A déspota - Capítulo 35
Eva não dormira, ficara um tempo na
cama ao lado da juı́za.
Observava-a dormir tranquilamente.
Abraçou-a, sentindo aquele cheiro suave e forte, o corpo firme que se encaixava
perfeitamente ao seu.
Lembrou de que precisava ligar para que
trouxessem o jantar. Levantou-se e seguiu para o banheiro. Relaxou sob a ducha
por alguns segundos, fechando os olhos e recordando os momentos que tiveram há
algumas horas.
Sentiu
a pele queimar ao lembrar-se de como fora ousada e de como a juı́za lhe dera
prazer de forma inusitada. O toque ainda era sentido...
-- Ain... – Gemeu...
Pegou a toalha e se secou lentamente.
Vestiu o roupão e seguiu para fora do recinto.
Mirou a cama e viu a amada deitada de
bruços. As formas poderia ser comparada a da própria Afrodite, mirou as costas
onde ainda poderia se ver algumas marcas das dores da infância, as nádegas
redondas e bem feitas a fez desejar tocá-la novamente.
Aproximou-se, cobrindo-a.
Sorriu.
Foi para sala e discou o número do
restaurante, pedindo que trouxessem o jantar. Depois, ligou para casa e pediu
para falar com Arthur.
-- A Isabely ainda está dormindo?
-- Sim, amor, ela acordou, tomou o leite
e voltou a dormir.
-- Vou demorar um pouco ainda. – Disse
apreensiva.
-- Eva, por que não passa a noite com
sua amada? Já disse que posso cuidar da Isa.
-- Ai, Arthur, eu nunca fiquei longe da
minha filha, fico preocupada. Não, eu vou explicar a Maria Fernanda...
-- Xiiiiiii... Deixe disso, essa é a
primeira vez desde que você partiu com a Luiza que realmente está fazendo
algo para si, todos esses anos sua vida foi praticamente vivida em função de
outros. É apenas um dia, meu anjo, aproveite, você merece.
A juı́za tateou a cama e percebeu que
estava sozinha. Ficou um pouco confusa e aos poucos recordou o que se passara e
onde estava. Sorriu extasiada.
Levantou e percebeu que o roupão,
preto, estava estendido sobre a poltrona. Vestiu-o e seguiu em busca de sinais
da cigana.
O corredor estava na penumbra, caminhou até
a sala e encontrou a jovem falando ao telefone. Ela estava apreensiva, notou
que ela estava a falar com o amigo sobre a filha, andando de um lado para o
outro na enorme sala.
Aproximou-se abraçando-a por trás.
Eva teve um sobressalto, mas logo se acostumou
às carı́cias que estava a receber no pescoço e na cintura. Aconchegou-se mais
a sua déspota.
-- Qualquer coisa que eu decidir, te
aviso. Beijos. – Encerrou a chamada.
-- Algum problema, meu amor? Tudo bem
com a ciganinha? – Virou-a para si.
A
italiana fez uma careta de desagrado, o que arrancou risos da morena.
-- Responde... – Beijou-lhe a pontinha
do nariz.
-- Apenas fico preocupada em deixar a
minha filha sozinha. – Mordeu o lábio inferior.
Maria Fernanda fitou os olhos negros e
percebeu como havia um sentimento maternal presente neles, era incrível ver o
amor que ela sentia pela garotinha.
-- Oh, meu lindo anjo, vamos nos vestir
e ir para casa. – Beijou-lhe os lábios. – Não desejo de forma alguma que
você fique tristonha e tampouco quero que a ciganinha fique sem os denguinhos
da mamãe.
Eva acabou rindo, mesmo não gostando
que a juı́za chamasse a Isa daquele jeito, era quase impossıv́ el não achar graça do feito.
-- Não vai ficar irritada se eu não
passar a noite contigo? – Acariciou-lhe a face.
-- Amor, o que eu mais desejo é poder
acordar ao seu lado, ver sua carinha de sono e te encher de beijos... porém,
não desejo que fique triste por estar longe da pequena.
A
cigana a abraçou forte.
-- Eu te amo, amore mio...
Fernanda capturou-lhe a boca, saboreando
lentamente cada canto, buscando com a lı́ngua explorar todas as áreas... O
interfone tocou interrompendo o momento. Ambas se separaram sem fôlego.
-- A comida chegou.
A juı́za a puxou para si.
-- Eu prefiro comer outra coisa... –
Mordeu o lábio inferior.
Eva sentiu o corpo responder a insinuação.
-- Prometo que lhe darei essa coisa...
depois... – Piscou o olho.
A déspota sorriu, permitindo que ela
saı́sse do seu abraço.
Observou-a caminhar e ficou parada,
admirando-a, adorando a sensação de estar ali e de depois de tanto tempo estar
ao lado do amor da sua vida.
-- Nossa, o cheiro está divino, viu...
A juı́za a ajudou a arrumar os pratos e
os talheres. Afastou a cadeira para ela sentar.
-- Deixe-me servi-la, minha linda
feiticeira.
A Belluti sorriu.
-- Já subi de nível, antes eu era
apenas uma mera cigana. – Acomodou-se.
-- Ambas seduzem, ambas encantam, ambas
enfeitiçam? – Perguntou colocando a comida no prato.
-- Bem, tecnicamente eu acho que sim...
– Afirmou pensativa.
-- Então é isso que você é, afinal,
fez tudo isso comigo.
Eva a observou servir o vinho, em
seguida sentar. Mirou-a de soslaio, vendo-a saborear a refeição. Nossa, jamais
enjoaria de olhá-la...
-- Não vai comer? – Encarou-a.
A italiana apenas assentiu, não estava
tão faminta, mas acabou beliscando alguma coisa.
Estava a pensar o que aconteceria agora?
Nunca tivera intenção de ficar no
Brasil, apenas fora para cuidar do pai, porém agora não conseguia se imaginar
longe da déspota. Ainda não falaram sobre a relação, mas a cigana sonhava em
ter a bela Maria Fernanda ao seu lado todos os dias de sua vida.
A juı́za percebeu-a pensativa, deu a
volta e sentou em seu colo, encarando-a.
-- O que você tem? – Acariciou-lhe o
rosto com as costas da mão.
-- O que você quer comigo?
Eva mirou aqueles olhos azuis, observou
que eles estavam claros, pareciam felizes, enamorados.
-- Eu quero que você seja a minha
esposa, a minha mulher... A minha dona.
-- Não esqueça que eu tenho uma
filha...
-- E ela também será minha filha. Irei
protegê-la, amá-la e educá-la junto contigo.
A italiana a abraçou forte. Seu peito
parecia a ponto de explodir de tanta emoção, como se não fosse capaz de
aguentar tanta felicidade. As bocas se encontraram de forma delicada,
lentamente, apenas saboreando o momento, sentindo a paz que se instalara entre
elas.
-- Agora, se arrume, vou te deixar em
casa, não quero que a ciganinha de cabelos de fogo fique sem seus carinhos.
Eva balançou a cabeça e começou a rir.
-- Catrina, o que deseja?
Luı́s Fernando estava em seu
escritório. Já era tarde, mas mesmo assim não fora para casa ainda. Estava a
examinar alguns papéis quando a secretária informou da presença da jovem.
A moça começou a chorar.
O homem levantou e foi até ela,
abraçando-a.
-- Não adianta ficar assim. – Tentou
consolá-la. – Só vai lhe deixar doente.
-- Estava... estava tudo bem... Entre a
Fernanda e eu...—Falava entre soluços. – Mas...bastou essa maldita voltar e ela
sair correndo atrás dela.
O empresário sabia o que se passava.
Mandara um dos seus seguranças seguir a filha e fora informado que ela saı́ra
com a filha de Belluti. Não permitira que a Eva destruı́sse a juı́za novamente,
iria tirá-la da vida dela de qualquer jeito.
-- Tenha calma, em breve isso vai
acabar.
-- Que horas você chegou hein? – Arthur
indagou.
Eva estava acabando de arrumar a filha.
Teria que ir a empresa, havia muita coisa para resolver.
-- Você estava dormindo, não quis te
acordar. – Beijou a garotinha. – Pronto, você está linda, princesa.
A garota ficou rodopiando pelo quarto.
-- Mamãe, a tia Nanda vem? Quelo ir
passear com ela.
-- Bem, acho que hoje tia Nanda não
poderá vir, ela trabalha. – Explicou-a. O rapaz pulou da cama e pegou a
pequena nos braços.
-- Massssss... Eu posso ficar no lugar
da tia Nanda e te levar para passear.
Isabely não pareceu muito entusiasmada
com a ideia, porém acabou sendo convencida pelos argumentos do tio.
-- Olá, mamãe.
Maria observou a filha na porta.
Há dias não a via. Já estava com
tanta saudade que pensara em procurá-la, porem a conhecia o suficiente para
saber que já era tı́pico dela sumir, pelo menos ligava para saber se estava
tudo bem.
A mulher abraçou-a.
-- Já tomou café? Seu pai acabou de
sair.
Ambas caminharam até o sofá e
sentaram.
-- Eu já comi sim. Acordei cedo, sai
para correr um pouco e decidi vir vê-la.
-- Não irá trabalhar hoje?
-- Sim, mas só às duas da tarde. –
Mordeu o lábio inferior, hesitante – Mamãe, eu estou perdidamente apaixonada
pela filha do Belluti.—Soltou de supetão.
Maria sorriu discretamente,
segurando-lhe o queixo, encarando-a.
-- Isso não é novidade, até o Pedro
sabe disso.
-- Mas como? – Indagou surpresa.
-- Filha, podemos não ser seus pais
verdadeiros, mas te conhecemos muito bem, desde a primeira vez que aquela
garotinha de olhar assustado veio morar aqui.
Fernanda pareceu um pouco incomodada,
levantando-se, caminhou até a senhora, ajoelhando-se e colocando suas mãos
entre as suas.
-- Eu acho que eu nunca pude mostrar o
quanto eu amo vocês... Eu sei que sou o tipo não muito sentimental, porém
saiba que se não fosse por você e pelo meu pai, não seria quem sou hoje...
Teria me perdido nesse mundo tão grande...
Maria observou os olhos marejados da
jovem e sentiu a mesma emoção se apossar de si. Abraçou-a.
-- Você foi a luz que iluminou dois
velhos que já tinham perdido a esperança de ter filhos. É a luz dos nossos
olhos.
Maria Fernanda a estreitou ainda mais.
Sabia que tinha sido abençoada, raramente alguém se interessava em adotar
órfãos quase adolescentes, a preferência era sempre por bebês, mas tivera a
sorte de encontrar aquelas pessoas que esse tempo todo só fizeram amá-la,
amá-la mesmo quando ela não merecera esse amor.
Eva seguiu para os aposentos do pai.
Myrtes avisara que ele desejava vê-la. Encontrou-o sentado na cadeira de
rodas, parecia pensativo.
-- Que bom que veio.
A italiana percebeu que a fala dele
estava melhor, não havia mais tanta dificuldade.
-- Bom dia, papai! – Beijou-o no rosto,
sentando-se junto a ele.
-- Bom dia, princesa. Cadê a Isa?
-- Está com o Arthur, vão passear. –
Falou sorrindo.
-- E você está indo à empresa?
-- Sim, irei me encontrar com o diretor
para ver algumas coisas.
Belluti levantou a mão com dificuldade e
segurou a da filha.
-- Você é maravilhosa. – Sorriu. –
Agora me lembrei de você vestida como cigana. E agora é uma mulher
responsável, uma psicóloga. – Deu uma pequena pausa e continuou. – Filha, eu
vou vender tudo para o Luı́s Fernando, irei embora contigo para a Espanha, não
é justo lhe prender aqui e também não desejo ficar longe de ti e da minha
neta.
Eva sustentou o sorriso do pai, mas
sentiu uma tristeza no coração. Quem diria? Fora isso que ela pedira a ele
desde que Luı́za morrera. Todos os dias quando se falavam, ela implorava para
que ele deixasse o Brasil e fosse morar com ela. Agora o seu desejo estava se
tornando realidade, porém, não queria mais aquilo. Sabia que Maria Fernanda
não deixaria o paı́s, afinal, a vida dela fora construı́da aqui. Era uma
juı́za renomada e não abriria mão disso e também a cigana jamais pediria
algo assim.
-- Hoje mesmo falarei com o Luı́s, eu
sei que ele não vai se negar, sempre mostrou interesse em assumir o negócio.
A jovem apenas fez um gesto afirmativo
com a cabeça.
-- É um absurdo, Fernanda, você não me
retorna as ligações. Bastou a Eva aparecer e você sumir. A juı́za estava sem
sua sala, no fórum, quando recebera a visita nada agradável do pai.
Observou-o caminhar de um lado para o
outro, parecia uma fera.
-- Acho melhor o senhor sentar ou vai
acabar tendo um ataque. – Falou calmamente.
-- Não quero saber de ataque! Ontem eu
disse que assim que terminasse me ligasse, pois eu desejava falar contigo e
você o que fez? Saiu com a sua cigana, bastou ela chegar... Fazer assim. –
Estalou os dedos. – E você saiu correndo atrás igual uma cachorrinha
adestrada.
-- Como o senhor sabe que sai com a Eva?
– Levantou-se. – Ah, lembrei, os seus seguranças andam me seguindo, não é? –
Bateu na mesa. – A minha vida desrespeita apenas a mim mesma, não permitirei
que ninguém se meta.
-- Ah, não diga, mas quando ela te
abandonar novamente, quero ver como você vai ficar. – Apontou-lhe o dedo. –
Ah, deixe-me pergunta-lhe algo. Você foi convidada para ir para a Espanha com
sua amada?
Maria Fernanda arqueou a sobrancelha,
confusa.
-- Não me diga que ela não te avisou
ainda. – Sentou. – Pois é, Andrello me ligou hoje cedinho, está me oferecendo
a empresa dele, disse que irá viver com a filha na Espanha o mais rápido possível.
A juı́za estreitou os olhos felinamente.
-- Agora você entende porque eu não
queria que se aproximasse novamente dessa garota. – Falou mais calmo. – Eu vi o
que sofreste durante todo esse tempo, eu fui testemunha disso e não desejo de
forma alguma que passe por tudo aquilo novamente.
Fernanda sentou, ligou o computador,
começando a digitar algo.
-- Espero que a conversa já tenha
terminado, pois eu tenho muita coisa para fazer. – Disse sem mirá-lo.
O homem deu a volta e beijou-lhe a face,
em seguida saiu.
A déspota começou a massagear as
têmporas.
Não acreditava que a Eva pudesse fazer
algo assim. Não, ela não agiria desse jeito, tinha certeza que o amor dela
era verdadeiro, viu isso naqueles olhos, na forma como se amaram, como se
queriam.
Pegou o celular e discou o número dela,
porém deu na caixa postal, tentou mais algumas vezes e não obteve resposta.
Olhou para tela e não conseguiu se concentrar em nada.
-- Que droga!
-- Senhorita Belluti, o senhor Lutho
Alcântara deseja vê-la. – A secretária informou. A cigana estava a examinar
uns papéis.
Não desejava ver o italiano, não
mesmo, estava cansada de ouvir os galanteios e tinha tanta coisa para pensar
naquele momento. Fitou a secretária que estava parada na porta, esperando uma
resposta.
-- Diga-lhe que estou em reunião e não
poderei atendê-lo. Ah, ligue para o meu advogado e peça que ele venha até
aqui, preciso falar com ele urgentemente.
-- Certo, senhorita!
Lutho não gostara nada de ter sido
dispensado. Não imaginara que a italiana inventaria algo para não vê-lo, mas
se ela achava que iria sair ganhando estava muito enganada. Em breve ele se
vingaria não só dela, mas da maldita meia irmã.
Já era quase três da tarde quando o
advogado apareceu.
A cigana tivera que participar de
algumas reuniões que lhe mantiveram ocupada durante todo o dia. Nem mesmo pode
ligar para Fernanda. Estava morrendo de vontade de vê-la, de ouvi-la, de
tê-la em seus braços.
Na hora do almoço, ainda pegou o celular
para buscá-la, quem sabe assim não amenizava a saudade, porém não o fez.
Precisava pensar, precisava falar pessoalmente com ela e contar o que estava se
passando.
-- Boa tarde, senhorita! – O advogado
parecia impaciente.
A italiana ficou constrangida, pois
sabia que o homem estava ali presente em sua sala e parecia que aquela não era
a primeira vez que a cumprimentava.
-- Perdão, eu estava distraı́da. –
Apontou a cadeira para ele sentar. – Tem alguma novidade? O homem sentou.
-- Estive com o senhor Ricardo e ele
insiste em fazer um acordo.
-- Não farei nenhum acordo com ele!
-- Eu sei, porém ele não gostou de
saber e fez algumas ameaças.
-- Quais ameaças?
O advogado parecia constrangido. Observava
a sala, mas não ousava encará-la. Algo parecia incomodá-lo.
-- Diga, senhor Teixeira! – Exigiu.
-- Bem... – Pigarreou. – Ele ousou
insinuar que a senhorita mantém um caso amoroso com a juı́za Maria Fernanda
Lacerda.
Eva levantou-se, dando a volta na mesa.
Caminhava de forma tranquila, como se tivesse todo o tempo do mundo.
-- Eu não tenho um caso com a
Fernanda... Tenho uma relação séria.
O homem pareceu engasgar com a nova
informação.
A cigana pegou um copo, encheu com
água, entregando-lhe. Ele tomou e em seguida agradeceu.
-- Tem algum problema com isso, doutor?
-- Não, mas deveria ter me informado...
Fiquei surpreso... Bem, não que seja da minha conta, mas preciso ficar a par
de tudo para não permitir certos ataques.
-- Ricardo vai fazer isso parecer sujo e
caberá ao senhor não permitir que isso aconteça.
-- Não se preocupe, senhorita! Saberei
como proceder.
-- É isso que espero do seu trabalho!
Maria Fernanda discou para a mansão
Belluti, mas Eva não estava em casa e a mulher que atendeu não informara o
destino da mesma. Não estava mais com paciência para fazer nada. Só ficava a
pensar no que o pai tinha falado. Seria verdade?
Não, não! Eva não seria capaz de
fazer algo assim consigo. Porém, ela já fizera uma vez, já fora para longe e
a abandonara. Perturbada, pegou a bolsa e saiu.
-- Mamãe!
Eva viu o pequeno furacão correndo em
sua direção. Sua linda filha!
Agachou-se, pegando-a nos braços.
Terminara o que estava fazendo e seguiu
para o shopping para passar o resto do dia com o Arthur e com a pequena.
-- Já “binquei” em tudo! – Falava dando
beijos na face da italiana.
-- Meu Deus, eu acho que estou ficando
velho, amiga! – Arthur falou sem fôlego.
-- A Isa quando te viu saiu em
disparada, vi a hora ela cair e eu sem conseguir alcançá-la. A cigana
estreitou os olhos.
-- Já disse que não a quero se
soltando da mão do seu tio...
Catrina estava fazendo umas compras,
quando viu quem estava sentada na praça de alimentação do shopping.
Maria Fernanda!
Não perdeu tempo e correu para lá.
Surpreendeu a juı́za com um beijo.
-- Nossa, amor, coisa boa te encontrar.
– Falou sentando. – Pensei que estavas trabalhando.
A outra apenas deu de ombros e tomou o
suco que estava no copo.
A loira sorriu.
-- Posso te fazer companhia? – Estendeu
a mão, segurando a sua. – Estou com saudades. – Mordeu o lábio inferior.
-- Não, não pode! – Encarou-a. – Não
estou muito interessada e para piorar estou de péssimo humor.
-- Eu posso te fazer relaxar... –
Colocou a cadeira mais perto. – Você fica muito linda com essas roupas
formais.
-- Estou tonta! – Eva falou ao sair pela
terceira vez do carro de bate-bate.
-- Nem me fale!
-- Mamãe, to com fome! – A pequena
puxou-lhe a mão para chamar a atenção.
-- Certo, vamos comer alguma coisa.
Os três caminhavam tranquilamente em
meio às lanchonetes e mesas. Estavam no terceiro piso, onde tinha uma visão
privilegiada direto para a praia. O sol já estava a se esconder.
-- Olha, a tia Fernanda!
Eva viu a filha se soltar de sua mãe e
correr em direção à juı́za.
Sentiu-se furiosa ao vê-la ao lado da
loira. Ambas pareciam bem à vontade, juntinhas. Observou-a abraçar a garotinha
e colocá-la sentada em seu colo.
-- Pegue-a! – Falou ao amigo.
-- Mas, Eva, não é melhor que nos
aproximemos e falemos com sua deusa. A italiana fitou o rapaz, irritada.
-- Oh, ciganinha, o que estás a fazer
por aqui? – A juı́za beijou o rosto da ruivinha.
Maria
Fernanda a achou tão fofa, aquele vestidinho e aqueles cachinhos soltos que
teve vontade apertá-la bem forte.
-- “ Pateando” ! – Observou à loira. –
Quem é ela, tia? A loira sorriu.
-- Uma amiga... – A juı́za se adiantou,
percebendo a intenção da acompanhante. – E você está com seu tio Arthur?
-- Sim! – Falou mexendo na franja da
jovem. – E com minha mamãe!
Fernanda então se virou e viu a bela
herdeira do Belluti parada ao lado do amigo. Fitou-a e a viu desviar o olhar.
O coração disparava só em observá-la.
Sentia uma necessidade enorme de tomá-la para si e não deixá-la nunca mais
partir.
Levantou-se com a garota nos braços.
-- Onde estás indo? – A loira
perguntou.
-- Pague a conta. – Tirou o dinheiro da
bolsa e colocou sobre a mesa. – Tome algo se desejar.
Nem esperou para ouvir os protestos e
seguiu até onde estava a linda morena.
-- Olá, Arthur! – Cumprimentou o rapaz.
O jovem deu um meio sorriso.
-- Olá!
Eva nem ao mesmo voltou-se para
olhá-la. Ficou a observar as pessoas caminhando. Sentia as batidas do coração
acelerarem ao ouvir aquela voz e odiou aquilo.
-- Olá, cigana-mãe!
A italiana cerrou os olhos ao mirá-la.
Fernanda apenas arqueou a sobrancelha
divertida.
Ela sabia o motivo da raiva estampada
naquele belo rosto. Decerto, vira a katrina em sua companhia.
-- Vamos embora, Isa, já brincou de
mais hoje. – Tentou pegar a filha, ignorando a déspota.
A pequena escondeu a cabeça no pescoço
da juı́za, negando-se a ir com a mãe.
Eva ficou ainda mais brava ao ver a
mulher sorrindo, teve ganas de apagar aquele ar de deboche da face dela.
-- Olhe, Isabely, não estou brincando,
te deixarei de castigo novamente. – Ameaçou.
-- Eu só “ quelo” ficar com a minha tia. – A ruivinha
a encarou com os olhos tristes.
-- A sua tia está ocupada. – Tentou
pegar a garota em vão. – Bem acompanhada com a amiguinha.
-- Que tal tomarmos um sorvete,
ciganinha? – Ignorou a provocação.
A
menina bateu palmas feliz, mas parou ao olhar para a mãe.
-- Eu “ quelo”, mas não “quelo” ficar
de castigo.
-- Não se preocupe, você não ficará.
– Garantiu encarando os olhos negros. – Vocês também estão convidados. –
Disse seguindo com a menina até uma mesa e sentando.
-- Bem, eu estou com sede! – Arthur saiu
em disparada até elas.
Eva cruzou os braços e ficou a bater o
pé no chão impacientemente, porém acabou indo até eles.
Sentou-se e ficou a observar a filha com
o olhar encantado para a juı́za. Via ouvir atentamente a história que a
déspota contava sobre quando fora a uma lanchonete certa vez com os pais.
Decerto, estava a falar de Pedro e Maria.
Fitou-a e ficou a imaginar como fora sua
vida antes de encontrar os pais adotivos. Não conseguia vê-la como uma garota
indefesa, era como se aquela áurea de
poder sempre tivesse feito parte de quem
ela era.
Sabia que passara por coisas terríveis e
isso fora o que a transformara naquele ser arrogante, mas vendo-a ali com a
filha no colo, visualizava uma nova personalidade da juı́za.
Leve, engraçada, protetora...
Os olhares se cruzaram e se enfrentaram
por alguns segundos.
-- Estou indo, amor! – Catrina
interrompeu o clima. – Te espero no seu apartamento. – Beijou-lhe a face. – Boa
noite! – Fitou Eva com um sorriso debochado e se afastou.
-- Olha, para mim já foi suficiente. –
Levantou-se. – Vamos embora!
-- Certo! – Maria Fernanda a imitou. –
Irei com vocês! – Ciganinha, vá com seu tio Arthur. – Entregou a menina ao
rapaz. – Eu ainda tenho que esclarecer umas coisas com a sua mãe.
-- Não tenho nada para falar contigo! –
Disse por entre os dentes.
-- Tem sim! – Chegou mais perto e
sussurrou em seu ouvido. – Ao menos que deseje que eu faça um escândalo.
-- Você não seria capaz!
-- Estamos indo! – O amigo se adiantou
levando a menina com ele.
-- Sabe, Cigana, eu não me importo com
essas pessoas que estão aqui, então não ache que só porque eu sou a juı́za
Maria Fernanda Lacerda, significa que eu não agiria impulsivamente.
A italiana respirou fundo e ficou a
encarar aquele riso meio de lado que a jovem lhe dava.
-- Cazzo!
-- Sabe que eu conheço muito pouco da
sua lı́ngua paterna, mas eu tenho 99% de certeza que isso que você acabou de
falar é uma palavrão. – Mordeu o lábio, agora abrindo todo o sorriso.
-- Pare de rir da minha cara ou não
respondo por mim. – Falou baixinho.
-- Deixa de bobagem e vem comigo.
A déspota segurou-lhe a mãe e saiu
quase arrastando-a pelo shopping.
-- Pare de me puxar!
-- Certo, então andemos como pessoas
civilizadas, minha doce cigana!
Duas mulheres tão belas não poderiam
passar despercebidas. Os olhares curiosos se voltavam para elas. Uns inquietos,
outros desejosos e alguns tantos ainda não estavam prontos para encarar a
realidade que sempre esteve presente na sociedade.
-- Entra! – A déspota ordenou quando
chegaram ao estacionamento.
-- Meu carro está bem ali e é nele que
irei embora.
A juı́za a pressionou contra o
automóvel.
-- Eu acho bom você entrar se não
quiser que eu te coloque à força dentro dele.
-- Ah, me poupe, faça o seguinte,
coloque a sua amante... Sim, não faça cara de idiota para mim, volte para os braços
da sua loira e me deixe em paz.
-- Não tenho nada com ela!
-- Mentira! – Empurrou-a, gritando. – Eu
a vi bem juntinho de ti e ainda a descarada veio dizer que te esperava no teu
apartamento.
Maria Fernanda encostou-se no veı́culo e
começou a massagear as têmporas. Sentia o inı́cio de uma forte enxaqueca.
-- Conversaremos em outro lugar e não
aqui. – Tentava manter a calma. – Entre!
-- Você saiu da minha cama para pular
na dela foi? – Provocou.
-- Chega disso!
Fernanda a pegou pelo braço,
empurrando-a para dentro. Deu a volta rapidamente, antes que ela se recuperasse
do susto, dando partida imediatamente.
-- Coloca o cinto!
-- Vá ao inferno! – Tentou abrir
inutilmente.
-- Fique quieta ou mando te prender por
desacatar a minha autoridade.
Eva fitou-a e para deixá-la mais brava
a juı́za gargalhou alto.
Ela sabia que a cigana não poderia sair
do automóvel em movimento e isso a divertia muito.
Observou-a se aquietar, cruzando os
braços e encostando a cabeça na janela. Não falaria com ela até chegarem ao
destino. Sabia que não era uma boa ideia provocá-la, estava possessa.
Dirigiu por alguns minutos até chegar
ao local que escolhera.
A italiana observou o carro entrar por
um enorme portão, seguindo por um caminho arborizado e indo parar em frente ao
chalé. Ela já o conhecia, tinham ficado juntas naquele mesmo lugar há muito
tempo.
Fernanda desceu e abriu a porta para
ela.
-- Por que me trouxe aqui?
-- Quero conversar. – Apontou a entrada
para ela.
Eva seguiu, tendo a juı́za bem atrás de si.
A cigana observou o lugar. Nada havia
mudado. A decoração era a mesma. Um enorme carpete felpudo, vermelho,
almofadas brancas sobre ele. Havia apenas três cômodos. Ela recordava que em
um deles era o banheiro, onde havia uma enorme tina para o banho, tudo em
madeira rústica.
Havia uma lareira pequena e duas
poltronas voltadas para ela.
-- Fale logo o que você quer, pois eu
quero ir embora.
Fernanda caminhou até ela, encarando-a.
-- Primeiro, quero fazer amor contigo. –
Tentou beijá-la.
A italiana desviou da carı́cia. Sentiu-a
pressionar o corpo ao seu e espalmou as mãos em seu peito para evitar o
contato.
-- Vá atrás da Catrina e se deite com
ela. – Tentou se desvencilhar, mas Maria Fernanda a pressionou ainda mais. – Deixe-me
ir.
-- Eu não quero nada com a Catrina... –
Beijou-lhe a lateral do pescoço. – E com nenhuma outra mulher. – Mordiscou de
leve. – Não entendes que não há outro
ser na face dessa terra que me
interesse, eu só quero você.
A cigana sentiu os pelos se eriçarem.
Odiava o fato de ser tão sensível ao
toque dela, odiava não ter o controle do próprio corpo, odiava não conseguir
resistir aquele jeito de olhar, de sussurrar daquela mulher.
-- Não irei fazer amor contigo, não
mesmo!
A juı́za a fitou, como se desejasse
mergulhar naquele mar negro. Viu-os faiscar, sabia que havia uma fúria
presente naquele olhar que a mirava com intensidade.
-- Tem certeza que não deseja? –
Indagou baixando-lhe as alças do vestido.
Eva observava tudo em total inércia.
Viu-a abrir o fecho dianteiro do sutiã e libertar-lhe os seios.
Sentiu as mãos se apossarem dos dois
montes, apertando-os, amassando-os. Teve que morder a lı́ngua para não gemer
quando a boca da déspota se apossou deles. Maria Fernanda a pressionou mais
contra a madeira.
Passou a lı́ngua circulando todo o
mamilo, fazendo-o de forma paciente, deliciando-se com o sabor da pele. Fitou
os olhos que acompanhavam cada movimento seu. Abocanhou e mamou fortemente.
Percebeu-a estreitar os olhos,
entreabrir a boca e morder o lábio inferior, o desejo estava estampado naquela
face. Desceu-lhe todo o vestido, deixando-a apenas de calcinha.
Abraçou-a forte, sussurrando-lhe ao
ouvido.
-- Faz amor comigo...
Eva maneou a cabeça negativamente.
-- Não!
A juı́za sorriu, afastando-se. Começou a
despir-se sob o olhar estupefato da jovem.
A italiana tinha a opção de sair, de ir
embora, mas sabia que não o faria. Desejava mostrar a si mesma que seria capaz
de resistir à sensualidade da juı́za, porém naquele momento ao vê-la tirar cada peça de roupa de forma
tão lânguida se arrependia da decisão que tomara.
Estava úmida, miseravelmente excitada.
Viu-a caminhar até si. Tinha uma
segurança invejável, exibia violentamente aquela arrogância. Os cabelos
soltos caiam como uma cortina sobre os seios, a cintura estreita... Encarou-lhe
e viu a paixão escurecer os lindos olhos azuis.
Fernanda agachou e retirou a calcinha da
amada, em seguida, levantou-se, abraçou-a pelo pescoço, roçando o corpo ao
dela.
-- Faz amor comigo... – Pediu rouca.
O hálito refrescante entonteceu seus
sentidos.
Dessa vez apenas maneou a cabeça
negativamente, não parecia ter forças para falar. A déspota estreitou os
olhos ameaçadoramente.
-- Até quando vai continuar negando que
me quer? – Baixou a mão e posicionou em meio suas coxas, movimentando de leve.
– Quando vais entender que eu só amo você. – Continuou a executar a carı́cia.
Eva escondeu o rosto em seu pescoço.
Quase se desequilibra quando a juı́za
levantou-lhe a perna, posicionando-a em seu quadril. Apoiou-se totalmente nela
para não correr o risco de cair.
-- Como consegue negar? – Sussurrava. –
Está tão deliciosamente molhada... Sinta como meu dedo desliza... – O fez e
depois retirou, levando-o a boca... Chupando.
A
cigana mais uma vez teve que cerrar os dentes para não expressar o prazer que
seu corpo estava a sentir.
Maria Fernanda sorriu e voltou a
invadi-la.
A penetração era ousadamente perigosa.
Os dedos pareciam conhecer a forma exata e a pressão certa para usar. Tentou
baixar a perna, mas Fernanda a segurou firme.
-- Para... – Falou com a respiração
acelerada. – Não... Não quero...
-- Quanto mais você nega, mais eu fico
louca pra te comer bem gostoso...
A italiana estava tão atordoada com os
toques que não percebeu que estava sendo conduzida a agachar-se ao carpete.
Só quando sentiu os joelhos afundar na
maciez é que viu onde estava.
A juı́za segurou firme em seus cabelos e
a puxou para si, tomando-lhe a boca sem pedir permissão.
Pega de surpresa, Eva acolheu a lı́ngua
exigente que parecia querer tomar-lhe todos os recantos, tocou-a com a sua.
Furiosa, mordeu-lhe, mas como resposta a déspota chupou fortemente a sua, lhe
tirando o fôlego.
Parecia que havia um imã que prendia os
corpos. Os seios se encontravam e o atrito dos mamilos parecia incendiar ainda
mais...
Fernanda segurou-lhe as nádegas,
trazendo-a mais para si, roçando o sexo que já estava mais que molhado,
lambuzando-a e executando um ritmo delicioso e lento. Ajoelhadas, buscavam
fundir-se, a cigana lutando contra o desejo, a juı́za lutava para dominá-la.
-- Abre pra mim... – Pedia entre
gemidos.
-- Nã...o... Nã... – Negava-se sem
forças.
A déspota baixou a mão e penetrou-a
forte... Segurou-a pelos cabelos para mantê-la cativa.
Eva sentia o quadril traindo-a, mexendo
em um vai e vem frenético, acompanhando as estocadas que apenas aumentava...
-- Está vendo... Sinta... Sinta como
você quer... Sinta como você desliza pelos meus dedos – Falou, fazendo-a
encará-la.
-- Nã...o – Resmungava com a
respiração acelerada... – Eu... não... não... que...ro...
Maria Fernanda a deitou, segurou-lhe as
pernas, dobrando-as até a barriga, depois abaixou e ficou entre elas. Eva
tentou sair, mas não havia forças para aquilo.
Observava cada movimento da amada. Viu-a
inalar seu cheiro, viu-a passar a lı́ngua, contornando os próprios lábios e
quase gritou... Então viu o sorriso safado da juı́za... Aquele arquear de
sobrancelha... E não pode aguentar... Choramingou...
Fernanda se sentia ainda mais excitada
ao vê-la daquele jeito... O aroma... A visão...
Com a ponta da lı́ngua contornou toda a
extensão... Lambeu a virilha... Em seguida depositou beijos... Até chegar ao
sexo que estava trêmulo... Brincou com o clitóris que se apresentava
intumescido. Ela o sentia pulsar em sua boca... Via o mel escorrer e se
esforçava para não perder uma única gota... Então meteu fundo... Meteu
forte... Meteu até ouvi-la gritar...
Até senti-la estremecer... Chupou com gula... O fez sem dó...
Eva sentiu o poderoso orgasmo arrebatar
todas as suas forças... Miseravelmente gritou por ela... Implorou por ela...
Maria Fernanda posicionou-se de forma
que os sexos pudessem se unir e movimentou-se cada vez mais forte...
Esfregando...
-- Abre... Quero... gozar dentro de
ti... Quero meu mel junto com o seu... – Pedia entre gemidos.
Dessa vez, a cigana não conseguiu negar
o pedido... Fez o que lhe fora dito... E acompanhou o ritmo imposto... Vendo
sua juı́za se entregar... Vendo-a gritar seu nome... Ouvindo-a gemer alto
quando o prazer dominou-a... E mais uma vez... A italiana foi sacudida por
espasmos... Acolheu-a em seus braços... Tremendo pelo poderoso êxtase que lhe
possuiu...
-- Amo-te, minha cigana, e só a ti hei
de amar para todo o sempre... – Pronunciou em seu ouvido.
Aiaiaiai 😍😍😍
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