Dolo ferox -- Capítulo final parte 4


            A lua parecia reinar nos céus, iluminando a varanda. Havia uma ventania fria que movimentava as cortinas.

            O ressonar baixo de Victor era ouvido, ele parecia tranquilo em seu sono, nem imaginando o que se passava entre as suas mães.

Valentina viu-a se afastar, enquanto passava a mão pelos cabelos, arrumando-o por trás da orelha.

            Ainda sentia o cheiro dela preso no corpo. Os lábios carnudos próximos dos seus, os olhos penetrantes, cheios de controle. Seu corpo reagira a ela, miseravelmente ele despertara com a proximidade.

            Seguiu até a janela, abriu-a, encostou-se ali, enquanto observava o extenso jardim da casa dos Antoninis. Tentava respirar, pois a impressão que tinha era que o oxigênio não chegava aos seus pulmões.

            Fitou o céu estrelado e a lua que reinava majestosa em seu maior nível de grandeza.

            Natasha Valerie parecia uma praga em sua vida, um tormento diante das suas poucas forças.

            Queimava em sua garganta tudo que estava preso em seu interior, estava engasgada com tudo o que passara naquele tempo, enquanto ela vivia a vida dela perfeitamente em outro país ao lado da amante.

            Fechou as mãos ao lado do corpo, pressionava-o com tana força que sentiu a dor no pulso que já tinha sido machucado.

            Ouviu passos e se virou pensando que era a ruiva que retornava, mas era Helena.

            A mulher usava camisola e os cabelos estavam um pouco em desalinho, devia ter despertado ou já ido deitar.

            -- Tudo bem? Não deveria estar dormindo? – Fitou os aposentos em busca da outra. – Onde está a Natasha?

            A morena não respondeu, mas nem precisou que logo a arquiteta retornava.

            A senhora Antonini observava as duas mulheres, parecia pressentir a tensão entre elas.

            -- Acho melhor que levem o Victor para o quarto dele. – A avó preocupada falou. – Aqui está frio.

            Sim, realmente estava.

            -- Sim, vim busca-lo. – Natasha falou. – Foi colocado uma proteção no berço, acho que ele agora não vai fazer travessura.

            Aproximou-se para pegar a criança, enquanto a circense observava todos os movimentos que a outra fazia, mais uma vez não lhe passou despercebido a camisola curta com o roupão de seda que agora parecia melhor amarrado, mesmo assim ainda se via o decote, as pernas longas e torneadas, o cheiro gostoso que invadia o espaço.

            Cruzou os braços na defensiva.

            -- Eu preciso de gelo, Helena, estou com o pulso um pouco machucado ainda.

            A ruiva a fitou, depois passou com o filho nos braços, levando-o para os aposentos.

            -- Vamos para a cozinha, lá a gente cuida desse problema.

            A neta do conde assentiu e seguiram para lá. Seus passos eram temerosos, tinha a impressão que algo a sufocava, ameaçava sua paz. Poderia ter ido embora, mas não teria coragem de deixar o garotinho lá e sabia que seria cruel se o lavasse consigo.

            Observou a senhora Antonini ligando apenas uma das luzes, assim não ficava tão claro e ela agradecia por isso, pois tinha certeza que estava corada.

            Sentou em um dos bancos, enquanto esperava a esposa de Leonardo pegar o gelo, colocando-o em um balde e lhe entregando.

            Sentou-se, fitando-a.

            -- Está tudo bem contigo? – Helena indagou preocupada. – O que houve com seu rosto? – Questionou ao ver as marcas. – Não seria melhor um analgésico?

            Valentina mergulhou a mão no recipiente. Não respondeu de imediato, parecia pensativa. Observava com atenção aquela mulher que agia como mãe para a neta da duquesa.

            Não havia dúvida do grande amor que o casal sentia pela ruiva.

            Soltou um suspiro meio que agoniado.

            -- Eu tive uma briga com a Rebeka.

            A esposa de Leonardo levou a mão à boca, sua expressão demonstrava como estava chocada. Ninguém lhe contara sobre o ocorrido.

            -- Santo Cristo, mas qual foi o motivo disso?

            A Vallares ficou a observar a própria mão, depois mirou a outra e falou:

            -- A amante da Natasha não cansa de me provocar, você não tem ideia de como ela age de forma desavergonhada, expondo-me à forma de cachorra que assume.

            -- Mas, filha, nunca pensei que pudesse cair nesse tipo de provocação.

            -- Acredite que tentei não o fazer, mas juro por Deus que se meu pai não tivesse chegado para separar, eu teria feito ainda muito mais.

            A esposa do arquiteto parecia chocada, então seu olhar passara além da circense.

            A herdeira do conde não precisava virar a cabeça para saber que a irmã de Nathália estava as suas costas. Sentiu um arrepio percorreu a espinha.

            -- Helena, Leonardo está te procurando, acho que precisa da sua ajuda em algo.

            A morena ouviu a voz baixa e prendeu a respiração.

            A senhora Antonini fez um gesto de assentimento, depois depositou um beijo na face da trapezista.

            -- Se precisar de algo basta pedir.

            Helena fez o mesmo com a ruiva e lodo deixava a ampla cozinha.

            Valentina apurou os ouvidos para ver se a empresária também tinha saído, mas o perfume dela estava muito forte para ela ter se afastado, sentia-a bem próxima de si.

            Ouviu os passos e logo ela assumia o lugar de Helena e ficava sentada de frente para a morena.

            A neta do conde observou-a tirar sua mão de dentro do balde e começou a massagear, abriu a boca para protestar, mas a forma que ela fazia começava aliviar o desconforto crescente que estava a sentir.

            Mirou os olhos verdes a lhe fitar e baixou a vista, então encontrou o decote, a pele sedosa, os sinais que enfeitavam o colo...

            Meneou a cabeça e se levantou puxando o membro com brusquidão.

            -- Não quero que me toque! – Disse irritada. – Não quero que se aproxime de mim, mantenha distância.

            Natasha esboçou um sorriso de canto, enquanto a encarava e via a camiseta folgada, os seios sem sutiã mostravam os botões se empinando através do tecido.

            -- Eu juro que não te entendo... Eu sei que seria muito pedir para que fôssemos amigas, ainda mais depois de tudo o que passamos, porém eu desejo que pele menos nos tratemos com polidez.

            -- Se você ficar longe não haverá problemas. – Cruzou os braços sobre os seios por percebia o olhar da outra. Parecia que estava sendo desnudada.

            -- Temos um filho, sem falar da empresa... – Seguiu até a geladeira e pegou um pouco de água e ficou lá bebendo. – Você não pode agir assim o tempo todo, não voltei ao país para viver de brigas sempre que nos encontramos.

            -- Venda as suas ações e teremos menos um problema.

            A neta da duquesa guardou o copo, depois se aproximou da morena:

            -- Valentina, se eu te vender as ações agora, sua empresa vai a falência.

            Os olhos negros demonstravam total incredulidade.

            -- Você não cansa de ser arrogante? Acha que só você é boa no que faz? Ah, por favor, Alissa e eu iremos analisar tudo e veremos se há algo de errado por trás dessas suas compras.

            A ruiva chegou mais perto.

            -- A sua namoradinha e você perderão o precioso tempo de vocês... – Disse com os olhos estreitados. – Mas não lhe tirarei o prazer de ficar especulando, apenas poderia usar esse tempo para outras coisas.

            -- Isso não é da sua conta, a forma que gastamos o tempo não te interessa.

            A Valerie sentia o sangue correr mais rápido por suas veias. Sentia o ciúmes queimar em sua pele.

            Voltou a observar os mamilos que surgiam ainda mais arrebitados. Baixou os olhos e lá estavam as pernas longas de fora, voltou a atenção para o colo redondo.

            -- Acho que está com frio...

            A morena não entendeu do que ela falava, mas logo sentia as mãos da arquiteta sobre os seios.

            Os olhos negros se arregalaram, mas não conseguira esboçar nenhuma reação, apenas ficou lá, sentia-se tremer.

            A arquiteta observava as marcas por sua pele.

            -- Não deve brigar... – Natasha dizia. – Não precisa disso... Sem falar que está cheia de marcas por esse rosto tão lindo.

            A Desprezada dos Hanmintons sabia que não deveria continuar com aquilo. Não deveria ter retornado, o melhor era ter permanecido com o filho ou deitado para tentar dormir, mas na sua cabeça estava estampada aquela mulher com seu pequeno short e camiseta sem proteção.

            Fechou os olhos demoradamente, tentava o equilíbrio, concentra-se nas coisas práticas para fugir daquela vontade de se deixar levar pelo desejo cruel de toma-la em seus braços.

            -- Deveria dizer isso para a sua amante... – Falou por entre os dentes, fitando o olhar que agora mirava o seu. – Você e a oxigenada formam um par perfeito.

            -- Não tenho nada com ela... E não entendo essa sua raiva toda... – Agora já colocava as mãos por baixo do tecido.

            O maxilar da filha de Nícolas se enrijeceu, mas continuou sem a deter.

            Sentia os polegares massageando sua pele e teve a impressão que teria um orgasmo a qualquer momento. As carícias faziam-na recordar de como aquela mulher sabia lhe enlouquecer em poucos segundos.

            Que poder era aquele que a ruiva tinha sobre si?

            -- Passou quase um ano ao lado de Rebeka sem tocar nela? – riu de forma sarcástica. – Não sou criança que acredita em papai Noel.

            A empresária chegou mais perto, queria-a tanto. Desde que a viu naquela reunião sentia os efeitos em seu corpo e essa era uma das razões de ansiar por manter distância. Estava esperando que a outra lhe empurrasse e quem sabe levasse um tapa ou ela poderia fazer pior que fez com a assistente, mas ainda não houve violência.

            -- Talvez nunca acredite... – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Mas foram dez meses sem sexo, pelo menos não com outras, não nego que ainda me toquei em alguns momentos... No início a última vez que estivemos juntas ainda ficara presa em minhas lembranças e até agora isso me excita.

            A pressão no estômago da morena aumentou diante do que fora dito. As imagens daquela noite sempre a perseguiam.

            -- Mentirosa!

            Natasha continuou a lhe tocar a pele, fazia-o como se fosse algo natural.

            -- Ainda está com frio? – Questionou mirando os lábios entreabertos. – Estou tentando te aquecer, não desejo que pegue um resfriado.

            Os olhos negros baixavam e via os movimentos, sentia as palmas da mão se movimentarem, depois a unha lhe arranhar o mamilo.

            -- Sua preocupação é... – Cerrou os dentes para não gemer – tocante... – Voltou a encará-la.

            -- Está gelada... Presidente... – Colocou a perna entre as dela. – Imagino que hoje deveria ter um programa com sua namoradinha.

            Valentina sabia que estava sendo seduzida, a coxa estava a roçar em seu sexo em movimento leve, sutil, mas destruidor para si que tinha a impressão que logo não suportaria mais e se entregaria.

            Observou a beleza da ruiva, o olhar mais safado que teve o desprazer de encontrar. Viu-a umedecer os lábios e a pontinha da língua se mostrar...

            -- Sim... tínhamos... Minha namorada é uma mulher muito atenciosa, iria cozinhar para mim... Estava sonhando com o banho de hidro.

            -- Que coisa perfeita... – Mirou os olhos negros por longos segundos e logo tirava as mãos dos seios redondos. – Espero ter ajudado a amenizar um pouco essa frieza que se apossou da senhorita, quem sabe não consiga dormir bem agora.

            A Vallares cruzou os braços sobre os seios em total sinal de frustração.

            -- Boa noite, presidente.

            Quando se viu sozinha, Valentina soltou um longo suspiro. Teve a impressão que seu corpo estava febril.

 

 

 

 

            À sexta tinha chegado muito rápido.

            Valentina acompanhava de perto todas as reuniões, ficara bastante ocupada e tivera até que fazer uma viagem para outra cidade, retornara pelo fim da tarde.

            Inclinou a cabeça para trás em sua cadeira.

            Estava tão cansada e ainda teria a festa da empresa naquela noite.

            Iniciou uma massagem nas têmporas.

            Não queria ver aquelas pessoas, não desejava se socializar, ansiava apenas para se manter sozinha, trancar-se em seu quarto com seu filho e esquecer que havia um mundo lá fora.

            O conde tinha ligado ainda pouco e avisara que Natasha tinha ido deixar o ruivinho.

            Prendeu a respiração em pensar naquela mulher.

            Desde aquela noite na casa de Helena não se viram mais e tampouco se falaram. Ela não aparecera ali e até nas reuniões mandara que Rebeka a representasse. Não houve mais desentendimento, na verdade, ambas nem se olhavam e Nícolas fazia questão de estar presente quando as duas estavam no mesmo ambiente.

            Torceu a boca em desagrado.

            Pelo menos não era a Valerie a estar lá. Ainda sentia o corpo estremecer quando recordava das mãos lhe tocarem os seios. Por que era tão difícil quando estava junto dela? Tinha a impressão que sua cabeça parava de pensar, a racionalidade lhe abandonava.

            Girava de um lado para o outro.

            Ainda ouvia as palavras: “Talvez nunca acredite... – Mordiscou a lateral do lábio inferior. – Mas foram dez meses sem sexo, pelo menos não com outras, não nego que ainda me toquei em alguns momentos... No início a última vez que estivemos juntas ainda ficara presa em minhas lembranças e até agora isso me excita.”

            Mentirosa!

            Conhecia-a muito bem para saber que do jeito que era passional, transara com todas que encontrara pelo caminho.

            Fechou os olhos e viu os verdes a lhe fitar com aquele ar...

            Umedeceu os lábios demoradamente.

            A porta se abriu e Ana entrou tentando segurar a assistente da arquiteta. Já tinha deixado claro que não iria querer falar com ela, porém agora ela invadia sua sala.

            -- Eu disse, senhorita, disse que não tinha permissão para entrar.

            -- Ah, por favor! – A loira ajeitou os cabelos. – Você não pode agir como a dona do mundo, Vallares, não pode se negar a me receber, estou representando os interesses da Nath.

            A circense fitou a secretária, depois a assistente da ruiva.

            Realmente tinha se negado a recebe-la inúmeras vezes, não suportava olhar para a cara dela, então achara melhor mantê-la afastada, porém sabia que como a presidente da instituição precisava agir de forma mais objetiva, não deveria de forma nenhuma deixar seus problemas pessoais atrapalhar a forma respeitada que todos a viam.

            -- Deixe-a, Ana. – Ordenou.

            A secretária ainda hesitou, estava temerosa pelo que poderia acontecer. Talvez fosse melhor ligar para o senhor Nícolas e avisar que as duas mulheres estavam se enfrentando novamente e poderia acontecer uma nova briga.

            Suspirando, deixou o recinto.

            Rebeka se aproximou e colocou sobre a mesa uma folha.

            -- Acha mesmo que pode barrar a entrada da Natasha na festa da empresa?

            A morena retirou os óculos e ficou olhando o papel.

            Sim, a Valerie não tinha sido colocada na lista. Usara como critério apenas um convidado, então colocara a nome da loira. Preferia ela que a outra.

            -- Bem, se você vai representa-la, qual a razão de ela estar presente? – Questionou com um arquear de sobrancelha. – Você é a representante legal, acho que te aguentar é mais que necessário.

            -- A Natasha é muito mais dona que você! – Rebeka bateu a mão contra a mesa. – Quero ver o que a diretoria e o conselho vai pensar quando souber disso. Vai justificar como hein? Porque eu tenho certeza de que não há quer por perto porque tem medo de não resistir a ela.

            Valentina contava internamente, enquanto respirava com calma.

            -- Se você já terminou, saia, a menos que queira que te coloque para fora como da última vez.

            -- Acha que tenho medo de ti? – Meneou a cabeça negativamente. – A Valerie é muito melhor que você. Eu a vi sofrer por você dia após dia em uma terra distante, vi a dor naqueles olhos lindos quando falava em ti... – Arrumou os cabelos. – Você não tem ideia de como ela sofreu... e pelo quê? Por uma palhaça com ares de condessa que vive por aí andando com o nariz empinado. Uma traste!

            A trapezista se levantou.

            -- Saia ou eu mando os seguranças te tirarem!

            -- Espero que a Nath arrume uma mulher, que esqueça de uma vez por todas dessa tua cara de mosca sonsa.

            Valentina esboçou um sorriso, mesmo que estivesse lutando para não explodir.

            -- Pensei que você já tivesse assumido esse posto.

            -- Eu adoraria... Eu não nego para ninguém que daria para ela quantas vezes ela quisesse... Infelizmente, ela está se guardando para ti, mas isso vai passar... eu mesma já tenho duas juntos comigo para quando ela abandonar a personalidade de freira... Vamos deixar que ela coma...

            -- Chega! – Valentina bateu com o punho fechado sobre a mesa.

            -- Você não aguenta né? Eu acho que você sofre mais, por dentro deve se morder todinha... Ninguém transa com a Natasha e esquece, ainda mais uma virgem... – Gargalhou.

            -- Saia!

            -- Eu vou, pois sei que a herdeira dos Vallares gosta de brigar, não quero minha pele marcada, ainda mais hoje, quero estar linda... Ah, a Natasha vai, então você sabe onde enfiar essa lista... – Soprou-lhe um beijo.

            Valentina permaneceu no mesmo lugar, enquanto a via sair.

            Fitou a folha, segurou-a, amassou-a e jogou.

            Sentia o ódio queimar dentro do seu ser.

            Ela sabia que teria problemas se os acionistas soubessem que o nome da ruiva não fora colocado nas dos convidados, mas não desejava de forma alguma que ela estivesse presente, não queria vê-la pelo resto da vida.

            Voltou a sentar e ouviu o som de mensagem no celular.

            Era Alissa!

            Estava o dia todo se arrumando para o grande evento.

            Já tinham feito as pazes. A namorada pedira desculpa pela forma que agira e agora estava tudo bem entre elas.

            Permaneceu no mesmo lugar.

           

 

 

 

            O evento de premiação das empresas Vallares acontecia em um clube de inverno bastante famoso.

            Ele estava localizado um pouco afastado da cidade.

            As luzes iluminavam a grama sintética.

            Os carros chegavam e os manobristas já estacionavam. Os modelos caríssimos se equiparava aos trajes elegantes dos presentes.

            Aquele prêmio acontecia todos os anos. Os acionistas faziam votações, desde personalidades políticas, artistas, colaboradores e clientes. Era uma forma de confraternização para aquelas pessoas poderosas.

            Um famoso jornalista quem fora convidado para a apresentação, mesmo que outra tivessem sido as escolhidas.

            Cantores foram contratados, então se ouvia música boa, alta qualidade.

            Sedas, cetins, saltos, ternos feitos sob medidas, penteados, todos pareciam desejarem exibir suas riquezas.

            As mesas com toalhas brancas e vermelhas representavam o brasão do conde Nicolay. Ele sempre fazia questão de mostrar sua cultura, sua história.

            Garçons e garçonetes serviam do melhor. A novidade fora a cachaça que estava sendo produzida na fazenda, parecera fazer o gosto dos presentes.

            Valentina chegara ao lado do pai e do avô. Entrara de braços dados com os dois. Foram recebidos com aplausos por todos, caminhando até o palco.

            Pai e filho usavam ternos vermelhos e camisa de seda branca. A herdeira do império optara por um vestido logo vermelho. Ele era um modelo exclusivo. Moldava às suas formas. As mangas eram caídas, presa nos braços. O decote em V deixava os seios maiores, porém usava sobre os ombros um xale de seda branca, assim ficava ainda mais elegante. Os cabelos estavam presos no alto, apenas alguns fio emolduravam a face bonita. Usava o cordão com o nome, brincos e um bonito relógio que ganhara da namorada.

            A imprensa presente tirava várias fotos.

            Nicolay discursava e tinha toda a atenção voltada para si.

            Todos sabiam como aquele homem ficara debilitado quando perdera a filha. Como quase morrera de tanta tristeza, mas tudo parecera ganhar um novo rumo com a chegada da neta. Ele não cansava de elogia-la, fazia-o com a paixão que sempre demonstrava, não havia dúvidas do seu imenso amor pela herdeira.

            Alissa já ocupava a primeira mesa ao lado de Mariana. A loira olhava embevecida para a namorada.

            -- Ainda não acabou o ano, mas para nós o balanço de tudo já fora feito... – o conde continuava – Quem trabalha diretamente ao nosso lado sabe o que passamos, chegamos a pensar em vender nossa parte, mas com muita luta e dedicação, agora voltamos a ocupar o lugar que sempre pertenceu aos Vallares... Minha neta, meu filho, reconheço o esforço dos dois, ela não apenas com sua beleza, mas com sua inteligência, com sua garra, nossa presidente...

            Valentina ouvia com carinho as palavras, sentia-se imensamente feliz diante do reconhecimento que recebia.

            Sorriu para Alissa.

            A namorava estava linda em um vestido dourado, combinava com os cabelos na cor de ouro. Ficara encantada ao vê-la, ainda não tivera tempo de se aproximar, pois teria que ficar ao lado do conde e do pai durante a fala de ambos, mas assim que terminasse aquela parte, iria até ela e lhe abraçaria. Quem sabe não pudessem ir a algum lugar reservado durante o baile. Sentia aquela necessidade de tê-la, de se aproximar, de senti-la e esquecer tudo o que lhe enchera a cabeça naquele dia tão difícil.

            Observava as pessoas. Havia muita gente, mas a organização estava impecável, disso não tinha dúvidas. Fora um trabalho planejado durantes meses e agora recebia o reconhecimento.

            Mirou os membros do conselho com suas famílias.

            Gostaria e ter trazido o filho, mas ele ainda estava com o braço engessado, então preferira deixa-lo com a babá. Amanhã se dedicaria somente a ele, passaria o dia com o ruivinho de olhar travesso.

            Voltou a prestar atenção ao discurso do avô.

            -- ... confesso que seria injusto da minha parte apenas falar o nome da minha neta e do meu filho... o conselho desempenhara um papel de grande importância, ainda mais nos momentos de fiscalização... porém há outra pessoa que merece todo o meu respeito e meu agradecimento eterno... Acha que todos tem conhecimento da marca Vallares no Oriente, da nossa aceitação em tão pouco tempo e do nosso sucesso... Mas isso não teria sido possível sem o empenho de Natasha Valerie...

            Valentina cerrou os dentes, tentando não demonstrar seu desagrado. Seu avô ainda não sabia que ela não fora colocada na lista de convidados, porém de repente a multidão que se aglomerava na frente do palco abria espaço e não demorou para visualizar a ruiva.

            Prendeu o fôlego.

            Desviou o olhar, mas depois voltou a mirá-la.

            O vestido era preto contrastando com a pele branca. Talvez fosse um couro sintético, com alças e um decote ousado. Na cintura havia uma renda branca que caia por todo o modelo até o calcanhar.

            Os cabelos estavam soltos. Brilhavam em seu vermelho poderoso. Ela exibia aquela expressão de segurança e arrogância e não demorou para se juntar a todos, cumprimentando Nícolas e Nicolay com abraços e depois fora sua vez, não podia empurrá-la, tampouco agir de forma descortês diante de todos.

            Aceitou o abraço e ouviu-a sussurrar em seu ouvido:

            -- Obrigada pelo convite, presidenta!

            Mirou os olhos verdes e tentou esboçar um sorriso, mesmo que não fosse isso que desejasse fazer.

            Viu a arquiteta parar ao seu lado e ainda se sentia maravilhada com toda a beleza que ela exibia.

            Voltou a prestar atenção ao avô, ele tecia elogios à neta da duquesa, depois foi a vez do seu pai. Nícolas era bastante eloquente em suas palavras, demonstrando sua gratidão e esperança de que aquele seria uma passo a mais para o futuro de todos. Não se demorou bastante e convidou Natasha para falar, a trapezista chegara a pensar que ela não iria, mas se enganara mais uma vez naquele dia, pois ela fora com sua pose de dona da situação.

            Ouviu a voz baixa e rouca e tentou prestar atenção em outras coisas, mas como faria isso?

            Todos os presentes fitavam a Valerie não só com admiração por sua importância naquele mundo tão concorrido, mas por sua beleza, afinal, quem ali não notaria a sensualidade que ela exibia naquele modelo.

            Olhou para todos e não demorou para seu olhar encontrar o de Rebeka. A loira lhe encarava com todo seu deboche. Então as duas estavam presentes.

            Ouviu seu nome ser pronunciado e mirou a ruiva.

            -- ... Há uma grandeza na nossa presidente, uma liderança em seus atos que me faz acreditar que a empresa Vallares segue pelo rumo certo, claro que teremos que continuar a nos empenhar, mas não tenho dúvidas que estamos nas mãos certas. O conde acertara quando colocara Valentina a frente dos negócios, eu mesma investiria todo o meu dinheiro nas ações... – Sorriu – Esqueci que já fiz isso...

            Todos riram do gracejo, menos a morena se mantinha séria.

            Natasha encerrou o discurso. A trapezista não discursara, isso já tinha sido resolvido antes, não se sentia bem para fazê-lo, na verdade se queixara de uma dor de garganta, então essa fora a justificativa usada.

            Houvera os momentos das fotos, pois com certeza aquele evento estamparia as revistas e jornais do país.

            Valentina tivera que suportar Natasha ao seu lado e sentir seu perfume fora como uma provocação a mais.

            Um político fora convidado e discursava agora sobre a importância daquela família para o país.

            -- Deveria falar, afinal, você é a presidenta... – A ruiva sussurrou no ouvido da trapezista. – Precisa deixar os acionistas seguros, assim você recupera suas ações.

            -- Se tá tão incomodada, venda as suas...

            Natasha sorriu.

            Quando ficara sabendo por Rebeka que seu nome não estava na famosa lista, ficara chocada com a ousadia da herdeira de Nicolay e com a coragem de fazer algo assim, pois todos sabiam que a ruiva deveria estar presente, mesmo que não desejasse, resolvera aparecer, apenas para mostrar a trapezistazinha que teria agir como uma mulher de negócios.

            Ainda estava sem fôlego diante da beleza dela, mas preferia não focar nisso. Assim que aquilo terminasse, iria embora, pois não se interessava por aquele tipo de evento.

            -- Quer as minhas ações? – Questionou em seu ouvido. – Acho que você seria capaz de tudo por elas.

            A circense a fitou por alguns segundos, olhava com atenção o nariz arrebitados e os lábios bem desenhados.

            -- Na verdade, se essas ações pertencessem a qualquer pessoa, eu não me importaria, mas estão contigo e isso me obriga a ter que te aturar

            -- Eu nem vou lá... Acho injusto a sua fala.

            -- Não, realmente não aparece, mas a sua assistente não abandona o prédio.

            -- Você poderia ter pedido a demissão dela, mas não fez, então imaginei que não haveria problemas.

            Valentina respirou fundo, enquanto sorria para os fotógrafos. Fingia que tudo estava perfeitamente bem, enquanto voltava a sussurrar:

            -- Eu iria demiti-la por ser sua amante? Acho que isso não me interessa há muito tempo, desde quando assinamos o divórcio.

            -- Ah, sim, e eu pensando que quando assinasse você seria mais gentil comigo.

            A morena voltou a fita-la.

            -- Jamais seria sua amiga...

            -- E coleguinha?

            -- Nada! – Disse por entre os dentes.

            -- Você está linda nesse vestido... Espero que esteja aquecida, pois não sei se posso aquecer seus seios hoje.

            Antes que a outra explodisse, afastou-se para cumprimentar outras pessoas.

            A circense fitou a namorada e viu seu sorriso gentil. Tentou retribuir, mas talvez não tenha tido tanto sucesso.

            Os discursos terminaram e logo foi possível sentar à mesa que seria ocupada por sua família.

            Sentiu o carinho de Alissa ao lhe segurar a mão, depois ouviu-a falar perto da orelha.

            -- Está mais linda que a Afrodite.

            A morena lhe deu um beijo na face.

            Não demorou para o avô e o pai se acomodarem, mas Natasha estava com eles. Ela cumprimentou Mariana com um aperto de mão e quando fez o mesmo com a namorada de Valentina, foi totalmente ignorada.

            Todos notaram a deselegância da loira, mas não comentaram.

            -- Sente com a gente, Valerie! – O conde a convidou.

            -- Eu agradeço muito o convite, mas não me demorarei, estou um pouco cansada, então logo irei embora. Boa noite a todos.

            A circense viu o olhar do pai, mas apenas não desejou se importar com aquilo, afinal, Alissa não tinha razão para ser gentil com a Natasha, tampouco motivos para falar com ela.

 

 

 

 

            Natasha seguiu pelas mesas e precisara parar para receber os cumprimentos de alguns empresários e tivera até mesmo um momento com a imprensa, coisa que não costumava fazer, porém decidiu responder com polidez e logo se acomodava ao lado de Rebeka e ficava surpresa ao ver na mesa a tal amiga que ela insistia em lhe apresentar.

            -- Veja, Yassa, essa é a Valerie. – A loira foi logo dizendo.

            A empresária estendeu a mão em cumprimento, mas a bela morena lhe deu um beijo rápido nos lábios.

            A ruiva mirou-a e deu um sorriso meio sem graça.

            -- Adorei suas palavras, Nath! – A assistente dizia. – Essa é a minha amiga, o pai dele, coincidentemente, é sócio da empresa Vallares.

            Os olhos verdes pareceram surpresos.

            -- Sim, e ele fala maravilhas de tudo o que fez pela companhia, costuma dizer que se não fosse por sua direção, com certeza, teriam declarado falência.

            Natasha trocou olhares com Rebeka, estava claro seu desagrado em falar sobre aquilo, afinal, já enfrentava muitos problemas com a neta do conde.

            O garçom se aproximou, servindo a todos, mas a ruiva não aceitou, apenas pediu uma água.

            -- Ainda está com enxaqueca? – Rebeka questionou preocupada.

            -- Estou um pouco dolorida, acho que foi a falta de exercícios.

            -- Não necessita... Está perfeita. – Yassa falou ao lhe tocar o ombro. – E esse pequeno símbolo? – Indagou ao lhe afastar a alça do vestido. – Viking? – Indagou com um arquear de sobrancelha.

            -- Sim, a Natasha tem sangue dos povos bárbaros. – A loira dizia em provocação. – E não é só o sangue viu. – Piscou safada.

            A conversava continuava e a Valeria tentava ao máximo participar, mesmo que sua única vontade naquele momento fosse retornar para casa.

 

 

 

 

            Valentina provava da cachaça, enquanto ria diante das piadas que um dos membros do conselho falara. Sabia que estava abusando do álcool, mesmo estando com o estômago vazio o que poderia lhe causar problemas.

            À noite estava animada, todos pareciam se divertir, até mesmo o conde fazia-o, enquanto contava suas histórias de vida.

            Alissa a convidou para dançar e ela foi. Gostava, sentia-se bem nos braços da namorada.

            -- Você está maravilhosa. – A morena lhe sussurrou ao ouvido. – Parece ouro mesmo. – Depositou um beijo em seu pescoço.

            -- Não mais que você... – Desceu a mão por suas costas. – Que bom que a Valerie não sentou com a gente. Não gosto que ela se aproxime. – Confessou, mirando-a. – Acho ela uma desavergonhada, não sei se você viu, mas ela estava com a assistente e a filha de um dos sócios da empresa. Acho que ela é modelo, só sei que quase baixou o vestido da neta da duquesa para lhe tocar.

            Valentina desviou o olhar e não demorou para ver mais a frente do que a advogada falava, sentiu o estômago embrulhar na hora.

            Pensara que ela já tinha deixado o local.

            -- Sabe o que estava pensando... – A loira continuava – começou a pensar que talvez a Nathália estivesse realmente certa junto com a Isadora, essa mulher é uma praga!

            A morena parou de dançar, olhava com perplexidade para Alissa.

            -- Não, não e não! – Protestou surpresa diante das acusações. -- A Natasha pode ser o que for, mas nunca houve motivos para as Hanmintons agirem da forma que agiram... Estamos falando de uma criança que foi rejeitada desde o nascimento, estamos falando de um ser humano que foi torturado, enquanto seu filho estava presente.

            O garçom passou por elas e a morena ficou com uma taça.

            -- Você a defende com muita paixão!

            A circense passou a mão pelo penteado.

            -- Meu bem, eu só estou falando do que vi, do que vivi, então a Valerie pode ser tudo, mas realmente ela passara por coisas horríveis, nunca foi fingimento e nunca a duquesa e a neta preferida estiveram certa, acredite, digo isso porque vivi muita coisa...

            -- Você a defende depois de tudo o que ela te fez?

            Valentina bebeu um pouco do conteúdo do copo.

            -- E o que uma coisa tem a ver com a outra?

            -- Sabe de uma coisa, acho melhor irmos sentar, não quero mais dançar. – Alissa falou.

            A circense não gostara da forma que a outra agira, tampouco de ter sido encerrada a dança por algo tão bobo.

            Não tinha motivos para acusar a Natasha e defender a duquesa, ainda odiava as Hanmintons por tudo o que fizeram, ainda se lembrava do filho presenciando todas as barbaridades que foram feitos naquele dia contra a arquiteta, ainda era assustada por isso em seus sonhos.

            Bebeu todo o conteúdo da taça, enquanto observava tudo ao redor.

            -- Vá, eu vou até o banheiro, estou com ânsia.

            A loira se afastou, enquanto a morena seguia por entre os convidados. Realmente ficara enojada com as palavras da advogada. Não acreditava que ela tinha ousado dizer que a duquesa estivera certa. Ainda vivia assombrada com tudo o que passaram. Ainda se recordava das maldades que aquelas duas mulheres da aristocracia provocara, então não conseguia aceitar que alguém falasse algo assim, mesmo que também odiasse a ruiva, jamais poderia culpa-la por toda a maldade daquelas pessoas.

            Não seguiu em direção ao banheiro, mas saiu caminhando pelo clube até uma parte deserta.

            Observou a árvore frondosa e encostou-se a ela.

            Ainda conseguia ouvir a música, mas não via mais as pessoas.

            Tentava respirar com calma para tentar conter o enjoo. Fechou os olhos e ficou tentando controlar o mal estar, talvez a bebida não tivesse lhe feito bem, quase não comera nada, então, seria uma boa explicação para seu estado. Sentia-se embriagada... Cansada e sonolenta.

            O melhor seria esperar mais um pouco e depois seguir para a casa, ficar com o Victor e esquecer tudo o que tinha acontecido.

            Ouviu os fogos colorirem os céus. Tudo estava sendo perfeito, tudo fora bem organizado e ninguém poderia reclamar dessa parte.

            O trabalho estava sempre aumentando, mas o melhor de tudo aquilo era que a companhia estava crescendo, havia investidores interessados em participar do empreendimento.

            Tudo estava se resolvendo aos poucos, apenas precisava se livrar dos pensamentos contraditórios que sempre aparecia vez ou outra.

            -- O que se passa, presidente?

            Os olhos negros se abriram e lá estava a sua frente a arquiteta.

            Prendeu a respiração, depois cruzou os braços sobre os seios.

            Não estava acreditando no que os olhos estavam vendo naquele momento. Não bastava ter passado todo o tempo sobre aquele palco ao lado dela, ainda teria que aturá-la em seu momento de relaxamento.

            -- Não me passa nada, então não tem motivos para estar aqui. – Falou irritada. – Volte para a festa e me deixe em paz.

            A empresária cerrou os dentes de forma a enrijecer o maxilar.

            -- Não quero brigar, não precisa me responder assim.

            Valentina riu de forma debochada.

            -- Ah, por favor, Valerie, me deixa em paz! – Aproximou-se dela. – Vai lá para a mesa com as tuas amantes e esquece que eu existo.

            A morena tentou passar, mas foi detida pelo braço. Natasha a pressionou contra a árvore.

            -- O que você quer? Quer as minhas ações? É isso? Esse ódio que sente amenizaria se eu te entregasse essa droga?

            Os olhos negros miraram os verdes.

            -- Você está perdendo seu tempo comigo, eu não tenho nenhum desejo de ter nenhum tipo de proximidade contigo, na verdade desejo que mantenha distância de mim. Já podia voltar para o Oriente até.

            A arquiteta sabia que não deveria ter ido atrás dela, mas percebera como parecia um pouco embriagada e acabara agindo sem pensar, apenas para ser mais um motivo para estresse.

            -- Está bem! – Levantou as mãos em rendição. – Estou indo.

            -- Vá, volte para as suas amantes... Va lá transar com elas, fazer ménage...

            Natasha voltou a se aproximar e um sorriso perigoso brincava em seus lábios.

            -- Ah, minha doce condessa, se uma delas fosse você...

            -- Não me compare!

            -- Nunca... Não teria como fazer algo assim...

            Valentina a observou de cima a baixo e parou nos seios, depois encarou-a.

            -- Não tinha um vestido mais provocante não? Isso é uma festa de respeito e não um bordel.

            A empresária queria tanto aquela mulher que seu corpo chegava a doer. Desde aquela noite na casa de Leonardo estava queimando de desejo por ela e sabia que mesmo que negasse, a neta do conde também a desejava.

            -- Gostou?

            -- Seus seios estão quase pulando para fora!

            -- Estão?

            Valentina não respondeu, a sensação de enjoo estava mais forte e já sentia a cabeça girar.

            Apoiou-se à árvore e fechou os olhos.

            Natasha a tocou.

            -- Está gelada, o que você tem? – Indagou preocupada.

            A morena a mirou.

            -- Acho que bebi de estômago vazio e isso não me fez bem.

            A ruiva observou tudo ao redor, viu alguns bancos de madeira. Aquela área era restrita e não era permitido que os convidados fossem para lá, apenas os organizadores.

            Mesmo sob protestos, a empresária tomou a outra pela mão, levando-a consigo até o pequeno jardim.

            A Vallares já sentia a tontura aumentar, mas logo foi deitada e a cabeça apoiada sobre as coxas da arquiteta.

            Fitou-a por alguns segundos, mas depois fechou os olhos e logo os dedos longos começavam a lhe massagear as têmporas de forma de tão relaxante que acabou não conseguindo se livrar do toque.

            Deveria ter bebido menos, na verdade nem deveria tê-lo feito, ainda mais a mistura forte.

            Sentia os carinhos delicados e depois de algum tempo mirou a empresária e viu-a fazendo o mesmo.

            Mesmo na escuridão via as esmeraldas brilharem.

            Suspirou.

            Deus, devia estar embriagada, pois a única coisa que desejava naquele momento era sentir a boca rosada colar à sua.

            -- Não deve beber mais, o melhor seria que fosse para casa.

            A filha de Nícolas umedeceu os lábios demoradamente, depois respondeu:

            -- Não posso ainda, preciso ser sociável.

            Natasha sorriu, enquanto continuava a acariciar a face bonita.

            -- Ser uma mulher de negócios não é uma coisa fácil, ainda mais nesses eventos.

            A morena observava os dedos lhe fazer carinhos.

            -- Estranhei sua gentileza com todos, afinal, a Valerie nem mesmo fala com jornalistas.

            -- Estou imitando você, assim serei um arraso de simpatia quando chegar nos lugares, eu vejo a vibração diante da sua presença.

            A circense acabou rindo.

            -- Como se você precisasse disso, neta da duquesa, rainha da selvageria, deusa das mulheres.

            A ruiva gargalhou.

            -- De onde tira essas coisas hein? – Tocou-lhe o pingente. – Delicado como você.

            A morena prendeu o fôlego com o contato tão próximo dos seios.

            -- Papai me deu de presente de aniversário.

            -- Um presente lindo... – Continuou a examiná-lo.

            Valentina começava a ter a sensação que o enjoo estava sendo substituído por outras sensações.

            Viu a aliança dourada no anelar esquerdo.

            -- Quem vê pensa que continua casada... Imagino que isso seja um charme maior para suas fãs.

            -- Fãs? – Arqueou a sobrancelha questionando. – De onde tirou isso?

            -- Lá na mesa alguns sócios não paravam de falar sobre seu talento e disseram até que as entradas para o seu show no teatro já tinha se esgotado... Se antes tinha um monte de mulher atrás, imagina agora.

            A ruiva não respondeu de imediato, observou-a com cuidado, sabia que ela estava um pouco embriagada.

            -- Como está se sentindo? – Indagou continuando a acariciar a pele bronzeada. – Deseja que chame alguém? Sua namorada...

            -- Não... Não quero... Mas você pode retornar para a festa... A sua nova amante deve estar sentindo sua falta. – Deteve-lhe a mão quando se aproximava dos seios.

            -- Amante? – Arqueou a sobrancelha em questionamento. – Não tenho amantes, não tenho relacionamentos e prefiro assim...

            Novamente os olhos negros miraram a face da ruiva, parecia buscar descobrir o que se passava em seu olhar.

            -- Não acredito...

            -- Pouco posso fazer quanto a isso...

            Valentina lhe soltou a mão, voltou a fechar os olhos, pois ainda estava tonta.

            -- A sua assistente não cansa de me provocar. – Falou depois de algum tempo.

            Natasha mirou os seios redondos, estava desejosa de tocá-lo novamente, então iniciou as carícias e logo se aproximava do decote.

            -- O que ela fala que te perturba tanto?

            A morena abriu os olhos e acompanhava os movimentos dos dedos que já se introduziam e tocava em seu colo.

            Cerrou o dentes, pois todo seu corpo reagiu ao toque.

            Sua mente começava ficar turva e sabia que tinha a ver a com álcool que ingeriu, mas não sentia forças para protestar, mesmo que soubesse que era errado.

            -- Fala coisas que me irritam... Diz que quero... Que quero dar pra você... – Completou baixinho.

            Natasha sentiu o corpo reagir de forma tão imediata que sentiu dor ao ouvir a frase provocante.

            Cessou os movimentos, depois inclinou a cabeça para trás, buscava controlar o desejo incontrolável que parecia não ter mais como parar.

            Agora não fora como no dia na mansão. Naquela noite tivera que tomar banho quase de gelo para amenizar a situação.

            Valentina a mirava com atenção, prestava atenção em seus traços bonitos, na veia que pulsava em seu pescoço esguio.

            Estendeu o braço e com os dedos tracejava o semblante tenso.

            A ruiva continuava com os olhos fechados, sentia os dedos delicados passando por seu nariz, por seu queixo e logo sentia o indicador passar por seus lábios e não resistiu a passar a língua por ele.

            A Vallares viu os olhos verdes se abrirem, mas não totalmente, estavam estreitados, perigosos.

            Observava a forma como a língua lambia, depois viu-a chupar de forma tão ousada que teve a impressão que ela estava fazendo aquilo com seu sexo, pois ele reagia como se a carícia fosse em si.

            Natasha lutou, mas logo inclinava a cabeça e tomava os lábios carnudos. Sentiu-a resistir de início, sentiu-a lhe rejeitar, mas insistiu e logo as bocas se encontravam depois de tanto tempo separadas.

            Sentiu o gosto da bebida que ela ingerira, sentiu aquela maciez única que não havia em nenhuma outra boca que provara na vida. Logo as mãos da morena lhe acariciava o colo e isso lhe causou um frenesi na espinha.

            Segurou-lhe a face, como se temesse que ela chegasse a sair dali, então aprofundo ainda mais o contato, capturou-lhe a língua, prendendo-a entre os dentes, ouviu o gemido que a trapezista esboçou e começou a lhe chupar, fazia-o de forma intensa e suas mãos agora já seguiam pelo abdome e logo começava a puxar o tecido do vestido, alisando as coxas torneadas sobre o tecido da meia, subindo até chegar na calcinha delicada.

            Ouviu-a gemer contra seus lábios, mas não parou com a carícia. Agora já afastava a lingerie delicada para o lado e tocava o sexo escorregadio, excitado. Usou o polegar em movimentos circulares e logo sentia os dentes cravarem em sua boca, mesmo assim não parou, observava-a mexer o quadril, ela esfregava... Sim, ela também queria.

            De repente sentiu pingos e logo aumentavam e uma chuva forte caiu sobre ambas.

            Valentina foi a primeira a reagir, parecia ter despertado da embriaguez. Os olhos negros estavam tão abertos, enquanto arrumava as roupas.

            As duas mulheres seguiram até o outo lado e protegeram sob uma estrutura de madeira.

            Natasha apoiou as costas e abraçou a outra pela cintura, tentando protege-la da água, mesmo que ambas já estivessem ensopadas.

            -- Desde quando havia previsão de chuvas para hoje? – A circense questionou preocupada com as bochechas coradas.

            A ruiva mirou a expressão assustada.

            -- Pelo menos há uma cobertura na festa, então os convidados não se molharão.

            -- Ah sim, porém como retornarei toda molhada? Imagina o que falarão?

            A empresária lhe soltou os cabelos que logo caiam por seus ombros.

            -- Para mim continua linda, senhorita presidente.

            Os olhos negros a miravam com atenção. Sabia que não deveria ter cedido aos encantos dela, mas a bebida a deixara ainda mais fraca diante de todo aquele charme.

            -- Não deveria ter vindo até aqui e você tampouco deveria ter se aproximado.

            -- Estava preocupada contigo, vi o quanto bebeu, pensei que sua namorada tinha te acompanhado.

            -- E isso te dar o direito de me beijar? – Questionou irritada. – Aproveitou-se de um momento de fragilidade, viu que eu não estava bem e fê-lo.

            A empresária cerrou os dentes.

            Sabia que não deveria ter cedido, mas fora bem mais forte que suas forças.

            Olhou a chuva que continuava a cair, depois mirou a neta do conde.

            -- Eu sei que não deveria ter feito, mas não resisti, desculpe-me, Valentina, eu não tive essa intenção quando vim aqui, juro que apenas me preocupei.

            -- Não tem motivos para se preocupar comigo, você mal chegou e já está causando toda essa confusão. – Deu um passo para trás e não pareceu se importar em se molhar. – Tudo estava muito bem antes de você retornar, meu Deus, por que não ficou longe hein? O que te fez voltar?

            -- Eu não voltei para te fazer nenhum mal, acredite, eu não passo um único dia sem me culpar por tudo o que te fiz, não passo um instante sem me sentir a pior pessoa do mundo pelo que te fiz passar.

            -- Então vai embora de novo, vai embora para longe. – Pediu, enquanto a chuva caia implacável. – Afaste-se de mim, não apareça nos lugares onde estou, faça isso pelo sentimento que um dia falou que sentia por mim. – Arrumou os cabelos molhados. – Você ainda não entendeu que há uma maldição entre a gente?

            A ruiva cruzou os braços sobre os seios.

            -- Por favor, não me peça para ir embora de novo, eu só quero ficar perto do meu filho, esse é o único desejo que tenho.

            A Vallares observou tudo ao redor. Não havia ninguém naquela área, depois voltou a encarar a neta de Isadora.

            Sabia que não poderia pedir para ela retornar ao Oriente, seria muito egoísmo da sua parte, ainda mais quando deveria pensar no Victor, a criança tinha o direito de conviver com a Valerie, mesmo que isso fosse algo terrível para si.

            Sentia-se culpada por ter cedido ao desejo, por ter permitido o beijo quando tinha uma namorada e que ela com certeza deveria estar preocupada, esperando-a na festa, enquanto se entregava a vontade de sentir a arquiteta de novo.

            -- Eu só preciso que não se aproxime de mim.

            A ruiva foi até ela, parando bem próxima a circense.

            A chuva não dava tréguas, caia com seu barulho ensurdecedor.

            -- Por quê? Porque igual a mim, você continua a sentir não é? – Esboçou um sorriso triste. – Sim, você está certa, há uma maldição, sabe o porquê? Porque mesmo que você não aceite, continuamos apaixonadas, você ainda me ama, odeia também, claro, mas me ama, Valentina, do mesmo jeito que esse quase um ano que passei fora não fora suficiente para te esquecer, porque eu ainda continuo presa a ti... – Umedeceu os lábios demoradamente. – Mas não se preocupe, eu não vou me meter nessa sua vida perfeita, nem na sua relação perfeita... Estou indo, volte para a festa, a sua namorada perfeita deve estar preocupada, diga que se molhou quando decidiu dar uma volta pelo jardim e não se culpe a culpa foi toda minha.

            A morena nem pôde falar nada, pois a ruiva se afastava em direção oposta do evento que acontecia.

            Soltou um longo suspiro.

            Não parecia se importar com a chuva que continuava a cair, era como se fosse a coisa mais natural do mundo, continuava lá, observava aos poucos a figura da bela mulher desaparecer.

            Seguiu até o banco, sentando-se, desejando que tudo aquilo acabasse, que toda aquela aflição cessasse.

 

 

 

 

            O sábado fora tranquilo.

            Na mansão Vallares fora apenas diversão com o pequeno Valerie. O garotinho fora mimado por todos e até pela mãe que mesmo resfriada, não deixara de aproveitar a companhia do filho.

            Já era um pouco tarde quando seguiu até a cozinha. Abriu a geladeira, pegou um pouco de chá, depois se sentou. Não conseguira dormir ainda, estava um pouco agitada e não conseguia se concentrar no sono

            Ouviu passos e lá estava Mariana a acender as luzes.

            -- Que susto! – A loira falou ao levar a mão ao peito. – Que faz aqui uma hora dessas?

            A morena observou o vestido elegante da noiva do pai, tomou um pouco de chá e só depois respondeu:

            -- Desci para tomar algo para relaxar.

            A outra se aproximou, pegou um pouco de água se sentou de frente para a circense.

            -- Deseja que te faça algo para comer? Tem bolo de chocolate que fiz para o Victor.

            A neta do conde meneou a cabeça em negativa.

            -- Apenas tomarei meu chá e voltarei para o quarto.

            Mariana assentiu.

            -- Está melhor do resfriado?

            A morena sentiu a face corar diante da pergunta.

            Na sexta quando Natasha a deixara lá, passaram poucos minutos quando a loira foi até ela. A arquiteta pedira a Rebeka para avisar a noiva de Nícolas sobre a situação e fora ela quem lhe ajudara a arrumar uma desculpa para não retornar mais a festa.

            -- Estou sim, acho que peguei muita chuva... – Tomou mais um pouco do líquido. – Eu acho que não a agradeci o suficiente pelo que fez por mim ontem, levando em conta que estava bastante alterada por causa da bebida.

            -- Não tem motivos para agradecer, estou sempre disposta a te ajudar, mesmo que seja apenas para que conversemos e você possa desabafar.

            Valentina cerrou os dentes, depois suspirou.

            -- Acho que falei demais, coisas desnecessária...

            -- Na verdade, Valentina, eu acho que você precisa desabafar, acho que necessita disso, tocou-lhe a mão. – Não estou dizendo para fazê-lo comigo, porém tenho certeza que precisa disso, está engasgada com tanta coisa.

            Os dedos longos da circense começaram tamborilar sobre o tampo da mesa.

            -- Eu não sei sabe, Mariana, eu tenho a impressão que tudo está desandando em minha vida... Eu queria que as coisas voltassem a ser como era antes.

            -- Antes de quê? – Indagou baixinho.

            Valentina ficou em silêncio e só depois respondeu.

            -- Antes da Natasha voltar... – Respirou fundo. – Eu tenho a impressão que estou sufocando aos poucos e você sabe o que é pior em toda essa história? É que a Valerie não está fazendo nada, não está correndo atrás de mim, não está me perseguindo... todas as vezes que nos encontramos fora por uma maldita coincidência ou por ela querer me ajudar com ontem. – Levantou-se. – Eu a culpo por tudo, critico, falo coisas que não deveria falar, porém eu sei que a culpa não é dela.

            A loira observava a filha do homem que amava. Via andar de um lado para o outro na grande cozinha e sabia o quão perturbada ela estava. Conhecia-a bem para ter certeza de que não era seu costume desabafar como fazia naquele momento.

            -- E de quem é a culpa?

            A morena parou em meio ao ambiente com as mãos na cintura.

            -- Eu não sei, não sei, mas acho que se a neta de Isadora desaparecesse novamente tudo poderia voltar ao normal e eu continuaria a viver a minha vida maravilhosamente, mas infelizmente parece que existe uma maldição. – Apontou para a noiva do pai. – Você acabou de chegar do teatro, tenho certeza que fora ver o tal show da Valerie, tenho certeza de que veio o caminho todo comentando como a neta desprezada da duquesa é talentosa... Por que todos falam dessa mulher o tempo todo!

            -- Eu jamais falaria sobre isso, ainda mais sabendo do que se passa contigo, porém não entendo e não acredito que fugir resolva problemas... Podemos ter como exemplo esse quase um ano de Natasha longe, foi retornar e tudo desandar.

            -- Não, não e não! Nada desandou, apenas há um descontrole, mas isso vai passar, tudo vai passar... Eu tenho uma namorada maravilhosa, Alissa é perfeita, ela gosta de mim e eu dela, então agora o que preciso é apenas voltar a minha racionalidade.

            -- Ontem você me falou sobre a questão do sexo, de não conseguir se entregar a advogada... Talvez devesse procurar ajuda.

            A morena fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Sim, é isso que farei, uma terapia vai me ajudar, na segunda buscarei um profissional para me ajudar, deveria ter feito isso há tempos.

            Mariana assentiu, depois tomou o resto da água e levantou.

            -- Ontem você também me disse algo em meio a sua bebedeira e talvez isso precise ser falado ao especialista.

            Os olhos negros pareceram confusos, falara tanta coisa que não conseguia se recordar de todas.

            -- Você disse que quando se tratava da arquiteta seu corpo reagia, que com ela não havia bloqueio e o seu problema era conseguir conter o desejo e não se entregar.

            Novamente o sangue coloriu a face da neta do conde.

            Realmente falara tanta coisa que agora não conseguia enfrentar a conversa com a madrasta sem se envergonhar.

            Cruzou os braços em posição de defesa que já retornava.

            -- Eu estava bêbada, estava sensível... – Justificava. – A Natasha não deveria ter me beijado, não deveria ter ousado me tocar sabendo disso, ela agira mal.

            A loira novamente assentiu.

            -- Acho bom que busque uma ajuda, vai ser bom, ainda mais pela sua relação com a Alissa. Não sei o que se passou com vocês, mas ela deixou a festa muito chateada.

            Valentina não voltara a falar com a namorada depois da noite anterior.

            -- Olha, Mariana, eu me irritei, me chateei bastante, pois mesmo que em relação a mim a Valeria não valha nada, eu não posso permitir que ninguém ouse dizer que Isadora tinha motivos para agir como agiu... Os atos da duquesa nunca terão justificativas e a minha linda namorada ousara insinuar isso.

            A noiva de Nícolas assentiu.

            -- Realmente é algo a se pensar.

            -- Pois é, entendo o fato de ela ter se chateado, mesmo assim a questão é que não posso simplesmente condenar a Natasha por coisas que sei que ela não teve culpa, mesmo odiando-a, seria injusto da minha parte.

            Mariana bebeu o resto da água que tinha no copo.

            -- Odiando-a?

            -- Sim, pois é isso que sinto, um ódio mortal por aquela ruiva, ódio por ter entrado nessa história, ódio por ela ter se passado pela irmã, ódio por ela não ter me contado toda verdade antes... Muita coisa teria sido evitada se ela tivesse tomado essa decisão... Eu poderia nunca ter me apaixonado.

            -- Entendo...

            -- Bem, irei dormir. – Aproximou-se e depositou um beijo na face da loira. – Obrigada pela companhia.

            Mariana assentiu, vendo-a deixar a cozinha.

            Sabia que ela estava se enganando dia após dia, tinha certeza do amor que queimava em seu interior e como ela lutava para não permitir que ele viesse à tona. Viu o desespero e a dor por estar perdidamente apaixonada pela mulher que desejava apenas desprezar.

            Soltou um longo suspiro.

            Naquela noite sentira a Natasha bastante relutante. Apenas tocara divinamente, mas no momento que se aproximara para cumprimentar a todos fez com muita brevidade, tampouco se demorara, simplesmente fora embora, nem mesmo esperara pelos agradecimentos da diretora do orfanato para o qual seria revertido toda a verba do show.

            Pensara em se aproximar e questionar sobre o que se passara entre as duas, queria ouvi-la também, mas ficar temerosa, imaginara se não estaria a invadir a privacidade da ruiva.

            Nunca pensara que haveria aquele tipo de amor na realidade, sempre acreditara que fosse apenas fatos de escritores caprichosos e sádicos que crucificavam os personagens durante toda a história, como se assim pudessem purificar suas almas.

 

 

            Natasha ainda estava no carro.

            Tinha chegado à mansão de Leonardo, mas não desejava entrar. O casal tinha continuado no teatro, ela não quisera. Na verdade, fora por pouco que não cancelara a apresentação, não estava se sentindo bem, estava cansada e muito irritada pelo que se passou com a Valentina na noite anterior.

            Sabia que não deveria ter cedo a vontade de beijá-la, isso era óbvio, mesmo assim fizera e isso martelava em sua cabeça, isso fazia se sentir mal, pois se aproveitara de um momento de fragilidade dela.

            Bateu com as duas mão fechadas contra a direção.

            Era tudo sua culpa, tudo mesmo. Continuava amando-a e não conseguia se libertar desse sentimento. Sim, ela estava certa em falar todas aquelas coisas, estava correta em pedir que se mantivesse longe, era isso que deveria fazer, porém não iria mais embora do país, não estava disposta a perder mais um ano da vida do filho.

            Viu um farol atrás do seu e não demorou para ver a loira sair do veículo em direção a si.

            Baixou os vidros.

            -- Pensei que tinha ficado lá, o que faz aqui? – Questionou irritada.

            -- Achei que não teria graça sem você, então te segui, vai ficar aqui fora, que eu saiba tem o controle do portão e as chaves da casa.

            Rebeka estava certa.

            -- Na verdade, necessito de algo para me distrair, se eu entrar não conseguirei dormir, vou deitar naquela cama e rolar até o dia amanhecer.

            A assistente se inclinou de forma a mostrar todo o decote.

            -- Por coincidência no meu apartamento vai acontecer uma social, Yassa já deve tá indo para lá...

            -- Não, vamos a outro lugar, podemos dançar, acho que preciso de multidão.

            A loira sorriu.

            -- Então me segue, pois conheço um ótimo lugar para isso.

            Natasha assentiu.

            Precisava retomar a vida, não que ir para esses lugares fizesse parte do plano, mas seria uma forma de se distrair por aquela noite.

 

 

            Rebeka passou na frente e logo via a outra lhe seguir.

            Sabia que a Valerie não estava bem. Sabia que algo tinha se passado entre ela e a circense, mesmo que ela se negasse a contar o ocorrido. Ainda lembrava da voz triste quando ligara e pedira para que avisasse a namorada de Valentina onde ela estava.

            Soltou um longo suspiro de irritação.

            Estava começando a ficar muito chateada com a neta do conde e com sua forma de agir. Entendia tudo o que se passara entre ambas, porém não acreditava que aquela era a forma de resolver tudo. Acabaria perdendo de vez a arquiteta e se lamentaria bastante no futuro, disso não tinha dúvidas.

            Acelerou e viu com satisfação a ruiva lhe seguir.

 

 

 

            No domingo, Valentina passara o dia com o filho no jardim. Fizera algo parecido com um piquenique.

            Colocara um tecido sobre a grama bem aparada. E ficara brincando com Victor que se divertia com seus brinquedos e pedira inúmeras vezes pela piscina, mas o avô tinha comprado uma de bolinhas e a criança se divertira ainda mais.

            -- Daqui a quinze dias terá a estreia do circo do Papi e quero leva-lo. – Dizia, enquanto comia um fatia de bolo.

            -- Podemos ir todos. – O conde falava, enquanto sentado sobre o chão se divertir com o bisneto. – Acho que ele vai amar, no aniversário ficou bobo com todas aquelas coisas.

            -- Sim, vovô. – Deitou sob a árvore. – Eu estou querendo me apresentar... – Falava pensativa observando a reação do aristocrata.

            Nicolay a fitou demoradamente.

            -- Como palhacinha?

            A morena não respondeu de imediato. Jogou os ursinhos para dentro da piscina. Ouviu o filho gargalhar e chamar pela ruiva. Ele sempre a chamava.

            Respirou fundo.

            -- Estou querendo voar no trapézio... – Adiantou-se para falar quando viu o olhar de assustado do conde. – Irei treinar, claro que não farei de qualquer jeito, mas gostaria de me apresentar.

            -- Valentina, sinto meu coração falhar só em imaginar algo assim, é muito perigoso.

            -- Posso fazê-lo com a rede de proteção e me prender nos cabos caso exista algum problema.

            -- Por que não de palhacinha?

            -- Posso ser tão bem, mas a minha maior vontade é me apresentar no trapézio novamente.

            O Vallares sabia que seria quase impossível dissuadir a neta da sua ideia, então só lhe restava fazer suas condições.

            -- Vai usar todos os equipamentos de segurança e eu mandarei até o circo pessoas especializadas para terem certeza de que as regras foram seguidas, fora aos treinos, deve fazê-lo e se quer realmente fazer a apresentação de estreia, deve ir até lá o mais rápido para comer os exercícios.

            A morena sorriu e abraçou o aristocrata.

            --Seguirei tudo, nem precisa se preocupar. – Beijou-lhe a face. – Eu amo muito o senhor.

           

 

 

            A manhã de Segunda-Feira amanheceu fria, mesmo assim a jovem Vallares chegara bem humorada à instituição, pois naquele mesmo dia iria para o circo começar a praticar, estava entusiasmada com a ideia de se apresentar.

            Não chegara no horário costumeiro, pois precisara participar de uma reunião com um grupo de empresários que buscavam uma proximidade com a empresa, então chegava quase meio.

            Observou a mesa de Ana e viu que estava vazia, achou estranho, pois raramente isso acontecia.

            Não demorou para a mulher se aproximar sorridente.

            -- Bom dia, senhorita!

            -- Bom dia, temos coisas para repassar para hoje ou meu dia será tranquilo?

            -- Há um advogado desejando falar com a senhorita, ele esteve mais cedo aqui e agora retornou.

            A morena arqueou a sobrancelha em questionamento.

            -- Não lembro de nada referente a isso em minha agenda.

            -- Sim, realmente não, mas ele vem da parte da senhorita Valerie...

            O nome a fez reviver os acontecimentos da sexta, exasperou-se.

            -- Pois diga que deve marcar hora, pois não tenho tempo para receber os subordinados da Natasha, diga que marque hora, não o atenderei assim.

            Já se afastava quando Rebeka apareceu.

            -- Pois deveria atende-lo, afinal, você conseguiu o que tanto desejava.

            Valentina a fitou de forma debochada.

            -- O meu único desejo ela se nega a realizar.

            A loira praticamente bateu com a pasta que trazia contra o colo da outra.

            Ana se aproximou assustada, temendo que houvesse mais uma vez uma briga.

            -- Espero que morra engasgada com as suas malditas ações.

            A neta do conde estreitou os olhos em advertência e depois observou a papelada.

            -- Não era isso que você queria, basta que assine os papéis que o advogado deixou com sua secretariazinha, engula as ações, engula essa merda dessa empresa, agora cuidado viu, depois não vale ficar se lamentando como uma trouxa que você sempre foi, uma estupidazinha que acha que pode ser a dona da razão... Uma condessa frustrada, isso que você é.

            Antes que Valentina pudesse falar algo, a outra saiu do andar imediatamente. A circense mirou Ana em busca de uma resposta sobre tudo o que fora dito.

            -- Pois é... – A secretária começava relutante – esse é o motivo da visita do advogado, a senhorita Valeria passou a administração das ações para o presidente da empresa, no caso, a sua pessoa.

            A circense pareceu confusa, depois caminhou para a própria sala seguida de perto pela outra.

            Acomodou-se na cadeira, colocou os óculos e começou a ler toda a documentação.

            Realmente era o que fora dito.

            Natasha passava a administração das ações para o presidente da companhia e deixava claro que poderiam dispor da forma que desejassem, dando plenos poderes ao administrador. Assinava outro documento abstraindo-se de participar de qualquer coisa ligada à empresa, colocando-se à margem de todas as decisões presentes ou futuras.

            Respirou fundo e fitou a secretária.

            -- Isso é verdade?

            -- Sim, o advogado expôs tudo e só precisava da sua assinatura. A senhorita Alissa está cuidando de tudo, tentou lhe falar, mas seu celular só dava ocupado.

            Não demorou para a namorada entrar sorridente pela porta.

            Ana pediu licença e se retirou.

            Alissa parecia bastante feliz, mesmo tendo passado todo o fim de semana sem lhe falar ou manter qualquer tipo de contato.

            -- Bem, pelo que percebo estaremos nos livrando da presença da Valerie. – Disse sentando-se. – Ela abriu mão do poder que tinha, meu amor, você agora controla praticamente tudo sozinha, não será necessário nem mesmo permissão do conselho.

            A trapezista observou a loira por alguns segundos e depois respondeu:

            -- Natasha continua sendo a dona de tudo e mesmo que ela me deixe administrar, isso não significa que possa agir da forma que desejar.

            -- O documento que ela te entregou te deu plenos poderes.

            -- Poderes que ainda são delas. – Levantou-se. – Independente de tudo, eu serei apenas uma administradora.

            -- Compre as ações! – Alissa falou entusiasmada. – Você poderia fazê-lo, me informei e você poderia fazê-lo com o valor que desejasse.

            -- Está louca! – Retrucou alterada. – Isso seria uma fralde.

            -- Estamos falando de negócios e quando a Valerie te entregou o poder sabia dos riscos. – Levantou-se e foi até a namorada, abraçando-a pela cintura. – Não seja boba, não sabemos os meios que a neta de Isadora conseguiu comprar, então você estaria fazendo o mesmo.

            -- Pagarei o preço justo...

            -- Ela não pagou o preço justo, meu bem, não seja tola, esse mundo é de pessoas espertas, ninguém trabalha com solidariedade não, mas sim com ações. – Acariciou-lhe a face. – Tenho certeza de que você será ainda mais poderosa... Já pedi para Ana marcar uma reunião com a diretoria, quero que você seja aclamada por todos, quero que eles vejam que você quem estar no comando agora. – Beijou-lhe os lábios rapidamente. – E o melhor de tudo é que poderemos administrar tudo juntos, eu estarei sempre ao seu lado, meu amor.

            Valentina assentiu e logo a boca da advogada tomava a sua. Ela correspondeu, mas o fez de forma distante, perdida em seus pensamentos, em tudo o que se passava naquele momento.

           

 

 

 

            Os dias passavam agitados. Natasha se dedicava ao novo empreendimento e parecia mais feliz por tudo o que estava tendo para fazer, ocupando seu tempo.

            Estava observando o terreno que seria construído o parque aquático.

            O Sheik a queria como sócia e ela aceitara com felicidade.

            Colocou a prancheta sobre o jipe, anotava todos os detalhes que passaria para o desenho.

            -- Vais ser muito grande!

            Rebeka dizia, enquanto Leonardo se aproximava.

            -- Filha, vai ser muito trabalhoso, porém quando estiver pronto, não tenho dúvidas que será um sucesso.

            Ela assentia, enquanto pegava o celular para filmar, enquanto gravava sua voz narrando toda a construção.

            A loira observava tudo e de certa forma estava mais conformada com o fato da ruiva ter entregue as ações para a Vallares. Pelo menos, ela não teria que estar o tempo todo sendo julgada ou acusada de algo pela neta do conde.

            -- Rebeka, preciso que faça o relatório hoje mesmo, terei uma videoconferência amanhã e desejo que isso seja enviado antes para que ele acompanhe tudo.

            -- Eu farei, não se preocupe.

            Antonini riu da expressão da arquiteta.

            -- Você sabe que tem uma assistente maravilhosa, sabe que ela tem esse jeito de menina rebelde, mas vem fazendo um ótimo trabalho.

            -- Agradeço viu, porque a Nath não me dá muito crédito, mas sempre que faço as coisas que me pede com perfeição, vem com esse sorriso besta.

            Todos riram do que fora dito.

            -- Eu só preciso que foque no que estou pedindo e não em me arrumar shows, não estou com tempo para isso e já te disse.

            Recolheram os materiais e seguiram para o carro.

            Logo o dia terminaria e fora cheio de trabalho.

           

 

 

 

            Valentina estava sobre o apoio, tinha voado várias vezes no trapézio naquela tarde.

            Agora descansava deitada sobre a rede de proteção. O coração estava acelerado, e a respiração pesada.

            Fechou os olhos e logo conseguir controlar a agitação.

            Há dias seguia a rotina dos treinos e nem se recordava de como fora difícil conseguir executar aqueles voos.

            -- Você está bem? – Papi indagou, fitando-a.

            A morena deitou de bruços para mirar o palhaço.

            -- Acho que ainda estou fora de forma, mas acredito que estarei pronta para sábado. – Sorriu. – Caso não esteja, serei apenas uma palhacinha.

            A homem lhe segurou a mão.

            -- Eu estou muito feliz por querer se apresentar, você sempre foi a estrela desse circo e mesmo que não se apresente, continua sendo.

            A jovem observou tudo com olhar saudoso. Conhecia grande parte daquelas pessoas, crescera junto com eles, via-os em seus esforços, suas dedicações para que tudo aquilo funcionasse.

            -- Sinto saudade quando a minha vida era apenas isso... – Suspirou. – Não que as coisas não estejam bem agora, amo minha família, mas você também é minha família, você faz parte de tudo isso.

            -- Sim, meu amor, e fico imensamente feliz por você ter encontrado seu pai e seu avô, sei como os dois te amam, o conde nem se fala, já me ligou mil vezes só hoje pedindo para que não te deixasse fazer nada que não fosse seguro.

            A morena riu.

            -- Ele não queria me deixar participar, fica assustado... Mas acabei que fiz, consegui convencê-lo.

            -- E o ruivinho vem? – Indagou entusiasmado.

            Valentina ainda não sabia, mas queria bastante isso, porém seria os quinze dias que Victor ficaria com a Valerie e não tivera coragem de falar com ela para pedir.

            -- Ainda não sei, mas quero muito isso, afinal, será a prévia do aniversário dele.

            -- E por que ainda não tem certeza?

            A circense mordiscou o lábio inferior e depois explicou:

            -- Porque ele não estará comigo, então vai depender da Natasha...

            Pepi a observou com cuidado, sabia que ela parecia chateada e triste ao mesmo tempo ao se referir à arquiteta.

            -- E como estão as coisas?

            -- Não sei, na verdade, não a vejo, nem sei nada sobre ela desde que deixou as ações para que fossem administrada por mim.

            Mesmo que ela negasse, sentia-se incomodada com tudo isso, ainda mais por ter a impressão que a ruiva realmente tinha deixado o país novamente. Ninguém falava sobre ela, não havia nada ou alguém que dissesse o nome dela ou alguma informação sobre o que estava fazendo.

            -- Bem, eu tenho certeza de que a Valerie não negaria um pedido seu, mesmo que vocês estejam passando por tudo isso, ela não o faria, ainda mais se souber que você irá se apresentar.

            -- Acho que o vovô falará com ela, prefiro não fazê-lo. – Desceu da rede. – Vou até o trailer, preciso de um banho e depois volto para a mansão.

            -- Sim, sim, vá.

            Valentina acenou para os outros e logo deixava as lonas coloridas e seguia pelo terreno até o lugar que usava para descansar.

            Sorriu!

            Ele continuava igual, tudo no mesmo canto que deixara. Suas fotos, suas lembranças.

            Entrou e logo começou se livrar da malha que usava. Viu a água que tinha sido colocada e logo se banhou, depois voltou a colocar suas roupas formais.

            Tinha deixado a empresa muito cedo e Alissa ficara chateada porque desejara encontrar a namorada para jantar naquela noite.

            Sentou na cama estreita.

            Tentara ir mais longe com a Alissa,  tentara ceder ao desejo da namorada, mesmo que acabasse se sentindo frustrada, pois seu corpo até que sentira vontade, mas o resultado final fora desastroso, então não foram até o fim.

            Talvez, devesse procurar ajuda de um especialista, era necessário ver o que se passava consigo, ainda mais com seu corpo.

            Não mentira para a advogada, fora clara sobre o que se passou, mesmo correndo o risco de magoá-la, preferira fazê-lo, pois assim não se sentiria tão sozinha diante de um problema tão sério.

            Suspirou e acabou deitando.

            Sentia-se cansada ultimamente e apenas o filho, o avô e o trapézio estavam sendo meios para esquecer os problemas que pareciam surgir aos poucos em seu caminho.

            Pegou o celular e viu as mensagens da namorada, nem respondeu, nem responderia. Ela achava irresponsabilidade estar preocupada com uma apresentação de circo quando havia coisas mais importantes para tratar.

            Alguns investidores recuaram quando souberam que Natasha não seria acionista ativa da companhia, precisara se reunir com todos para dissuadi-los a não retirar os investimentos. Parecia temerosos, até entendia a razão, afinal, os Vallares foram irresponsáveis por longo tempo com a empresa e agora não era uma tarefa fácil tranquiliza-los.

            Observou a foto do filho.

            Victor estava cada vez mais lindo e travesso.

            Levara-o ao hospital para tirar o gesso e o garotinho chorara, pois queria continuar com a imobilização.

            Ele chamava sempre pela ruiva, vivia querendo ficar com ela e Valentina sabia do amor que unia os dois, quem não queria?

            Suspirou!

 

 

 

            Natasha tivera uma semana cheia, mas sua felicidade quando chegara o sábado não tinha como ser estragada, pois ansiava para chegar a casa e encontrar o filho.

            Precisara participar de algumas reuniões e naquele momento desligava o computador, já quase dezessete horas e só agora conseguia um pouco de tempo para respirar.

            O celular tocou e atendeu com entusiasmo ao ver o nome de Helena.

            -- Então, meu pequeno ruivo já está aí? Pediu para a empregada preparar os lanches para a sessão de desenhos?

            Ouviu o riso da esposa de Leonardo, depois a voz:

            -- Filha, já o peguei, está aqui chamando por ti, acabamos de chegar... – Deu uma pausa. – Queria saber se tem algum problema desse programa que você deseja fazer com ele ficar para amanhã?

            Natasha estranhou a pergunta.

            A porta se abriu e Rebeka entrou com uma expressão preocupada. Fez um gesto para que ela sentasse e esperasse, enquanto continuava a ligação.

            -- E por que eu deveria fazê-lo? Aconteceu algo?

            Novamente um silêncio se fez ouvir e logo a senhora Antonini explicava:

            -- Hoje será a inauguração do circo do Pepi e... queria leva-lo lá... A Valentina irá se apresentar no trapézio.

            Os olhos verdes se estreitaram.

            Há dias não havia menção da neta do conde e isso fora muito bom para retomar o controle. Buscava ao máximo evitar tudo que pudesse fazer uma ligação entre elas, mesmo que vez e outra a visse estampando capas de jornais ao lado da namorada.

            -- E então, filha?

            -- Está bem, Helena, pode sim, apenas não chegue muito tarde, estou com saudades do meu filho e desejo ficar com ele.

            Falaram por mais alguns segundos e depois encerraram a ligação.

            A ruiva se inclinou na cadeira, enquanto encarava a loira.

            -- Pensei que não te encontraria mais aqui, já estava pronta para ir até a casa de Leonardo.

            A Valeria cruzou as mãos por trás da cabeça, enquanto girava na cadeira.

            -- Agora não há mais pressa para ir, o Victor vai sair com a Helena.

            -- Imagino até para onde vai...

            Natasha sabia que sim, a loira estava sempre sabendo de tudo, mesmo que não lhe contasse.

            Soltou um suspiro de frustração.

            -- mas me diga o que você faz aqui? Sábado... pensei que já tinha ido embora.

            A loira pareceu ponderar um pouco.

            Tinha decidido que não falaria mais no nome da Vallares e tampouco voltaria a manifestar sua reprovação diante do atos praticados pela neta de Nicolay, entretanto, não teria como resolver aquele problema sozinha, seria necessário a ajuda da arquiteta.

            -- Vai falar ou ficará apenas admirando a minha beleza? – Natasha provocou-a.

            -- Ah, não, eu já estou livre desse feitiço, mas continuo disponível quando quiser.

            -- Sim, sim, eu sei, porém agora isso não vem ao caso, conte-me logo o que se passa, pois estou vendo sua cara que algo não vai bem.

            Rebeka lhe estendeu a parta que trazia consigo.

            A ruiva abriu e ficou lendo e logo sua expressão mudava drasticamente. Havia ali muito da Natasha de antes, muito da personalidade da Valerie aparecia em seu maxilar enrijecido e frieza instantânea.

            -- Quando pedi para o advogado entregar as ações, pedi para deixar claro que por enquanto elas não podiam ser negociadas.

            A loira assentiu.

            -- Sim, Nath, nos documentos tinham isso, era um comprometimento...

            -- Então me diga como isso aconteceu agora! – Bateu com a mão aberta contra  a escrivaninha.

            -- Eu não sei, recebia a ligação de um investidor da bolsa... Veja, fora cometido uma fralde, pois jogaram as ações lá, mas não permitiram que outros comprassem, pois aparecia vendida aos Vallares.

            -- E então?

            -- E então que você terá que denunciar, pois a condessa frustrada está passando dos limites em suas ações.

            -- Você sabe que a construtora continua subordinada à companhia, sabe que isso é algo terrível para os nosso negócios.

            -- Se quiser, eu ligo agora mesmo para a polícia, só não o fiz ontem porque não tive a sua permissão, entretanto, agora já está sabendo.

            Natasha cerrou os dentes.

            Sua vontade naquele momento era fazer o que a assistente dizia, mas sabia que seria um escândalo terrível, não só para si, mas para a família do conde, o que acarretaria uma perda total de credibilidade, sem falar que teria que responder jurídica e civilmente sobre o ocorrido.

            Fitou o relógio de pulso.

            Quase dezoito horas!

            -- Por favor, imprima toda a negociação, fale com os advogados e me traga isso o mais rápido possível, pois eu mesma irei resolver. Tente entrar em contato com sheik, ele pode nos ajudar.

            Rebeka assentiu e deixou a sala rapidamente.

            A Valerie voltou a esmurrar a madeira, enquanto cerrava os dentes fortemente.

            Não entendia aquela raiva da Valentina, não compreendia as razões que a levavam a agir de forma tão cruel.

            Começava a acreditar que a mulher que conhecera um dia deixou de existir, tudo por um ódio que não havia limites.

            Dessa vez não deixaria passar, ignorara muitas coisas, mas isso não faria, pois sua empresa, seu nome corriam um sério perigo pela irresponsabilidade da circense.

            Agoniada, levantou-se e seguiu até a janela, respirou fundo, tentando ao máximo aliviar a tensão que começava a se formar em sua cabeça.

            Caminhava de um lado para o outro na sala, sentia que não demoraria para explodir.

            Não bastara ter entregado as ações para a trapezista, fizera o possível para manter a distância que ela tanto desejava para agora ter que vê-la agir como uma maldita traiçoeira.

            Pensou em ligar para Nícolas, talvez ele pudesse lhe dar uma explicação sobre o ocorrido.

            Seguiu até o bar e preparou uma dose forte de uísque, depois voltou a sentar e discou o número pessoal do empresário, mas apenas deu desligado.

            Suspirou, enquanto bebia de uma vez toda o conteúdo da taça.

 

 

 

 

            A luzes coloridas iluminavam as lonas arco-íris.

            Havia carros estacionando ao redor do terreno e uma grande fila se formava na bilheteria.

            Crianças puxavam os pais pelas mãos para que apressassem os passos. Estavam entusiasmadas com as apresentações que tinham sido anunciadas.

            Barraquinhas de pipocas, algodão doces, bata fritas faziam a alegria de todos.

            Um mágico recepcionavam a todos com seus truques, soltando pombo, tirando coelhos da cartola, enquanto os palhaços distribuíam balões coloridos paras os pequeninos que pareciam encantados diante de tudo.

            Ouvia-se a música a tocar e logo a voz do locutor anunciava as atrações de estreia.

           

 

 

            Valentina participara do número dos palhaços com Pepi.

            A plateia estava cheia e ela mesma ria com as palhaçadas apresentadas e com o riso dos espectadores.

            Viu Helena na primeira fila ao lado do, do pai e de Mariana e lá estava Victor gargalhando com seus poucos dentes a mostra.

            Foi até ele, tomando-o nos braços, beijou e logo o número encerrava e todos se despediam.

           

 

 

 

            Natasha estacionou o automóvel diante da lona colorida. A movimentação era grande e era possível ouvir o locutor anunciando os trapezistas que logo se apresentariam.

            Olhou tudo ao redor e viu o trailer um pouco afastado, conhecia-o bem, fora lá que tivera o primeiro contato com a circense.

            Ainda conseguia lembrar o impacto que sentiu ao vê-la pela primeira vez. Os olhos negros lhe encarando com aquela determinação, a raiva... Nunca imaginara que teria que lidar com uma personalidade tão forte como a da morena.

            Observou a ligação que aparecia no painel do carro, atendeu-a.

            -- Então, conseguiu falar com a Vallares?

            -- Infelizmente houve um acidente na estrada e me atrasei bastante, o espetáculo já começou e só conseguirei confrontá-la quando tudo isso acabar.

            -- Melhor mesmo ou ela é capaz de cair das alturas.

            A loira ouviu o suspiro impaciente, sabia que estava sendo repreendida pelo que disse.

            -- Claro que não desejo isso, gosto da Valentina vivinha, só assim eu poderei jogar na cara dela as idiotices que cometeu.

            -- E correr o risco de apanhar novamente? – Debochou. – Vou sair do carro, respirar um ar.

            -- Não bebeu muito né? – A secretária questionou preocupada.

            -- Não, claro que não, depois te ligo e te informo o que aconteceu. Descanse um pouco, você merece, meu bem.

            Rebeka se despediu e logo a chamada era encerrada.

            Natasha deixou o automóvel e caminhou por entre as pessoas que estavam ao lado de fora.

            Alguns comprava lanche para retornar para o interior. Helena deveria estar lá dentro com o Victor.

            Colocou as mãos no bolso da calça e caminhou até a bilheteria. Fitou o relógio. Não demoraria para o espetáculo acabar, faltava apenas a última parte.

            Observava tudo ao redor, desejava resolver de uma vez por todas aquela situação para poder ficar aliviado. Estava furiosa com a neta do conde, furiosa pela forma traiçoeira que agira, mesmo depois de conseguir adquirir todo o poder.

            Chutou uma pedrinha com a ponta da bota de couro.

            -- Senhorita Valerie...

            A ruiva se virou e viu Pepi vestido de palhaço. O homem lhe estendeu a mão em cumprimento.

            -- Olá, boa noite! – Ela respondeu tentando ser gentil.

            -- Veio ver o espetáculo?

            -- Na verdade não exatamente, pensei em chegar mais cedo, preciso falar com a Valentina, mas acabou que me atrasei.

            -- Então venha comigo, só falta o número do trapézio e assim pode falar com ela.

            A ruiva suspirou. Na verdade não queria ser vista pelos outros.

            -- Eu preferiria que fosse algo discreto...

            Pepi a fitou confuso.

            -- Não acredito que alguém da família consiga lhe ver, está cheio. Venha comigo.

            Mesmo que não desejasse ir, Natasha acabou fazendo.

            Ouvia os tambores rufares e ao olhar para o alto viu a condessinha, como dizia a Rebeka.

            Ela usava uma malha totalmente preta que se colava de forma sensual às suas formas femininas. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, estava ainda mais linda que sempre. Essa era a parte difícil de lidar com ela, perdia o controle diante da mulher linda que era a herdeira dos Vallares.

            Cruzou os braços.

            Via o olhar de todos focados na jovem e não demorou a ela voar lá de cima, girando no ar e sendo segurada pelas mãos por seu par.

            Sentiu um frio na barriga ao presenciar o ato e se recordou de já tê-la visto antes executar aquele número, quando ainda se passava por Nathália.

            Mais alguns mortais e ela pousava no chão com o charme daquelas ginastas.

            Os aplausos e gritos da plateia eram ensurdecedor.

            Fora possível ouvir os fogos de artifícios que estavam sendo soltados ao final.

            -- Espere-a no trailer, daqui a pouco ela deve estar indo para lá. – Pepi sussurrou em seu ouvido.

            Natasha continuou a fitar a morena por alguns segundos, depois deixou o interior das lonas.

 

 

 

            Valentina sorria, enquanto acenava para todos. Seu coração batia acelerado, tinha a impressão que sairia pela boca.

            Sabia que se arriscara em não usar a rede de proteção e estava muito feliz por tudo ter saído bem.

            Observou entre a multidão e teve a impressão de ter visto olhos conhecidos, mas com certeza estava a delirar.

            Voltou a agradecer a todos e logo deixava o picadeiro. Haveria um coquetel, seu avô patrocinara, então se vestiria para participar.

            Passou rapidamente por trás e seguiu em direção ao trailer. Viu as luzes acesas, decerto alguém já tinha ido até lá deixar a água para o banho.

            Observou o céu cheio de estrelas, soltou um suspiro de felicidade por tudo ter acabado bem.

            Estava muito feliz, mesmo que um pouco assustada por ter se arriscado. Entrou e quase perdeu o fôlego ao ver a Valerie lá parada, parecia distraída ao observar as fotos.

            -- Eu nunca imaginei que voltaria a esse lugar... – Virou-se para a Vallares. – Foi aqui que tudo começou.

            Valentina a encarou. Então não estivera devaneando quando a viu entre o público, mas o que estava a fazer ali depois de tantos dias distantes?

            Cruzou os braços.

            -- O que faz aqui? Se foi convidada por alguém, deveria permanecer lá fora e não entrar aqui sem a minha permissão.

            A ruiva a observa de baixo acima, demorando-se propositalmente em pontos específicos.

            Ainda estava furiosa pelo que a morena fizera e sabia que daquela vez não controlaria a raiva.

            Pegou a pasta que tinha deixado sobre a cama e lhe estendeu.

            A Vallares não pareceu interessada, então continuou com os braços cruzados, apenas fitando-a.

            -- Saia daqui antes que chame os seguranças.

            -- Eu não sairei antes que me explique que palhaçada é essa!

            Valentina mirou os olhos verdes e depois a pasta, mas não fez menção de tocá-la. Simplesmente seguiu até a porta e já tentava abrir quando a outra a deteve pelo braço, trazendo-a novamente para o mesmo lugar.

            -- Solte-me! – A circense puxou o braço de forma brusca. – Não tenho nada para falar contigo e não desejo fazê-lo, saia e me deixe em paz.

            Natasha respirou fundo.

            -- Diga-me um coisa: Essa sua ambição não tem fim não? Não bastou eu te dar o controle das minhas ações, ainda ousou negociá-las ilegalmente. – Segurou-a novamente pelo pulso. – Agradeça que ainda não formalizei a denúncia, pois aquele seu espetáculo de voar em uma cabo de aço seria interrompido na hora pela polícia.

            A trapezista parecia confusa diante do que estava sendo dito. Teria enlouquecido?

            -- Está doida, só pode ou bebeu o suficiente para surtar.

            -- Louca está você, sua palhaça de circo de esquina! – Deu alguns passos para trás tentando manter a lucidez. – O que deu em ti para fazer uma coisa dessas hein? Eu disse que as ações não deveria ser negociadas, tampouco por ti.

            -- Eu não sei do que você está falando!

            A ruiva praticamente jogou a pasta sobre ela e dessa vez a morena pegou-a, abrindo-a, enquanto lia cada uma das sentenças que estavam sendo ditas, vez e outra levantava o olhar para mirar a arquiteta, por fim, encarou-a.

            -- Eu não fiz isso, nem dei permissão para que alguém o fizesse.

            -- E como a sua maldita assinatura aparece aí, hein? – Voltou a se aproximar. – Você sabe o que fez, Vallares? Você acabou de jogar o nome da sua família no lixo e espero que sua namoradinha seja muito boa para poder te salvar da cadeia.

            -- Eu já disse que não fiz nada, que sou inocente.

            -- Diga isso ao delegado!

            Aquela fora a vez da neta do conde seguir até a porta e impedir a saída da empresária.

            -- Deve me ouvir, tem que acreditar em mim. – Juntou as mãos em um gesto de súplica. – Valerie, eu nunca faria algo desse tipo, sei que as ações são suas, estou apenas administrando-as, claro que desejo compra-las, mas farei isso da forma certa. Passei a semana trabalhando com projeções financeiras para poder adquirir o capital necessário. Eu não agiria de forma tão desonrada. – Mordiscou o lábio inferior demoradamente. – Dê-me um tempo, um dia, e eu resolverei isso.

            -- Resolver? – Passou a mão pelos cabelos. – Você ainda não tem ideia do que fora feito. – Cerrou os dentes. – Começo a pensar que seu ódio por mim é tão cego que não se importa se com isso vai afetar a vida dos outros.

            A morena se aproximou.

            -- Eu não fiz isso e não sei quem anda falando essas coisas para ti, mas estão errados... – Meneou a cabeça negativamente. – Suas amantes deveriam perder tempo com outras coisas e não com desinformações sobre mim.

            -- Amantes? – A ruiva arqueou a sobrancelha. – Vai começar com isso de novo?

            -- Ah, sim, eu tinha esquecido que não se deve falar dos seus casos ou das suas saídas com um monte de mulheres.

            -- Mulheres? Está sabendo muito da minha vida para quem disse que era para eu sumir... – Aproximou-se e tomou-a pelo braço. – Sabe o que mais, sabe o que eu acho disse tudo, dessa droga de história – Mirou os olhos negros – acho que tudo isso que você faz é para chamar a mina atenção, sabe o porquê? Porque lá no fundo você continua queimando por mim, continua apaixonada... Como a Rebeka diz, você deseja dar para...

            Valentina se soltou da mão que a prendia e já tentava lhe dar um tapa, mas fora detida, agarrada, enquanto a neta de Isadora colocava a boca na da morena de maneira brusca.

            A neta do conde protestava, tentava empurrá-la, parecia uivar como um animal selvagem, tentava lhe arranhar, mas aos poucos sentiu a língua procurar a sua, fazendo de forma tão maravilhosa que se sentiu estremecer e logo ao invés de querer se livrar da bela ruiva, enlaçava-lhe o pescoço, colocando-se a ela, como se pudessem se fundir.

            Natasha estava possessa com tudo o tinha acontecido e não havia mais nenhum tipo de controle em seus atos.

            Empurrou-a contra a lataria do trailer.

            Os olhos negros se encontraram com os seus por alguns segundos e logo a arquiteta voltava a lhe tomar os lábios de forma tão exigente que tirou o ar da filha de Nícolas.

            A Vallares sabia que deveria detê-la. Havia algo alertando em seu cérebro. Tinha a impressão que muito distante surgir a  iluminação intermitente a lhe alertar, mas parecia que suas forças tinham caído por terra. Aprofundou mais a carícia, sentiu o gosto de ácool, embriagou-se também.

            A ruiva lhe segurou os pulsos por sobre a cabeça, enquanto lhe levantava a perna esquerda, fazendo-a agarrar em seu quadril.

            Esfregava-se a ela, mesmo que estivessem de roupa, tinha a impressão que tudo queimava em si. Fê-lo mais uma vez, outra vez... Sentiu-a chupar sua língua de forma indelicada. Pressionou-a mais, começava a lhe arrancar a malha que usara no trapézio. Logo sentia a pele delicada exposta, os seios redondos, tocou-os e ouviu o gemido da morena. Apertou-os, amassava-os e brincava com os biquinhos que se insinuavam durinhos.

            Valentina deslizou as mãos por baixo da camiseta, livrou-a da jaqueta e logo passeava pele branca da neta de Isadora.

            Teve a impressão que morreria se não sentisse-a.

            Natasha se afastou alguns centímetros.

            A circense mirou-a e viu a determinação e a paixão brilhar em seu olhar.

            Observou-a lhe tirar a roupa e ao invés de impedi-la, ajudou-a, facilitando o trabalho da empresária. Não demorou a ficar totalmente nua.

            Mordiscou o lábio inferior, ansiando para que a Valerie se aproximasse e não demorou para isso acontecer. Sentiu os beijos em seu pescoço, arqueou para lhe dar livre acesso, ouviu-a sussurrar em seu ouvido:

            -- Eu sei o que você quer e acredite... Eu quero muito mais...

            Fitaram-se mais uma vez. A morena parecia hipnotizada, perdida naquela sedução...

            Sentiu os lábios voltarem a pousar em sua pele, abraçou-a, enquanto sentia as mãos ásperas passear por suas costas, descendo por suas coxas, acariciando as nádegas, apertando-a...

            Não demorou para os dedos longos começarem a explorar o interior das pernas, então fincou os dentes nos ombros da arquiteta para não gritar diante do contato íntimo.

Teve a impressão se desmancharia em líquido. Estava tão molhada e logo remexia contra a outra, parecia pronta para ser invadida, possuída... Dançava aquele ritmo, bailava no precipício...

            A ruiva sentiu a mordida, mas não aliviou a pressão, queria-a para si, queria aplacar esse fogo interno, essa loucura que tinha se tornado aquelas dias longos de saudades.

            Valentina segurava-se a ela, tentando lhe arrancar as roupas.

            -- Tira! – Disse em um fio de voz. – Tira tudo... Quero você nua para me satisfazer...

            Natasha esboçou um sorriso e não demorou a ficar totalmente em pelo diante do olhar faminto da outra.

            Voltou a se aproximar e agora os corpos nus pareciam não apenas se reconhecerem de outrora, mas também pareciam exigir a união que ambas se negaram por tanto tempo.

            A trapezista a abraçava, arranhava-lhe as costas. Explorava sua pele, mostrava seu total descontrole.

            O beijo voltava a acontecer, não havia delicadezas em nenhum dos atos, eram tão exigentes, possessivos, poderosos...

            A Valerie usou o polegar para lhe acariciar o sexo molhado, fê-lo com a perícia que lhe era própria, usou mais para executar a função externamente.

            Ouviu-a gemer, ouvia-a choramingar contra seus lábios. Fitou-a e não demorou para ouvir a voz rouca e baixa:

            -- Deus, eu quero que entre dentro de mim... Eu preciso disso, eu preciso como nunca precisei de nada... – Apoiou a perna sobre o banquinho, abrindo-se. – Faça, Valerie, faça... – Exigiu encarando-a. – Tomem-me, enquanto não chega a lucidez...

            Um sorriso brincou nos lábios rosados, enquanto lhe invadia e a sentia rebolar em seus dedos em uma verdadeiro descontrole.

            -- Calma, Palhacinha... Não precisa de pressa... – Sussurrava em seu ouvido. – Engole devagar... Assim você deixa perdida...

            Valentina não parecia lhe ouvir, apenas aumentava ainda mais os movimentos. Queria tanto aquela mulher que não se importava com mais nada naquele momento, nem mesmo com o fato de todos estarem a lhe esperar para participar da comemoração.

            As bocas voltaram a se encontrar e logo os beijos se espalhavam por seu colo, apossando-se dos seus seios, lambendo-os e depois mamando-o de modo faminto. A morena inclinou a cabeça para trás, dando total acesso ao corpo.

            -- Ain, passa a língua... mama bem gostoso...

            Natasha obedecia, chupava-a, perdia-se nos sons das respirações aceleradas.

            Valentina inclino a cabeça para trás, enquanto mordia os lábios para não gritar alto diante das investidas em seu sexo e nos seios.

            Viu-a descer por seu abdome, depois depositou um beijo em seu sexo, mas antes de aprofundar a carícia a fitou.

            A morena mordiscou o lábio inferior.

            -- Sim... Eu quero me dar para ti... Eu quero dar até me arrepender de novo...

            A ruiva parecia que só estava esperando o assentimento para se entregar ao beijo íntimo com o centro daquele desejo incontrolável. Colou os lábios em outros lábios, movendo-se de forma delicada, sentindo o sabor que sempre ficara preso em seus pensamento, em suas lembranças.

            Abriu-a, enquanto metia a língua em um movimento de vai e vem, enquanto usava o polegar para incitar ainda mais a pequena cereja.

            -- Ain...

            Valentina gemia em desespero.

            -- Vai, palhacinha, resiste... Nega que deseja... – Chupou mais. – Agora já não consegue mais...

            De repente Valentina pareceu despertar do seu momento de paixão e tentou detê-la, mas neta de Isadora segurou as mãos que tentava lhe empurrar e continuou a tocá-la. A Vallares ouvia o show pirotécnico, via a claridade através das janelas do trailer e logo fitava a mulher ajoelhada entre suas coxas.

            Abriu-se mais para ela e logo executava uma dança com ritmo próprio, movendo-se para ela, rebolando contra a face bonita, aumentava os movimentos, sentia-a dentro de si e sussurrava o nome dela.

            -- Acaba... Acaba com essa agonia... – Pedia entre gemidos. – Ain... Assim... Sim... Eu preciso... Ain... faz, amor... Mete... – Soluçava... – Deixa eu dar deixa... come... Ain,

            A ruiva atendeu ao pedido e não demorou para senti-la estremecer em meio a um rugido de prazer. Continuou o ato até senti-la ser dominada novamente, depois se levantou, abraçando-a, ouvindo os soluços, beijou-lhe toda a face.

            Trouxe-a consigo para a cama estreita, fê-la sentar em seu colo, sentindo a cabeleira negra cair sobre seus ombros. Sentia-a trêmula, parecia ouvir as batidas do coração da circense.

            Delicada, segurou-lhe o queixo e a fez lhe encarar, observou os olhos negros lhe fitarem, havia lágrimas neles, beijou-os.

            -- Deixe-me te amar...

            A morena lhe segurou o rosto entre as mãos e mais uma vez as bocas se encontravam.

            Natasha a deitou no leito, cobrindo-a com seu corpo, unindo-os, colando-os além do suor que brilhava nas peles de ambas.

 

 

 

            Valentina despertou lentamente.

            Abriu os olhos devagar, tentou se mexer, mas havia uma cabeleira ruiva sobre seu peito e uma perna enroscada em seu quadril lhe imobilizando os movimentos.

            Observou a luz do amanhecer invadir o trailer.

            Deus, tinha passado a noite naquele lugar e para piorar, transando durantes horas com a Valerie, como se os corpos estivessem há mil anos sem se amarem.

            Soltou um longo suspiro.

            O avô deveria ter se preocupado, mas como não foram procura-la? Seu carro continuava estacionado ali em frente ou será que alguém fora até lá e ouvira seus gemidos de paixão e acabara recuando.

            Que loucura fora aquela?

            Tivera a impressão que estava drogada...

            Fechou os olhos e as imagens sugiram em sua mente...

            Mirou a perna longa e torneada... O ombro e foi que viu as marcas que fizera na neta da duquesa.

            Corou.

            Aquilo tinha sido um total descontrole.

            Não havia problemas nenhum consigo, o problema era só reagir ao toque daquela mulher.

            Umedeceu os lábios demoradamente. Precisava voltar para a mansão. Onde estava o celular?

            Tentou se mexer, mas empresária a prendia.

            -- Natasha... – Chamou-a baixinho.

            A outra resmungou, mas não abriu os olhos ou mudava de posição.

            -- Natasha, precisa acordar... – Segurou-lhe a mão, levou-a aos lábios. – Valerie... – Chamou-a novamente.

            Os olhos verdes sonolentos se abriram, fitando-a, pareciam um pouco confusos, mas depois os lábios rosados se desenharam em um sorriso lindo.

            Prendeu a respiração diante daquela bela mulher.

            -- Eu não quero acordar... Quero fazer tudo de novo...

            A circense mordiscou o lábio inferior demoradamente, parecia envergonhada.

            -- Preciso ir para casa... Imagino que devam estar pensando o que se passou depois da apresentação.

            A ruiva esboçou um sorriso safado, depois deitou sobre o corpo da morena, apoiando-se no braços.

            -- O que vai contar? Vai dizer que voar por aqueles cabos te deixou cansada e acabou dormindo aqui... – Tocou o seio esquerdo. – Sozinha?

            A morena observava a carícia e sentiu o corpo reagir imediatamente, deteve-a.

            -- Vou para casa, tomarei um banho e depois seguirei até a empresa, preciso esclarecer os problemas com as ações.

            A Valerie tinha esquecido desse detalhe.

            Havia um problema muito sério para ser resolvido ou ambas sofreriam consequências terríveis.

            -- Quem fez isso? – A ruiva questionou.

            -- Não fui eu, já te disse, juro que não tenho nada a ver com isso, mesmo que te queira longe de mim, jamais agiria desse jeito.

            Os olhos verdes miraram os negros e viram a sinceridade neles.

            -- Então você deve saber quem poderia tê-lo feito, talvez alguém que tenha acesso aos documentos... Se assim for precisamos fazer uma denúncia.

            A neta do conde suspeitava de alguém, porém não podia simplesmente acusar a namorada.

            Deus, só agora se dava conta que traíra Alissa com a arquiteta.

            -- Eu irei resolver tudo isso! – Tentou sair de debaixo da ruiva, mas a outra não permitiu. – Natasha, por favor, deixe-me levantar.

            -- Não, não, porque sei que quando fizer isso vai voltar a agir friamente comigo, me mandar para o inferno e agir com arrogância, então quero aproveitar mais um pouco da palhacinha de circo que conheço.

            Valentina ainda abriu a boca para protestar, mas os lábios logo eram calados por um beijo apaixonado. A morena ainda tentou resistir, mas a forma como a Valerie lhe acariciava era praticamente impossível que alguém pudesse se negar, então a abraçou forte, afastando as pernas para acolhê-la, enquanto sentia o desejo reacender em todo seu corpo.

 

 

 

 

            Valentina nem teve tempo de ir até a mansão.

            Quase não tivera forças para se livrar do desejo pela arquiteta, mas conseguira fazê-la ir embora, depois tomara banho lá mesmo, colocara as roupas do dia anterior e seguia para a empresa.

            O conde e Nícolas exigiram sua presença. Sabia que enfrentaria problemas sérios e precisava resolver tudo aquilo o mais rápido possível.

            Voltou a discar para Alissa pelo painel do corra e depois de inúmeras tentativas fracassadas, ela atendeu.

            -- Bom dia, meu amor...

            A circense ouviu a voz da loira e desejou mata-la, mas respirou fundo para não perder a calma.

            -- Diga-me quem te deu autorização para negociar as ações na bolsa e compra-las na mesma hora? Está louca!

            Depois de alguns segundos de silêncio ouviu a resposta.

            -- Valentina, minha vida, fiz pelo seu bem, você não entende, estamos falando de negócio, conversamos sobre isso... Quem garante que de uma hora para a outra a Valerie não iria toma-las de você, poderia usá-las de forma até mesmo a te tirar da presidência.

            -- Mas são delas, isso seria o óbvio! – Cerrou os dentes. – Sim, conversamos, mas disse que não seria feito, deixei claro que compraríamos de forma honesta, até mesmo fiz o lavamento do capital para isso.

            -- Você está vendo problema onde não existe.

            A morena parou no sinal fechado, tentava respirar fundo para não gritar em frustração.

            -- A construtora da Natasha está hipotecada e está totalmente ligada a essas ações, não poderia de forma nenhuma serem negociadas.

            -- E isso não é problema nosso... Pagaremos o dinheiro para ela e ela se vira.

            A circense apertou tão forte o volante.

            Não acreditava na insensibilidade da namorada, realmente parecia um ser totalmente desconhecido do que conhecera um dia.

            -- Alissa, vamos resolver isso, estou indo para a empresa e espero que esteja presente, pois não aceitarei nada a menos que a resolução desse caso. – Encerou a chamada.

 

 

 

 

            O conde ocupava a cadeira da cabeceira. Tinha o filho ao lado e todo o conselho reunido. Ele sabia que seu nome estava em risco, sua reputação diante do acontecido, mesmo assim estava muito mais preocupado com o que poderia acontecer com a neta. Valentina não tinha muita experiência e tudo o que fizera fora por um motivo que ainda precisava ser esclarecido.

            Observou a expressão de todos.

            Sabia que o valor das ações caíra imediatamente quando os investidores descobriram que os Vallares dominavam grande parte do pacote.

            Soltou um longo suspiro.

            Na noite anterior não a viu mais. Pepi dissera que Natasha estivera lá e que falara que desejava conversar com a circense, decerto era sobre o acontecido.

            Não demorou para a porta abrir e lá estava a trapezista.

            O olhar dela passou por cada um dos que estavam ali presente. Não negava que estava amedrontada, mesmo assim sabia que deveria assumir o erro que fora cometido. Ana estava ao seu lado e trazia a pasta nas mãos, lá estava todas as movimentações que não deveria ter sido feitas.

            Alissa estava presa no trânsito, então teria que assumir a responsabilidade sozinha.

            -- Você sabe o que fez? – O presidente do conselho começou de forma implacável. – Agiu de maneira irresponsável quando teve todo o poder em suas mãos. Natasha te entregou as ações para administração, nós mesmos tínhamos falado com ela, tínhamos pedido para que não as vendesse nesse momento, pois sabíamos o que poderia acontecer.

            A morena respirou fundo, tentou se manter calada, mas acabou falando.

            -- Engraçado que tudo aqui nessa empresa não é me avisado, mesmo eu sendo a presidente, vocês agem pelas minhas costas o tempo todo.

            -- Não acredito que isso venha ao caso agora, Valentina! – O conde advertiu-a. – Apenas precisamos saber o que se passou e tentarmos resolver tudo da melhor forma possível.

            -- ah, claro, nem se preocupem, afinal, ninguém me ouviu e já decidiram o que fazer, mas por mim está tranquilo, antes de explicar, entregarei a minha carta de renúncia.

            O conselho não pareceu se importar, pois já tinham pedido que isso acontecesse.

            Ana começou a distribuir as pastas, enquanto a circense já iniciava sua apresentação para dizer o que tinha acontecido, sim, ela tinha cometido o erro em permitir que Alissa se apossasse dos documentos, então deveria arcar com as consequências.

            Os acionistas e o conselho já começava a leitura quando o telefone da sala tocou.

            O conde atendeu e apenas disse sim, então a porta se abriu e Natasha entrou ao lado de Rebeka.

            Os olhos negros da morena fitaram as duas mulheres, viu o arquear de sobrancelha da loira em provocação, depois sua atenção se voltava totalmente para a Valerie.

            Deus, por que aquela mulher tinha que ser tão maravilhosa?

            Observou os trajes elegantes. Saia preta de cintura alta que chegava aos joelhos, blusa branca de seda e um terninho preto ajustado as suas formas, usava salto alto, os cabelos estavam soltos...

            Lembrou-se de puxá-los várias vezes na noite anterior. Lembrou-os dele caído sobre sua face, enquanto rebolavam juntos e gozavam divinamente...

            Sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

            Ainda não acreditava que se entregara a ela novamente, ainda não entendia o que se passava consigo. Mirou os olhos verdes, depois os lábios cheios e mesmo de longe conseguiu ver o pequeno machucado, fora feito pela manhã...

            -- Bem, senhores, senhoritas... – A ruiva começou. – Queria pedir que antes de falarem com a presidente, permitam-me apresentar algo. – Estendeu a mão e a assistente lhe entregou o pen drive.

            -- Você tem carta branca com todos, Natasha. – O presidente do conselho falou. – Acho que todos devemos desculpas.

            A arquiteta apenas assentiu e logo se aproximava da trapezista. Parou ao lado dela, aspirou o delicioso cheiro do corpo feminino.

            -- Posso usar seu computador, presidente? – Indagou bem perto dela.

            Valentina a encarou novamente, lembrou-se de quando ela fizera aquele mesmo pedido outro dia, então apenas deu de ombros, afastando-se alguns centímetros. Cruzou os braços sobre o colo e ficou lá parada. Sentia-se triste por estar renunciado ao cargo, sentia-se culpada por ter colocado todos naquela confusão e principalmente por permitido que agissem de má fé contra a neta de Isadora. Mesmo que não admitisse, sabia bem que se aquela empresa ainda estava de pé, fora pelos esforços daquela mulher que lhe tirava a paz.

            Ainda não tivera tempo de parar para pensar em tudo o que aconteceu na noite anterior, apenas sabia que estava perdida, completamente perdida.

            Viu Rebeka se aproximar e entregar a todos algumas pastas e até mesmo a si, porém a morena nem abriu, continuou no mesmo lugar. Estava esperando para encerrar todo aquela problema e buscar uma solução.

            -- Bem, acredito que todos tiveram conhecimento do que se passou ontem. – Usou a caneta laser e parou na imagem da bolsa de valores. – Infelizmente quando entreguei as ações para a Vallares, cometi um erro de não tomar o devido cuidado, ainda mais porque sempre negocio lá, isso não é segredo para ninguém, porém o meu computador que trabalha no automático, jogou as ações... – Emudeceu os lábios. – A Valentina conseguiu resgatá-la há tempos... Sei que fui irresponsável, mas consegui resolver o problema com as negociações e novamente as ações retornaram para o meu nome. – Dessa vez ela mostrou a tela com as negociações em tempo real. – Percebem que os valores aumentaram consideravelmente.

            Valentina prendeu a respiração, sabia que ela mentira, que assumira a culpa.

            -- Natasha! – Chamou-a.

            -- Valentina, você agiu certo, sei que a Vallares entregou a renúncia do cargo da presidência, acredito que agora que tudo foi esclarecido e resolvido, os senhores não aceitarão.

            Os membros do conselho trocavam olhares com os demais acionistas, enquanto Nicolay e Nícolas observavam a ruiva com uma grande admiração.

            -- Bem, vejo agora que tudo foi resolvido. – O presidente do conselho se levantou. – Não aceitamos a renúncia da presidente, entretanto, não aceitaremos mais que as ações que pertencem a Natasha não sejam administradas por ela. Não deve esquecer que sua construtora está vinculada aos negócios, você aceitou quando seguiu para o Oriente, assumiu a responsabilidade e deve arcar com ela. Todos viram como o nosso valor baixou quando os investidores viram que os Vallares contavam com a maioria do poder, todos vimos isso e chegamos a pensar que a qualquer momento perderíamos tudo o que conseguimos com tantos esforços, então o melhor e o que desejamos é que tudo volte ao seu ponto de administração para não existir mais esse perigo.

            A ruiva fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            Tivera a sorte de conseguir falar com o Sheik, fora graças a ele que conseguira resolver o problema.

            Todos se levantaram.

            -- Bem, nossa reunião está encerrada. – O conde começava. – Tivemos uma grande susto, mas tudo fora resolvido da melhor forma possível.

            -- Sim, agora tenho uma reunião, agradeço a compreensão de todos e garanto que não vai mais se repetir, Rebeka retorna ao posto dela, então tudo poderá ser resolvido nessa linha direta que teremos.

            Da mesma forma que chegou, Natasha se foi, apenas a assistente permanecera lá.

            Aos poucos a sala de reuniões ficava vazia e só sobravam a loira, o conde, Nícolas e Valentina.

            O aristocrata fez um gesto para que todos sentassem, enquanto se acomodava em sua cadeira.

            -- Bem, nós sabemos que a Valerie nunca cometeria um erro assim, sabemos de como é responsável em tudo que executa, apenas assumiu tudo diante do conselho para que nossa credibilidade continuasse. Não podemos esquecer que mesmo que sejamos os donos, devemos satisfação a outros, outros que poderiam simplesmente afundar tudo o que foi construído com tanto esforço... – Mirou o rosto de cada um demoradamente. – Agora, eu desejo saber o que realmente se passou.

            A circense fitou Rebeka por alguns segundos e não viu o deboche presente, naquele momento não encontrou as costumeiras provocações.

            -- Ficamos sabendo do que tinha ocorrido ontem perto do anoitecer – a assistente começou – recebi inúmeras ligações de investidores questionando a transação... ilegal... estive com a Natasha e ficou bastante preocupada com tudo... Ela foi atrás da Valentina...

            A morena sentiu as bochechas pegarem fogo ao ser mencionado o encontro. Pigarreou.

            -- A sorte foi que a Valerie conseguiu a ajuda do Sheik, fora ele quem conseguiu reverter a situação e reajustar tudo na bolsa.

            Nícolas soltou um longo suspiro.

            -- Não sabemos nem como agradecer a ela por isso.

            O conde observou a neta.

            -- Valentina, o que se passou? Eu te conheço bem, sei que não deseja proximidades com a Natasha, conheço a sua raiva, porém você é bastante íntegra, não agiria assim, disso eu posso colocar as minhas mãos no fogo... O que realmente aconteceu?

            A circense sabia que deveria contar a verdade, mas não podia simplesmente culpar outros por um comportamento que em parte procurara por deixar tudo nas mãos da advogada.

            -- A culpa foi minha, vovô, eu assumo toda a responsabilidade e por essa razão apresento mais uma vez minha demissão.

            Rebeka fitou o perfil forte.

            Sabia que ela não tinha feito, da mesma forma que a Valerie também descobrira que quem agira de forma tão fraudulenta fora sua namorada. De certa forma, admirava-a por admitir um erro que não fora seu, pois chegara a pensar que a filhinha de papai correria para acusar Alissa.

            -- Não haverá demissões! – Nicolay disse ao se levantar. – Continuará à frente da nossa empresa e dessa vez tentara dividir suas prioridades, agindo como uma profissional e não como uma criança birrenta.

            Ela entendia a raiva do avô, mas nada poderia fazer naquele momento, apenas fazer um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto via os dois aristocratas deixarem a sala, permanecendo lá apenas a loira.

            Ambas ficaram em silêncio por alguns segundos, depois a morena debochou:

            -- Bem, esse é o seu momento de reinar, pode jogar na minha cara como sou idiota, como não tenho como ser a presidente dessa companhia, como ajo como uma condessa frustrada...

            Rebeka se levantou e começou a juntar as coisas.

            -- Na verdade, você agiu como uma verdadeira líder, assumindo a safadeza que a sua namoradinha fez.

            Os olhos negros se abriram em surpresa.

            -- Sim, queridinha, tanto a Nath como eu já sabemos que fora a sua advogadazinha a fazer a negociação... Claro que ela agiu contra a sua confiança, afinal, ela usara seus dados para tentar roubar as ações da Valerie.

            A circense a encarou demoradamente e só depois falou:

            -- Falarei com ela, decerto ela entendera errado as minhas intenções.

            -- Pois é, né, você fala tanto que odeia a Natasha que todos começam a acreditar que é verdade.

            A Vallares fez um gesto afirmativo com a cabeça.

            -- Por que vieram aqui? Por que simplesmente não fizeram a acusação?

            A loira cruzou os braços sobre os seios.

            -- Para ser bem honesta contigo, eu teria amado te ver na prisão por ser tonta, assim, esse seu nariz tinha baixado rapidinho, entretanto, a Valerie sabia que seria um verdadeiro escândalo, sem falar que ela é totalmente contra que você deixe a direção dos negócios... Fora outros motivos que você se nega a ouvir.

            Valentina levou o polegar aos lábios e ficou a mordiscar a unha em seu gesto natural de nervosismo.

            -- Bem, hoje volto a assumir minha sala, espero que não tenhamos que nos pegar violentamente de novo... – Piscou.

            A morena a viu deixar a sala e permaneceu lá, observava o copo de água que estava a sua frente.

            Tentava controlar a raiva que surgia desde cedo ao falar com a namorada. Sabia que ela agira com maldade, quisera atacar propositalmente a Valerie, não havia dúvidas disso, não mesmo.

            Ouviu a porta se abrir e lá estava Alissa.

            -- Tive um sério problema e quase não chegava, meu amor. – A loira falou se aproximando e lhe dando um beijo rápido. – Bem, pelo que vi, tudo está resolvido. – Sentou-se ao lado dela, tomando-lhe as mãos nas suas. – Não precisava se alarmar tanto, vejo que não teremos problemas.

            Os olhos negros demonstravam total surpresa diante do que ouvia.

            -- Eu não vou falar nada agora. – A morena massageava as têmporas. – Porque sei que poderei dizer coisas que serão bastantes pesadas e por menos de um dia já me alterei bastante. – Levantou-se. – Apenas não esqueça que na empresa você é uma funcionária como qualquer outra.

            -- Eu não entendo essa sua raiva. – Levantou-se também. – Sempre deixara claro o desejo de possuir as ações, então apenas fiz o que desejava.

            -- Pagando a baixo custo? Transformando as negociações em carteis?

            -- Você pagaria o valor depois... Acho que a Valerie faria isso por ti, afinal, todos sabemos que ela vive atrás de ti. – Falou em irritação. – E não precisa deixar para falar em outro momento não, nada que que disser vai mudar a intenção que tive, então só nos restas aceitar que tudo já foi resolvido.

            Valentina respirou fundo e depois deixou a sala pisando duro.

 

 

 

 

 

            A Valerie não retornara à construtora aquela manhã. Tivera que se reunir com o Sheik no hotel onde ele estava hospedado. Sabia que tinha muito que explicar ao bom homem que sempre lhe estendera a mão em todos os momentos da sua vida.

            Ainda estava furiosa com o que tinha acontecido e ainda sentia raiva pela Valerie não ter esclarecido tudo e assumido toda a culpa a ponto de abrir mão da presidência da empresa.

            Chegou à mansão por volta das dezessete horas.

            Helena tinha levado Victor ao pediatra para exames de rotina.

            Trocou a roupa social pelas de corridas e já prendia os cabelos quando ouviu batidas.

            Ao se virar viu a neta do conde aparecer.

            Continuava tão linda como na noite anterior quando a teve em seus braços.

            Sabia que deveria ter sido forte e não cedido ao desejo do corpo, mas não havia forças para suportar estar ao lado da Vallares sem perder a cabeça.

            Soltou um longo suspiro, esperando o esbravejar que sempre sucedia seus encontros.


Comentários

  1. Respostas
    1. Kkkkkkkkkkkkkk
      Se continuasse só iria postar semana que vem kkkkkkkk

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  2. Gente que capítulo foi esses? por favor não demora.

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  3. Ahhhhhhhhhh meu ❤️❤️❤️ literalmente, o circo pegou fogo kkkkkk amei!
    Geh, pega a visão, Alissa está fazendo hora extra, por mim, já pode dar baixa na carteira profissional, que pilantra mano.
    Bjssss.

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  4. Valentina já está ficando chata sobre as amantes da Natasha. Decide logo, mulher... Quer ou não? Afff

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  5. Achei essa música tudo a ver com a Valentina kkkkkkkkkk
    Pouco a Pouco (part. Sorriso Maroto)
    Dilsinho

    https://youtu.be/bpEDpJlJqpA

    Bjssss.

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    1. Núbia, achei a música para Natasha kkkkkkkkkkkk se liga no refrão.

      https://youtu.be/wje4zcGgSqA

      "Ninguém falava sobre ela, não havia nada ou alguém que dissesse o nome dela ou alguma informação sobre o que estava fazendo."

      É claro que estou na torcida para que elas formem uma linda família e "explodão" de tanto amor🥰

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  6. Ola! Tudo bem?

    Valentina agora decepciona também. Que pena! Não sei se eu fico ou vou! Perdoe-me, Autora! Ficou maçante!

    É isso

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  7. Capítulo perfeito!!!!
    Natacha bem que deveria dá umas boas palmadas na Valentina,mas fazer amor com ela é muito melhor.
    Essa Alyssa,que nunca me enganei com ela, pois merece um bom castigo e não me admira se ela está de conchavo com a Natália.
    Não vejo a hora da Valentina e a Natacha se casarem e deixarem esse passado no passado,construírem uma família sólida, e com mais umas crianças morenas e ruivas, é claro.
    Valentacha só prestam juntas,bastam chegarem perto para vê que nada mudou e esse amor que as uni nunca passou.
    Na melhor parte você para,só espero que a Valentina peça desculpa para a Natacha,e que a ruiva a perdoe com certeza.
    Beijão autora queridíssima.
    Valentina e Natacha forever, Ah! Tem o Victor também.

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    1. Tô contigo e não abro! Amei o: "Valentacha" kkkkkkk eu shippo esse casal.🤩

      E vamos de: #ValentinaeNatashaforever.

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  8. Aiiiii...que Capítulo jesusiii!!!! Volta logo por favor !! Vc tá torturando a gente!!!!!

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  9. Por favor, não judia da gente....to em abstinência 🙌

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