A déspota -- Capítulo 23
Maria Fernanda
sentiu todas as células do corpo reagirem diante daquela imagem.
Não havia mulher
mais bela e sensual do que aquela que se mostrava a sua frente. Quem seria
capaz de lhe resistir?
Seu cérebro estava
ébrio, nem mesmo conseguira distinguir o tom de dor usado pela cigana, nem
mesmo fora capaz de ver a decepção estampada naquele olhar. Rapidamente,
levantou-se, mesmo com a tontura provocava pelo álcool, chegou bem próximo de
sua presa.
Estendeu as mãos e sentiu a maciez dos belos montes.
Apertou-os, sentiu
a textura daquela pele que se apresentava fria.
Eva sentiu o corpo
sendo pressionado até encostar-se à parede. Fechou os olhos fortemente para
deter as lágrimas.
Não iria chorar
diante daquela mulher, não permitiria que ela visse como seu coração estava
dilacerado, como a decepção lhe feria a alma. Desviou a boca quando percebeu a
intenção da déspota.
A juı́za depositou
em seu pescoço o beijo rejeitado. Não parecia se importar naquele momento com
aquilo, talvez passasse por sua cabeça que era mais uma forma de sedução usada
pela jovem.
Baixou a mão e
tocou em sua coxa, tentou beijá-la mais uma vez, porém seu ato mais uma vez
fora impedido.
-- Deixe-me sentir
o sabor dos seus lábios. Tenho sede deles... louca para chupar sua lı́ngua. –
Sussurrou em sua orelha.
Eva sentiu os pelos
se arrepiarem.
Estreitou os olhos
e falou por entre os dentes.
-- A minha boca
será o único lugar onde você não poderá tocar. – Tentou soar firme. -- Use
meu corpo para o seu bel prazer, mas não ouse pensar que eu deseje o mesmo.
Estou enojada. -- Completou com desgosto. – Poderia vomitar em sua cara nesse
momento.
Maria Fernanda
pareceu não gostar do tom usado. Sorriu sarcástica.
-- Ah não me diga!
– Debochou. – Isso inclui não me tocar também? – Arqueou a sobrancelha em
gesto de zombaria.
-- Eu não
participarei ativamente desse seu jogo sujo. Pelo menos, a chantagem apenas
dizia que você me queria para si, não dizia nada sobre eu ter que te querer
também.
Maria Fernanda
acariciou sua face com a lateral dos dedos. Fitou-a intensamente, desenhou-lhe
os lábios.
Eva estreitou os
olhos ameaçadoramente, porém a outra parecia apenas estar decifrando-a. Era
como se investigasse se o teor daquelas duras palavras serem reais ou se
passavam de um blefe.
A juı́za mordeu a
lateral do lábio inferior. O efeito da bebida parecia não existir mais. Sentia
como se algo espremesse seu peito.
-- Por que você
fez por tanto tempo o papel de mulher apaixonada? – Indagou baixinho. – É uma
boa atriz... – Riu amarga. – Era assim que você agia com seus noivos
abandonados no altar?
A italiana ficou
surpresa com aquela pergunta. Sim, ela nunca teve como disfarçar seu amor pela
déspota, mesmo quando era ferida, humilhada, aquele sentimento nunca deixara
de existir, porém agora era diferente. Talvez, não amasse mais aquele
arrogante ser humano ou quem sabe era apenas a raiva que ocupara todo o espaço
que antes pertencera a outra poderosa sensação.
Respirou fundo.
-- Faça o que você
tem que fazer, pois isso é a única coisa que terás de mim.
Maria Fernanda se
afastou, dando-lhe as costas.
Fechou as mãos
até sentir as unhas enterrarem na palma.
Queria gritar,
esbravejar, bater bem forte em algo até sentir os punhos sangrarem. Respirou
fundo e contou mentalmente até dez.
-- Saia daqui! –
Falou pausadamente.
A cigana soltou o
ar que nem mesmo percebera que havia prendido. Rapidamente cobriu-se e caminhou
apressadamente para a porta, mas fora detida por aquela voz rouca e fria.
-- Não pense que
isso acaba aqui, apenas não estou atraı́da por seus... – Virou-se. -- ...
atrativos, hoje, quem sabe mais tarde.
Eva a mirou
-- Essa noite
preciso de uma mulher de verdade nos meus braços e não uma fedelha que se acha
a dona do mundo, riquinha estúpida! – Pronunciou as últimas palavras como se
estivesse cuspindo.
A filha de Belluti
apenas seguiu seu caminho sem falar uma única palavra.
Eva não conseguira
conciliar o sono.
Sua mente parecia
estar a mil por hora. Tantas coisas lhe perturbavam naquele momento. Estava
temerosa do que aconteceria no dia seguinte, não sabia o que esperar daquela
situação que tinha sido forçada a aceitar.
Por que a déspota
não tomara para si o que tanto desejava?
Decerto, aquele
plano fora apenas a forma que ela encontrara para humilhá-la, mas por quee lhe
fazia aquilo? Ela não fizera nada para merecer toda aquela raiva. Não havia
justificativas para isso.
Olhou a hora e
constatou que já passava das duas da madrugada. Virou de lado tentando
encontrar conforto.
A italiana estava
ocupando o quarto que ocupara no final de sua estádia na fazenda.
O lugar estava bem
decorado e havia uma enorme cama de casal ocupando o centro do cômodo. Ouviu
passos.
O ambiente estava
mergulhado na penumbra, mas quando a porta abriu foi possível visualizar de
quem se tratava.
Fez o possível para
que a juı́za não percebesse que ainda estava acordada. Teve ganas de gritar,
mas esperou pelo desenrolar dos fatos. Observou-a caminhar trôpega e deitar ao
seu lado.
Aspirou o cheiro de
bebida misturado com aquele aroma doce que se depreendia dela.
Sentiu o calor do
corpo chegar bem próximo ao seu.
-- Pena que estás
a dormir... – Sussurrou em sua orelha.
Eva amaldiçoou
mentalmente a si mesma por sentir a excitação se apossar de si. Tentou não se
mexer, tentou manter a respiração controlada, mas estava ficando difı́cil.
-- Você é muito
linda... muito linda mesmo... – Passou os dedos por suas costas.
A italiana usava uma camisola de seda.
-- Estou louca para
recordar o seu sabor.
A cigana mordeu
tão forte o lábio para não gritar que sentiu a gustação do sangue.
-- Estou tão
desejosa de ti...
O tom baixo da
juı́za era acompanhado por uma respiração acelerada, o que fez a filha de
Belluti imaginar o que Maria Fernanda poderia estar fazendo.
-- Quando lembro a
última vez que nos amamos...
Naquele momento a
italiana ouviu o gemido e não teve mais dúvidas do que estava acontecendo.
Estava segura que a poderosa e arrogante mulher deitada ao seu lado estava se
tocando e enquanto o fazia, murmurava palavras sedutoras em seu ouvido.
Eva apertou os
punhos fortemente.
Tentava pensar em
outra coisa, buscava qualquer outro pensamento que não fosse aquela tentação
que se derramava em desejo ao seu lado.
Percebeu quando a
juı́za levantou sua camisola e tentou se afastar de forma sutil, mas sentiu os
braços lhe segurando, os seios intumesceram em meio aos afagos.
As mãos lhe
apertarem mais forte, notou-a se afastar e apenas alguns segundos ouviu os
movimentos que ela fazia no próprio corpo acelerar, escutava os sussurros e
sabia que não resistiria por muito tempo, seu sexo doı́a demasiadamente, tinha
certeza que estava totalmente ensopada e a vontade de se entregar àquele
prazer chegava a ser desesperador.
A cigana implorava aos céus para que aquilo chegasse ao
fim, pois era um verdadeiro martı́rio ouvir e saber o que se passava ao seu
lado. Apertou forte as pernas uma na outra.
-- O meu desejo era
gozar dentro de você... – Maria Fernanda falou, mordiscando o lóbulo de sua orelha.
– Mas como não é possível, fecharei os
olhos e imaginarei que meu mel invadira toda sua...
A italiana não se
tocou, mas aquilo não fora necessário. As últimas palavras da déspota,
junto com os seus gemidos, denunciando que o auge do prazer já tinha chegado,
foram suficientes para que a linda morena fosse invadida por um gozo
avassalador, fazendo-a sentir os espasmos poderosos invadir o seu ventre.
Maria Fernanda
sorriu.
Ela sabia que a
deliciosa mulher que estava ao seu lado não estava dormindo, percebera isso
assim que começou a se tocar. Realmente, aquilo não fora algo planejado,
porém não conseguira resistir ao vê-la deitada. Aquele cheiro de fêmea
tinha invadido seus sentidos e não demorara muito para perder o controle, algo
normal quando se tratava de lidar com a cigana. Pena que ela não cedera, pelo
menos sabia que ela não era imune a si.
Levantou e seguiu para o próprio quarto.
Foi direto para o banho,
precisava relaxar, pois seu corpo ainda estava em chamas. Ficou debaixo da
ducha, sentindo a água fria lhe acalmar os sentidos.
Sim, aquilo era uma
loucura, era a maior covardia que alguém poderia fazer, porém não conseguia
pensar em abrir mão dela, não suportaria saber que ela estava nos braços de
outro, sendo amada, sendo acariciada por outras mãos que não fossem as suas.
Sentiu o corte
arder e recordou do toque e da preocupação que encontrara naqueles lindos
olhos pretos. “ Por que tinha feito a denúncia junto com o maldito Lutho?”
Aquele mero
pensamento era suficiente para deixá-la fora de si, com tanta raiva que seu único
desejo era ferir, machucar, destruir aquela garota mimada.
Eva ouviu a porta
bater e esperou alguns minutos, queria ter certeza que a juı́za não retornaria
mais. Rapidamente correu até ela, fechando-a com a chaves.
Encostou-se lá, até que as batidas do seu coração
desacelerassem. Aquilo só podia ser uma brincadeira.
Como fora tão
imune ao charme da juı́za no escritório e quase perdeu o controle quando a
sentiu ao seu lado? Não!
Seu corpo lhe
traı́ra de tal forma que parecia que chamava a déspota, era como se ele não lhe
pertencesse, pois não havia forças o suficiente para detê-lo. Ele sucumbiu ao
som daquela respiração acelerada, se rendeu as palavras que poderiam até ser
consideradas vulgares, mas retratavam nitidamente a essência de todo aquele
desejo, se entregou ao clı́max, sem ao menos ser acariciada concretamente.
Respirou fundo e o
cheiro de sexo invadiu suas narinas, descontroladas seguiu para a cama a puxou
os lençóis, rasgando-os furiosamente, mas aquilo não fora suficiente para que
aquele aroma abandonasse o lugar.
Eva puxou o
colchão, usando toda sua força e o arrastou até a porta que dava para uma
pequena varanda, jogando-o, vendo-o aterrissar sobre o carro da juı́za.
-- Ótimo! – Limpou
as mãos uma na outra. – Agora vou dormir no chão... – Completou com desgosto.
Ciúmes?
Maria Fernanda não
despertou tão cedo, rolara durante toda a noite e só quando estava
amanhecendo pegara no sono. Tomou banho e arrumou-se.
Naquele dia só
trabalharia na parte da tarde, então não precisava ter pressa, tomaria um café
bem reforçado e depois seguiria para a cidade.
Encontrou Eva
tomando o desjejum, enquanto conversava com a Catrina. Percebeu que ela tentava
ser o mais amável possível com a loira, mas havia algo a mais, talvez raiva?
-- Bom dia! –
Cumprimentou-a com um sorriso.
A cigana teve um
sobressalto, pois imaginara que a poderosa já tivesse ido embora.
Observou-a
disfarçadamente, enquanto ela sentava, pegava o jornal que estava sobre a mesa
e começava a ler.
As roupas formais
lhe caiam muito bem, era uma mulher muito linda, mesmo com os cabelos presos em
um coque. Observou a franja, os olhos azuis e os óculos que estava tão à vontade
sobre aquele nariz empinado e arrogante.
De repente, viu-a
arquear a sobrancelha e lhe fitar. Não desviou o olhar, mesmo percebendo a
ironia presente naquela ı́ris azul.
-- Não se deve
deixar as portas abertas hoje em dia, não sabemos o que pode entrar em nosso
quarto e fazer conosco.
A italiana sentiu o
resto pegar fogo.
Podia ver naquele
ar que denotava inocência que ela sabia que a cigana não estivera dormindo na
noite passada. E aquilo ficara ainda mais claro quando a juı́za lhe sorrira de
forma tão safada que chegou a sentir os pelos do corpo todo arrepiar.
Desviou os olhos.
-- é verdade! Acontecem
muitos casos assim. – Catrina comentou sem saber do que se tratava.
Maria Fernanda
tomou o café que lhe foi servido e continuou a perscrutar a morena que tentava
fingir que ela não estava ali. Observou como ela estava linda com as bochechas
-- A senhora
poderia ter quebrado o carro. – A empregada comentou. – Não deveria ter feito
esforço para jogar o colchão fora, eu o faria hoje e levaria para alguém que
estivesse precisando.
-- Do que você
está falando? – A juı́za indagou confusa.
Agora fora a vez da
filha de Belluti exibir um belo sorriso cheio de sarcasmo.
-- Na verdade fui
eu que joguei, Catrina, ele tinha um cheiro horrível, como se uma gata no cio tivesse dormido
sobre ele ou feito sei lá o quê.
A déspota a
encarou furiosamente e seguiu apressada para ver o que tinha acontecido com seu
precioso carro.
Eva é maravilhosa 😂😂😘😂
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