A déspota -- Capítulo 18


Eva chegara cedo à casa de Luı́s Fernando.

Decidira desculpar-se pelo comportamento que tivera na noite da festa. Surpreendera-se ao chegar à mansão e encontrar com Lutho, quando ligara para lá indagara sobre o noivo e um dos empregados dissera que ele havia viajado com a mãe, porém ele mesmo a recebera e nem lhe dará chance para falar nada, fora abraçada, beijada e a única coisa que pudera fazer foi esperar que o rompante do jovem chegasse ao fim.

Estava prestes a empurrá-lo, pois já lhe faltava ar nos pulmões quando o rapaz se afastou e ela tentou buscar o oxigênio, porém seu olhar fora capturado por um par de olhos azuis que a fitava ameaçadoramente.

Maria Fernanda estava tão furiosa que precisou usar de todo seu autocontrole para não voar para cima daqueles dois, estava a ponto de perder o equilı́brio quando ouviu a voz do seu provável irmão.

-- Boa noite, senhorita! – Lutho a fitou com arrogância. – O que deseja aqui? – Mirou os empregados. – Quem a deixou entrar?

 A juı́za não precisou responder, pois uma voz forte e autoritária se fez ouvir.

-- Ela é minha convidada e tem todo o direito de entrar aqui a hora que quiser.

Os olhares se voltaram para o homem que usava a cadeira de rodas para se locomover.

-- Por favor, papai, o senhor não tem mais condição de ter amantes e ainda mais novinhas assim...—Mirou desdenhosamente a outra. – Veja, a Eva veio jantar conosco. – Passou o braço possessivamente nos ombros da moça. – Dispense essa “aı́” e vamos aproveitar a visita da minha linda e perfeita noivinha.

Luı́s Fernando fez sinal para que o empregado lhe trouxesse a bengala e com muito esforço conseguiu se por de pé. Parou ao lado da bela déspota e segurou-lhe a mão.

-- Essa linda mulher não é minha amante, não que ela não seja linda o suficiente para fazer qualquer um a cair na tentação, não é Eva? – Piscou para a italiana. 

A filha de Belluti sentiu o sangue subir todo para a cabeça.

O empresário sabia do que houvera entre as duas mulheres? E o que a Maria Fernanda estava fazendo mais uma vez naquele lugar? Buscou respostas no olhar da jovem, porém a única coisa que fora possıv́  el encontrar fora aquele ar sombrio e cheio de mistérios.

-- O que a Eva pode saber sobre essa mulher? Minha namorada não se relaciona com pessoas que não pertencem à mesma classe que ela.

A cigana estava abrindo a boca para protestar, mas o sogro se antecipou.

-- Bem, a Maria Fernanda tem mais classe de que vocês dois juntos, primeiro por ser a mulher que ela é e segundo por ser minha filha.

 Lutho não estava surpreso. Sua mãe não perdera tempo e falara para ele antes de viajar sobre a bastarda.

O rapaz sorriu de forma debochada.

-- Bem, certa vez eu li em uma revista de animais que falavam que cadelas poderiam ter filhotes de vários pais...

Maria Fernanda usou de toda sua frieza, caminhou até onde o rapaz estava, ficando a poucos centı́metros do casal.

-- Não abra a sua boca para falar da minha mãe, ela era mais do que você poderá ser a sua vida toda.

Eva adiantou-se, ficando entre os dois e evitando que algo pior ocorresse.

As duas mulheres se encararam.

A juı́za teve ganas de esganar a filha do empresário.

Apertou forte os punhos, respirou fundo e falou bem próximo ao ouvido da cigana.

-- Depois eu acerto as contas contigo!

 

A italiana sentiu o corpo arrepiar todo diante daquele sussurro. Precisava sair daquele lugar, sair de perto daquela mulher enquanto ainda contava com o autocontrole. Percebera que quando se tratava da déspota ela não conseguia agir normalmente, era guiada por um desejo tão primitivo que chegava a assustar.

Mas e aquilo agora de ela ser filha daquele homem? Como assim?

-- Chega!

A voz do magnata interrompeu o confronto.

-- Lutho, não admitirei que você fale dessa forma com a Maria Fernanda. – Repreendeu duro. – Ela é tão minha filha quanto você, então se for para incomodar, eu exijo que se retire da minha casa.

O rapaz empalideceu diante do ultimato.

O belo ragazo não iria permitir que aquela filha de uma qualquer chegasse e ocupasse o lugar que há tempos já pertencia a ele, aprendera com a mãe a saber como agir. Entraria naquele jogo, mas já pensava em um plano para destruir a bastarda que buscava usurpar os seus direitos naquela famı́lia.

-- Eu ficarei! – Puxou a noiva para si. – E a minha namorada ficará comigo.

-- Na verdade, eu prefiro jantar em casa... – Protestou a garota.

-- Depois te levarei para qualquer lugar, mas agora, te quero ao meu lado. – Encarou a irmã. – Em breve você será oficialmente minha esposa e deve se acostumar com todas as surpresas da minha famı́lia.

A jovem italiana mais uma vez encontrou aquele par de olhos azuis que pareciam buscar cortar-lhe a alma.

            Não, não iria embora. Fugir não adiantaria nada, pois o que parecia era que o destino sempre estava buscando confrontá-las, o melhor era encarar tudo o que estava acontecendo e entender de uma vez por todas que não poderia ter aquela mulher.

Beatrice assentiu e permitiu que o noivo a acompanhasse até a sala de jantar. Sentiu a mão possessiva lhe circundar a cintura, mas isso não lhe causou nenhum tipo de sensação. O arrepio que lhe percorria a espinha era da certeza de estar sendo fulminada pela juı́za.

Luı́s Fernando observava a cena e percebia que essa era a primeira vez que conseguia visualizar a fraqueza da filha. Eva era a única que conseguira tocá-la, agora restava saber se era por amor ou por um sentimento não tão nobre.

-- Se quiseres, poderemos jantar no jardim. – Tocou-lhe o braço.

Só naquele momento Maria Fernanda percebeu que havia outra pessoa naquele lugar.

Sentiu o braço do empresário e ligeiramente se desvencilhou daquele toque. Não desejava ter nenhum tipo de intimidade com aquele homem, na verdade, o que mais desejava era ir embora daquele lugar o mais rápido possıv́  el. Estava com tanta raiva, sentia como se a qualquer momento o vulcão que existia dentro de si fosse entrar em erupção.

Respirou fundo!

-- Jantaremos com meu irmãozinho e com a minha cunhadinha! – Exibiu um falso sorriso. – Uma confraternização em famı́lia. Que lindo!

 O empresário viu a cara de sarcasmo e teve que se controlar para não sorrir.

-- Então, vamos, senhorita! – Fez um gesto para que ela seguisse.

 

 

O jantar transcorreu sem maiores incidentes. Lutho chegara a usar algumas sutis provocações, mas fora ignorado com sucesso, afinal, a bela déspota apenas tinha olhos para a rebelde cigana.

Luı́s Fernando respeitou o silêncio da filha. Não desejava assustá-la, queria apenas trazê-la para si pouco a pouco, porém ele sabia que aquele não era um momento adequado para tentar justificar seus erros, ainda mais porque sabia que a juı́za não era alguém que esbanjasse bom humor e naquele momento isso estava bem mais claro.

O suplı́cio chegara ao fim e todos se dirigiram para sala, menos o casal de namorados. O italiano fez questão de arrastar a bela morena para a varanda, mostrando para todos os presentes que sua intenção era ter um momento de intimidade com a noiva.

Eva não esboçou nenhum protesto, pois sua única vontade era sair da presença daquela mulher. Aquela linda mulher que apenas com o olhar lhe desconsertava totalmente, que lhe fazia sentir como se algo apertasse seu coração e lhe tirasse todo o ar dos pulmões.

Sentia os beijos do rapaz, mas parecia que seu corpo perdera totalmente a sensibilidade, era como se uma dormência tivesse tomado conta de sua pele. Alguns minutos depois, um dos empregados apareceu avisando ao jovem empresário que havia uma ligação da Itália, alguma coisa relacionada aos negócios. O rapaz desculpou-se e seguiu para atender ao chamado.

A jovem ficou a observa a noite.

Não havia estrelas e nem lua, apenas nuvens carregadas que anunciavam que dentro em breve cairia uma tempestade. Pegou o celular para chamar um táxi.

Não virá de carro, pois estava sem paciência para dirigir, porém agora estava arrependida, pois poderia sair daquele lugar agora mesmo e nem precisaria dar explicação a ninguém.

Sabia que aquele não era um comportamento de alguém que tinha ido àquela casa para desculpar-se por ter saı́do no dia da festa sem se despedir, mas realmente ela não estava disposta a encarar aquelas pessoas novamente.

Decidida, seguiu pela porta lateral.

Maria Fernanda estava inquieta, seus olhos não abandonavam por um momento o lugar para onde o casal de namorados seguiu depois do jantar, alguns minutos depois Lutho passou todo pomposo, seguindo para outra parte da casa.

Luı́s Fernando observava tudo, fora ele quem pedira para que o amigo ligasse para o filho, assim evitaria que a filha tivesse um ataque fulminante. A juı́za cruzou as pernas, enquanto começava a se incomodar com o olhar perscrutador do empresário.

Inquieta, levantou-se.

-- O que o senhor quer comigo? – Indagou com as mãos na cintura. – Não estou aqui por minha vontade, então fale logo, pois não aguento mais respirar o ar dessa casa.

-- Tem certeza que é a casa que está te deixando com falta de oxigênio? – Perguntou sorrindo. – Ou será que a ciganinha?

-- Eu não tenho nada com essa pirralha! – Negou irritada.

-- Acredite, mesmo que eu não soubesse do que houve entre vocês duas, eu poderia ler facilmente na sua linda carinha. A jovem abriu a boca para protestar, mas pareceu ter desistido.

Agoniada, passou mão nos cabelos.

O magnata levantou com muito esforço e se aproximou da linda déspota.

-- Por hoje, você está dispensada. – Encarou-a. – Aproveite e dê uma carona para a sua cunhada, afinal, ela não veio de carro e acredito que seu irmão vai demorar um pouco para aparecer por aqui.

Maria Fernanda o fitou por alguns segundos, não entendia o que aquele homem queria de si, nem mesmo conseguia raciocinar naquele momento, a única coisa que desejava era poder ir ao encontro da ciganinha.

Luı́s Fernando observou o olhar confuso da filha por alguns segundos, até ela sair apressadamente pela porta que dava para a varanda.

Sorriu ao lembrar-se da expressão surpresa da filha do Belluti na mesa. Chegara um momento que ele pensou que ela iria sair correndo daquele lugar e não daria nenhuma explicação, mas aquela menina era bem mais forte do que ele imaginava. Aguentara tudo até o final, porém a dúvida era seria a Eva realmente apaixonada pela juı́za? Se assim fosse, ela se encaixaria perfeitamente em seus planos.

 

 

A italiana não esperou nem o táxi parar direito, adentrou o veı́culo como se tivesse fugindo de algo terrível. Ela sentia o coração bater descompassado, talvez por ter corrido, ou quem sabe por ter a sensação dos olhos daquela mulher observando-a o tempo todo.

O carro já se afastava da linda mansão, chegando a uma esquina, quando um carro preto parou atravessado, freando bruscamente, quase provocando um acidente. A cigana viu o motorista sair do carro, ficando pasma quando vislumbrou a figura que descia do outro veı́culo.

-- Você é louca, moça? – O homem indagou nervoso. – Por muito pouco não acabou com o meu carro.

 Maria Fernanda apenas deu de ombros, caminhando até o carro e abrindo a porta do passageiro.

-- Você vem comigo! – Segurou-a bruscamente pelo braço.

Eva a fitava sem saber o que estava acontecendo, deixando-se conduzir.

-- Ei, moça, ela é minha passageira! – O motorista protestou.

A juı́za pegou dinheiro da bolsa e lhe entregou.

-- Isso é mais do que o suficiente pelos seus serviços! Agora saia daqui! – Ordenou. A bela cigana rebelou-se diante daquelas palavras.

Com um safanão, livrou-se do braço que apertava sua pele.

-- Você não é ninguém para chegar aqui e fazer isso! – Apontou o dedo em riste para a mulher. -- Eu chamei o táxi e eu irei com ele.

            O taxista observava as duas e parecia não saber que a atitude tomar.

Um trovão precedeu gotas de chuvas que começavam a cair lentamente.

-- O que eu faço então?

-- Vá embora!

-- Fique!

As duas mulheres falaram ao mesmo tempo.

O motorista balançou a cabeça e decidiu sair daquele lugar imediatamente.

As duas se encaravam, respirando com dificuldade diante da enorme fúria que dominava ambas.

-- Você não tem o direito de agir dessa forma comigo! – Eva falou irritada. A chuva começou a engrossar.

A juı́za mais uma vez a pegou pelo braço e tentou empurrá-la para o carro, mas a outra não permitiu. As duas travaram uma pequena briga, em pouco tempo, estavam totalmente ensopadas.

A italiana estava tão furiosa que acabou arranhando o rosto da déspota, que mesmo sentindo dor conseguiu imobilizá-la, pressionando-a contra o capô do automóvel. A chuva agora caia com mais vigor.

-- Solte-me!

A juı́za apertou-a ainda mais.

-- Se tivesse agido com um pouco de educação... essa situação seria facilmente evitada. – Falava quase sem fôlego. – De que valeu seu pai gastar tanto te fazendo estudar nas melhores escolas se você não aprendeu bons modos.

-- Eu só uso a minha educação com quem me trata da mesma forma.

Eva tentava se desvencilhar, mas seu corpo estava curvado sobre o carro e isso a deixava mais presa.

Sentia a camiseta e o jeans colados ao corpo, sentia as gotas frias lhe arrepiarem a pele, mas era a visão daquela mulher a fitando que a deixava mais agitada.

 

Só naquele momento ela percebeu como a roupa formal usada pela outra tinha se tornado algo tão sensual, um verdadeiro atentado ao pudor. Os seios estavam delineados e era possível perceber os mamilos eriçados.

Seria o frio o motivo ou a proximidade das duas? Os olhares se cruzaram demoradamente.

A italiana percebeu que aquela era a hora certa para recuar. Aqueles olhos que a fitava não exibiam apenas raiva, mas agora podia ver algo mais, um fogo intenso que ela conhecia bem.

-- Eu... eu acho melhor sairmos daqui... ta frio... quero... quero ir para casa.

-- Casa? – Exibiu um sorriso desdenhoso. – Pouco tempo atrás você estava muito feliz nos braços daquele italianinho idiota. – Apertou mais forte o pulso dela. – Então, eu não vejo nenhum motivo para essa pressa.

A filha de Belluti olhou para os lados e percebeu que seria difı́cil que alguém passasse por ali naquela hora e com aquela tempestade. A mansão dos Alcantaras de Albuquerque ficava um pouco afastada das demais residências, na verdade, ela ocupava todo o quarteirão e naquele momento elas se encontravam bem distante da entrada, estavam na parte dos fundos e apenas podiam ver bem a longe as luzes que iluminavam a casa.

-- Está... está tarde... estou com frio... está chovendo. – Balbuciou.

-- E você acha que eu me importo com isso? – Estreitou os olhos. – Como ousou beijá-lo, como permitiu que a tocasse quando estivemos juntas a ... – Respirou fundo. – Você    minha! Droga!

A italiana não pode evitar sentir aquele pequeno frenesi ao ouvir aquelas palavras, era como se: “ Você é minha...” tivessem vida própria e fossem capazes de tocar-lhe em seu âmago.

Respirou fundo!

-- Eu... eu não sou sua... – Falou baixinho. – Não sou! – Balançou a cabeça negativamente.

 Maria Fernanda bateu forte na lateral do carro.

-- É daquele estúpido que você quer ser? É a ele que tu queres pertencer? – Gritava desesperada.

Eva a viu ficar de costas e aproveitou para sair da posição que fora submetida. Via como ela parecia trêmula, os ombros estavam curvados e ela parecia perdida, nunca a sentira tão   frágil, agoniada, desesperada.

Pensou em se aproximar, porém preferiu ficar estática.

Um trovão fez-se ouvir e parece ter tirado a outra de seus devaneios.

A juı́za segurou-a mais uma vez e com tamanha violência que fez a outra gemer alto.

-- Vamos ver se você não é minha! – Falou bem próximo daqueles lindos lábios. – Vamos ver se ainda vai querer aquele imbecil depois que sentir meu toque novamente. – Baixou a mão e tocou-lhe os seios. – Isso não parece água? – Introduziu a mão dentro da sua calcinha.

A cigana sentia o corpo reagir desgraçadamente aqueles dedos que pareciam saber onde e como pressionar.

-- Isso é suficiente para ti? – Mordeu o lábio inferior. – E' meu corpo que você quer possuir, meritı́ssima? – Olhou bem no fundo daqueles olhos. – Se for isso, ele é seu... – Gemeu quando se sentiu penetrada.

A juı́za impulsionou seus dedos, aumentando as estocadas, invadindo-a sem parar, capturou-lhe os lábios em um beijo devorador, pressionou-a mais e a sentiu balançar os quadris, recebendo tudo que a outra lhe dava, tudo que a outra lhe obrigava a compartilhar, tudo que a fazia refém daquele insano desejo.

Maria Fernanda sentiu a outra acompanhar os movimentos e em pouco tempo relaxar.

Viu os olhos molhados da italiana e aquilo não era chuva, abraçou-a forte, trazendo-a para bem perto de si, ouvindo os soluços, a agonia demonstrada pelas unhas que cravavam em seu ombro.

-- Não! Eu não quero só o seu corpo. – Falou em sua orelha. – Eu necessito de você... do seu corpo... mas eu também quero sua alma...


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