A dama selvagem - Capítulo 34
A noite chegara com seu esplendor.
O céu estava tomado por estrelas que
brilhavam anos-luz de distância. Quem mirasse um imenso abobado seria
capaz de
vislumbrar imagens que
só a grande
capacidade humana tornaria
possível. A Via
Láctea tinha uma
imensidão desses corpos celestes, algumas com trilhões de anos, outras
apenas sendo vestı́gios do que foram um dia.
O acampamento estava deserto.
Todos já tinham bebido muito, dançado e
debochado da situação da prisioneira, agora tinham se recolhido. Não achavam
que a Calligari fosse mais uma ameaça, mesmo recebendo ordens de Crocodilo para
não baixar a guarda, não havia bons funcionários naquele mundo tão grande.
Usaram as prostitutas e seguiram para esvaziar todo o arsenal de álcool.
O traficante chefe tinha se recolhido
cedo, bebera todo o vinho e isso fora suficiente para que os que seguiam sob
seu comando fizessem o que queriam... Ignorando uma possível ameaça da parte da
morena.
Alanna fora designada para guardar a
Villa Real e os cães bem treinados não permitiriam que alguém deixasse o
lugar sem antes dilacerar as carnes dos invasores.
A fogueira ainda queimava no centro
acampamento. As labaredas alaranjadas projetavam sombras no chão e aqueciam a
frieza da noite. Talvez não demorasse a o fogo consumir toda a madeira, mesmo
assim, enquanto estivesse viva, iluminava o lugar e dava um pouco de calor.
Diana ouviu um barulho e abriu os olhos
com muita dificuldade. Demorou alguns segundos para se acostumar com a
escuridão.
Tremeu com o vento, mesmo assim tinha a
impressão que seu corpo estava pegando fogo. Sentia espasmos, arrepios,
calafrios...
Sentia os dentes bater...
Ouvia a própria respiração pesada...
Como se para o oxigênio chegar a seu pulmão fosse uma ação bastante difı́cil
de executar.
Não sabia se desmaiara ou se dormira...
Apenas apagara durante longas horas. Tossiu e isso a fez gemer, pois era uma
ação dolorosa.
Tentou mexer os dedos...
Seus braços estavam dormentes, não os
sentia devido ter ficado se apoiando neles na maioria do tempo.
Moveu as pernas lentamente, praguejando
baixinho ao perceber que a blusa tinha colado na marca que fora feita eu seu
abdome e com o movimento, ela descolou.
Cerrou os dentes para não gritar.
O famoso V que Otávio tanto desejara
tinha sido colocado em sua pele... Fora marcada a ferro como ele tanto ansiara
para fazer...
Lembrou-se dos olhos azuis de Aimê,
recordou-se de como conseguira visualizar a própria dor neles... Suspirou...
Amava-a... Amava-a como nunca cogitara a
possibilidade de se sentir tão entregue em uma relação... Desejava despertar
ao seu lado e ver aquele sorriso todas as manhãs...
Umedeceu os lábios, sentindo-os
ressecados... Moveu o quadril...
Seu corpo doı́a demasiadamente... Não
bastara ter sido marcada, logo em seguida fora espancada pelo segurança loiro...
Sabia que tinha quebrado algumas
costelas... Respirar era algo que estava sendo muito difı́cil de fazer. Ouviu o
som novamente que a despertou e ficou a observar com atenção o lugar deserto.
Os cachorros latiam, porém pareciam
assustados com algo e isso os deixavam quietos.
Observou a trilha que dava para a mata
fechada e pensou se uma onça surgiria a qualquer momento e a comeria.
Seria um fim tão idiota quanto o do
grande Hércules... Uma morte sem glória para alguém que já demonstrara
tanta bravura nas inú meras batalhas travadas.
Não poderia morrer sem tirar a Villa
Real daquele lugar... Precisava salvá-la... Precisava...
Sentiu a boca seca e mesmo que soubesse
que morreria de hipotermia, desejou que chovesse novamente, assim poderia matar
aquela secura na garganta...
Parecia que havia uma bola que incomodava
quando tentava engolir
Ouviu novamente o silêncio e aquilo
fora ainda mais perturbador... Os animais pareceram quietos de mais para a
natureza selvagem que exibiam...
Onde estariam todos?
Conseguia visualizar as lamparinas
iluminando o interior das barracas... Com certeza não acharia que ele pudesse fugir...
Deu um sorriso amargo...
Realmente seria uma ideia impossível de
se executar sem o auxı́lio de outros... Recordou-se de Tupã...
O pajé
falara para ela pedir ajuda ao primo, mas aquilo seria algo impossível
de acontecer... Ele não a ajudaria nem que por esse ato fosse coroado por
todos os espı́ritos de bravura...
Odiavam-se... Disso não havia
dúvidas...
O guerreiro não perdoava o fato da
morena ter se envolvido com Sirena e ela não perdoava o fato do abominável
Uracan ter executado sua mãe e lhe tirado a chance de conhecê-la.
Suspirou ao ouvir passos e imaginou se
seria novamente torturada e espancada, mas ao ver a loira que lhe dera água
mais cedo, sentiu-se aliviada.
A mulher parou bem próximo da morena.
Ela a olhava com curiosidade.
Sabia o que tinha se passado e precisara
ficar calada para que a jovem Villa Real não fizesse uma loucura ao saber do
ocorrido.
-- Como está se sentindo? – Alanna
questionou, enquanto mirava com atenção a bonita pintora. – Trouxe um unguento
para colocar nos machucados. – Tirou um pequeno frasco que trazia no bolso.
A filha de Alexander abriu a boca para
falar, mas não teve êxito na primeira tentativa, mas logo voltou a tentar.
-- Eu... Eu já estive melhor... Agradeço...
A outra sorriu de forma simpática.
Sabia como aquela mulher estava sendo
forte... Viu-a desmaiar e encontrá-la desperta fora uma verdadeira surpresa.
-- Como consegue ser tão forte? Outra
no seu lugar já teria sucumbido... – Estendeu a mão, levantando a camiseta e fitando
a marca. – Deus, como a machucaram tanto... – Dizia em lágrimas. – Aimê está
em verdadeiro desespero... – Fitou a major. – Ela pensa que você não irá
perdoá-la.
Diana umedeceu os lábios, enquanto
sentia os dedos delicados passarem o remédio... Sentiu arder de inı́cio... Mas
aquilo era pouco para tudo o que estava a sentir...
Mordeu o lábio inferior para não
gemer.
-- Diga a mimadinha que a amo...—Falou
baixinho. -- Que estou orgulhosa da coragem dela... E que vou tirá-la daqui...
Vim salvá-la...
O olhar da loira se desviou para a
figura que se aproximava por trás.
Levantou-se, cessando os movimentos.
-- Prefiro ouvir essas coisas dos seus
lábios...
A Calligari se surpreendeu ao ouvir a
voz doce da esposa, não demorando para ver a bela florista parar diante de si.
Sentiu aquele contentamento que parecia tomar conta de todo seu ser...
Encarou-a e desejou mergulhar naquele
mar azul e permanecer presa naquele encantamento durante muito tempo... Era
aquele olhar que gostaria de levar para sempre na sua lembrança.
O som da voz da loira interrompeu seus
pensamentos.
-- Irei vigiar, terão alguns minutos,
mas não deve demorar. – Alanna avisou se afastando, mas voltou-se para ela. –
Se os cachorros latirem, volte rapidamente para a barraca. – advertiu-a.
A Villa Real assentiu, mas não deixou
de fitar os olhos negros da filha de Alexander.
Ficaram sozinhas...
Aimê pegou o unguento, agachou-se
diante da amada, começando a cuidar dos machucados. Fê-lo com muito cuidado,
temendo machucá-la.
Sentiu o corpo dela tremer... Estava
quente... Sabia que estava fraca... Levantou a cabeça, mirando-a.
Diana sentia o toque delicado... O toque
macio que lhe trazia lembranças de outros momentos... A Villa Real se emocionou
ao ver a chaga que causara...
Teve a impressão que uma mão apertava
seu coração... Ela estava tão ferida...
Suspirou, levantando-se ao terminar o
trabalho. Pegou a pequena garrafa que trazia consigo, aproximando-se, colocou
em sua boca.
-- Beba...
A morena fez o que fora dito, enquanto
olhava a filha de Otávio, parecendo querer mergulhar naquele rosto bonito...
Naquele olhar doce... Mais uma vez
ansiou por abraça-la e passar horas só sentindo o contato do corpo no seu...
A major bebeu todo o conteú do e logo a
esposa guardou o cantil.
-- Agora deve voltar, mimadinha... Não
quero que tenha problemas...
A jovem sentiu-a muito cansada, sem
forças para nada...
Aimê fez um gesto afirmativo com a
cabeça, mas não se afastou... Estendeu a mão, tocando a face bonita e cheia
de hematomas... Acariciando-a delicadamente.
A ı́ndia se sentiu confortável,
adorando o carinho... Lembrou-se de como seus corpos se completavam
perfeitamente... De como adorava quando os lábios rosados passeavam timidamente
por sua pele...
Desejava amá-la até que perdesse as
forças... Até sentir o suor escorrer... Deus, teria novamente essa
oportunidade?
Tentou sufocar aqueles pensamentos
perturbadores, ainda mais por saber que não teria como acontecer... Desviou o
olhar, fitando a escuridão da floresta... Depois os caminhões cheios de
madeiras...
Eles não demorariam a partir, então
precisaria agir rápido... O tom baixo da esposa lhe chamou a atenção
novamente.
-- Lembro-me de quando me tirou desse
lugar... De como se arriscara por mim, mesmo sabendo de quem eu era filha...
Agora fico a pensar se realmente a Diana que sempre passa o ar de puro sarcasmo
não é apenas uma das suas tantas camadas... – Tocou o lábio inferior com o
polegar. – Fico a pensar como minha famı́lia fora tão cruel contigo... E agora
me encaixo no mesmo cı́rculo.
A morena beijou o dedo que a tocava...
Conseguia visualizar os olhos azuis
brilharem em lágrimas e se sentiu culpada por isso.
Não negava que quando recebera as
chicotadas ficara confusa a ponto de imaginar que realmente a herdeira dos
Villas Real agiria com tanta crueldade por causa de ciú mes. Sentiu raiva
dela, odiou-a por longas horas... Até que ela lhe devolvera a paz ao ir ao seu
encontro e confessar mais uma vez o seu amor.
-- Amor, não pense assim... Ao
contrário do que perturba sua mente, está me ajudando muito...
-- Como? – Questionou irritada. – Veja o
que já fiz em ti! Veja como continuo sendo uma cega inútil que não consegue
nem salvar a mulher que ama...
A Calligari viu o choro lhe molhar a
face. Sabia que para a esposa a situação era ainda mais difı́cil, pois sabia
que aqueles atos feriam não o corpo, mas a alma da jovem, coisa que era mais
difı́cil para ser curado.
Como desejou estreitá-la em seus braços
naquele momento... Como se sentia vazia sem tê-la junto a si...
-- A gente vai sair daqui... – Tentava
demonstrar convicção. -- E quando tudo isso passar, quero me dê aquela chance
que pedi na cabana... –Deu uma longa pausa.-- Quero que permita que te explique
tudo o que sinto e como desejo poder estar ao seu lado todos os dias da minha
vida... – Esboçou um sorriso. – Sabe o que mais quero?
Aimê meneou a cabeça negativamente.
-- Quero que tenhamos filhos... Vou amar
ter uma famı́lia grande... Cuidar dos bebês... Levar para passear... Cinema...
Parquinhos... Vou ensiná-los a
pintar...
A filha de Otávio ficou a imaginar a
cena e rezou silenciosamente para que um milagre ocorresse e que pudesse estar
ao lado da mulher que tanto ama.
-- Um bebê de pele bronzeada e olhos
negros como os seus... Quero que ele tenha esse sorriso... Mas vai ficar no
cantinho da disciplina se herdar sua arrogância e seu orgulho...
Mesmo sentindo dor, o rosto da ı́ndia foi
iluminado com um sorriso grande.
-- Eu vou adorar isso...
Aimê suspirou alto, enquanto se
aproximava da esposa. Sabia que ela estava com febre, sentiu-a quente sob seu
tato. Abraçou-a delicadamente para não a ferir.
-- Eu te amo... – Sussurrou em seu
ouvido. -- Não imagino meus dias sem o seu sarcasmo, sem suas provocações e
sem seus beijos... Então, eu imploro major, não desista de mim... Não
desista de nós... Mantenha-se viva para mim...
Diana apertou os olhos fortemente, pois
sentiu uma incontrolável vontade de chorar... Como cumpriria aquela promessa?
Mais uma vez Alanna se aproximou. Os
passos da loira fez com que as duas se afastassem.
-- Precisamos voltar... Ouvi vozes, não
devemos arriscar...
O olhar da filha de Otávio demonstrava
total frustração.
-- Vá com ela, Mimadinha... Precisa
tomar cuidado... – Tossiu. – Vá... Aimê meneou a cabeça negativamente.
-- Não, eu não quero, desejo ficar ao
seu lado, ficar contigo... Por favor... – Soluçou. – Por favor... Ficarei
aqui... Quero ficar contigo...
A Calligari cerrou os dentes, tendo a
impressão que naquele momento a ú nica dor que sentia era a da alma, essa era
pior do que todas...
-- Amor... Eu prometo que vamos sair daqui...
Prometo... Agora vá...
A loira colocou as mãos sobre os ombros
da jovem, conduzindo-a. A filha de Otávio, ainda se livrou do braço sobre seus
ombros, retornando à pintora.
Voltou a abraça-la.
-- Você vai sair daqui comigo... Logo
vamos ficar juntas para sempre...
Diana fez um gesto afirmativo com a
cabeça, sentindo o beijo delicado sobre seus lábios. Alanna voltou a
chamá-la.
A major viu-as se afastar e novamente
aquela sensação de impotência a invadiu.
Se não tivesse sido tão idiota,
poderia ter conseguido impedir que aquilo ocorresse, mas fora se distrair e
deixar que os bandidos agissem dentro de sua própria casa.
Ouviu o som do falcão e logo a ave
pousou perto de si. Viu-a se aproximar.
Era grande e selvagem, apenas o pajé
conseguia controlá-la... Viu os olhos redondos, mirando-a.
-- Eu preciso de ajuda... Não
conseguirei sozinha... – Falou baixinho. – Preciso que salvem Aimê...
O pássaro não voou como o esperado,
mas continuou a seguir, observando tudo ao redor.
Aimê entrou na barraca acompanhada de
Alanna.
A neta do general demonstrava total
irritação e preocupação.
-- A Diana não está bem... Ela está
com febre, senti-a, não posso deixá-la sozinha... Preciso tirá-la de lá...
Ela foi espancada... Por que não me disse?
-- Você não tem como fazer isso! – A
loira a repreendeu. – Não temos como fazer nada e por isso teremos que ter
paciência... Ela é forte...
-- Paciência?! – Praticamente gritou. –
Eu vou ficar aqui esperando pacientemente que Crocodilo mate a mulher que amo?
– Colocou as mãos nos quadris. – Você acha que posso fazer isso? Acha mesmo
que poderia ficar aqui sem fazer nada, enquanto a minha esposa está lá fora
à mercê do ódio de todos esses psicopatas?
-- Mas o que poderemos fazer? Diga-me
você como vamos tirar a Diana daqui, você, nem conhece essa selva... Iriamos
ser pegas ou comidas por animais ou até por tribos canibais...
A Villa Real já se preparava para
esbravejar quando ouviram passos e ambas se voltaram para a entrada. O
segurança loiro entrou.
Mesmo o lugar estando com pouca
luminosidade era possível ver a expressão doentia que ele demonstrava.
-- Saia daqui, prostituta! – Disse se
dirigindo a Alanna. – Agora eu assumo!
Aimê o encarou e sentiu uma raiva
intensa ao lembrar de que ele tinha batido na Calligari.
-- Crocodilo me deixou responsável pela
segurança da prisioneira. – Falou calmamente.
-- Não tem que ser responsável por
nada... Vá ver se algum homem quer seus serviços e suma das minhas vistas
antes que coloque uma bala na sua cabeça...
A Villa Real mesmo assustada, fez um
gesto com a cabeça para que a outra deixasse a barraca. Alanna hesitou, sabia
que aquele homem poderia fazer coisas terríveis com a jovem e temia por isso.
-- Saia! – O segurança berrou. – Ou faço
o mesmo que fiz com a ı́ndia vadia.
A
loira fez o que ele disse, mesmo estando apreensiva.
O olhar atrevido capanga não abandonava
a neta de Ricardo. Olhava-a de forma vulgar, desrespeitosa.
-- Agora somos só nós, lindinha... –
Aproximou-se mais. – Estava pensando em tomar você pra mim na frente da
selvagem, mas Crocodilo é um idiota e não aceita o que quero... Sendo assim,
vamos ter nosso momento aqui... – Estendeu a mão, tocando-lhe a face. – Te
mostrarei como é ser tocada por um homem...
Aimê se livrou da mão atrevida com um
safanão.
-- Não se aproxime de mim, seu
desgraçado covarde!
O
loiro começou a abrir o cinto.
-- Está dizendo isso por ter batido na
sua amada? – Sorriu de forma cruel. – O que a major vai sentir quando souber
que eu fiquei com a namoradinha dela? – Tirou a arma da cintura, colocando
sobre o banco. – Isso sim vai ser uma tortura e tanto, ainda mais devido à
arrogância que ela sempre demonstra... Uma selvagem com ares de grande dama!
Espero que ela sobreviva a hoje, assim saberá o que fiz...
-- Ela pode ser selvagem, mas acredite,
querido, ela é um milhão de vezes melhor do que todos vocês...
O rapaz pareceu não gostar de ouvir
tais palavras, segurando os cabelos da garota e forçando-a a se aproximar do
rosto dele.
-- Eu vi o vı́deo e posso garantir que
sou capaz de ser melhor do que a sua ı́ndia suja...
A Villa real esboçou um sorrido
debochado.
-- Nem se você tomasse banho com todo
alvejante do mundo chegaria aos pés da minha ı́ndia suja... Nem se nascesse
infinitas vezes teria um por cento do charme da minha esposa... – Meneou a
cabeça negativamente. – Você é tão patético que nem mesmo assusta...
Os olhos verdes se estreitaram em fú
ria e quando ele tentou beijá-la, a garota o arranhou a face. Ele não
titubeou, esbofeteando-a de forma tão violenta que a fez cambalear para trás.
Antes que ela se recuperasse, ele partiu
para cima, derrubando no chão, prendendo-a sob seu corpo.
A Villa Real se debatia, tentando se
livrar do ataque, mas o loiro era forte suficiente para conseguir dominá-la.
Sentiu ânsia de vômito quando ele rasgou sua blusa...
Entrava em desespero quando ouviu um
forte barulho e o corpo do bandido cair sobre o seu.
Ao levantar a cabeça, deparou-se com um
homem alto, de cabelos lisos e grisalhos, tinha a aparência idosa, mas
demonstrava bastante energia.
Ele empurrou o corpo do loiro,
entendendo a mão para ajudar a jovem a se levantar.
-- Venha, menina, precisamos sair daqui!
Um sorriso se desenhou no rosto da filha
de Otávio que aceitou o auxı́lio imediatamente, levantando-se.
-- Piatã... – Abraçou-o. – Deus ouviu
minhas preces...
-- Espero que ele tenha ouvido mesmo,
porque vamos precisar de muita ajuda para sair daqui...
Seguiram lentamente para fora.
O ı́ndio olhava tudo ao redor temeroso.
Já
tinha ido até a major e percebeu
como ela estava debilitada, sabia que seria uma missão quase impossível
tirá-la dali.
A fogueira ainda queimava.
Não havia sinal dos bandidos.
-- A Diana não está bem! – Aimê
falava, enquanto seguiam até a Calligari. – Precisa de ajuda, precisa que
cuidem dosferimentos...
-- Ela é forte e vai precisar ser mais
forte ainda... – Dizia com pesar.
A loira estava lá com a major.
Piatã tirou o cordão que deu a ı́ndia,
usando-o para livrá-la das correntes.
A Villa Real e Alanna apoiavam o corpo
da major, pois sabiam que ela não teria forças para se manter de pé.
-- O que tem nessas presas de cobra? –
Diana provocou.
Piatã a fitou.
-- Seu pai, o grande Alexander, usara
esse cordão e saiu vivo de todas as guerras que travara... Acho que ele
também não sabia a utilidade... Mas me disse que deu sorte, então, mesmo
não sabendo que sorte era algo bom ou ruim, imaginei que a filha dele também
precisaria...
Ouviram as correntes abrindo e se não
fosse as duas mulheres a segurando, a major teria ido ao chão. As pernas não
a sustentaram.
Gemeu ao sentir as dores...
-- Não sei se conseguirei, talvez seja
melhor que sigam sem mim... – Cerrou os dentes ao sentir dor. – Segurou nos
ombros de Piatã. – Leve Aimê para longe... – Disse baixinho. – Deixe-me
aqui...
O ı́ndio a sustentou, mas ela era alta e
forte, não teria como arrastá-la naquela escuridão.
-- Não, eu não irei sem ti... – A
Villa Real retrucou. – Só saio daqui contigo.
Aimê fitou-a com lágrimas nos olhos.
-- Amor, amor... Eu não vou
conseguir... Estou muito fraca... Se ir com vocês, será pior, pois todos
serão pegos e castigados...
Os cachorros começaram a latir.
A filha de Alexander sabia o que deveria
fazer e em nenhum momento recuou... Era corajosa e valente...
-- Leve-a... – Ordenou ao ı́ndio. – Não
esqueça de que sou sua princesa e deve obedecer todas as minhas ordens.
Aimê viu o assentimento no olhar do
ı́ndio e segurou-se à mulher que amava.
Os olhos tão azuis se arregalaram ao
ver o que tinha sido decidido sem levar em conta sua vontade.
Piatã lhe tocou o pescoço e não
demorou para que filha de Otávio sentisse a inconsciência do que se passava .
O olhar azul demonstrava surpresa e
pesar, enquanto lágrimas molhavam sua face.
Não conseguiu falar nada...
Alanna ajudou Diana a sentar, apoiando
suas costas ao tronco.
-- Leve-a... Leve-a e salve-a... – Disse
baixinho. – Mantenha-a em segurança... Essa é a minha ordem e meu desejo...
O velho meneou a cabeça afirmativamente,
voltou a colocar o cordão no pescoço da ı́ndia.
A pintora viu a dor no olhar enrugado...
-- Sou muito feliz por ter servido a ti,
minha princesa... – Beijou-lhe a fronte.
A loira percebeu que algo não estava
bem com a Villa Real, parecia em transe e apenas se mantinha de pé sem esboçar
nenhuma reação.
Os cachorros voltaram a latir...
Diana meneou afirmativamente a cabeça,
fazendo um gesto para que seguissem.
A Calligari viu todos sumirem por entre
as árvores e sentiu um alıvio em seu peito, pois sabia que a mulher que amava
estaria salva e fora para isso que fora até ali... Sua missão estaria
cumprida.
Umedeceu os lábios...
Sentiu o corpo tremer...
Os cães continuavam a latir e não
demorou para os bandidos saı́rem das barracas.
Diana ouviu o falcão, levantou a cabeça
e não demorou para fechar os olhos... Agora poderia descansar...
Que?
ResponderExcluir😪😪
ResponderExcluirSem spoiler Gi, sem spoler... kkkkkk ainda assim, estou novamente sentindo as dores das duas. 😭
ResponderExcluirMeu Deus!!
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