A dama selvagem - Capítulo 24
O quarto enorme se tornara o habitat de
uma onça encurralada.
A luz do dia penetrava pelas janelas
abertas, o vento balançava as cortinas. Havia alguns lençóis jogados no chão
com alguns travesseiros.
Diana andava de um lado para o outro.
Seguia horizontalmente e seus pés descalços pisavam tão duro quanto uma
rocha.
Exibia uma expressão furiosa e os olhos
negros estavam ainda mais estreitos. Parou por um segundo, jogou a cabeça para
trás.
Usava um roupão preto atoalhado, os
cabelos ainda estavam úmidos do banho recente. Encarou Ana que parecia
assustada.
-- Quem ela pensa que é? – Rosnou. –
Como ousou a se negar a me receber? – Deu um riso nervoso. – Eu tentei... Ah,
sim, eu tentei!
Sua paciência estava no limite, ainda
mais depois que agira gentilmente, pedindo a empregada para solicitar que a
neta de Ricardo recebesse sua presença e um sonoro não fora dito.
A Calligari fora praticamente excluı́da
da rotina da jovem, sentindo o desprezo da garota a cada segundo.
Vanessa e Cláudia sempre estavam presentes,
cuidando de Aimê e zelando por seu bem-estar. A empresária, até mesmo,
levara a garota para visitar Ricardo. Aproximando-se e recebendo grande carinho
em troca, algo que não se estendia a formidável pintora.
Nos primeiros dias manteve total distância,
anda mais depois do encontro que tiveram, entretanto, agora, tudo saı́ra do seu
controle.
Ana observou a patroa acelerar ainda
mais os passos.
Pelo que a conhecia, sabia que ela já
tinha atingido o ápice da paciência. Viu-a deixar os aposentos e seguiu
atrás dela, temendo o pior.
Diana caminhava rápido, seguindo em
direção ao quarto da “esposa”.
Nunca em sua vida fora tão afrontada
por uma garotinha e não admitiria que isso se passasse nesse momento.
As narinas abriam-se com a forma acelerada de
respirar.
Ao chegar diante do quarto, nem mesmo se
deu ao trabalho de bater na enorme porta, simplesmente adentrou o espaço como
se fosse aquilo a coisa mais natural do mundo.
Cláudia teve um sobressalto!
Ajudava a neta a vestir a bermuda, pois
a filha de Otávio se encontrava apenas de calcinha e sutiã nas cores rosas.
Deixou o short cair.
O incômodo gesso já tinha sido
retirado, mesmo assim ainda era preciso ajuda para algumas tarefas.
O
olhar de Cláudia caı́ra sobre a pintora.
-- Deixe-nos a sós! – A Calligari
ordenou, enquanto usava o tom baixo e ameaçador.
Aimê não precisava enxergar aquela
mulher ou ouvir sua voz para saber que ela estava ali. Sentiu um arrepio na
nuca.
A presença da major podia ser sentida de
forma tão aterradora que chegava a lhe tirar o ar. Mesmo estando em trajes
ı́ntimos, tentou não se intimidar com a visita desagradável da ı́ndia.
Há um bom tempo não aparecia, apenas
hoje mandara que Ana pedisse para que ela a recebesse, o que fora imediatamente
negado, porém não atendido.
Não queria mesmo nenhum tipo de contato
com a morena, pois percebia que não havia como existir uma relação entre
ambas, aprendia a duras penas que seus sentimentos foram apenas usados para
satisfazer o bel prazer da herdeira de Alexander.
Empinou o queixo em desafio.
-- Pode nos deixar, vovó, acredito que
a major tem algo muito importante para falar, ainda mais porque eu tinha
deixado claro que não tinha nenhum interesse na sua presença, mesmo assim ela
está aqui. – Alfinetou-a. – Não entendi porque se deu o trabalho de perguntar
se não acataria a resposta.
Diana sentia a provocação.
Cláudia pareceu apreensiva.
-- Tem certeza?
A pintora relanceou os olhos em tédio.
-- Sim, tenho certeza! – Aimê disse
esboçando um sorriso para encorajar a Cláudia. – Não acredito que isso vai
demorar muito.
A esposa de Ricardo ainda hesitou, mas
acabou deixando os aposentos, sob o olhar irado da artista.
A Villa Real cruzou os braços sobre os
seios.
Esperava impacientemente que a desagradável
conversa começasse.
Não se sentia confortável em estar
apenas de roupa ı́ntima na presença da pintora. Era como se não fosse apenas
seu corpo a estar exposto, mas também sua alma.
Ergueu a cabeça em desafio.
-- Já pode falar o que deseja!
A Calligari a observou desde os
delicados pés no chinelo, subindo pelas longas, torneadas pernas, demorando-se
no quadril, no abdome liso... Mirou os seios que se adequava ao sutiã rendado,
viu a borda...
Sentiu um conhecido incômodo no ventre.
Levou a mão aos cabelos, arrumando-os
por trás da orelha, depois a encarou. Percebia o desafio brilha naquele olhar
orgulhoso.
Azuis da cor do mar!
-- Como ousou a se negar de me ver? –
Indagou irritada. – Eu fui gentil, passei dias sem te incomodar, fiquei no meu
canto e quando preciso que falasse comigo, você se nega! Quem você pensa ser?
Aimê respirou fundo e soltou lentamente
o ar.
Sabia que a ‘dona arrogante’ não sabia
lidar com rejeição, porém ela se iludira que o contrário ocorresse, afinal,
conseguira manter distância por um perı́odo satisfatório, mesmo não tendo
sido o suficiente.
-- A sua gentileza não dura muito,
afinal, quase colocou a porta abaixo e não respeitou o meu desejo. – Retrucou
calmamente. – Não sei o motivo da sua surpresa, já deixei claro como não
desejo que se aproxime.
Diana colocou as mãos nos quadris.
-- Então, na minha própria casa eu
não tenho o direito de falar contigo? – Arqueou a sobrancelha.
-- Não estou aqui por minha vontade,
sabe que se fosse por mim eu já teria deixado “a sua casa”, porém você mesma
me mantém prisioneira nos seus domı́nios!
Diana se aproximou mais.
O maxilar estava enrijecido, os olhos
negros estreitados.
-- Estou te protegendo! – Disse por
entre os dentes. – Estou fazendo isso para que não caia nas mãos daquele
louco!
-- Eu já disse que sou grata por isso,
mas não é sua função fazê-lo!
A pintora fechou as mãos ao lado do
corpo.
Tentava manter a calma, mas era uma
tarefa quase impossível, ainda mais quando se tratava daquela garota.
-- Está agindo como uma criança
birrenta e mimada! – Acusou-a. – Saiba que você irá fazer a cirurgia, nem que
para isso eu tenha que te arrastar pelos cabelos até a clı́nica.
Desde que o médico avisara que tudo
estava pronta para a operação no dia anterior, a filha de Otávio deixara bem
claro que não se submeteria a nenhum processo cirúrgico.
A jovem não aceitava nada que viesse da
herdeira de Alexander.
-- Realmente você está cada vez mais
gentil! – Ironizou, enquanto se mexia inquieta. – Se veio aqui apenas para me
ameaçar, já o fez, pode sair!
Diana respirava fundo, parecia tentar
manter o escasso controle. Mirou a pequena cicatriz na fronte da garota.
Ainda se sentia culpada por tudo o que
se passou, ainda se martirizava com as cenas daquela fatı́dica noite. Umedeceu
o lábio superior com a lı́ngua.
Aproximou-se mais, segurando-a
delicadamente pelos ombros.
A Villa Real se encolheu ao senti-la,
pois o toque daquela mulher parecia brasa em sua pele. Engoliu em seco.
-- Aimê, eu apenas desejo me redimir de
algo ruim que te fiz... – Levou o dedo ao machucado na face da filha de
Otávio. – Desejo que volte a enxergar, que possa ver as flores que você tanto
gosta... – dizia em tom baixo e rouco – Já imaginou como você é linda... –
Usou o polegar para tocar as sobrancelhas. – Nunca vi alguém tão bela... Vai
poder ver esse rosto de anjo... Esses lábios...
A garota sentia o hálito tão perto do
seu e tinha a impressão que estava sendo hipnotizada por aquela voz. Fechou os
olhos, em seguida lhe segurou as mãos, afastando-as.
A Calligari via mais uma vez o desprezo
que ela expressava. Deu alguns passos para trás.
Cerrou os dentes.
Por que aquela garota conseguia ir tão
fundo em seus sentimentos?
Mesmo que jamais admitisse, passara
todos aqueles dias desejando vê-la, pensando nela, querendo ficar ao lado dela.
À noite não conseguia dormir, não
conseguia se concentrar em nada, até mesmo suas pinturas tinham se tornados chatas
e aborrecidas. Durante o dia buscava se distrair, tentando buscar pistas sobre
o Crocodilo, mas era como se ele tivesse sumido da face da terra. Quando o sol
se despedia do horizonte se trancava em seu estú dio, embriagando-se com o
passado.
Experimentara retomar sua vida noturno,
indo até a boates, clubes... Até mesmo conhecera belas mulheres, mas nenhuma
que chamasse sua atenção.
-- Eu não farei, pois não aceitarei
nada que venha de ti.
Diana meneou a cabeça irritada.
-- Ou fará por bem ou por mal, mas pode
ter certeza de que fará a cirurgia!
-- Então será por mal! – Disse em
desafio. – Me arrastará como já disse, porque por minha vontade não irei a
lugar nenhum.
Diana mirou os lábios rosados apertados
em linhas finas. Mais uma vez passou seu olhar pelo corpo bonito.
Lembranças da primeira vez que se amaram
vieram a sua mente.
Tinha a impressão que o sabor dela
podia ser sentido, o cheiro da excitação, do prazer que a uniram, da boca sussurrando,
pedindo, chamando por si.
Aimê sentiu o rosto pegar fogo.
Notava o olhar insistente da Calligari
sobre si, sentia como se estivesse sendo acariciada em seu âmago.
Despudorada!
-- Gostaria de ficar sozinha! – Pediu
tentando manter a voz firme.
A pintora ainda abriu a boca para
protestar, mas sabia que não havia como fazer outra coisa naquele momento.
-- Eu irei, mas saiba que ainda não
terminamos!
A Villa Real ouviu os passos saindo do
quarto e só naquele momento voltou a respirar de forma livre.
Ainda não conseguia estar ao lado
daquela mulher sem sentir as angustias da ú ltima noite que fora tocada. As
palavras grosseiras não a abandonavam em momento algum, continuava
terrivelmente machucada pela insensibilidade da major.
Amava-a, mas sabia que deveria sufocar
aquele sentimento de qualquer jeito ou sofreria mais ainda por isso. Alimentava
as mágoas, pois elas se tornaram a barreira de proteção para não expor seus
sentimentos.
Vanessa convidou a pintora para almoçar
naquele dia.
Percebia que a morena não estava bem,
ainda mais depois de praticamente ser excluı́da da vida da Villa Real. Tomava
um copo de água quando pela porta de vidro viu a Calligari se aproximar.
Os olhares dos presentes se voltaram
para a mulher alta e de pele bronzeada que adentrava o ambiente. Alta, magra e
com aquele porte arrogante era sempre apreciado por todos.
A filha de Alexander usava calça jeans
colada na cor preta, camisa social na mesma cor e blazer aberto. Os cabelos
estavam soltos, não havia maquiagem, apenas um discreto batom.
Linda!
A empresária sorriu em cumprimento,
pois chegara a pensar que ela não apareceria como era costume. A pintora
sentou.
-- Fico feliz que não tenha me deixado
esperando!
Um garçom bem vestido se aproximou,
entregando o menu.
-- Traga vinho branco! – Diana pediu sem
delongas.
Vanessa olhava o cardápio, mas fechou,
entregando ao homem.
-- Pode trazer o prato da casa! – Disse
simpaticamente.
O homem assentiu se afastando.
Costumavam ir àquele lugar e já era
bem conhecida por todos.
-- Falei com o doutor Júlio Romanofe. –
Vanessa comentou. – Disse que está tudo pronto para a cirurgia.
Diana não falou nada de imediato.
Esperou que a bebida chegasse e só depois de bebericar um pouco, falou:
-- Estive com ela hoje! – Distraiu-se ao
olhar uma criança sentada no colo da mãe, mexendo com os cabelos da mulher. –
Eu juro que tive que me segurar para não a deitar no meu colo e encher-lhe a
bunda de pancadas.
A empresária teve que morder a lı́ngua
para não cair na gargalhada ao imaginar a cena.
-- Ela aceitou te ver então? –
Questionou com a sobrancelha arqueada.
Sabia que Aimê vinha se negando a
encontrar a Calligari e também sabia como isso a estava deixando furiosa.
-- Não! – Bebeu um pouco mais. – Mas
não permitirei que ela ouse falar comigo assim! – Falou cheia de irritação. –
Não deixarei que uma menina estúpida aja assim! – Encarou a empresária.
Vanessa a observou com atenção.
Sabia que por trás daquela expressão
inflexível havia muita dor.
-- Diana, você precisa entendê-la,
afinal, como reagiria se fosse você a receber tantas grosserias? Os olhos
negros se estreitaram em fúria.
-- Acha que me importo com isso? –
Tentou usar o tom mais baixo. – Eu não estou pedindo para que ela transe
comigo... Tenho várias mulheres que dariam tudo para estarem em meus braços! –
Bebeu mais um pouco. – Estou protegendo-a, quero que recupere a visão e o que
ela diz? Não!
Vanessa percebeu que o tom um pouco
alterada da major chamou a atenção de algumas pessoas.
Sabia que havia inúmeras conquistas,
porém a morena só desejava uma e isso sim deveria ser algo frustrante.
-- Ela não quer nada que venha de
você! – Disse simplesmente. – Ela já deixou claro isso. – Explicou. – Quanto
ao sexo, sabe que não faltará quem deseje entrar nos seus joguinhos, mesmo
que saibamos que você só quer uma... – Cutucou-a, mesmo temendo uma onda de
gritos.
A morena bebeu mais um pouco.
Estava tentando não cair nas
provocações.
-- Eu não quero saber o que ela quer ou
deixa de querer! – Levantou-se furiosa.
A empresária apontou calmamente a
cadeira para que ela voltasse a ocupar e mesmo que não tenha feito
imediatamente, a pintora acabou fazendo.
-- Aimê é a única mulher que te deixa
em descontrole total! – Tomou mais um pouco de água. – Eu fico pasma com isso!
Diana parecia pronta para continuar a
esbravejar, mas não o fez, pois sabia que aquelas palavras eram verdadeiras.
Nunca em sua vida se sentira daquele jeito por causa de ninguém. Nunca se preocupara
com detalhes que estavam ligados ao pós-sexo, tudo se resumia ao momento de
prazer, ao desafio da conquista e logo perdia o interesse, porém com a filha
de Otávio tudo se complicava cada dia mais...
Queria-a e como a queria!
-- Tentarei falar com ela, prometo que
farei todo o possível para convencê-la a se submeter ao processo cirúrgico. –
A empresária anunciou, pois sabia que já tinha ido longe em suas afrontas.
A pintora continuou calada.
Não demorou muito para o garçom
retornar trazendo o delicioso almoço.
Polvo grelhado, com canjiquinha,
abóbora, tucupi e aviú tinha um aroma divino e a aparência ainda melhor.
Vanessa começou a degustar a iguaria, mas ao perceber que a amiga não fazia o
mesmo, parou.
-- Diana, coma um pouco... Ultimamente
você demonstra como está mal, nem durante o tempo que ainda não fizera os
Villa Real confessar a verdade você esteve tão ruim.
A pintora pegou os talheres.
-- Quando o Crocodilo for preso e Aimê
puder voltar para a tão sonhada vida dela, eu poderei ter um descanso. – Disse
em um suspiro.
Vanessa estendeu o braço, tomando a mão
da amiga nas suas.
Sentia como a rejeição da neta de
Ricardo a estava ferindo, notava isso, ainda mais ao vê-la tão presente em
casa, mas sempre excluı́da da rotina da Villa Real.
-- Se ela não quer a sua ajuda, por que
deseja tanto ajudá-la? – A empresária indagou, mesmo que já soubesse a resposta.
Diana apenas meneou a cabeça
negativamente, enquanto começava a comer.
Naquele dia, Aimê e Cláudia receberam
uma inesperada visita. Bianca e Alex chegaram ao luxuoso apartamento.
As Villas Real se mostraram surpresas,
mas feliz com a presença dos dois.
Receberam-nos no quarto, pois não sabia
se Diana gostaria de ter intrusos em sua casa.
-- Estou com tantas saudades! – Bianca
abraçou a amiga. – Você nem mesmo falou comigo mais! – Repreendeu-a. O enorme
aposento tinha uma ala onde se fazia as refeições.
Uma mesa duas poltronas e uma janela
panorâmica. Todos se acomodaram ali.
-- Aconteceu tantas coisas que acabou me
tirando o tempo! – Aimê se justificava. Cláudia tinha feito café e
serviu-os, depois se acomodou ao lado da neta.
-- Nós vimos as notı́cias! – Alex
falou. – Os rostos de vocês estamparam as manchetes dos mais importantes
jornais do paı́s. – Tomou um pouco do lı́quido. – Não acreditamos em nada que
fora dito. Sensacionalistas! – Exclamou irritado.
Aimê se mexeu inquieta no assento.
-- Infelizmente é a mais cruel verdade!
– A garota admitiu. – Tudo o que leram realmente aconteceu.
Bianca permanecia calada, mas o primo
demonstrou total incredulidade.
-- Mas se é assim, por que Diana
Calligari as recebem em seu teto? – O rapaz se mostrava curioso. – Isso é algo
incomum!
A loira via como as mulheres pareciam
constrangidas e decidiu se intrometer:
-- Isso não é da nossa conta, Alex! –
Bianca o cortou. – Meu tio está na cidade e aproveitamos para vê-las e
ficamos muito felizes que estejam bem. – Tentava mudar de assunto.
O rapaz se aproximou da neta de Ricardo,
sentando ao lado dela, tomou-lhe as mãos nas suas.
A Villa Real não estranhou o ato e até
tentou maior receptividade.
-- Aimê, não me importo com nada que
aconteceu, ainda gosto muito de ti e desejo que aceite ser minha esposa.
O filho do prefeito tivera um namoro
relâmpago com a jovem quando ela ainda tinha dezesseis anos, porém não tinha
maturidade para algo sério e a garota percebeu que não sentia nada mais do
que um carinho fraterno pelo moço simpático.
Bianca e Cláudia olhavam a cena com
atenção.
A Alvarenga sabia do sentimento da amiga
e não acreditava que ela cedesse aos encantos do seu primo.
A esposa de Ricardo sabia que a jovem
não gostava do rapaz e ultimamente andava tendo suspeitas preocupantes sobre
os sentimentos dela.
-- Não precisa me responder agora,
pense, não te pressionarei, esperarei pacientemente a resposta. – Depositou um
delicado beijo em seus lábios. – Próximo ano me candidatarei nas eleições,
vou ser um homem sério. – Gracejou com um enorme sorriso.
A garota nada disse, pois sabia que não
tinha como aceitar aquele pedido, ainda mais porque estava apaixonada por outra
pessoa e não achava justo enganá-lo ou iludi-lo.
A Alvarenga pigarreou.
-- Por que você não mostra a dona
Cláudia as propostas que foram feitar para o apartamento, enquanto converso
com a minha amiga?
A senhora Villa Real praticamente
arrastou Alex daquela área, pois percebia que as garotas queriam ficar
sozinhas. Assim que viu o primo deixar o quarto emburrado, a loira sentou ao
lado da amiga.
-- Agora me conte o que se passa? –
Pediu. – Sei que você não está bem, fiquei pavorosa quando soube do seu
acidente. – Observou a pequena cicatriz na fronte. – A tal pintora te machucou?
Aimê mordiscou o lábio inferior.
Não sabia por onde começar, mas sabia
que precisava falar com alguém sobre tudo o que se passou, pois temia ficar louca.
Respirou fundo, tentando tomar coragem.
-- Ela não me machucou, pelo menos não
fisicamente... – Cerrou os dentes. – Mas eu sinto que meu coração foi arrancado
do meu peito!
Bianca viu as lágrimas brilharem nos
olhos azuis. Abraçou-a forte, consolando-a.
Ouviu os soluços entrecortados.
Acariciou os cabelos lisos, fazendo
carinho em sua nuca.
-- Calma, meu anjo, eu estou aqui.
-- Como posso amar uma mulher que me
odeia? – Afastou-se um pouco. – A Diana sempre deixa claro seu ódio... Quero
ir embora daqui... – A frase foi interrompida por um espasmo. – Quero ficar
longe dela, pois é uma tortura horrível
está no mesmo lugar... Temo acabar cedendo...
A loira limpou as lágrimas que corriam
livres.
Percebia como estava sofrendo com os
acontecimentos e teve uma ideia para ajudá-la.
-- Pode voltar comigo, pode ficar na
minha casa! – Arrumou-lhe o cabelo. – Não acredito que esse perigoso bandido
possa ousar ir até lá.
Os olhos azuis pareceram menos chorosos
naquele momento, imaginando como seria maravilhoso se afastar da Calligari para
sempre.
-- Eu não sei, não quero que corra
risco!
-- Posso falar com meu tio, ele pode ajudar!
– Dizia entusiasmada. – Assim você pode se livrar dessa tal.
Um sorriso brilhou no rosto sofrido.
-- Faria isso por mim?
-- Claro que sim, sua boba! – Beijou-lhe
a bochecha. – Sabe que te amo como se fosse minha irmã.
Aimê parecia mais calma.
-- Agora me conte como arrumou essa
cicatriz e quebrou a perna.
A Villa Real suspirou alto.
-- Cai da escada!
-- Mas como foi isso? Você é sempre
tão cuidadosa.
A Villa Real relembrou como ficara em
total desalento naquele dia.
-- Eu estava desesperada para deixar
esse lugar e acabei me desequilibrando. Sou uma tonta!
-- Por que estava assim?
O rosto bonito ficou corado.
Respirou fundo... Hesitou por longos
segundos, até desatar a falar.
-- Porque eu me entreguei para a major e
logo em seguida ela me tratou com desprezo, deixando claro seu ódio por mim.
-- Que filha da puta! – A loira
praguejou alto, levantando-se. – Tirarei você daqui ou não
me chamo Bianca Alvarenga.
Conversaram durante mais algum tempo
até que a jovem se despediu, prometendo retornar logo para buscá-la.
À noite quando a Calligari retornou
ficara sabendo que houve visitas no apartamento. Depois de almoçar com a
empresária, seguiu até o quartel onde o general estava preso.
Não falara com ele, apenas com o
responsável pelas investigações e não recebeu nenhuma boa notı́cia. Pensou
em ir a algum lugar para tentar se distrair, mas acabou seguindo o caminho de
casa.
Caminhou até o escritório,
sentando-se. Mirou a foto do pai sobre a escrivaninha.
Segurou o quadro, acariciando o vidro,
como se assim pudesse sentir o homem que a protegera sempre... Deus, como era terrível
saber que ele fora cruelmente assassinado!
Não demorou muito para ouvir as batidas
na porta.
-- Entre! – Ordenou, colocando a moldura
no lugar.
A senhora Villa Real parecia hesitante
ao adentrar o espaço.
Diana apontou a cadeira para que a
mulher se acomodasse diante de si. Chamara-a ali para que pudessem conversar.
A major observava a mãe de Otávio com
atenção. Não sabia o que pensar dela ainda, mesmo que soubesse que como
Ricardo, ela também negligenciara a gravidade da situação.
Cláudia fitou a pintora que estava
confortavelmente sentada na cadeira de couro alta. Parecia inda mais imponente
naquele momento.
Observou a decoração do lugar e viu
alguns quadros muito bonitos.
-- Soube que receberam visitas! – Diana
falou de forma desinteressada.
-- Sim! – Assentiu com a cabeça. – Falei
com a Ana porque não tinha como falar contigo e ela permitiu.
A Calligari pegou um lápis e começou a
girar nos dedos.
Parecia bastante atraı́da pelo objeto.
-- Deveria ter falado comigo, sou eu
quem decido as coisas aqui! – Anunciou calmamente. – Mas já que eu não
estava, tentarei não levar em conta isso. – Exibiu um sorriso sarcástico. – O
que eles queriam? – Questionou depois de alguns segundos.
Cláudia gostava de olhar para os olhos
das pessoas enquanto falava, mas raramente fazia isso com a Diana, pois aquele
olhar negro exibia deboche, ódio e ironia o tempo todo.
Suspirou.
-- Bianca e Alex vieram trazer algumas
propostas sobre o nosso apartamento.
-- Então, estão vendendo... – Fitou a
ponta do lápis. – Conseguiu um bom valor?
-- Não o que estávamos pedindo, mas
estou disposta a aceitar a proposta, assim terei dinheiro para arcar com os
custos do advogado e levar minha neta para um lugar seguro.
A Calligari partiu o lápis em dois.
-- Não seja mais idiota do que a sua
neta! – Bateu com o punho fechado sobre a madeira. – Não haverá lugar seguro
para vocês, enquanto Crocodilo não for preso ou morto!
Cláudia parecia assustada.
-- Mas o que farei? Aimê se nega a
ficar aqui! – Levantou-se nervosa. – Hoje Alex a pediu em casamento, ele é o
filho do prefeito, disse que vai protegê-la, pode ser uma boa, assim podemos
ficar também longe do seu ódio!
O maxilar da morena enrijeceu, enquanto
os dentes alvos cerravam.
Os olhos negros se tornaram ainda mais
ameaçadores naquele momento.
-- Ela não deixará a minha proteção
até que o cúmplice do seu filho seja tirado dessa história! – Disse firme. –
Espero que dissuada Aimê de cometer essa besteira! – Alertou-a.
-- Estou pronta para defender a minha
neta de tudo e vou apoiá-la nas decisões que tomar. – Falou corajosamente.
A Calligari se levantou, apoiou as mãos
no tampo da escrivaninha.
-- Não discutirei isso com a senhora,
apenas aviso que não deixe sua amada menininha fazer uma loucura. – Advertiu-a
em voz baixa. – Agora irei falar com ela novamente e tentar convencê-la a
fazer a cirurgia!
Cláudia nada disse, pois antes disso, a
herdeira de Alexander passou por ela pisando duro.
Como poderia enfrentar aquela mulher?
Em partes sabia que ela estava certa,
pois se alguém poderia protegê-la do maldito bandido era a filha de
Alexander, por outro lado ficava a imaginar quem poderia livrá-las da fú ria
da salvadora?
Tudo se complicava ainda mais e já
começava a perder as esperanças.
Aimê terminava de escovar os dentes
quando ouviu a porta do quarto abrir, pensou que fosse a avó.
Terminou o que fazia, arrumou a camisola
e já seguia para a cama quando sentiu a presença da dona da casa.
Diana estava sentada em uma poltrona
confortavelmente, tendo as pernas longas cruzadas, exibindo posição ereta.
Agia como uma verdadeira rainha desdenhosa.
Mirou a jovem e sentiu uma pontada no
ventre de desejo. Os cabelos da Villa Real estavam presos em um coque.
O rosto de porcelana estava rosado.
A seda perolada se moldava as formas
bonitas.
-- O que você quer, major? – Indagou
aborrecida.
A Calligari exibiu um sorriso.
-- Acho incrível que consiga saber que
sou eu, mesmo que não possa me ver... Sente o meu cheiro? – Provocou-a.
Aimê respirou lentamente.
--Diga o que quer, estou com dor de cabeça
e gostaria muito de dormir.
A morena foi até ela imediatamente,
tocando-lhe a face cheia de preocupação.
-- Acho melhor irmos ao hospital,
afinal, teve uma pancada forte e pode ter sequelas.
A Villa Real se desvencilhou do toque.
-- Eu estou bem, apenas um pouco
cansada! – Explicou de forma impaciente.
Diana estava tão perto que sentia o
delicioso cheiro se depreendendo do corpo dela. Fitou o decote e viu os seios
levantando e abaixando num ritmo rápido da respiração.
Estendeu a mão colocando sobre o seio
esquerdo. Os olhos azuis se abriram em total espanto.
-- Seu coração parece que quer sair do
seu corpo...
Sentiu o mamilo intumescer e com o
polegar acariciou-o sobre o tecido.
Aimê a deteve furiosa.
Os olhos negros se estreitaram de
paixão.
-- Chega, não desejo que me toque! –
Deu alguns passos para trás. – Por favor saia!
A morena inspirou fundo.
Quando ficava cheia de desejo não
conseguia pensar em nada e era assim que estava se sentindo naquele momento.
Enlouquecida, desejosa de senti-la
novamente.
Passou as mãos pelos cabelos tentando
manter a calma.
-- Amanhã irá com Vanessa ver o doutor
Júlio! – Anunciou calmamente.
-- Eu já disse que não irei, já falei
que não quero nada que venha de ti! – Protestou com a respiração alterada.
-- E eu já disse que você vai e não
aceitarei suas negativas! – Falava, tentando manter a calma.
-- Você não pode me obrigar a nada!
Saiba que logo deixarei isso aqui e irei embora com a minha avó. – Retrucou irritada.
-- Com seu futuro maridinho? – Arqueou a
sobrancelha esquerda em provocação. – Ele sabe que você já é casada comigo?
Aimê
engoliu em seco, afastando-se um pouco mais.
-- Eu não tenho nada contigo! –
Esbravejou. – E espero que um dia eu possa esquecer que te conheci, quem sabe assim
não serei feliz!
O maxilar da major enrijeceu
perigosamente, enquanto se aproximava mais.
-- Feliz com seu namoradinho idiota?
-- Sim, porque sem dúvidas ele será
bem melhor que você...
Antes que terminasse a frase, sentiu os
lábios sendo esmagados pela boca cruel da Calligari.
Cerrou os dentes para deter a invasão,
espalmou as mãos contra o peito da odiosa mulher, mas foi surpreendida por um
abraço.
Tentou empurrá-la, mas tinha a
impressão que uma névoa estava se apossando de sua mente, enfraquecendo seu
raciocı́nio.
Sentiu a lı́ngua da morena delinear sua
boca, buscando passagem, o hálito quente era um afrodisı́aco irrecusável,
ainda mais quando lembrava de como aquele ser tão grosseiro conseguia tornar
um simples beijo uma verdadeira descarga de eletricidade.
Quando pensou que não suportaria mais,
a herdeira de Alexander se afastou inesperadamente.
-- Amanhã você irá com a Vanessa e se
eu tiver que voltar aqui... Vai se arrepender!
Aimê respirava rapidamente, enquanto
ouvia a pancada forte na porta.
Cobriu o rosto.
Selvagem!
Selvagem!
Selvagem!
Não havia dúvidas da natureza bárbara
da respeitada pintora.
Levou a mão ao peito e teve a
impressão que o coração sairia dali. Tentou manter a calma e controlar os
batimentos.
Ouviu a porta abrir e por um segundo
imaginou se a major teria voltado para terminar o que havia começado.
-- Diana te fez algo? Ela passou como um
furacão por mim! – Cláudia indagou preocupada.
Fitou o rosto corado da neta e imaginou
o que poderia ter se passado, não chegando nem perto do ocorrido.
-- Não... – pigarreou – não fez nada,
apenas está possessa porque me nego a fazer a cirurgia.
A mulher observava os olhos azuis e
percebia que estavam escurecidos.
-- E o que pensa em fazer? Diana deixou
claro que vai te obrigar a se submeter ao processo.
Aimê suspirou longamente.
-- A Calligari não pode me obrigar a
nada! – Disse irritada. – Ela não pense que vai me tratar assim, porque não
vai! – Cruzou os braços sobre os seios.
Cláudia não conhecia essa natureza
rebelde da herdeira de Otávio, porém conseguia ver em seu olhar a determinação
e isso a assustava, ainda mais por que a filha de Alexander era muito orgulhosa
para baixar a cabeça diante das vontades alheias.
Meneou a cabeça fazendo uma oração
silenciosa para que tudo pudesse dar certo.
Diana subiu as escadas como se estivesse
sendo perseguidas por mil demônios. O rosto estava esfogueado, a pele parecia
ter sido exposta a um incêndio.
Entrou no quarto, em seguida fechou a
porta com uma batida ensurdecedora. Parou no meio do ambiente. Jogou o cabelo
para trás.
Apenas a luz da luminária iluminava o
lugar... A penumbra era acolhedora e pela janela aberta se podia ver a lua
grande e majestosa no céu cheio de estrelas.
Suspirou!
Aimê Villa Real ainda iria
enlouquecê-la de uma vez por todas. Fechou os olhos e lembrou de vê-la
seminua da manhã cedo...
Desejou amá-la ali mesmo... Desejou
pressioná-la contra a parede, rasgar as pequenas peças que a cobriam e colar-
se a ela... Inundar-se com seu mel... Possuı́-la...
Tirou o blazer lentamente...
Mesmo que ela negasse, sabia que também
a queria... Sentiu os seios reagirem ao seu toque... Começou a desabotoar um a
um os botões da camisa...
As mãos tremiam...
Tirou o sapato de salto e em seguida foi
a vez da calça se juntar a pilhas de roupas no chão.
Usava uma sensual lingerie vermelha. A
calcinha em renda e o sutiã com bojo para acolher os seios redondos de forma
perfeita.
Seguiu até a poltrona, sentando-se
pesadamente. Inclinou a cabeça para trás.
Precisava de um banho de gelo...
Não sabia como conseguira parar... Seu
sexo latejava para se unir ao dela... Recordou-se da boca inocente percorrendo
aquele caminho...
Recordou-se da ú ltima vez que a
tocou...
Ainda conseguia ouvir a voz enrouquecida
pedindo:
“Entre dentro de mim... – Pediu em um
sussurro cheio de desejo. – Gosto de sentir seus dedos me invadindo...”
Mordiscou o lábio inferior
demoradamente, tentando conter a chama que lhe queimava. O rosto moreno trazia
o tesão...
Respirou fundo...
Mordiscou a mão demoradamente, depois
passou a lı́ngua pelo polegar, recordando do sabor da Villa Real. Abriu o
sutiã frontalmente.
Os mamilos estavam doloridos, excitados
ao extremo... Acariciou...
Lembrou-se da primeira vez que teve as
mãos delicadas da filha de Otávio neles... Apertou-os entre o polegar e o
indicador... Raspou a unha contra a pele.
Gemeu...
Aumentou mais a pressão, sentindo
aquela agonia aumentar em seu sexo... Tocou-o sobre a calcinha... O tecido
estava ensopado.
Usava as pontas dos dedos, passeava
lentamente... Apertou... Enquanto apalpava os seios... Dobrou o joelho,
abrindo-se mais...
Sua mente foi invadida por imagens da
noite de amor... A lı́ngua da jovem brincando com seu clitóris e entrando
dentro de si... Conhecendo seu interior... Explorando... Chupando...
Queria-a naquele momento...
Gemeu baixinho...
Sem conseguir aguentar por mais tempo,
adentrou o espaço... Estava tão escorregadia, molhada... Cruelmente molhada.
Usava o indicador para massagear seu
ponto mais sensível...
Os dedos começaram a passear
delicadamente, mas logo ela alternava entre movimentos mais fortes e depois
mais leves.
A fricção tornou-se mais intensa...
Penetrou-se impetuosamente...
Seus lábios chamavam pela Villa Real a
cada estancada... Desejava-se unir-se a ela por toda a vida...
Não demorou muito ao prazer total
chegar, molhando seus olhos, fazendo-a cair em um pranto incontido, enquanto um
vazio enorme tomava conta de si.
Na manhã seguinte Vanessa chegou cedo
ao apartamento. Dirigiu-se para o quarto de Aimê, encontrando-a de roupão.
Tinha acabado de tomar banho.
-- Bom dia! – Cumprimentou animadamente.
Cláudia sorriu.
-- Deu viagem perdida, Vanessa, não
irei a lugar nenhum contigo! – A garota falou em tom de desafio.
A empresária não pareceu surpresa com
a negativa, já estava pronta para usar todos os argumentos para convencê- la
quando a porta se abriu.
Diana Calligari!
O rosto trazia uma expressão debochada,
um sorriso sarcástico brincava no canto dos lábios bem feitos.
-- Ótimo, mimadinha, vamos nós duas
então!
Surpresa com a força da Aimê...
ResponderExcluirAgora o bicho pega!
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