A déspota -- Capítulo 14
O dia amanheceu nublado.
Aquele era o dia de um grande evento, a
festa em comemoração ao aniversário de um dos maiores magnatas do petróleo e
colaborador assı́duo dos polı́ticos de toda região. O poderoso Luı́s Fernando
Alcântara estava em seu escritório, na sua gigantesca e solitária mansão.
Apertou a macha da cadeira de rodas e
seguiu até a enorme janela de vidro que dava para o jardim. Observava as
pessoas se movimentando, arrumando tudo para ficar impecável para logo mais à
noite.
Aquilo era sempre uma idiotice, mas sua
fria esposa fazia questão de reunir toda a alta sociedade, tanto do Brasil,
como da Itália para exibir o enorme poder que possuı́a. Lógico que ela não
estava nem aı́ para ele, mas não se cansava de ostentar quem ela era.
Balançou a cabeça, parecia decepcionado.
Não havia famı́lia, não havia amor,
nunca houve. Seus filhos preferiram morar no mediterrâneo, a única coisa que
os traziam ali eram os negócios. Dinheiro!
Luı́s Fernando poderia está inválido,
mas aquilo não o impedia de manipular e controlar uma boa parcela daquela
sociedade. Aquele era um mundo sujo e todos tinham um preço, isso ele aprendera
bem em todos aqueles anos. Continuaria seus domı́nios até o último suspirar
da sua vida, porém para isso precisava colocar um cabresto numa certa juı́za.
Sua filha!
Sim!
Pegou a foto que estava no bolso do seu
terno e fitou aqueles olhos azuis tão intensos.
Acompanhava os passos daquela garota
desde que ela nascera. A vigiava de perto, porém nunca se aproximara o
suficiente, pois temia um escândalo. Esther, sua esposa, se certificara que
ele se mantivesse afastado, porém ela permanecia bem próximo, destruindo
pouco a pouco a amante do marido. Não que ele fosse inocente, agira até pior
que a própria mulher. Se envolvera com uma prostituta e para camuflar seu caso
fizera seu filho, Fernando, entrar naquele relacionamento sórdido, na época o
garoto era adolescente e se encantara pela bela garota de programa.
A situação ficara difı́cil de ser
sustentada, o rapaz fora mandado para longe, enquanto a bela Manu se tornava
escrava das drogas. Nessa época descobrira que a jovem estava grávida, odiara-a
o suficiente para tentar matá-la, mas acabara deixando-a viver num orfanato,
lhe arrumara um trabalho e lavara as mãos.
Quando pensava que aquela vadia esperava
um bebê do seu filho entrara em desespero!
Nessa época seguira para longe e
deixara que Esther saciasse toda sua raiva, até levar a bela mulher a morte
por overdose. Quando retornara ao Brasil, descobrira que a menina tinha sido
adotada e desde aquele dia a observava de perto. Acompanhava seus passos, via
seu esforço ao chegar ao posto de juı́za, então começara a pensar que do mesmo
jeito que aquela jovem podia ser filha do Fernando, também podia ser sua e
tivera a ideia de contratar um idiota para buscar material para fazer o exame
de DNA e o louco acabara alvejando Maria Fernanda, bem pelo menos não fora
nada grave e a dúvida fora tirada.
Maria Fernanda Lacerda era sua filha e
para piorar, ela o caçava, buscava o momento para vingar a morte da mãe e ele
precisava agir, estava a um passo a frente dela, sabia que ela tinha uma
fraqueza e a usaria para trazê-la para si. Queria-a, estava disposto a
reconhecê-la como sendo sangue do seu sangue, admirava demais a personalidade
forte, a expressão arrogante e o modo de agir da garota, tinha orgulho da sua
representante feminina como nunca tivera de nenhum dos filhos.
Via naqueles olhos azuis que herdara de
si, tudo o que tinha sido há tempos. Ela tinha potencial para assumir seu
lugar e ele seria capaz de fazer qualquer coisa para obrigá-la a isso.
O detetive que fora contratado para
seguir seus passos já o informara que ela tinha desembarcado na capital
naquela manhã, não via a hora de chegar a noite e poder ver de perto sua
réplica.
Eva chegara ao Brasil e seguiu para a
mansão Belluti.
Andrello estava descendo as escadas
quando viu a filha chegar. Feliz foi ao encontro dela, abraçando-a.
-- Oh bambina, como me abandonas assim?
– Afastou-se para fitá-la. – Como pode está ainda mais bela?
-- Olá, papa! – Mostrou os dentes numa
imitação de um sorriso. – Não se anime, só vim para festa do pai do Lutho.
O
italiano sorriu.
-- Eu também irei à comemoração,
afinal, seu sogro é um dos maiores patrocinadores da minha campanha. – Beijou-lhe
nos dois lados do rosto. – Está pronta para ter um pai senador?
-- Eu prefiro continuar sendo cigana. –
Piscou e seguiu para o andar superior.
-- Pensei que não tinha voltado para o
seu noivo. – O empresário falou um pouco mais alto. – Então vamos ter casamento?
-- Não! – Parou no topo da escada,
virando-se para ele. – Estou apenas o usando para sexo.
Eva entrou no quarto e não ouviu a
crise de tosse que seu pai teve, parecia engasgado com as palavras dela.
Beatrice se jogou na cama.
Não sabia se tinha sido uma boa ideia
retornar, porém ficara tocada com o pedido de Lutho. Sabia que ela não tinha
um bom relacionamento com o pai, na verdade, nem convivera com o poderoso
empresário, vivera com a mãe, porém sempre era obrigado a participar daquele
evento anual. Já estava ali e o que
precisava fazer era aguentar algumas horas, depois fingiria uma dor de cabeça e pediria para vir
para casa.
Tinha combinado com o amigo de ir para
uma boate, estava com saudades de cair na noite e só parar no outro dia.
O tempo que ficara na Espanha, mal saia,
apenas ia ao shopping ou a algum lugar com os avós. Não tinha vontade de
fazer nada, às vezes deitava na espreguiçadeira e ficava recordando os
momentos que passara na fazenda. Fechava os olhos e pensava num par de olhos.
Nem mesmo bancara a cigana...
Talvez devesse retornar... Suas roupas
tinham ficado na fazenda, mas poderia conseguir outras. Quem sabe pudesse ir à
festa à caráter.
Riu baixinho, pois sabia que seu pai
poderia enfartar diante de algo assim.
Fechou os olhos e se recordou da
déspota.
Ela deveria estar destruindo a vida de
outras pessoas e com certeza seguia seu caso com a Catrina.
Torceu a boca em desagrado.
Que fizesse bom proveito!
Eva levantou num sobressalto e pegou uma
foto que estava no criado mudo. Era o noivo. Observava a imagem, ele era moreno
e tinha os mais belos olhos azuis que já chegara a ver na vida.
-- Como pode...
Era a mesma tonalidade, o mesmo formato
dos olhos da juı́za.
Não!
Ela devia estar ficando louca, mas Maria
Fernanda era muito parecida com o empresário, tirando a pele dela que era muito
branca, mas eles tinham a mesma expressão.
-- Seria possível?
Não!
O poderoso Luı́s Fernando de Alcântara
só tinha dois filhos e sua esposa, a irritante Esther, não parecia ser mulher
para aceitar deslizes matrimoniais, mesmo eles não vivendo na mesma casa, o
casamento deles era intocável e nunca ficara sabendo de nenhum escândalo
envolvendo a arrogante famı́lia.
-- Eu devo está vendo coisas. – Se
jogou na cama. – Estou pirando!
Maria Fernanda chegara à cidade e
decidira se hospedar em um hotel. Não queria envolver os pais naquela sujeira
toda. Compareceria à festa e tentaria
acabar com aquela brincadeira. Não permitiria que ninguém a chantageasse.
Pedira uma licença de quinze dias, esse
tempo seria suficiente para esclarecer as coisas. Não temia enfrentar aquele
homem, ao contrário, desejava olhar na cara daquele miserável e dizer tudo
que ficara engasgado durante tanto tempo. Aquilo que acontecera não mudaria os
rumos dos seus planos, ainda desejava com toda alma vingar a morte da mãe.
Sabia o quão poderosa era aquela famı́lia, porém isso não a assustava.
Lembrou-se das palavras do homem que
tentara contra sua vida. Ele falara que ela podia ser filha do pai e não do
filho, mas o que mais lhe chamara a atenção era o fato de Eva ser noiva de um
Alcântara de Albuquerque.
Abriu a mala, pegou o notbook, ligou-o e
digitou o nome da filha de Belluti.
Não fora difı́cil encontrar várias
matérias sobre a garota, passou alguns segundos admirando aquela bela figura,
era tão linda que chegava a doer em seu peito. Observou uma imagem onde ela
estava abraçada a um belo rapaz moreno. Ambos sorriam de forma íntima e
apaixonada.
Baixou a tela, irritada.
Não se importava com aquela idiota, por
culpa dela se metera nessa enrascada. Não baixaria nunca mais a guarda e
esperava não ter que encontrar a ciganinha, ainda queimava de raiva quando
lembrava que fora abandonada e nem ao menos recebera um adeus ou um telefonema
para justificar aquele ato.
-- Eu te odeio, Eva! Te odeio pelo que
me faz sentir, espero que não cruze nunca mais o meu caminho.
A festa estava linda.
O jardim já estava cheio de convidados.
Havia luzes coloridas, mesas, e uma
banda de Jazz tocando, os garçons, todos vestidos a rigor, desfilavam com
bandejas de bebidas, muito vinho e comida à vontade para todos os presentes.
O anfitrião permanecia com a esposa ao
lado e recebia todos.
Por insistência de sua arrogante
mulher, precisara deixar a cadeira de rodas de lado e usar apenas a bengala,
mas ele sabia que não aguentaria durante muito tempo. Tivera um AVC há alguns
meses e ainda estava fazendo fisioterapia para recuperar todos os movimentos.
-- Olha o nosso filho como está lindo e
orgulhoso trazendo a noiva pelo braço. –Esther comentou.
Luis Fernando fitou os jovens.
Lutho sempre exibira aquele ar pomposo,
tinha saı́do a mãe, era ambicioso demais, orgulhoso de mais, porém era apenas
um garotinho que corria para as asas dos pais quando as coisas não saiam do
jeito que ele planejava.
Mirou com mais atenção a herdeira de
Belluti.
Ela não parecia muito à vontade.
Olhando-a bem sabia o porquê de a filha ter perdido o rumo ao conhecê-la.
Não era qualquer um que resistiria aquele ar selvagem que a jovem exibia, mas
ela também não parecia ter saı́do ilesa dos dias forçados naquele fim de
mundo e isso era bom para poder usar em seus planos.
-- Boa noite, meus pais! – O rapaz
cumprimentou cada um com um beijo.
-- Boa noite, senhor Luis Fernando,
senhora Esther. – Eva imitou o gesto do noivo.
-- Está tudo muito lindo, mama, como
sempre a senhora se superou.
-- Não é fácil fazer isso. Vocês
sabem que os convidados que estão aqui são selecionados a dedos, não permito
que ralés façam parte do nosso meio social.
A cigana precisou usar todo seu
autocontrole para não responder de forma mal educada, mas ela não suportava o
jeito esnobe da sogra agir e se comportar, era como se eles fossem seres
superiores a toda raça humana.
Viu seu pai se aproximar de braços dados
com a tal da namorada, que bom que ele foi detido por outro polı́tico, bastava
por enquanto ter que aguentar Esther. Lutho pegou uma taça de vinho e lhe
entregou.
-- Onde está o Fernando?
-- Já está bêbado uma hora dessas. –
A esposa do empresário torceu o nariz. – A esposa subiu com ele para o quarto.
Não quero escândalos, daqui a pouco eles descem.
A mulher continuou falando suas
futilidades, quando de repente todos os olhares se voltaram para a linda mulher
que caminhava de forma arrogante e sexy pelo enorme carpete vermelho.
A cigana sentiu o coração bater mais
rápido a olhar para a direção que todos seguiam. Aquilo só podia ser uma
miragem! Pensava ela.
Maria Fernanda estava ainda mais linda
do que a última vez que a viu. Uma verdadeira fêmea fatal. Ela usava um
vestido longo, azul que combinava com a tonalidade dos olhos, colado ao corpo,
delineando suas curvas magras, mas terrivelmente sexy. Os belos seios redondos
atreviam-se discretamente pelo decote profundo.
Levantou a cabeça e seus olhos se cruzaram
lhe causando um terrível choque.
A expressão continuava dura, mas havia
um quê ainda maior de zombaria naquela expressão fechada.
-- Quem é ela? – Esther parecia
abismada.
-- Minha convidada.
Luı́s Fernando caminhou lentamente por
entre os convidados, mesmo com toda a dificuldade de locomoção, fez questão
de atender a juı́za pessoalmente. Aproximou-se, e sem que a outra esperasse,
abraçou-a.
A déspota permaneceu estática! Sabia
que não poderia armar um escândalo naquele lugar cheio de milionários,
bastava ter que enfrentar aqueles olhares que se voltaram todos em sua direção.
-- Eu sabia que você viria! –
Sussurrou-lhe. – Você é uma mulher não só de grande beleza, tem muita
inteligência.
-- Não lembro de ter tido escolha! –
Ela estreitou os olhos, se afastando.
-- Sempre temos, meu anjo, e foram essas
escolhas que lhe trouxera aqui.
-- Pensei que falaria com o filho e não
com o pai! Afinal, acho que é com ele meu assunto.
O magnata sorriu de forma sutil.
-- Eu sou a pessoa com quem você deve
falar.
--Ah, então a bala que eu levei fora um
presente seu. – Comentou com sarcasmo.
-- Aquilo foi um terrível acidente,
acredite se algo de ruim tivesse ocorrido contigo eu jamais me perdoaria.
-- Ah, por favor, poupe-me do seu falso
carinho. – Falou irritada. – Diga logo o que o senhor deseja, pois quero ir
embora desse lugar.
Maria Fernanda fechou as mãos,
apertando fortemente os punhos quando viu que a cigana tinha sido tirada para
dançar pelo belo rapaz que a acompanhava. Quando entrou naquele recinto a
primeira pessoa que viu fora a italianinha, parecia que um imã a atraia.
Não
desejava tê-la encontrado.
Estava tão maravilhosamente linda como
aquele vestido vermelho que lhe caia sedutoramente pelos ombros e expunha o
colo perfeito, ela não optara por um modelo longo, isso significava que suas
belas pernas estavam à mostra, fazendo qualquer um babar loucamente.
Ela era uma verdadeira cigana com
aqueles cabelos ondulados nas pontas, longos e soltos, uma corrente de ouro
circundava sua cabeça lhe dando maior aparência com os povos errantes.
-- Você a quer, não é? – O homem
examinava seu rosto. – É insensível a
todos, até mesmo as pessoas que te criaram como filha, porém a filha de
Belluti é o seu calcanhar de Aquiles.
A juı́za foi tirada de seus devaneios,
virando-se para o empresário, fitando-o de forma furiosa.
-- O que o senhor quer de mim?
O homem fez sinal para um garçom, pegou
uma taça e a entregou a filha.
-- Relaxe! Aproveite a festa, preciso
dar atenção a outros convidados, porém hoje nós teremos a nossa conversa.
Esther observava tudo atenciosamente.
Quem poderia ser aquela bela mulher?
Viu o marido se aproximar e se adiantou.
-- Quem é ela?
-- Não vai fazer escândalos, não é?
– Debochou.
-- Eu quero que você me diga agora quem
é aquela mulher com quem você conversava intimamente?
O magnata abriu um enorme sorriso.
Ele esperara muito tempo para jogar
aquilo na cara da esposa.
-- Minha filha e de Emanuely!
A italiana sentiu todo ódio renascer
ainda mais forte em seu peito. Nunca odiara tanto alguém como aquela maldita
prostituta, poderia tê-la matado com suas próprias mãos, ainda mais quando
descobrira que ela estava grávida.
-- Ela não é sua filha! – Negou
veemente. – A vagabunda da mãe dela se deitou com tantos homens, até mesmo
com seu primogênito.
-- Eu sei! Mas a dúvida já foi tirada
e agora eu já tenho certeza que ela é minha.
O empresário via a mulher ficar cada
vez mais vermelha, sabia que ela estava a ponto de explodir, porém a conhecia
o suficiente para saber que ela não exporia seu casamento de aparência a
fofocas.
-- Eu vou matá-la! – Ameaçou.
Luı́s Fernando a segurou forte pelo
braço.
-- Não a toque ou tirarei seu nome do
meu testamento, te deixarei sem nada...
-- Tudo bem com vocês?
Ambos se viraram e viram Lutho os
observando meticulosamente.
-- A sua mãe estava sendo carinhosa
comigo. – O velho debochou.
-- Onde está sua noiva? – Esther
indagou, recobrando a pose.
-- Ela não estava se sentindo muito
bem, estava meio enjoada e por isso foi ao toalete.
-- Só falta você ter a engravidado! –
A mulher desdenhou. – Assim você garantiria logo esse casamento.
-- Não é isso, tenho certeza que não.
– Falou constrangido.
O jovem sabia que aquilo seria impossível,
já que desde que reencontrara a italiana, ela não permitira que ele a tocasse
intimamente.
-- Você deveria pensar em fazer isso! –
Falou ajeitando o penteado. – Eu não gosto muito daquele jeito cigana que ela gosta
de exibir, porém isso vai ser fácil de resolver, ela é neta e filha de
famı́lias de enormes poderes, seria perfeito para você.
O rapaz apenas assentiu, enquanto o
patriarca dos Alcântaras buscava em vão sua filha entre a multidão. Aonde
ela teria ido?
Eva
caminhou pelo enorme jardim e seguiu até um pequeno vale cheio de árvores.
Não havia ninguém ali, apenas a escuridão da noite e ao longe se ouvia a
música. Encostou-se ao tronco e fechou os olhos.
Não estava em seus planos rever a juı́za.
Chegara a pensar que era apenas uma
visão, mas enquanto dançava com Lutho ficou a observando em uma conversa
animada com o anfitrião. O que ela estaria fazendo ali? Aquele não era um
lugar frequentado por ela, pois tinha quase certeza que uma simples juı́za não
estaria na lista de convidados de Esther.
-- Está fugindo de alguém?
Eva assustou-se, porém antes de sair
fora pressionada fortemente pela outra.
-- Solte-me! – Pediu.
Maria Fernanda viu quando ela tinha
deixado o salão e a seguiu. Ainda não sabia por qual motivo fizera aquilo,
porém não conseguira ficar distante, tinha necessidade de falar-lhe mais uma
vez.
-- Você me viu lá dentro? – Perguntou
arqueando a sobrancelha. -- Porque se viu, realmente você é mestre na arte de
ignorar.
A cigana tinha dificuldade em respirar
devido a proximidade, seu corpo estava pressionado pelo da outra. Aspirava
aquele perfume já tão conhecido de si, afinal, desde que retornara da fazenda
era como se aquele cheiro estivesse impregnado em sua pele.
-- Solte-me! – Falou por entre os
dentes.
A juı́za estreitou os olhos.
Mirou insistentemente, parecia está
buscando alguma coisa naquelas ı́ris escuras e misteriosas. Colou os lábios na
lateral do pescoço da italiana... respirou fundo e afastou-se.
-- Imagino que foi uma surpresa me
encontrar aqui. – Falou de costas para ela. – Não se preocupe, não vim atrás
de ti. Afinal, você deixou bem claro que não me deseja por perto.
Eva estendeu o braço para tocá-la, mas
se arrependeu.
-- O que veio fazer nessa festa? –
Indagou relutante.
Maria Fernanda virou-se para ela.
-- O que foi? Acha que não sou uma
pessoa que poderia ser uma convidada como você ou como todos os outros que
estão aqui? – Ironizou. – Você não perdeu esse jeito de mimada que é melhor
do que os outros.
-- Eu não disse que você não era
digna de está nessa festa, apenas me surpreendi com a sua presença.
-- Por quê? – Chegou mais perto. – Por
que eu sou filha adotiva do empregado do seu pai ou por que sou filha legı́tima
de uma prostituta?
A italiana viu a dor e o ódio presente
naquele azul.
-- Eu nunca falaria e nem pensaria algo
assim...
-- Ah, por favor, poupe-me desse seu
olhar de pena porque eu não preciso e nunca precisarei dele. – Interrompeu-a
bruscamente.
-- Você continua sendo uma déspota! – Exclamou irritada.
Maria Fernanda a segurou pelo pulso
fortemente e saiu puxando-a por entre as árvores, Beatrice ainda abriu a boca
para protestar, porém parecia sem forças para nada, apenas se deixava levar
por entre as frondosas e frutı́feras plantas.
Ambas se repeliam com a mesma
intensidade que se buscavam, se queriam, mas negavam ao prazer de se
entregarem.
Perfeito!
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