Dolo ferox -- último capítulo - Parte final.
O trânsito estava cheio naquela
tarde. Os carros seguiam sempre atrasados para algum destino.
Valentina tinha voltado a se reunir
com os acionistas, depois ligara para a casa e pedira que fosse lhe levado uma
muda de roupa. Tinha a impressão que estava suja.
Tomara um analgésico para a dor de
cabeça, depois deixou a empresa. Agora dirigia sem saber para onde estava indo,
apenas queria se afastar um pouco. O domingo deixava as ruas vazias, mas
naquele horário havia um fluxo ainda maior de veículos. Todos pareciam estarem
retornando do final de semana que aproveitaram.
Ligou o rádio e uma música de
melodia suave tocava baixinho.
Viu a ligação no painel do veículo.
Nícolas já tinha discado inúmeras
vezes e não atendera nenhuma, não desejava falar com o pai, tampouco com o avô.
Sabia que eles estavam certos,
sabiam que estavam decepcionados e entendiam. Fora irresponsável e teria com
muito gosto deixado o posto de presidente, pois começava a pensar que não era
digna.
Deu seta, entrava em uma estrada que
conhecia bem, aos poucos as casas e os prédios iam sumindo.
Seguiu por mais alguns quilômetros e
logo parava em frente a mansão dos Antoninis.
Observou com desgosto os portões
daquele lugar...
Inclinou a cabeça para trás e fechou
os olhos por alguns segundos.
Ligara para a construtora e fora
dito que a empresária não tinha voltado para lá, então imaginou que poderia
estar ali com o filho.
Ainda não estava pronta para
encará-la, na verdade quase tivera um infarto quando a viu entrar na sala de
reuniões.
Parecia tão segura de si, tão dona
da verdade que temera mirá-la por muito tempo e encontrar a mulher ardente que
lhe amara durante toda a noite.
Ainda não acreditava que se entregar
a neta de Isadora...
O porteiro abriu para que ela
entrasse.
Ela seguiu pela alameda até parar
diante da casa. Permaneceu no interior do automóvel por alguns segundos,
parecia buscar a coragem para fazer o que era necessário. Decidida saiu e
seguiu para o interior da mansão. Observou a escadaria e logo seguia pelos
degraus, indo pelo corredor e logo entrava nos aposentos da ruiva.
Natasha estava usando top preto
deixando a mostra o abdome sarado. Calça de malha e tênis, os cabelos estavam
presos em um rabo de cavalo.
Os olhares se encontraram por alguns
segundos e logo a morena questionava.
-- Por que não me deixou resolver
tudo? – Indagou irritada. – Eu disse que faria, disse que resolveria o
acontecido, mas você tinha que aparecer lá para bancar a salvadora da pátria
mais uma vez.
A empresária já esperava por aquilo,
só não imaginou que seria jogado em sua cara tão cedo, nem mesmo teve tempo de
reparar uma defesa.
-- Eu deixei, mas quando vi que o
seu resolver significava renunciar ao cargo de presidência, precisei me
intrometer. – Pegou o relógio, colocando-o no pulso. – Não acho que era para
tanto.
-- E o que queria que fizesse? –
Aproximou-se. – Eu estava disposta a responder pelos erros que foram cometidos.
-- Erros que não foram seus, mas
você preferiu assumir que entregar a sua namoradinha.
A morena cruzou os braços sobre os
seios.
-- Não o fiz porque não adiantaria,
afinal, ela fez porque acreditou que eu gostaria disso, fê-lo porque deixei em
suas mãos os documentos que deveriam estar comigo, então eu também sou culpada...
eu fui a irresponsável.
A ruiva fez um gesto de assentimento
com a cabeça.
-- Então está bem, tudo foi
resolvido, você salvou a sua namorada da prisão, as ações aumentaram de preço,
os Vallares voltam a viver em paz. – Chegou mais perto. – Era apenas isso que
desejava? Se for, pode voltar para a companhia ou para sua casa ou para onde
quiser.
Valentina a observava com cuidado,
fitava a expressão bonita, o rosto delicado, as maçãs coradas da face, os
deliciosos lábios entreabertos...
-- Só queria que tivesse me deixado
resolver do meu jeito, porque você sabe muito bem que meu avô, tampouco meu pai
acreditaria naquela história, na verdade, nem mesmo o presidente do conselho
acreditara quando você falara que fora irresponsável... – Mirava os olhos tão
verdes. – Seria impossível que alguém acreditasse, mesmo assim está colocando
em risco a sua credibilidade, está arriscando seu nome...
Natasha a observava com cuidado.
Os cabelos soltos, os óculos
dourados repousando perfeitamente no nariz arrebitado. A blusa preta de gola
alta, a calça branca de seda solta nas pernas.
-- Não se preocupe com isso, fiz o
que deveria ser feito e não me arrependo de nenhum dos meus atos... Nenhum...
A circense sentiu um arrepio na
nuca, pois tinha a impressão que a última palavra englobava coisa de mais.
Deus, o que se passava consigo
quando se aproximava da irmã de Nathália?
Respirou fundo, enquanto não
desviava o olhar da beleza ruiva.
Estendeu a mão e tocou o machucado
no canto dos lábios rosados. Fê-lo com delicadeza, mas a outra teve um
sobressalto, mesmo assim não se afastou.
-- Sem o batom é possível ver o
machucado com precisão... – Usou o polegar para lhe acariciar.
Sabia que estava errada no tom que
usara, sabia que deveria ser imensamente grata pelo que fora feito, mas era tão
rebelde em alguns momentos que chegava ser difícil controlar a própria
impetuosidade.
–
Obrigada...—Disse por fim.
Os olhos verdes pareciam surpresos
diante do agradecimento.
-- Obrigada por ter ido lá, eu mesma
não sabia o que fazer... Apenas pensei que me demitir e ir até a polícia
poderiam resolver a situação... – Suspirou. – Não sabia como agir, mas também
não poderia simplesmente apontar a Alissa como culpada, seria covardia da minha
parte... Entendo que deva ter ficado chateada, que imaginara que eu faria isso,
mas não podia, pois me sinto ainda mais culpada que ela.
A Valerie lhe segurou a delicada
mão, afastando-a da face.
-- Eu nunca tive dúvidas que você
assumiria tudo, te conheço o suficiente para saber que não a acusaria... Claro
que me senti frustrada, não nego que toda essa situação me deixou furiosa...
Acho que deve ter visto como estava ontem...
A morena sentiu a face corar e
apenas assentiu afirmativamente.
-- Achou mesmo que eu tinha feito
algo assim?
-- Para ser sincera, sim, a sua
raiva por mim apenas cresce cada dia que passa, então imaginei que seria uma
forma para me punir novamente...
-- Novamente? – Ela arqueou a
sobrancelha em questionamento. – Quando te puni? Quando o fiz?
-- Ah, Valentina, por favor, você
fez inúmeras vezes, não que não mereça, mas quando retornei do Oriente não
imaginei que a situação entre a gente seria tão difícil, ainda mais porque
quando parti... Quando esteve no estacionamento eu imaginei que estávamos pelos
menos mais amigáveis, mas retorno e você está com um caminhão de pedras para
jogar em mim.
A morena mordiscou o lábio inferior
demoradamente.
Nada poderia dizer sobre aquilo,
apenas permanecer quieta longe de uma conversa tão íntima.
-- Vai sair?
-- Sim, estava indo correr, a Helena
levou o Victor ao pediatra.
-- E o que ele tem?
-- Não, não, está tudo bem, apenas
tinha marcado para o domingo a consulta, acho que vai tomar vacina.
-- Ah, sim, realmente ele tinha uma
para tomar essa semana.
-- Se quiser pode espera-lo, afinal,
ontem não teve tempo de ficar com ele depois do espetáculo.
-- Não, realmente não tive... –
Chegou mais perto, tocou-lhe a lateral do pescoço. – Por isso usou a blusa de
gola alta... Há outros?
A ruiva passou a mão pelos cabelos,
enquanto encarava aquela mulher tão linda que lhe olhava. Estava chateada, não
podia negar que se irritara quando ela preferiu assumir a culpa que contar a
verdade sobre a namorada.
-- Sim, há outros...
-- Onde? – Questionou a observar o
corpo bonito com atenção.
A arquiteta cerrou os dentes, depois
desceu um pouco a calça, mostrando as nádegas para a neta do conde.
Valentina se aproximou e acariciou a
pele.
-- Tem marcas de unhas... Acho que
bati muito.
A ruiva inclinou a cabeça para
mirá-la, estavam tão próximas que sentia o hálito refrescante.
-- Você gosta de bater... – Umedeceu
o lábio inferior. – Deveria gostar de apanhar também.
Os olhos negros brilhavam ao
imaginar a cena.
Não fora até ali para isso, nem
mesmo cogitara a ideia de se entregar novamente ao desejo que sentia pela
desprezada de Isadora, porém tinha a impressão que havia um feitiço quando se
aproximava daquela mulher.
-- Gostaria de me bater, Valerie? –
Perguntou com voz baixa e rouca.
Natasha esboçou um sorriso
misterioso, depois levantou a roupa.
-- Preciso correr... Se quiser pode esperar
a Helena.
A morena fez um gesto afirmativo com
a cabeça, enquanto observava a ruiva deixar os aposentos.
Valentina respirou fundo, enquanto
buscava controlar o desejo que agora parecia ter se libertado mais uma vez.
Sabia que ela estava chateada, até mesmo entendia em parte, porém o que a
empresária esperava? Não bastava ter traído a namorada, ainda iria denunciá-la
diante de todos.
Mordeu a lateral do lábio inferior
demoradamente, depois sentou na cama grande, sentia o cheiro de Natasha a
sufocar seu sentido olfativo.
O que faria depois de tudo o que
aconteceu?
Fechou os olhos por alguns segundos
e se recordou de como se entregara a ela, de como desejara que aquela noite não
acabasse nunca mais.
Fitou o relógio.
Teria que voltar para a casa, não
podia simplesmente permanecer ali.
O conde estava em seu escritório.
Ouvia com atenção a confissão de
Alissa sobre o ocorrido. Observava-a narrar todos os passos que tomara e as
decisões que executara.
-- A minha neta disse que deveria
fazê-lo?
A loira cruzou as pernas.
-- Não, em nenhum momento ela falou
isso, apenas interpretei que isso seria o mais viável a se fazer. Eu sei como a
Valentina deseja controlar todas as ações, sei como ela odeia o fato da Valerie
ser a dona de praticamente tudo.
Nicolay observava a bela mulher.
-- Isso está fora de cogitação,
ainda não temos a confiança de todos para seguirmos sozinhos. A Natasha está
fazendo um grande favor para a minha família.
-- Favor? – A advogada indagou com
um arquear de sobrancelha. – O senhor não deve esquecer tudo o que ela fez de
ruim para a sua neta, todas as coisas que aconteceram, todo o risco.
-- Não estamos falando de relações
íntimas, isso não vem ao caso agora, estamos discutindo a sua
irresponsabilidade em agir sem o consentimento da diretoria.
A porta se abriu e lá estava a
morena.
A circense tinha chegado há alguns
minutos e fora avisada pela empregada que a namorada estava no escritório com o
avô.
Fitou os dois.
-- O que se passa? – Indagou
cruzando os braços. – Pensei que tínhamos resolvido esse assunto hoje na
reunião.
Alissa a encarou.
-- Não poderia permitir que o conde
pensasse que fora você a dar a ordem para comprar as ações.
-- Mas também ficou claro que ambas
já tinham conversado sobre o desejo e que ficara uma espécie de incoerência
nessa negação. – Nicolay completou.
A advogada ficou vermelha.
A trapezista se aproximou.
-- Acho desnecessário essa conversa,
já assumi o erro diante do senhor, diante do meu pai, até o fiz diante do
conselho, então o que a Alissa falar deve ser ignorado.
O Vallares lhe enviou um olhar de
advertência.
-- Não esqueça que fora graças a
Natasha que tudo se resolveu.
A trapezista suspirou.
-- Sim, vovô, eu sei, eu estava
presente e vi tudo, porém não entendo a razão para continuarem a discutir esse
assunto.
O aristocrata assentiu.
Não precisava conhecer a circense
como conhecia para perceber o quanto estava abalada, o quanto tudo aquilo
mexera consigo de forma descontrolada.
-- Bem, senhor – A loira se levantou
– estou disposta a aceitar a minha demissão, reconheço o meu erro e jamais
protestaria se essa fosse sua decisão.
-- Minha neta já decidiu, ela é a
presidente, ela assumiu a culpa, então não sou eu que deve te demitir, ela quem
deveria tê-lo feito, mas não o fez... – Mirou os olhos negros. – Ela deve ter
os motivos.
A trapezista desviou os olhos dos
idênticos aos seus. Havia algo a mais naquela última frase.
Passou a mão pelos cabelos negros.
-- Tudo está resolvido! – Disse por
fim.
A loira se levantou com um sorriso.
-- Apenas garanto que isso não vai
mais acontecer.
Estendeu a mão e Nicolay aceitou o
cumprimento, depois Alissa já deixava a sala quando ouviu a voz da morena.
-- Espere-me na sala, daqui a pouco
falo contigo.
A advogada assentiu e logo saia deixando
os dois sozinhos.
O conde apontou a cadeira para que a
jovem se sentasse e ela o fez.
-- Sua namorada passou dos limites,
você deve saber melhor que eu disso, não acredito que tenha compactuado com os
atos dela.
-- Por que a gente não esquece tudo isso
hein? Já fora resolvido, eu não vejo mais motivos de ficarmos discutindo sobre
esse assunto.
O homem a observava com cuidado.
-- Você fora corajosa em aceitar a
culpa hoje, fizera papel de mártir, não demoraria para que a polícia chegasse e
te levasse detida pela fraude... arriscou o nome Vallares e se não fosse a
Natasha tudo estaria perdido. – Cruzou as mãos sob o queixo. – Onde esteve
ontem depois do número de trapézio?
A mudança de assunto fora tão brusca
que os olhos negros da neta do empresário pareceram ainda maiores.
-- Estivemos todos no coquetel, seu
filho, Helena, Nícolas, Mariana... Depois Pepei nos falou que a Valerie tinha
aparecido lá para falar contigo, decerto, para tomar satisfação do ocorrido...
Mas e depois? Por que não veio até a gente e contou o que estava se passando,
poderia ter nos poupado a ligação do presidente do conselho.
A jovem mirou os olhos do avô,
observava como pareciam ainda mais perscrutadores. Fitou as próprias mãos por
longos segundos, mas nada disse.
-- Valentina, vai ficar calada? Estou
esperando uma explicação sobre o que se passou, fiquei preocupado, pensei que
tinha saído com a Alissa, mas ela mesma negou ter te visto ontem.
-- Questionou a ela sobre isso? –
Indagou ainda mais nervosa.
-- Fi-lo de forma discreta, não iria
dizer a sua namorada que você tinha sumido ontem e reaparecido na empresa com a
mesma roupa que usara no início do dia.
A circense se levantou.
-- Não desejo falar sobre isso,
realmente não tenho como mudar o acontecido, peço perdão pela minha
irresponsabilidade e tentarei não permitir que isso volte a acontecer. Agora
preciso falar com a Alissa.
O conde assentiu e a viu deixar o
escritório.
Então ela passara a noite nos braços
da Natasha.
Exibiu um sorriso.
Não teriam passado a noite trancada
naquele trailer discutindo, mesmo que soubesse que ambas não se entendessem de
forma nenhuma.
Valentina seguiu para a sala e
encontrou a namorada lá, estava sentada e falava com o pai no telefone.
Ficou lá parada por alguns segundos,
tentava controlar a respiração, pois as perguntas do avô a deixaram bastante
afobada.
Respirou fundo e seguiu até a outra.
-- Não precisava ter vindo aqui. –
Foi logo dizendo. – Já tinha resolvido tudo.
A loira se levantou e foi até ela,
abraçou-a pelo pescoço.
-- Eu jamais deixaria que assumisse
uma culpa que era minha. Infelizmente não cheguei a tempo para a reunião, mas
estava disposta a confessar tudo para o conselho, mesmo que corresse o risco de
ser presa...
A morena mirou os olhos claros, os
lábios cheios, os cabelos cor de ouro.
-- Teria sido pior se tivesse feito.
– Suspirou. – Não vai mais voltar a acontecer, agora iremos agir de forma
profissional.
-- Desculpa, amor, eu juro que tudo
o que fiz foi pensando em ti... Eu sei como odeia a Natasha, como deseja se
livrar dela, eu vejo como aquela mulher debocha na sua presença, prestei
atenção a isso no dia da festa. – Tomou-lhe as mãos nas suas, beijando-as. – Só
quero que não se aborreça.
-- Não me aborrecerei, temos que
separar as coisas. Uma coisa é a Valerie como empresária e sócia majoritária da
empresa, outra é o que... O que tivemos.
-- Então pronto! – Beijou-lhe os
lábios. – Quer sair comigo hoje? Podemos ir a uma danceteria.
A morena não desejava ir a lugar
nehum, mas também não queria ficar em casa. Sabia que se tivesse que deitar na
cama não conseguiria dormir e apenas reviveria as lembranças do que vivera na
noite anterior e até mesmo naquela manhã.
Lembrou-se dos olhos verdes, de como
fora dispensada naquela tarde.
-- Te encontro no teu apartamento em
duas horas.
A advogada sorriu e lhe beijou de
forma apaixonada.
-- Esperarei ansiosa.
A Vallares a viu sair e depois
seguiu em direção as escadas.
Rebeka tentava falar no telefone,
mas o barulho era ensurdecedor.
A boate estava cheia, o que era
normal, até durante a semana aquele lugar não parava.
Seguiu até o balcão e pediu uma
bebida.
A música alta, as luzes coloridas,
as pessoas dançando em um ritmo frenético.
Convidara Natasha para ir até ali,
mas não haveria força que conseguisse tirar a ruiva do lado do filho.
Achava bonito e fofo essa forma da
Valerie agir. Quem a conhecia apenas como uma mulher de negócios não imaginava
aquela face tão gentil da ruiva.
Bebeu um pouco do líquido e logo
sentia alguém lhe abraçar pela cintura e o sussurrar em seu ouvido.
-- E então, convenceu a Valerie?
A loira virou a cabeça e lá estava
Yassa que parecia cada vez mais interessada pela arquiteta.
-- Está com o Victor, não deixaria o
pequeno por nada nesse mundo.
A morena sentou com cara de
chateada.
-- É uma pena... – Bebeu um pouco da
bebida da outra. – O interessante seria se ela tivesse aparecido... – Fez um
gesto com a cabeça.
A secretária da Valeria observou
sobre os ombros e viu o casalzinho que acabava de chegar na balada.
Não acreditava que a circense ainda
continuava com a advogada depois do que ela fizera.
Natasha fora uma tola, assumira um
risco grande para salvar aquela mulher do ato que cometera.
Valentina segurava a mão da
namorada.
Nunca tinha ido até aquele lugar,
mas conhecia-o por manchetes nos jornais. Era a danceteria que Natasha
costumava ir com as acompanhantes.
-- Vamos tomar algo? – A loira
indagou perto da outra.
-- Preciso ir ao banheiro, mas
arruma um lugar para a gente sentar e já volto.
A loira assentiu e logo a morena
seguia até o banheiro.
Ainda estava com dor de cabeça,
mesmo depois de ter tomado um analgésico.
Demorou um pouco para chegar ao
destino, pois havia muita gente no caminho, mas logo entrava em uma porta e se
deparava com um toalete elegante, todo decorado em mármore preto.
Seguiu até o espelho e começou a
arrumar os cabelos.
Deveria aproveitar a noite, tirar
aqueles pensamentos conflituosos que pareciam querer lhe perturbar.
Ouviu a porta se abrir e não
acreditou em quem estava vendo.
Abriu a torneira, lavou as mãos e já
seguia para sair, mas Rebeka a deteve pelo braço.
-- O que você quer hein? – A
circense questionou se livrando do toque. – Você não pode simplesmente
desaparecer da minha vida?
A loira arqueou a sobrancelha em
provocação.
-- Calma, condessa, não falei nada,
apenas quero cumprimenta-la, na verdade, congratula-la pela filha da puta que
você anda se mostrando.
A neta do conde cerrou os dentes e
tentou deixar o banheiro, mas novamente foi detida.
-- O que você quer?
-- A Natasha é uma tola,
importando-se contigo, salvando a tua pele e você desfilando com essa cachorra
pela cidade.
-- Alissa é a minha namorada.
-- Ela deveria estar presa e você
junto, pois ambas agiam juntas.
-- Rebeka, eu não irei discutir contigo,
o que pensa de mim não me interessa...
-- Estou torcendo para que a Nath
fique com a Yassa ou com qualquer outra, mas que nunca mais volte para ti.
-- E contigo não? – Debochou. –
Pensei que você estivesse na lista de amantes da ruiva.
-- Na hora que ela quiser, darei com
todo prazer.
Os olhos negros se estreitaram de
forma ameaçadora.
-- Saia da minha frente, porque não
sei se notou, estamos sozinhas aqui e eu não me importaria em te dar uma surra
até que você caísse dura nesse chão encerado.
A assistente assentiu, pois sabia
que ela faria muito pior que isso.
A Vallares seguiu de volta até onde
estava a namorada, encontrou-a dançando, seguiu até ela.
Ouvia a música tocar e apenas
tentava se mexer ao ritmo do som, mesmo que seus pensamentos estivessem longe
naquele momento.
Observou a loira segurar em sua
cintura, enquanto descia até o chão.
Sorriu e logo aceitava o copo de
bebida que o garçom lhe entregava.
Bebeu de uma só vez.
Os dias passavam tranquilamente.
Valentina e Natasha seguiam em polos
diferentes. Não se cruzavam, ainda mais porque Rebeka quem representava os
interesses da ruiva.
A morena terminara mais uma reunião
e seguiu para sua sala. Sentou-se confortavelmente em sua cadeira, enquanto
ligava o computador. Não demorou para Ana aparecer.
-- Fiz todo o orçamento do
aniversário do Victor. – Entregou-lhe uma pasta.
A circense sorriu. Logo o filho
completaria dois anos e ela queria comemorar mais uma vez, ainda mais agora que
tinha as crianças do clubinho que Helena costumava leva-lo.
-- Também já reservei as passagens e
o hotel para o congresso que participará.
Ela suspirou!
Não estava verdadeiramente
interessada em fazer essa viagem, porém se ousasse se negar a fazê-lo não só o
conselho, mas também o avô lhe chamaria a atenção.
-- Já falou com a Rebeka? –
Questionou à secretária. – Afinal, ela deve ir comigo para garantir que os
interesses da suprema Valerie sejam protegidos. – Completou com um revirar de
olhos.
Não tivera mais contato com a
arquiteta e preferia que continuasse assim. Não iria até ela como fizera
naquele domingo, sabia que aquilo era o melhor a se fazer. Aquela noite fora
apenas uma fraqueza a mais em seu currículo, mas que não voltaria a acontecer.
Começou a checar os e-mails.
-- Ela não está mais na empresa,
saiu logo que terminou a reunião, acho que não volta mais hoje.
-- Então ligue para ela, pois amanhã
terá que embarcar para o litoral. – Disse com desgosto. – Por mim, ela não
iria, mas se isso acontecer haverá problemas com o conselho, então, Ana, ligue
para a oxigenada e peça para arrumar a malinha e me encontrar no aeroporto.
A secretária mordeu a língua para
não rir, depois assentiu e deixou a sala.
A trapezista girava de um lado para
o outro, depois abriu a gaveta e tirou de lá a revista que fora as bancas na
última semana.
Um maldito jornalista clicara um
momento seu ao lado da namorada, mas não fora isso que lhe chamara a atenção,
mas sim a imagem da ruiva diante do piano em um show que fizera.
Ela estava tão linda que chegava a
pensar que se tratava de uma deusa...
Prendeu a respiração.
Precisava se libertar daquela
vontade de vê-la, do desejo de encontra-la que só se comparava com a vontade de
nunca mais ter um pensamento na neta da duquesa.
Levou a unha do anelar aos lábios,
mordiscando-a em seu momento de impaciência.
Praguejou internamente.
Nos últimos dias seu relacionamento
com Alissa parecia até melhor, mesmo assim era como se houvesse um vazio em seu
interior.
Fechou os olhos e se recordou da
forma dominadora que a Valerie lhe tocara no trailer.
Umedeceu os lábios demoradamente e
era como se sentisse o gosto dela, como se tudo tivesse acontecido naquele
momento e não há quinze dias.
Natasha seguia para o aeroporto,
tendo a assistente a dirigir.
-- Não acredito que não irá a esse
congresso por causa de uma gripezinha. – A ruiva reclamava, enquanto abria o
notebook. – Espero que os Vallares resolvam seus problemas o mais rápido
possível, pois não posso me ausentar tanto assim dos meus negócios.
-- Bem, poderia ter se negado. – A
loira espirrou. – Mas você não o fez.
-- Claro que não, pois tudo estava
certo para você embarcar ontem pela noite.
-- Amor, eu já te disse que não
estou me sentindo bem, se não fosse isso iria aguentar a sua... – Tossiu. – a
condessa.
A Valerie não respondeu, esperava
que tudo acabasse o mais rápido possível e pudesse retornar.
Nem mesmo desejava se aproximar da
neta do conde, nem mesmo se interessava por isso, apenas mantinha a distância
entre ambas, assim, evitariam que discussões acontecesse.
Chegaram ao aeroporto e não demorou
para a ruiva embarcar.
Valentina tinha acordado cedo, mesmo
tendo ido dormir muito tarde no sábado. Tivera que participar de um jantar com
os investidores japoneses. Ficara com a namorada até tarde em ligação, depois
tomou um remédio para dor de cabeça e dormiu.
Estava disposta a aproveitar do
domingo, pois à noite haveria a recepção e teria que comparecer.
Suspirou, enquanto levantava da cama
e seguia até o banheiro.
O bom de tudo aquilo era que não
teria que aguentar as provocações de Rebeka, tampouco poderia levar a culpa
pela ausência da representante da Valerie.
Despiu-se e seguiu para o banho.
A piscina do hotel era enorme.
Poucas pessoas desfrutavam dela naquele domingo de sol. Com certeza alguns
hóspedes deveriam ter preferido curtir as praias do litoral a ficar ali.
Valentina nadava, depois seguia até
a borda e bebia um pouco do suco que pedira.
Estava pensando em almoçar por ali
mesmo, não desejava sair, não conhecia bem a cidade, mesmo que tivesse ficado
encantado com o lugar acolhedor.
Apoiou-se nos braços e ficou ali
parada.
Ajeitou os óculos pretos e logo
mirava pés parando diante de si. Levantou a cabeça e quase engasgou ao ver a
ruiva a lhe olhar com um sorriso travesso.
-- O que faz aqui? – Indagou
surpresa.
A neta de Isadora não respondeu de
imediato. Afastou-se, enquanto tentava manter a calma.
Tinha chegado antes das nove e
quando seguira até o hotel descobrira que a reserva que fora feita em nome de
Rebeka tinha sido cancelada. Como estavam na alta temporada, não haveria quarto
por ali e teria que buscar outro hotel, o que não deveria acontecer, pois todo
o evento estava acontecendo ali.
Entrou na água e logo via o olhar da
morena seguir em sua direção.
Fora aquela sensação que tentava
evitar a todo custo ao vê-la. Ficara muito brava quando a morena preferira assumir
a culpa da namorada a ponto de se demitir da presidência, sem falar nas
inúmeras manchetes em jornais que saíra as duas mulheres, mesmo depois da noite
que tiveram.
Fora apenas sexo, a Vallares
desejava aplacar o fogo que lhe incendiava e cedera aos desejos da mulher que
jurava odiar.
A neta do conde observava a
arquiteta em seu minúsculo biquíni branco. As pernas longas e torneadas, o
abdome liso, os seios quase pulando do tecido, os cabelos presos em um coque,
enquanto exibia o sorriso conhecido.
Viu-a se aproximar e desejou sumir
daquele lugar. Encostou as costas à cerâmica fria.
-- Que faz aqui? – Voltou a
perguntar quando ela já estava bem perto. – Pensei que sua assistente quem te
representaria.
A ruiva assentiu, enquanto chegava
mais perto, mirava os olhos negros, a pele bronzeada.
-- Queria que o conselho pedisse a
sua cabeça ao conde? Pior, capaz de eles me encherem o saco para assumir a sua
vaga.
Valentina cruzou os braços sobre os
seios.
-- Ah, sim, sempre se sacrificando
pelo bem de todos. – Desdenhou. – Deveria ter avisado que viria e não ter me
deixado com cara de trouxa diante dos investidores, enquanto espera a oxigenada
da sua assistente para discutir as ações. – Falou irritada.
-- Estou aqui já, presidenta, tudo
vai correr bem.
A morena arrumou os cabelos em um
gesto nervoso diante da proximidade.
-- Não entendo como o meu avô
acredita que você possa salvar alguma coisa, claro, ele não convive com as
constantes irresponsabilidades da sua parte.
A ruiva arqueou a sobrancelha e
mesmo diante das lentes escuras, a circense conseguia ver o sarcasmo.
-- Vamos começar a brigar agora?
-- Olha, Natasha, eu não desejo
discutir, então se não for pedir muito, afaste-se de mim e me deixe em paz.
-- Se você falar um pouco mais alto
até lá na mansão Vallares vão te ouvir.
A morena tentou se afastar, mas a
outra a deteve pelo braço.
-- Quem te deu permissão para
cancelar o quarto que fora reservado para a Rebeka?
Os olhos negros pareceram surpresos,
mas acabou enfrentando a outra.
-- Eu tentei falar com sua
secretária, eu não, meu avô, pedi para ele fazer isso, afinal, ela poderia ter
morrido e a gente sem saber, mas a sua... assistente particular não atendeu,
então eu cancelei a reserva, não tinha motivos para pagar um quarto sem ser
usado.
-- O dinheiro não era seu, era meu e
não da sua empresa, não tinha porque se meter em nada.
-- Bem, já foi feito, não tem
motivos para lamentações.
-- Não mesmo, ainda mais agora que
vamos ficar no mesmo quarto.
Valentina a viu sair nadando, mas
antes um sorriso de deboche se desenhou naqueles lábios bonitos.
Continuou parada lá, observava a
outra se exibindo, enquanto os olhares dos outros hóspedes caiam sobre a imagem
da bela empresária.
O ciúmes começava a lhe alfinetar.
Começava toda aquela raiva de novo,
todo o ódio que pensava ter ficado preso em seu peito.
Respirou fundo!
Precisava se lembrar do que a ruiva
fizera pela empresa, pela forma que se arriscara, pelo jeito que enfrentara a
todos.
Viu-a se aproximar, mas daquela vez
a ruiva colara o corpo ao da outra.
Valentina colocou as mãos contra os
seios dela, assim tentava evitar o contato mais íntimo, mas ao sentir o colo
macio recordou de outro dia que tentava tirar da memória.
-- Está nervosa, condessinha?
-- Não sou condessa! – Falou mirando
os lábios rosados.
-- É uma palhacinha... – Tocou-lhe a
face. – Mas tem o título do seu avô.
-- Então você é uma duquesa?
-- Sou... – Desceu as mãos pela
cintura. – Uma duquesa bastarda...
-- Sim, isso que você é... Uma
bastarda, uma selvagem, uma desavergonhada...
Natasha gargalhou roucamente.
-- Me responde uma coisa? –
Questionou perto do seu ouvido.
A trapezista via os olhos verdes
brilharem em provocação.
-- O quê?
Sob o olhar fascinado da filha de
Nícolas, a ruiva umedecia os lábios de forma sedutora.
-- Naquela noite você falou que
queria dar pra mim até se arrepender... Já se arrependeu?
O vermelho coloriu a face da
herdeira de Nicolay que ficou muda diante do questionamento.
A Vallares nem teve tempo de
responder, pois a arquiteta se afastava rindo divertida com a situação.
O conde estava sentado à mesa de
jantar tendo o filho, a nora e o neto consigo.
O garoto estava sentado na cadeirinha
e tentava usava o garfo para comer o macarrão, depois pareceu perder a
paciência e comia com as mãos.
Todos riram do garotinho que se
lambuzava.
-- Se a Valentina visse isso teria
um ataque. – A noiva de Nícolas falou. – Ligou ainda pouco e fizemos chamada de
vídeo. Está louca para voltar e ficar com o filho.
Nicolay sorriu, enquanto via o
bisneto comendo o macarrão com as mãos.
-- E ela falou mais alguma coisa?
-- Parecia irritada...
O conde sorriu.
Tinha ligado para o hotel e dissera
para que o quarto fosse usado também pela Valerie, afinal, a circense tinha
cancelado o a reserva da em nome da Rebeka.
-- A Natasha está lá... Uma hora
dessas elas devem estar se arrumando para o evento.
Nícolas fitou Mariana.
-- Agora quero ver como vai ser com
essas duas juntas. – O primogênito dos Vallares comentou. – Não sei o que é
pior: A Natasha lá com a Valentina ou a Rebeka arrumando uma briga. – Meneou a
cabeça.
-- Bem, com a Valerie as coisas são
diferentes, ela não pode voar sobre ela. – O aristocrata dizia, enquanto bebia
um pouco de vinho. – Precisa ser profissional, agir com responsabilidade e não
viver nessa guerra toda.
-- Sim, eu entendo, papai, mas entre
as duas não existe mais nada, sabemos bem disso, a relação de Valentina com a
Alissa parece bastante sólida e a única coisa que desejo é que ela seja feliz.
Nicolay assentiu, enquanto se
ocupava com o Victor. Brincava com suas mãozinhas sujas e o ouvia chamar ora
pela morena, ora pela ruiva.
Valentina tinha saído do banho
enrolada em uma toalha e com outra nos cabelos.
Passara o dia todo deitada depois do
almoço e se sentira feliz por não ter encontrado a ruiva no quarto, mas as
coisas dela estavam lá.
Pegou o secador e para secar as
madeixas.
Sentou sobre o leito para executar o
ato, enquanto lembrava do encontro na piscina e da forma que a Valerie fizera a
última pergunta, questionando-a de forma descarada.
Na hora se recordou das palavras que
usara naquela noite.
Não acreditava que teria que dividir
o quarto com a ruiva. Tentara falar com a gerência, pedira para que conseguisse
um lugar para a outra, praticamente implorara ao gerente para conseguir um
lugar para ela ficar, mesmo que fosse na dispensa.
Viu o vestido que usaria no cabide.
Optara pela cor branca, fora compra-lo com a noiva do pai, Mariana era uma boa
amiga e naquele momento gostaria de falar com a loira.
Soltou um longo suspiro.
Duas semanas havia se passado, mas
mesmo assim, não conseguia ter se libertado do feitiço de ter se entregado aos
braços da ruiva.
Meneou a cabeça tentando espantar os
pensamento conflituosos.
Estava terminando de secar as
madeixas quando a porta se abriu e a arquiteta entrou.
Observou a roupa que usava. Saia
branca, blusa, sapatos baixo, usava uma faixa na testa e trazia uma mochila nas
costas. Estava jogando tênis.
-- Quase perdia a hora. – A
empresária dizia, enquanto guardava as coisas. – Se alguém bater aqui e pedir o
equipamento você entrega, preciso tomar banho.
-- Não sou sua empregada, então se
vire. – Levantou para pentear os cabelos.
Natasha a observou e parecia
surpresa diante das palavras.
-- Por que da grosseria hein? Eu
saí, passei o dia todo fora para que não tivesse que me suportar aqui dentro e
quando chego e te peço algo você me trata com toda essa ignorância.
-- Apenas disse que não sou sua
emprega. Que deixasse na recepção quando subiu.
A Valerie soltou um suspiro e depois
seguiu para o banheiro.
Encontrara uma arquiteta que
conhecia de alguns projetos e fora convidada para jogar. Fazia tempo que não
fazia, pelo menos se distraíra.
Despiu-se totalmente e seguiu para o
box.
Teria que ir àquele evento e sabia
que precisava se apressar ou chegaria atrasada.
Sentiu a água fria lhe lavar a pele,
molhando-a totalmente.
Ensaboou-se, depois lavou os
cabelos.
Tinha falado com a gerência do hotel
em busca de outro quarto e ficara sabendo que a circense já tinha ido em busca
disso.
Sorriu.
Ela deveria estar se mordendo por
ambas dividirem os mesmos aposentos, mas tudo fora culpa dela, fizera de
propósito contra a Rebeka, disso não tinha dúvidas.
Desligou a água, pegou o roupão,
vestindo-o, depois seguiu até os espelho para começar a se arrumar.
Valentina percebeu que a calcinha
que fora colocada em sua mala marcaria se fosse usar com o vestido, então optou
por não o fazer..
Mirou-se diante do espelho.
O modelo era lindo. Longo, sem
alças, modelando os seios de forma perfeita, colado ao corpo até ter uma
espécie de calda de serei um pouco abaixo das coxas.
Pegou o cordão com o nome que sempre
usava, mas acho que o colar de pérolas ficaria mais bonito.
Pegou-o no estojo e quando levantou
a cabeça teve um sobressalto ao ver pelo espelho a ruiva prostrada as suas
costas.
-- Está linda!
A neta do conde nem mesmo respondeu,
apenas tentava prestar atenção em si e já tentava colocar a joia, mas a outra
assumiu o trabalho.
Sentiu um frio na barriga, sentiu o
cheiro dela e quase sufocou.
-- Está maravilhosa nesse vestido...
– Falou perto da orelha dela. – Poderia passar toda a noite te observando... –
Passou a mão pelas costas nuas. – É um atentado ao pudor algo tão perfeito.
A morena nada disse, apenas a
observava pelo reflexo. Estava vestindo o roupão, os cabelos soltos e
afogueados, nem estava arrumada e já lhe tirava o fôlego.
-- Vai me esperar para a gente
descer juntas? – Desceu as mãos até os quadris da trapezista. – Está sem
calcinha?
A circense se afastou e fitou-a.
-- Sim, estava marcando, então optei
por não usar. – Cruzou os braços sobre os seios. – Se você continuar aí com
essa cara de boba vai chegar atrasada.
Natasha voltou a observar o caimento
perfeito do modelo.
-- Não vai me esperar?
-- Claro que não, por que o faria?
-- Porque eu pensei que já estávamos
sendo amiguinhas... – Provocou-a. – Mas vejo que já está na defensiva de novo.
A morena não respondeu, então viu a
outra retornar para o banheiro.
Começou a se maquiar e não demorou
para ouvir o celular da ruiva tocar. Aproximou-se e viu a imagem de Rebeka
aparecer na tela, mas não fora atendida, talvez a ruiva não tivesse ouvido.
Alguns segundos depois o telefone do quarto tocou, então ela atendeu e ouviu a
voz da loira.
-- Estou passada... Vocês estão no
mesmo quarto?
-- O que você quer?
-- Queria apenas saber se a Nath
chegou bem, ela não me ligou para avisar.
A trapezista relanceou os olhos em
irritação.
-- Bem, ela está viva, então boa
noite.
-- Ei espera! – A outra gritou.
Valentina observou a porta do
banheiro que estava fechada.
-- Fale logo, não tenho tempo para
ouvir suas idiotices.
-- Pois ouça essa: Se você perder a
chance de se ajeitar com a minha ruiva maravilhosa, eu mesma irei fazer a
Natasha ir para a cama com a Yassa, então deixa de ser boba, pois a gente sabe
que você ama...
A morena desligou o telefone.
Era o que faltava, receber conselho
da amante da arquiteta.
Voltou para terminar a maquiagem,
depois trançou os cabelos longos que caia sobre os ombros, calçou as sandálias
de salto, pegou a bolsa e deixou o quarto.
A recepção acontecia no salão de
festas do luxuoso hotel.
Havia inúmeras pessoas, garçons,
bebidas e comidas.
Valentina tinha se acomodado na mesa
dos empresários japoneses. Se tudo saísse bem, logo a empresa fecharia um
negócio bilionário com aquelas pessoas.
A banda tocava e todos comentavam
como desejavam que a ruiva tocasse o piano.
Acircense apenas disfarçava o
incômodo diante do nome da arquiteta que era sempre falado.
Havia outros arquitetos por ali, mas
uma mulher muito bonita lhe chamou a atenção, pois pelo que ouvia fora com ela
que a neta de Isadora estava jogando tênis.
-- Estamos ansiosos pela presença da
Valerie.
A Vallares bebeu um pouco do
champanhe e ao fitar a entrada quase engasgou.
A neta de Isadora adentrava o lugar.
Estava linda, vestia um vestido vermelho do mesmo modelo do que usara na festa
da empresa.
Prendeu a respiração.
Viu-a sorrir para todos e logo se
aproximava e cumprimentava os empresários. Ouviu-a falar o idioma oriental e
não conseguiu desviar os olhos da boca rosada.
Bebeu um pouco do líquido.
Viu-a sentar ao seu lado, estava
muito perto de si, seu corpo roçava no dela.
A conversa seguia animada e a ruiva
fazia questão que a Valentina participasse de tudo. Era bastante elogiada pela
irmã de Nathália, fazia questão de enfatizar que confiava na administração da
morena.
-- E vai tocar pra gente?
A mulher que jogara tênis se apegou
aos braços da arquiteta.
-- Sim, posso tocar um pouco. –
Bebeu e se levantou. – Vamos lá comigo? – estendeu a mão para a bela mulher.
A neta do conde tentava não se
preocupar com o que estava acontecendo. Via a tal de Mariah colar na ruiva,
decerto, teriam uma boa-noite.
Fitou Natasha sentar diante do
enorme piano.
Lembrou-se de tantas vezes vê-la
diante daquele instrumento e como ficava encantada diante daquele talento.
Ouviu os primeiros sons sendo tirado
e reconheceu-a.
Aquela era a música que a viu
cantando pela primeira vez quando fora levada para a cobertura.
De repente por sua memória começavam
a passar todas as cenas que vivera, todos os momentos que estivera ao lado
daquela bela mulher.
Como tudo se passara, como enfrentaram
coisas terríveis. Ainda se recordava da dor que sentira quando pensara que ela
tinha morrido, como se desesperara ao imaginar que tinha a perdido para sempre,
então foi até a fazenda e lá estava a linda ruiva pensando ser uma freira.
Depois tentou mantê-la segura, mas
fora ludibriada e descobrira que tinha se casado com a neta da duquesa, mas não
com a Nathália...
Então veio o terrível episódio do
circo e mais uma vez quase a perdeu.
Fitou os olhos verdes e teve a
impressão que ela invadia sua alma, tocava para si e não demorou para ouvir a
voz de anjo cantar. Ficou surpresa, não sabia que ela também tinha aquele
talento.
Voltou a beber mais um pouco.
Os empresários pareceram esquecer o
teor sobre negócios do encontro e pareciam decididos a curtir a noite.
Alguns casais seguiram para o meio
do salão e logo outros se juntavam para dançarem agarradinhos.
Valentina se levantou e seguiu até a
enorme varanda que dava para a praia. Estava sozinha.
O vento frio soprava seus cabelos.
Desejou ir até o mar. Não costumava
frequentar aqueles lugares, mas sentiu vontade de sentar na areia e sentir as
ondas lhe molharem os pés.
Ouviu passos e garçom se aproximava
com uma taça, entregando-lhe.
-- Disseram para que trouxesse para
a senhorita.
A morena assentiu e aceitou o
delicado cristal. Com certeza fora cortesia de alguns dos empresários. Fechou
os olhos, sentia a brisa marítima. Bebeu um pouco.
O que significava tudo aquilo, todas
aquelas provações...
-- Me daria a honra de dançar comigo?
Valentina a sentiu as suas costas e
como sempre não conseguira perceber a proximidade, mas agora sentia o aroma
delicioso.
-- Pensei que passaria a noite
tocando e sendo admirada pela sua jogadora de tênis. – falou sem se voltar.
Natasha apoiou os braços na proteção
da varanda, enquanto tinha a bela circense presa.
-- Poderia não é? Mas novamente
estou aqui, me jogando para ti, mesmo sabendo que no final vai ser pior, pois
ficarei morrendo de saudades, morrendo a cada dia por saber que não deseja ficar comigo... Sim, eu não
deveria ter vindo aqui, deveria ter continuado lá no piano...
A trapezista se virou para ela.
Fitaram-se.
-- Fala como se realmente fosse
assim mesmo a situação... Como se apenas você tivesse que enfrentar seus
demônios ao final de tudo... – Bebeu mais um pouco. – Pensa que foi fácil para
mim, acha mesmo que consegui me recuperar daquela noite no trailer, acha que
consegui... Nos encontramos na empresa, depois fui até você... – Riu amarga. –
Então praticamente fui dispensada... – meneou a cabeça. – Fez sexo comigo e
depois agiu com frieza.
-- O que você queria? – Indagou
surpresa. – Você preferiu renunciar a denunciar a sua namorada... Imagina como
me senti em ver sua forma apaixonada de defesa?
-- O que queria? Não bastava ter a
traído contigo, ainda a jogaria na fogueira sem piedade. Entenda, Natasha, eu
agi de forma errada, agi como uma qualquer...
A ruiva passou a mão pela face da
morena.
-- Fala pra mim... Fala o que sente
por mim... Preciso saber se devo continuar insistindo...
-- Insistindo? – Indagou arqueando a
sobrancelha. – Você sumiu, parecia que tinha sido tragada pela terra.
-- Queria que eu ficasse correndo
atrás de ti? – Riu irritada. – Vi suas saídas com a Alissa, sempre estava em
uma boate badalada... Só faltava eu ter que ir atrás de ti e ser dispensada na
frente de todos.
-- Estava apenas tentando me
distrair, querendo viver, ocupar a minha mente, precisava disso, necessitava
muito...
Natasha tamborilava os dedos contra
o apoio, parecia impaciente.
-- Sempre vai ser assim... Você está
certa, Vallares, o melhor é que cada uma fica de um lado, porque não há nada
para resgatar entre nós, não há nada da sua parte... Está refazendo sua vida,
faz bem, eu devo fazer o mesmo, devo buscar esquecer esse sentimento que parece
queimar em meu peito. – Fitou a aliança descansando no anelar, depois a tirou.
– Acho que isso não deve ser mais usado... – Abriu-lhe a mão e colocou sobre a
palma. – Jogue-a fora como fez com a sua, será o melhor a ser feito.
Valentina já abria a boca para falar
algo, mas a ruiva já se afastava com aquele porte dona do mundo.
A morena observou a delicada peça
reluzir em contraste com a sua perna bronzeada.
Rebeka não aguentou ficar deitada,
então se arrumou e seguiu para a balada.
Gostava daquele lugar que da última
vez encontrara a Valentina. Yassa não poderá ir consigo, mesmo assim a
secretária não desistiu de ir. Estava ansiosa para dançar, assim esqueceria o
resfriado que tinha lhe derrubado.
Seguiu até o balcão e pediu uma dose
de conhaque. Gostaria de cachaça, mas com certeza ali não deveria ter.
Precisou ser grosseira em alguns
momentos, pois alguns homens insistentes tentavam se aproximar.
Ela relanceou os olhos em irritação.
Não se envolvia há tempos com homens
e não se interessava por isso.
Observou sobre o ombro e tivera a
surpresa de encontrar em uma mesa no canto a tal namoradinha da neta do conde.
Observou que ela estava sozinha e
parecia bastante concentrada no aparelho celular.
Pediu mais uma dose, bebeu-a de um vez
e logo seguia até a loira.
Alissa a fitou e observou como a
assistente da Valerie fora petulante em sentar consigo sem nem mesmo ser
convida.
-- O que quer aqui? – Questionou
irritada. – Não lembro de ter permitido que me acompanhasse.
Rebeka fez um gesto para o garçom
deixar uma garrafa lá e dois copos.
-- Eu não beberei contigo! – A
advogado falou irritada.
-- Então beberei por nós duas. –
Encheu as duas taças, colocando-as perto de si. – Não estou aqui para brigar,
mas percebi que estava solitária e decidi me aproximar.
A namorada da neta do conde a fitou
com atenção. Conhecia-a pelas coisas que Valentina falava dela. Sabia que
estava sempre a perturbar, provocar, sabia da briga que houve entre as duas.
Soltou um longo suspiro, enquanto
voltava a mexer no aparelho celular. Tentara falar com a Vallares, mas ela não
respondera nenhuma das suas mensagens, decerto estava ocupada.
-- Sabe, quando fiquei sabendo que
fora você quem fez a negociação na bolsa te achei uma filha da puta... – A
secretária dizia – pensei até que fez por ganância, então decidi te investigar
e percebi que fê-lo porque é tão tola que achou que essa seria uma forma para
agradar a sua namoradinha.
A advogada lhe fitou com os olhos
estreitados.
-- Nada da minha vida é da sua conta
e se fiz ou deixei de fazer não é seu problema. – Já tentava se levantar, mas
Rebeka a deteve pela mão. – O que você quer comigo?
-- Sente-se... – Pediu. – Não estou
aqui para brigar, tampouco para armar um escândalo.
Alissa olhou para os lados e viu
alguns olhares em sua direção, então acabou por se acomodar novamente.
-- Querida... – A assistente
começava – eu estou te elogiando, não te xinguei, nem nada do tipo, eu te acho
uma mulher corajosa, faz tudo para agradar a condessinha, mas já parou para
pensar que isso é um gasto de energia em vão?
A namorada de Valentina respirou
fundo.
Não deseja ouvir nada sobre a
relação que tinha com a filha de Nícolas. Acreditava que aquele jeito de
Valentina fazia parte dos traumas que tivera ao se relacionar com a neta da
duquesa, mas que com paciência e tempo tudo se resolveria.
-- Pense comigo, Alissinha... –
Rebeka bebeu mais um gole. – Tem certeza de que não quer? – Empurrou-lhe o
copo. – Estamos tendo uma conversa civilizada, tudo bem que não somos amigas,
mas isso não significa que somos inimigas.
A advogada suspirou, depois olhou
para o celular, não havia mensagens, então o guardou na bolsa, apoiou os
cotovelos na mesa, mirando profundamente a tal mulher que fora até sim.
-- O que você quer?
-- Eu quero que você abra esses
olhos lindos e veja que está perdendo seu tempo com a Vallares.
-- Se assim o for, não é da sua
conta. – Bebeu o conteúdo do copo de uma vez. – A minha vida e minha relação
não é da sua conta.
-- Claro que não... mas eu fico
envergonhada sabe, já ouviu falar em vergonha alheia? Pois é isso que sinto
toda vez que vejo você com a Vallares, como por exemplo, das vezes que vocês
estiveram aqui... – Encheu as taças de novo. – Sei que saíram de madrugada, mas
que a voadora do trapézio foi para a mansão do conde da rosa vermelha... Meu
bem, quem passa a noite dançando com a namorada e não dorme com ela?
Alissa ficou corada diante do que
estava sendo jogado em sua cara.
Realmente não havia sexo em seu
relacionamento, mesmo assim acreditava que logo aconteceria.
-- Pense comigo, advogada linda,
como isso pode acontecer hein? Valentina não transa contigo porque ela continua
apaixonada pela Valerie, eu sei que isso é horrível de se ouvir, eu a entendo
sabe, entendo a sonsa sem sal. Natasha fora um demônio no início dessa
história, mas elas se amam... Claro que a palhaça de circo nega isso até a
morte, mas eu sei que sim, que a ama, mas ainda não é forte suficiente para
admitir.
-- Isso é um absurdo! – A outra se
levantou novamente. – Tenho certeza de que está aqui porque a maldita Natasha
te mandou.
Rebeka observava a garrafa, o
líquido âmbar, depois levantou os olhos e fitou a mulher.
-- A Nath jamais me pediria algo
assim, você não a conhece... Eu me apaixonei por ela... Não só pelo sexo, mas
acabei descobrindo o lado maravilhoso daquela ruiva.
-- Vocês são amantes! – Desdenhou. –
A Valentina jamais ficaria com ela sabendo disso.
-- Queria que fosse viu... Meu sonho
é dar novamente para a selvagenzinha, mas, querida, a Natasha não transou com
uma única mulher desde que casou com a sua namorada... – Bebeu mais um pouco. –
Eu fiquei dez meses ao lado dela, via a dor naqueles olhos lindos... Me
oferecia mais para ela que prostituta nos semáforos das capitais só para ser
desprezada...
Alissa, mesmo irritada, parecia
interessada no que ouvia.
-- Pois é... Uma coincidência...
nenhuma das duas transaram com outras pessoas... então, eu percebia que
precisava tirar meu time de campo... Eu gosto muito da Natasha e sabia que se
continuasse desejando-a, eu iria sofrer e ela não teria nenhuma culpa, mas como
somos egoístas por natureza, eu a culparia... Mas eu não queria isso... Gosto
dela, desejo tê-la como uma grande amiga e é assim que vivemos...
-- Isso não é da minha conta e minha
relação com a Valentina é totalmente diferente da sua. – Pegou a bolsa.
-- Você vai ver cedo ou tarde que
estamos vivendo o mesmo enredo... Eu, pelo menos, abri meus olhos antes....
Você continua a se iludir... – Fitou-a de cima a baixo. – Uma pena... Perder
tempo assim...
Alissa parecia indignada, deixando a
boate pisando duro.
Rebeka continuou sentada por alguns
segundos, depois foi para a pista de dança, a música preferida dela estava
tocando.
A festa continuava animada.
A parte de negócio já tinha sido
encerrada e todos se preocupavam apenas em beber, comer e dançar.
Valentina aceitara arriscar alguns
passos em uma música com um empresário italiano, porém seu olhar não abandonava
a Valerie que conversava com algumas pessoas.
Não voltaram a se falar, nem mesmo
os olhos verdes lhe fitaram em qualquer momento desde que retornou da varanda.
Inventou uma desculpa e seguiu para
a mesa, sentando mais uma vez ao lado da ex-esposa.
Sentiu-a se retrair, afastar-se de
si.
Cerrou os dentes em frustração,
então bebeu mais um copo de uma bebida que estava sendo servida.
-- Vá devagar ou vai passar mal!
A ruiva a advertiu, mirando-a.
Valentina mirou os lábios rosados,
os dentes alvos e desejou beijá-la ali mesmo. Senti-la mais uma vez, mesmo que
soubesse que não deveria.
-- Isso te importa?
-- Claro que sim, afinal, se isso
acontecer, terei que te levar a um hospital.
-- Eu me viraria...
Natasha deu de ombros.
Não estava disposta a começar uma
discussão novamente. Estava cansada de tudo aquilo. Se pudesse escolher não
teria ido até ali, não teria se encontrado novamente com a neta do conde.
O melhor era continuar a vida sem
essa agonia
Valentina ouviu a tal tenista
convidar a Valerie para dançar e viu com desgosto ela aceitar e ambas saírem
bastante animada.
Soltou um suspiro, enquanto voltava
a beber o conteúdo do copo.
Abriu a bolsa e tirou a aliança de
dentro, ficou observando-a e viu o próprio nome na parte inferior.
Para uma aliança de um casamento de
mentira parecia bastante real.
Soltou um suspiro e continuou lá em
seu canto.
Já era quase duas da madrugada
quando a neta do conde seguiu para o quarto. Há algum tempo a ruiva tinha
sumido da festa e chegara a pensar que ela tinha saído com a tal arquiteta, mas
a mulher estava lá até agora.
Entrou no elevador, apertou no
andar, enquanto observava a própria imagem e percebia como as bochechas estavam
corada, com certeza devido à bebida que ingerira.
A porta abriu e ela seguiu até os
aposentos.
Buscava o cartão para abrir, mas
parecia que não conseguia nem fazer uma coisa tão simples como aquela.
Sentia-se totalmente embriagada. Nem sabia como conseguira chegar ali.
Por fim conseguiu destravar a porta
e entrou.
Havia apenas uma pequena luminária
acesa e fora naquele momento que viu a Valerie deitada no sofá de couro, usava
óculos de leitura e estava com o livro de capa envelhecida, nem mesmo conseguiu
decifrar o nome.
Abriu a boca para falar algo, mas o
som pareceu não ter saído, então parou diante da mulher.
-- Por que não me esperou?
Natasha fitou a bela Vallares.
Tinha deixado a comemoração antes da
meia noite. Estava com dor de cabeça, então subiu para o quarto.
-- Não sabia que precisava te
avisar, nem fomos juntas.
-- Mesmo assim...
A ruiva a viu tropeçar no carpete e
correu para segurá-la antes que a outra caísse.
-- Você foi rápida... – A morena
gargalhou. – capaz de quebrar meu nariz...
A ruiva sentiu o hálito forte e
bebida.
-- Eu te disse para não beber
tanto...
Valentina a abraçava pelo pescoço.
-- Eu precisava... Precisava sufocar
meu peito... Ain, Natasha, eu vou morrer... – gargalhou – vou morrer engasgada
com o amor que sinto por ti.
-- Está bêbada... Não está falando
nada com nada...
-- Ah, sim, então posso falar e você
vai achar que é resultado do meu estado? – Arqueou a sobrancelha. – Pois escuta
essa: eu te amo! É, eu—te—amo – Falava pausadamente. – Eu fico arrumando essas
brigas, fico te acusando de coisas, te maltratando porque é uma forma de me
defender desse sentimento.
A arquiteta ouvia a tentava não se
entusiasmar. Sabia que ela estava totalmente bêbada, com certeza, quando aquilo
passasse, ela negaria tudo.
-- Acho melhor que tome um banho,
vou pedir algo para te ajudar a melhorar.
-- Vai é? – Acariciou-lhe a face. –
Nossa, como você pode ser tão linda hein? No dia do noivado do meu pai quase
morri quando te vi... Confesso que me escondi, não aguentaria que esses olhos
me olhassem... Meu Deus, e no dia da reunião... Queria que a terra tivesse
afundado me levado junto...
Natasha acabou rindo.
-- Acha engraçado? – Baixou as mãos
e segurou as amarras de seda do roupão. – Naquele dia na casa do Leonardo eu
quase me entreguei para ti... Na festa... No trailer eu não aguentei... Passei
os dias tristes porque não te via...
Natasha a sentiu lhe abrindo o robe
e logo as mãos de dedos longos acariciava seus ombros.
Cerrou os dentes tentando não perder
o controle.
-- Valentina, quando essa bebedeira
passar a gente conversa...
-- Acha que não sei o que estou
fazendo? – Voltou a rir alto. – Quando me perguntou se eu já tinha me
arrependido de ter dado para ti... – Afastou as alças da vestimenta – eu te
respondi... Respondia que não... Acho que sou capaz de dar para ti durante a
minha vida toda e ainda vou querer outras vidas para te dar...
A Valerie fechou as mãos ao lado do corpo.
Estava tentando ao máximo não perder o controle, mas ao ver os dedos lhe
explorarem os seios, parecia cada vez mais difícil.
-- Você é tão linda... – A morena
falou, enquanto mirava os olhos verdes. – Está com medo de quê? – Usou o
polegar e o indicador para massagear os mamilos rosados. – Achas que vou te
acusar depois de ter se aproveitado da minha bebedeira? – Tomou-lhe as mãos,
pousando-a em seu quadril. – Se eu o fizer, pode me colocar em seu colo e bater
em meu bumbum... Como fez no dia do nosso casamento.
-- Valentina, por favor... – A ruiva
pediu baixinho.
-- Sinta... – Movia os quadris de
encontro com as mãos da outra. – Tome-me para ti... a menos que não me queira
mais...—Voltou a acariciar os seios redondos. – Diga... Não me quer mais, doce
arrogante?
A empresária via com desespero os
carinhos se estenderem por seu abdômen, depois pararem em sua minúscula
calcinha de seda.
-- Não vai me responder?
O maxilar da ruiva enrijeceu ao
sentir os dedos adentrarem o tecido delicado da peça íntima, viu o sorriso de
satisfação que a circense deu quando sentiu-a molhada.
-- Valentina, eu quero você, mas não
devemos fazer isso agora, não mesmo, você está bêbada... Não quero que me acuse
depois...
-- Então, esse é o problema... –
Beijou-lhe a face, mordiscando o pescoço, depois chegou na orelha. – A gente
pode resolver isso de uma forma simples... Só eu te tocarei, assim você poderá
alegar inocência se eu for aos tribunais e te acusar de assédio... – Fitou-a. –
E se você me acusar, alegarei que estava tão bêbada que acabei perdendo o
controle...
Natasha sentiu a língua contornar
seus lábios e gemeu diante da sedução. Estava sendo uma tortura manter-se
quieta, porém não arriscaria novamente enfrentar a frieza da morena e o olhar
de acusação.
Não conseguiu resistir ao beijo que
se formava pacientemente, então acabou correspondendo-o, permitindo que a
morena se apossasse da sua boca daquele jeito delicioso que poucos sabiam
fazer. Sentiu a língua em busca da sua, então permitiu que se unissem, logo a sentia
chupá-la devagar, mas não demorou para a carícia se tornar mais ousada.
Segurou o rosto delicada em suas
mãos.
Deus, estava perdida mais uma vez.
Valentina tocava-a com calma,
parecia estar a degustar a boca rosada, aproveitando-se daquele momento como
estivesse a precisar dele há mil anos.
-- Eu quero você, Natasha, quero
mais que tudo – encostou a testa a dela – não há mais forças para lutar contra
o que sinto... eu te amo... te amo...
Os olhos verdes temiam que aquilo
fosse mais uma vez um devaneio, mas não pôde protestar, pois novamente tinha a
boca invadida pela carícia que agora se mostrava mais exigente.
Natasha sentia a roupas lhe
abandonarem o corpo, restando apenas a minúscula calcinha.
Fora abraçada pela outra, parecia
que a morena temia que a ruiva fugisse.
Lentamente sentia-a fazê-la dar
alguns passos e logo encontrava o leito.
-- Deita...
A Valerie voltou a lhe encarar,
buscando se a bebedeira continuava lá, temendo que ela despertasse daquele
devaneio e a rejeitasse de novo, mas isso não aconteceu. Viu-a sentar na
poltrona para se livrar dos sapatos, depois de fazê-lo fez o mesmo com o
vestido.
A arquiteta se apoiou no cotovelo,
fitando-a em toda sua beleza.
-- Gosta do que ver? – Valentina
questionou com olhar atrevido. – Pelo que vejo não é indiferente a mim...
Aproximou-se lentamente.
-- Por que não ligamos para o hotel
e pedimos um café bem forte para que essa bebedeira passe...
A morena esboçou um sorriso grande.
-- Acho que há outra coisa que pode
fazer a bebedeira passar...
Subiu na cama, ficando de joelhos,
puxou a ruiva, fazendo-a se ajoelhar também.
-- Quem diria que a poderosa Valerie
ficaria tão assustada... – Pegou-lhe as mãos pondo-as sobre seus seios. – Sinta
meu coração... Veja como está batendo...
Natasha estreitou os olhos, enquanto
lhe acariciava a pele bronzeada diante do olhar desafiador da trapezista.
Estava perdendo a capacidade de
raciocinar ao vê-la totalmente despida.
-- Acho que posso ter um infarto? –
Pegou-lhe uma das mãos e fê-la colocar entre suas pernas. – A situação aqui
está pior.
A empresária sentiu-a tão molhada,
tão escorregadia...
-- Posso mexer contra seus dedos? –
perguntou já rebolando. – Está tremendo?
-- Estou louca por ti... Isso que
está acontecendo...
A ruiva a deitou, depois se pôs
sobre ela e novamente as bocas se encontraram. A morena afastou as pernas para
acolhê-la mais intimamente.
-- Ain, Natasha... Não consigo
pensar em nada quando te sinto...
A empresária esboçou um sorriso de
canto, enquanto as bocas voltavam a se encontrar de forma perfeita.
A circense lhe apertava o bumbum,
ajustando-a ao seu centro de prazer.
-- Abre mais... – Sussurrava contra
os lábios rosados. – Quero senti-los unidos...
A Valerie parecia pronta para
atender a todos os pedidos da sua amada, posicionando-se de forma que a união
fosse perfeita, esfregando-se a ela, produzindo os sons das fricções.
Ouvia os sons produzidos pelos
lábios da morena, sentia as unhas afundarem sem suas costas, mas nada daquilo
parecia lhe perturbar, ao contrário, deixava-a cada vez mais descontrolada.
Sentou-se sobre o sexo da amada,
cavalgando de forma perfeita, enquanto as mãos da filha do conde lhe tocava os
seios, amassando-os, apertando-os.
-- Ain... Isso que eu queria...
Ain... – A morena falava. – Não para... Mexe gostoso... Mais e mais...
Era possível ouvir as respirações de
ambas e os sons que produziam em seu encontro apaixonado, em seu momento de
total entrega e não demorou para o prazer supremo dominá-las totalmente.
A arquiteta desabou sobre o copo da
circense, sentia o coração bater mais rápido. Logo buscava os lábios,
beijando-os, depois mirou-a e viu o sorriso lindo e os olhos negros se fecharem
com uma expressão de satisfação.
A palhacinha adormecia.
A empresária deitou e a trouxe para
seus braços, acariciando os cabelos negros que caia sobre seu peito.
Rogava a Deus para que no dia
seguinte não houvesse acusações, pois não suportava ouvir daqueles lábios o
quanto era desprezada. Seria fácil suportar isso de qualquer uma, menos daquela
mulher, menos da palhacinha que roubara seu coração.
Segurou-lhe a mão e viu a aliança
que lhe entregara em seu anelar esquerdo.
A morena despertou lentamente e não
escondeu o sorriso ao ver a ruiva dormindo profundamente ao seu lado.
Ainda se recordava de como a neta de
Isadora relutou em aceitar a entrega.
Ficou de lado para ficar
contemplando-a. Viu algumas sardas sobre o nariz arrebitado. Mirou os lábios
bonitos e tentadores e se recordou de como era deliciosos tocá-los.
Sabia que não havia volta. Mesmo que
passasse mil anos não teria como não amar a Valerie, sentia como se tivesse
sido criada para ela.
Esta amedrontada, temendo que a
relação não conseguisse se sustentar, temendo que seu ciúmes estragasse tudo ou
até mesmo a forma arrogante da ruiva agir, mesmo assim estava pronta para
arriscar, estava pronta para não desistir do amor que sentia.
Tirou-lhe uma madeixa de sobre a
face.
Precisava conversar com a Alissa,
sabia que errara com a advogada, mas não conseguiria de forma nenhuma continuar
o relacionamento, estava se enganando e enganando uma mulher que poderia
encontrar alguém que a amasse, ela merecia ter um relacionamento com uma mulher
que se entregasse totalmente, que não estivesse presa a olhos tempestuosos como
os da Valerie.
Engraçado como agora percebia como
fora ingênua em suas escolhas. Parecia estar cega, ou fazia-se de cega, pois
precisara fugir, esconder-se para não sucumbir à fraqueza da ruiva. Todas as
rejeições fora fruto da sua falta de força para lutar contra aquele sentimento.
Não havia outros caminhos naquele
momento, não havia outras saídas, havia apenas o desejo de estar ao lado da
Natasha, o desejo de construir ao lado dela uma família com o filho.
Desde que a viu pela primeira vez em
seu trailer ansiou por ela. Desde o momento que a neta desprezada de Isadora
aparecera naquele terreno, sentira em seu coração que estaria presa àquele
sentimento.
Mordiscou o lábio inferior
demoradamente, enquanto recordava das inúmeras vezes que ferira a arquiteta. Na
noite anterior viu as lágrimas e a dor naquele olhar. Talvez, a Rebeka tivesse
razão, era uma mulher frustrada que não conseguia enxergar o que realmente
acontecia.
Talvez estivesse cometendo o maior
erro da sua vida em se permitir tentar mais uma vez, mas estava disposta a
errar ao lado da mãe do seu filho, se por acaso estivesse mais uma vez
enganada, arcaria com as consequências, porém nada a dissuadiria de fazer
aquela tentativa.
Levantou-se devagar ao ouvir a
companhia. Quem poderia ser?
A ruiva continuava a dormir, devia
estar muito cansada.
Valentina procurou um roupão e não
achando, pegou o que estava no chão, decerto, usado pela empresária. Vestiu-o e
seguiu para abrir a porta.
Um dos camareiros do hotel estava
com uma bandeja de café da manhã tão apetitosa que seu estômago desejou.
-- O conde Vallares pediu que
entregasse.
O avô? Como assim?
Mordiscou o lábio inferior
demoradamente. Viu o bolo de chocolate, os salgadinhos, os sucos...
Ouviu um barulho e teve certeza que
sua barriga estava a reclamar.
Sorrindo, aceitou a encomenda e logo
o rapaz ia embora.
A morena colocou sobre a mesa e viu
um envelope, abriu-o e reconheceu a caligrafia do avô.
“ Há frutas que precisam ser
provadas para saber se estão boas... Pois, há outras que se mostram perfeitas e
quando se dar a primeira mordida percebemos que estava estragada.”
A circense ficou a pensar, esboçou
um sorriso. Saberia o poderoso aristocrata que se perderia nos encantos daquela
mulher?
Pegou o delicioso desjejum,
colocou-o na mesinha ao lado da cama e voltou a se acomodar de forma a ficar
olhando a arquiteta, porém não demorou para os olhos verdes se abrirem e lhe
mirarem.
Deus, como podia ser tão linda?
Natasha estreitou os olhos
demoradamente, fitava a morena e imaginava se ela explodiria a qualquer momento.
Sim, não deveria ter transado com ela bêbada, mas seria uma tarefa quase
impossível não ceder ao encantos.
-- Eu começo a levar a culpa de tudo
agora? – Indagou com a voz rouca. – Caso a resposta seja positiva, posso pelos
menos tomar um banho antes?
Valentina teve que morder a língua
para não gargalhar diante da expressão assustada da outra.
Pegou a bandeja e colocou sobre o
leito.
-- Poderíamos comer, enquanto
começamos a brigar?
A ruiva olhou para as deliciosas
comidas e acabou sentando, expondo os seios nus, viu o olhar da Vallares, então
cobriu-os com o lençol.
-- Eu sei que não devo colocar a
culpa em ti pelo que nos passou... – Pegou uma fatia do bolo, dando uma
mordida. – Mas, eu não tive forças para te deter.
A trapezista viu os lábios sujos de
chocolate e precisou se segurar para não passar a língua neles.
-- Era tão difícil assim? – Indagou
tomando um pouco de suco.
A ruiva mastigava devagar e só
depois de alguns segundos respondeu:
-- Você é uma tentação o tempo
todo... – Falou fitando-a. – Não vou nem falar mais sobre o amor que sinto
porque você já deve tá se irritando em ouvir isso.
-- Não, fala. – Pegou um salgado e
colocou na boca dela.
A empresária olhava desconfiada para
os atos da neta de Nicolay. Estava esperando a explosão de acusações, mas ainda
não conseguira ver isso naquele olhar lindo.
-- Eu te amo... E não consigo
resistir a ti, é muito mais forte que eu, mais poderoso e não tenho forças para
isso... Verei até a possibilidade de hospedar em outro hotel...
A morena lhe segurou a mão direita e
colocou em seu peito esquerdo, sobre o tecido do roupão.
-- Sente como está acelerado ao
ouvir o que me disse?
A ruiva apenas fez um gesto de
assentimento.
-- Sim, ontem eu estava bêbada...
Apaguei depois que nos amamos... Porém lembro de cada palavra que te disse...
-- Lembra? – A arquiteta indagou
ansiosa. – Lembra mesmo?
-- Sim, lembro que disse que te
amava... Lembro que disse que te queria em minha vida, enquanto sentia o prazer
intenso me dominar...
Um sorriso grande e alvo se desenhou
nos lábios da Valerie.
-- Não seja tão cruel a ponto de
brincar comigo... não sei se conseguiria suportar algo assim.
Valentina colocou a bandeja de lado
e aproximou, sentando-se bem junto a ela. Depois limpou o canto da boca rosada
com um beijo, depois se afastou, fitando:
-- Eu te amo... Acho que seria
impossível mudar isso, na verdade eu não acho que conseguiria, porém sabe como
me amedronta... – Passou as mãos pelo cobertor que a arquiteta usava para
esconder a nudez, depois a mirou de novo. – Eu quero você... Te quero em minha
vida como nunca quis nada... É muito mais forte que eu... Muito maior e não
continuarei a lutar contra... Claro, você ainda precisa ver se me deseja em sua
vida...
A ruiva observou os dedos longos e
viu a aliança descansar em um deles.
Umedeceu os lábios demoradamente, em
seguida a fitou:
--Eu amo tanto você... Palhacinha...
– Disse sorrindo. – Tanto que a única coisa que desejo é poder estar sempre
contigo, sempre ao seu lado... – Suspirou. – Eu devo tá sonhando ou isso é
aquelas pegadinhas que gravam na TV.
A morena gargalhou.
-- Claro que não, sua boba... –
Passou a língua pelo lábio superior. – Vê se isso aqui faz parte do seu sonho.
Natasha encarou os olhos negros e
logo sentiu a boca macia se apossar da sua de forma tão delicada que sentira um
frio na barriga.
A ruiva sentia a forma que a língua
buscava a sua, então capturou-a, sugando-a, parecendo desesperada pelo contato,
mas a neta do conde se afastou.
-- Acho que já deu para ver que não
se trata de um devaneio.
-- Ainda não... Acho que preciso de
um pouco mais...
Antes que a morena protestasse, fora
deitada sobre a cama, enquanto via a Valerie se livrar do lençol, expondo o
corpo nu.
A circense respirou fundo,
antecipava as delícias que viveria na forma que seria tocada.
Viu a bela ajoelhada e não espero
que ela viesse até si, foi até amada, ajoelhando-se e logo as bocas se
encontraram com uma sede ainda maior.
A ruiva começou a lhe tirar a roupa,
enquanto entregavam-se a necessidade primitiva de sentirem-se mais uma vez.
O almoço acontecia em um restaurante
muito conhecido da cidade litorânea.
O lugar fora alugado apenas para
receber os empresários.
Natasha e Valentina chegaram quase
atrasada, pois a ruiva quase não a deixara circense sair da cama.
Sentaram-se lado a lado e pela
primeira vez em muito tempo a morena não rejeitou a amada tão próxima de si.
A conversa girava em torno dos
negócios e para a felicidade da Vallares os empresários deixavam claro que
fechariam o acordo bilionário com a empresa.
-- Estivemos muito satisfeitos com
tudo o que vimos... Sem falar no Oriente... Queremos que a Valerie siga conosco
para lá, sei que ela conseguirá melhor que ninguém explicar todo o
funcionamento.
Natasha fez um gesto afirmativo com
a cabeça, mesmo que a última coisa que desejasse era ir para o outro lado do
globo, porém agora não era momento para criar resistência.
Ouvia a neta do conde começar
explanar os pontos principais do contrato que seria assinado e ficava encantada
com a forma segura que a bela morena falava. Quem imaginaria que a palhacinha
de circo se tornaria uma empresária tão elogiada em meio àquele mundo
disputado.
Por baixo da mesa tocou-lhe a coxa e
viu o sorriso grande focar em si.
Deus, ainda não acreditava que a
tinha novamente em sua vida e agora faria tudo para não perde-la.
Amava-a tanto, tanto que lhe faltava
palavras dizer-lhe.
Queria apenas que tudo aquilo
acabasse o mais rápido possível para tê-la só para si, tê-la em seus braços,
tê-la novamente em sua vida...
-- Você não acha, Natasha?
Em determinado momento da conversa a
Vallares lhe questionou.
-- Sim, claro, Valentina, está
correta.
A arquiteta afirmara, mesmo que nem
mesmo soubesse do que ela estava falando, mesmo assim fez a confirmação.
Meneou a cabeça, depois tomou um
pouco de água e voltou a prestar atenção no que estava sendo dito, assim não
teria problemas em algo que fora dito ou
explicado.
Depois de algum tempo, a comida fora
servida.
-- O que há no seu prato? –
Valentina indagou fitando a empresária.
-- Pedi pouca coisa, acho que comi
muito no desjejum... – Falou com um sorriso.
-- Fora servido um bom café da
manhã? – Um empresário indagou.
-- Sim, fora alguns iguarias extras.
– Disse encarando a morena.
Valentina baixou a cabeça para o
próprio prato, enquanto sentia o rosto corar.
Sentiu vontade de rir, ainda mais
porque o homem parecia interessado na comida que fora servida como primeira
refeição, mas ela sabia que Natasha não estava falando do bolo de chocolate,
tampouco dos sanduíches...
Mordiscou o lábio inferior
demoradamente, tentando não explodir em gargalhada devido ao outro demonstrar
total gula e não entender a ambiguidade que estava presente na narrativa da
neta de Isadora.
Continuou a comer e vez e outra seu olhar
se cruzava com a da bela arquiteta.
Ainda sentia arrepios ao lembrar de
como fizeram amor pela manhã, de como se sentira maravilhada com o toque
exigente, as carícias ousadas...
Suspirou.
-- Você está bem? – A Valerie
indagou.
-- Sim, apenas estava me recordando
de alguns fatos que ocorreram...
A ruiva depositou a mão em sua coxa.
-- A essas suas lembranças foram de
hoje pela manhã ou ocorreram de madruga? – Falou baixo para que só ela ouvisse.
-- Eu não sei... Talvez seja uma
mistura dos dois momentos... – Disse mirando os olhos verdes. – Eu tenho esse
costume de ficar relembrando os fatos...
-- Às vezes isso nos sustenta... eu
mesma fui sustentada por muito tempo com lembranças...
-- Então, eu acho que deve
renová-las... ou acrescentar tantas outras... Não que deva ser sustentadas por
ela... Afinal, a realidade sempre supera não é...
-- Sim, está certa, palhacinha...
Voltaram a prestar atenção no que
estava sendo dito pelos outros e até riram de algumas piadas.
O dia seria longo.
Saindo dali, seguiriam para o
escritório para formalizar os acordos.
O conde estava o neto no jardim.
O ruivinho segurava na mão do avô e
parecia encantado com as flores.
Nicolay ouvia o falar do pequeno e
ria em alguns momentos por não entender o que ele queria dizer.
Sentia-se tão feliz por tê-lo e por
ter a neta em sua vida. Em pensar que chegara um momento que desejara morrer,
chegara um momento que ansiara por se juntar à filha.
Soltou um longo suspiro de saudades.
Como a vida gostava de brincar com as
pessoas.
Verônica usara do seu poder de
sedução para destruir a vida da Valerie, unira-se à Isadora e Nathália em um
plano tão cruel que só não se concretizara por que acabara se apaixonando pela
arquiteta.
O que teria acontecido se não
tivesse sido assassinada?
Às vezes se pegava a pensar, porém
começava a entender que tudo fizera parte de uma introdução, de uma peça de um
quebra-cabeça que estava apenas em seu início, nada terminado, precisando que
outras peças se unissem para que assim pudessem formar um todo mais complexo,
ainda com mais aventuras e mais emoção.
Valentina e Natasha era um romance
daqueles que você fica observando e ora torce por uma, ora torce pela outra.
Ora deseja que fiquem juntas, ora deseja que ambas sigam caminhos diferentes,
mas quando se tem as duas lado a lado, percebe-se como tudo perderia o sentido
se assim acontecesse, como se perderia a essência daquele amor que acontecera
de forma inesperada, até enganosa, mas que para quem as conheciam, sabiam que
não havia um amor como aquele.
Ouviu o Victor chamar as mães, então
os colocou nos braços.
-- Vamos pedir a Deus para que suas
mães consigam se entender, assim não vai precisar se dividir entre elas.
O garotinho continuava balbuciar,
enquanto passava a gorducha mão pelo rosto do velho.
-- O que vamos comer no lanche? –
Indagou fitando-o. – à noite vamos fazer chamada de vídeo com a sua mainha
Valentina, vamos ver se aquela cabeça dura conseguiu raciocinar direito.
Victor dava gritinhos de felicidade.
Ouviu passos e o filho se aproximou
sorridente.
-- Acabei de marcar a data do
casamento.
O ruivo se jogou nos braços do avô.
-- Não era de menos, pensei que iria
enrolar a Mariana pelo resto da vida.
O primogênito corou.
-- Ah, papai, o senhor sabe que não
é uma coisa tão simples, ainda mais porque estávamos focados nos problemas da
Valentina.
-- Disso que estava conversando com
meu bisneto, estávamos falando aqui sobre as mamães cabeças duras que ele tem.
-- Acha que elas se acertaram? Fico
meio mal, afinal, tem a Alissa, não seria digno que a minha filha a atraísse.
-- Filho, nós sabemos que essa
relação nunca teve futuro, óbvio que não desejo também que minha neta aja de
forma tão covarde, porém o que desejamos agora é que elas se acertem e se isso
não acontecer dessa vez, não sei mais quando acontecera.
Nícolas assentiu.
-- Conseguiu falar com o Pepi? Ele
disse o que se passara naquela noite?
-- Sim, as duas passara a noite no
trailer... Só não sabemos fazendo o quê.
O namorado de Mariana sentiu a face
queimar diante das palavras do pai.
-- Bem, acho melhor irmos lanchar,
estou faminto e minha noiva irá se juntar a nós.
Na cela fria e escura, ouvia-se
passos relutante acompanhando do barulho das muletas.
A grande duquesa de Hanminton se
acomodou na estreita cama com seu diário.
Escrevia todos os dias a experiência
de estar ali, de como lidava com aquela situação.
Abriu em uma das páginas de forma
aleatória:
Hoje
é um dia como qualquer outro... Não saí para tomar sol, não desejava sentir o
astro-rei a lhe aquecer a pele... Rejeitei a comida, não porque não sentia
fome, mas porque imaginava se a inanição me mataria mais rápido.
Todos os dias me recordava de que em meu sangue havia
tanto da Valerie.
Bateu contra o colchão duro, depois
voltou a fitar a página.
Nunca
deixaria de odiar aquela maldita ruiva, nunca perdoaria a Elizabeth por ter
trazido ao mundo aquele ser tão miserável.
Tentei me enforcar, mas me faltou coragem... Lembro de
quantas vezes desejei que Natasha seguisse aquele caminho. Atormentara-a
inúmeras vezes na infância e sempre narrava como era simples se acabar com a
própria vida, fiz para que ela tentasse, assim poderia me ver livre de uma vez
por todas, mas a maldita sempre parecia ainda mais forte.
Miserável!
Se pudesse, com certeza, mataria-a, destruiria sua vida
como ela desgraçara a sua.
Levantou-se, enquanto jogava longe
a brochura.
Segurou as barras de ferro.
-- Eu sou a duquesa de Hanminto,
continuo sendo a única duquesa de Hanminton. – Esbravejava. – O que me conforma
é que a maldita Natasha nunca conseguirá ser feliz. – Gargalhou de forma cruel.
– Nem a Verônica, tampouco a maldita Valentina aceitariam ficar ao lado de uma
miserável como a ruiva.
A lua estava cheia, iluminava a
noite no litoral. Havia pontos brilhantes ao seu redor, como se fosse um manto
a enfeitar os céus.
O som do mar era a música de fundo,
enquanto ele golpeava algumas rochas e recuava, como se tivessem apenas o
prazer em tocar o sólido, em desestruturar o forte o poderoso com seu líquido
salgado.
Havia poucas pessoas na areia,
muitos pareciam interessados nos calçadões, na movimentação da cidade
portuária, na agitação dos seus moradores.
Era quase vinte horas,
Depois de um dia agitado, parecia o
desejo de todo curtir um cenário tão bonito quanto aquele.
A bela Valerie estava sentada nas
areias e sobre suas pernas estava a cabeça da Vallares.
Os compromissos dos negócios tomara
mais tempo do que o imaginado e quando retornaram ao hotel, vestiram roupas
leves e decidiram aproveitar a última noite naquele lugar.
Natasha tirou alguns fios de cabelos
que o vento bagunçava da morena, enquanto exibia um sorriso travesso.
-- Poderíamos estender nossos dias
aqui.
A circense não respondeu de
imediato, apenas observava a mulher linda que tinha consigo e como desejava
estender aquele momento por toda a vida. Depois fitou as ondas. Era um lugar
muito lindo, encantador.
-- Não podemos... – Disse depois de
algum tempo. – Precisamos voltar... – Fitou-a e lhe tomou as mãos depositando
beijos em cada um dos dedos. – Preciso conversar com a Alissa, preciso explicar
o que se passa... Não me sinto bem em agir dessa forma... Não quero que nada
macule nosso amor.
A ruiva entendia o que ela dizia,
sabia que estava certa, mas temia que retornar à cidade mudasse algo entre
elas, temia que a guerra ressurgisse, amedrontava-se com aquela ideia.
Desviou o olhar, enquanto soltava um
longo suspiro.
A neta do conde lhe segurou o queixo
e a fez mirá-la.
-- Não precisa ter medo... – Disse
com um sorriso. – Não pense que estou embriagada... – Riu mais alto. – Eu te
quero muito e dessa vez será para valer...
-- Ah é, palhacinha?
A ruiva inclinou e beijou os lábios
da morena demoradamente, depois a fitou.
-- Sabia que você é a mulher mais
linda que eu já vi... – Introduziu a mão por entre a abertura da camiseta
branca e encontrou os seios protegidos pelo sutiã.
A morena sentiu-a tocar no fecho
frontal e logo os montes redondos estavam livres.
A Vallares sabia que deveria
detê-la, mas adorava a forma que ela tocava em sua pele, parecia que nascera
com aquele dom de lhe enlouquecer seus sentidos.
Observou ao redor e viu que estavam
sozinhas, mesmo assim sabia que estavam em um lugar público.
-- Ain, Natasha... Você me
enlouquece...
A ruiva esboçou um sorriso safado,
depois baixou a cabeça, enquanto pousava os lábios sobre a pele bronzeada,
lambendo o mamilo excitado, depois o prendeu entre os lábios e logo
chupavam-nos, arrancando suspiros da presidente da empresa.
-- Sabe que não deve... – A
trapezista dizia segurando-lhe a cabeça, mas não a afastou. – Imagina se alguém
nos flagra... Ain
-- Calma, palhacinha, estamos
sozinhas...
Valentina já abria a boca para
protestar mais uma vez quando a arquiteta a fez montar de frente sobre seu
colo.
As bocas se encontraram mais uma vez
em total urgência.
-- Poderíamos ir para o hotel...—A
morena disse contra os lábios rosados.
-- Sim, daqui a pouco iremos, por
enquanto aproveitamos um pouco aqui...
No dia seguinte Valentina embarcara
primeiro para a capital, pois Natasha precisara acompanhar os empresários em
outro eventos. A morena retornava antes devido aos problemas que precisava
resolver.
Seguira direto para a mansão, nem mesmo
entrara em casa, pois ficara sabendo que o filho estava na piscina com o pai e
com Mariana.
Aproximou-se sorridente.
O garotinho começou a se debater
para ir ao encontro da circense.
Nícolas deixou a água com o neto e o
entregou a filha, depois lhe beijou a testa.
-- Por que não avisou que chegaria,
teria ido te buscar no aeroporto.
Valentina não respondeu de imediato,
pois parecia encantada com Victor que não lhe largava, encheu-o de beijos e riu
ao ouvi-lo gargalhar.
-- Eu peguei um táxi... – Mirou a
todos. – Não quis incomodar, mas tudo saiu muito bem.
Mariana já se aproximava.
-- E estou muito feliz que o
casamento vai sair, eu mesma não aguentava mais esperar.
-- Estamos entusiasmados, desejamos
concretizar tudo isso o mais rápido possível. – O primogênito dos Vallares
abraçou a noiva pela cintura. – Desejamos que você seja nossa madrinha...
-- E também queremos a Natasha como
madrinha... – A loira falou rápido e levou a mão aos lábios como se tivesse
cometido uma indiscrição.
A trapezista corou, depois esboçou
um sorriso.
-- Chame-a, não vejo problemas
quanto||||||| a isso...
Mariana e Nícolas trocaram olhares,
mas Valentina apenas deu de ombros.
-- Fiquem mais um pouco com o
Victor, preciso tomar um banho e tenho um compromisso, mas não me demorarei.
-- Nem se preocupe, será um prazer
ficar com esse ruivinho.
Valentina entregou o filho, depois
beijou o pai e a madrasta, deixando a ala da piscina.
-- E então? – A loira questionou.
-- E então o quê? – O empresário
levantava o neto.
-- Amor, deixa de ser sonso... Será
que teremos uma reconciliação?
O filho do conde riu.
-- Você anda muito fofoqueira viu,
vamos voltar para a água e aproveitar nosso dia.
Valentina fitou o relógio de pulso,
chegaria um pouco atrasada, mas naquele momento desejava falar com uma pessoa,
antes de se arrumar.
Sabia que o conde estava na
biblioteca com seus livros. Deveria estar lendo como era seu hábito.
Tomou a direção e logo batia na
porta e depois entrava.
Então lá estava ele em sua
escrivaninha de mogno e com um enorme livro aberto.
Foi recepcionada com um sorriso
misterioso.
Seguiu até ela, abraçou-o forte,
depois agachou diante do velho.
Olhou os olhos negros tão iguais aos
seus e sentiu aquela felicidade, aquela proteção que encontrara tantas vezes
naquele corpo envelhecido.
-- Tenho a impressão que a
palhacinha de circo retornou a sua essência.
A morena mordiscou a lateral do
lábio inferior demoradamente.
-- O senhor deveria ficar de
castigo, pois andou aprontando mesmo estando tão longe.
-- Eu? – Nicolay se fez de ofendido.
– Estive esses dias apenas com meu bisneto, aproveitando as travessuras do meu
pequeno, mostrando-lhe as flores, contando-lhe histórias, fazendo piquenique na
grama, colocando-o para brincar na piscina...
-- Ah sim... – Valentina arqueou a
sobrancelha esquerda. – Imagino que não lhe sobrara um tempinho para ligar para
o hotel e cancelar o quarto para a Rebeka, pior, a Natasha, não é?
-- Natasha? – Fez-se de
desentendido. – Ah, sim, a Valerie precisou ir ao litoral, pois a assistente
não estava muito bem de saúde.
-- Sabe que eu não duvidaria que
isso não tenha passado de um plano da cabeça de um certo conde.
-- Um conde? – Tocou-lhe a face. –
Mas me fale... E como foi tudo hein? A neta da duquesa ocupou o sofá?
A morena gargalhou, enquanto sentia
o rosto em chamas.
-- Não, senhor! – Levantou-se. – A
poderosa e arrogante Natasha Valerie ocupou o leito principal... – Seguiu até a
porta.
-- Igual a minúscula cama do
trailer?
A morena o fitou sobre os ombros.
-- Com mais espaço agora... –
Soprou-lhe um beijo.
Nicolay sorriu, enquanto a via
deixar a biblioteca.
Sabia que ambas se entenderiam,
bastava um empurrãozinho.
Valentina tinha chegado à empresa há
algum tempo. Encontrou a secretária com seu sorriso simpático a lhe encarar.
Cumprimentou-a e seguiu para a própria sala.
Sentou em sua cadeira e não demorou para
Ana ir até ela.
-- Já repassei o relatório para
todos os membros do conselho e pareciam bastantes satisfeitos com seu trabalho.
A morena colocou os óculos e ligou o
computador.
-- Peça para a Alissa vim até aqui,
preciso muito falar com ela. – Tamborilava os dedos sobre o teclado.
-- A sua namorada precisou sair na
hora do almoço e ainda não retornou.
A circense suspirou.
-- Tente ligar para ela, por favor,
necessito disso.
-- Claro, senhorita.
A morena viu a secretária sair e
ficou a imaginar como abordaria o assunto com a advogada. Sabia que tinha
errado em se entregar a Natasha inúmeras vezes, enquanto ainda estava
comprometida, porém fora tão difícil resistir...
Pegou o celular.
Espera que a Valerie conseguisse
retornar ainda naquele dia.
Ouviu batidas na porta e estranhou
que Ana não anunciou, então viu de quem se tratava.
Rebeka!
Observou o sorriso da loira que se
aproximava e sentava.
-- E então sentiu a minha falta na
viagem?
A
Vallares a observava com cuidado, via a expressão provocadora.
-- Pensei que tinha morrido, pois
foram essas as palavras que ouvi, que tu estavas a beira da morte e não poderia
viajar.
A loira gargalhou alto.
-- Mas eu estava, quase morri...
Porém sou muito forte e aqui estou para infernizar a sua vida.
-- Não seja cínica, decerto inventou
tudo para não viajar.
-- Claro, o conde disse que
precisava que eu ficasse, acho que ele estava assustado, imaginando que você
iria me arrastar pelos cabelos naquele hotel elegante.
-- Meu avô?
-- Sim, claro, e não foi fácil viu,
pois a Nath não queria ir de forma nenhuma, precisei argumentar muito... Acho
que você a irritou com esse jeitinho de condessinha.
Valentina suspirou.
-- O que você quer aqui hein? –
Indagou com os braços cruzados sobre os seios. – Deveria estar trabalhando e
não perdendo tempo.
-- Sim, mas é isso que estou a
fazer. – Entregou-lhe um pen drive. – De acordo com a minha chefe, aqui está
todos os contratos que foram fechados, precisam ser impressos depois.
A trapezista mirou o objeto e depois
o pegou.
-- Falou com a Valerie que horas?
-- Na verdade eu não falei, apenas
recebi o e-mail, acho que deve estar muito ocupada, acredito que esteja com os
empresários japoneses.
Sim, a neta do conde sabia disso.
Nem mesmo conseguira falar com ela ainda. Apenas tinha recebido uma mensagem
perguntando se tinha chegado bem, respondera, mas não voltaram a falar.
-- E ela volta hoje?
A loira riu.
-- Mas você quem deveria saber,
afinal, acredito que agora estejam juntas...
A Vallares corou.
-- Isso não é da sua conta, está bom
de voltar para a sua sala já.
Rebeka se levantou.
-- Eu acho desnecessário esse seu
jeito de me tratar, afinal, eu sempre estou torcendo para que você deixe de ser
cega e aceite que ama a Nath... Espero que essa viagem tenha servido para você
entender isso de uma vez. – Apoiou as mãos na escrivaninha. – A Valerie te ama
tanto que a gente consegue ver isso naqueles olhos perdidos, a gente consegue
enxergar o grande amor que ela sente quando a encaramos, quando falamos seu
nome...
-- Isso não é problema seu!
-- Não, não é, eu sei, meu bem,
porém também sei que não devemos deixar passar a nossa chance de sermos
felizes.
-- Você fala de um jeito como se não
se importasse... Pensei que fosse enamorada pela ruiva.
-- E eu fui... Mas esse quase um ano
que passamos longe me fez perceber que eu não poderia perder meu tempo com uma
mulher que já estava aprisionada... E talvez você continue não acreditando, mas
nesse período, jamais houve nada entre a gente... Na verdade, sua amada Natasha
deve ter voltado a ser virgem de tanto que buscou a castidade... Sabe o que eu
mais desejo? Que ela consiga ser feliz... Ela mais que ninguém merece encontrar
a felicidade... e se a felicidade dela é uma insossa como você, tem minha
bênção.
A circense ainda abriu a boca para
falar algo, mas a loira já deixava a sala.
Inclinou a cabeça para trás.
Sim, amava a Natasha e sabia que não
havia saída para aquele sentimento a não ser se entregar a ele. Estava apenas a
fingir aquele tempo todo, porém sempre soube que a queria consigo, talvez agora
tivesse amadurecido um pouco, talvez agora entendesse algumas ações, alguns
comportamentos, mesmo que não aceitasse.
A porta abriu novamente e advogada
entrou, aproximou-se e colocou o jornal sobre a mesa.
Valentina baixou a vista e viu sua
foto com a ruiva na varanda do hotel, fora na noite do jantar.
-- Pelo menos poderia ter me ligado
para terminar antes de sair por aí se exibindo com essa mulher. – Acusou a
loira.
-- Essa foto não tinha nada de mal,
na verdade estávamos discutindo nesse momento.
-- Ah sim, você esteve com ela por
esses dias, acha mesmo que acreditarei que não houve nada entre vocês.
-- Eu não disse que não houve...
Apenas nesse momento nada acontecia.
Alissa passou a mão pelos cabelos
loiros.
Como pôde ficar com essa mulher
novamente depois de tudo o que se passou?
A morena não respondeu de imediato,
parecia ponderar o que deveria dizer,então soltou um longo suspiro e falou:
-- Eu não queria que as coisas
tivessem seguido por esse rumo... Eu juro, jamais tive a intenção de agir assim
contigo. – Levantou-se. – Envergonho-me dos meus atos, mas acredite, eu não
consegui resistir.
A advogada meneou a cabeça
negativamente.
-- Espero que não se arrependa!
Valentina prendeu a respiração ao
vê-la se afastar.
Não se orgulhava de tê-la traído,
não mesmo, mas não conseguira controlar o sentimento grande que sentia em seu
peito.
Natasha chegara as vinte uma hora na
cidade.
Acabara demorando mais do que
imaginara e quase não conseguia voo.
Pegou o carro que tinha deixado no
aeroporto e logo em seguida discou o número da morena no painel.
Tentara falar com ela, mas seu
celular tinha ficado sem bateria e só agora conseguira fazê-lo.
Suspirou impaciente, pois ninguém
atendera.
Poderia ir até a residência dos
Vallares, mas ainda não sabia se a circense tinha resolvido a questão com a
namorada.
Ligou o automóvel e já seguia quando
viu um conhecido número aparecer no visor.
-- Olá, minha linda ruiva!
A Valerie sorriu.
-- Olá, palhacinha, tentei falar
contigo, porém não me atendeu.
-- Estava tomando banho, brinquei
com o Victor até ainda pouco, depois o coloquei para dormir e agora voltei para
os aposentos.
-- Hun...
-- E já está na cidade?
-- Sim, meu amor, acabei de chegar,
demorou um pouco, pois quase não conseguia um lugar em voo comercial.
Valentina sentou na cama, estava
usando apenas uma toalha.
-- E está indo para a casa da
Helena?
-- Sim, estou, ainda preciso ver um
lugar para morar, não quero perturbar...
-- Por Helena e Leonardo você
moraria com eles por toda a vida... Amam você... – Deitou. – Mas você poderia
vim até aqui, posso fazer algo para você jantar... toma um banho... e ainda
pode ver o nosso filho... você me deixa informada sobre os negócios, assim
amanhã estarei mais segura diante do conselho...
A ruiva mordiscou o lábio inferior
demoradamente.
-- E o conde? Acha que não haveria
problemas?
-- Claro que não... Afinal, não
vamos fazer nada de errado...
A ruiva sorriu.
-- Prometo me comportar... Chego aí
daqui a pouco.
-- Me liga quando estiver diante dos
portões.
-- Está bem, amor.
A circense se levantou.
Estava morrendo de saudades da ruiva
e ansiava por tê-la novamente perto de si, não podia negar que a queria perto,
queria-a ao seu lado, desejava não perder tempo com restrições e se entregar a
esse amor que parecia ainda maior.
Deixou os aposentos, iria preparar
um jantarzinho. Com certeza o avô já estava a dormir, então desceu as escadas,
tudo estava escuro e não havia dúvidas que até os empregados já tinham se
recolhido.
Helena encontrou o marido no
escritório, ele se debruçava sobre alguns projetos, parecia entusiasmado,
enquanto bebia o café que fora levado para si.
-- Vai demorar em ir para a cama?
Antonini a fitou, enquanto bebia um
pouco do líquido preto.
-- Estou dando os últimos ajustes ao
projeto da casa que a Nath está projetando.
A mulher se aproximou, observava
tudo com atenção.
-- Hoje falei com o conde, acho que
ele está entusiasmado e acredita que a Valentina se ajeitou com a nossa menina.
O homem esboçou um sorriso de
satisfação.
-- Estou torcendo para que isso seja
verdade. Acredito que essas duas precisam ficarem juntas, elas se amam, mesmo
com todo esse orgulho.
-- Ah, meu bem, espero que tudo se
resolva, já chegou o momento de ambas perceberem que não poderão ser felizes
separadas, nasceram para se amarem e acredito nesse sentimento.
Antonini abraçou a esposa pela
cintura.
-- Será que teremos um casamento de
verdade?
-- Imagina se teremos um novo
netinho? Victor terá uma irmãozinho. – Disse entusiasmada. – Imagina nossa casa
cheia de criancinhas e eu as levando-a para passear...
-- Sim, sim, vamos torcer para que
tenhamos muitos netinhos.
Valentina correu para atender a
porta antes que a ruiva batesse.
Encararam-se por alguns segundos.
Natasha usava uma blusa de mangas
longas, estava frio, e uma calça jeans azul.
-- Boa noite, senhorita.
A ruiva cruzou os braços sobre os
seios.
-- Posso entrar?
-- Claro! – Segurou-lhe a mão. – Vem
comigo, vou cuidar de ti. – Piscou ousada.
A arquiteta acompanhou a morena,
levando a mochila com alguns itens que precisaria.
Subiram as escadas, mas não foram
direto para o quarto da neta de Nocolay, foram até os aposentos de Victor.
A arquiteta ficou a observar o
pequeno a dormir tão tranquilamente.
-- Ele chamou por ti várias vezes,
enquanto brincávamos. – A trapezista lhe abraçou pela cintura. – é travesso
igual você.
-- Acho que ele precisa de
irmãozinhos... – Inclinou a cabeça para encarar a circense. – Imagina uma
garotinha com cabelos negros e esses seus olhos misteriosos.
-- hun...
Natasha agachou e beijou o filho,
depois se virou para a circense.
-- O conde sabe que você me convidou
para dormir aqui?
-- Na verdade não, meu vovozinho
está dormindo, então não quis incomodá-lo, mas não acho que terá problemas.
-- Sim, não mesmo, eu disse que iria
me comportar...
Valentina sorriu e lhe segurou a
mão.
-- Vamos, você deve estar com fome.
Deixaram o quarto de Victor e
seguiram para os aposentos da morena.
A arquiteta conhecia bem aquele
lugar. Fora lá que tiveram a noite de núpcias.
Deixou a mochila sobre a poltrona,
depois mirou a bela aristocrata.
-- Imagino que por baixo desse
roupão esteja vestida.
-- Isso não vem ao caso... – Foi até
a bandeja e tirou a proteção. – Fiz um sanduíche com suco, pensei em outras
coisas, posso ligar e pedir que entreguem aqui.
A ruiva sorriu.
-- Amor, eu estou sem muita fome e
isso aqui. – Pegou. – Parece perfeito.
-- Então, vai tomar uma banho,
quando voltar você come.
-- Não quer ir ir comigo?
-- Disse que iria se comportar.
-- Está bem, meu amor, farei como
diz.
A trapezista a viu seguir para o
banheiro e sentou na poltrona.
Esperava ansiosa para passar a noite
toda ao lado da ruiva.
Nossa, teria que se aguentar para
não correr para os braços daquela mulher, era como se não houvesse forças para
não a querer.
Pensou nas palavras sobre terem
filhos, então pensava em uma vida juntas. Sim, era o que mais desejava, era o
que mais queria, amá-la por todos os dias da sua vida, mesmo diante dos
problemas que teriam que enfrentar.
Seguiu até a janela e ficou
observando o extenso jardim.
No dia seguinte teria uma reunião
com a diretoria e com o conselho, depois iria até o circo. Já estava certa de
que seria lá o aniversário do filho. Teria que combinar os detalhes com Papi,
já tinha resolvido com o avô, mas ainda faltava informar a Valerie sobre a
decisão, afinal, queria-a ao seu lado, queria-a sempre consigo.
Lembrou-se de Alissa e se sentiu mal
pela forma que tudo se encerrara. Como os jornalistas eram sensacionalistas ao
flagrarem aquele momento, sendo que nada entre elas tinha acontecido ainda.
Umedeceu os lábios demoradamente.
Ouviu a porta se abrir e ao se virar
viu a neta de Isadora aparecer com um roupão atoalhado preto.
-- Nossa, eu estava me sentindo
muito suja. – Sentou na cadeira e já comia o lanche.
-- E como foi com os japoneses? –
Aproximou-se. – Ainda continuam com a ideia que siga para o Oriente?
A ruiva deu uma grande mordida no
lanche e só depois respondeu:
-- Sim, porém não desejo de forma
nenhuma de ir para tão longe, ainda mais agora que... – fitou-a. – que estamos
nos entendendo...
A morena assentiu, depois se
aproximou, acomodando-se na outra cadeira.
-- Falei com a Alissa...
-- E então?
-- Então ela ficou muito irritada,
ainda mais porque havia uma notícia nos jornais com nossa foto.
Os olhos verdes se abriram em
surpresa.
-- Eu não imaginei que teríamos nada
parecido, ainda mais porque pouco estivemos juntas diante dos outros.
-- Foi quando estávamos na varanda...
A ruiva tomou um pouco do suco e
apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.
Não teria muito o que dizer sobre
aquele assunto, então permaneceu calada.
Continuou a comer em silêncio e não
demorou para terminar.
-- Estou satisfeita, acho que comi
muito.
-- Que bom, amor, fico feliz que
tenha se alimentado. – Ficou pensativa e só depois falou: -- Você estará
presente amanhã na reunião?
-- Não sei ainda, passei dias
ausentes, tenho que focar na construtora, tenho trabalho para fazer.
-- Mas e então?
-- A Rebeka pode continuar me
representando, ela faz isso muito bem e me poupa o trabalho de ir até a
empresa.
Os olhos negros se estreitaram por
alguns segundos.
-- Palhacinha, acho que está mais na
hora de você entender que não tenho nada com ela, por favor, meu bem, precisa
acreditar.
A circense ficou em silêncio, mas
logo dizia;
-- Eu morro de ciúmes dela, mas
acredito que não há nada entre vocês duas, mesmo assim, sei que ela já foi
apaixonada por ti.
-- Sim, porém isso foi em uma
passado... No Oriente a tive apenas como uma amiga, continua sendo isso, é uma
grande amiga e sempre esteve comigo, aguentando-me nos meus momentos difíceis.
A morena assentiu, levantou-se e
seguiu até a amada, sentando em seu colo.
-- Pensava muito em mim? – Indagou
fitando-a.
A arquiteta se ajeitava para
acomodá-la melhor.
-- Sim... muito... – Tocou-lhe a
face com a costas da mão. – tinha a impressão que morreria de tanta saudades...
-- E por que foi embora? Quando
acordei depois de tudo o que aconteceu, pensei que estaria comigo, pensei que
teríamos uma chance...
A ruiva lhe segurou a mão, beijando
cada um dos dedos.
-- Eu tive medo... Sabia que mais
uma vez tinha colocado sua vida em risco... Achei que não desejava mais me
ver... Então fui embora, decidi que seria o melhor a fazer.
-- Não tem ideia de como senti
abandonada, como pensei que tinha agido mais uma vez com sua arrogância, que me
deixara sem pensar em mim.
A Valerie apoiou a testa a da neta
do conde.
-- Me perdoa... Sei que agi de forma
terrível, sei que deveria ter vindo até você, sei deveríamos ter conversado,
mas quando lembrei do divórcio, de como me pedira para me manter distante de
ti... Não desejo perder mais tempo, quero que fique comigo, quero me dê uma
nova chance.
Os olhos negros estavam cheio de
lágrimas.
-- Eu te amo, te amo e quero ficar
contigo.
-- Eu te amo ainda mais e não
abrirei mão de ti...
As bocas se encontraram em um beijo
exigente, em uma carícia apaixonada. Não demorou para as línguas se cruzarem,
sugando-se, chupando-se, enquanto a ruiva já colocava as mãos por dentro do roupão da filha de Nícolas. Sentiu os
seios redondos reagirem ao seu toque.
-- Pensei que fosse se comportar? –
A morena indagou contra a boca rosada. – Afinal, não esqueça que meu avô é
bastante tradicional.
A ruiva continuou a massagear os
mamilos, fazendo-o com mais delicadeza, com mais cuidado.
-- Não acho que estamos fazendo algo
de errado... Apenas estou te esquentando um pouco, uma corrente de ar frio está
entrando pela janela.
Os olhos negros se estreitaram em
deleite.
-- Há outra coisa com frio também em
mim... E muito mais gelado. – Sussurrou em seu ouvido. – talvez você devesse
esquentar também.
Natasha sentiu um arrepio percorrer
sua espinha diante da forma provocante da outra lhe fitar, queria-a tanto que
seu sexo já latejava diante do som daquela voz sensual.
-- Estou querendo lhe ajudar... –
Colocou a mão sobre seu sexo. – Qual o problema? Está aposentando as calcinhas
é?
A trapezista gargalhou.
-- Só quando sei que estás presente.
– Levantou-se. – Mas como sei que não deseja agir de forma desrespeitosa na
casa do meu avô, o melhor será que apenas deitemos e vamos dormir.
A ruiva parecia frustrada.
-- Eu posso falar com o conde e
explicar minha situação... Talvez ele aceite e entenda o que se passa comigo...
Aproximou-se da jovem circense.
-- Quero fazer amor contigo,
Vallares, quero... – Segurou-a pelo braço trazendo-a para perto de si. – Meu
corpo está implorando por ti, palhacinha, anseio para desfrutar dos seus
encantos.
A trapezista adorava ver aquela
expressão faminta naquele olhar e não deixaria de provoca-la até senti-la fora
daquele ar de frieza.
-- Sabe que seria inadequado, ainda
mais porque ainda nem oficializamos o que temos... – Mordiscou o lábio
inferior. – O conde Nicolay não vai gostar que desrespeite seus domínios...
A ruiva a observava com cuidado,
parecia interessada nos seios que já se projetavam para frente como se
estivesse fazendo parte daquela afronta.
-- E você contaria para ele? – Usou
o polegar para exigir resposta que já encontrava.
-- Não, entretanto, levando em conta
que eu não consigo gemer baixinho, tampouco você, com certeza acordaria todo o
andar...
Os olhos verdes se estreitavam em
antecipação do que poderiam desfrutar.
Caminhou até a poltrona e fê-la
montar mais uma vez em seu colo.
Fitava
encantado os olhos negros, sabia que estava sendo provocada, conhecia aquele
olhar, mas também sabia jogar aquele jogo.
-- E se eu gemer baixinho pode
então? – Levantou-lhe a camiseta e ficou a enamorar os montes redondos. – Posso
ser muito comportada...
A trapezista sentia o sexo reagir só
com aquela forma de olhar.
-- Você não conseguiria... – Passou
a língua pelos lábios lentamente. – É uma selvagem... – Afastou um pouco o
roupão, observando os mamilos rosados. – Também nem ainda sei quais suas
intenções comigo... Afinal, não podemos simplesmente ficar transando a hora que
você quer sem que tenhamos um compromisso formal... Os Vallares não aceitariam
algo assim.
Natasha assentiu, enquanto aproximava
a boca do colo, acariciando-os com os lábios e depois com a língua, porém não
deixava de fita-la, parecia concentrada nas palavras da morena.
-- Então o que devemos fazer? –
Indagou entre uma e duas chupadas.
A circense começou a acariciar os
cabelos acobreados, enquanto enlouquecia com o toque.
Queria-a para si, apenas para si.
-- Ain... – Gemeu.
A ruiva sorriu.
-- Baixinho. – Colocou a mão dentro
da calcinha da amada. – Eu estou apenas sussurrando e você já começa
escandalizar.
Valentina aprumou as costas,
rebolando contra a mão que parecia saber bem o que fazer.
-- E então, condessinha, o que devo
fazer para ser digno de lhe comer pelo resto da vida? – Questionou, enquanto
massageava o sexo molhado com o polegar.
A morena rebolava mais contra ela,
porém logo se mostrava frustrada.
-- Mete dentro vai... – Ordenou.
-- Mas eu achei que não podíamos,
afinal, tem os protocolos que você vem se referindo...
A neta de Nicolay soltou um longo
suspiro.
-- Claro... mas eu acho que com
esforço você consegue se adequar a todos... – Segurou-lhe a mão. – Coloca
apenas um... – Segurou-lhe o indicador, lambeu-o, passou a língua por ele,
depois chupou, fazendo-a entrar e sair dos seus lábios.
A Valerie a olhava em encantamento,
parecia fascinada.
-- É? – Questionava encantada com o
movimento. – Se eu meter... na sua deliciosa... – Terminou a frase em seu
ouvido.
Valentina encarou os olhos verdes, a
jovem tinha a face corada.
-- Safada!
A ruiva riu, depois voltou a
acariciar a intimidade da bela mulher, passeando os dedos com cuidado e logo a
invadia como fora pedido.
-- Assim está bom?
A trapezista inclinou a cabeça para
trás, depois a encarava.
-- Sim... Mas quero que fique
entrando... Ain... e saindo... Entra e sai...
Natasha seguiu à risca as instruções.
-- Então agora me fala como devo
conseguir da sua ilustre família a permissão para cortejar a tão bela herdeira.
Valentina levou o pulso à boca, pois
por pouco quase gritara em loucura.
-- Calma, palhacinha... – Dizia
enquanto aumentava os movimentos. – Fala para mim, o que devo fazer?
A morena fitou a porta e ficou a
imaginar se tinha fechado ou se estava aberta. Seria constrangedor que alguém
entrasse ali e as pegassem naquele momento tão íntimo.
-- Natasha... – Chamou-a baixinho. –
Acho que não temos que conversar agora.
A ruiva baixou os olhos para o sexo
aberto, enquanto agora usava dois dedos para invadi-la. Parecia encantada com a
parte tão sensível, ainda mais quando ela engolia faminta sua oferta.
Levantou a cabeça e flagrou o olhar
preso ao dela, sorriu de forma jocosa.
-- Fala...
-- Ain... não... mete mais...
-- Geme baixinho...
Valentina não parecia nenhum pouco
preocupada com o fato de alguém lhe ouvir naquele momento e fora preciso a
ruiva usar a outra mão para lhe impedir os gritinhos de satisfação.
Viu-a com admiração coordenar todo o
ato, inclinando-se em seu colo e movimentando-se de forma deliciosa contra si,
tirando tudo o que podia, exigindo que lhe desse toda a paixão que lhe era de
direito.
Ouvia a respiração acelerada e longo
sabia que ela se perderia em seu prazer, segurou-lhe os cabelos, trazendo-a
para perto de si, beijando-a, ouvindo os protestos, ouvindo os absurdos que
saia daquela boca maravilhosa.
Abraçou-a ao senti-la se entregar ao
prazer supremo, ouvia as batidas aceleradas do seu coração, ouvia a respiração
descontrolada e esperava que ela recobrasse o fôlego.
Depois de alguns minutos os olhos
negros a fitaram. Os cabelos em desalinhos tinha se libertado do elástico,
alguns fios se colavam a sua face.
-- Você desrespeitou a casa do seu
avô, quero só saber o que ela vai pensar quando descobrir que a palhacinha de
circo estava em safadeza nos aposentos.
A jovem suspirou alto.
-- Óbvio que é sua culpa! – Encostou
a cabeça em seu peito. – Comece a pensar no tipo de relação que teremos, pois
haverá protocolos para serem seguidos para que assim possamos desfrutar disso.
A Valerie sorriu, enquanto lhe
acariciava os cabelos.
-- Então me fale o que devo fazer
para te comer sempre que eu desejar...
A trapezista a fitou com o cenho
franzido.
-- Você não está sendo muito
arrogante com esse “ sempre que eu desejar” ? Afinal, eu também preciso querer
te dar não é?
Natasha mordeu a língua para não
rir, adorava provocar a bela morena.
Amava-a tanto e só queria poder
ficar com ela daquele jeito.
-- Ah, sim, esqueci desse detalhe...
-- Esqueceu foi? – Livrou-se dos
braços que a prendiam, levantando-se. – Pois há muita coisa que deve concordar
se assim desejar desfrutar dos meus encantos. – Colocou as mãos na cintura.
A neta de Isadora parecia se
divertir ao ver a bela mulher em sua nudez.
-- Preciso ver esses termos do
contrato, porque fala de um jeito que chego a pensar que estarei entrando em
uma via unilateral.
-- É?
A Vallares se aproximou, ajoelhou-se
entre as pernas da amada. Afastou-lhe os joelhos.
-- Posso fazer nosso acordo ficar
muito atrativo...
Usou a mão para cobrir o sexo que se
mostrava escorregadio.
-- Claro que não sei se está pronta
para tudo o que tenho para te oferecer...
Natasha mirava os olhos negros não
lhe abandonar a face, enquanto pousava os lábios sobre seu sexo.
Mexeu-se agoniada.
-- O que teria de tão bom nesse
acordo?
Valentina sorriu, depois lhe
levantou uma das pernas, dobrando-a. Enquanto usava o polegar para iniciar um
carinho ousado na carne molhada.
-- Posse te dar muito... Fazer como
desejar... De quatro como você adora...
Um gemido rouco escapou dos lábios
da ruiva.
-- E o que mais?
-- Isso aqui...
A boca da trapezista colou em seu
sexo e começou e executar um delicioso beijo, unindo os diferentes lábios,
mordiscando-os, lambendo-os e logo chupava com uma ânsia incontrolável.
A ruiva lhe segurou a cabeça para
prolongar o contato e logo sentia-a dentro de si. Estava tão excitada que não
demorou para se derramar nos lábios da amada.
Puxou-a para si, acomodando-a,
enquanto a abraçava forte.
-- Te amo... te amo... – Sussurrava
em seu ouvido. – Quero que seja minha por toda a vida... – Fitou-a. – Estou
disposta a aceitar suas condições.
-- Hun... é? – Beijou-lhe o queixo.
– E se eu pedir coisas absurdas?
-- Tipo? – Acariciou-lhe as coxas. –
O que seria de tão ruim?
-- Exijo fidelidade... Não quero
mulheres recebendo atenções... sou muito ciumenta e não aceitarei isso. –
Pegou-lhe a mão. – Também desejo que estar sempre ao seu lado... não quero que
me afaste quando tivermos problemas, preciso saber que estamos lado a lado...
Não quero apenas contar contigo nos meus momentos difíceis, quero que você me
busque também... – Beijou cada um dos dedos. – Eu te amo, arrogante Valerie,
mas eu preciso que esteja disposta a fazer isso tudo dar certo.
A ruiva suspirou.
-- Apenas tenha um pouco de
paciência comigo... eu fico assustada quando penso que algo possa te ferir ou
ao nosso filho... Mas eu vou tentar agir assim, apenas preciso de paciência...
Quanto às mulheres... Eu só tenho olhos para ti... Então essa parte vai ser
fácil.
-- Hun... – Segurou-lhe a face. –
Então eu acho que o meu avô vai aceitar que eu seja cortejada por ti. –
Levantou-se.
Natasha a viu se aproximar da cama.
-- Vem, acho que quero ficar de
quatro para ti... – Falou com um sorriso provocante.
A diretoria estava reunida junto com
o conselho. O conde ocupava a cabeceira, tinha Nícolas ao seu lado direito e o
esquerdo estava a cadeira da presidente que estava diante de todos explanando
todo o progresso que se passara na viagem que fizera.
Natasha estava presente e observava
encantada a mulher que amava a fazer todo o balancete dos acontecimentos.
Observava sua segurança, sua
confiança, mesmo diante daqueles empresários experientes que pareciam sempre
dispostos a achar algum tipo de falha nos acontecimentos.
Mexeu-se desconfortável, enquanto
bebia um pouco de água.
Estava sonolenta.
Praticamente não dormira ao lado da
insaciável morena, sem falar que teve que sair cedo, pois não sabia se sentiria
confortável em ser flagrada pelo conde em sua mansão, ainda mais por não saber
se ele já sabia que as duas mulheres já tinham se entendido.
Estava ansiosa para se unir a bela
circense, desejando não ter que se separar nunca mais.
-- Tudo parece perfeito. – O
presidente do conselho falava. – Falei com um dos investidores japoneses, ele
se mostrou encantado e interessado em trabalhar conosco, falara sobre como se
encantara com as duas representantes e deixara claro que gostaria que Natasha
fosse com eles ao Oriente para apresentar nossa filial.
Valentina fitou a Valerie.
-- Sim, eles falaram isso, porém
ainda não sei se poderei ir com eles, tenho muita coisa para resolver na
construtora. – A neta de Isadora já protestava. – Tentarei ver se não há outra
forma para que isso seja resolvido, caso não aja, irei.
Nicolay fazia um gesto afirmativo
com a cabeça, enquanto mirava as duas mulheres. Sabia que estavam juntas, mesmo
que ainda não tivessem deixado isso claro para todos.
Viu quando a neta abrira a porta
para a ruiva, mas nada falara no horário do desjejum, mesmo vendo que a
felicidade não parecia se ausentar daquela face bonita.
-- Isso veremos com mais calma. – O
patriarca dos Vallares dizia. – Estamos satisfeitos com os resultados e
acreditamos que logo teremos uma maior independência financeira.
-- Com certeza sim, Nicolay! –
Natasha dizia. – Os balancetes já foram enviados para a presidente, acredito
que logo ela se ocupará em organizá-los de forma que seja simples o
entendimento de todos, e acredito que ficarão felizes em saber que pela
primeira vez em quase um ano o saldo é totalmente positivo... Não houve
perdas... Não há dúvidas que a Valentina prestara uma ótimo trabalho.
-- Realmente, Valerie! – Nícolas
corroborava. – Rebeka já me enviou uma cópia e posso dizer que estou totalmente
satisfeito com tudo o que vi.
O presidente do conselho se levantou
e logo todos faziam o mesmo.
-- Acredito que por agora encerramos
nossa reunião. – Aproximou-se da Vallares, estendendo-lhe a mão. – Mesmo que
tenha duvidado no início da sua indicação, posso dizer agora que não tenho
dúvidas sobre seu empenho em todo o sucesso que agora estamos colhendo.
A trapezista fez um gesto de
assentimento com a cabeça. Estava feliz, afinal, sabia como enfrentara a
resistência daqueles homens experientes quando fora indicada pelo o avô para
assumir aquele cargo de tão grande responsabilidade.
-- Eu agradeço! – Falou com um
sorriso.
Não demorou a todos irem
cumprimentar a morena e aos poucos a sala ficava vazia, tendo apenas a Valerie,
o conde, Nícolas e Valentina.
A morena já sentava e começava
digitar alguns e-mails quando a voz do avô lhe tirou a concentração.
-- Então, quando contarão a todos
que já se acertaram?
Logo a face bronzeada da morena
adquiria o corado. Não respondeu, apenas fitou a Natasha que não parecia
atingida pelo comentário.
Nícolas fitava um e depois a outra.
-- E então?
A ruiva se levantou de onde estava e
ocupou um lugar ao lado da amada.
-- Sim, conseguimos nos entender,
acredito que a Valentina aceitou nos dar uma nova oportunidade.
O velho aristocrata fitava as duas.
-- Então não acho que seja
necessário que ambas se escondam em trailer ou cheguem à mansão tarde da noite
saia antes do sol nascer...
Valentina e Natasha nada disseram,
apenas fizeram um gesto afirmativo com a cabeça.
Nícolas se levantou.
-- Bem, eu estou imensamente feliz
pelas duas terem se entendido, acho que até um cego conseguiria ver o amor que
existe entre vocês duas, sem falar no meu neto, ele merece as mamães ao lado. –
Sorriu. – Quero as duas lindas e maravilhosas como minhas madrinhas de
casamento. – Beijou as duas. – Acho que já está na hora da gente ir, papai.
Nicolay também se levantou apoiado
em sua bengala.
-- E já está mais que na hora de
termos um casamento... Mas agora sem mentiras.
A morena assentiu, recebeu o carinho
do avô e logo estavam sozinhas.
Natasha esboçou um riso travesso ao
ver a expressão chateada da amada. Puxou-a para seu colo, mesmo sob os protestos.
-- Para, Valerie, tá vendo o que
você arrumou?
-- Eu? – Questionou arqueando a
sobrancelha esquerda. – Claro que não, foi a senhorita que me tentou. –
Pegou-lhe a mão. – Assim todo mundo já fica logo sabendo que somos juntas... Eu
te amo e quero que todo mundo saiba que estamos juntinhas.
-- Somos namoradas? – Ficou
acariciando a face.
-- Somos o que você quiser...
Esposa... amantes...
-- Não vejo a hora de colocar uma
aliança nesse seu dedo para que todo mundo veja que sou sua dona...
-- Minha dona? – Colocou os lábios
colando ao pescoço esguio. – Você é a minha dona... E eu sou sua por todo
sempre.
A morena sorriu e beijou os lábios
rosados.
Os que amavam as duas mulheres
ficaram felizes com o anúncio da volta de relacionamento.
Um jantar fora oferecido na mansão
Vallares em homenagem as duas.
Helena, Leonardo, Pepi, Nicolay,
Mariana, Nícolas e até mesmo Rebeka estava presente.
Victor estava entre as mães e se
divertia com uma fatia de bolo de chocolate que Natasha lhe deu. O pequeno se
lambuzava, enquanto à circense olhava de modo a repreender a amada por ter dado
a guloseima a criança.
A conversa animada se estendia muito
além da hora do jantar.
Rebeka também fora convidada por
Mariana para ser madrinha. Valentina não pareceu se incomodar. Na verdade, nos
últimos dias, as duas mulheres pareciam ter voltado ao entendimento.
Alissa pedira demissão do cargo que
ocupava, não se sentira mais à vontade em permanecer no mesmo lugar que a jovem
Vallares. A circense ainda dialogou, até pediu para que ela reconsiderasse, mas
fora uma tentativa vã.
O xadrez e os outros jogos de
tabuleiros foram montados na sala.
Todos pareciam animados com a
jogatina e o alvo era o conde, mas até agora apenas Natasha tinha conseguido vencer
o velho aristocrata.
A ruiva estava na poltrona, já tinha
abandonado o posto e ria dos participantes da competição.
O filho estava sentado em seus
braços e já começava a cochilar. A arquiteta observava a circense concentrada
em sua partida.
Soltou um longo suspiro.
Talvez em sua vida aquela fosse a
primeira vez que estivesse experimentando um pouco de paz, um pouco de
felicidade sem que uma ameaça pairasse no ar.
Beijou a cabeça do filho,
segurando-lhe a diminuta mão.
Mirou a amada.
Deus, como a amava!
Quantos anos passariam e conseguiria
aplacar aquele sentimento tão intenso.
Dentro de uma semana viajaria ao
Oriente. Precisava acompanhar os empresários, mesmo que essa não fosse sua
vontade. Iria no dia seguinte ao casamento do sogro, fora a condição que
impusera, pois queria estar ao lado da mulher maravilhosa que era a circense.
Ouviu o filho balbuciar e ao olhar
percebeu que a criança dormia.
Levantando-se, seguiu para leva-lo
para o quarto, colocou no berço e ficou a observar as proteções que foram
feitas para que o garoto não escalasse o lugar de dormir.
Inclinou-se, beijando-lhe, enquanto
continuava a fita-lo encantada com aquele bebê tão lindo.
Talvez não fosse amaldiçoada como
tantas vezes sua avó falara, talvez nunca fora...
-- Vai ficar enamorada aí é?
A ruiva olhou sobre os ombros e viu
Valentina se aproximar, sentiu-a lhe abraçar pela cintura, enquanto encostava a
cabeça em suas costas.
-- Estava aqui pensando em como
estou feliz...
-- Está?
-- Sim... – Segurou-lhe a mão, depois
beijou-as. – Fiquei pensando em como eu pensava que havia uma maldição em minha
vida, como ouvia a Isadora falar aquelas coisas terríveis e imaginava se não
era tudo verdade... Depois da Verônica decidi me isolar... – Deu uma pausa. –
Nada fazia sentido... tanto que nem me importei quando fui presa pelo
assassinato da sua tia... Nada fazia sentido, havia um vazio aqui dentro... –
Virou-se para a trapezista. – Eu não sei se mereço... realmente não acredito
que seja digna de ter você e meu filho, mas tentarei ao máximo ser
merecedora...
Era possível ver nos olhos negros o
brilho intenso ou seriam lágrimas?
-- Claro que você é digna... Eu te
amo, Natasha... E nunca mais quero ouvir que você não nos merece... Nunca mais
quero que lembre das coisas terríveis que Isadora te fez... A duquesa era uma
doente... – Tocou-lhe a face. – Eu te amo tanto... Quero ser sua por toda a
minha vida...
Um sorriso se desenhou nos lábios da
empresária.
-- Quem diria que uma palhacinha de
circo iria me enlouquecer assim hein?
-- E você não gosta?
-- Eu amo... Não vejo a hora de
chegar amanhã para te ver naquelas roupas coloridas e com nariz vermelho.
-- Você também vai se vestir não é?
Já tinha falado que sua roupa está pronta... Pelo aniversário do nosso filho...
A ruiva suspirou, pois não se sentia
à vontade naquele tipo de fantasia, mas como era apenas por um momento,
aceitara.
-- Sim, eu farei, mas não quero voe
naquele trapézio sem usar a rede de proteção. – Segurou-lhe na cintura. – Não
quero que se arrisque...
-- E eu já prometi não é? – Deu
beijos rápidos nos lábios rosados. – Por que não dorme aqui hoje? – Colocou as
mãos por baixo da blusa dela. – Podemos esperar meu avô dormir! – Disse com um
sorriso travesso.
-- Ah, sim, depois você vem me dizer
que é minha culpa...
-- Mas já faz uma semana que não
temos intimidade...
Realmente aquilo era verdade.
A Valerie esteve bastante ocupada
com a construtora e pouco tivera tempo de ver a morena, apenas se falavam pelo
telefone.
-- Eu sei, só que não quero
mais levar bronca do conde...
-- Hun... Mas eu quero te amar...
Desejo você... – Vamos para o meu quarto? Todos estão distraídos com os jogo
que com certeza vão rolar até tarde...
-- É uma ideia tentadora... Mas não,
não mesmo.
-- Natasha! – Repreendeu-a.
-- Não mesmo, vamos voltar para a
sala, quero fazer as coisas do jeito que o conde propôs.
A morena cruzou os braços sobre os
seios.
-- Eu não sou mais virgem, não é
necessário esse tipo de cuidado.
-- Mas é uma aristocrata... Não pode
agir assim... – Dizia, enquanto tentava segura o riso diante da cara emburrada.
– Uma Vallares, uma representante da rosa vermelha... Tem que se dar ao
respeito.
-- Ah por favor... – Batia o pé de
forma impaciente no assoalho. – Então só quando casar?
-- Provavelmente, palhacinha...
Valentina mordiscava a lateral do
lábio inferior demoradamente.
-- Então já está na hora de colocar
uma aliança aqui! – Apontou-lhe o anelar da mão esquerda.
-- Com certeza que sim.
Antes que a morena voltasse a
protestar, a ruiva se afastou.
O circo estava todo cheio de
crianças.
Natasha convidara o orfanato para o
qual tinha feito o show beneficente. Todos pareciam animados e felizes diante
dos números circenses.
Todos estavam presentes, até mesmo o
frei fizera questão de estar presente.
-- Quem dirias que você tinha
talento para ser palhaça, Valerie. – O conde escondia o riso.
A ruiva estava com o filho nos
braços.
-- Acho que a Valentina já vai se
apresentar. – Helena se juntou entusiasmada.
A arquiteta observava a todos
focados no anúncio do número. Não eram apenas os pequenos espectadores que
demonstravam o entusiasmo, os adultos presente demonstravam a perspectiva de
ver os voadores.
A Valerie prendeu a respiração, não
desejava nem mesmo olhar para a mulher que amava.
Viu-a de pé, viu-a jogar beijos para
todos.
Victor olhava com atenção, parecia
fascinado.
Ouviu os tambores rufarem e pareceu
que o coração seguia o mesmo ritmo.
A arquibancada vibrava, mas Natasha
fechou os olhos quando viu a trapezista se jogar, depois voltou a fitar e a viu
fazendo seu salto mortal, mais algumas manobras e logo aterrissava com sua
malha.
Os aplausos fizeram eco.
As crianças pulavam em êxtase.
Os olhos negros se voltaram para si
e a ruiva sorriu, sentindo-se aliviada por tudo ter acabado bem.
Logo o conde se aproximava para
pegar o neto, leva-lo para ver os truques de magias de perto.
A Valerie continuava de pé perto da
porta de saída, observava as mágicas, viu os garçons começarem a servir a
comida e os sucos. As pipocas e algodões doces fizeram bastante sucesso.
-- Você á a palhaça mais bonita que
já vi.
Natasha olhou sobre os ombros e
encontrou a circense bem atrás de si.
-- Eu prefiro que não volte a voar
daquele trapézio, ainda estou com meu coração na boca.
A morena parou ao lada dela,
enquanto a observava de soslaio.
-- Prometo que será apenas uma vez
na vida... – Segurou-lhe a mão. – Da última vez você não reclamou...
Os olhos verdes se voltaram para a
jovem, mesmo diante das roupas de saltimbancos, não perdia o charme.
-- O seu trailer é um lugar muito
confortável, palhacinha...
A jovem esboçou um sorriso
misterioso.
-- Eu amo esse seu jeito de
empresária séria... De mulher fria... Mesclado com essa carinha de ruiva
travessa. – Beijou-lhe a face. – Tenho a mulher mais maravilhosa do mundo. –
Parou de frente para ela. – Eu sei que passamos por coisas difíceis e sei que
estamos nos dando uma segunda chance... Não sei se você vai me aguentar com meu
ciúmes e com minhas chatices... – Mostrou-lhe uma caixinha de veludo vermelha.
– Casa comigo, arrogante Valerie?
Os olhos verdes pareceram
emocionados. Brilhavam como esmeraldas raras.
Abriu a boca e as palavras não
saíram, então depois de alguns segundos conseguiu falar:
-- Não há nada que eu deseje mais
nesse mundo... – Pegou um dos pequenos aros dourado e colocou no anelas direito
da amada. – Claro que o que mais desejo é ser sua para toda a vida... Até meu
último suspiro.
A morena pegou a outra joia imitando
o ato.
-- Eu te amo para sempre...
Uma semana depois, Natasha estava no
Oriente.
Aquele era o último dia naquela
terra distante.
Passara os dias acompanhada com os
empresários japoneses. Saia sempre logo cedo e retornava ao hotel quase de
madrugada, pois era necessário que participasse também dos eventos.
Estava saindo do banho quando ouviu
o celular tocar. Sorriu ao ver de quem se tratava. Sempre recebia a ligação da
circense naquele horário.
Deitou-se na cama e atendeu.
-- Olá, palhacinha! – Falou
sorridente.
-- Já está pronta para viajar?
A ruiva deitou.
-- Sim, na verdade estou super
ansiosa para retornar, tenho a impressão que faz um século que estou aqui.
-- Eu estou morrendo de saudades,
meu amor, preciso que chegue logo e não quero que faça essas viagens sozinhas,
não aguento.
-- Nem eu, espero que tudo dê certo
e eu possa te encontrar a tempo no casamento do seu pai.
-- Estou torcendo para isso e te
esperando.
-- Acho que essa coisa de não
transar até o casamento não foi uma boa escolha... Eu ando queimando por ti,
palhacinha.
Valentina estava no escritório, era
dia ainda e logo teria uma reunião, porém quisera antes de tudo falar com
arquiteta, estava sentindo muito a falta dela, tanto que nem se aguentava.
Girou na cadeira e só depois
respondeu.
-- Foi sua escolha... Eu apenas
aceitei me manter pura até ser desposada.
-- Claro que sim, eu estou seguindo
as regras do conde, não queria quebrar as regras, afinal, estou entrando para a
família da rosa vermelha, precisava me mostrar civilizada.
A circense riu.
-- Porém não acredito que isso te
impeça desse tocar pensando em mim...
Ouviu a gargalhada da bela
empresária.
Mordiscou o lábio inferior.
-- Se você olhar seu celular... Vai
ver um vídeo como prova da sua afirmação.
A morena corou e já pegava o celular
para ver do que a outra falara, mas Rebeka entrou.
Valentina se sentiu frustrada, então
por mais alguns segundos encerrou carinhosamente a chamada.
Fitou a loira que lhe olhava com um
arquear de sobrancelha.
-- Quem pensaria hein? – Sentou-se.
– A chatinha Valentina se derretendo em uma ligação com a ruiva arrogante.
-- Olha, oxigenada, não tenho tempo
para suas provocações.
Rebeka riu.
A amizade com a neta do conde estava
bem firme. Não havia brigas, tampouco ciúmes.
-- E então? Está pronta para casar?
Valentina respirou fundo.
-- Não acha que a Natasha vai ficar
chateada? Estou insegura.
-- Não né, claro que não, tenho
certeza que ela vai amar... E então? Posso resolver tudo?
A Vallares parecia hesitar por
alguns segundos, mas logo fez um gesto afirmativo com a cabeça, depois se levantou.
-- Vamos comigo para a reunião...
Depois preciso que pegue o meu vestido quando for buscar o seu.
-- Claro, condessinha!
O casamento do primogênito do conde
acontecera na mansão dos Vallares.
Fora usado o primoroso jardim para
colocar as cadeiras para os convidados. Não fora feito uma festa enorme.
Mariana e Nícolas escolhera uma celebração íntimas apenas com os mais chegados.
Havia flores vermelhas por todos os
lados.
A noiva estava linda em seu vestido
dourado, enquanto o noivo optara por um terno de porte elegante.
Rebeka, Valentina, Leonardo e Helena
estavam em seus lugares de padrinhos.
Victor estava nos braços do avô e
parecia se divertir com sua pelúcia. Yassa estava presente, a bela modelo se
tornara uma companheira permanente da assistente da arquiteta. A amizade de
ambas pareciam seguirem para outro caminho e era possível flagrar os olhares
trocados pelas duas vez e outra.
-- Você tá parecendo uma lesa com
esse sorriso. – Valentina provocou a loira.
Rebeka pareceu constrangida, coisa
que era raro de acontecer.
-- Pensei que você fosse uma bandida
que vivia de seduzir todo mundo. – A morena continuava. – Parece cachorrinha de
quatro pela garota.
-- Ah, não seja tola, é apenas sexo,
não sinto nada mais que isso.
A circense arqueou a sobrancelha em
provocação.
-- Ah, sim, depois quando Yassa
ficar sabendo disso quero ver você chorando...
-- Olha, Palhaça, meta-se na sua
vida... Falando em ficar de quatro... Olha quem acabou de chegar...
A Vallares olhou para frente e
sentiu vontade correr para os braços da arquiteta.
Sabia que ela chegaria atrasada, mas
não estava preparada para ver aquela mulher tão linda naquele vestido verde.
Viu alguns convidados olhando para a
recém chegada, observou-a se aproximar com aquele sorriso hipnotizante.
Apenas fez um gesto de assentimento
com a cabeça, pois não podiam falar agora, afinal, o juiz já começava o ritual
do enlace.
Alguns minutos se passaram e Nícolas
estava unido à Marina diante das leis dos homens.
Os padrinhos foram assinar e foi
nesse momento que Valentina conseguiu falar com a Natasha.
-- Deus, como pode estar tão linda?
A ruiva nem lhe respondeu, apenas a
abraçou forte. Um abraço de saudade por aqueles dias separadas.
Dois dias depois, Natasha estava em
sua construtora, examinava os projetos que precisava fiscalizar diante das
obras.
A porta se abriu e não demorou para
Rebeka aparecer.
-- Espero que suas malas estejam
prontas para viajar.
A loira foi logo dizendo, enquanto a
ruiva a fitava sobre os ombros.
-- Eu não sei se você sabe, mas não
faz nem uma semana que voltei do oriente e não desejo entrar em um avião tão
cedo.
-- Pois então vai ter que se
entender com o conde, pois fora ele quem dissera que deveria ir até a fazenda.
A Valerie se virou para encará-la,
enquanto cruzava os braços.
-- Rebeka, eu não quero viajar,
tenho coisas para resolver, sem falar que pouco tive tempo de ver a Valentina
durantes esses dois dias que cheguei.
-- Ah, agora entendi o mau humor...
Com certeza não andou...
-- Chega, Rebeka! – Levantou-se. –
Não me tire o pouco de paciência que tenho.
-- Isso é falta de sexo... –
Comentou ao observar os desenhos. – Bem, eu acho que se formos agora até a
fazenda, ainda terá tempo de voltar hoje e ir ao encontro da sua condessa.
A ruiva passou a mão pelos cabelos
acobreados.
Realmente estava irritada.
No dia do casamento não ficara ao
lado da amada de forma mais íntima.
Suspirou impaciente.
-- Você vai comigo?
-- Sim, claro, o conde me passou
todos os detalhes e por isso deverei te acompanhar.
-- Preciso falar com a Valentina
antes.
-- Acho que não será uma boa ideia,
pois ela está em reunião com o conselho.
A empresária suspirou, enquanto
fazia um gesto afirmativo com a cabeça.
O helicóptero aterrissava diante da
casa grande.
As hélices pararam e logo a ruiva
desembarcava e seus olhos pareceram surpresos diante do que via.
Leonardo, Helena, Nícolas, Mariana,
Yassa, o conde, Victor... mas o que a surpreendia era ver Valentina em um
vestido caído nos ombros, branco, um enfeite de flores na cabeça, os pés
descalços e um sorriso gentil em sua face.
O frei estava diante dela.
-- Bem, a gente pode ligar o
helicóptero e fugir... Ou se entregar a uma vida monótona e presa em um
casamento com a chatinha ali...
Rebeka lhe sussurrou em seu ouvido.
Natasha a fitou e logo caminhava
pelo carpete vermelho.
Reconheceu algumas pessoas da
aldeia, viu o Pepi, mas apenas fez um gesto de cabeça em cumprimento a todos,
pois apenas quem lhe interessava era a bela Vallares que não desviava o olhar
do seu.
-- E então, senhorita Valeria...
Aceita ser a minha esposa?
Natasha parecia hipnotizada diante
da figura que se apresentava para si.
Sentiu as lágrimas lhe caírem dos
olhos... Teve a impressão que seria capaz de morrer de tanta felicidade.
Mirou a todos, depois voltou a
encarar a amada.
-- Sou sua para toda a vida...
A jovem falou alto e viu o olhar da
Vallares ir além de si e ao mirar viu Victor todo vestido de branco, com um
pequeno terno, trazendo em suas pequeninas mãos uma cesta.
O garotinha andava devagar,
executava os passos com cuidado como se temesse cair.
Natasha cerrou os dentes com a
imagem perfeita que se desenhava em seus olhos.
Agora que não conseguiu controlar o
pranto.
Ouviu o som de um piano, alguém
tocava sua música... A música que estava a tocar no primeiro dia da Valentina
em sua casa.
Agachou-se diante do filho e pegou-o
nos braços, depositando um beijo em sua fa, virando-se para a mulher que amava.
Todos se aproximaram, pareciam
prontos para torcerem, prontos para sustentar as duas jovens se ousassem cair.
Valentina mirava as faces coradas da
sua amada, observava os cabelos soltos, as roupas de trabalho. A calça jeans
azul e justa, as botas de couro marrom, a blusa preta de mangas longas e o
colete branco que ajustava a cintura fina.
Nunca em sua vida se imaginara assim.
Claro que quando era apenas uma adolescente sonhara com um amor calmo, cheio de
cortesias, cheio de rosas pelos caminhos, em sua inocência não pensara que
havia espinhos também para serem lidados... Que não eram apenas as flores
vermelhas a perfumarem, mas as flores que nasciam em terrenos árduos eram mais
fortes em sua sobrevivência, assim era o seu amor por Natasha, assim era o amor
de ambas.
O conde, Nícolas e Pepi se aproximaram,
posicionando-se ao lado da jovem.
-- Bem, Valerie, acho que falo em nome
de todos aqui. – Nicolay começava. – O que mais desejo nesse momento é que o
universo abençoe a união de vocês... Que seja resilientes diante de todas as
adversidades que surgirão nos caminhos... porém que nunca percam o amor que
sentem, que nunca esqueçam de tudo o que passaram para chegar até aqui, de tudo
o que tiveram que enfrentar... Houve lágrimas de dores... Feridas... Palavras
ditas em momentos de raiva... Mas também houve o desejo de ficarem juntas e eu
acho que todos que estão aqui torcem por vocês... – Segurou a mão da neta,
depois a da ruiva, fazendo-as se tocarem. – Amem-se... Respeitem-se e tragam
mais crianças para nossas vidas.
Todos riram diante da última frase.
Rebeka se aproximou, abraçando Valentina.
-- Se você não fizer a minha arrogante
ruiva feliz, pode acreditar que aquela surra será fichinha.
A trapezista riu entre as lágrimas.
-- Não esqueça que você saiu mais
machucada.
A loira deu de ombros e abraçou a ruiva.
-- Se você começar a agir como dono do
mundo e não lembrar que tem ao seu lado uma mulher maravilhosa e que pode te
apoiar em tudo, eu mesma arrumo uma melhor para ela.
Os olhos verdes se estreitaram em uma
ameaça.
-- Não se preocupe, cafetina, dessa vez
tentarei fazer tudo direitinho.
A secretária pegou Victor e logo o frei
começava o ritual.
Valentina segurava a mão da empresária e
sentia-a suar. Vez e outra a fitava de soslaio e recebia um sorriso de volta.
Ainda não acreditava que tudo estava se
resolvendo...
Observou o céu e viu como o sol brilhava
naquele dia, como seu coração parecia gritar de tanta felicidade em seu
interior.
Viu quando Helena colocou o arco de
flores sobre a cabeça da amada. Ela parecia ainda mais etérea naquele momento.
Chegara o momento de ambas fazerem seus
votos e Natasha fora a primeira. Tomando as mãos da mulher que seria sua esposa
a partir daquele momento.
Os olhos negros pareciam prontos a
penetrarem os verdes.
-- Não haverá um dia em toda a minha
vida que não agradeça a Deus por te ter ao meu lado... Não haverá um só momento
que eu não te queira mais e mais... E mesmo que caia um milhão de vezes...
Levantarei-me e continuarei a lutar por nosso amor, continuarei a enfrentar a
pequena fera palhacinha...
A morena riu, enquanto as lágrimas
molhavam sua face.
-- Eu te amo para toda a minha vida e se
houver outras, todas serão para te amar... – Colocou a aliança no anelar
esquerdo. – Estarei sempre ao seu lado... Vamos enfrentar o mundo juntas... –
Abaixou a cabeça e lhe beijou a mão. – Te amo...
Os convidados choravam juntos, todos que
estavam ali foram testemunhas daquele imenso caminho traçado pelas duas. Pelas
dores, pela separação...
Agora era a vez da Valentina.
Ela não começou de imediato, parecia
mais interessada em contemplar sua mulher, mas depois de alguns segundos os
lábios começaram a falar:
-- Eu lembro a primeira vez que te vi...
Sim, estava assumindo o lugar da sua irmã... mas... sempre havia algo mais
nesse olhar... Muito mais quando me falava... Quando me provocava... Muito mais
quando buscava me proteger... Com certeza, muitos que não sabem o que vivemos
poderiam simplesmente dizer que seria impossível não me apaixonar por uma ruiva
linda e maravilhosa... Rebeka jogava isso o tempo todo na minha cara.
Novamente os risos de todos parecia um
fundo musical.
-- Mas quem conhece a Valerie de verdade
sabe que há uma concha... Há espinhos ao seu redor... como se temessem que
outras pessoas se aproximasse... – Tocou-lhe o queixo. – Mas quando a gente
consegue ultrapassar esse caminho, encontramos uma mulher maravilhosa... Uma
mulher que se sacrifica pelos que ama... óbvio que isso não é o que desejo...
Desejo estar lado a lado... E sabe, te proteger um pouco como faz com todos...
Os olhos verdes vertiam copiosamente
lágrimas.
-- Eu te amo e farei tudo para que nossa
união seja para sempre.
Valentina colocou a aliança e logo a
abraçava sob os aplausos dos presentes.
A festa continuava, mas Valentina já
tinha se recolhido para os aposentos, colocara o filho para dormir. Ele ficaria
com Helena naquela noite, pois poderia estranhar o lugar.
Estava arrumando os cabelos quando a
porta se abriu.
Viu a esposa se aproximar com um
sorriso, abraçando-a por trás.
-- É possível que alguém morra de tanta
felicidade?
A morena sorriu, enquanto mirava o
reflexo da mulher que amava.
-- Acredito que sim, por isso estou
tomando cuidado, pois desejo viver muitos anos ainda... Seria injusto não
aproveitar a vida ao seu lado.
A Valerie a virou para si.
-- Eu nem acredito que estamos
casadas... Tenho a impressão que se trata de um sonho.
Os lábios da morena pousaram sobre os
seus em beijo delicado, mas aos poucos a ruiva se mostrava mais exigente,
trazendo-a para mais perto de si.
-- Vou tomar um banho, palhacinha, você
me espera?
-- Claro que sim... Ansiosa até... –
Disse mordiscando o lábio inferior.
Natasha lhe beijou a face e logo seguia
para o banheiro.
Rebeka dançava com Yassa.
A festa parecia que duraria por toda a
noite.
A loira sussurrava no ouvido da jovem.
-- Acho que está perdendo sua postura de
conquistadora, loira. – A jovem a provocou. – Só falta querer casar também.
A assistente da Valerie corou.
Há dias saia com a bela modelo e não
podia negar que acabara descobrindo coisas em sua personalidade que lhe
encantara.
-- Apenas bebi muito. – Disse
disfarçando. – Fico assim quando bebo.—Segurou-lhe a mão, levando-a aos lábios.
– Então se eu falar coisas cafonas, releve, tudo efeito do álcool.
-- Ah, poxa, que pena... Acho que vou
ter que comprar um engenho... assim poderei ter uma Rebeka amorzinho toda para
mim.
A loira mordiscou o lábio inferior.
-- Pensei que uma mulher como você, toda
perfeita, que viaja pelo mundo desfilando a beleza, não se importasse com essas
coisas...
-- Talvez porque não tivesse
experimentado isso com uma certa cafajeste com ares de desapegada...
A circense olhava pela janela a animação
de todos.
Ouvia a música baixa e imaginava se o
avô ainda estava por ali.
Tinha ido até Helena, Leonardo ainda não
tinha entrado, mas a avó dedicada estava ao lado no neto de coração.
O pai e Mariana tinha seguido para a lua
de mel que adiaram para estarem presentes naquele momento.
Fitou a aliança.
Ouviu passos, mas não se virou e logo a
sentia colada aos seu corpo. Os beijos em seu pescoço, as mãos em sua cintura,
que subia para seus seios de forma ousada.
Virou-se para a arquiteta e logo as
bocas se encontravam de forma faminta, ansiosas, desejosas, querendo amenizar a
saudade de todos aqueles dias.
Três anos depois...
Natasha dirigia o carro pelas ruas
movimentadas e ao fitar pelo retrovisor viu o filho dormindo, enquanto a
pequena Valentina brincava com seu ursinho.
Sorriu!
A garotinha tinha nascido um ano depois
do casamento e ela tinha os traços dos Vallares, na verdade parecia com sua
esposa, desde os olhos até os cabelos negros.
Estava vindo da casa de Helena. Os
filhos passaram o fim de semana com os avós e a ruiva tinha sido encarregada de
busca-los depois do trabalho.
Nem acreditava como sua vida tinha
mudado...
Não se arrependia de ter casado, mesmo
que vez e outra houvesse algumas discussões com a bela circense, porém sempre
havia uma reconciliação maravilhosa no fim da noite.
Há dois dias tinha ido até o presídio,
porém nem a avó, tampouco a irmã aceitaram vê-la, mesmo assim não deixara que
isso lhe turvasse o olhar... Quem perdoa primeiro, liberta-se primeiro...
Hoje em dia não perdia mais seu tempo em
tenta entender o que se passava com as Hanmintons, entendera que todos têm seus
motivos, apenas essas razões não deveriam prejudicar a vida dos outros.
Estacionou diante da mansão do conde.
Aquela era uma das suas casas.
Sim, estava sempre dividida, pois a
esposa adorava ficar com o avô e a arquiteta não podia negar que também
gostava.
Viu a grande porta abrir e Valentina se
aproximar com aquele sorriso que parecia lhe prometer o mundo.
Victor despertou e correu para a morena,
jogando-se em seu colo, enquanto Natasha pegava a garotinha nos braços.
Sua família...
-- Por que demoraram? Estava preocupada.
-- Paramos para tomar sorvete, mamãe...
– O ruivinho disse com sua voz infantil.
A Valerie se aproximava.
-- Foi apenas rapidinho, está quente.
A morena lhe enviou um olhar de
advertência, enquanto se aproximava e beijava a filha.
-- O avô de vocês está esperando na
biblioteca... Acho que ele escreveu uma nova história.
A pequena Valen foi colocada ao chão e o
irmão pegava sua mão de forma carinhosa e ambos caminharam para o interior da
mansão.
Agora sozinhas, a ruiva abraçou a esposa
pela cintura.
-- E eu não ganho carinhozinho? – Pousou
os lábios em seu pescoço.
Os olhos negros a fitaram.
-- Claro que sim... Tenho uma lingerie
nova... Mas não deve fazer escândalos...
Ambas riram, pois sempre tinham que
tomar cuidado quando estavam na mansão dos Vallares.
Naquela manhã de domingo todos
estavam reunidos nos gramados da mansão dos Vallares.
Valentina junto com Helena e Rebeka
preparavam os lanches, enquanto Natasha estava com os outros cuidando das
crianças.
-- Quem imaginara que a Valerie
daria uma mamãe tão babona. – A loira comentava.
A morena riu e depois olhou a esposa
na piscina com a pequena Valentina.
-- Acho que está mais que na hora de
você também ter filhos, quem sabe não se torna mais séria. – A circense a
alfinetou.
Ambas sorriram.
A amizade entre elas conseguira
amadurecer e a circense já não se perturbava diante das provocações.
-- Viram os julgamentos da Nathália?
– Helena colocava os refrescos nos copos. – Acho que nunca sairá daquela prisão
fria.
-- Ela merece né! – Rebeka dizia. –
Não só ela como a Isadora, ambas são duas desgraçadas.
Valentina assentiu, mas acabou
seguindo ao encontro da esposa.
Entrou n’agua e já se aproximava da
amada que brincava com a filha na boia, enquanto Victor se divertia jogando
água em todos.
-- E, então, bela Valerie, está
gostando do seu aniversário.
Nícolas se aproximou e pegou a neta
para participar da brincadeira de espirrar água, então as duas mulheres ficaram
sozinhas.
-- Não poderia ser melhor... –
Colocou as mãos na cintura da morena. – Acho que esses três anos foram os mais
felizes da minha vida.
-- É? – Beijou-lhe a face, depois
parou em sua orelha. – Ainda nem te dei o meu presente...
A ruiva prendeu a respiração,
mirando os olhos negros.
-- Presente? – Arqueou a sobrancelha
esquerda.
-- Sim, mas você só poderá vê-lo
quando a noite chegar...
-- Hun...
A arquiteta riu, sabia do que ela
falava e já sentia o prazer ser antecipado em seu corpo.
Os olhares ficaram presos... Como em
uma pintura que seria para sempre imortalizada...
Fim...
Maravilhosa...Geh!! Parabéns, amo sua escrita te desejo tudo de bom... Espero um dia poder comprar um livro físico... Seu caminho é longooooo menina!!!!
ResponderExcluirObrigada, querida, eu que agradeço a gentileza e o carinho em seu comentário... Um prazer enorme e honra por sua presença.
ExcluirUm beijo.
Perfeito! Parabéns!
ResponderExcluirNão vejo a hora de acompanhar a próxima história 😍😍😍
Obrigada, meu bem, agradeço por todos os comentários e pela gentileza com a história e a paciência com minha demora, agradeço.
ExcluirUm grande beijo.
Como sempre, maravilhosa.
ResponderExcluirAmei cada segundo dessa jornada. Que família incrível elas formaram.
Parabéns, querida. Tem um dom lindo e estou ansiosa para as próximas aventuras.
Essa sem dúvida entrou para o primeiro lugar na minha lista de histórias.
Lindo.
Volte em breve ❤️
Olá, querida, agradeço a gentileza, os comentários, não só aqui, mas nas outras histórias, fico feliz que tenha gostado do texto e espero encontrá-la sempre por aqui.
ExcluirUm beijo.
Experiência própria, pode levar o tempo que for, você pode fugir, mas basta a pessoa em questão aparecer e pronto, a “Muralha da China” que você ergueu e pensava que estava sólida, desaba em segundos e não tem nada a ver com falta de amor-próprio, e sim com um amor tão poderoso e forte que chega uma hora que não tem mais como resistir, por isso torcia tanto para que elas terminassem juntas, não tem coisa melhor nessa vida que ter um amor correspondido na mesma proporção.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar suas histórias, particularmente te considero umas das minhas autoras favoritas.
Queremos livro é pedir muito?
Amei o capítulo final e foi um prazer acompanhar Dolo Ferox.
Parabéns!
Bjssssssss
Sim, meu bem, vc matou a charada por já ter vivido algo assim.
ExcluirSempre digo como acho complicado as relações humanas. Temos muito o que aprender, diferente dos outros animais que agem não sua irracionalidade de forma muito mais racional. Relacionamentos são difíceis, não há o que se pensar e falar muito, pois lidamos o tempo todo com mágoas, orgulhosa, teimosia... Tudo isso é complicado, porém quando há esse sentimento que se denomina de amor unido a uma paixão... Tudo se torna ainda mais poderoso e difícil de se resistir...
Bem, meu anjo, agradeço pelo carinho desde o outro site, por sua forma carinhosa de lidar com meus textos, continuo a dizer como é um prazer tê-la por aqui...
Um beijo e até a próxima.
Vc tens um talento incrível e sua escrita éh muito peculiar Pa Ra Bé Ns senhorita amo suas histórias e a cada nova só vem melhorando! Só me deixa ansiosa, q deixa TUDO msm pro último cap nossa fico pra morrer rs mas vale a pena.
ResponderExcluirOlá, querida, eu agradeço e peço desculpas pela demora kkkkkkkk quase um ano com dolo, mas surgiram muitas coisas no caminho, fiquei aliviada em terminar kkkkk
ExcluirMas obrigada por acompanhar
Um beijo.
Um Epílogo..........😉😜😍😁
ResponderExcluirQuem sabe né... Eu mesma já estou com saudades das duas....
ExcluirOlá queridíssima Geh😘
ResponderExcluirQue final maravilhoso! Como não amar os seus casais,são apaixonantes.
A Natacha depois de tantas maldades que sofreu encontrou a paz , o amor que merecia. A família é tudo,e ela conseguiu ter a sua.
Já estou com saudades dessas personagens,mas espero que em breve venha outras para minha alegria.
Você Geh, é uma autora sensacional.
Deus te cubra de saúde.
Beijoos
Ótimo final depois de tudo que passaram, obrigada por mais uma história surpreendente bem estilo Geh Padilha, rsrsrs... bjs..
ResponderExcluirObrigada por essa história tão incrível 😍😍👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderExcluir