A dama selvagem - Capítulo 23
Vanessa esperava na recepção do
hospital.
Ainda não recebera nenhuma notı́cia
sobre o estado de saúde de Aimê.
Uma das empregadas da Calligari entrara
em contato imediato consigo quando o acidente ocorrera.
Ainda estava ansiosa em busca de
informações quando se surpreendeu ao ver Diana se aproximar tendo ao seu lado
a esposa de Ricardo.
Observou a expressão da pintora.
Os olhos pareciam irritados, temerosos,
traziam grandes olheiras, trazia a preocupação pelo que se passara e mesmo que
buscasse esconder, também conseguia ver a fagulha daquele sentimento de amor
que buscava esconder de todos, até de si mesma.
-- Onde está ela? – Questionou assim
que se aproximou.
Cláudia ainda estava chorosa, o rosto
trazia resquı́cios do pranto, os cabelos em desordem.
-- Como está minha neta? Preciso
vê-la! – Pedia em lágrimas.
Diana encarava a empresária, tinha as
mãos nos bolsos da frente da calça. Parecia buscar uma resposta imediata.
As sobrancelhas arqueadas demonstravam
sua total impaciência.
-- Ainda não sei, ela foi levada
imediatamente e até agora ninguém disse nada sobre seu estado. –
Justificou-se antes de uma explosão.
A morena observava tudo ao redor.
Viu as pessoas sentadas, pacientes,
esperavam em meio a conversas.
Na recepção duas jovens pareciam
concentradas diante da tela dos seus computadores. Algumas enfermeiras se
aproximaram de ambas, conversavam e pareciam confidenciar coisas. Voltou a
fitar a empresária.
-- O que se passou? – Indagou em voz
baixa e controlada. – Quem foi a irresponsável que deixou isso acontecer?Espero
que que quem que tenha sido, já tenha deixado a minha casa quando eu retornar!
– Ameaçou.
A senhora Villa Real continuava em sua
incontida choradeira.
Vanessa ajudou-a a se sentar, sabia como
aquele momento estava sendo difı́cil. Falou algumas palavras de consolo seguiu
até o bebedouro, encheu um copo com água, entregando a senhora.
Diana via a cena com o cenho franzido.
-- Tenha calma, daqui a pouco o médico
trará notı́cias. – disse à empresária ao retornar para o lado da amiga.
-- Diga-me o que se passou de uma vez
por todas! – exigiu.
Vanessa fitou Cláudia e logo adotou um
tom ainda mais baixo.
-- Ana me contou que Aimê insistiu em
deixar o apartamento... Implorara em lágrimas para que ligassem para os avós
para buscá-la. – Falava, enquanto observava a expressão da major. – Ela
tentou falar contigo para ver o que poderia fazer, mas você não atendeu,
então ela me ligou e falava comigo quando descobriu a garota caı́da. –
Terminou com pesar.
A Calligari levou as duas mãos à
cabeça.
A respiração estava pesada, como se o
oxigênio não conseguisse chegar aos seus pulmões.
-- O que o médico disse? – Indagou por
entre os dentes.
Vanessa olhou mais uma vez para Cláudia
e depois se voltou para a morena.
-- Disse que ela levou uma pancada forte
na cabeça, mas nada poderia ser dito, enquanto não fizesse os exames
necessários.
A empresária viu os olhos negros expressarem
dor, conseguia enxergar a angústia presente no rosto forte.
Diana deu as costas, seguindo até uma
enorme parede de vidro, apoiava os braços nela, enquanto via o jardim bem cuidado.
Havia flores plantadas, uma suntuosa
árvore, alguns bancos na cor branca... Parecia tão acolhedor.
Engoliu em seco.
Sentia as lágrimas queimando os olhos,
parecia revoltarem-se por não terem permissão para correrem livres. Fechou o
punho, enquanto sentia um nó na garganta.
“Sim,
major, meu pai é um assassino como dizes... – Levantou a cabeça orgulhosamente.
– Feriu pessoas, destruiu a sua vida... Mas e eu? O que te fiz? Qual foi o
pecado que cometi?”
Nenhum, Aimê, nenhum! – Sua
consciência sentenciava.
Por que as coisas tinham que ser daquele
jeito em sua vida?
Cerrou os dentes tentando manter o
controle.’
Por que tudo aquilo tivera que acontecer
consigo? Por que tivera que conhecer a filha de Otávio?... Tudo parecia tão
tranquilo quando existia apenas seu ódio, quando havia apenas suas mágoas...
Tudo parecia em seu lugar...
Não conseguia sair dessas trevas que se
acostumara a viver, não conseguia dar os passos seguintes... Sentiu a mão
depositar em seu ombro.
Limpou os olhos com as costas das mãos
sem se voltar.
-- Você está bem? – Vanessa indagou
preocupada. – Saiba que sempre poderá contar comigo.
A Calligari permanecia estática,
ponderava sobre suas ações, sobre seus atos durante a noite passada. Ainda era
assombrada pelos olhos azuis tão cheios de dor, tão doces e apaixonados...
Diana tentou falar, mas parecia que as
palavras não conseguiam se formar. Tentava respirar, buscar o autocontrole que
sempre conservara...
Abriu a boca e daquela vez os fonemas
soaram.
-- Foi minha culpa... Tudo isso é minha
culpa... – Virou-se para ela. – Do jeito que fui a causadora da cegueira, agora
também coloquei em risco sua vida...
A empresária a fitava surpresa.
Não havia dúvidas do grande sentimento
que nutria pela filha do homem que mais odiara em todo o mundo.
-- Eu preciso que ela fique longe de
mim... – Enrijeceu o maxilar. – Preciso que ela fique o mais longe de mim possível
pois sei que a machucarei ainda mais. – Passou a mão pelos cabelos. – Estou
condenada... – Murmurou.
Vanessa parecia confusa com as palavras.
-- O que houve entre vocês? Por que ela
estava tão desesperada em deixar o apartamento?
A Calligari retirou o celular da bolsa,
colocando no vı́deo, entregando para a amiga.
A empresária observava tudo com
atenção, enquanto a morena se mantinha presa em seus pensamentos. Impaciente
seguiu até o balcão da recepção.
-- Preciso que me dê notı́cias da
paciente Aimê Villa Real.
Uma das recepcionistas fitaram a
visitante.
Percebiam a impaciência em seu olhar.
Rapidamente pegaram a prancheta.
-- Ela ainda está sendo examinada!
-- E quanto tempo isso vai durar?
Preciso que alguém me fale algo! – disse irritada. – Exijo que o médico venha
falar comigo, exijo que me fale o que se passa!
A moça pareceu assustada com a
explosão, assentindo rapidamente.
-- Prometo que assim que for possível,
ele estará aqui!
Diana suspirou impaciente, enquanto
voltava-se para as pessoas que a olhavam curiosamente.
Viu Cláudia em lágrimas, percebia que
estava sendo sincera, não havia dúvidas do amor que sentiam pela jovem.
Observou Vanessa se aproximar.
-- Então seu pai não cometeu suicı́dio
como você imaginou?
A pintora meneou a cabeça negativamente.
--
Otávio o matou covardemente... Meu pai sabia de tudo... Ele iria me
resgatar... A empresária agora entendia o que se passara.
Entregou o aparelho.
-- Você descontou nela toda sua
raiva... – Falou com pesar – Mesmo sabendo que ela não tem nada a ver com o
que aconteceu.
Diana não respondeu, seguindo até uma
cadeira isolada das demais, onde não havia ninguém, sentando-se.
Sentia-se frustrada por nada conseguir
fazer naquele momento. Sentia-se inútil da mesma forma que se sentira quando
viu o noivo ser cruelmente espancado e em seguida morto por Otávio Villa Real.
Fechou os olhos e por alguns minutos buscou
em sua mente uma forma de rezar...
Há tanto tempo perdera a fé que agora
nem mesmo sabia como se conectar com o divino.
O grande depósito estava vazio.
Crocodilo andava de um lado para o
outro. Chutou a cadeira, derrubando-a.
As coisas não pareciam sair do jeito
que pensara.
Não entendia ainda por que Diana
continuava protegendo os Villas Real. Não compreendia por que ela não lhe
entregava de uma vez a filha de Otávio.
Onde estava a sede de vingança que ela
sempre alimentara durante todos aqueles anos? O que tinha mudado? Passou a mão
pelos cabelos ralos.
Precisava tomar uma atitude, pois se
não entregasse o que prometera, não demoraria a ser morto por aquelas pessoas.
Aimê era seu passaporte para a
liberdade, ainda mais depois de ter gastado todo o dinheiro antecipado. Não
havia drogas e nem armas que pudesse saldar seu débito, então teria que
entregar a garota.
Praguejou alto ao recordar de que
baixara a guarda!
Mas jamais imaginou que Diana fosse até
lá, nunca pensara que ela se envolveria num resgate pela filha do homem que
destruı́ra sua vida.
Por quê?
O que havia naquela história que ainda
não descobrira?
Levantou a cadeira, sentando-se.
Não aguentava mais ficar naquele
buraco, precisava retomar sua vida que Ricardo ferrara ao depor contra si.
Miserável!
Não demoraria a acabar com ele...
Estava disposto a tudo para conseguir o
que tanto queria e não descansaria até que estivesse com a filhinha do Villa
Real nas mãos... Quanto à Diana, não havia outro meio de se livrar dela a
não ser pela morte.
Depois de longas horas de espera, o
médico apareceu.
Diana foi a primeira a se aproximar do
homem alto e jovem.
-- Sou o doutor Raul Cortez! – Estendeu
a mão para a Calligari. – Atendi a jovem que caiu da escada.
A morena não pareceu interessada no
cumprimento.
-- Diga-me como está a Aimê de uma
vez! – Exigiu impaciente.
-- Sim, doutor, por favor, como está a
minha neta? – Cláudia indagou chorosa.
O médico pareceu constrangido com os
modos da pintora.
-- Bem, felizmente a jovem não sofreu
danos graves. – Exibiu um sorriso. – Inicialmente ficamos preocupados por ela
está desacordada, mas ela já despertou. Fizemos alguns exames e constatamos
que tudo está bem.
A major sentiu um alıvio no peito.
-- Mas e a pancada na cabeça? – A
pintora questionou.
-- Ah, sim, teve um corte que foi
preciso pontuar, mas danos maiores não foram constatados.
-- Prefiro que repita todo os exames! –
Diana exigiu. – Quero estar totalmente segura do bem-estar dela.
Raul assentiu com um gesto de cabeça.
-- Vai precisar usar muletas durante
alguns dias por causa do gesso, tivemos que imobilizar a perna.
-- Posso vê-la? – A senhora Villa Real
perguntou mais aliviada.
-- Pode sim, porém ela está dormindo
devido ao sedativo que tomou por causa das dores que sentia.
Cláudia tomou a mão do médico nas
suas.
-- Agradeço por ter cuidado dela,
obrigada!
-- A enfermeira irá acompanhá-la até
o quarto. – Disse com um simpático sorriso.
Cláudia assentiu, enquanto seguia ao
lado da mulher. O médico pediu licença, afastando-se.
Vanessa soltou a respiração lentamente.
-- Graças a Deus não foi nada sério!
-- Sim... Felizmente tudo está bem! –
Pegou as chaves do carro.
-- Para onde vai? – Indagou surpresa.
-- Tenho coisas para resolver. – Encarou
a amiga. – Certifique-se de que os exames sejam repetidos e cuide para que
Aimê fique bem!
A empresária estranhava a atitude da
artista. Segurou-lhe o braço, antes que ela se afastasse.
-- Não vai vê-la? Não acredito que
seja tão insensível assim!
As lágrimas brilhavam nos olhos negros.
-- Ela não deseja a minha presença,
tenho certeza disso... – Apertou a chave. – Cuide dela, sei que pode fazer isso
melhor que eu.
Tentou se afastar, mas Vanessa a manteve
presa.
-- Vá lá, ela está dormindo... Sei
que deseja vê-la, sei que quer saber se tudo está bem realmente... Não seja
tão orgulhosa!
Diana pareceu irritada, enquanto
ponderava durante alguns segundos. Acabou seguindo na direção do quarto com
passos decididos.
Cláudia estava sentada ao lado da cama.
Segurava a mão da neta.
Ouviu o som da porta abrir e ficou
temerosa ao ver a Calligari.
Diana se aproximou lentamente. Seus pés
pareciam pesar uma tonelada naquele momento. Sentiu o coração bater mais
rápido ao ver a filha de Otávio.
Naquele momento percebeu como era
frágil sua doce Aimê... Naquele momento percebeu como ela fora forte em
enfrentá-la na noite anterior.
Chegou mais perto, presa naquele
encanto...
Quanto de força ainda tinha para negar a
si mesma o que sentia? Morreria se a tivesse perdido...
Ainda sentia a angústia do momento que
ouvira a voz de Vanessa dizendo que ela tinha sofrido um acidente. Seu peito
ainda estava sendo cruelmente apertado...
Temeu tanto que algo de muito ruim se
passasse, jamais se perdoaria se isso tivesse acontecido... Na verdade, não se
perdoava por saber que fora a responsável por aquilo.
Ignorando a presença da senhora Villa
Real, estendeu a mão tocando o rosto pálido. Tocou o curativo na parte
esquerda da fronte.
Com o polegar acariciava a pele que se
mostrava tão pálida...Senti-a em seus dedos, como se precisasse ter certeza
que a vida ainda estava ali presente.
Viu as pálpebras tremerem e lentamente
os olhos azuis se abriram parcialmente.
O azul vivo estava opaco... Mas aos
poucos voltava a exibir o brilho de uma manhã de primavera. Acariciou os
cabelos macios.
Como desejou que não houvesse nada
entre elas... Como desejou esquecer seu sofrido passado naquele momento... Não
demorou para a menina adormecer novamente.
A pintora mirou lábios embranquecidos.
Aspirou por eles...
Fechou
os olhos, recordando de como o toque deles eram serenos, impetuosos... Voltou a
encará-la!
Amava-a!
Deus, como poderia amá-la e odiá-la ao
mesmo tempo?
“Sim,
major, meu pai é um assassino como dizes... – Levantou a cabeça orgulhosamente.
– Feriu pessoas, destruiu a sua vida... Mas e eu? O que te fiz? Qual foi o
pecado que cometi?”
Nada!
Nada!
Nada!
Desejou abraçá-la forte, deitá-la em
seu colo e ficar fazendo carinho em seus cabelos. Não havia nada melhor do que
tê-la ao seu lado...
Será que um dia toda aquela raiva
desapareceria? Será que um dia poderia deixar aquele passado para trás...
Sentia a tristeza invadir sua alma.
Tocou-lhe a mão, sentindo a maciez dos
dedos longos... Sorriu ao senti-la reagir, apertando-lhe de leve.
Uma solitária lágrima saiu do seu olho
esquerdo da Calligari, mostrando como ela era apenas uma mortal.
“ Estou aqui, meu amor!’ – Dizia em
pensamento.
“ Perdoe-me!”
Ao virar-se viu o olhar curioso da
senhora Villa Real para si.
-- Fique ao seu lado e quando o médico
permitir a saı́da, vá com ela para o meu apartamento.
A esposa de Ricardo parecia ainda mais
confusa ao ver as lágrimas brilhando nos olhos da pintora. Fez apenas um gesto
afirmativo com a cabeça, sem coragem para questionar o motivo do pranto.
Diana seguiu até a porta, mas antes de
sair voltou a olhar para Aimê.
Ela era sua maior fraqueza!
Se ainda sobrará algo de humano dentro
de si, só aquela garota de olhar doce conseguia tocar.
Afastou-se sentindo um peso enorme em
seus ombros, sabendo que suas ações causaram mais uma vez o mal para a jovem
Villa Real.
Caminhou rapidamente até o
estacionamento, pois não desejava falar mais com a empresária. Entrou no
veı́culo e logo a chuva começou a cair.
Precisava se manter distante,
necessitava de ocupar a mente com seu plano de pegar todos os bandidos que
fizeram parte daquele plano.
Precisava deter o Crocodilo, pois essa
era a única forma de Aimê viver em paz sem correr riscos.
Precisava protegê-la dele e rezava para
que surgisse alguém naquele enorme universo que a defendesse de si...
Ligou o carro e saiu rapidamente do
centro de saúde.
Já era noite quando Aimê despertou.
Os olhos azuis se abriram, ainda
pareciam sonolentos. Tentou levantar, mas Cláudia a deteve.
-- Calma, filha, estou aqui contigo. –
Segurou-lhe a mão. – Precisa descansar!
A
jovem parecia confusa.
Não lembrava de muita coisa. Era como
se seu cérebro tivesse passado por uma limpeza.
Recordava-se da agonia, da vontade de ir
embora daquele lugar... Depois não havia mais nada em sua mente. Abriu a boca
para falar, mas teve dificuldade em formar as frases.
Recordou-se do que se passara na noite
anterior, das palavras duras da filha de Alexander, de sua insensibilidade.
-- Vovó... – Sussurrou – Me leva para
casa... – engoliu em seco. – Quero ir para a floricultura. Cláudia lhe tocou a
face, estava febril.
-- Nós iremos, assim que estiver
segura, poderemos ir.
Mais uma vez Aimê tentou se levantar.
A enfermeira se aproximou e vendo como a
jovem se mostrava alterada, aplicou um calmante no soro.
-- Não, quero ir agora... – As
lágrimas começaram a banhar seu rosto. – Leve-me embora... Por favor... –
Suplicava em um fio de voz.
Cláudia observou-a fechar os olhos
novamente e não demorou muito para ela voltar a cair no sono. Por que a neta
estava tão desesperada?
Suspirou.
Diana Calligari!
Com certeza ela tinha descontado sua fúria
na menina, decerto não se controlara quando ficara sabendo das atrocidades que
Otávio tinha feito.
Aimê não merecia ser penalizada pelos
erros do pai, pois desde que o coronel morreu, a jovem vivia na mira dos
bandidos e agora também era o alvo para o ódio da major.
Lembrou-se de Ricardo.
Tinha certeza de que o marido não sabia
daquele cruel e covarde assassinato, mas como poderia convencer Diana disso?
Como pôde ser tão omissa nas maldades
do único herdeiro?
Sempre fechara os olhos para a falta de
caráter do garoto que já crescia com ar de rei.
Sabia como a nora sofrera nas mãos do
filho... Engraçado que o amor e o carinho de Otávio só era voltado para a única
descendente.
Pelo menos disso não havia do que
reclamar...
Inacreditavelmente fora um pai presente
que dedicava suas horas livres a única herdeira.
Limpou as lágrimas que lhe molhavam a face.
Quanto Aimê ainda teria que pagar
naquela história difı́cil?
Ouviu a porta abrir.
Viu a mulher se aproximar.
Vanessa fora bastante prestativa e só
deixara o hospital por alguns minutos para resolver alguns problemas.
-- Ela acordou? – Questionou apreensiva.
-- Sim, ainda pouco.
Cláudia simpatizou com a empresária,
pois não agia com a arrogância da Calligari.
-- Ela falou algo? – Aproximou-se da
cama, observando o perfil doce. – Ela teve muita sorte, pois a pancada na
cabeça não foi tão séria como imaginamos. – Mirou o curativo. – Esses pontos
têm que ser bem cuidados.
A esposa de Ricardo assentiu.
A empresária percebia como aquela
mulher parecia destruı́da, até mesmo a entendia e se penalizava por sua
situação, afinal, o marido fora preso, a neta sofrera um acidente e Diana
praticamente condenara a todos ao ódio do Crocodilo.
-- Por que não saıi para comer algo ou
tomar um chá? – Indagou. – Todas as despesas são cobertas, não precisa se
preocupar.
Cláudia esboçou um sorriso cheio de
pesar.
-- Não quero e não devo aceitar mais
nada que venha da Diana. – Fitou Aimê. – Pedirei para Bianca entregar o
apartamento para a corretora, venderei e com o dinheiro que receber a levarei
para longe, preciso protegê-la, preciso contratar um advogado para ajudar meu
marido. – Arrumou os cabelos em um gesto nervoso. – Eu não condeno a major por
nada, sabe – A voz embargou – Ela está certa e todas as suas ações são
justificáveis, porém não posso manter minhas mãos cruzadas diante de tudo
isso.
A empresária olhava aquela mulher e
não via nenhum detalhe de maldade e crueldade. Apenas enxergava alguém que
sofrera muito e que agora temia que o pior ocorresse aos que amava.
Quem a condenaria por ter protegido o
filho?
As mães eram seres diferentes, a elas
não se julgava como aos outros, havia por demais prerrogativas em suas ações
maternas.
Respirou fundo.
-- Vá à cafeteria e coma algo, ficarei
com Aimê enquanto isso, quando voltar poderemos conversar sobre o general.
Tenho um amigo advogado, posso falar com ele para assumir o caso e quem sabe
ele não nos dá um desconto. – Exibiu um sorriso simpático.
Os olhos esverdeados brilharam.
-- Faria isso? Conseguirei o dinheiro,
como disse, irei colocar o apartamento a venda!
-- Sim, farei, agora faça o que disse,
precisa se alimentar, não pode ficar doente logo agora que sua neta precisa
tanto.
Cláudia depositou um beijo na face de
Aimê, em seguida apertou a mão da empresária.
-- Volto logo, prometo!
Vanessa esboçou um sorriso, enquanto via
se afastar. Puxou a poltrona, sentando-se.
Mandou mensagem para o irmão.
Sabia que ele era bastante competente e
poderia ajudar no caso de Ricardo.
Naquele momento não queria pensar em
como Diana reagiria mal, apenas fazia algo pela jovem Villa Real. Ajudava-a
porque sabia que ela já passara por
coisas terríveis e não merecia enfrentar tudo isso sozinha.
Rezava para que um dia a pintora aprendesse
a esquecer o passado e seguisse sem mágoas, quem sabe assim, ela não
aprenderia a lidar com aquele sentimento poderoso que habitava dentro de si...
Quem sabe assim ela pudesse entender que o amor poderia sim acontecer entre
elas.
Observou Aimê.
Sentia-se angustiada ao pensar como ela
se desespera a ponto de sair do quarto em busca da saı́da do apartamento.
Diana deve ter pegado bastante pesado em
suas palavras.
A Calligari passara boa parte da noite
acompanhando o interrogatório de Ricardo.
O general negava saber que Otávio
assassinara Alexander, mesmo assim Diana não se mostrava convencida.
Já era quase madrugada quando receberam
a ligação de que um dos cúmplices de Crocodilo tinha sido localizado a alguns
quilômetros dali.
Mesmo recebendo uma negativa, a morena
seguiu no seu veı́culo nessa corrida em busca de prender todos que fizeram
parte daquele poderoso cartel.
Ligara para Vanessa e ficara sabendo que
Aimê ainda dormia.
Não estava sendo fácil lutar contra
aquela vontade de ficar ao lado dela, por isso decidiu manter distância, pois
sabia que depois de ontem, sua presença seria maléfica.
Cerrou os dentes.
Não desejava mais pensar nela, apenas
focaria no árduo serviço de levar todos à justiça, assim poderia ao menos
vingar a morte do seu pai.
Uma semana depois...
Aimê já voltava para o apartamento,
mesmo diante dos protestos, Diana deixara claro que ela deveria retornar para
sua segurança.
Pelo menos deixara Cláudia seguir com
ela.
Vanessa percebia como a garota se
mostrava arredia.
A empresária ainda não tivera
oportunidade de conversar com a jovem sobre tudo o que se passara. Na verdade,
a Villa Real se mostrava quieta e pouco falava.
Ao chegarem, a empregada avisara que o
quarto de baixo já estava pronto para que a menina se acomodasse, ao lado
ficaria o da avó.
Aimê se mostrava apreensiva, parecia
temer encontrar a Calligari.
-- Diana não está na cidade! – Vanessa
sussurrou em seu ouvido. – Pode ficar tranquila.
A empresária viu os olhos azuis
expressarem desgosto e alıvio.
A herdeira de Otávio agora precisava de
mais cuidados, pois usava muletas para se locomover. Seguiu para o quarto.
O lugar era espaçoso, todo decorado em
branco.
A cama enorme, armário, penteadeira e
um nicho redondo que também servia para sentar ou deitar.
-- Quero que a minha vó fique comigo! –
Pediu ao se sentar.
-- Ela ficará, querida, apenas terá
seu próprio quarto. – Vanessa se antecipou.
--
Deixe que ela fique aqui comigo, não terei como me locomover com esse gesso.
Cláudia encarou a empresária em um pedido silencioso.
Vanessa não via nada de errado com
aquilo, porém não sabia se a major aceitaria isso.
Suspirou vencida.
-- Está bem!
Os dias se passavam tranquilos.
Aimê não deixava o quarto, pois temia
um encontro com a dona da casa.
Não parava de insistir com Cláudia
para irei embora, dizia que poderiam se proteger sem ajuda da Calligari.
A senhora Villa Real temia pela
segurança dela, assustava-se com a possibilidade de que os bandidos se
aproximassem.
Estava se arrumando para ir visitar
Ricardo e precisara dissuadir a neta de acompanhá-la.
Desde que a jovem ficara sabendo que o
avô estava preso, sua revolta contra a major pareceu triplicar. Cláudia não
falara sobre o vı́deo, não acreditava que era o momento adequado para falar
sobre aquilo.
-- Assim que conseguir vender o
apartamento tudo vai se resolver. – Cláudia terminava de se arrumar. – Bianca
está cuidando de tudo e assim que tivermos o dinheiro, será possível irmos para longe daqui.
Aimê tinha acabado de acordar, pois
passara a noite com dores.
--
Queria poder ir contigo! – Disse tristemente. – Poder estar ao lado do meu
avô. A mulher caminhou até a cama, sentando-se, tomou a mão da neta nas
suas.
-- Eu sei que gostaria, mas precisa
descansar e não seria bom deixar o apartamento. – Beijou-lhe a face. – Vanessa
vai me levar, está sendo muito boa conosco.
Aimê nada disse, pois não sabia até
onde tudo que estava sendo feito por sua famı́lia vinha da empresária.
-- Prometo voltar logo, qualquer coisa
peça ajuda, não faça nada sozinha, não esqueça de que logo tirará essa bota
incômoda. – Levantou-se.
-- Está bem!
Ouviu os passos se afastarem e a porta
fechar.
Aquela seria a primeira vez que ficaria
sozinha depois do acidente.
Mexeu os dedos do pé, desejando poder melhorar
o mais rápido possível e sair daquele lugar.
Passara
todos aqueles dias
evitando pensar em
tudo o que
tinha se passado,
porém agora parecia
impossível não o fazer.
Sentia-se aliviada por não ter
encontrado mais com Diana, sentia-se aliviada por ela não estar no
apartamento, mas em seu peito estava aquela angustia aflição por saber que ela
estava fora da cidade praticamente revirando cada lugar em busca do perigoso
Crocodilo.
Assustava-se com a possibilidade de que
algo lhe acontecesse e mesmo com toda raiva que ainda sentia pelas palavras cruéis
do último encontro, rezava todos os dias para que nada de ruim lhe acontecesse.
Respirou fundo.
Precisava ir embora, desejava ficar anos
luzes distante da major.
Diana tinha retornado para o apartamento
de madrugada.
Os dias foram produtivos e sabia que
não demorariam para pôr as mãos no maldito bandido. Conseguiram prender dois
comparsas dele e durante um tiroteio quase fora alvejada.
Fora proibida de voltar a se envolver
tão diretamente, mas isso não a faria parar, tinha alguns detetives
infiltrados e assim que tivesse uma pista, seguiria ao encalço dele.
Acordara ainda pouco e fora tomar banho.
Não descansara muito, apenas o
suficiente para repor as energias.
Agora já estava sentada na varanda,
usava o roupão preto e degustava um reforçado café da manhã. Ouviu batidas
na porta e não demorou para uma das empregadas aparecer.
-- Algum problema, Ana? – A major
indagou, enquanto lia o jornal.
-- A senhora Vanessa disse que quando
retornasse gostaria de falar com a senhorita.
A
Calligari levou uma uva à boca.
-- Onde ela foi? – Questionou pensativa.
-- Saiu com a senhora Villa Real, disse
que iriam ver o general.
A morena mordiscou o lábio inferior,
depois fez um gesto de assentimento com a cabeça.
A empregada pediu licença, deixando o
quarto.
Ouvir o sobrenome Villa Real a fez
sentir aquele costumeiro arrepio na espinha. Pegou um morango, mordiscando-o
lentamente.
Passara todos aqueles dias longe,
tentando controlar a vontade de vê-la, o desejo de estar ao seu lado, de ouvir
a voz doce e rouca.
Será que chegaria um tempo em que
aquele sentimento que insistia em habitar em seu peito acabaria? Fechou os
olhos, tentando manter o controle, buscando ocupar a mente com outras coisas
para não pensar... Imagens de Aimê chorando invadia seus pensamentos,
ferindo-a ainda mais...
Sentia-se culpada por tudo o que
aconteceu... Sabia que se algo grave tivesse se passado, jamais se perdoaria,
jamais viveria em paz.
“Porque eu te amo... Porque eu te amo,
mesmo sendo eu a filha do homem que destruiu sua vida. ”
Agoniada, levantou-se!
Passou a mão pelos cabelos.
Todos aqueles dias ligara para Vanessa,
nunca deixava de fazê-lo, pois buscava saber se a jovem estava bem...
Cerrou os dentes!
Sabia que não deveria fazê-lo, mas a
vontade incontrolável não parecia deixa-la pensar. Seguiu rapidamente para o
andar inferior.
Os pés descalços desciam as escadas e
logo estava na frente da porta. Pensou em entrar rapidamente, mas acabou
hesitando, bateu.
Ouviu a voz doce permitir a entrada.
Segurou na fria maçaneta e depois de
longos segundos adentrou o espaço.
-- Poderia me ajudar, Ana...
A Villa Real estava de pé.
Diana viu que a muleta estava longe,
então se apressou em pegar, entregando-lhe. Quando as mãos se roçaram os
olhos azuis se abriram em verdadeiro pavor.
Diana se apressou em segurá-la, temendo
que caı́sse.
-- Cuidado!
Aimê permaneceu estática, sentindo as
mãos dela em seu corpo.
A Calligari percebeu o incômodo no
rosto da garota, então se afastou.
A morena observou o curativo na testa.
Sentiu um desejo tão forte de
abraçá-la que precisou se afastar um pouco para não ceder. A Villa Real
segurava fortemente a muleta, pois temeu cair.
O cheiro da pintora pareceu invadir seus
sentidos, profanando a frágil paz que tentou conservar durante aqueles dias.
-- Que faz aqui? – A neta de Ricardo
questionou em voz baixa.
Diana observou a camisola de seda branca
que ela usava.
Viu a ferida na fronte.
-- Queria saber como você está. –
Examinou-a dos pés à cabeça. – Precisa se alimentar bem, está mais magra!
Aimê não entendeu a preocupação
repentina, afinal, durante todos os dias que ficara no hospital não recebera
uma única visita dela.
-- Estou bem! – Disse secamente.
A major percebia a animosidade, o
desprezo estava claro no tom de voz e isso doı́a mais do que as chicotadas que
levou de Otávio.
Passou a mão pelos cabelos.
-- Aimê... – Começou hesitante – Sinto
muito pelo que aconteceu, não tive a intenção que saı́sse tão machucada.
Os olhos azuis se estreitaram.
-- De quais dos machucados você está
falando? – Indagou em desafio.
A morena fitou-a demoradamente,
mordiscou o lábio inferior e só depois respondeu.
-- Por todos! – Estendeu a mão para
tocar a face bonita, mas acabou desistindo, deixando a mão pender no ar. – Sei
que a feri... – Cerrou os dentes, recolhendo o braço. – Eu não teria me
perdoado se algo de ruim tivesse acontecido contigo.
Aimê lutava para não permitir que
aquelas palavras mexessem com seus sentimentos.
Passara todos aqueles dias se
convencendo que nada entre elas poderia voltar a acontecer, passara todo aquele
tempo percebendo que mesmo que amasse aquela mulher com toda sua alma, não se
submeteria ao seu ódio, ao seu caprichoso corpo que desejava apenas sexo.
-- Eu caı porque fui descuidada, não
foi sua culpa isso, major. – Explicou, tentando demonstrar total indiferença.
Diana sentia a frieza das palavras da Villa
Real.
-- Eu sei que sua agonia para sair daqui
tem a ver com nossa discussão, com tudo o que falei para ti...
-- Por favor, eu prefiro que não
falemos nisso mais! – Aimê a interrompeu. – Acredite, eu entendo sua raiva,
entendo seu ódio, mas como já falei antes, não te fiz nada e não me
submeterei a seus excessos.
A Calligari tinha a impressão que
estava falando com uma pedra de gelo.
-- Minha avó está vendendo nosso
apartamento e assim que o fizer, pagaremos por tudo o que fez por mim e
deixaremos sua casa.
A pintora se aproximou mais.
-- Não irá embora, enquanto Crocodilo
não for preso! – Disse impaciente. – Ele está obcecado por você e não
sossegará, enquanto não te ter.
-- Bem, isso não é algo que deva te
preocupar, não há nada que diga que você tem que me proteger! – Aprumou os
ombros. – Não tenho medo, poderei lidar com o que acontecer... Falarei com a
polı́cia, pedirei proteção, não sei, apenas não desejo ficar aqui!
-- Deseja que esse bandido te leve de
novo? – Indagou irritada. – Lembre-se de quando esteve presa naquele cativeiro,
de para onde ele teria te levado, se eu não tivesse aparecido.
-- Eu sempre serei grata por ter me
salvado, mas não desejo que faça novamente ou que arrisque sua vida para isso.
Aimê ouvia a respiração acelerada da
mulher e tentava controlar seu desejo de se aproximar.
Seu peito ainda trazia o alıvio por
saber que ela estava bem, mesmo que também trouxesse muita mágoa e tristeza.
Diana deu um suspiro cansada.
-- Não sairá daqui! – sentenciou. –
Não permitirei que aquele miserável coloque as mãos sujas em ti!
-- Não terá como me impedir de ir
embora, se não o fiz ainda, foi por causa da minha avó que se nega, porém
assim que o apartamento for vendido, deixarei seus domı́nios! -- retrucou
implacavelmente.
A Calligari já tinha perdido toda a
paciência que demonstrara no inı́cio do diálogo, a expressão de exasperação
poderia ser sentida pela Villa Real.
A morena lhe segurou o braço.
-- Não seja estúpida! – Repreendeu-a.
– Não se coloque em perigo por causa do seu orgulho idiota!
A
neta de Ricardo sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao sentir o toque dela.
-- Solte-me! – Exigiu calmamente.
Os olhos negros pareceram ainda mais
sombrios.
-- Se for necessário, te prenderei
aqui!
Aimê colocou a delicada mão sobre a da
morena, afastando-a.
-- Se assim o fizer, não verei muita
diferença entre você e o temido Crocodilo. – Admitia com pesar.
O maxilar da filha de Alexander
enrijeceu diante da frase dita. Fitou-a por indeterminados segundos, buscando
naquele mar azul algo que comprovasse que aquelas palavras não eram sinceras,
mas infelizmente não havia nada ali, a não ser uma surpreendente frieza.
Ainda abriu a boca para protestar, mas
acabou deixando o quarto imediatamente, batendo a porta.
A herdeira de Ricardo permaneceu no
mesmo lugar, sentindo a adrenalina daquele momento, sentindo a escassez da força
que precisara usar durante toda aquela estranha conversa.
-- Deus, me ajude! – Fechou os olhos,
enquanto sentava na cama.
Se não fosse a muleta teria caı́do,
enquanto a Calligari estava ali, pois suas pernas se mostraram trêmulas
durante todo tempo.
Precisava ir embora daquele lugar.
Sabia que mesmo que odiasse a Diana por
sua crueldade, seu coração ainda nutria um incontrolável sentimento, um amor
que não parecia diminuir, mesmo diante das decepções, um amor que não teria
chance para se realizar.
Já era quase três da tarde quando
Vanessa retornou com Cláudia.
Seguiu rapidamente em busca da
Calligari, ainda mais quando ficara sabendo por Helena que Diana fora ao quarto
da Aimê.
Encontrou a morena no estúdio.
Viu algumas telas jogadas ao chão,
tintas, pinceis. Estava um verdadeiro caos.
Observou a major sentada na poltrona,
tendo nas mãos uma garrafa de vinho. Levantou o banco, sentando-se de frente
para ela.
-- Se você vai começar com o seu
discurso de que o amor vence tudo e que preciso esquecer o passado, pode ir embora.
– A Calligari avisou enquanto bebia um pouco no gargalho.
Vanessa a encarou.
-- Falei com a Dinda, ela está
preocupada contigo! Precisa ligar para ela. – Falou, tentando ignorar a animosidade
da outra.
-- Diga a ela que estou bem, apenas
isso!
A empresária suspirou impaciente.
-- Eu soube que você quase levou um
tiro e espero que não seja teimosa e permaneça distante desses bandidos como fora
ordenado pelo general Rodrigues.
Vanessa aproveitara que levara Cláudia
para ver Ricardo, buscou informações sobre as ações da pintora naqueles dias.
-- Eu não recebo ordens de ninguém!
A empresária se levantou.
-- Você acha que agir com toda essa
grosseria vai ajudar em alguma coisa? Acha que se encher de álcool vai mudar o
que sente? Ou será que deseja tomar um tiro como uma covarde que foge dos
problemas?
Diana estreitou os olhos
ameaçadoramente.
--
Deixe-me em paz! – disse por entre os dentes. – Não quero ouvir mais nada!
Vanessa fez um gesto negativo com a
cabeça, depois se acomodou ao lado da artis
artista.
-- O que você foi fazer no quarto da
Aimê? Conversaram?
-- Não sei se posso chamar de conversa
o monte de desaforo que ouvi. – Levantou-se. – Ela não sairá daqui até que o
Crocodilo não represente mais um risco! – Sentenciou. – Já que você anda
tanto de amizade com ela, faça com que ela entenda isso, pois se continuar se
rebelando, a deixarei presa e isolada de todos!
-- Eu não duvido que faça isso, afinal,
não parece preocupada em regar com chuvas de inverno as mágoas que Aimê
sente por ti!
A morena jogou a garrafa contra a
parede.
-- Eu estou tentando protegê-la, estou
fazendo isso porque sei como seria cruel para ela passar por tudo o que
passei...
-- Seu discurso é muito inflamado e
lindo, mas ainda não falou toda a verdade.
Os olhos pareceram ainda mais negros naquele
momento.
-- Não me provoque! – Apontou o dedo em
riste. – Ainda mais agora que pediu ao seu irmão para advogar a favor de Ricardo.
-- Sim, eu fiz porque acho que todos
merecem uma segunda chance... E para ser sincera, eu não acredito que ele soubesse
que Otávio assassinou o Alexander. – Retrucou calmamente.
-- Eu moverei céus e terras para que
ele apodreça naquela prisão! – Vociferou cheia de raiva.
-- Certo, entendo, mas me diga, quando
falará para Aimê que a ama e que não sabe lidar com esse sentimento?
Vanessa viu os punhos se fecharem ao lado do corpo
e não demorou muito para vê-la deixar o quarto.
Exibiu um sorriso.
Um dia ela teria que ceder.
Os dias se passaram em um clima pesado.
Diana não voltou a se aproximar, mesmo
passando mais tempo em casa. Passava todo o dia no ateliê, dedicava-se a pintura,
tentando se manter ocupada.
Um mês depois do acidente, a jovem
Villa Real se livrou do gesso e para alegria de Vanessa e de Cláudia, Júlio
Romanofe ligara dizendo que tudo já estava pronto para a cirurgia que poderia
devolver a visão a Aimê.
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