A dama selvagem - Capítulo 29
Aimê se vestia, estava distraı́da, seu
corpo ainda trazia vestı́gios da noite de amor.
Fechava o sutiã frontalmente e ao
recordar de como a boca da major passeara deliciosamente por seus seios,
sentiu-os latejar... Doı́am... Reclamavam por uma continuidade de atenção...
Imploravam pela boca que explorara despudoradamente, pele lı́ngua que adorava
provocar seus mamilos, até senti-los excitados ao limite da sanidade.
Mordeu o lábio inferior.
Fitou o grande espelho da penteadeira.
Notou como o rosto estava corado, os
lábios inchados... A pele ainda estava arrepiada...Pelo reflexo, seu olhar
fora direcionado ao leito... Teve flashes a povoar sua mente... O emaranhado de
pernas, os sussurros enrouquecidos, os gemidos de uma deliciosa dor...
Sentiu aquele incômodo no baixo
ventre...
Seguiu até a cama, pegando um lençol...
Sentia a delicadeza do tecido em seus dedos, a forma macia que ele deslizara...
Que cobrira os corpos suados do exercı́cio prazeroso.
Levou-o ao nariz, inalando não só o
cheiro do momento que tiveram, mas também o aroma daquela mulher que dominava
seus sentidos.
Aquela essência poderosa combinava com
sua dona, com sua princesa selvagem... Suspirou alto.
Não via a hora de poder assumir aquele
vı́nculo, mesmo sabendo que seria um choque para seus avós, levando não só
em conta se tratar de uma relação que enfrentava muitos preconceitos, ainda
tinha o fato de ter se apaixonado pela filha de Alexander.
Deus, tinha perdido o senso igual ao
próprio pai? Estaria em seu sangue enlouquecer pela major? Era aquilo que
Otávio sentira?
Meneou a cabeça tentando espantar os
pensamentos conflitantes. Não havia semelhanças, não mesmo...
Amava-a... Amava-a tanto que se
assustava com a grandeza daquele sentimento que parecia crescer segundo a segundo...
Queria-a para si, acordar ao seu lado
todos os dias, beijar sua boca até não conseguir respirar. Sorriu...
Nossa... Aquela boca beijava muito
bem... Parecia a introdução de tudo o que viria a seguir... Pegou a camiseta,
vestindo-a e depois fez o mesmo com o short.
Estava com vontade de ir ao jardim,
queria sentir o aroma das flores...Mas ainda tinha a promessa da Calligari de passar
o dia consigo...
Deixava o quarto quando viu no enorme
corredor a avó e a sobrinha do prefeito.
As duas mulheres não a viram de
imediato, pois sua atenção estava voltada para os quadros que enfeitavam as paredes.
Havia muitos deles, fora os belı́ssimos
e artesanais vasos de cerâmica.
Aproximou-se na surdina, seus passos
eram amortecidos pelo carpete felpudo. Abraçou-as, demonstrando seu contentamento.
As duas tiveram sobressaltos e isso provocou
risos na filha de Otávio.
-- Nossa, parece que viu passarinho
verde! – A loira a provocou. – Ou será que esse passarinho tem pelos
bronzeados.
A jovem Villa Real lhe dirigiu um olhar
de advertência, enquanto via a expressão da matriarca. Sentia as bochechas
queimarem diante da insinuação da amiga.
-- Não seja boba, Bianca, apenas
acordei feliz como é de costume, ainda mais porque a janela do meu quarto dá
direto para o esplendoroso jardim...
O olhar da esposa de Ricardo passava de
uma para a outra de forma desconfiada.
-- Que bom que é apenas isso! – Cláudia
parecia advertir as duas.
As garotas enlaçaram o braço da mais
velha, seguindo em direção a escadaria.
Conversavam animadamente, falavam sobre
trivialidades, até que o trio estancou no topo da escada ao presenciar a cena
que se desenrolava.
A filha de Otávio teve a impressão que
os pés tinham colados no assoalho e nada poderia tirá-los de lá. O azul
claro escurecia perigosamente.
Engoliu em seco.
No seu cérebro passava todos os
momentos que viveram desde a noite da festa e as declarações, de repente,
soavam falsas, vazias, sem nenhum significado.
Sentiu a mão reconfortante da avó cair
sobre seu braço e naquele momento sabia que não tinha como disfarçar a
decepção que sentia.
Os olhos negros se voltaram para ela.
Sustentou-os.
Diana estava no escritório terminando
de falar com a Vanessa. Nem mesmo tivera tempo para se vestir, ainda usava o
roupão preto pós-banho.
Colocou o telefone no gancho, depois se
apoiou na cadeira de couro, girando de um lado para o outro. Sua atenção foi
direcionada para um pequeno objeto coberto de veludo vermelho.
Pegou a caixinha que estava sobre a
mesa, abriu-a, olhando a pedra solitária que repousava sobre o aro dourado. A
joia era bastante delicada...
Aquele fora o último presente que
recebera do pai...
Aquele anel fora dado a sua mãe quando
Diana nascera... Aquela pequena e delicada preciosidade significara a união
dos dois...
Colocou-a na palma da mão, fitando-a...
Ela reluzia diante dos seus olhos...
O material era frio...
Mordiscou o lábio inferior, enquanto se
perdia em seus pensamentos.
Seu pai sofrera tanto quando a esposa
decidira retornar à tribo, quando abrira mão do que tinham para viver ao lado
do seu povo, mesmo assim, ele sempre acalentou a esperança de que um dia ela
retornaria e poderiam ser felizes juntos... Poderiam ter uma famı́lia...
Doce amarga ilusão!
Abriu a gaveta, pegando o quadro de
moldura de bronze.
Lá jazia a imagem da mulher de cabelos
negros e pele bronzeada tendo um bebê nos braços e mais atrás o general
Alexander exibia um sorriso grande, apaixonado...
Aquela era a única foto que tinha da
relâmpago união...
Às vezes pensava que a mãe fora embora
pelo preconceito que enfrentara ao se envolver com um homem tão importante...
Tateou os dedos sobre o vidro...
Os traços femininos lembravam os seus...
Idênticos aos seus... Limpou uma lágrima saudosa...
Guardou a fotografia.
Levantou-se!
Não queria pensar que seu destino seria
semelhante... Aquele fora o motivo de nunca ter se apegado a ninguém, das suas
relações envolverem apenas sexo... Era sempre prazer... Até que seu caminho
cruzou com a filha do seu maior inimigo...
Apoiou as mãos no tampo de madeira,
pressionando-as até os dedos doerem... Aimê...
Por que com ela era tudo tão diferente?
Amedrontava-se ao perceber o poder que aquele olhar tinha sobre si... Meneou a
cabeça tentando espantar os pensamentos temerosos.
Deu a volta na mesa, deixando o espaço,
seguia até o hall.
Pensava onde levaria a mimadinha para
passear... Queria ter aquele dia com ela, pois depois tinha planos para
mantê-la a salva e talvez fosse necessário mantê-la distante.
Ouviu a campainha e ao ver a demora dos
empregados aparecerem, foi abrir a porta.
Antes que pudesse falar algo, teve os
lábios tomados pela italiana que demonstrava bastante entusiasmo.
-- Estou pronta, amore mio, já pode me
pintar totalmente nua.
Marcela dizia colada em sua boca.
A carı́cia da mulher se aprofundava...
A major afastou-a delicadamente, então
observou o olhar da bela se dirigir a escadaria e ao se virar viu Aimê lá
parada ao lado de Cláudia e Bianca.
Sentiu um estremecimento na nuca...
Os olhos azuis a encaravam de forma não
apenas acusadora, mas também demonstrava grande decepção.
Nunca em sua vida uma mirada lhe
atingira tão forte como aquela expressão de dor que a neta do general
demonstrava.
A ruiva ainda tinha os braços em volta
do seu pescoço.
-- Alessandra, meu corpo já se arrepia
por imaginar seus toques... Ainda recordo de como o faz tão bem!
A morena voltou a fitar a italiana e
quando virou sua cabeça em direção a escada, viu que a garota não estava mais
lá.
Delicadamente se livrou do abraço.
-- Eu já volto!
Marcela pareceu surpresa ao ver a morena
subir rapidamente as escadas. Cláudia e Bianca ficaram lá, estáticas.
Diana abriu a porta do quarto e
encontrou Aimê parada no meio dos aposentos. A garota estava próxima à cama.
Os olhos azuis demonstravam a raiva que
estava sentindo. O pé batia repetidamente no chão.
-- Saia! – A Villa Real falou por entre
os dentes. – Não deveria ter vindo aqui!
A major encarou-a e sentiu a fú ria que
ela deixava transparecer em sua expressão. Aproximou-se e quando tentou lhe
tocar o braço, a jovem se livrou com um violento safanão.
-- Não ouse me tocar, sua perdida!
A Calligari passou a mão pelas madeixas
negras, enquanto ouvia o som da respiração pesada da amada. Sabia que aquele
terreno era delicado e precisava ir com muita calma.
-- Aimê... – Chamou relutante. –
Deixe-me explicar o que se passou.
A neta de Ricardo jogou a cabeça para o
lado, arrumando os cabelos por trás da orelha.
-- Você não tem que me explicar nada!
– Ergueu o queixo orgulhosamente. – Sabe que agora me recordo daquela vez que
inventou de me pintar, me seduziu e depois me humilhou... – Apontou-lhe o dedo.
-- Naquele dia você falou sobre sua modelo... Ah, que lindo, você pode ficar
com ela!
Diana a fitava e pela primeira vez em
muito tempo não sabia como agir, como se justificar, na verdade, não se
sentia bem com a raiva da esposa, ainda mais por que não tivera culpa da
Marcela lhe beijar, não esperara por isso, fora surpreendida pela italiana.
Umedeceu os lábios, sentindo-os secos.
-- Deixe-me te explicar... – Insistiu se
aproximando. – Eu fui pega de surpresa...
-- Não! – A moça estendeu os braços
para afastá-la, interrompendo-a. – Não chegue perto de mim! – Advertiu-a. –
Não desejo ouvir nada que venha de ti! – Meneou a cabeça em decepção. -- Não
acredito que caı́ mais uma vez na sua conversa. – Limpou uma lágrima que a
traia. – Acho que você se diverte me fazendo de tola... Diverte-se me ferindo,
tenho certeza! – Cerrou um pouco os olhos. -- Ainda estar a se vingar de mim,
major?
A pintora via o desespero da amada e se
sentia impotente por não ter as palavras certas para explicar o ocorrido.
Colocou as mãos no bolso do roupão.
-- Eu não te fiz de boba! – Disse
impaciente. – Não tenho culpa se a Marcela entrou e me beijou, eu nem mesmo
esperava por isso... – Estendeu o braço para lhe tocar a face, mas acabou
desistindo ao ver o olhar irado. – Não estou me vingando de ti... – Falou
baixinho. – Eu juro que não estou...
Aimê esboçou um sorriso de total
deboche. O som beirava ao desespero.
-- Você quer dizer que essa mulher veio
aqui e sem mais nem menos te beijou? – Arqueou a sobrancelha. – Diga-me que
não transou com ela! Ouvi as palavras, vi como ela parecia interessada em
repetir o interlúdio... Vá lá com a sua musa e me deixe em paz! – Usou um
tom mais alto. – Vá lá com a sua amante e me esqueça!
Os olhos negros se estreitaram.
Tentava manter a calma, pois se
esbravejasse, a situação ficaria mais difı́cil. Massageou as têmporas.
O olhar da neta do general continuava
implacável. Os olhos azuis pareciam soltar chamas. Cobriu o rosto com as mãos
e depois a fitou vencida.
-- Sim, eu fui para cama com ela, mas
foi na época que passamos por aquele problema, quando você tinha me acusado
de destruir sua floricultura! – Passou a mão pelos cabelos. – Não acredito
que isso tenha alguma coisa a ver com a nossa situação atual... A gente nem
mesmo estávamos juntas! – Buscava se justificar.
A face da Villa Real pareceu mais
transtornada diante do que ouvia. Apontou-lhe o dedo em riste.
-- Olha, Diana, o que você acha ou
deixa de achar não me interessa... Afinal, você ficou com aquela tal
recepcionista no mesmo quarto que eu estava... Não tenho motivos para
estranhar seus atos.
-- Está misturando as coisas! – Disse
impaciente. – Está falando de situações diferentes. Se for assim vai jogar na
minha cara todos os meus casos! – falou irritada.
-- Eu estou misturando? – Deu um sorriso
amargo. – Você usou o casamento indı́gena para várias vezes me subjugar,
ainda mais quando temia que outra pessoa se aproximasse de mim de forma tão
ı́ntima... Repetia essa ladainha o tempo todo e agora fala que eu estou misturando
as coisas... Se eu sair beijando outras pessoas não terei problema então? –
Arqueou a sobrancelha em provocação. – Bem, eu posso fazer isso, posso não
ser a poderosa princesa selvagem, mas consigo ser sedutora quando quero.
A morena voltou a se aproximar,
segurando-a forte pelos ombros, mas a Villa Real voltou a se desvencilhar,
arranhando a face bonita de pintora.
-- Saia daqui! – Expulsou-a de novo. –
Deixe-me em paz! Não me importo com quem irá para a cama, apenas saiba que em
mim não tocará mais!
Diana tocou a ferida.
-- Deus, eu juro que não tive a
intenção de que isso acontecesse, ainda mais agora que estamos tão bem... –
Respirou fundo. – Por favor, não deixe que isso atrapalhe o que começamos ...
A filha de Otávio viu o fio de sangue
macular a face da artista.
-- Eu acho que a gente já foi longe de
mais... Agora saia e me deixe sozinha! – Dizia mais calma.
O maxilar da major enrijeceu e seus olhos
pareceram ainda mais escuros.
-- O que está querendo dizer com isso?
– Indagou por entre os dentes. – Eu não acredito que vai agir com uma
garotinha estúpida por algo que eu não tive culpa!
A Villa Real engoliu em seco.
Seguiu até a janela.
Observava as flores e tentava manter a
tranquilidade. Apertou forte o concreto. Sentiu os dedos doı́dos.
Quando se sentiu pronta para continuar
aquela discussão, virou-se para a Calligari.
-- Eu sou uma garota estúpida... Eu sou
isso que você disse!
A major voltou a respirar fundo.
Cruzou os braços sobre os seios e permaneceu
ali parada, observando-a, fitando-a intensamente, sustentando o olhar que
demonstrava serenidade mesclada à raiva.
-- Aimê, eu vou deixar que você pense.
– Usava um tom mais controlado. -- Deixarei que raciocine e perceba que eu não
fiz nada de errado e que eu te amo muito... e não tenho nenhuma vontade de
ficar com outra mulher, pois eu só desejo você, só quero você... – Torceu o
canto da boca. – Quando você se acalmar, conversaremos novamente.
O olhar da Villa Real permanecia
impassıv́ el, demonstrando toda sua
indiferença com as palavras que foram ditas cheias de emoção.
A bela princesa ainda ficou no lugar
durante algum tempo, até que se afastou.
A filha de Otávio ficou parada no meio
do quarto.
Sentia o sangue correr mais rápido em
suas veias, vontade de esbravejar, gritar em plenos pulmões contra aquele ser
que destruı́ra todas as suas defesas...
Descarada!
Como ela vinha com aquele ar de dona da
situação tentar se explicar, como se o que aconteceu não falasse por si só. Fitou
a cama, vendo o leito que tinha se amado durante a noite toda.
Cerrou os dentes.
Engoliu em seco novamente, sentindo o
amargar da decepção no paladar. Parecia tentar controlar a respiração.
Quando viu a ruiva se atrever a beijar a
Calligari sentiu vontade de voar sobre as duas. Desavergonhadas!
Seguiu até o leito, puxou os lençóis,
jogando-os no chão violentamente.
Pegou a delicada coberta de seda,
rasgando-a em vários pedaços, como se assim pudesse se livrar dos momentos que
viveram... Como se pudesse vingar o seu ultraje.
As lágrimas lhe banhavam todo o rosto.
Levou a mão a boca, mordendo-a,
tentando conter o soluço. Ouviu batidas na porta e rezou para que não fosse a
major. Secou os olhos e esperou.
Bianca entrou lentamente, observava toda
a bagunça do quarto. Fitou a jovem.
-- O que houve? – Questionou assustada.
– Você está bem? Aimê encarou a amiga, mas permaneceu em silêncio.
-- A Diana passou por mim cuspindo
fogo... Brigaram?
A Villa Real mordiscou o lábio inferior
demoradamente.
Não queria falar sobre o assunto, mas
precisava desabafar ou acabaria tendo uma sı́ncope.
-- Ela foi embora?
A loira meneou a cabeça afirmativamente,
parecia apreensiva.
-- Entrou no quarto e bateu a porta tão
forte que temi que a partisse em duas.
A
filha de Otávio trincou os dentes, fechando as mãos ao redor do corpo.
-- Ainda ela vem querer se explicar? –
Disse em lágrimas. -- Você sabia que a consagrada pintora Alessandra
Calligari vai pintar aquela mulher nua? Acredita que ela teve o disparate de me
chamar de estú pida? – Passou a mão pelos cabelos. – Eu estou com muita
raiva... Com tanta raiva que precisei me controlar para não bater na cara
arrogante daquela selvagem! – Soluçou. -- Que fique com a amante, mas que me
deixe em paz!
Bianca viu os olhos azuis chorosos, a
face vermelha de cólera.
Desejou fazer algo para que a amiga não
ficasse assim. Ela estava tão bem com a relação e de repente acontece isso.
Aproximou-se, sacando-lhe as lágrimas com as costas das mãos.
-- Não fique assim, eu não acho que a
Diana tenha algo com aquela ruiva...vimos como a outra se jogou nos braços da
sua pintora.
Aimê demonstrava uma expressão de
total incredulidade, enquanto colocava as mãos na cintura, afastando-se.
-- Ninguém sai beijando as pessoas sem
ter recebido liberdade para isso! – Esbravejou. – Sem falar que a major me
confessou que transou com essa tal.
A loira parecia estupefata com a
declaração.
-- Agora? – Arregalou os olhos. – Enquanto
vocês estavam juntas?
-- Não! – Usou um tom mais alto. -- Mas
já tı́nhamos algo, foi depois que ela retornou da cidade, quando fiquei
sabendo de tudo.
A sobrinha do prefeito pareceu mais
serena.
-- Mas, mesmo assim, recorde-se de que
naquela época teve toda aquela história que o seu avô inventou, estavam
separadas... – A jovem parou ao ver a cara de irritação da amiga. – Eu só
acho que você deveria deixar que ela explicasse. – Levantou as mãos em sinal
de rendimento ao ver a exasperação de raiva da outra. – Ok, não falo mais
nada!
A Villa Real seguiu até a janela.
Observou o vasto jardim, respirando
fundo o aroma refrescante das flores.
Ela sabia que Bianca tinha razão em
alguns pontos, porém não conseguia entender o fato da Calligari ter ficado
com outra depois de terem tido momentos tão ı́ntimos. Era como se nada tivesse
valor...
Como podia ainda cogitar pintar aquela
mulher... Fechou os olhos e lembrou do beijo que presenciou.
Mesmo que ela tivesse sido pega de surpresa,
por que não a empurrou?
Ela correspondera a carı́cia, pouco
tempo depois de terem ficado juntas... Pouco tempo depois de terem se amado
intensamente...
Não demorou para o carro esportivo
deixar a mansão em alta velocidade. Não, não permitira que a filha de
Alexander a ferisse novamente.
Vanessa seguiu até a cobertura da
Calligari já ao anoitecer.
Ficara preocupada quando esteve na
mansão e ficara sabendo por Bianca o que tinha se passado mais cedo.
Tentara manter um diálogo com Aimê,
porém fora impossível, ainda mais porque a garota se mostrava irredutível em
suas convicções.
A major teria problemas em domar os ciú
mes da esposa. Imaginou como a artista reagira diante disso.
Ela estava acostumada a agir da forma
que queria e não tinha espaço em suas relações para nenhum tipo de
possessividade. Apenas entregava-se e cobrava o mesmo, porém apenas na cama,
fora dela, não dava direitos aos seus passageiros casos.
Quem diria que ela se apaixonaria pela
filha de Otávio!
Estranhara ela não ter ido a sua
procura para esbravejar, mas ao ligar para o apartamento descobriu que a major
passara o dia na companhia da italiana.
Logo agora que tudo estava bem, surgia
esse problema. Pegou a chave na bolsa e abriu a porta.
A empregada não pareceu surpresa com a
presença da empresária.
-- A dona Diana está na piscina.
Vanessa apenas assentiu, enquanto seguia
para lá.
A Calligari estava deitada na
espreguiçadeira de vime, entre mais três enfileiradas. As luzes iluminavam a
área bem decorada.
Uma piscina grande, algumas mesas e
cadeiras ao redor. Plantas ornamentavam o lugar, suspensas nas paredes ou em
vasos pelo chão.
Havia bebidas e comidas sendo servidas.
Três mulheres se divertiam dentro da
água, enquanto a morena permanecia quieta, tendo em suas mãos um caderno de
desenho e lápis.
Parecia concentrada...
Uma música agitada tocava.
Ao levantar a cabeça, a major viu a
empresária se aproximar com um olhar de reprovação, voltou a focar em seus rabiscos.
Vanessa olhava tudo e parecia não
gostar do cenário. Meneou a cabeça, depois parou diante da artista.
Encarando-a.
-- Interessante como você se comporta
depois de ter uma briga com Aimê. Espero que ela não chegue a tomar conhecimento
disso. – Apontou para as mulheres.
A morena a mirou por alguns segundos,
depois voltou a prestar atenção ao desenho que fazia.
Marcela acenou para a empresária que a
ignorou totalmente, enquanto puxava uma cadeira e sentava ao lado da amiga.
Observou o arranhão em sua face.
Desde que recebera a ligação da
italiana previu que causaria problemas, só
não imaginou que seriam em níveis tão difíceis.
-- Diana, o que significa isso? –
Apontou para as convidadas. – Decidiu fazer uma orgia básica, quando deveria
estar tentando convencer a sua esposa de que não há nada entre você e a
ruiva?
A Calligari respirou fundo, enquanto
deixava o caderno de lado.
-- O que você quer que eu diga? Eu
expliquei a ela, disse que fui pega de surpresa, mas a filha de Otávio não
passa de uma pirralha mimada e estúpida!
A empresária voltou sua atenção para
as beldades. Pareciam bastante interessadas em se divertir.
Dançavam na borda, pulavam...
Em determinado momento fizeram coro ao
tirar a parte de cima do traje de banho. Vanessa voltou a encarar a pintora.
-- Ah, sim, claro! Imagino que se a
história se invertesse você não se importaria de ter visto a mulher que ama
aos beijos com outra. – Ironizou. – Logo você que não tem paciência para nada.
Logo você que não tem ciúmes! – Ironizou.
Diana começou a massagear as têmporas.
Desviou o olhar da empresária, fitando
a alegria das belas italianas que bebiam e se divertiam dentro da água.
Quando deixará a mansão, levara
Marcela consigo. Percebia que não podia simplesmente deixa-la na mão, ainda
mais depois de ter se comprometido a pintá-la. Para sua surpresa, a bela ruiva
tinha viajado para o paı́s com três amigas e acabara convidando-as para ficar
ali.
Sabia que aquela fora uma péssima
ideia!
Estava irritada, ainda mais por ter
passado o dia todo ligando, pedindo para que a chamada fosse passada para a
Villa Real, mas em nenhuma das ocasiões fora atendida por ela.
-- Vanessa, eu não sei o que fazer!
Acredite, eu jamais quis que isso acontecesse, nossa, estava tudo tão bem. –
Cerrou os dentes. – Mas é muito difı́cil conversar com Aimê, ela não me
escuta, pior, exibe aquela expressão que me tira do sério.
-- E você acha que ficar aqui com todas
essas mulheres vai te ajudar em algo? A morena estendeu o braço, pegando o
copo.
Bebeu lentamente, enquanto parecia
ponderar.
-- Eu sou Diana Calligari, não me
submeto a dramas de pirralhas! – Falou irritada, levantando-se. – Ela quer que
eu me ajoelhe? Que me humilhe diante dela como era o desejo do maldito Otávio?
– Jogou o copo contra a parede. – Que merda!
O corpo bonito da filha de Alexander
estava coberto por um biquı́ni minú sculo. Não havia como passar
despercebida.
Vanessa percebeu o olhar faminto de
Marcela.
Levantou-se, pegou o roupão, cobrindo a
artista diante do olhar irado.
-- Que traje! Acho melhor não ficar se
mostrando assim!
A morena estreitou os olhos
ameaçadoramente, enquanto colocava as mãos nos quadris, jogando longe o robe.
-- Não acredito que está a favor dela,
depois de ter te explicado o que se passou, você ainda vem com essa expressão
de acusação!
-- Vocês formam um casal muito lindo...
O mais lindo de todos... – Depositou um beijo em sua face. – Você a ama, isso
é muito óbvio, porém prefere bater o pé e não tentar dialogar... –
Encarou-a. – Você mesma disse que é a poderosa Calligari, a dama da alta sociedade,
a princesa selvagem... Não falarei mais nada, apenas esperarei que encontre o
caminho a seguir... O seu coração é mais inteligente do que a sua cabeça
nesses casos.
Vanessa sabia que nada poderia fazer,
apenas torceria para que a filha de Alexander deixasse a arrogância e o
orgulho de lado e percebesse como a atitude de Aimê era entendível.
A major permaneceu quieta, observando a
empresária se afastar. Passou a mão pelos cabelos ú midos.
Respirou fundo, fitando o céu nublado.
Parecia ponderar.
Macela se aproximou, abraçando-a por
trás. A morena virou-se para ela.
-- Bebe um pouco, amore, parece muito
tensa! – Entregou-lhe a taça.
Diana mirou o lı́quido âmbar e só
depois de alguns segundos ingeriu todo o conteú do de uma vez.
Aimê jantava com os avós, Bianca e o
prefeito. Passara todo o dia no quarto.
Recebera a visita da avó em determinado
momento e fizera tudo para disfarçar sua dor, sua raiva que ainda queimava por
dentro.
A empregada servia simpaticamente a
todos, mas apenas o tio de Bianca demonstrava entusiasmo com a refeição.
Ricardo estava cabisbaixo, parecia pensativo, Cláudia observava as reações da
neta e percebia que ela não estava bem.
O prefeito tagarelava sem parar o tempo
todo.
Em determinado momento da refeição, a
jovem Villa Real questionou:
-- Onde está o Alex? Faz quase dois
dias que não o vejo.
A loira tomou um pouco de suco.
-- É verdade, tio, eu tentei ligar para
ele e o celular está sempre dando desligado. Só naquele momento o general
encarou a todos, principalmente o sogro da neta.
-- O meu filho precisou resolver um
problema... – Apressou-se em dizer. – Onde ele foi não pega sinal de telefone
móvel, mas me comuniquei com ele por fax.
-- Pois depois me passe esse número
porque desejo falar com ele. – A filha de Otávio falou distraidamente,
enquanto parecia brincar com a comida no prato. – Há algumas coisas para serem
resolvidas.
Passos firmes foram ouvidos e não
demorou muito para Diana Calligari aparecer na sala de jantar. Os olhos negros
encararam os azuis com grande intensidade, parecia surpresa.
Aimê se sentiu hipnotizada, incapaz de
desviar o olhar.
Passara todo o dia tentando não pensar,
mas era impossível, ainda mais ao saber que Diana tinha saı́do com a tal italiana.
Lembrou-se das inúmeras ligações que
se negara a atender...
Percebeu que os cabelos da pintora
estavam úmidos e não conseguiu não imaginar que ela poderia ter banhado nos braços
da ruiva.
O ciú mes, a raiva e a indignação
queimavam dentro do seu peito.
-- Boa noite, major! – O prefeito se
levantou, indo até ela. – Sente-se conosco, nos dê a honra da sua importante presença.
Diana não respondeu ao convite, apenas
deu meia volta, deixando o lugar.
-- É uma mulher realmente incomum, acho
que o melhor é que o casamento ocorra logo e vocês possam sair daqui.
A Villa Real fitou o pai de Alex.
Se ele soubesse o que se passava em seu
ı́ntimo... Se soubesse que sofria pela filha do general Alexander... Que sofria
como uma condenada ao imaginar que a morena esteve nos braços da maldita
italiana.
Observou o prato de comida intacto,
mexia o talher de prata de um lado para o outro. Ao levantar a cabeça viu sobre
si o olhar preocupado de Cláudia.
Aimê suspirou, deixando os talheres de
lado, levantando-se.
-- Não estou me sentindo muito bem! –
Beijou os avós, depois se despediu da amiga. – Nos encontramos amanhã.
A Villa Real seguiu em direção as
escadas, subindo lentamente, depois passou pela porta do quarto da esposa. Não
parou diante dela, indo direto para seus aposentos.
Queria deitar na cama e poder dormir...
Queria se livrar daqueles pensamentos que a perseguiam implacavelmente. Ao
entrar ficou surpresa ao ver quem estava sentada confortavelmente em uma
poltrona.
Engoliu em seco!
Diana tinha as pernas cruzadas de forma
elegante. Parecia tranquila e com aquela pose de arrogância costumeira. Aimê
cruzou os braços sobre os seios, sentia os batimentos do coração aumentar
naquele momento.
Odiava-a!
Odiava sentir-se tão frágil, tão
perdida diante dela.
-- O que faz aqui? – questionou
aborrecida. – Não quero falar contigo e tampouco desejo a sua presença. – Seguiu
até a porta, abrindo-a. – Saia!
A morena relanceou os olhos, não
parecendo interessada em se mover.
Seu
olhar passeou pelos trajes simples da esposa. Mirava as pernas nuas que o short
não cobria... A blusa em alça, de tecido fino, notava a ausência do sutiã...
Moveu-se incomodada.
-- Sente-se! – Apontou o sofá. –
Preciso que conversemos.
A filha de Otávio fechou a porta em um
estrondo, enquanto caminhava com passos largos e retumbantes, parando diante da
morena, fitando-a cheia de indignação.
-- Eu já disse que não quero conversar
sobre a sua amante... Não quero ouvir nada sobre isso, já disse o que penso e
não repetirei! Saia daqui agora!
A Calligari se levantou.
Sua expressão demonstrava frieza ao
encará-la.
-- E quem disse que vou perder meu tempo
falando sobre isso? – Questionou por entre os dentes. -- Acredite no que que
quiser, estou pouco me importando!
Os olhos azuis pareciam surpresos e
magoados. Encarou-a meio deslocada.
-- Então diga o que deseja, major, pois
estou cansada e desejo dormir!
Diana não respondeu de imediato.
Seguiu até a janela, observava tudo com
atenção.
Via alguns seguranças em seus postos e
só naquele momento recordou do loiro que lhe chamara a atenção na noite anterior.
Voltou-se para a esposa.
-- Você sabe atirar? Já teve um
revólver em suas mãos?
A
Villa Real pareceu estupefata com a pergunta.
Meneou a cabeça negativamente.
-- Amanhã te ensinarei a manusear um!
-- Mas para quê? – Indagou apreensiva.
– Eu não gosto de armas!
A Calligari se aproximou, mas ao ver o
olhar de repulsa, deteve-se.
-- Preciso que aprenda a usar, porque se
chegar um momento e você precisar se defender, não quero que seja pega desprevenida.
– Arrumou-lhe uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Estou fazendo tudo para
te proteger, mas eu temo que alguém muito próximo esteja armando com o
Crocodilo e se minhas suspeitas forem verdadeiras, você está correndo perigo
ainda maior.
Aimê
empalideceu ao ouvir aquelas palavras, pois sabia que a major já passara por coisas terríveis e temia que ela
voltasse a ser vı́tima daqueles bandidos.
Engoliu em seco ao ver o arranhão que
fizera mais cedo no rosto bonito.
-- Mas você ainda mais! – Retrucou em
desespero. -- Se isso realmente for verdade, você também corre risco. –
Falava cheia de preocupação. – Diana, vamos falar com alguém, precisamos de
ajuda... Se o que diz é verdade, você também será pega. Esse homem te
odeia!
A Calligari fez um gesto para que ela
lhe ouvisse.
-- Não, não quero que fale com
ninguém e preciso que mantenha essa porta fechada. – Alertou-a em voz baixa. –
Falei com algumas pessoas, mas mesmo assim, não sei em quem confiar. – Dizia
exasperada. – Estou pensando em te levar para longe... – Passou as mãos pelos
cabelos. – Levá-la para a floresta e te deixar na tribo até que eu consiga
prender esse bandido!
A Villa Real se movia pelo quarto
inquieta.
-- Até quando vamos ser ameaçadas? Às
vezes fico a pensar que o melhor seria que me entregasse de uma vez! Não vou
passar a minha vida fugindo desse bandido!
-- Jamais fará isso! – Cortou-a inflexível. – Fará apenas o que eu mandar!
-- Até quando? Até quando isso vai
acontecer? Você está se arriscando por mim! – Encarou-a.
-- Até que eu consiga me livrar dele de
uma vez por todas, só assim você terá paz. – Seguiu até a porta. – Amanhã
cedo te pego e seguimos, faça apenas o que eu disser.
Aimê ainda abriu a boca para falar
algo, mas a morena já deixava o lugar.
Sabia que a esposa também corria perigo
e isso a deixava ainda mais preocupada. Quem poderia estar trabalhando para o
tal bandido?
Seguiu até a cama, deitando-se
pesadamente.
Só em pensar que algo de ruim poderia
acontecer com a pintora, deixava-a enlouquecida.
Mesmo estando com tanta raiva, ainda
temia que lhe ferissem, assustava-se com a ideia de perdê-la... Não...
Deveria fazer algo para protegê-la...
Deus, como temia por ela...
Pegou o travesseiro, abraçando-o.
Sentiu a lágrima solitária lhe molhar
a face e não demorou muito para que outras viessem.
Permaneceu ali, chorando, não porque se
preocupasse com o que se passaria consigo, mas ao imaginar o que poderia se
passar com a filha de Alexander.
No dia seguinte, Aimê desceu cedo.
Na verdade, tivera uma noite de insônia
e em determinado momento cansara de tentar dormir.
Ficou observando pelo vidro da enorme
porta o dia que parecia sombrio. Nuvens escuras ocultavam o sol da manhã,
mesmo assim o canto dos pássaros podiam ser ouvidos.
Parecia apreensiva e ansiosa, vez e
outra olhando para ver se a morena aparecia na escada. Esperava que a roupa que
escolheu fosse adequada. – Pensou em um longo suspiro.
Usava short jeans curto, camiseta regata
branca e sapatos esportivos.
Os cabelos estavam presos em um rabo de
cavalo, mas alguns fios insistiam em se soltar emoldurando sua face. Não
demorou muito para a Calligari aparecer.
A Villa Real desviou os olhos para não
ficar ainda mais encantada por sua beleza.
Diana usava calça de moletom preta, com
listas brancas nas laterais. A peça se ajustava em seu quadril e canelas,
deixando-a mais sexy. Usava também uma regata preta, colada em seu corpo,
delineando os ombros bem feitos, os seios redondos, o abdome liso. Nos pés
trazia um tênis, os cabelos estavam presos iguais os de Aimê, usava viseira e
óculos pretos em estilo aviador.
Trazia uma mochila nas costas.
Ela parou bem perto da filha de Otávio,
passeando seu olhar atrevido por toda a forma exposta, depois parou em seus
olhos.
-- Bom dia para você também! – Exibiu
um sorriso debochado. – Vamos?
A garota apenas fez um gesto de
assentimento com a cabeça.
A morena seguiu, tendo logo atrás de si
a companheira.
O prefeito observava tudo da fresta da
escada.
Agora não havia mais jeito, nem mesmo
poderia desistir ou devolver o dinheiro, seu filho corria risco e se Aimê não
fosse entregue, Alex sofrerias as consequências.
Pegou o celular no bolso.
Observava a tela com o olhar perdido.
Quando aceitou o empréstimo não
imaginou de quem se tratava, fê-lo por estar devendo a alguns agiotas,
precisava arcar com as dıvidas ou teria seu nome envolvido em um escândalo.
Sua futura campanha não sobreviveria a isso.
O que o consolava é que o tal Crocodilo
deixara claro que só usaria a Villa Real para atrair a filha de Alexander,
sendo assim, a futura nora estaria livre e salva em breve.
Apertou forte o aparelho.
Diana merecia morrer estripada, ainda
mais depois de ter se engraçado com a mulher que o filho amava, esse era seu
consolo, fazê-la pagar por sua arrogância e orgulho.
Aimê reconhecia o caminho que seguiam.
Não conversavam.
Ouvia a melodia que tocava no rádio e
se perdeu naquele embalo. Encostou a cabeça na janela, fechando os olhos,
acabou dormindo.
A Calligari mantinha-se concentrada na
estrada, mas vez e outra olhava a acompanhante de soslaio.
Sentia-se vazia sem ouvi-la, vazia sem
as intermináveis conversas, sem o delicioso som do riso da bela mimadinha.
Acelerou um pouco mais vendo as paisagens desertas se sobreporem aos escassos
casebres de beira de estrada. Tudo estava muito verde.
Havia plantações de cana, árvores
frutı́feras, cercas de arame para que os animais não escapassem dos cercados.
Viu um bezerro pastando sozinho e se condoeu dele...
Abaixou mais o volume da mú sica, assim
poderia escutar melhor a delicada respiração da esposa que dormia. Adentrou a
porteira que dava acesso à fazenda.
Viu alguns trabalhadores seguindo para
dura labuta.
Adorava passar entre aquele caminho de
palmeiras imperiais, algo se agitava dentro de si. Lembrava-se do pai...
Estacionou diante da casa da fazenda.
Livrou-se do cinto, mas não saiu do
carro imediatamente. Apenas se virou para a amada. O rosto bonito de Aimê
estava voltado para si agora.
Os olhos grandes e brilhantes estavam
fechados, os lábios entreabertos a ponto de poder ver o branco dos dentes.
Desejou beijá-la...
Passara à noite a pensar como deveria
agir para protegê-la e chegou a conclusão que o melhor seria levá-la até a
tribo de Tupã. Imploraria a ele proteção para a Villa Real, pelo menos, até
que pudesse se livrar do infeliz bandido.
Seria esse o melhor a fazer e depois
pensaria em como fazê-la lhe perdoar mais uma vez. Viu os olhos azuis se
abrirem, pareceram calmos no inı́cio, mas logo demonstraram temor.
A Calligari suspirou, deixando o
veı́culo e depois de alguns segundo a Villa Real fez o mesmo. O pátio da
fazenda estava vazio.
Naquele horário todos deveriam estar
trabalhando.
Ao longe ouvia o canto das mulheres
seguindo para a colheita. Um peão se aproximou trazendo Cérbero.
-- Para onde vamos?
A Calligari se virou para a jovem,
enquanto acariciava a cabeça do animal.
Pegou uma cenoura no bolso da mochila,
dando-lhe.
-- Está bonito... – Tocou a crina sedosa.
– Acho que temos que arrumar uma namorada para você... Alguns potrinhos negros
e selvagens...
A filha de Otávio observava a cena
curiosa. Os olhos de ébano a fitaram.
-- Praticar, te falei ontem. – Montou. –
Venha! – Estendeu a mão.
Aimê não desejava estar tão próxima
a ela, porém sabia que deveria fazer o que estava sendo proposto. Observou o
animal enorme e como Diana parecia ainda mais poderosa sobre ele.
Mordiscou a lateral do lábio inferior
enquanto via o olhar impaciente da pintora. Suspirou alto vencida.
Aceitou a ajuda, acomodando-se atrás da
morena.
Segurou-se a ela e aquilo desestruturou
todo seu autocontrole.
Ela cheirava tão bem que acabou
encostando a cabeça em suas costas, temendo cair. O animal galopava, fazendo o
vento golpear o rosto das belas que o montavam.
A Calligari segurava a rédeas com uma
mão, enquanto a outra depositava sobre a da esposa. Sorriu quando ela tentou
se livrar do toque, mas não permitiu, mantendo-a cativa.
O céu estava escuro, parecia que não
demoraria para uma chuva cair naquela região. A major seguia por um lado
oposto da última vez que a filha de Otávio estivera por ali.
A garota observava tudo com atenção e
percebia que naquela área havia mais árvores, ouvia o som dos animais, o
verde que imperava na vegetação.
Parecia uma pequena floresta...
Surpreendeu-se ao ouvir o guinchar de
primatas... O pipilar dos pássaros parecia uma mú sica sem fim. Observava o
chão coberto por folhas secas.
Quase vinte minutos depois, a major
apeava, descendo.
Estendeu os braços para auxiliar a jovem
e percebia como ela se mostrava relutante, porém sabia que não conseguiria
descer sozinha.
Aimê sentiu o corpo deslizando pelo da
morena e sentiu um arrepio na espinha. Os seios, mesmo com a proteção do
sutiã, se manifestaram.
Mais uma vez viu o olhar de deboche no
rosto da major. Afastou-se.
Diana pegou a mochila, seguindo por
entre as árvores e não demorou muito para chegar a uma área mais descampada.
Havia uma pequena cabana de palha
erguida ali. Havia também algumas latas, um alvo grande e uma espécie de
boneco todo cheio de buracos.
Aimê observava tudo com atenção.
Ouviu o som de água correndo, fitou o
garanhão e percebeu que ele também a fitava. Viu a major pegar algumas coisas
na mochila.
Mirava sem ser vista...
Analisava-a e pensava como seria
difı́cil ficar perto dela, como se sentia traı́da por seu desejo de amá-la e
perdida por essa atração perigosa.
Não poderia suportar uma relação cuja
fidelidade não estivesse presente, não conseguiria viver ao imaginar que a
mulher que amava se dividia entre outras, fazendo o mesmo que fazia consigo...
-- Veja, essa arma é leve, tem
silenciador, porém não é tão fácil atirar quando se treme. – Aproximou-se
com bela pistola. – Preste atenção no que estou dizendo e deixe de distração.
– Repreendeu-a ao senti-la tão dispersa.
A garota observava...
Encolheu-se.
-- Eu não gosto de armas... Já disse
isso...
A major a encarou.
-- Acredite, meu amor, só estou fazendo
isso para que esteja preparada, porém nunca fora essa a minha intenção. –
Colocou o revólver no coldre da coxa, depois se aproximou da esposa,
segurando-a delicadamente pelos ombros. – Eu prometo que farei tudo para te
proteger... – Acariciou o nariz afilhado com o polegar. – Quero apenas que
confie em mim...
Aimê mordiscou o lábio inferior
demoradamente.
-- Não quero que nada aconteça
contigo... Por favor, eu não quero que faça uma loucura e acabe se ferindo...
Não enfrente esse homem sozinha...
A Calligari a surpreendeu com um abraço.
Inicialmente a Villa Real permaneceu com
os braços caı́dos ao lado do corpo, mas logo apertou-a forte, escondendo o rosto
em seu pescoço.
Permaneceram assim por um bom tempo.
Nenhuma palavra fora dita, apenas as
respirações e o palpitar dos seus corações eram ouvidos.
A neta do general sentia as carı́cias
nos cabelos e pedia em silenciosamente que nada de mal acontecesse com aquela
mulher que amava tanto.
Diana se afastou um pouco, mas não a
soltou, fitou os olhos negros.
-- Sei que está brava pela cena que
presenciou, acho que eu reagiria bem pior, teria feito um escândalo, porém
você não, é cordata, além de muito linda... – Delineou o lábio superior
com o indicador. – Mesmo que agora não acredite em mim, voltarei a dizer, não
tenho nenhum tipo de interesse na Marcela ou em qualquer outra... Amo muito
você e mesmo que agora esteja furiosa, ainda continuarei te amando.
Aimê olhou para o céu, percebendo a
nuvem encobrir o azul.
-- Não fale assim... – Fitou-a. – É
como se suas palavras tocassem no âmago do meu ser... – Afastou-se. – Eu estou
triste contigo, muito triste, então prefiro que me dê um tempo para pensar,
porque realmente me assusta imaginar que você tem outras mulheres... Não
suportaria...
-- Eu não tenho ninguém, além de
ti... Mas não continuarei explicando isso. – Voltou a pegar a arma. –
Explicarei como destravar, como segurar e outras coisas que serão
necessárias.
A garota assentiu, percebendo a mudança
na expressão da esposa.
Ouvia com atenção todas as lições e
torcia para que não precisasse realmente fazer aquilo.
Quando fora o momento de colocar em
prática, Diana se posicionou por trás dela, abraçando-a, ajudando-a a mirar.
-- Não deve tremer... – Dizia em seu
ouvido. – Precisa ser firme ou alguém vem e a toma de ti.
A
Villa Real voltou a cabeça para fitá-la e se deparou com o olhar forte.
-- O que eu faço para não tremer,
major? – Indagou bem perto da boca dela. – Há alguma fórmula para isso?
Diana tirou os óculos.
-- Acredito que a única fórmula é a
sua vontade de se manter viva... – Fê-la apontar para o boneco. – Se chegar o
momento e precisar se defender, deverá fazê-lo...
Antes que pudesse apertar o gatilho, uma
forte chuva caiu.
-- Vá para a cabana, enquanto cuido do
Cérbero! – Ordenou.
Aimê ainda hesitou, mas recebeu a ordem
novamente e em tom mais alto. Irritada seguiu até a pequena palhoça.
Sua roupa molhou totalmente devido à
força da tempestade.
Entrou e ficou surpresa ao ver como o
local era acolhedor, mesmo tendo apenas um cômodo.
Havia uma mesa rústica feita do tronco
grosso de uma árvore, um banco no mesmo material e um fogo que imitava uma
lareira.
Pena estar apagado.
Estava frio ali dentro.
Cruzou os braços sobre os seios,
tentando inutilmente se esquentar.
Já estava pensando em sair para
procurar a Calligari quando a pequena porta abriu e a filha de Alexander
entrou. Observou a morena se livrar das roupas rapidamente ficando apenas com
uma lingerie vermelha de renda.
O corpo bonito parecia um verdadeiro
centro de pecado de tão sensual que se mostrava.
As pernas longas e torneada era
enfeitada por uma calcinha em estilo caleçon... Enquanto um sutiã de bojo
cobria parcialmente os seios redondos.
Aimê tentava não prestar atenção
nisso, desviando o olhar curiosamente pelo lugar.
A filha de Alexander não pareceu se
importar com aquilo, enquanto pegava uma bolsa que estava sobre a mesa. Havia
algumas coisas dentro.
Pegou uma toalha, jogando para a esposa
e depois um fósforo.
Não demorou muito para as chamas
queimarem na pequena lareira. Diana estendeu as mãos para aquecer.
Aquele lugar era muito usado por ela
antes, por isso sempre deixava algumas coisas ali, caso precisasse. Virou-se
para a Villa Real, flagrando o olhar dela sobre si.
Arqueou a sobrancelha, enquanto sorria.
-- Dispa-se, vai acabar pegando um
resfriado! – Sentou-se sobre a mesa rústica. – Não se preocupe que não irei
atacá-la. – Pegou uma maçã da mochila e começou a comer. – Mesmo que seja
tão deliciosa aos meus olhos... – Deu uma grande mordida na fruta. – Se eu
conservasse os costumes primitivos da minha tribo, com certeza você seria uma refeição única... Mas como sou um
pouco civilizada, prefiro te comer de outras formas...
A jovem corou diante da insinuação.
Fechou os olhos e por alguns segundos
relembrava o motivo de não permitir que ela se aproximasse de si.
-- Tire essa roupa molhada! – Ordenou. –
Vai acabar ficando doente!
A Villa Real sentia o corpo tremer e
mesmo que odiasse admitir, sabia que a morena tinha razão, pois estava ficando
com mais frio.
Diante do olhar debochado, livrou-se da
camiseta, depois fez o mesmo com o short, sapatos e meias. Rapidamente cobriu o
corpo com a toalha, em seguida soltou os cabelos.
Ouviu o barulho de trovão e o relinchar
do cavalo. Diana desceu da mesa.
-- Onde vai? – Aimê indagou preocupada.
– A chuva está forte.
-- O Cérbero vai ficar muito assustado
com a tempestades!
A neta do general ficou em frente a
porta, impedindo a passagem.
-- Ele vai ter que ser forte, pois você
não vai se arriscar numa chuva dessas!
Os olhos negros se estreitaram
ameaçadoramente.
-- E você vai me impedir? – Chegou mais
perto. – Pensei que não se importasse comigo...
Os olhos azuis estavam tão escurecidos quanto
o céu chuvoso naquele momento.
-- O fato de você não prestar não me
faz não prestar também.
O maxilar da morena enrijeceu.
-- Às vezes quando estamos na cama eu
esqueço que você não passa de uma mimada recém saı́da da adolescência!
Sentiu o estalado na face, os dedos bateram em
cheio em seu rosto.
Diana a tomou pelos ombros
grosseiramente, arrastando-a até a mesa, fazendo-a sentar.
Aimê tentou se livrar dela, mas a
Calligari a deteve os movimentos, pondo-se em meio às suas pernas, segurando-
lhe as mãos para se defender de um novo ataque.
-- Solte-me! – Gritou. – Deixe-me!
-- Você gosta de bater a arranhar, não
é mimadinha? – Apertou-a mais forte. – Se fosse o contrário, diria que sou
violenta e abusiva... Mas como você tem essa carinha de menina frágil se
aproveita...
A Villa Real via o rosto tão perto do
seu... Era possível ver as marcas dos dedos... Aquele cheiro provocante, aquela
boca atrevida e cruel...
Observava os seios da major pouco
coberto pelo sutiã de bojo. Encarou-a.
-- Deixe-me! – Pediu mais calma.
-- Peça desculpas! – Sorriu de forma
debochada. – Olhe nos meus olhos e diga: Perdão, meu amor, eu não quis bater
nessa sua face linda e maravilhosa.
Quando viu os dentes alvos se abrir em
um riso de incredulidade, aproveitou para colar a boca a dela. Aimê ainda
cerrou os lábios, mas a morena era bastante insistente, usando a lı́ngua para
buscar o acesso. Não demorou para as lı́nguas se encontrarem em uma batalha de
vontades, de desejo...
A Villa Real sentiu-a chupar... E não
resistiu ao beijo... Entregando-se a ele, permitindo que a boca explorasse suas
frágeis defesas.
Diana levou os braços dela ao seu
pescoço, fazendo-a abraça-la, em seguida começou a acariciar suas costas,
depois desceu para a lateral, tocando os seios.
Abriu o fecho frontal e logo teve os
dois montes em suas mãos. Depois escondeu a cabeça entre eles.
A Villa Real tocou os cabelos sedosos...
Sentia a respiração contra a pele e sentia arrepios por todo o corpo. Aimê
observava os olhos tão negros... O rosto forte...
Um dia seria capaz de deixar de amá-la?
A morena a encarou.
-- Prometa que quando tudo isso passar e
você estiver salva... Vai me dá uma oportunidade de conversar, deixará que
eu te mostre o quanto te amo e que só quero você... – Usava o polegar para
incitar o biquinho que já se mostrava intumescido.
A Villa Real nada disse, apenas a
fitava...
Estremeceu quando a boca desceu até
seus seios... Enquanto o olhar negro não a abandonava. Cerrou os dentes
fortemente.
Seu corpo não resistia ao toque dela...
Era refém daquela agonia que a possuı́a perdidamente... Sentiu uma lágrima
solitária descer...
Engoliu em seco...
-- Por favor, Diana, não faça isso...
Não use a minha fraqueza nesse momento... Não sabe como estou magoada com
essa situação...
A Calligari suspirou...
Queria-a tanto que sentia dores... Mas
percebia que não deveria ir adiante, mesmo que quisesse mais que tudo. O
maxilar enrijeceu.
Fez um gesto afirmativo com a cabeça,
cessando os carinhos. Fitou-a, enquanto fechava o sutiã da amada.
Depositou um beijo em sua face.
-- Eu sei que vou surtar em alguns
momentos... Sinto que a minha paciência é praticamente inexistente... Mas
nesse momento respeitarei sua vontade...
Aimê assentiu.
Permaneceu lá sentada, enquanto via a
pintora se dirigir até a pequena janela no casebre, ficando lá olhando a
chuva caindo...
Não voltaram a conversar.
Permaneceram quietas, enquanto esperavam
a chuva passar.
A major estava presa em suas
preocupações... Em seus medos... Em seu frustrante desejo de amar aquela
mulher até que suas forças lhe abandonassem...
Esboçou um sorriso triste...
Estaria agora se tornando civilizada
depois de tantos anos?
Já era hora do almoço quando Aimê
retornou para a casa. Diana a deixara na mansão e logo saiu.
Seguiu até o quartel.
Estava pronta para esbravejar diante de
todos e no dia seguinte seguiria até a comunidade, imploraria a Piatã que a
deixasse ir até o chefe, estava certa que aquela era a única forma de salvar
a mulher que amava.
No final da tarde, a Villa Real estava
no quarto quando o prefeito entrou esbaforido.
-- Preciso que venha comigo! – Implorou as
lágrimas. – Ajude-me!
-- Mas o que houve? – A menina estava
sentada na poltrona, tinha seus olhos voltados para o livro. – O que aconteceu?
– Questionou indo até ele. – Diga-me!
-- Meu filho está muito mal, eu preciso
que venha comigo! – Segurou-lhe as mãos. – Só você poderá salvá-lo.
Os olhos azuis se abriram em temor.
-- Mas salvá-lo de quê? Explique! –
Pedia aflita. – O que se passa com o Alex?
-- Não posso explicar agora, apenas me
acompanhe... Apenas faça o que estou pedindo...
Aimê ainda pensou em se negar, porém
ao ver o desespero na expressão do homem, deixou-se conduzir. Estranhou por
seguirem por trás da mansão.
Não conhecia aquela área e estranhou
não haver seguranças por ali. O jardim estava iluminado por luzes, mas naquela
parte estava pardo. Andava rápido, pois o prefeito praticamente a arrastava
pela mão.
Tiros foram ouvidos.
A Villa Real assustou-se.
-- Onde estamos indo? – Indagava,
enquanto passava pelas árvores, parando em determinado momento. – Onde estamos
indo? Cadê o Alex? – Perguntou desconfiada. – O que se passa aqui?
Mais barulhos de tiros.
Tentou se afastar, mas o prefeito a
deteve.
-- Diga-me logo o que se passa, não
darei mais nenhum passo...
Antes que pudesse falar mais alguma
coisa, alguém a segurou por trás, colocando sobre sua boca um pano.
A filha de Otávio ainda lutou, arranhou
o agressor, tendo seu olhar de espanto voltado para o pai de Alex, mas acabou
desmaiando.
O segurança sorriu, enquanto a virava de
frente, olhando o rosto desfalecido.
-- Quando ele vai devolver meu filho? –
O prefeito questionou calmamente. – Está aı́ a isca para pescar a Diana, fiz
minha parte, quero que ele cumpra a dele.
O guarda costas loiro sustentava a Villa
Real nos braços.
-- Não é hora para
falarmos sobre isso, preciso tirar essa garota daqui, causei uma distração,
mas não vai durar muito.
O prefeito observou o homem colocar a
garota nos braços e se afastar rapidamente. Ficaria ali e agiria como se nada
tivesse ocorrido.
Apurou os ouvidos e percebeu que o
tiroteio tinha cessado. Sentou em um banco, sob uma frondosa árvore.
Pegou o celular, via as mensagens...
Tentou ligar para o Crocodilo, mas a
chamada não completava... Fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás...
Não demoraria para o filho ser
devolvido e voltaria em paz para a cidade. Permaneceu no lugar e depois de
algum tempo ouviu passos em sua direção. O chefe da segurança vinha na
companhia de outros.
Levantou-se!
-- O que houve? – O prefeito indagou
tentando demonstrar alarde. – Algum problema?
-- Seu filho acabou de ser baleado na
frente do portão, chamamos o resgate, acertamos alguns, mas os outros fugiram.
😵💔
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