzadas. Tomou as mãos de Cláudia nas suas.

-- Vovó... – Iniciou relutante. – Eu preciso falar algo...

A mãe de Otávio fitou demoradamente o rosto corado e imaginou o que ela diria.

Naqueles dias, o prefeito fizera questão de gritar para todos o vı́deo com conteú do sexual entre a major e a jovem. Precisara negar aquilo para o marido...

-- Diga... – Pediu ainda receosa.

Aimê cerrou os dentes.

-- Eu sei que é algo estranho... Sei que não parece uma coisa certa... – Dizia incomodada. – Mas eu estou apaixonada por uma mulher... – Passou a mão pelos cabelos. – Estou apaixonada pela Diana Calligari...

Cláudia respirou fundo.

 

-- Filha, será que não está confundindo as coisas? – Tocou-lhe o queixo. – O único rapaz que namorou foi o Alex... Talvez essa áurea da Diana tenha te fascinado... Eu sei que ela é uma mulher muito bonita... Mas... Você nem parece com essas mulheres que gostam de se relacionar com o mesmo sexo... É tão feminina... Mesmo a major não parece...

A Villa Real se levantou e seu rosto mostrava impaciência.

-- Essas coisas não têm nada a ver com aparência... Não tem mesmo a ver com sexo... – mordiscou o lábio inferior demoradamente. – Tem a ver com algo mais profundo... Com almas... Como se não existisse essa coisa problemática de gênero... Você não entenderia... – Meneou a cabeça, seguindo até a varanda aborrecida.

Apoiou as mãos sobre a proteção, enquanto fitava o vasto jardim. Respirou fundo...

Sentiu a mão pousar em seu ombro.

-- Aimê, eu não estou te condenando... – Falou baixinho. – Eu apenas quero que tenha certeza do que está fazendo...

-- Vovó, que certeza temos na vida? Não existe isso... Seria muito bom que nossas decisões fossem sempre as corretas, seria perfeito que tudo saı́sse como o planejado, mas isso aqui não é uma história cujo autor pode excluir uma palavra que saiu errada ou uma frase mal colocada... – Virou-se para Cláudia. – Não existe garantia nenhuma e o que digo é que se não der certo, fica sempre o aprendizado e se guarda os momentos bons dentro do peito...

A senhora Villa Real assentiu, enquanto deixava o quarto da neta.

 

 

 

 

Diana passou pela porta do quarto da esposa e desejou entrar e falar com ela, porém tinha algumas coisas para resolver.

Dormira um pouco e só despertara agora.

Vestia camisola e robe de seda preta, tinha os cabelos soltos e os pés descalços. Seguiu até o escritório.

Não acendeu as luzes, deixando que apenas a luminária sobre a mesa ficasse ligada. Deu a volta, ocupando a luxuosa cadeira de couro.

Acordou meio confusa, imaginando se já tinha amanhecido. Ligou o computador e começou a checar algumas informações. Vanessa fora maravilhosa.

Sorriu!

Ela resolvera todas as questões.

Checou os e-mails e viu várias mensagens de Marcella. A italiana ainda desejava o quadro...

Ouviu batidas na porta e imaginou se seria a tia, mas ficou surpresa ao ver a esposa ali.

Mesmo na penumbra, conseguia ver o visgo de preocupação entre as sobrancelhas, mesmo ainda exibindo cara de sono.

Ela usava roupão atoalhado e os cabelos que pareciam úmidos, apresentavam algumas ondulações.

-- Fui até o seu quarto... – Dizia parada na porta. – Pensei que tinha saı́do, mas encontrei Dinda e ela me falou que tinha dormido e ao acordar veio para cá.

A Calligari assentiu, enquanto cruzava as mãos sob a nuca.

-- Aconteceu algo?

A jovem respirou fundo, enquanto cruzava os braços sobre os seios.

-- Queria apenas te ver...

Os olhos negros se estreitaram perscrutadores. Parecia analisar a amada.

-- Venha aqui... Está muito longe para conversarmos. – Chamou-a.

 A Villa Real hesitou, mas acabou indo até a pintora.

Surpreendendo à esposa, a garota não sentou na cadeira, ela deu a volta à mesa, parando de pé diante dela. O olhar da filha de Otávio passou pela tela do computador e viu o e-mail de Marcella.

Diana mirava o perfil forte...

Depois os olhos tão azuis a encararam...

-- Ela deseja que a pinte...

A morena confirmou com um gesto de cabeça.

-- Eu prometi isso como presente de casamento...

-- Depois de transar com ela? – Arqueou a sobrancelha em interrogação. -- Como uma mulher vai pra cama com outra quando está para se casar?

A major sorriu, enquanto segurava as amarras do roupão.

-- Não acho isso engraçado, Diana, na verdade acho uma grande safadeza...

A Calligari abriu lentamente a roupa e prendeu a respiração ao vê-la sem nenhuma peça por baixo. Fitou os seios... O abdome... Descendo até o delicioso triângulo.

Mirou-lhe os olhos.

-- Costuma andar pela casa só de roupão... – Mordiscou o lábio inferior, enquanto passava a mão pela barriga lisa. – É perigoso...

-- Nem me toquei desse detalhe... – Disse aborrecida, detendo-lhe os movimentos. – Estamos falando sobre essa mulher e sua falta de vergonha na cara... – Apontou para a tela do computador.

-- A Marcella não é nada para mim... Apenas uma cliente especial...

-- Cliente especial? – Questionou irritada. – Eu não acredito que a ver como uma cliente... Transou com ela... – Fechou o roupão.

A filha de Otávio já se afastava, quando Diana a puxou, fazendo-a sentar em seu colo. Precisou um pouco de força para mantê-la no lugar.

Aimê fora sentada de costas, tendo as mãos da esposa em sua cintura.

-- Adoro o seu cheiro... – Disse contra o pescoço esguio. – A sua pele é deliciosa... Macia... A jovem ouvia a voz rouca tão perto do seu ouvido e aquilo a deixou arrepiada.

-- Estamos falando sobre a sua falta de vergonha na cara e não sobre mim...

A pintora gargalhou, enquanto levava as mãos por baixo de roupão, tocando-lhe os seios.

-- Ciumenta!

Aimê inclinou o pescoço para fitá-la.

-- Sim, eu tenho ciúmes, afinal, você é a minha mulher... Minha... Só minha... Mais uma vez os olhos negros se estreitaram...

Desejo...

Mirou a porta...

Logo seria a hora do jantar... Mas...

 

-- Eu só quero você... – Usava uma das mãos para amassar os seios e outra afagava o abdome. – Só você... – Passou a lı́ngua pelos lábios rosados. – Fico excitada diante de tanta possessividade... Eu sou sua... – Apertava os mamilos.

-- Então não vai pintá-la... – Deteve-lhe as mãos.

Diana conseguiu se desvencilhar, tocando-lhe agora o sexo...

Sentiu os pelos em um desenho sensual e reto, enquanto outra parte se mostrava macia... Ousou mais, sentindo-a ú mida...

-- Então posso pintar você?

Usava o polegar para tocá-la mais internamente... Esfregava... Massageava... Ouviu a respiração dela alterada.

-- Diana... Eu quero que me diga que não vai pintá-la... Você mesma disse que não costuma fazer isso... – Mordeu a lı́ngua para não gemer.

Tentou se levantar, mas a Calligari a manteve cativa.

-- Posso te pintar? – Questionou-a novamente.

Aimê sentiu-a buscando sua entrada e logo a sentiu dentro de si...

-- você só precisa me deixar te pintar...

Enquanto o indicador explorava o interior, a major usava o polegar para incitar o clitóris que já se apresentava firme.

-- Diana... – Dizia sem fôlego. – Por favor... – Afastou mais as pernas.

A morena lhe mordiscou o pescoço...

Sabia que aquele não era o momento e também por que a porta estava aberta, mas a vontade de tomar a filha de Otávio para si era algo incontrolável.

Afagou as coxas...

Aimê se mexia contra a mão dela o que provocava uma dança das suas nádegas contra o sexo da esposa... Diana a livrou do roupão, deixando-o na cintura.

Beijava os ombros...

-- Mexe mais para mim... Esfrega bem gostoso... – Pedia. – Adoro quando faz assim... – Sussurrava em seu ouvido.

A Villa Real assentiu, enquanto lhe segurava a mão, aumentando mais as fricções...

Quando a jovem pensava que não resistiria mais, levantou-se, ficando de frente para a esposa. Livrou-se do roupão totalmente.

-- Vem, Diana...

A Calligari esboçou um sorriso safado, enquanto se levantava e em frações de segundos se livrava do robe e da camisola.

Abraçou-a, colando os corpos. Pressionou-a contra a mesa...

Beijou-lhe os lábios...

As lı́nguas se buscavam em loucura... Chupavam-se... Mordiam-se...

Diana lhe segurou as nádegas, trazendo-a mais para si...

Sentou-a no móvel, dobrando sua perna, deixando o acesso mais fácil. Penetrou-a com dois dedos, fazendo-a gemer alto...

Aimê cravou as unhas em seus ombros...

-- Entregue-se... – Dizia contra a boca dela. – Entregue-se para mim sempre... – Uniu os sexos. – Porque eu só quero você... – Esfregava-se contra ela. – Só você...

 

Os olhares não se desviavam, enquanto em uma dança primitiva, aos poucos sentia os corpos tremerem em um arrebato de puro prazer.

Ainda estavam trêmulas, entregues as sensações maravilhosas quando não perceberam a porta se abrir.

-- Alessandra Diana de Calligari!

A voz imponente de Antônia a tiraram do seu momento de puro prazer. Os olhos de Aimê se abriram em pavor.

Diana fê-la colocar sua cabeça em seu pescoço. Encarou a tia.

-- Tem sorte de que eu entrei aqui... – Dinda dizia. – Arrumem-se, estamos esperando para o jantar.

A Villa Real só soltou a respiração quando a viu sair.

A major segurou o rosto bonito, encarando-a, beijando-lhe a face.

-- Calma, amor, a minha tia é assim mesmo...

-- Como vou encará-la? – Indagou perplexa. – Como vou agir diante da sua tia depois disso?

A pintora não parecia se importar com aquilo, afinal, aquela não era a primeira vez que fora pega em situações constrangedoras.

-- Eu te amo... – Dizia contra a boca dela. – Te amo e desejo tê-la para mim...

A filha de Otávio lhe acariciou a face, adorando a maciez do rosto sob seus dedos.

-- Eu falei com a minha avó... Ela disse para esperar... Disse que devo estar confundindo...

A morena respirou fundo...

-- Aimê, talvez ela esteja certa...

-- Se você voltar a falar isso, eu mesma terminarei nossa relação... – Empurrou-a. A Villa Real vestiu o roupão, deu a volta na mesa.

A filha de Alexander começou a se vestir lentamente.

-- Eu não estou falando para casar comigo, major, não quero que se comprometa, afinal, sei que sua vida de solteira é bastante... Excitante, porém não permitirei que você ou qualquer outra pessoa questione a minha vontade por causa da minha idade... – Apontou-lhe o dedo em riste. – Eu sou uma mulher... E sei muito bem o que quero!

Antes que Diana pudesse falar algo, a jovem deixou o escritório.

 

 

 

 

Naquela mesma noite, depois do jantar, Diana pediu a presença de Ricardo e Cláudia no escritório. Aimê não estivera presente na mesa, nem mesmo abrira a porta para a esposa quando ela fora lá. A major apontou a cadeira para que o casal Villa Real se acomodasse.

Sabia que precisava esclarecer tudo o que se passou de uma vez por todas, afinal, a relação com a neta deles já tinha sido exposto por um vı́deo.

A morena sentou-se.

-- Eu não vou ficar enrolando aqui... – A Calligari foi logo dizendo. – Sei que foram assolados por palavras do prefeito... Talvez até pareça uma coisa errada... Mas eu estou apaixonada por Aimê.

Ricardo se levantou, batendo com o punho sobre a mesa.

-- Aproveitou-se da minha neta! Então a história do vı́deo é verdadeira?

Cláudia se levantou, colocou a mão no ombro do esposo, tentando acalmá-lo.

-- Não, eu não me aproveitei... – Reclinou-se calmamente. – Estamos apaixonadas...

-- Ela é uma menina... Está iludida... – O velho retrucava.

Diana se inclinou para frente, enquanto tamborilava os dedos na mesa impacientemente.

-- Bem se for isso, vamos ver até quando vai o entusiasmo de menina dela...

-- O que quer dizer com isso? – Ricardo retrucou irritado.

-- Eu não estou pedindo permissão, afinal, ela já é maior de idade, estou apenas desejando começar isso de forma a não ter uma nova guerra.

O general olhava para a Diana com os olhos azuis estreitados.

-- E se eu não permitir? – O homem questionou em tom ameaçador.

-- Aimê já tem idade para decidir... – Girou lentamente na cadeira. – Tem certeza, general, que deseja continuar desgraçando a minha vida? Agora suas ações refletirão na sua neta. Não acha que ela já sofreu muito?

Ricardo não respondeu, deixando o escritório imediatamente.

Cláudia não saiu, observou a porta por onde o marido seguiu, depois voltou a sentar. Fitaram-se por infinitos segundos.

-- Você ama realmente a minha neta? Tem certeza de que vai conseguir esquecer tudo o que passou com meu filho?

A Calligari pegou um lápis, girando-o em seus dedos pacientemente, até voltar a encarar a mulher.

-- Otávio sempre vai ser um desgraçado... Um miserável que destruiu minha vida e matou o meu pai... Mas Aimê é apenas Aimê e mesmo que duvide, eu a amo mais do que tudo... Quero-a ao meu lado... – Passou a mão pelos cabelos. – Sei que ela é jovem e também me assusto ao pensar que ela pode apenas estar iludida comigo... Mas mesmo assim quero tentar... Tudo o que eu viver valerá a pena.

A esposa do general esboçou um sorriso emocionado, mesmo que pairasse sobre sua cabeça muitas dúvidas, sentia-se feliz porque o que mais desejava em todo o mundo era que a neta pudesse ser vista sem o estigma de ser filha de um homem que já fez tanto mal.

-- Eu não sei como funciona esse tipo de relação, Diana... Mas eu estou disposta a aprender um pouco cada dia mais, pois só quero que Aimê seja feliz... Precisa ter paciência com Ricardo... Ele também está preocupado com tudo isso... Mas se perceber a felicidade dela, tenho certeza que não irá contra vocês...

A morena fez um gesto de assentimento com a cabeça, enquanto encarava a avó da mulher que amava. Mordiscou a lateral do lábio inferior.

-- Prometo que não forçarei nada... Esperarei o tempo dela... Quero que ela expanda seus horizontes... que estude... que faça o que gosta...

-- Obrigada! – Disse ao se levantar.

Diana observou-a sair, mas não fez o mesmo.

Seguiu até a adega, preparou uma dose de uı́sque, bebendo lentamente. Caminhou até a poltrona, sentando-se.

Mirava o copo que tinha nas mãos e pela primeira vez em anos se sentia entusiasmada com o amanhã. Bebeu mais um pouco.

Sentiu o sabor da bebida... Queimava a sua garganta... Relaxava...

 

Aimê tinha acabado de falar com a Bianca.

Conversaram por vários minutos e depois se despediram.

Seguiu até o computador portátil e terminou a inscrição na universidade. Desejava voltar a estudar, iria se especializar na área que tanto amava.

Deitou-se na cama, olhando para o teto. Mordiscou o lábio inferior demoradamente.

Corava ao recordar da entrada de Antônia no escritório...

Não acreditava que Diana nem mesmo se importara com aquilo. Como podia ser tão controlada? Ou era uma descarada mesmo! Ouviu batidas na porta.

Não abriu e logo viu a chave girar na fechadura. Sentou-se e não demorou para que Diana aparecesse. Ela não usava mais a camisola e sim um roupão cinza. Os cabelos estavam molhados e tinha um copo na mão.

-- Por que não abriu para mim? – Perguntou pacientemente.

A Villa Real cruzou os braços diante dos seios.

-- Estava cansada e queria dormir, então boa noite! – Apontou para a porta. Diana sorriu sarcasticamente, enquanto bebia todo o conteú do do copo.

Encostou o quadril à cômoda.

Encarou os olhos azuis.

-- Então está cansada?

Aimê levantou o nariz em orgulho.

-- Sim...

A Calligari se aproximou, sentando-se com as pernas para fora da cama. Tocou-lhe a coxa exposta, observando a pele se arrepiar.

-- Quero meu prêmio... – Fitou o decote da camisola. – Já demorou muito... – Tocou-lhe o pescoço. – Preciso receber...

A Villa Real lhe deteve os movimentos.

-- Estou cansada e prefiro que saia...

A major exibiu aquele sorriso meio de lado... Arqueou a sobrancelha.

-- Se estivesse na tribo e eu recamasse sobre o prêmio que não recebi, você seria jogada no rio para que as piranhas comessem seu corpinho lindo...

Aimê relanceou os olhos em irritação.

-- Não estamos na sua tribo... Estamos na civilização...

A major usou a unha para tocar o mamilo sobre o tecido.

-- Eu continuo selvagem, mesmo sem usar os trajes do meu povo...

A filha de Otávio sabia que discutir com a esposa era algo de que requeria muita paciência. Suspirou exasperada!

-- Você quer, poderosa Diana? Quer seu prêmio?

A morena umedeceu os lábios em desejo...

-- Quero... – Confirmou baixo. Aimê mirou os lábios rosados.

-- E você acha que sou uma garotinha que não sabe o que quer da vida?

A major fitou o decote da esposa.

A Camisola branca era bastante provocante.

-- É... Uma garotinha linda... Minha garotinha...

Os olhos azuis brilhavam travessos e quando a boca da esposa veio em sua direção, Aimê se levantou e quando a morena foi até ela, a jovem a repeliu.

A morena caiu sentada no leito.

-- Fica sentada aı́, princesa... Vou te mostrar o teu prêmio... A major assentiu.

A herdeira de Otávio seguiu até a escrivaninha, ligou o aparelho de som sob o olhar curioso da amada. Os primeiros acordes de uma mú sica conhecida se faziam ouvir...

O ritmo oriental era bastante sensual...

A major fitava a camisola minú scula e sexy...

Quando os quadris da esposa começaram a seguir o ritmo da mú sica, a princesa pareceu hipnotizada. Onde ela tinha aprendido dançar daquele jeito?

A Villa Real segurou os cabelos no alto, enquanto continuava a rebolar. Quando ela virou de costas, Diana não aguentou, seguindo até ela.

Posicionou-se por trás, enquanto segurava em seu quadril.

-- Dança comigo, princesa? – Roçava o bumbum contra o sexo da major.

-- Danço... – Disse ao seu ouvido. – Danço... Danço...

Diana beijava o pescoço da esposa, enquanto seguia o ritmo lento e sensual. A respiração estava acelerada...

Quando ficaram de frente, Aimê se livrou da camisola, ficando apenas com uma minú scula calcinha vermelha... Apoiou as mãos em seus ombros, livrando-a do roupão...

Passou a lı́ngua pelo lábio superior em puro desejo...

Não estranhou ao vê-la nua, isso a deixou ainda mais excitada.

Voltou a lhe dar as costas e a Calligari depositou as mãos em seu quadril, trazendo-a mais para roçá-la.

A Villa Real mexia o bumbum e sentia a amada escorregadia... Molhada em suas costas... terrivelmente úmida...

Deliciosamente encharcada...

Diana tocou-lhe os seios...

Apertou-os... Brincou com os mamilos... Desceu mais até o abdome liso...

-- Estou enlouquecendo... – A major sussurrou em seu ouvido.

Aimê não teve tempo de falar, pois foi pressionada contra a parede... Apoiou-se a ela como se passasse por uma revista...

A princesa movia contra as nádegas bem-feitas... Esfregava, enquanto lhe segurava pelos cabelos, expondo o pescoço esguio... Mordendo-o, chupando-o...

Abriu mais as pernas... Abriu o próprio sexo... Incitava-a...

-- Mexe mais rápido pra mim... – Dizia sem fôlego. – Esfrega com mais força... Mais...

A filha de Otávio fez o que ela disse, pois a sentia desesperada... Da mesma forma que também estava... Sentiu a delicada lingerie ser rasgada...

Sentiu a batida em sua carne... Excitou-se ainda mais ao sentir a mão estalar em seu bumbum... Depois foi a vez da boca mordiscar sua carne... Lamber o próprio mel... Deslizar por sua intimidade... Sentiu os joelhos tremerem e imaginou se cairia, enquanto a tinha em suas costas...

Afastou as pernas e sentiu a lı́ngua fundir dentro de si...

-- Ain...

Novamente sentiu a palmada em sua carne e adorou... Ficando à beira de um precipı́cio... Diana se levantou...

Voltou a posição inicial... Relando nela...

-- Dá pra mim bem gostoso... Ouviu-a sussurrar em seu ouvido...

Sentiu o toque dos dedos em seu sexo...

Gemeu alto pois a invasão não fora nada delicada...

-- Dou... Eu só quero dar para ti... Dá bem gostoso... E quero que só der pra mim... Só pra mim...

-- Sim... – Diana sussurrava... – Sim...

A Villa Real sentiu o ar faltar aos seus pulmões...

Ouvia o som... Ouvia as investidas... Ouvia a mú sica ainda a tocar... Implorou por mais, movendo-se contra ela com mais furor...

Descontrolaram-se...

Gritaram em puro desejo... Gritara em um prazer incontrolável... Perderam-se...

 

 

 

 

Na manhã seguinte Aimê estava parada diante do espelho e observava as marcas da paixão que foram feitas em sua pele.

A noite fora longa, pois tivera inúmeras vezes seu prêmio requisitado... E requisitara também... Sorriu ao ver seu reflexo corado...

Suspirou...

Diana viajaria naquele dia... Teria que cumprir alguns compromissos do seu trabalho... Desejou aceitar o convite de ir com ela, porém tinha suas próprias coisas a fazer...

Mordiscou o lábio inferior... “Amo-a!”

“Amo a Calligari!”

O gênio da major era terrível sim... Mas isso a deixava ainda mais apaixonante...

 

 

 

 

 

Um mês depois...

Aimê estava muito animada. Com o dinheiro da venda do apartamento conseguiram alugar um lugar que tanto serviria para morar, como no térreo poderiam colocar a floricultura.

Bianca e a Villa Real pintava o lugar.

Aproveitara os dias longe da amada para se dedicar ao próprio negócio... O espaço era grande e os planos para o lugar eram bastantes ambiciosos.

-- Nem acredito que vamos inaugurar amanhã. – A sobrinha do prefeito parou para limpar o suor.

-- Sim... – Aimê continuava a pintura. – Por isso precisamos correr.

As duas garotas pintavam as paredes desde cedo.

Já era noite.

Não demorou para Cláudia aparecer com uma bandeja de lanches para elas.

-- Insisto que deverı́amos ter contratado algumas pessoas para ajudar. – A mulher falou enquanto colocava o lanche sobre a mesa toda cheia de material de pintura.

Seguiu até a bicicleta de bambu que fora ornamentada para ser colocada na parte de fora da floricultura. As meninas se aproximaram, pegaram os sanduı́ches com suco e sentaram no chão.

Comiam em silêncio e logo tudo era devorado.

-- Besteira, estamos conseguindo e temos que poupar dinheiro... – Aimê dizia enquanto tomava um pouco de refresco.

A esposa do general sentou no banco.

Observava tudo com atenção e via como as meninas estavam se dedicando a tarefa árdua.

-- Só que vocês estão tendo muito trabalho.

-- Nada, tia, estamos nos divertindo.

-- Sim, e o vovô nos ajudar muito a montar os móveis.

-- Vocês são muito teimosas mesmo... – Levantou-se.

Seguiu até a vitrine e notou a aproximação de um veı́culo conhecido. Um carro estacionou diante do prédio.

-- Não sabia que a Diana tinha voltado de viagem... – Cláudia comentou, enquanto observava a morena através dos vidros.

A jovem Villa Real se levantou com um sorriso nos lábios e tão surpresa quanto a avó. Há semanas a morena tinha viajado para cumprir alguns compromissos fora do paı́s.

Fora convidada para acompanhá-la, mas não o fez, pois precisava organizar as coisas na floricultura que logo seria

Fitou-a e sentiu o coração bater mais forte.

Calça jeans preta colada às pernas bonitas, camisa de botões azul marinho e jaqueta de couro preta.

Bianca e Cláudia trocaram olhares de divertimento. Elas sabiam como a florista passara aqueles dias em estado de ansiedade pelo retorno da mulher que amava.

Aimê abriu a porta.

A Calligari a fitou por alguns segundos.

Os olhares pareciam imãs que se atraiam... Viu o arquear de sobrancelha da major...

Mordiscou o lábio inferior ao recordar da roupa que estava a usar naquele momento...

A jovem usava um macacão surrado, os cabelos estavam presos em coque frouxo, o que deixava alguns fios escaparem e o rosto tinha alguns resquı́cios de tinta.

A filha de Alexander sorriu.

-- Boa noite! – Cumprimentou a todas. – Vejo que o trabalho está grande... – Dizia sem desviar o olhar da amada.

-- Sim, muito! – Cláudia se antecipou. – Fico feliz em vê-la de volta... – Fitou Bianca. – Me ajuda com o jantar? – Piscou para a loira. – Preciso de uma mão a mais...

A loira fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Sim, tia! – Disse rapidamente.

A garota cumprimentou a Calligari e logo deixaram as duas sozinhas. A morena encarou a amada, depois observou tudo detalhadamente...

Havia caixas, latas de tintas, pincéis pelo chão...

-- Poderia ter contratado alguém para ajudar... – Caminhou pelo lugar continuando a inspeção. – Não acho que deva se cansar tanto.

A Villa Real se encostou na mesa de madeira com os braços cruzados sobre o peito.

-- Estou adorando fazer tudo isso... Quero que fique do jeito que desejo... Quero entrar aqui e sentir meus gostos...Minha personalidade...

Diana se virou para ela, aproximando-se, abraçou-a forte.

Ficaram assim por longos segundos até que a major a encarou, tomando-lhe o rosto querido entre as mãos.

-- Eu senti tanta saudade, mimadinha...

Aimê já abria a boca para falar algo quando seus lábios foram capturados por um beijo delicioso e paciente. A Villa Real a abraçou forte.

As bocas pareciam ansiar pelo contato, ansiosas depois de tantos dias separados. Diana a sentou sobre a mesa, ficando entre suas pernas.

Arrumou alguns fios soltos dos seus cabelos...

-- Está parecendo uma palhacinha com o rosto cheio de tinta... – Beijou-lhe a pontinha do nariz.

-- Vai sujar sua roupinha elegante de tinta... – Provocou-a com um sorriso.

-- Não me importo... – Encostou a testa na dela. – Sentiu minha falta? Fala que sentiu, mesmo que seja só um pouquinho porque eu quase morri sem você...

A jovem suspirou longamente. Mirou aqueles olhos tão negros...

As noites sempre eram as mais difı́ceis com a ausência da major, pois nem sempre podiam falar, já que a pintora estava sempre em algum evento...

-- Sim, parecia que faltava uma parte de mim... – Acariciou os cabelos da esposa. – Chegou quando? Por que não me ligou avisando?

-- Porque eu decidi de última hora... Não aguentava mais ficar longe... Estava previsto o voo para amanhã, mas consegui uma mudança.

-- Eu adorei que tenha voltado... Eu não sei se me acostumarei com essas suas viagens...

-- Podia ir comigo... – Tomou-lhe a mão, beijando-a.

-- Amor, era o que eu mais queria, porém havia coisas para resolver...

A major respirou fundo.

-- Eu sei... – Disse impaciente. -- Tudo está ficando lindo... Tocou-lhe o queixo, fazendo-a fitá-la.

-- Vai vim para a inauguração?

-- Jamais deixaria você sozinha... É muito linda e vai ser paquerada por todos...

-- Como você é? – Arqueou a sobrancelha em indagação.

Diana lhe beijou a face.

-- Só tenho olhos para você... – Tirou-lhe a franja da face. – Janta comigo?

-- Vovó está fazendo... Seria melhor se jantarmos aqui... Estou muito suja para sair...

-- Eu não acho que o general vai gostar da minha presença.

Ricardo não se opusera a relação, porém deixara claro que acreditava que não duraria.

-- Ele não vai falar nada... – Abraçou-a pela cintura. – Janta?

A Calligari viu os olhos azuis brilharem em persuasão.

-- E depois vai comigo para a minha casa? Estou com saudades, quero fazer amor a noite toda... – Disse mordendo o lábio inferior.

Aimê corou diante das palavras e do olhar sensual.

Seu corpo reagia à menção, ainda mais ao recordar da última vez que se amaram...

-- Eu também quero fazer contigo... Meu corpo reage as suas palavras violentamente... Sinto uma pressão no meu abdome... – Fechou os olhos demoradamente. – Mas eu não posso ir... Não hoje... Amanhã tudo isso tem que estar pronto...

A morena suspirou exasperada.

-- Desculpa, amor... – A Villa Real pediu ao vê-la com expressão frustrada.

-- Está bem... – Sorriu.

Aimê a viu se livrar da jaqueta de couro, tirar o relógio.

-- Eu ficarei para ajudar!

-- Vai sujar sua blusa... – Disse sorrindo. – Te emprestarei uma camiseta. – Foi até ela, abraçando-a. – Eu te amo, sabia...

-- Claro eu que sabia e claro que eu sei... Afinal, quem resistiria a uma Diana Calligari...

-- Sim... – Aimê colou os lábios aos dela. – Uma princesa selvagem canibal...

 

A noite transcorreu com bastante animação.

Diana ajudava as duas meninas e conversavam bastante.

Alex tinha deixado o hospital e responderia pelo crime que cometeu em liberdade. Bianca decidira ficar na capital e se associar a melhor amiga novamente.

Já era madrugada quando a Calligari deixara a floricultura.

 

 

 

 

No dia seguinte...

Vanessa estava no escritório.

Organizava algumas coisas e já estava quase na hora do almoço quando a porta se abriu. Não precisou olhar para saber que se tratava da Calligari. Só ela entrava sem ser anunciada. A morena se sentou, cruzando as pernas.

-- Que bom que apareceu.

A pintora não falou nada de imediato, pegou o pequeno globo que tinha sobre a mesa, girando-o e observando os paı́ses.

-- Passei a manhã dormindo, fiquei até tarde com Aimê, ajudando-a.

-- Então hoje é o grande dia?

-- Sim, ela está muito entusiasmada.

-- Estou ansiosa... Adoro flores e sei que a Villa Real é muito competente nisso.

-- Sim...

A empresária conhecia muito bem a amiga e percebia que algo parecia irritá-la.

-- Alguma coisa está te incomodando? – Vanessa questionou, encarando-a.

 A Calligari jogou os cabelos para trás.

-- Estou perdidamente apaixonada por ela e essa coisa de esperar para podermos viver juntas está me deixando fora de mim... Quero-a comigo o tempo todo... Quero dormir ao lado dela... Acordar com ela... – Relanceou os olhos. – Acho que estou fincando muito sentimental... Que droga!

Vanessa nada disse de imediato.

Fitava a filha de Alexander e percebia como ela mudara...

Fora muito assediada por mulheres na viagem e se desvencilhara de todas... Seus pensamentos estavam totalmente presos na herdeira de Otávio.

 -- Foi você que disse que desejava que ela tivesse tempo... – Deu de ombros. – E' isso que dar julgar a mimadinha pela idade. – Voltou a digitar. – Ah, você fica fofa quando apaixonada.

Diana tamborilava os dedos no braço da cadeira, enquanto seus pensamentos voavam.

 

 

 

 

 

Aimê estava nos fundos da floricultura.

Estava agachada, enquanto começava a plantar suas rosas. No interior da loja também fora criado um jardim de inverno. A tia da Calligari tinha doado lindas flores que eram cultivadas na mansão e na fazenda.

Ouviu passos e ao olhar por sobre os ombros, viu Bianca se aproximar. Sorriu para a amiga, vendo-a se acomodar ao seu lado, ajudando-a.

Mexiam na terra em silêncio, até que a voz da sobrinha do prefeito foi ouvida.

-- Eu preciso te agradecer por ter me aceitado. – A loira disse.

A Villa Real a fitou.

-- Você não tem culpa do que eles fizeram... Sabe que te adoro... E jamais a abandonaria.

-- Você é maravilhosa...

-- Não precisa exagerar também... As duas riram alto.

Bianca olhou para o interior da loja.

– Alanna está muito entusiasmada, sua avó a ensina com muita paciência.

Aimê observou a jovem que a ajudara na floresta.

-- Ela já sofreu muito... Espero que consiga refazer a vida...

-- Ela vai sim...

A Villa Real olhou a hora no relógio. Levantou-se de supetão.

-- Está tarde, eu preciso comprar algo! Tome conta de tudo, não demorarei.

A loira a deteve pelo braço.

-- Vai sair assim? Ainda tem muita coisa para arrumar... Está toda suja!

-- Não, vou vestir algo... – Desvencilhou-se do toque. – Preciso fazer uma coisa, prometo que não demorarei. – Beijou-lhe a face.

Bianca sorriu, enquanto via a amiga se afastar feito um furacão.

 

 

 

O sol ainda não tinha se escondido e as pessoas já se aglomeravam no interior e no estacionamento da floricultura. O interior era todo decorado em madeira rústica, até mesmo o piso. As vitrines exibiam as mais belas espécimes,

além de ursos bombons e vinhos.

O lugar era bastante aconchegante.

Aimê, Cláudia, Bianca e Alanna vestiam roupas pretas e aventais brancos com o logotipo da loja. Champanhes eram servidos e alguns petiscos.

No lado de fora, havia uma banda local que tocava baladas românticas. Todos pareciam felizes e as vendas se misturavam com os sorrisos.

A Villa Real falava sobre cada uma das flores, explicava sua origem e significado.

Observou os olhares se voltarem para a entrada. Aimê sentiu um arrepio no peito.

Diana estava linda, usava vestido longo preto sem alça, os cabelos soltos. Ela se aproximava de braços dados com Antônia.

Vanessa vinha mais atrás e estava acompanhada do marido.

A filha de Otávio sabia como a amada era uma pessoa admirada e como todas desejavam se aproximar, ela mesma desejou correr para os seus braços.

Antônia deixou a sobrinha pelo caminho, aproximando-se. Aimê recebeu o afetuoso abraço.

-- Estou tão feliz em ver essa maravilha pronta! A jovem exibiu um enorme sorriso.

-- Obrigada, Dinda!

A senhora Calligari sempre demonstrara grande carinho pela garota e agora quando a relação entre ela e a pintora tinha sido assumida, a relação ficara ainda mais estreita.

-- Vou falar com os outros... Fique de olho na sua mulher! – Piscou travessa.

Diana observava a esposa conversando com Vanessa e o marido e ainda não tinha conseguido falar com ela. Vez e outra os olhares se encontravam.

Respirou exasperada, enquanto se livrava de um jornalista.

Aproximou-se da amada, vendo-a falar sobre as flores para um casal que se animara e comprara uma arrumada cesta.

Ficou ali parada, esperando impacientemente o momento que ficaria sozinha com a amada. Sentiu o aroma dela...

Naquele dia só se falaram por telefone e só agora se encontravam...

Felizmente os jovens se afastaram, Bianca se aproximou para atende-los para a felicidade da major.

-- Você está linda! – Aimê disse com um sorriso grande. – Uma honra por sua presença...

A morena se aproximou mais, como se fosse beijá-la, mas apenas parou, sentindo o hálito doce.

-- Eu amo você, senhorita Villa Real...

A jovem mordiscou a lateral do lábio inferior, enquanto mirava os olhos tão negros e brilhantes. Passaram longos segundos assim... Fitando-se...

Engoliu em seco.

Queriam que naquele momento não estivessem no meio da tanta gente. Um cliente se aproximou.

-- Preciso das flores mais lindas porque quero pedir minha namorada em casamento. – O rapaz dizia apressada.

Aimê viu a frustração no rosto da amada.

Beijou-lhe a face demoradamente e sussurrou em seu ouvido:

-- Me espera...

Antes que a mulher pudesse dizer algo, seguiu junto com o rapaz. Diana pegou uma taça de champanhe e ficou bebericando lentamente.

 

 

 

A inauguração foi um verdadeiro sucesso e já era tarde quando as últimas pessoas deixavam o lugar.

 Ao final só restaram Diana e Aimê na floricultura.

A Calligari estava sentada na poltrona, enquanto a Villa Real arrumava algumas coisas no caixa.

A major bebericava o champanhe quando a filha de Otávio se aproximou com um buquê lindo de lı́rios.

A pintora pareceu surpresa, ainda mais quando viu a amada se ajoelhar diante de si, tomando sua mão direita.

-- Eu sei que sou uma pirralha... – Sorriu nervosa. – Sei que sou a mimadinha... Diana segurou o lindo buquê.

-- Mas eu quero que seja a minha mulher... – Tirou a caixinha de veludo do bolso. – Case-se comigo, princesa... – Pediu relutante. – Enfrente comigo todos os dias que ainda estão por vir...

Os olhos negros se encheram de lágrimas...

Fitou-a e seus lábios pareciam não conseguir verbalizar as palavras... Aimê percebeu, abraçando-a...

Sentia as lágrimas dela lhe molharem a pele... E fizera o mesmo... Afinal... Sentia a mesma emoção... O mesmo desejo de estar para sempre ao lado dela...

Sussurrou em seu ouvido.

-- Eu te amo... Te amo... Te amo...


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