A déspota - Penúltimo capítulo
Maria Fernanda deitou de lado, ficando
de frente para ela. Observou-a... Vendo-a com os olhos fechados. Estaria a dormir?
Estendeu a mão e tocou-lhe os lábios,
delineando com os dedos, então os olhos negros se abriram, encarando-a,
estavam com lágrimas.
-- Por que gostas de provar o seu poder
sobre mim? – A cigana parecia magoada.
A juı́za sorriu de forma tão doce que a
italiana pareceu esquecer um pouco da fúria.
-- Porque eu te amo tanto que não
consigo resistir a ti.
Eva estreitou os olhos e observou o azul
profundo que se mostrava. Havia uma sinceridade nunca vista antes. Não era o
olhar debochado da vencedora, mas o olhar apaixonado que sempre fazia sua pele
arrepiar.
Fernanda levantou-se e seguiu para o
outro cômodo.
A jovem Belluti observava encantada a
beleza daquele corpo nu. Notou que em suas costas havia alguns arranhões,
decerto, foram feitos na hora que o prazer fora tão intenso que não podera
expressá-lo apenas por gemidos e gritos.
Sentiu-se
sozinha sem a déspota ao seu lado.
Respirou fundo!
O que deveria fazer era se vestir e ir
embora. Ainda sentia-se irritada por ter encontrado a Catrina acompanhando a
amada.
Maldito ciúmes!
Decidiu ver o que a juı́za estava a
fazer.
Ao adentrar ao banheiro, encontrou a
jovem na enorme tina. Estava com a cabeça inclinada para trás e os olhos
fechados. As espumas não permitia que pudesse ver o delicioso corpo.
Aproximou-se, agachou e começou a
massagear-lhe os ombros.
Maria Fernanda assustou-se, mas
continuou na mesma posição. As mãos delicadas tocavam com precisão e
sabedoria. Segurou-as beijando-a.
-- Eu te amo tanto... – Trouxe-a para
si.
Eva soltou gritinhos ao sentir o contato
com a água, mas mesmo assim posicionou-se sentada entre as pernas da juı́za,
misturando as longas pernas.
-- Eu fiquei louca de ciúmes ao vê-la
ao seu lado... – Fitou-a. – Não sabe como fiquei com raiva, pensei que... –
Mordeu o lábio inferior.
-- Amor, eu sei, entendo, porém você
não pode simplesmente tirar conclusões precipitadas... – Tocou-lhe a face. –
Só peço que sempre me dê a oportunidade de explicar o que se passa.
Uma lágrima rolou da face da cigana.
A juı́za a abraçou, sussurrando palavras
de amor em seu ouvido. Acalentava-a como se fosse uma criança que necessitava
apenas de cuidados. Eva apertou-a ainda mais, estreitando-a, parecia temer que
algo a tirasse de si.
-- Amore mio...
Fernanda segurou-lhe o rosto nas mãos e
beijou-lhe os lábios. Tocou-os sem pressa, sentindo a maciez e o delicioso
sabor presente neles. Aceitou de bom grado a lı́ngua que se oferecia
timidamente. Chupou-a, puxando-a, sugando-a com paixão.
-- Eu sou louca por ti, minha cigana...
Abraçaram-se novamente.
-- Por que você não me ligou? Estavas
tão ocupada assim? – Indagou, fitando-a. Recordou das palavras do pai.
-- Eu não sabia o que dizer... –
Afastou-se um pouco. – Não queria falar pelo telefone...
-- O que houve?
Cobriu o rosto com as mãos.
-- Papai quer ir embora para a Espanha,
quer vender tudo ao seu pai...
A juíza parecia pensativa e só depois
questionou:
-- Por que não me disse antes? Deveria
ter ligado e falado...
-- Ele falou comigo hoje de manhã e nem
mesmo sabia o que fazer... Eu passei tanto tempo pedindo isso a ele que acabei
ficando sem ação.
-- Então, você vai embora? – Perguntou
apreensiva.
Eva negou com a cabeça.
-- Eu não consigo ficar longe de ti, eu
não consigo mais me imaginar sem você... Eu não consigo.
Fernanda a abraçou forte.
-- Não irei embora, não te deixarei...
As bocas se encontraram mais uma vez,
dessa vez com urgência. As mãos exploravam os corpos... A juı́za levantou-se,
trazendo-a consigo, caminharam até o carpete, onde se deitaram.
Os corpos se tocaram, levando-as mais
uma vez ao ápice do prazer. Amando-se, jurando amor eterno, permitindo que a
paixão as dominassem e mais uma vez ambas saı́ram vencedora naquela batalha.
-- Como não? – Lutho indagava irritado.
Ele tinha ido ao apartamento de Ricardo.
-- Eu já disse, não adianta. – Colocou
a bebida no copo e tomou de uma vez. – Você não entende? Se eu continuar aqui
poderei ser preso.
-- Eu quero a Eva! – Segurou firme no
braço do empresário. – Não permitirei que ela fique com a Maria Fernanda!
-- Então se vire, pois pra mim já deu.
– Desvencilhou-se. – A maldita juı́za está me investigando e não demorará
muito para ela descobrir algumas coisas incriminadoras.
-- Mas e a pirralha? Tı́nhamos tramado
tudo.
-- Que parte você não entendeu? Eu nem
mesmo poderei continuar aqui. Estou vendendo tudo para ir embora.
Lutho o segurou pela gola da camisa.
-- Escute, seu idiota, você não irá
sair assim. – Apertou mais. – Eu tenho um plano para que saias dessa história
ganhando muito dinheiro e eu sairei como herói e casarei com a Ricardo ouvia o
plano, mas não acreditava que pudesse dar certo, mas mesmo assim acabou se
interessando, pois se desse certo ganharia uma boa quantia.
Patrı́cia estava na mesa de jantar. O
marido terminava a refeição, enquanto Fernando parecia preocupado.
-- Você precisa falar com a Maria
Fernanda, Patrı́cia. – O magnata insistia. – Ela precisa entender que essa
garota não é para ela.
-- Papai, por que o senhor não deixa
que ela decida o que é melhor para si? – O primogênito se pronunciou. – E
também não acho que a Eva seja uma pessoa ruim...
-- Se não fosse ruim não teria
abandonado a sua irmã... – Alterou-se.
-- Senhor Fernando! – Patrı́cia começou
calmamente. – Tenho grande respeito pelo senhor, mas não ficarei calada,
primeiro porque gosto de mais da Fê, segundo porque acho que está julgando
mal a garota. – Tomou fôlego. – Não esqueça que a Fernanda não fora nenhuma
santa, ela agira muito mal com a filha do senhor Belluti, certo, que fora
impulsionada por mal entendidos, porém, ainda assim, fora muito cruel. Mesmo
assim, há amor entre elas e eu não deixarei de apoiá-las, espero do fundo do
meu coração que elas possam se entender verdadeiramente, pois depois que tudo
que passaram, elas merecem ser felizes.
O empresário pareceu tocado com as
palavras da nora.
-- Eu só quero que a minha filha seja
feliz. – Disse sem jeito.
-- Então saia do time que está
torcendo contra.
Patrı́cia sentiu a mão do marido tocar
a sua e viu o sorriso doce que ele lhe dirigiu.
Ela sabia como fora difı́cil seu
casamento, tivera que lidar com o vı́cio do esposo, mas hoje colhia os frutos
da relação, acreditava profundamente no amor e que esse deveria ser sempre
colocado em primeiro lugar.
-- Não quer entrar? – Eva indagou à
amada.
Elas estavam em frente à mansão,
dentro do veı́culo.
-- Está um pouco tarde, amor. –
Beijou-lhe a mão. – Mas o que eu queria mesmo era passar a noite ao seu lado,
dormir bem agarradinha e te despertar com beijos, porém não acho que o senhor
Andrello iria gostar. – Fez careta.
A cigana sorriu.
-- Não se preocupe, amanhã mesmo
falarei com o senhor Belluti, direi a ele que estou perdidamente apaixonada por
uma certa déspota e que vou me casar com ela.
-- Casar? – Fernanda arqueou a
sobrancelha. – Eu não me lembro de ter aceitado isso não viu, perder a minha
liberdade...
A italiana a beliscou e ambas caı́ram na
risada.
-- Estou brincando... Estou brincando...
Eu caso a hora que você quiser, se desejar eu mesma realizo o casamento. –
Dizia sorrindo.
-- Acho bom, viu, amanhã mesmo mandarei
fazer nossas alianças. Quero daquelas bem grossas para que não passe
despercebido que você já tem dona.
-- Certo, minha cigana, mas saiba que
há tempos eu já estou marcada com esse amor... Você está dentro de mim e
não há nada e nem ninguém que possa
te tirar daqui ou ocupar esse lugar.
Lutho observava de longe as duas
mulheres e cada vez mais sentia o ódio se apossar de si. Destruiria ambas, mas
a Maria Fernanda ela mandaria para o inferno, seu plano era matá-la, só assim
poderia se ver livre dela.
Tinha um bom plano, não seria
descoberto e no final teria a Eva em suas mãos, aı́ ela pagaria caro por tudo
que lhe fez.
Fotografou-as com o celular, em seguida
deu partida no carro. Tinha um encontro com alguém que lhe ajudaria muito a
concretizar seus sonhos.
Belluti estava na varanda do seu quarto.
Observou a filha sair de um carro que
não era o dela. Tentou visualizar de quem se tratava, mas estava longe para
aquilo. Deu apenas para perceber que se tratava de uma mulher. Myrtes entrou no
quarto.
-- Seu remédio, senhor.
Ele virou-se para a enfermeira.
-- Você sabe com quem a Eva estava?
Vi-a chegar acompanhada de uma mulher, porém não tive como ver de quem se
tratava.
A mulher se aproximou da janela,
observando.
-- Ah, eu acho que se trata da filha do
senhor Pedro, não consigo ver bem, mas lembro do carro de outras vezes que
esteve aqui.
-- Maria Fernanda? – Indagou surpreso.
Ela entregou-lhe o copo com água e o
comprimido.
-- Eu não sei o nome dela.
O empresário ficou a ponderar por
alguns segundos. Não sabia que a filha cultivava algum tipo de amizade com a
juı́za, ainda mais depois de tudo que ocorrera entre ambas. Sempre se sentira
culpado por não ter dito a Fernanda que não fora a sua filha que fizera a
denúncia. Era um peso que continuava a levar dentro de si. Na verdade, se
arrependia desde o momento que tramara aquele plano louco. Desesperava-se ao
pensar que algo de ruim poderia ter acontecido à filha.
Tomou o remédio.
-- Peça a Eva para vir aqui comigo,
desejo falar-lhe.
-- Mas já está tarde, senhor...
-- Será rápido. – Sorriu. – Por favor.
Myrtes assentiu e saiu para fazer o que
lhe fora pedido.
Eva beijou mais uma vez a amada e seguiu
para a casa.
Inspirou o ar leve da noite e sentiu o
coração se encher de amor. Precisava sim controlar um pouco mais aquele
ciúmes, porém, não era algo fácil para si. Desejava a juı́za ao seu lado o tempo todo, era seu maior sonho
construir uma famı́lia consigo.
Estava a subir as escadas, quando ouviu
alguém chamando-a.
-- Senhorita!
-- Olá, boa noite! – Cumprimentou à
enfermeira.
-- Boa noite. – Sorriu. – Seu pai deseja
lhe falar.
-- Aconteceu algo? – Perguntou
preocupada.
-- Não, não, ele apenas a viu chegando
e pediu para chamá-la.
A cigana olhou o relógio. Já era um
pouco tarde para uma visita. Teria ele conseguido ver a cena do beijo? Apressou
ainda mais o passo.
Encontrou-o já em sua cama.
Aproximou-se, beijando-o na face.
-- Olá, bambina! Sente-se! – Bateu na
cama ao seu lado.
A italiana se acomodou, segurou-lhe a
mão.
-- Está se sentindo bem?
-- Sim, estou, não se preocupe. –
Sorriu. – Apenas estava eu a observar a noite pela varanda e te vi chegar. –
Falou, encarando-a. – De inı́cio não conheci com quem estavas, mas a Myrtes
disse que se tratava da filha do Pedro.
A cigana engoliu em seco.
-- Não sabia que tinham uma amizade, na
verdade, pensei que você não gostasse muito dela por tudo que se passou.
A italiana pigarreou.
-- Eva, posso te fazer uma pergunta?
A jovem apenas acenou afirmativamente
com a cabeça.
-- Você teve algum tipo de
relacionamento com a filha de Pedro?
A cigana pareceu incomodada, se
levantando. Caminhou até a janela e ficou a pensar.
Seu pai sabia que ela era casada com a
Luı́za. Ela dissera tudo para ele, até mesmo porque fizera isso, porém
Andrello não conhecia a sua história em relação à juı́za. Nunca mencionara
nada sobre tal assunto.
Virou-se.
-- Papai, eu sou completamente
apaixonada pela Maria Fernanda! – Soltou de uma vez, sem nem mesmo dar pausa
para respirar.
Bellluti a fitou.
Observou o belo rosto ser totalmente
tingido pelo vermelho.
Lembrou-se do dia que ela lhe falara que
iria embora, ouviu-a contar em lágrimas sobre o pouco tempo de vida que tinha
a mãe de Isabely e como desejava ficar ao seu lado durante aqueles momentos.
Recordou de como ficara chocado ao saber que a filha havia se casado com a
Luı́za, porém sempre achara que tudo aquilo fora feito para preservar a
segurança da neta.
O empresário arqueou a sobrancelha em
busca de mais explicação.
-- Eu me apaixonei por ela... Só isso
que posso dizer... – Mordeu o lábio inferior.
-- Quando isso aconteceu? Depois que
retornou da Espanha?
Eva sentou em uma poltrona, respirou fundo e
respondeu:
-- Apaixonei-me quando o senhor me
obrigou a ficar presa à mercê dela.
-- Mas como? Isso parece impossível,
afinal, você foi embora e casou com outra, sem falar que sempre demonstrara
desagrado em relação à juı́za.
-- Ok, acho que chegou o momento de
contar-lhe tudo... Espero que não esteja com sono, pois é uma história longa e
complicada.
-- Olá, Catrina!
A loira sentiu o beijo em sua mão.
Sorriu e apontou a cadeira para ele sentar. Ficara surpresa ao receber o
convite do italiano para jantar. Observou o ambiente luxuoso e viu a elegância
que o homem se vestia.
-- O que você deseja de mim? – Foi
direta. – Disse-me que tinha algo para me propor que iria me interessar.
-- Sim! – Abriu a maleta e tirou umas
fotos, entregando-lhe.
A jovem observou as imagens. Maria
Fernanda e Eva no shopping, outra de ambas se abraçando em frente ao fórum e
tantas outras mais que preferiu não ver.
-- Veja, observe como essas duas
mulheres nos fizeram de bestas. – Pediu um drinque. – Você foi usada durante
todos esses anos e agora foi totalmente descartada, eu fui ferido em meu ego.
Ofereci tudo para a italiana e ela me traiu da pior forma possível.
-- E? – A mulher arqueou a sobrancelha
de forma indagadora.
-- Você não se sente mal por isso?
Não gostaria que essas duas pagassem caro por ter brincado com nossos
sentimentos?
A loira pegou uma das fotos. Observava o
sorriso da juı́za. Como desejara aquele mesmo sorriso dirigido a si. Fizera
tudo por ela, perdera anos de sua vida para estar ao lado dela. Fizera o papel
de esposa, quando ela tinha outras, esperara pacientemente porque sabia que era
para os seus braços que ela sempre retornava. Esperara toda noite por sua
ligação e quando isso ocorria não media limites, não se importava com o
horário, corria ao seu encontro para lhe dar o conforto que necessitava... E
agora fora descartada com um móvel que não servia mais para a decoração da
nova casa...
-- Eu as odeio mais do que tudo...
Gostaria de vê-las queimar no inferno...
Lutho sorriu, levando a taça aos lábios
e bebendo lentamente o conteúdo.
-- Tenho uma forma de fazermos as duas
pagarem por tudo que nos foi feito. – Entregou-lhe a taça. – Beba que lhe
contarei...
Maria Fernanda acordou, tomou banho e
sentou para o desjejum.
Pegou o celular e retornou a ligação
para o detetive. Estava bem próxima de enquadrar de uma vez por todas Ricardo,
assim, livraria de uma vez por todas a Isabely das ameaças do bandido. Iniciara
as investigações quando tivera em suas mãos o relatório sobre o processo.
Mesmo não tendo nada ainda com a cigana, sentira uma necessidade enorme de
proteger a garotinha, nem mesmo sabia o porquê disso.
Ficou feliz ao ouvir o detetive
confirmar suas suspeitas, agora poderia entregar ao ministério pú blico tudo
o que havia descoberto. Desligou com um enorme sorriso.
Ouviu o toque do aparelho novamente e
viu o nome da cunhada aparecer. Atendeu.
-- Bom dia, Patrı́cia!
-- Bom dia, juı́za, esqueceu de mim foi?
-- Como poderia esquecer? Você nem
mesmo permite isso e já me liga.
-- Sei... Venha almoçar comigo na
mansão e não invente desculpas, pois hoje você nem mesmo trabalha.
-- Ok, mas qual a verdadeira razão do
convite?
-- Apenas desejo vê-la ou você não
pode vir porque a sua cigana te prendeu na cama?
Fernanda gargalhou alto.
-- Quem deras se assim o fosse... Quem
deras...
-- Deixe de saliência. Encontro-te no
almoço.
-- Eu irei porque estou com saudades de
ti.
-- Então, você contou tudo para o seu
pai? – Arthur indagou. Eva estava se arrumando.
--
Sim! – O mirou pelo espelho. – Estava mais do que na hora dele saber de tudo. O
rapaz dramático jogou-se na cama.
-- Que coragem hein, quando penso que
meu pai me odeia por eu ser gay... E ele descobriu sozinho.
A
italiana caminhou até ele, sentando e trazendo a cabeça do amigo para o colo.
-- Eu sei como você ainda sofre por
isso e acredite, eu acho muito cruel da parte da sua famı́lia, porém o melhor
é que não se martirize por isso. Um dia, talvez, as pessoas possam
compreender que não temos como escolher, ou melhor, nossa escolha não tinha
como ser diferente.
-- Ah, amiga, eu tenho tanta sorte de te
ter em minha vida. – Sorriu com lágrimas nos olhos. – Você e a ciganinha são
minha famı́lia.
Eva o beliscou.
-- Pare de chamá-la assim. –
Levantou-se.
-- Ah, eu não posso, afinal, não tenho
olhos azuis e corpo escultural. –Provocou-a.
-- Não mesmo!
O rapaz deu de ombros.
– Mas diga-me o que seu pai disse depois
de saber de tudo?
-- Eu saı́ do quarto e nem mesmo esperei
a reação dele, acho que tive medo.
-- Vai ficar tudo bem! – Levantou e
abraçou-a. – Tio Andrello aceitava você sendo cigana e lendo as mãos das
pessoas, imagina sendo esposa de uma juı́za tão linda... Subiu de nível.
Ambos riram com a brincadeira.
Esther estava em seu quarto quando viu o
carro de Maria Fernanda entrar pelo enorme portão.
Tentou ligar para o filho e mais uma vez
ele não atendeu. O italiano ficara irritado, pois ela não concordara com o
plano que ele estava traçando. Temia que desse errado e o filho acabasse ido
parar na prisão.
Observou com olhar de ódio a forma
orgulhosa como a filha do marido caminhava, nem parecia ser a filha de uma
maldita prostituta drogada.
-- Desgraçada! – Falou baixinho.
Desde que ela entrara na vida deles,
tudo desandou. Primeiro ela roubara a noiva de Lutho e depois por sua culpa o
rapaz perdera o controle das empresas do pai. Se ela sumisse, como o filho
planeja, tudo poderia voltar a ser como era antes, porém e se não desse
certo? Era muito arriscado.
Maria Fernanda foi recebida com um
afetuoso abraço do pai o que a deixou surpresa.
-- Não sabe como estou feliz por ter
vindo, filha. – Colocou o braço sobre seus ombros. – O almoço será servido em
pouco tempo, mas antes gostaria de conversar contigo.
Seguiram para o escritório.
Fernanda sentou, mas o empresário
continuou de pé.
-- Eu sei que nosso último encontro
não foi um dos melhores, mas eu fiquei preocupado com o que poderia acontecer
com você novamente...
-- Papai, se o senhor deseja continuar
falando mal da Eva, acho melhor eu ir embora. – Interrompeu-o, se levantando.
-- Sente-se. – Pediu. – Deixe-me
terminar.
A juı́za suspirou impaciente, mas fez o
que lhe foi dito.
-- Veja, me portei mal, porém o fiz
porque não desejo de forma alguma vê-la sofrer mais uma vez. – Aproximou-se e
sentou próximo a ela, encarando-a. – Filha, você não sabe como meu amor por
ti é grande, sou capaz de dar a minha própria vida para ver-te feliz. –
Mostrou-lhe os pulsos. – Se precisares, terás até a última gota do meu
sangue. Você não imagina como mudei depois de te encontrar, como agradeço por
ter tido essa oportunidade e de forma alguma desejo perder isso que
conquistamos com tanto esforço.
A déspota viu os olhos do pai
lagrimarem.
-- Se a sua felicidade é a filha de
Andrello, então eu te apoiarei, estarei sempre ao seu lado, seja qual for a
sua escolha.
Fernanda o abraçou forte.
Aprendera a amar aquele homem duro,
aprendera a vê-lo e respeitá-lo como seu pai. Muitas vezes, não demonstrava
esse grande amor que sentia, mas ele continuava ali, ao seu lado, protegendo-a,
dando o máximo para que ela pudesse seguir sempre em frente.
-- Eu te amo, seu velho chato! –
Sussurrou.
-- Eu te amo mais, minha rebelde juı́za.
O almoço transcorreu em um clima
maravilhoso, até Esther aparecer. Lógico que ela se manteve quieta, temia a
fúria do marido, ainda mais agora que perdera praticamente todo o controle que
tinha sobre as empresas.
Maria Fernanda ficou um pouco mais,
porém combinara de sair com Eva e com a filha, sendo assim, despediu-se e
seguiu buscá-las.
-- Estou ponta, mamãe! – A garotinha
surgiu com o rosto todo pintado.
Arthur não segurou o riso.
-- Isa, pelo amor de Deus, o que você
fez?
A italiana pegou a garotinha nos braços.
Ela estava toda suja de batom.
-- Tô bonita?
O rapaz riu ainda mais alto ao ver a
cara que a amiga fez.
-- Olha, deixa de ser chato e vai lá
para baixo e pede para Fernanda esperar um pouco, vou tentar dar um jeito nessa
palhacinha.
A juı́za olhou a hora mais uma vez.
Fazia vinte minutos que estava sentada
ali, naquele enorme sofá, daquela sala tão elegante, esperando a futura
esposa e a futura filhinha. Ouviu passos na escada e o coração acelerou, mas
era apenas Arthur.
-- Você poderia, pelo menos, disfarçar
a cara de decepção.
-- Onde está a Eva?
-- Calma! Ela já está descendo, mas se
quiser, pode subir.
-- Não, eu a esperarei aqui.
O jovem sentou.
-- E então? Quando pensa em casar com a
minha amiga? Veja, a minha linda cigana não é mulher para ficar sendo
enrolada.
Fernanda deu aquele sorriso meio de lado.
-- Não sabia que você tinha interesse
nesse assunto.
-- Lógico que tenho viu, dona déspota,
não pense que não estarei de olho em ti e ai de você se fizer a minha Evinha
sofrer.
-- Tia Nanda!
Isa entrou correndo e se jogou nos
braços da juı́za.
-- Olá, ciganinha! – Beijou-lhe a face.
– Nossa, como você está linda com esses cachinhos da cor de fogo.
-- Eu tava mai linda, mas mamãe me
limpou.
A juı́za mirou a amada que acabava de chegar.
Achou-a ainda mais bela, vestindo jeans, camiseta e um casaco. Os cabelos
presos em um rabo de cavalo dava um a ela um visual ainda mais jovem.
-- Sim, você estava parecendo a
palhacinha do circo. A garotinha gargalhou divertida.
-- O que houve? – A juı́za perguntou.
-- Nada, amore mio, vamos, se não
perderemos o filme.
A déspota levantou com a pequena nos
braços.
Despediram-se de Arthur e seguiram até
o carro.
-- Vamos em meu carro, pois lá tem a
poltrona para a Isa.
-- Certo!
Depois de acomodar a filha, ambas
entraram.
-- Estou morrendo de saudades! – Fernanda
chegou bem perto e falou em seu ouvido.
Eva sorriu.
-- Eu também estou, você não imagina
quanto.
A cigana mirou a filha brincando no
banco de trás. Aproximou-se da juı́za e deu um beijo no cantinho da boca, em
seguida deu partida no veı́culo.
-- Por que demoraram tanto?
-- Porque mamãe não gostou da minha
maquiragem.
A
cigana riu ao se lembrar do episódio.
-- Não estou entendendo.
-- É o seguinte, a minha traquina filha
já estava pronta, quando eu me distrai por alguns segundos, ela me aparece
toda pintada de batom.
-- Não tem como negar que é sua filha.
-- Estamos seguindo-a, senhor!
-- Ok, já sabem o que devem fazer. Se a
juı́za levar um tiro acidental não terá problemas, agora tentem fazer esse
acidente bater direto no coração.
Desligou o celular.
Estava em um barzinho, era bom ter um
monte de gente naquele lugar.
-- Estou com medo! – Ricardo falou. – E
se isso não der certo?
-- Vai dar. – Bebericou. – Está tudo
sobre controle. Vamos ter a garotinha, muito dinheiro e no final ainda vou me
casar com a Eva. – Sorriu. – E o melhor é que minha adorável meia irmã vai
morrer.
Catrina andava de um lado para o outro.
Era a quinta vez que tinha ido ao
banheiro, apenas para não demonstrar o nervosismo que estava a sentir. Lutho
ligara há alguns minutos, informara o que estava a ponto de ser feito.
Lavou o rosto, estava suando mesmo não
estando calor naquele lugar.
De manhã cedo, ela recebera em seu
prédio um lindo carro importado. Sabia que aquilo era apenas o começo do que
receberia se o plano desse certo. Lembrou que usara o pai da juı́za para saber
sobre o seu paradeiro e assim informar ao italiano.
Mirou-se no espelho.
Recordou quando estivera pela última
vez com Maria Fernanda. Lembrou-se de tudo que ela fizera por sua famı́lia,
até mesmo pagara um advogado para livrar o irmão da cadeia, sem falar que
conseguira um trabalho para ele.
Odiava-a com todo coração por não ter
sido a escolhida, mas também a amava mais do que qualquer coisa. Apesar de
tudo, fora a juı́za quem a protegera e cuidara de si todos os dias que
necessitara.
-- Por que você teve que voltar, Eva?
Nunca tivera nada contra a italiana, na
verdade, se não fosse ela a escolhida por Fernanda, talvez, pudessem até ser
amigas.
Mas quando recordava de que ambas
estavam juntas, rindo de sua cara, então o ódio pelas duas se tornava mortal.
Maria Fernanda desceu do carro. Estavam
no estacionamento do shopping. Sentiu um arrepio na espinha.
Deu a volta, abrindo a porta para Eva
sair, em seguida pegou Isabely nos braços. Ouviu o som do celular tocar
insistentemente.
Quem poderia ser?
-- Tia Nanda, ta tocando. – A pequena
avisou.
-- Deixa que eu pego para ti. – Eva
abriu a bolsa e tirou o aparelho.
A
cigana não gostou de ver de quem se tratava, mas mesmo assim entregou-lhe. A
juı́za observou por alguns segundos, até decidir atender.
-- Alô!
-- Maria Fernanda, apenas escute, saia
imediatamente de onde você está... Por favor...
A
juı́za ainda estava confusa, quando de repente um carro preto freou perto
delas. Homens mascarados saı́ram do veı́culo, apontando armas para elas.
-- Fiquem paradas ou eu atiro! –
Gritavam.
Eva ficou parada ao lado da déspota.
-- O que vocês querem? – Fernanda
tentou se mantiver calma. – Podem levar o carro, tem dinheiro e cartões em
minha bolsa.
Olhou para a criança e para a cigana. Via o
medo no olhar de ambas. Segurou a garota firmemente.
-- Não precisam disso, não iremos
esboçar nenhum tipo de reação.
-- Cala a boca! – Um dos caras gritou. –
Não gostamos de juizinhas metidas. – Aproximou-se, apontando a arma em sua
cabeça. – Dê-me a garota ou você deseja que ela presencie a sua morte.
-- Não, por favor! – Eva tentou se
aproximar, mas outro bandido a segurou.
-- Fique calada ou eu mato todas vocês.
-- Nós ficaremos calma... – Fernanda
tentava negociar. – Levem tudo o que quiserem, mas não as machuque. – Pedia.
-- Eita que a juizinha é muito valente.
– Engatilhou a arma. – E se eu apertar aqui, seus lindos miolos vão sair
voando.
Maria Fernanda o encarou.
-- Façam o que quiser comigo, mas
deixe-as ir.
Eva começou a tremer. Temia o que
poderia fazer com elas, pior, era perceptível que o alvo deles parecia ser a namorada. Observou a filha e notou que
havia algo estranho com ela, parecia concentrada, era como se soubesse que
deveria ficar quieta.
-- Chega, disso! – Outro cara saiu do
carro. – Dê-me a garota, nada acontecera com ela.
A juı́za sabia que precisava colaborar,
temia o que estava por vir, porém precisava garantir que a italiana e a filha
não seriam feridas.
Ela fez um gesto afirmativo com a
cabeça, agachou e colocou a garotinha no chão. Olhou bem para aqueles olhos
azuis, observando-a bem.
-- Princesa, você irá com sua
mamãe... – Sussurrou-lhe ao ouvido.
-- Tia Nanda...
A juı́za notou as lágrimas que já
saiam de Isa.
-- Vai ficar tudo bem...
-- Vem comigo, tia...
A menina foi afastada por um dos homens.
A déspota levantou-se, viu a pequena se jogar nos braços da mãe. Observou o medo no olhar da amada.
De repente ouviu sirenes e tudo apagou.
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