A déspota - último capítulo
Eva deitou sobre a filha ao ouvir os
disparos.
Escutou tiros e viu o momento em que a
juı́za tombara, sentiu a mão da criança segurando a sua, encarou os olhinhos
azuis e sentiu uma emoção forte se apossar do seu peito. Viu a polı́cia
ordenando que os bandidos se rendessem e temeu que eles não fizessem, porém
não demorara muito para que todos se entregassem.
Alguns segundos depois, os policiais se
aproximaram dela, rapidamente ela levantou-se, levou a filha para o carro,
pedindo para a menina ficar lá e correu em direção à Fernanda. Viu o sangue
tingir a blusa branca e teve que respirar fundo para não perder o controle.
Agachou-se diante dela.
Estava desacordada, pálida...
Sentiu vontade apertá-la junto a si,
mas sabia que não deveria mexer enquanto não chegasse o resgate.
Trêmula, tocou a lateral do pescoço da
amada. Fechou os olhos e rezou... Rezou para que o amor de sua vida ainda
estivesse com ela...
Ouvia as pessoas gritando para que uma
ambulância fosse chamada, mas parecia em transe a observar à juı́za.
-- Por favor... por favor... por favor
amore mio... Aguenta mais um pouco, só mais um pouco...
Ouviu a voz de Fernando, levantou-se e
seguiu até ele.
-- Onde está a minha filha?
-- Precisamos de médicos... A
Fernanda... A Fernanda... --- As lágrimas começaram a descer livremente. --
Ela está ferida.
O empresário já tinha pedido uma
ambulância, quando ligara para a polı́cia. Assim que a Catrina o avisou ele
não perdeu tempo. A equipe de resgate chegou, pedindo que todos se afastassem.
Isabely correu para os braços da mãe.
Fernando observava a dor que a italiana
demonstrava, não havia mais dúvidas sobre seu amor pela filha. Aproximou-se,
abraçando-as.
A Jovem ficou um pouco constrangida, mas
precisava tanto desse apoio que acabou conchegando-se nos braços do sogro e
observou os médicos examinando-a. Isabely olhava tudo, parecia tão
concentrada.
O médico se aproximou de ambos.
-- A bala atingiu o peito e não saiu,
temos que levá-la com urgência.
-- Eu quero ir junto. – Eva se
prontificou.
-- Não, você precisa se acalmar e
ficar com a garotinha. – Fernando tocou-lhe o braço. – Meu motorista te levará
em casa, eu vou com a minha filha, certo?
A cigana ainda abriu a boca para
argumentar, mas precisava cuidar da criança que deveria estar assustada com
tudo que se passou.
-- Eu irei, mas, por favor, não deixe
de me dar notı́cias.
O empresário apenas fez um gesto
afirmativo com a cabeça e seguiu para a ambulância. Ligou para o filho e para
nora para avisá-los.
Observou a jovem sendo intubada. Sentiu
uma dor tão grande em vê-la daquele jeito e para piorar saber que o próprio
irmão tinha feito aquilo.
Fechou os olhos e fez algo que há
tempos não fazia, rezou e pediu que Maria Fernanda pudesse ficar bem. Ela não
merecia passar por aquilo, já sofrera tanto, perdera tanto na vida e logo agora que ela estava se entendendo com
o seu grande amor algo assim acontecia.
Lembrou-se de Lutho, uma hora daquelas a
polı́cia já devia estar em seu encalce. Estava seguro de não mover uma palha
para livrá-lo do castigo. Nunca lhe faltara nada, sempre tivera o melhor, até
mesmo fora presente em seu crescimento, mas Esther o estragara ao extremo de
ele achar que poderia fazer tudo sem se importar com as consequências.
Chegaram ao hospital e rapidamente a
juı́za foi levada. Patrı́cia e Luı́s já estavam a esperar por eles.
-- Papai! – O rapaz o abraçou. – Como
ela está?
-- Os médicos disseram que a bala
estava alojada no peito dela. – Disse entre lágrimas. – Ela estava tão
pálida e desacordada.
-- Calma! – Patrı́cia tocou-lhe o braço.
– A Maria Fernanda é muito forte, com certeza vai sair bem dessa. Onde está a
Eva? Ela está bem?
-- Sim, eu pedi que o meu motorista a
levasse para casa, ela estava com a filha, a garotinha estava tão assustada.
-- Maldito Lutho, como pode fazer uma
coisa dessas? Onde ele estava com a cabeça?
-- Não sei!
Sentaram na recepção.
-- Temos que avisar ao Pedro e a
Maria... Faça isso, por favor, Patrı́cia. -- O empresário pediu. A jovem
apenas assentiu.
-- Eva, você precisa se acalmar. –
Arthur lhe entregou um copo com chá.
-- O Arthur tem razão, você vai acabar
tendo alguma coisa.
A cigana estava no quarto. Falara o que
tinha acontecido e entregara Isa para que Myrtes cuidasse. Andrello fora
imediatamente para os aposentos da filha quando ficara sabendo do episódio.
-- Eu quero ir ao hospital, quero ficar
com a Fernanda. As lágrimas caiam seguidas.
-- Eu queria tê-la protegido... –
Soluçou. – Mas ela que nos proteg...eu... Ela enfrentou os bandidos para que
nada acontece...sse comigo e com a minha filha...
-- Calma, filha, você precisa se
acalmar... Só assim poderá ficar ao lado dela.
-- Ligue para o Fernando, nem mesmo sei
para onde a levaram. – Dizia agoniada.
-- Sim, ligarei agora, mas tente ficar
calma.
Belluti discou o número e fez uma
oração em silêncio para que tudo desse certo. Era percebível o enorme amor
que a filha tinha pela juı́za.
Quando ficara sabendo daquela relação,
ficara chocado, nem mesmo falara nada. Viu o olhar triste que a jovem lhe
dirigiu antes de deixar o quarto, porém não se sentira pronto para falar algo
naquele momento.
Quem atendeu a chamada foi o
primogênito do Alcântara e ele lhe passou o endereço do hospital.
-- Como ela está?
-- Está... Está na sala de cirurgia.
Eva levantou-se.
-- Diga-me onde é o hospital, vou pra
lá imediatamente.
-- Eu vou contigo! – Arthur se
prontificou.
Andrello estendeu a mão para a
italiana. Ela se aproximou, segurando-a. Encarou o pai profundamente.
-- Vá, fiquei ao lado da mulher que
você ama e tenha fé, filha, acredite que o amor pode fazer milagres.
A cigana abraçou-o e sentiu as forças
renovarem. O apoio que estava recebendo naquele momento era tudo que estava a
necessitar. Apertou-o mais forte, sentindo as batidas do seu coração.
-- Mio amore, mia banbina...
-- Eu preciso de dinheiro para deixar o
paı́s! – Lutho falava desesperado com a mãe no telefone.
-- Eu disse pra você não fazer isso...
– Chorava Esther.
-- Cale a boca! – Gritou. – Eu só quero
dinheiro para fretar um avião para deixar o paı́s. Não vou ser preso!
-- Onde posso deixar o dinheiro?
-- Pedirei para alguém ir aı́ buscar
para mim. – Deu uma pausa. – Estou escondido, consegui escapar da polı́cia.
-- Reze para que a Maria Fernanda não
morra, assim você não será muito complicado.
-- Ao contrário, eu desejo que a
maldita morra... Eu não me importaria de ser preso se esse fosse o prêmio a
receber...
Eva chegou ao hospital, acompanhada do
amigo. Estava se dirigindo para recepção quando viu a esposa de Luı́s.
-- Patrı́cia?
-- Eva! – A jovem a abraçou. – Não
deveria ter vindo, passou por um estresse grande, deveria ter ficado
descansando.
-- Eu só quero ficar ao lado da Maria
Fernanda! – Disse simplesmente. – Quero vê-la.
-- Ela ainda está na sala de cirurgia,
não tivemos mais notı́cias.
-- Eu quero vê-la, eu preciso vê-la...
-- Calma, Eva. – Tocou-lhe o rosto e
secou-lhe uma lágrima. – Ela vai sair dessa, Fernanda é muito forte e ela te
ama de mais para te deixar logo agora que vocês estão se entendendo.
A cigana apenas assentiu os três
seguiram para a sala de espera.
Ela observou que Pedro e Maria já
estavam presentes, estavam a conversar com Fernando. Percebeu como estavam
preocupados, os olhares perdidos, mostrando o enorme desespero que estavam a
sentir.
Ela sentou, encostou cabeça no encosto
da cadeira e fechou os olhos. Lembrou-se da primeira vez que viu aqueles olhos
azuis...
Mais uma vez fez uma prece silenciosa.
" Por favor, amore mio, por favor,
seja forte, resista... por mim, por nós... O que mais desejo é ficar ao seu
lado... Ter nossa famı́lia... Nossos filhos... por favor, amor da minha
vida..."
-- Boa noite!
A voz do médico interrompeu seus
pensamentos. Todos se levantaram para ouvir. Pareciam apreensivos, temerosos
por saber qual era a notı́cia.
-- Como está minha filha, doutor?
-- Bem... Acabamos agora. -- Deu uma
pausa. -- Retiramos o projétil e felizmente nenhum órgão foi atingido. Maria
Fernanda daqui a pouco será levada para o quarto.
A felicidade tomou o lugar da apreensão
que estava presente na expressão de todos.
Maria Fernanda tentou abrir os olhos,
mas parecia não ter forças para realizar esse simples ato. Uma sonolência
parecia dominar seus sentidos. Mais uma vez acabou se jogando nos braços de
Morfeu, embalando-se nos próprios sonhos.
Megulhada entre o mundo real e o do seu
próprio interior, a juı́za viu a mãe. Ambas estavam em uma espécie de parque
verdejante, conseguia ver a criança sentada. A pequena de olhos da cor do mar e
cabelos de ébano.
Por alguns minutos, fitou a bela mulher
que a encarava. Timidamente, sorriu e recebeu em troca a expressão mais linda
que já viu na vida. Havia paz naquela face e o amor mais sublime já visto.
Jogou-se em seus braços. Apertou-a,
estreitando-a forte em seus braços. " Te amo!"
Rapidamente, a cena mudou. Agora, a
jovem estava mais crescida. Estava sozinha, lutando para sobreviver. Estava
parada no farol, mais uma vez fugira do centro de ressocialização. Estava
faminta, precisava conseguir dinheiro para comer. Há tempos desistira de
pedir, sabia que poderia ser violado caso não agisse com inteligência. Era
esperta, iria roubar, sabia fazer aquilo sutilmente.
Mirou ao redor em busca de uma potencial
vı́tima, alguém que não representasse um risco para si. Viu um casal que já
aparentava ter idade avançada, perfeitos para os seus planos.
Ágil como uma gata, passou por ambos,
puxando a bolsa.
Sorriu vitoriosa, mas seus desgrenhados
cabelos foram segurados firmemente, detendo-a. Um homem forte apertou-lhe ainda
mais forte, acusando-a, porém uma doce voz a despertou:
-- Deixe-a, ela é nossa filha!
O doce som daquela voz, a forma
carinhosa que o casal a encarava a perturbaram. Encarou-os desafiadoramente,
enfrentando-os, não temia nada e nem ninguém, porém fora desarmada... Não
havia rancor, raiva e nem mesmo ódio na expressão daquelas pessoas... amor...
O terrível sentimento parecia desejar vencê-la...
A bela Fernanda conseguira com muito
esforço entrar na universidade. O objetivo aos poucos seriam concretizados.
Moldara sua personalidade de forma que não houvesse brechas em sua armadura.
Não permitira que sentimentos conduzissem seus passos. Não havia amores, até
mesmo o desejo era algo planejado, calculado... Não havia amigos... Só existia a sua
ambição e sua sede por poder.
Estava a esperar Pedro na enorme mansão
onde ele trabalhava. Era um dia de festa para os milionários italianos. Ouviu
passos descendo a enorme escada e se escondeu por trás de uma pilastra. Não
desejava ser vista ali.
Naquele momento seu olhar encontrou o
mais perfeito e maravilhoso sorriso. Ficou a observar por mais segundos, presa
naquele olhar, fascinada... Então, outros braços a tomaram para si.
Miseravelmente, pela primeira vez, sentiu uma dor inexplicável no peito.
A insensível e poderosa juı́za caminhava
em passos firmes. Ouviu o som da música e observou o aglomerado de pessoas
abrirem espaço à medida que se
aproximava. Eles temiam sua fú ria... Então os alhos azuis, que não mais tinha
a tonalidade da cor do mar, exibiam a cor do céu em dia de tempestade,
escureceram ainda mais, estreitando-se ameaçadoramente.
Encantou-se com a dança e sentiu o
coração pulsar ao fitá-la.
-- Olá, minha bela dama! Deixe-me ler
sua mão, sinto que hoje você encontrará o amor da sua vida!
Sentiu as lágrimas saindo
desesperadamente, não havia forças para mantê-la de pé, então braços fortes
a sustentaram... O homem que mais odiara em sua vida a amparou e cuidou de suas
feridas...
Sorriu ao ter a criancinha de cabelos
vermelhos em seus braços... Sentiu uma enorme paz a invadir... Ouviu
disparos... Sentiu o peito tremer... Temeu, não por si...
-- E...va! -- Sussurrou com muito
esforço.
Abriu os olhos! De inı́cio não
conseguiu identificar onde estava, até que se acostumou com a claridade a viu
a bela mulher encarando-a. Notou os olhos negros como a noite brilharem ainda
mais marejados, prestes a derramar lágrimas.
Tentou falar, mas parecia que não havia
forças...Sorriu e fechou os olhos novamente.
Eva tinha acabado de despertar.
Há quatro dias estava no hospital. Só
saia do lado do amado para ver a filha.
Ouviu-a juı́za emitir alguns sons que
não conseguia decifrar, então de repente ouviu seu nome e a viu aqueles
lindos olhos despertarem... Sentiu o coração acelerar as batidas ao ver o
sorriso da amada se desenhar em sua face.
Rapidamente, chamou os médicos e ela
precisara ficar fora do quarto para que alguns exames fossem feitos. Ligou para
avisar a todos sobre o ocorrido.
Sentou e esperou por longo tempo.
Depois de um século, o médico foi ao
seu encontro.
-- E então, doutor?
O homem de meia idade sorriu. Conhecia a
angustia que aquela famı́lia estava a passar. Era amigo ı́ntimo do empresário
Fernando e fora escolhido para acompanhar de perto o caso da juı́za.
-- Ela está bem! Todos os exames foram
feitos e só iremos esperar a bela adormecida despertar.
-- Mas quando? -- Perguntou impaciente.
O médico colocou a mão em seu ombro.
-- Ela vai acordar... Não há dúvidas.
Fernando estava em seu escritório, em
sua casa.
Estava feliz! Iria resolver os problemas
e seguiria para o hospital. Eva o avisara que Maria Fernanda abrira os olhos e
ele estava ansioso para vê-la.
-- Isso é um absurdo! -- Esther entrou
sem bater. -- Nosso filho está sendo perseguido pela polı́cia e você não faz
nada! O empresário a segurou firme pelos ombros.
-- Eu já disse para você sumir da
minha frente! -- Encarou-a. -- E quanto ao nosso filho, ele irá pagar pelo que
fez com a Maria Fernanda.
-- Por mim, eu desejo que a sua maldita
bastarda morra! -- Desvencilhou-se do toque. -- Tudo que está ocorrendo é por
culpa dela.
-- Saia daqui antes que eu perca o
controle sobre minhas ações. Ela o fitou mais uma vez, antes de deixar o
recinto.
Fernando respirou fundo e ficou a
esperar a raiva passar. Não iria mover uma palha para livrar a cara de Lutho,
quando pensava que por pouco ele não teria matado a própria irmã, sentia uma
intensa raiva.
Eva estendeu a mão, segurando a da
juı́za.
Viu as pálpebras dela tremerem.
Esperou... Sabia que ela abriria os
olhos e não demorou a vê-los.
Foi como se aquela fosse a primeira vez
que encarava aquele mar azul. Mergulhou dentro deles, sentindo a emoção se
apossar de si. Estendeu a mão, tocando a dela, sentiu-a apertar forte.
-- Cigana... – Falou baixinho.
Eva viu o sorriso jocoso se formar no
canto dos lindos lábios.
-- Amore mio... – Abraçou-a com cuidado.
Sentiu as lágrimas descerem livres.
Não eram de dor, mas sim de felicidade por tê-la de novo em seus braços, por
não ter perdido-a. Sussurrou em seu ouvido o quanto a amava e como desejava
tê-la para sempre ao seu lado. Amando-a até o último dia de sua vida.
-- Então a bela adormecida despertou!
A italiana afastou-se ao ouvir a voz do
médico.
-- Por que não me chamou, mocinha? –
Indagou para a jovem.
-- Eu... Eu... ela acordou faz pouco
tempo, eu iria chamá-lo. – Disse constrangida.
-- Certo! – Sorriu. – E como você
está, minha bela jovem? – Fitou a juı́za.
-- Estou bem... – Tentou soar mais
firme. – Apenas me sentindo cansada, fraca...
-- E' normal, em breve estará bem
disposta. – Apertou a campânia. Alguns segundos se passaram até uma enfermeira
aparecer.
-- Pois não, doutor!
O médico rabiscou algo e entregou a
jovem.
-- Providencie isso para a nossa
paciente.
A mulher assentiu, pediu licença,
saindo.
-- Eu quero ir para minha casa... –
Pediu.
-- Calma, jovem, precisamos ter certeza
que tudo está bem com você. – Colocou a mão sobre o ombro da cigana. – Cuide
dela, pedirei que avise a todos sobre o despertar da nossa
A bela Belluti assentiu, esperou que ele
saı́sse para retornar para perto da amada.
-- Amor, você está bem? -- Fernanda gemeu
ao tentar se ajeitar na cama.
-- Calma! Não pode fazer esforço ainda.
A juı́za estendeu a mão e tocou-lhe a
sua.
-- Diga-me, meu amor, não aconteceu
nada contigo e nem com a ciganinha.
-- Não, nada nos aconteceu. A polı́cia
chegou rapidamente e graças a isso você pode ser atendida a tempo.
Lembrou-se da angustia que sentiu
naquele dia. Como temera pelo pior ao ouvir o disparo, como fora difı́cil
deixá-la sozinha. O fez apenas pela filha, mesmo assim tivera ganas de ir até
ela, protegê-la do que estava por vir.
-- Te amo, minha cigana!
Eva tocou de leve em seus lábios e
quando se afastou, viu-a adormecer mais uma vez com um doce sorriso nos
lábios.
Seu coração ainda não parara de pulsar
aceleradamente. Estava tão feliz, que o substantivo felicidade parecia muito
pobre para descrever o estado de sua alma. Não saberia como seria sua vida sem
a juı́za e não desejava nem imaginar tal possibilidade. A única coisa que
queria era poder estar ao lado do amor de sua vida para todo o sempre, por toda
a eternidade.
Sentou na poltrona.
Decidiu ligar para a casa, queria falar
com a filha e ver se podia trazê-la para ver a “ tia Nanda”. Sorriu!
Sua pequenina de cabelo de fogo, mesmo
tão criança para entender o que se passava, insistira muito e fora trazido ao
hospital logo quando a juı́za saı́ra da sala de cirurgia.
Precisara pedir autorização, pois
Isabely insistia em ver a jovem que aprendera a amar tão rapidamente.
Lembrou-se do olhar concentrado da
pequena e de tê-la levantado até o leito para que a mesma depositasse um
beijo na face da amada e depois desse dia não fora fácil conter a vontade da
menina de estar ao lado de ambas, algo que não fora possıv́ el, mas que agora seria.
Falou com o pai e pode sentir a
sinceridade das palavras dele ao demonstrar seu contentamento pela recuperação
de Maria Fernanda. Falou com a filha e ouviu os gritinhos de felicidade da
pequena. Insistiu para ver a jovem e Eva prometeu que assim que pudesse a
traria para uma visita. Ficou por mais alguns minutos ao telefone com ela, em
seguida desligou.
Ouviu batidas na porta, em seguida
Fernando entrou.
-- Vim rapidamente, mas pelo visto a
minha juı́za retornou ao seu sono.
A jovem sorriu e foi até o empresário.
Ganhou um abraço forte.
Naqueles últimos dias um vı́nculo de
amizade e cumplicidade nascera entre eles e se intensificara ainda mais. Ele
sempre estava ao seu lado, dizendo que tudo daria certo e que ambas em breve
estariam unidas e nada as separaria.
-- Ela está ainda sobre efeito dos
remédios, mas o médico já está resolvendo isso.
-- Eva, ela recordou do que aconteceu? –
Indagou franzindo a testa.
-- Sim!
O empresário caminhou até a poltrona,
sentando-se. A italiana se aproximou.
-- Algum problema?
-- O Lutho ainda está foragido e eu
temo pela segurança de vocês. Alguns guarda- costas ficarão aqui, não
deixarei que minha filha passe por isso novamente.
-- E o Ricardo?
-- Acredito que estejam juntos e tenho
quase certeza que a Esther sabe de alguma coisa. Os detetives estão na cola
dela.
A jovem passou a mão pelos cabelos.
-- Eu me sinto culpada pelo que
aconteceu.
-- Você não teve culpa nenhuma.
Acredite tudo isso não foi apenas por ti, Lutho odeia a Fernanda e mesmo se
você não estivesse com ela, ele faria algo contra a irmã.
Eva observou o semblante triste do homem
a sua frente. Deveria ser horrível pensar que algo tão ruim aconteceu no
centro da própria famı́lia.
Quando recordava do horror que passou
naquele dia, sentia uma raiva muito grande do ex-namorado, quando pensava que a
mulher que amava poderia ter morrido, sentia o peito inflamar-se de revolta,
porém sabia que não deveria alimentar um sentimento tão destrutivo. Pediria
a Deus que ele se arrependesse e se entregasse as autoridades.
-- Lutho, isso não vai dar certo! –
Insistia a mãe ao telefone.
-- Que número é esse?
-- Comprei para poder falar contigo.
Estou sendo monitorada de perto.
-- Eu preciso do dinheiro! – Insistia.
-- Não poderei depositar, mas já pedi
para um amigo fazer isso. Passei o número da conta para ele. – Deu uma pausa.
– Filho, por favor, se entregue, prometo que contratarei os melhores advogados
para tirá-lo da prisão.
-- Nunca! – Gritou. – Eu jamais me
entregarei e só irei embora do paı́s quando terminar o que comecei.
-- Do que estás a falar?
-- Eu sei que a maldita Maria Fernanda
não morreu, mas eu resolverei isso logo e dessa vez eu mesmo farei o serviço.
-- Por favor, não faça isso...
Esther ouviu o bipe mostrando que a
chamada tinha sido encerrada.
Estava desesperada. Retornou a ligação,
mas o celular estava desligado. Precisava fazer algo para salvar o filho, pois
temia que ele acabasse encontrando um destino pior do que a prisão.
Ouviu batidas na porta.
-- Entre!
Patrı́cia observou a sogra. Ela parecia
ter envelhecido muito naqueles últimos dias. Não havia maquilagens, não
havia penteados sofisticados, apenas uma mulher com profundas olheiras e
cansaço aparente.
-- O jantar está servido.
-- Não estou com fome! – Respondeu
irritada.
-- A senhora precisa se alimentar. Há
dias que não o faz direito, vai acabar ficando doente. A italiana sorriu
sarcástica.
-- E desde quando alguém se importa
comigo aqui nessa casa?
-- Desde sempre, apenas a senhora não
deseja ver isso.
-- Poupe-me de sua falsa preocupação. –
Encarou-a. – Sei muito bem que todos aqui só estão do lado da bastarda. Meu
filho e eu somos rechaçados dessa famı́lia.
-- Tem certeza que é isso que acontece?
Sabe que fico a pensar como a senhora pode odiar tanto a Maria Fernanda. Ela
nunca lhe fez nada, ao contrário, a senhora fez tudo o que podia contra a mãe
dela, contra o meu marido e contra o seu marido e agora está levando o seu
filho por um caminho sem volta.
-- Você não é ninguém para falar
assim comigo! – Gritou.
-- Não, eu não sou! Sou apenas alguém
que se preocupa com o que estar por vir, que fica a imaginar como o ser humano
consegue viver sabendo que arruinou a vida do filho por seu egoı́smo e ódio injustificável.
-- Você acha que eu mandei o Lutho
fazer isso?
-- Eu não sei, apenas acho que se
alguém pode dar um basta em tudo isso, é a senhora.
-- Se ela não tivesse entrado em nossas
vidas tudo isso teria sido evitado. A Eva teria casado com meu filho e ele
continuaria a frente da empresa da famı́lia.
-- A Eva nunca o amou e nem ele a amava,
quanto à empresa, ele esteve à frente por muitos anos, porém não agiu com
sabedoria e quase levou todos a ruı́na.
-- Saia do meu quarto agora! – Abriu a
porta. – Não desejo mais ouvir suas besteiras.
-- Eu sairei, mas pense bem, pense no
que poderá acontecer se o Lutho continuar tentando contra a vida da irmã.
Esther a observou sair, fechou o quarto e jogou-se na cama em prantos.
À noite chegou e com ela, os pais da
juı́za e todos que a amavam. Pareciam querer ter certeza da recuperação da
jovem. Maria Fernanda conversou pouco, ainda se sentia cansada.
Ela tomou banho, auxiliada por uma
enfermeira e jantou, antes de retornar ao leito. Ainda se sentia fraca, mas aos
poucos a sonolência estava passando. O local onde a bala entrou ainda estava
dolorido, mas estava sendo medicada para cessar o incomodo.
Pedro e Maria a beijaram e se despedira,
deixando-a com Fernando.
-- A Eva vai vir? – Indagou.
-- Nossa, essa é a quinta vez que me
pergunta isso. Será que sou tão desagradável para que não possa ficar em
minha companhia? – Segurou-lhe a mão, beijando-a.
-- O senhor é maravilhoso, mas...
-- Mas a cigana tem olhos e sorriso
lindos não é? A jovem sorriu.
-- Que horas ela saiu?
-- Meia hora depois de eu ter chegado.
Precisava ir a casa ver a pequenininha.
-- Ah papai, estou morrendo de vontade
de ver a ciganinha. Fernando sorriu.
-- E ela a ti. Quando estavas
desacordada, ela veio e foi difı́cil tirá-la daqui, viu. A juı́za sorriu.
-- Imagino, ela é danadinha igual à
italianinha. – Respirou fundo. – Quando eu poderei ir para casa? Não desejo
mais ficar aqui, estou bem, posso me cuidar em meu apartamento.
-- Lógico que não, Maria Fernanda! –
Levantou-se. – Iremos esperar o médico lhe dar alta, nem ouse se rebelar
quanto a isso.
-- Se rebelar contra o que?
Eva adentrou ao quarto.
-- Essa teimosa já está querendo ir
embora sem nem o médico liberar.
-- Hun! – A Belluti estreitou os olhos.
– Não se preocupe, ela irá seguir tudo à risca.
-- Assim espero!
O empresário beijou a filha na face, em
seguida a nora.
-- Bem, já estou indo, amanhã venho
cedinho para ficar contigo. – Apontou-lhe o dedo. – Pode se acostumar com seu
velho pai, pois ele vai estar sempre ao seu lado. Depois de Fernando sair, Eva
aproximou-se do leito.
-- Ouviu o que me sogrinho disse, não
é? – Tocou-lhe os lábios com os dedos. – Precisa se comportar bem.
-- E o que ganharei se me comportar bem?
– Arqueou a sobrancelha sedutoramente.
A jovem sentiu um arrepio na espinha.
Seu corpo reagiu ao gesto, pois o conhecia muito bem.
-- Apenas se comporte! – Falou.
A juı́za segurou-lhe a mão, puxando-a
para si.
-- Dê-me um beijo e prometo que me
comportarei...
A cigana teve a intenção de dar apenas
um selinho, mas Fernanda foi muito além.
Segurou-lhe a cabeça, trazendo-a para
mais perto de si. Tocou os lábios com urgência, sentindo a textura e a
delicadeza deles, em seguida capturou-lhe a lı́ngua, chupando-a intensamente.
Eva se afastou ao sentir as mãos da
amada por baixo de sua camiseta.
-- Acho que não é o lugar e tampouco
você está bem para fazer algo assim! – Repreendeu-a.
A
juı́za sorriu.
-- Bem, meu corpo não parece ser muito
racional, ainda mais quando você está por perto.
-- Então, eu manterei uma maior
distância dele, enquanto você não estiver totalmente recuperada. – Caminhou
até a poltrona e sentou-se.
-- E como está a ciganinha? – Indagou
mudando de assunto.
-- Está bem, fez um escândalo para vir
comigo, mas o Arthur prometeu trazê-la amanhã para te ver.
-- Eu to morrendo de saudades dela. Amo
muito aquela cabelinho de fogo. A italiana sorriu!
-- Ela também te ama de forma
inexplicável.
Maria Fernanda a encarou por alguns segundos.
-- Quero me casar contigo o mais rápido
possível!
Eva mordeu o lábio inferior. Estava se
controlando para não ir até ela. A conhecia bem para saber que era muito
passional e poderia machucá-la se deixasse se levar pelo desejo, afinal, ela
ainda estava convalescendo.
-- Quer?
-- Sim! Eu não me imagino mais sem ti,
minha cigana feiticeira.
Batidas na porta precederam a entrada da
enfermeira.
-- Boa noite! – A mulher de meia idade
cumprimentou sorridente. – Como está se sentindo?
-- Estou bem e adoraria estar em minha
casa. – Respondeu seca.
A mulher apenas sorriu, preparando uma
medicação para a paciente.
-- O que é isso?
-- O doutor Marcelo pediu para que lhe
desse isso. O dia foi muito agitado e precisa descansar.
-- Ah não, não quero mais ficar
sonolenta, estou bem... – Protestou.
A italiana se levantou e caminhou até
elas.
-- Por favor, Fernanda, se o médico
receitou, ele sabe o motivo.
A juı́za ainda abriu a boca para
retrucar, mas diante do olhar firme da amada, acabou fazendo o que lhe foi
pedido. A senhora se despediu de ambas, deixando-as sozinhas novamente.
Eva notou o olhar emburrado e
acariciou-lhe a face com as costas da mão.
Não havia palavras possíveis para
mostrar o quão grata estava por sua mulher não ter sido ferida mortalmente.
Ainda sentia a agonia daquele instante quando ouvira o disparo, ainda sentia
vontade de chorar quando recordava de tê-la visto cair.
-- Tudo bem?
A cigana percebeu que pela sobrancelha
arqueada que a meritı́ssima a avaliava.
-- Estou sim, apenas por alguns segundo
recordei aquele dia e senti um aperto no peito. Maria Fernanda segurou-lhe a
mão.
-- Já passou, não quero que pense ou
recorde disso. Estou aqui e você vai ter que me aguentar durante muito, mais
muito tempo mesmo.
A jovem Belluti a abraçou e ficou ali,
encostada em seu pescoço, sentindo sua respiração e o pulsar do coração
acelerado. Lembrou-se de Lutho e ficou a imaginar como a juı́za reagiria ao
saber que fora ele o mandante do atentado que por pouco não lhe ceifou a vida.
Pensou no sogro, podia imaginar como aquele momento estava sendo difı́cil para
ele, afinal, ambos eram seus filhos e aquela situação o obrigava a condenar um
deles para salvar o outro.
Maria Fernanda ainda permaneceu por
quase uma semana no hospital. O médico tivera que lidar com a irritação e
teimosia diária da juı́za, mas o fizera para atender ao pedido do pai da
déspota. Fernando temia pela segurança da filha e também não desejava que
ela ficasse sabendo da participação do irmão em toda aquela história, o que
agora seria difı́cil, pois o escândalo já se instalara na imprensa e esse era
o assunto mais tratado naquele momento. O empresário até tentou manter os
fatos em sigilo daquela vez, mas um dos acusados deixou bem claro para todos
que o atentado sofrido pela juı́za fora feito a mando do próprio irmão dela.
-- Lutho, por favor, não faça isso! Eu
falarei com seu pai e você não será preso, mas esqueça a Maria Fernanda de
uma vez por todas.
O italiano nem ao menos se dignou a
responder. Ficara sabendo que a irmã estava bem e já tinha voltado para casa.
Isso o fez surtar e não medir as consequências dos próprios atos mais uma vez.
A juı́za decidiu ficar na casa dos pais
adotivos. Achou que seria melhor passar aqueles dias com ele. Não aceitou ir
para casa de Fernando e tampouco para casa de Eva, não que não quisesse ficar
com a amada, mas porque não se sentiria bem estando na casa do senhor
Andrello. A namorada não gostou muito da decisão, porém pelo menos ficou
tranquila ao saber que ela ficaria com
Maria e Pedro.
-- Filha, a sua amiga Catrina está
aqui.
Maria entrou no quarto e encontrou Maria
Fernanda lendo um livro, sentada confortavelmente numa poltrona. Ela quem
pedira a presença da jovem, tinha algumas coisas para esclarecer.
-- Peça para ela entrar, mamãe. – Disse
levantando-se.
-- Certo!
Alguns segundos se passaram até a
entrada da loira.
Ao ver a jovem recuperada, ela se
emocionou, abraçando-a.
-- Desculpa, desculpa...
Fernanda ouvia as palavras e percebia as
lágrimas molhando seu hobby.
-- Você não tem que me pedir
desculpas, afinal, você salvou a minha vida. Katrina se afastou um pouco.
-- Não, eu demorei muito e isso quase
custou sua vida. – Soluçou. – Quando Lutho me deixou a par dos planos...
-- Lutho? – A juı́za indagou arqueando a
sobrancelha.
-- Sim, nós tı́nhamos combinado. Eu
estava com muita raiva, porém quando ele disse que o plano era tirar a sua
vida, eu não permiti... Eu te amo, Maria Fernanda, mesmo que não fique ao meu
lado...
Fernanda afastou-se, estava surpresa com
a confissão da ex-amante. Por que ninguém falou que fora o meio irmão que
tramara tudo contra ela?
-- Perdoe-me, por favor! – Catrina a
abraçou novamente aos prantos.
-- Olá!
Ambas se afastaram ao ouvir a voz da
cigana. Ela não expressava nenhuma alegria em ver a loira nos braços da
mulher.
-- Bem, acho melhor ir embora.
A cigana observou a saı́da da jovem e
fitou a amada.
-- O que ela estava fazendo aqui? Por
que estavam abraçadas?
-- A pergunta certa não é essa, a
pergunta certa é por que você, ou melhor, por que ninguém contou que foi o
Lutho o responsável pelos bandidos nos abordarem no shopping?
A
italiana percebeu a frieza naquelas palavras, era visível como ela tentava
controlar a irritação.
-- Não houve momento para falar disso
ainda. – Disse simplesmente.
A juı́za estreitou os olhos
ameaçadoramente.
-- Você e sua filha ficaram na mira do
fogo, sendo ameaçadas, maltratadas, eu levei um tiro covardemente e tens ainda
a coragem de dizer que não houve momento para falar disso? Ou será que você
e meu pai o estão protegendo?
-- Não ouse falar isso, Maria Fernanda,
pois só eu sei a dor que passei naquele dia e nos dias que se seguiram naquele
hospital. – Falou emocionada. – E quanto ao seu pai? Não tens ideia de como
ele vem sofrendo com tudo isso, pois ele teve que ver denunciarem o próprio
filho, ele tem que lidar todo dia com a dor de saber que o Lutho vai ser preso
e é ele que está mais empenhado nesse intuito para proteger você, para que
nada de ruim te aconteça novamente.
As duas se encararam durante algum
tempo, até Eva decidir ir embora sem pronunciar mais uma única palavra.
Fernanda passou a mão pelos cabelos e
ficou a pensar no que acabara de ouvir. Sabia que mais uma vez fora injusta e
sabia mais uma vez que agira errado com a mulher a quem amava demais.
Esther desceu as escadas.
Não aguentava mais ficar em seu quarto.
Tentara falar inúmeras vezes com o filho e nada de ele responder. Temia pelos
passos que ele daria, sentia uma enorme angustia no peito. Então foi quando
viu a enorme porta da mansão abrir e a bastarda do seu marido entrar.
Observou-a e mais uma vez sentiu raiva
da sua altivez. Odiava-a por tudo que fez o Lutho passar, odiava ainda mais por
existir.
Observou-a bem, nem parecia que passara
por tudo aquilo, sua postura e olhar não denunciavam o que vivera naqueles
dias. Teve um lampejo de consciência ao imaginar o terror que ela deve ter
vivido.
Sacudiu a cabeça para espantar os
pensamentos.
-- O que faz aqui? – Indagou irritada.
A juı́za encarou a madrasta. Sentiu pena
ao vê-la. A matriarca parecia ter envelhecido dez anos. Não havia mais
maquiagem, não havia mais pompa em sua imagem, apenas sofrimento.
-- Desejo ver meu pai. – Disse
simplesmente.
-- Para quê? Para exigir que ele
continue a mandar caçar meu filho? – Gritou. – Com certeza já deve ter ido
fazer a denúncia contra ele. Mil vezes, maldita seja!
-- Não se preocupe, Esther, não há
nenhuma denúncia contra o seu filho, afinal, é a palavra de pessoas sem
credibilidade contra de alguém de renome como o seu filhinho.
-- O que quer dizer? – Fernando indagou.
-- Que eu mesma fiz questão de ir à
delegacia e prestar esclarecimento sobre o que aconteceu, então, Lutho apenas
precisa de um advogado para mostrar que aquelas pessoas que estão presas não
tem provas para acusar ao seu filho.
Esther parecia surpresa com as palavras
que ouviu. Nunca em sua vida poderá pensar que a mulher que tanto odiava
poderia ter uma atitude assim. Seu orgulho não a deixou nem mesmo agradecer.
Ela saiu apressadamente do recinto.
-- Filha, você não pode fazer isso. –
O empresário se aproximou. – Ele precisa pagar pelo que fez.
A jovem o abraçou,
-- Eu passei muito tempo da minha vida
guardando rancores que não me levaram a lugar nenhum, então agora eu só
desejo poder ser feliz ao lado da Eva e ao lado das pessoas que aprendi a amar,
que aprendi a ver a importância delas em minha vida.
-- Temo que ele tente te machucar
novamente... – Fernando falou com lágrimas nos olhos.
-- Não se preocupe, vamos contratar
alguns seguranças para que isso não volte a acontecer. – Beijou-o na testa. –
Prometo!
Belluti brincava com a neta no jardim.
A fisioterapia estava ajudando muito e
em breve ele estaria andando novamente. Mirtys estava ao seu lado e era
percebıv́ el que entre os dois havia
algo mais do que uma relação entre paciente e enfermeira.
-- Vovô, posso ler sua mão?
Os dois adultos caı́ram na risada.
Andrello sabia que aquela pequena não tinha o sangue da sua filha, mas era
tão parecida na personalidade que chegava a esquecer esse detalhe.
-- Pode sim, leia, bambina!
A pequena ficou a ver as linhas da mão
do empresário.
-- Vô, quelo ver a minha tia Nanda...
Saudade dela.
-- Bem, eu acho que seu desejo se
realizou bem rápido.
A menina virou e viu a juı́za caminhar
lentamente até eles. Ela nem esperou, saiu em disparada até a jovem, mas
dessa vez não se jogou nos braços dela. Ficou parada, abraçando as pernas
dela.
Fernanda agachou-se, abraçando-a.
-- Olá, ciganinha...
Sentiu os olhos marejarem. Sentia uma
emoção tão grande em tê-la em seus braços como se ela fosse parte de si.
-- Amo vote, tia Nanda...
Ela encarou aqueles olhos tão parecidos
com os seus, aquele rostinho corado e molhado de lágrimas.
-- Oh, meu anjinho, eu também amo
muito, muito mesmo você. – Tirou o lenço do bolso e secou-lhe os olhos.
-- Não fica mais dodói, por favor. –
Pediu cheia de inocência.
-- Hun, eu não posso prometer isso, mas
posso prometer que nunca lhe deixarei. – Levantou a mão em juramento. A
criança beijou-lhe a face e sorriu.
A déspota levantou, lhe segurou a mão
e caminhou até onde estava Belluti.
-- Olá, Maria Fernanda, fico
imensamente feliz em vê-la.
-- Eu também fico! – Sorriu. – Perdão
por ter vindo até aqui, mas foi o meu pai que disse para vir, ele me telefonou
falando que o senhor desejava me ver.
-- Sente-se! – Apontou a cadeira. –
Deseja beber alguma coisa? Um suco?
-- Água!
A juı́za ficou a observar a mansão,
buscava um sinal da presença da cigana, mas nada encontrou. Desde o dia
anterior não se falaram mais, apenas ficara sabendo pela mãe que ela ligara
inú meras vezes para saber como ela estava, porém não pedira para falar com
ela em nenhum momento.
-- A Eva foi à empresa! – Andrello leu
seus pensamentos. – Mas acredito que já deve estar voltando. Isabely sentou no
colo da futura mamãe.
-- A chamei porque minha neta estava
muito triste e pedindo para vê-la.
-- Eu queria ter vindo antes, porém só
ontem recebi permissão para sair. Belluti pareceu analisá-la por alguns
segundos.
-- Myrtes, leva, por favor, a Belinha
para banhar um pouco na piscina.
-- Mas eu quelo ficar com a minha tia...
– Protestou a menina.
-- Mas você ficará, ela não irá
embora, prometo! A menina assentiu e seguiu com a enfermeira. A juı́za tomou a
água lentamente.
-- Acho que nunca tivemos a oportunidade
de conversar. – Começou o empresário. – Só naquele dia que eu expus meu plano
e a convenci a participar.
-- Não acho que tı́nhamos muito para
falar.
-- Talvez, mas acho que lhe devo um
pedido de desculpa por tudo o que passou e também por eu ter deixado-a pensar
que fora minha filha quem faz a denúncia contra você. – Encarou-a. – Eu me
arrependo muito disso e acho que se na época eu tivesse falado a verdade muita
coisa teria sido evitada.
-- Eu acho que as coisas aconteceram do
único jeito que poderiam acontecer. – Respirou fundo. – Eu amo a sua filha, me
apaixonei perdidamente por ela e por não saber lidar com esse sentimento
cometi muitos erros, porém não desisti e nunca desistirei dela.
Andrello sorriu.
-- Bem, saiba que as duas têm a minha
benção!
Esther conseguiu entrar em contato com o
filho.
-- Lutho, você não precisa mais fugir,
a Maria Fernanda não fez nenhum tipo de denúncia contra você e o advogado
que contratei já disse que não há mais motivos para se esconder.
O que tem que fazer é apenas negar
tudo, aqueles idiotas não tem provas contra ti.
-- Mama... – O rapaz falou.
Então ouviu-se um, dois, três
disparos...
Eva estacionou o carro e seguiu para a
casa.
Estava cansada.
Tivera uma manhã cheia de reuniões e
ainda precisara passar para ver algumas salas, pois estava disposta a montar o
consultório no paı́s. Senti-se feliz, pois sentia muita falta de trabalhar
naquilo que mais amava.
Sentou no sofá e tirou o celular da
bolsa.
Viu que Arthur tinha mandado mensagens.
O rapaz tinha ido à Madri para resolver alguns problemas e quem sabe se
acertar com o namorado. Sorriu!
Torcia que tudo desse certo, pois ele
merecia verdadeiramente ser feliz. Era uma pessoa maravilhosa que já sofrera
muito com o desprezo do pai.
Sentiu mãos massageando-lhe os ombros,
virou-se e se deparou com aquele olhar tão intenso. Chagaria um dia que não
se sentisse tão afetada por aquela mulher? Observou-a dar a volta e sentar ao
seu lado.
Estava linda, vestindo jeans colado ao
corpo e camisa de mangas longas, branca. Os cabelos estavam presos num rabo de
cavalo, a franja moldurava a face e usava óculos.
-- Não sabia que já tinha permissão
para sair de casa. – Tentou não demonstrar o que sentia ao tê-la tão
próxima de si.
-- Desde quando preciso de permissão
para fazer alguma coisa? – Provocou-a com aquele sorriso de canto.
A cigana deu de ombros.
-- O que faz aqui?
-- Vim ver a ciganinha... – Estendeu a
mão e tocou-lhe o lábio inferior com o polegar. – E vim ver você porque não
aguento ficar mais um segundo longe de ti.
A italiana sentiu um arrepio percorrer todo
o seu corpo. Era impossível resistir àquela mulher. Ela tinha um poder tão
grande sobre si que com apenas uma frase, tinha-a rendida nas mãos.
Mirou aqueles lábios e sentiu ganas de
beijá-los até não ter mais fôlego, porém temeu que alguém entrasse.
Levantou-se.
-- Preciso de um banho!
-- Posso subir contigo? Precisamos
conversar.
A cigana apenas assentiu e ambas
seguiram.
Permaneceram em silêncio até entrarem
no quarto.
-- A Isa deve ter ficado imensamente
feliz ao te ver. Eu a levaria hoje ao seu encontro.
Fernanda observou o enorme aposento.
Aproximou-se, tomando-a nos braços.
-- Desculpe-me pelo que houve entre
nós. Fui injusta, terrivelmente injusta.
Eva a encarou. Via a sinceridade
presente naqueles olhos.
-- Não gostei do que falou e tampouco
de ter te visto abraçada com aquela mulher. – Confessou.
-- Não há nada entre a gente. Não há
lugar em meu coração e em minha cabeça para outra mulher, só penso e só
quero você.
A italiana tomou aquela boca para si,
mergulhando e saboreando cada recanto dela. Sentiu a lı́ngua tocar a sua e
começou a sugá-la, chupando-a vorazmente, faminta por ela. Cheia de desejo a
apertou mais, foi quando cessou os movimentos ao ouvir o gemido de dor.
Afastou-se.
-- Desculpe, amor, acabei esquecendo que
você ainda não está bem.
Fernanda sorriu.
-- Não foi sua culpa, eu também me
empolguei, estou morrendo de vontade de fazer amor contigo.
O toque do celular interrompeu o momento
de ambas.
A juı́za pegou o aparelho e viu aparecer
o nome do pai. Atendeu.
Eva observou a expressão da amada mudar
rapidamente. Preocupou-se. Viu-a assentir e dizer que estava indo, depois
desligou.
-- O que houve?
Maria Fernanda respirou fundo.
-- O Lutho está morto! Ricardo atirou
nele.
-- Como?
-- Eu não sei! Estou indo para lá.
-- Eu vou contigo!
A juı́za assentiu e ambas saı́ram
juntas.
Esther precisou tomar um calmante.
A polı́cia chegara lá para dar a
notı́cia. Ricardo já estava preso. Ele confessara que atirou no italiano
porque ele se negou a lhe dar o dinheiro que havia prometido para matar a Maria
Fernanda.
Todos estavam consternados com a
desgraça que recaı́ra sobre aquela famı́lia.
A juı́za encontrou o pai no escritório
e nada fora dito, apenas o abraçou, o abraçou até ouvir o som do choro, os
soluços e a dor que era tão grande naquele momento. Não desejara nada de ruim
ao meio irmão, nem mesmo quando ficara sabendo do plano sujo que ele armou
contra si. Não havia afeto entre eles, porém de sua parte há tempos deixara
de se importar com o fato de ele odiá-la. Sabia que ele usara a cigana como
desculpa de toda essa raiva, porém o rapaz não a amou, apenas fora orgulho e
esse orgulho lhe guiara os passos e lhe levara até as últimas consequências.
Dias depois...
Maria Fernanda retornava a sua rotina de
trabalho. Havia muita coisa para ser feito, assim, se ocuparia um pouco para
não deixar a saudade aumentar ainda mais. Observou a foto da amada ao lado de
Isabely.
Respirou fundo!
Eva viajara para a Espanha no dia
seguinte a morte de Lutho. Arthur não poderá resolver todos os problemas
sozinhos e fora necessário a presença dela, mas a juı́za não pensara que essa
viagem demoraria tanto assim.
A secretária avisou da presença de
Patrı́cia.
-- Vejo que não perde tempo. – A jovem
a cumprimentou com um beijo e sentou. – Não exagere, ainda está
convalescendo.
-- Estou apenas vendo alguns processos,
nada que possa me fazer voltar ao hospital. – Recostou-se na cadeira. – E como
está tudo na mansão?
-- O clima continua péssimo. Esther
não para de chorar, está muito depressiva. Ontem o médico esteve lá,
receitou alguns calmantes, mas não parecem fazer nenhum efeito. Fernanda ficou
a girar a caneta entre os dedos.
-- Bem, é compreensível, perder um
filho deve ser como perder um pedaço de si. Eu espero com todo meu coração que
ela possa se recuperar e seguir em frente.
A jovem a encarou como se a estivesse
alisando.
-- Não sentes mais mágoa dela?
-- Sinceramente, há tempos eu cansei de
ficar batendo nessa tecla, cansei de me envenenar cada dia mais com algo que
não há como mudar.
-- Sabe, Fê, eu fico tão feliz em
ouvir isso de ti. Quando nos conhecemos senti e pude ver a raiva que parecia
sempre a ponto de explodir, porém seu olhar agora não apresenta aquele ar sombrio, até mesmo seus olhos
parecem mais vivos, um mar calmo... Tudo obra da cigana.
Ambas sorriram.
-- E para quando vai ser o casamento ou
ainda não está pronta para abrir mão da sua vida cheia de aventuras
amorosas? -- Provocou-a.
-- Não, minha linda cunhada, não vejo
a hora de está presa nos braços da minha amada e pertencer unicamente a ela.
-- E a Catrina?
-- A Catrina?—Ficou pensativa. -- Não
direi que foi um erro, afinal, tudo que aconteceu me levou até onde estou hoje, então condenar o que
ocorreu entre ela e eu é condenar a mim mesma. Não desejei feri-la, mas sempre
deixei claro que entre nós não havia nada mais do que sexo.
-- Ela tramou contra ti e contra a Eva,
não achas que ela deve ter uma punição?
-- Não, pois assim também condenaria o
próprio Lutho. Deixemos os mortos descansarem em paz.
Patrı́cia a mirou profundamente e pode
ver a verdadeira Maria Fernanda. Uma mulher forte que lutara muito para chegar
onde estava, alguém digno de respeito, alguém que podia ser dura ao extremo,
mas que quando se tratava de sentimentos, muitas vezes se perdia pelo árduo
caminho.
-- Nem acredito que estamos voltando. –
Eva sentou na poltrona do avião.
-- Nem eu! – Arthur tirou um livro da
bolsa. – Estou morrendo de saudades da Isa.
-- Nem me fale. Não imaginei que
demoraria tanto para resolver tudo. Não quis trazê-la, pois é muito
cansativo para uma criança ficar de um lado para o outro. E agora que ela
estava tão empolgada com a escola, não achei justo. Mas meu coração ficou e
ainda estar apertadinho.
-- Bem, mas ela está em ótimas mãos.
– Sorriu. – Como será que a déspota se saiu no papel de mamãe?
A
italiana sorriu, mordendo o lábio inferior.
Fora a juı́za quem se oferecera para
ficar com a garotinha e pelo que vira e ouvira da filha, ela estava se saindo
muito bem. Toda noite as viam pelo celular. Era perfeita a ligação entre elas.
Fernanda a ajudava nas tarefas escolares, preparava comidas e ainda contava
histórias.
Sorriu ainda mais.
-- Eita, tá parecendo uma boba com essa
cara. – O rapaz provocou-a.
-- Eu estava a imaginar a Maria Fernanda
fazendo as coisas que a Myrtes e meu pai falaram.
Ambos gargalharam.
-- Quem iria dizer que a arrogante
juı́za tivesse tanto talento para maternidade.
A
cigana suspirou.
-- Estou morrendo de saudades dela. Como
posso amar tanto alguém assim, Arthur?
-- Bem, eu acho que nem o Freud poderia
explicar, mas quem disse que amor precisa ser explicado hein?
-- Não vejo a hora de chegar.
-- Será
uma surpresa e tanto.
-- A Maria Fernanda ficou irritada
quando eu disse que não tinha previsão para voltar.
-- Sua déspota não parece estar
disposta a lhe largar mais viu, imaginem quando casarem?
-- Eu quero estar presa nos braços dela
para sempre... Por toda a eternidade.
-- Assim, tia Nanda?
Maria Fernanda observou a pequena cobrir
as letrinhas.
Estavam no quarto da pequena, sentada em
uma mesinha pequena, usada para fazer as lições.
A juı́za estava hospedada na casa dos
Bellutis. Andrello achara que era o melhor a fazer, pois era cansativo para a
juı́za ir e voltar todos os dias. Sabia que não havia melhores mãos para a
garotinha ficar enquanto a mãe estava viajando.
-- Sim, ciganinha! – Fernanda a tomou
nos braços, enchendo-a de beijos. – Sabia que você é muito inteligente?
-- Quelo ser zuiza igual a você.
-- Ah, quer ser “ zuı́za” é?
-- Pelo visto vou ter que apelar para
que meu próximo neto tenha algum interesse em empresas.
Ambas se viraram e viram Andrello entrar no
quarto.
O empresário já se locomovia com ajuda
de muletas e não mais na cadeira de rodas.
-- Vozinho! – A menina apontou uma
cadeirinha. – Senta. Estou “ Convertando” com a tia Nanda.
-- E é? Pois saibam as duas que já
está tarde e as mocinhas devem ir para cama.
-- Seu avô tem razão, princesa. –
Fernanda levantou-se. – Vamos banhar para ir deitar.
-- Mas e a mamãe não vai ligar?
-- Falamos com ela à tarde e ela disse
que estaria ocupada resolvendo algumas coisas, então amanhã falaremos com a
Eva.
-- Maria Fernanda está certa, pequena,
precisa dormir porque amanhã tem aula.
A babá entrou para dar banho na
garotinha, enquanto a juı́za recolhia as coisas para guardar.
-- Fernanda! – Andrello a chamou.
-- Sim?
-- Quero lhe agradecer por ter ficado
com a Isa na ausência da minha filha. Acho que assim, ela não sentira tanto a
falta da mãe.
-- Eu amo muito ambas e sempre farei
tudo para que sejam felizes. O italiano se aproximou, abraçando a jovem.
A déspota ficou sem reação, mas depois
retribuiu o gesto.
-- Bem- vinda à famı́lia. – Sussurrou,
afastando-se. – Boa noite!
-- Boa noite, senhor!
Era quase uma da madrugada quando Eva
chegou à mansão. Que bom que o pai mandou o motorista ir buscá-la. Ele era o
único que sabia do seu retorno. Arthur não veio com ela. Seguiu para o
apartamento com o namorado que retornara com eles.
Deixou as malas na sala e subiu as
escadas, tentando não fazer ruı́do. Foi direto para o quarto da filha.
A pequena dormia com um anjinho.
Sentou e depositou um beijo em sua face.
Teve vontade de acordá-la, mas era muito tarde para isso. No dia seguinte mataria
a saudade. Cobriu-a e seguiu para o próprio aposento.
Abriu a porta e observou a silhueta
deitada em sua cama. Mesmo na penumbra, era possível vê-la.
Por alguns momentos ficou a imaginar
como será maravilhoso ter aquela visão todos os dias. Tê-la em seu leito,
amá-la sem nenhum tipo de restrição. A` s vezes, chegava a achar que tudo aquilo era um sonho.
Chegou mais perto e pode ouvir a
respiração tranquila da amada. Mordeu o lábio inferior, desejosa.
Seguiu para o banheiro. Iria tomar uma
ducha.
O fez impacientemente.
Passou hidratante em todo o corpo e
retornou, deitando em pelo, acomodando-se e moldando-se as costas da mulher.
Aspirou o aroma que se depreendia do
corpo da juı́za. Sentiu-se inflamar de desejo.Tocou-lhe a pele sobre a
camisola, colando os lábios em seu pescoço, beijando-o. Posicionou a mão e
sentiu a maciez do seio em seus dedos.
Maria Fernanda sentiu as carı́cias e
chegou a pensar que se tratava de um sonho. Virou-se, ainda com os olhos
fechados.
-- Amore mio...
A italiana tocou-lhe os lábios,
desenhando-os com a lı́ngua.
Maria Fernanda abriu os olhos e pareceu
não acreditar se estava mergulhada em seus delı́rios ou na realidade.
-- Desejo tanto tê-la perto que minha
mente está a pregar-me uma peça...
-- Então, deixe-me sonhar contigo...
Eva capturou-lhe os lábios,
pacientemente entreabriu-os, invadindo-os, sentindo o sabor e a maciez deles.
A juı́za espalmou as mãos em seus
seios, massageando-os. Ouviu-a gemer e intensificou ainda mais o toque,
brincando com os mamilos, apertando-os. A cigana arrancou-lhe a camisola,
deitando-se sobre ela.
-- Meu corpo queima por ti... –
Sussurrou.
-- Eu tenho algo que pode ajudar... –
Segurou-lhe a mão e a conduziu até a calcinha.
A jovem afastou a peça e sentiu o sexo
molhado. Deslizou os dedos por toda extensão em movimentos circulares.
Fernanda cerrou os dentes ao sentir as carı́cias e protestou quando os gestos
foram interrompidos.
Eva sorriu, ajoelhando-se, beijou o sexo
sobre a peça. Exalou o cheiro, inspirou e ficou ainda mais excitada com o
cheiro da fêmea.
Cravou os dentes na calcinha e foi
retirando-a cuidadosamente. Observava os quadris da juı́za mexerem, auxiliando
na tarefa que seguia demoradamente.
-- Por favor, amor...
A italiana terminou o trabalho,
deixando-a totalmente nua. Seguiu para a ponta da cama, começando a beijar os
pés de déspota, subindo lentamente pela panturrilha, mordiscando a coxa, beijando
a parte interna da mesma.
Maria Fernanda dobrou os joelhos,
afastando-os.
A cigana acariciou-lhe a virilha, sem
tocar no sexo que parecia pulsar.
A filha de Belluti observou a amada
descer a mão até o centro do desejo, viu-a tocar em seu próprio corpo.
-- Deixe-me chupá-los... – Falou, se
referindo aos dedos.
Ela atendeu ao pedido e sentiu a jovem
sugá-los fortemente. Sentiu um frenesi se apossar de si e tremeu.
Eva sabia que ambas estavam no limite.
Há tempos não se amavam, porém desejava prolongar as carı́cias, pois sabia
que seu corpo não demoraria a atingir o ápice.
Abriu bem o sexo, deixando-o totalmente
exposto e penetrou a lı́ngua dentro dele. Ficou parada lá, sentindo,
investigando, analisando. Retirou-a e lentamente invadiu-a mais uma vez.
Fernanda gemeu ao senti-la,
movimentou-se, pois desejava muito mais do que aquilo. Sentiu as investidas
aumentarem, percebeu que não havia apenas a lı́ngua invadindo-a, mas
algo mais estancava com mais força,
deixando mais louca, totalmente descontrolada.
A cigana deitou-se sobre ela, unindo os
corpos, seguindo o mesmo ritmo dela, desejando que fosse para sempre assim.
Em pouco tempo, entre gemidos e frases
desconexas, as amantes encontraram ao mesmo tempo o poderoso orgasmo que as
levou para além de toda realidade.
Catrina estava indo embora. Sabia que
não havia lugar para si naquele lugar. Não conseguiria viver perto da juı́za,
não aguentaria vê-la e saber que não
fora a escolhida para estar ao
seu lado.
Observou as pessoas esperarem o voo,
partiria para longe, quem sabe assim pudesse esquecer tudo o que passara.
Sorriu amarga!
Como poderá um dia imaginar que ficaria
com a juı́za? Sempre estivera mais que claro que só havia uma mulher na vida
dela, Eva Belluti. Quantas vezes tivera que ouvi-la chamar por ela enquanto
dormia ou até mesmo quando estava em seus braços.
Uma lágrima solitária deslizou por sua
face.
-- Por que não me avisou que estava
voltando? – Fernanda indagou. Eva descansava em seus braços após amá-la pela
terceira vez.
-- Não tinha certeza se terminaria tudo
a tempo, então, não quis dizer, você já não parecia muito feliz na última
vez que nos falamos. – Apoiou-se, observando-a.
-- Não pode me culpar, estava morrendo
de saudades. – Acariciou-lhe o queixo. – Não quero e não posso ficar mais um
dia longe de ti.
-- Saibas que sinto o mesmo. –
Beijou-lhe. – Os dias sem ti são longos, as noites são frias... Não há cor
em meu mundo sem você. A juı́za a abraçou.
-- Casa comigo, minha doce cigana?
-- Sim, quando e onde você quiser!
Duas semanas depois...
Fernando sentiu os olhos encherem de
lágrimas ao observar a filha.
Estavam na fazenda, lá fora o lugar
escolhido pelas jovens para oficializar a relação que começara ali.
Maria Fernanda estava linda! Usava um
vestido branco que lembrava o verão, leve, fino. Seus cabelos foram adornados
com uma guirlanda de flores brancas combinando com o traje que a fazia lembrar
as fadas dos bosques.
No lugar, estava presentes algumas
pessoas.
Na grama verde, fora colocadas cadeiras,
um enorme carpete, onde o juiz esperava para realizar o casamento. Ele se
sentia privilegiado por estar ao lado da jovem, junto com Pedro e Maria.
Observou a impaciência presente no
olhar da filha. A conhecia bem para saber como ela estava agoniada com a demora
da amada.
Então, ouviram uma leve música tocar e
Eva aparecer de braços dados com os pais, tendo a pequena Isabely a frente,
trazendo as alianças.
A déspota parecia hipnotizada. Quando
seus olhos fitaram os da sua cigana, parecia que só havia as duas naquele
mundo tão grande. Nunca duvidara do que sentia e agora tinha ainda mais a
convicção que queria viver ao lado daquela mulher por toda eternidade.
Suspirou encantada! Sua futura esposa
estava linda. Uma verdadeira cigana. Os trajes tı́picos dos povos que sempre se
orgulhara pertencer. Observou-a e sorriu e ela sorriu para si. Isabely deu-lhe
os braços e ela a pegou nos seus.
-- Entrego-te meus maiores tesouros,
Vossa excelência! – Falou Belluti quando chegaram ao destino.
-- E eu os protegerei e as amarei até
meu último suspiro.
Patrı́cia sentiu os braços do marido em
sua cintura.
Observavam tudo e compartilhavam da
felicidade das duas. Seu marido tinha enorme carinho pela irmã e vê-la
finalmente sendo feliz era maravilhoso. A cunhada esperara muito por aquele
momento e sempre soubera que um dia aconteceria. Lembrou-se de tudo que elas
passaram para chegar até ali.. Viu-as chorar ao fazerem o juramento, mas
aquelas lágrimas não eram de dor, eram as lágrimas do amor realizado, da
vitória por terem conseguido estarem juntas, por terem vencidos todos os
obstáculos.
Elas tiveram sorte, pois em muitos
momentos chegaram a desistir desse sentimento, porém não se pode fugir do
amor... Não se pode vencê-lo, apenas aceitá-lo.
Três anos depois...
-- Amore mio! -- Abraçou a esposa por
trás.
-- Xiiii... -- Pediu silêncio, pondo o
dedo nos lábios. -- Quase que eles não dormem. Eva sorriu.
-- Você, precisa tomar um banho,
excelentı́ssima juı́za, está toda molhada. Fernanda a estreitou ainda mais.
-- Tive que dar banho nos dois e você
não me ajudou, então, o que esperava hein? -- Beijou-lhe a pontinha do nariz.
-- Eu estava ajudando a Ysa com as
tarefas da escola. -- Sorriu. -- Ela está te esperando, quer mostrar algo que
aprendeu na aula de música.
-- Certo, vou vê-la. – Abraçou-a. –
Precisamos mesmo ir a essa festa?
-- Sim, juı́za! Papai não nos perdoará
se faltarmos.
-- Está bem! Irei ver a Isa e sigo para
me arrumar. A italiana a beijou e deixou-a ir.
Seguiu até o berço e observou os filhos
dormindo. Dois anos antes, Maria Fernanda se submetera a um processo de
inseminação e deles resultou nos gêmeos: Maria Beatriz e Pedro Henrique.
Ambos eram mistura das duas.
Sorriu!
Cada dia que acordava e deitava ela
parava para agradecer por tudo que tinha em sua vida. Era uma mulher abençoada
e imensamente feliz. Estava ao lado do amor de sua vida e mesmo tendo a Maria
Fernanda um gênio tão forte, há muito aprendera como dominá-la totalmente e
sempre que havia algum desentendimento entre ambas, resolviam as diferenças
entre quatro paredes, fosse na horizontal ou na vertical.
Amava-a mais e mais e sabia que aquele
amor duraria eternamente.
-- Gostou, mamãe Nanda?
A juı́za estava emocionada ao ver sua
pequena, de cabelos de fogo, tocar ao piano a música que fora o tema do seu
casamento. Sentou ao lado dela.
-- Adorei, ciganinha!
-- Estás a chorar? – Tocou-lhe a face.
-- Estou apenas encantada com o seu
talento! – Abraçou-a.
Maria Fernanda amava inexplicavelmente
aquela garotinha. Era como se tivesse sido gerada dentro de si, como se um elo
invisıv́ el as ligassem. Lembrou-se do
dia que a menina perguntara se podia chamá-la de mamãe, recordou que se
emocionara muito naquela ocasião.
Sua filha!
Esther observava a foto do filho.
Ainda doı́a tê-lo perdido tão
drasticamente. Ainda sentia-se culpada por tudo que lhe ocorrera. Se não fosse
tão covarde já teria dado fim a própria vida, mas era fraca de mais para
cometer um ato assim.
Desceu as escadas. Estava sozinha
naquela enorme mansão que hoje não parecia fazer mais sentido para si. Sua
ambição, seu dinheiro lhe tirara tudo que poderia verdadeiramente lhe fazer
feliz.
Não havia mais casamento. Fernando
colocara fim ao matrimônio, mas lhe deixara muito bem financeiramente. O
enteado e a nora também decidiram deixar a casa depois do nascimento do
primeiro filho.
Estava sozinha... E isso nunca lhe doera
tanto...
Andrello recebia os convidados ao lado
de esposa, Mirtys. Casara-se com a enfermeira e estava muito feliz ao seu lado
. Em comemoração ao ser aniversário, estava oferecendo uma enorme festa.
-- Parabéns, amigo! – Fernando o
abraçou. – Está tudo muito lindo.
-- Fico feliz que tenha vindo!
-- Não poderia faltar! – Pegou um
drinque. – A Maria Fernanda e a Eva não chegaram ainda?
-- Não e temo que não venham. A sua
filha colocou um monte de obstáculos para não vir. – Disse chateado.
-- Bem, acho que a cigana a convenceu. –
O empresário completou.
Os três se voltaram para entrada e
viram as mulheres de mãos dadas. Todos do salão as observaram. Não tinha
como ambas passarem despercebidas. Eram belas em demasia e era impossível não
chamar a atenção.
-- Pensei que não viessem? – O italiano
abraçou as duas. – E cadê meus netos? Por que não os trouxeram?
A
juı́za abraçou o pai.
-- Está muito tarde para eles.
Deixamo-los com a babá. – Eva respondeu.
-- Não se preocupe, senhor Belluti,
amanhã traremos os três para lhe parabenizar. – A juı́za piscou para a
esposa.
A
cigana viu Arthur, então pediu licença e foi até ele.
Maria Fernanda viu a cunhada e foi até
ela. Sentou-se à mesa que ela estava.
-- E onde está o meu sobrinho?
-- O deixamos em casa. – O irmão
respondeu. – Isso não é festa para crianças. E os meus sobrinhos não vieram?
Os três sorriram.
O rapaz foi até ao pai e deixou as
mulheres sozinhas.
-- E como está na casa nova?
-- Está sendo maravilhoso. Ficamos
muito felizes que o senhor Fernando tenha aceitado ficar com a gente.
-- E a Esther?
-- Ela não parece bem. Estive lá
ontem, levei meu filho e acho que pela primeira vez em muitos anos, a vi ser
sincera. Acho que fez bem a visita, mas não consegue esquecer o que aconteceu
ao Luthor.
A juı́za bebericou um pouco do conteúdo
da taça. Parecia pensativa.
-- E o papai? Ele está bem?
--
Sim! E acho que está seguindo bem a vida. Acho que tem até uma namorada.
Fernanda arqueou a sobrancelha.
-- Bem, seu irmão que me disse que ele
encontrou uma antiga namorada do tempo de escola e até anda saindo para
jantar. A jovem sorriu. Pareceu gostar da ideia do pai refazer a vida ao lado
de alguém que o amasse.
Eva passou boa parte da noite
conversando com o amigo e quando retornou para o lado da esposa, percebeu que
havia uma jovem tentando chamar a atenção da déspota. Aquilo era tão normal,
sabia que a mulher era uma feiticeira e também sabia que todas desejavam ter a
mesma sorte que ela tivera.
Aproximou-se, abraçando a mulher pela
cintura.
-- Dança comigo... – Sussurrou em seu
ouvido.
Maria Fernanda nem mesmo respondeu e já
foi puxada pela cigana. A esposa enlaçou-lhe o pescoço.
-- Vejo que andou bebendo...
-- Apenas algumas taças em companhia do
Arthur... – Mordiscou-lhe o pescoço. – Eu vi como aquela mulher estava te
devorando com os olhos. A déspota sorriu.
-- Bem, eu não percebi isso... Mas se
assim o fosse, seria algo verdadeiramente inú til para ela, afinal, eu já
tenho quem me devore e não é apenas com os olhos. A juı́za a encarou e viu os
olhos negros brilharem intensamente.
Eva sussurrou-lhe:
-- Posso ler a sua mão, minha linda
déspota?
A juı́za sorriu, estendendo-a.
-- Vejo que uma noite maravilhosa nos
espera...
-- Aı́ também diz que irei possuir a
minha esposa de todas as formas possıv́
eis e impossıv́ eis? Eva sentiu
um arrepio percorrer todo o corpo.
-- Sim, diz que você tentara dominá-la em seus braços... Mas também diz que acabara sendo gostosamente dominada...
Ambas sorriram... Os olhares se encontram... Já se conheciam... Mas
continuavam fascinados...
Pena que acabou 😪
ResponderExcluirParabéns!
Perfeito!
Maravilhosa acabei de ler pela.quarta vez e.continuo me emocionando com Eva e Maria Fernanda. Já disse que adoro as suas histórias??🥰🥰🥰😘
ResponderExcluirParabéns, linda historia. Você escreve muito bem, continue assim. Te desejo muito sucesso. Bjuss.
ResponderExcluirPerfeita, que vc nunca remova, nem a história e nem o site, seus romances são maravilhosos
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