A dama selvagem - Capítulo 21


Diana ouviu o celular tocando, abriu a bolsa, retirando o aparelho.

Observou o número... Não reconheceu, mas se mostrou curiosa naquele momento.

-- Alô!

Houve um silêncio e depois o sotaque conhecido e odioso pôde ser ouvido:

-- Como vai, Diana Calligari?

A major se levantou.

Desgraçado!

-- Sabia que não demoraria em tentar contato. – Apertou forte o aparelho. – Seu tempo de reinado está chegando ao fim.

A gargalhada sádica chegou aos seus ouvidos.

-- Apesar de ter me feito de bobo muitas vezes, ainda mais quando entrou no meu acampamento, levando embora a minha refém... Não guardo mágoas e estou disposto até a te perdoar.

O maxilar da morena enrijeceu.

-- Não preciso de perdões de desgraçados como você! – Falou por entre os dentes. – Acredite que ainda não resolvemos nossas contas... – Usava o tom baixo, controlado e frio. – Ainda teremos o nosso momento!

-- E pretende que a polı́cia faça isso? Acha mesmo que eles me segurarão por muito tempo?

Não, ela não desejava que as autoridades colocassem as mãos neles, queria esse privilégio para si, por essa razão seguia com as próprias investigações.

-- Eu te matarei lentamente, até que pague tudo o que fez.

-- Por que não o fez então quando esteve na floresta? Com certeza estive em sua mira por um bom tempo. – provocou-a. – Otávio costumava dizer que você tinha muitas camadas de dama, mas que no fundo sempre agia com os seus descendentes selvagens...Então o que se passou dessa vez?

Diana respirou fundo, virando-se para a direção por onde Aimê seguiu acompanhada da enfermeira.

Lembrou-se da foto que viu pela primeira vez no escritório de Ricardo...

Meneou a cabeça em irritação.

Sim, naquele dia poderia ter matado o maldito bandido, poderia ter acabado de uma vez com o desgraçado que fizera parte de toda aquela sórdida história, porém algo a deteve, algo mais poderoso do que seu ódio começou dentro de si naquele momento.

-- Mas eu não liguei para isso, querida. – Dizia em total sarcasmo.

-- Nada que me fale interessa, apenas saiba que logo nossos caminhos se cruzarão...

Antes que a major desligasse, ele falou rapidamente.

-- Nem mesmo se eu te mostrar os últimos momentos do seu papai em vida... Ou a conversa interessante que ele teve com o Otávio antes de morrer... – Deu uma pausa, investigando se ela ainda estava em linha. – Eu não vou pedir muito... Apenas quero cada um dos Villas Real... Aimê... quero a doce Aimê...

Diana seguiu até a janela enorme de vidro, observava tudo ao redor.

Teve a impressão que levava um soco forte no abdome.

Tentou respirar lentamente, temendo que o ar não chegasse aos seus pulmões.

Alexandre se suicidara por não aguentar a vergonha a que seu sobrenome fora submetido e isso ainda perseguia a major dia a dia.

-- Do que está falando? Não há nenhum registro da morte do meu pai... – Disse por entre os dentes.

-- Aı́ que você se engana, princesa, eu mesmo gravei os últimos suspiros do grande Alexander... Homem corajoso, você tem a quem puxar... Mesmo que seja menos civilizada, creio que é herança da sua mãe ı́ndia! – Terminou a frase com escárnio.

Os olhos negros se estreitaram em ódio.

-- Como conseguiu meu telefone? Não acredito nas suas palavras!

-- Deveria acreditar e recordar de que mais uma vez quem chegou primeiro na cena de suicı́dio foi Ricardo... Você tem certeza de que acredita nele? Você está aı́ agora, numa clı́nica, querendo devolver a visão a bela Aimê, os Villas real te fizeram sentir culpada mesmo... Não sabia que você tinha outras culpas, além da que carregava pelo suicı́dio do seu pai. – Debochou.

Mais uma vez a Calligari observava ao redor com atenção.

Ele a estava vigiando, sabia dos seus passos.

Uma sensação de medo voltou a lhe assombrar, mas não por si, mas pela filha de Otávio.

Instintivamente lembrou-se da pistola que sempre levava consigo.

Passou as mãos pelos cabelos em ato contı́nuo.

Algo dentro de si estava bastante agitado.

Poderia também ter se tratado de uma mentira?

-- Eu só quero acertar as contas com essa famı́lia maldita... E ter a Aimê de brinde, acho que mereço!

A major bateu com o punho fechado contra a parede de concreto.

Ouvir o nome da bela de olhos azuis e tirou dos seus pensamentos conflituosos.

-- Se tocar nela, estripo você com uma faca de pão! – Falou com os dentes cerrados. – Está avisado!

Crocodilo estranhou as palavras, mas achou melhor desligar rapidamente, deixando que a pintora pensasse.

Retirou o chip, quebrando e jogando fora.

O primeiro passo tinha sido dado!

 

 

 

 

 

Diana olhava para o aparelho celular com o cenho franzido.

Passou a mão pela tez e ficou a imaginar se aquilo que fora dito tinha alguma verdade.

Crocodilo era um homem cruel e perigoso, mas sempre achara Otávio ainda pior nesses quesitos.

Voltou a observar a rua, como ele sabia que estavam ali? E o que ele poderia mostrar sobre a morte de Alexander?

Mordiscou o lábio inferior.

Teria Ricardo também mentido nesse sentido?

Seria capaz de matá-lo dessa vez!

Voltou à recepção e teve uma incontrolável vontade de ir direto falar com o general e esclarecer tudo de uma vez por todas.

Sim, era isso que faria, então observou o corredor por onde Aimê seguiu acompanhada da enfermeira.

Caminhou com passos firmes até a mulher de cerca de trinta anos e aparência simpática que parecia compenetrada diante do computador.

-- Quanto tempo vai demorar esses exames? – Indagou aborrecida.

A loira observou a pintora por alguns segundos, reconhecendo-a.

-- Provavelmente uns trinta minutos! – Disse simpaticamente. – Está com algum problema? Posso ajudar?

A Calligari nem mesmo respondeu e já pegava o celular discando um número freneticamente

Afonso fora o homem designado a investigar todos os novos fatos e esclarecer tudo o que realmente aconteceu.

Mostrava-se digno e bastante interessado no caso, ainda mais por ter conhecido Alexander desde que eram apenas adolescentes.

Contou-lhe sobre a ligação que recebeu e as insinuações por parte do bandido.

-- Ele pode estar jogando, querendo que retire sua proteção. – O homem dizia. – Não acredito que haja verdade nas palavras dele. Mandarei mais alguns homens para proteger você.

Diana deu de ombros.

-- E como pode ter certeza disso? – Questionou impaciente. – Afinal, Ricardo mentiu diante de todos inúmeras vezes, por que seria diferente agora?

-- Deve manter a calma, estamos seguindo com os interrogatórios e não só ele como a esposa se mostram prestativos em contar tudo o que se passou.

A morena praguejou baixo.

-- Vocês precisam pegar esse bandido, só assim poderemos descobrir se o que ele fala é verdade ou mentira!

-- Nós iremos pegá-lo, apenas peço que se mantenha afastada, não se engane e também não dê nenhum passo sem meu conhecimento.

A Calligari nada disse, enquanto encerrava a chamada.

Voltou a sentar na cadeira, mas agora não conseguiu se distrair vendo as revistas.

Como poderia deixar tudo nas mãos daqueles imbecis, afinal, foram eles que passaram toda aquela história acreditando no heroı́smo de Otávio.

Passou as mãos pelos cabelos, pensando se haveria alguma verdade em tudo aquilo.

Sentia um misto de fúria e a preensão em seu peito.

Esboçou um sorriso amargo.

O miserável queria realmente Aimê, disso não havia dúvidas e pelo que percebeu ele estava disposto a ousar ainda mais para tê-la.

Desgraçado!

Ele não se aproximaria dela, jamais encostaria um dedo sujo na jovem Villa Real, nem que para isso tivesse que entregar a própria vida.

Recostou a cabeça para trás, fechando os olhos.

Ainda acabaria louca e tudo por culpa da menina de olhos da cor do céu e sua maldita famı́lia.

Começou a massagear as têmporas, tentando aliviar a tensão que passava por todo seu corpo.

 

Estava com vontade de voltar para a selva, embrenhar-se naquela mata e permanecer lá, apenas observando o tempo passar, talvez assim conseguisse fugir daquela agitação.

Observou o relógio, o tempo parecia congelado.

O lugar estava vazio naquela área, tudo em perfeito silêncio.

Abriu a bolsa e praguejou mais uma vez ao perceber que seu caderno de desenho não estava ali.

Precisava pensar em como deveria agir diante dessa nova ameaça, não pouparia esforços para proteger a filha do bandido que desgraçara seu destino.

Ouviu passos e para seu alıvio, Aimê retornava em companhia da sorridente enfermeira.

Por que a presença da jovem mexia daquele jeito com seus sentidos?

Transara com muitas mulheres em sua vida, mas nenhuma tocara de forma tão ı́ntima em si.

Desejou abraça-la forte, sentindo-a em seus braços, deliciando-se com seu cheiro, com seu sabor inigualável.

Irritou-se com aqueles pensamentos. Levantou-se, indo até elas.

-- Amanhã mesmo o doutor verá os exames e creio que em menos de um mês poderá fazer a cirurgia.

-- Por que todo esse tempo ainda? – Diana questionou impaciente. – Não tem como isso ser feito antes?

Aimê teve que morder a lı́ngua para não rir, pois sabia que esperar não deveria ser algo que constasse como qualidade no dicionário da major.

-- Como a senhora sabe, o doutor está sempre viajando e o tempo é pouco. – A enfermeira justificava constrangida.

-- Pergunte a ele onde estará e eu farei questão de levar a Aimê até ele, assim não teremos um processo tão demorado. – Segurou a mão da garota. – Tenha um bom dia, senhora.

A Villa Real sorriu em simpatia, enquanto seguia de mãos dadas com aquela mulher de temperamento tão forte.

Caminhavam em silêncio e em passos lentos.

Aimê sentia a tensão da morena e pensava se ela ainda estava remoendo o fato de ter despertado sozinha na cama.

Ao entrarem no elevador, permaneceram caladas e mais uma vez a filha de Otávio se sentiu inclinada em falar com a major.

As mãos que não abandonavam as suas, eram firmes...quentes... Seguras...

Corou ao recordar de como aqueles dedos sabiam ser delicados...

Suspirou, lembrando-se dos lábios sobre os seus, do abraço forte... Daquele cheiro que a enlouquecia...

Tentou se livrar do contato.

-- Fique quieta! – Diana ordenou.

Aimê  ainda  pensou  em  retrucar,  mas  decidiu  permanecer  quieta,  desejando  que  o  mais  rápido  possível  pudesse chegar ao apartamento e trancar-se em seu quarto para fugir daquela mulher.

Chegando à saı́da, Diana mais uma vez observou com atenção os arredores, viu os seguranças à espreita e rapidamente seguiu até o carro.

 

A Villa Real se manteve em silêncio por alguns segundos até que pareceu perder a calma quando a Calligari esbravejou com um dos guardas-costas por percebê-lo distraı́do.

-- Você não precisa agir com tanta impaciência com os outros, ainda mais se o alvo da sua irritação sou eu.

Diana não respondeu de imediato, esperando o farol ficar vermelho para fazer isso.

Levou a mão até a coxa da garota.

Fitou-a.

Por que sempre parecia ser uma tarefa quase impossível mirá-la?

Observou o perfil bonito e delicado, os lábios rosados...

Suspirou impaciente.

-- Se quiser, mando flores e um pedido de desculpas! – Ironizou. – Que pena não podermos ir à sua floricultura para que você mesma prepare um lindo buquê. – Desdenhou.

-- Iria à falência se tivesse que mandar flores para todos que trata mal. – Respondeu baixinho.

Diana estreitou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorriso.

Aimê falava de uma forma tão natural e calma que deixava o sarcasmo imperceptível.

A Calligari seguia pela movimentada avenida.

Sua mente ainda estava presa às palavras de Crocodilo.

Teria ele realmente esse vı́deo?

Se assim o fosse, o que descobriria se pudesse pôr as mãos nele?

Será que seu pai também tinha sido vı́tima de Otávio?

Apertou forte o volante, tentando controlar a ansiedade e as desconfianças que foram plantadas em seu ı́ntimo.

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Aimê:

-- Diana...—Começou hesitante – Quero muito ir até os meus avós... Preciso saber se estão bens, preciso conversar com eles, necessito disso...

A morena não respondeu prontamente, pois sabia que seria arriscado levar a jovem ao seu desejado de destino, afinal, Crocodilo estava à espreita.

Observava o tempo todo pelos retrovisores, prestando atenção em todos os carros que movimentavam a avenida.

Mesmo diante da grande escolta, não sentia segurança, sabia que alguém estava repassando informações para o bandido e isso a deixava com os dois pés atrás.

Não poderia baixar a guarda como fizera um dia...

Fez a última curva, antes de chegar na área tranquila e arborizada onde ficava seu apartamento.

Seguiu para o prédio, entrando no estacionamento subterrâneo.

Viu quando os carros que faziam a escolta estacionaram ao lado do seu e os homens armados desceram examinando o lugar.

Havia poucos veı́culos no estacionamento e tudo parecia bastante tranquilo

Os seguranças fizeram um gesto positivo para a major, depois se colocaram em lugares estratégicos.

Diana não parece interessada em deixar o automóvel naquele momento.

Livrou-se do cinto, depois se virou para a acompanhante. Desejou beijá-la, mas acabou desviando o olhar, contendo a vontade.

Respirou fundo, voltando a fitá-la.

-- Próxima vez que transar comigo, vai acordar ao meu lado. – Disse por entre os dentes. – Você foi cruel em me deixar despertar sozinha.

Aimê umedeceu os lábios.

Sentiu um arrepio na nuca e uma pressão no abdome.

Engoliu em seco, enquanto se mexia no assento.

Sabia que em algum momento daquele dia voltaria a ser confrontada por isso e várias vezes ensaiara o que falaria quando a hora chegasse, mas agora parecia que algo empatava que as palavras saı́ssem.

Assustou-se quando a Calligari se inclinou para livrá-la do cinto e quase sufocou com o cheiro dela tão próximo.

Só conseguiu falar quando ela se afastou.

-- Não vamos mais fazer isso... – Disse rapidamente. – Não podemos... nem devemos...

Diana depositou a mão nas coxas nuas delas, enquanto se aproximava ainda mais.

-- Aimê, agora você realmente é a minha esposa, é a minha mulher... Então não vejo sentido em fechar a porteira depois que os bois invadiram.

A Villa Real pareceu chocada com os termos que a pintora utilizou.

Livrou-se do toque.

-- Eu não tenho uma porteira, major, e não teremos mais nada, assim será melhor para nós duas.

O rosto da Calligari demonstrava não apenas irritação naquele momento, mas também decepção e tristeza.

-- Então por que se entregou? Por que permitiu que te tocasse se depois me negaria novamente. – Indagou baixinho. – Está fazendo joguinhos comigo? Ontem praticamente implorou para que eu a tomasse e agora me vem com isso? – Esbravejou.

A Villa Real parecia uma estátua, apenas sua respiração denunciava que havia vida naquele corpo.

-- Não faço joguinhos... Apenas é uma decisão eu tomei e gostaria que respeitasse.

-- Não gostou? Eu a feri? --Diana cerrou os dentes, enquanto desviava o olhar.

Aimê manteve a cabeça baixa.

Não desejava falar sobre aquele assunto, pois sentia um nó na garganta e uma vontade enorme de chorar ao pensar em tudo que sentia.

Ambas pareciam mergulhadas em seus pensamentos, perdidas em seus desejos, em seus medos.

Sabiam que havia muita coisa entre elas e pareciam não saber nem mesmo o que sentiam.

-- Diana... – Falou baixinho.

Mas a Calligari pareceu não ouvir, deixando o carro, abriu a porta para ela.

Tomou-a delicadamente pelo braço, mas não a soltou, pressionando-a contra o veı́culo.

-- Eu nem vou pedir ou fazer esforço para que vá para a minha cama... – Mirou-lhe os olhos azuis. – Você fará sua escolha novamente. – Observou os lábios entreabertos. – Não te levarei para ver seus avós, não é seguro...

Aimê espalmou as mãos contra os seios dela, tentando manter distância, mas acabou sentindo a maciez do colo.

-- Tenho medo que aconteça algo com eles!

Diana a encarava.

Mordiscou o lábio inferior.

-- Nada vai acontecer a eles, estou tomando as providências para isso.

De repente um pensamento começou a preocupar a garota naquele momento.

-- E você também está cuidando da sua própria segurança? – Indagou preocupada. – Sabe que esses homens também estão a sua procura.

-- Da minha segurança cuido eu. – Fez sinal para que os homens se aproximassem. – Levem-na para o apartamento.

-- Mas... – Abriu a boca para protestar.

Diana se aproximou, sussurrando em seu ouvido.

-- Eu tenho umas coisas para resolver, mas à noite estarei em casa... Hoje começarei a te pintar, afinal, temos um trato...Desse não abrirei mão!

Antes que Aimê pudesse falar algo, a pintora voltou para o interior do veı́culo.

-- Venha comigo, senhorita. – O segurança tomou a mão da jovem, afastando-a.

A Villa Real ouviu o som do carro se afastar e continuou apreensiva, enquanto seguia ao lado do homem.

 

 

 

 

 

 

 

Vanessa estava na sala do apartamento.

Acabara de receber uma ligação da Calligari.

Encontrar-se-iam direto na exposição, pois havia outras coisas para a morena resolver. Também pediu para que acompanhasse Antônia até o aeroporto e permanecesse com ela até o embarque.

Antes que pudesse processar as informações a campanhia tocou.

Foi até a porta e abriu, deparando-se com Aimê.

-- Entre, querida! – Ajudou-a, dispensando o homem forte que a trouxe. – Por que a Diana não subiu? – Indagou, enquanto fechava a porta. – Aconteceu algo?

A Villa Real não respondeu, apenas permaneceu quieta.

Vanessa a fitava com atenção, sabia que havia algo a mais entre elas, tinha certeza de que a jovem estava apaixonada pela Calligari.

Ajudou-a a sentar.

-- Aconteceu algo? – Tomou-lhe as mãos nas suas. – Diana fez algo contigo? Brigaram? – Questionava preocupada.

-- Não, apenas ela disse que tinha coisas para resolver.

Vanessa não gostava de se intrometer na vida alheia, mas era difı́cil não fazer quando se tratava de alguém que amava como uma verdadeira filha, afinal, a pintora sempre fora muito especial para si.

Passou algum tempo a fitando.

Pensava como poderia abordar o delicado assunto.

Depois de longos segundos, pareceu tomar coragem.

-- Aimê... – Começou relutante. – Eu sei que serei intrometida agora, mas preciso que me responda algo.

Os olhos azuis se voltaram para a empresária.

-- O que quer saber? – Perguntou em um fio de voz, enquanto mexia nas mãos inquietamente.

-- A Diana te obrigou a ficar com ela ontem?

A pele branca da garota parecia sofrer uma verdadeira hemorragia naquele momento.

Baixou a cabeça e só depois de uma longa pausa, voltou a levantá-la.

-- Não... Ela não me forçou a nada – Respirou fundo -- na verdade, ela nem mesmo queria.

Vanessa pareceu chocada com o que ouvia.

De que aquela menina estava falando?

-- Como assim?

Aimê se levantou.

-- Não desejo falar sobre isso!

A empresária a deteve pelo braço de forma delicada.

-- Apenas me diga por que se entregou a ela.

A Villa Real permaneceu em silêncio por frações de segundos.

Sua mente criava teorias e desculpas naquele momento, como se assim pudesse se explicar o que se passava em seu íntimo.

Respirou fundo novamente.

-- Me entreguei porque a amo... – Levantou a cabeça demonstrando orgulho. – Sei que a Diana sente desejo por mim, ela demonstra isso há muito tempo, então apenas decidi que mesmo que nunca ficássemos juntas, gostaria de saber como seria ser amada por ela.

Vanessa parecia pasma.

A boca estava aberta em demonstração do total espanto que se apossou de si.

Não que duvidasse de que alguém pudesse se apaixonar pela Diana. Isso acontecia com frequência, porém o que não conseguia entender era como aquela jovem tão doce e delicada se interessa por alguém que só agia com grosseria o tempo todo.

Fechou a boca.

-- Gostaria de ir para o quarto, estou com dor de cabeça. – Aimê pediu. – Por favor, não comente nada disso com ela.

A empresária assentiu, auxiliando-a e curiosa para fazer outros questionamentos, mas sabendo que o melhor seria deixá-la quieta.

 

 

 

 

 

 

 

Ricardo sentou-se à mesa para almoçar.

Passara toda a manhã sendo submetidos a interrogatórios.

Cláudia sentou ao lado dele, tomando-lhe a mão.

-- Tudo vai terminar bem, a Diana está cumprindo tudo o que prometeu.

O general assentiu, mas não parecia muito seguro.

Sabia que cometera sérios crimes e isso seria prejudicial.

-- Os advogados estão me orientando a dizer que não contei a verdade porque temia pela segurança da minha neta.

A aconchegante sala de jantar tinha uma mesa redonda para quatro pessoas.

O lugar não era tão simples, pois havia bastante luxo e seguranças para protegê-los.

Havia uma porta de vidro que dava direto para a varanda.

Toda mobı́lia na cor branca e preta.

O general tomou um pouco de água, enquanto fitava a esposa.

-- Sim, eu quis proteger vocês, tanto que perdi tudo o que tı́nhamos fazendo isso... Mas eu também era bastante orgulhoso para sujar o nosso nome... – Confessou.

A mulher serviu a comida em silêncio e só falou quando já estava acomodada.

-- Eu sei... Passei muitos anos fingindo que Otávio não tinha feito nada de errado, justificava os atos dele, agia como se a Diana tivesse sido culpada de tudo o que ocorreu... Mas sempre soubemos quão cruel ele se mostrou.

Ouviram passos e ao levantar a cabeça se depararam com a Calligari.

A morena nem mesmo os cumprimentou, enquanto seguia até Ricardo, segurando-o pelo colarinho da camisa, levantando-o da cadeira.

O general se mostrava fraco, pois nem mesmo ousou a reagir.

-- Conte de uma vez o que se passou naquele dia que encontrou meu pai morto!

Cláudia se levantou, tentando inutilmente afastar a major.

Ricardo parecia confuso.

-- Fale de uma vez antes que eu faça uma loucura! – Vociferou, apertando-o mais forte.

-- Tudo eu já disse, cheguei lá e Alexander estava caı́do tendo a arma em uma das mãos, na mesma hora liguei para o resgate e para a polı́cia...

A Calligari encarava os olhos tão parecidos com o de Aimê.

Afastou-se.

Tentava manter a calma.

Passou a mão pelos cabelos.

-- O que a polı́cia falou? – Indagou por entre os dentes. – O que concluı́ram sobre a cena do ocorrido?

-- Que era óbvio que tinha sido um suicı́dio.

Diana apoiou as mãos sobre o tampo da mesa.

-- Espero que não esteja mentindo mais uma vez porque se assim o for, eu juro pela memória do meu pai que não terei piedade de vocês! De nenhum de vocês!

Da mesma forma tempestuosa que entrou, a Calligari saiu pisando duro.

Cláudia encarou o marido.

-- O que ela está insinuando?

Ricardo meneou a cabeça.

-- Eu não tenho ideia, já disse tudo o que sabia... – Ponderou por alguns segundos. – Naquele dia quando cheguei lá chamei imediatamente a ajuda e foi comprovado o óbito, não vi nada mais do que isso e tampouco fiquei no lugar... Não sei o que se passa na cabeça dessa mulher!

Sentaram-se à mesa, mas a comida ficou intacta no prato, pois agora ficaram preocupados ao imaginar se a fúria da filha de Alexander também estava sendo dirigida a sua amada neta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A exposição acontecia no hall de um famoso e luxuoso hotel.

Belı́ssimas obras estavam sendo apreciadas.

Uma orquestra dava ao lugar um clima elegante e ao mesmo tempo aconchegante.

As pessoas exibiam seus belos trajes, demonstrando a primorosa educação, enquanto discutiam sobre artes e apreciavam as mais belas peças.

Havia belos quadros e esculturas sendo exposta.

Os elegantes garçons serviam a todos champanhe e aperitivos.

Vanessa tinha acabado de chegar ao local e buscava por entre as figuras uma bastante conhecida para si.

Falara com a Calligari por telefone e a pintora combinara de se encontrarem ali.

Recebeu o cumprimento de algumas pessoas, alguns convites que sempre aconteciam, ainda mais de empresários internacionais, pois todos ficavam fascinados com as obras de Alessandra.

Já se desesperava quando visualizou a pessoa que procurava a alguns metros de si.

Diana parecia concentrada ao observar uma pintura.

A empresária não se aproximou de imediato, apenas mirava o ser solitário e tão compenetrado em seus pensamentos.

Sorriu ao ver o belo traje que vestia.

Ela usava um vestido preto, longo, sem mangras. O decote sem alça destacava o colo bem feito. Uma echarpe circundava seu pescoço.

Aproximou-se, pegou uma taça pelo caminho, entregando-lhe.

-- Gostou do quadro? Alessandra é uma pintora muito talentosa!

Diana a fitou, pegado o delicado cristal e bebericando lentamente.

-- Pelo menos a bebida é boa! – A morena disse torcendo a boca. – Não há dúvidas sobre o talento dela...

Vanessa ignorou a arrogância enquanto fitava o bonito quadro.

-- Vejo que cobriu seu lindo pescocinho! – Encarou-a. – Fiquei a pensar que em todos esses anos foi a primeira vez que vi marcas em sua linda pele.

Os olhos negros se estreitaram.

-- Aimê tem um rostinho de menininha inocente, mas pelo que percebo ela andou fazendo um verdadeiro desmantelo em seu ı́ntimo.

A pintora ainda abriu a boca para falar, mas acabou desistindo, ingerindo todo o conteúdo do copo.

-- Não vai esbravejar como de costume?

O maxilar enrijeceu.

-- Quer que eu te mande para o inferno?

A empresária sorriu.

-- Não, apenas gostaria de saber o que se passa contigo depois de finalmente ter conseguido seduzir a filha de Otávio

Diana fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Você não entenderia... Também não desejo falar sobre isso.

-- Diana, eu acho que chegou o momento de você perceber que está apaixonada por Aimê. O que custa admitir isso e tentar um relacionamento com ela.

A Calligari não respondeu de imediato, pegando mais uma taça de champanhe do garçom que passava por ali.

Bebia sem pressa.

-- Não quero falar sobre isso...

-- Por quê?

Diana engoliu em seco.

-- Quer mesmo saber? – Disse por entre os dentes. – A inocente Aimê me dispensou, depois de termos transado maravilhosamente... Ela faz joguinhos como todas as mulheres, aquela carinha de anjo não passa de uma bela máscara que vive a ostentar!

Vanessa viu, mesmo que a morena tentasse esconder, como aquele fato parecia feri-la.

Mordiscou a lateral dos lábios pensando no que a Villa Real falara mais cedo.

Sentiu um desejo enorme de conta-lhe, mas recordou que prometera que nada diria sobre o que conversaram.

-- Se você gosta dela por que não fala?

Diana observou as pessoas ao redor.

Ouvia o que falavam, sentia a respiração, o cheiro e isso pareceu sufocá-la.

-- Estou cansada, desejo apenas ir para casa.

Vanessa a observou deixar o salão e mais uma vez ignorar a todos que a cumprimentavam.

 

 

 

 

Aimê estava no banheiro.

Passara todo o dia sozinha e ficara feliz quando a tia de Diana trouxera para si alguns livros em braile.

Adorava ler e quando perdera a visão fora isso que mais lhe fez falta. Ficara feliz quando começara aprender a usar as mãos para decifrar aquele mundo de escuridão.

Antônia se despedira, pois seguiria para Alemanha onde ficaria por tempo indeterminado.

Percebera que a boa senhora não desejava partir e só o estava fazendo por insistência da sobrinha que temia por sua segurança.

Ao abraça-la a senhora Calligari sussurrara cheia de emoção:

-- Cuide da Diana para mim, meu bem...

 

 

Ligou a ducha.

Sentia o lı́quido quente molhar seu corpo, permitindo-se relaxar.

Quem poderia se atrever a cuidar daquela arrogante mulher?

Ainda estava assustada só em pensar que ela corria perigo e nem parecia se importar com esse fato.

Se tivesse poder de fazer qualquer coisa, usá-lo-ia para fazê-la ser menos orgulhosa e prepotente... Prenderia a major em uma caixinha para que nada de ruim lhe acontecesse.

Passou o sabonete em seu corpo e ao passar por determinados lugares sentiu um arrepio na espinha.

Irritada, apressou-se com o banho e logo já vestia o roupão e seguia para o quarto.

Passara a tarde se familiarizando com o lugar, pois não desejava ficar perdida como acontecera de manhã cedo quando deixara o quarto da Calligari, sorte que a empregada a ajudara a voltar aos seus aposentos.

Os pés descalços afundavam no carpete.

Segui até a cama, sentando-se com os pés para fora.

Diana...

Por que seu cérebro não pensava em outra coisa a não ser naquela mulher?

Deitou de costas, cobrindo o rosto com as mãos.

Passou a lı́ngua pelos lábios e recordou de como era maravilhoso beijar aqueles lábios grosseiros...

A forma como as lı́nguas se encontravam... Parecia que tinham sido moldadas para se encaixar...

Suspirou.

Como poderia tirar os momentos que viveram da sua cabeça? Como não se lembrar de tudo...

Respirou fundo e o cheiro dela invadiu seus sentidos.

Quanto tempo ainda teria que ficar naquele lugar? E quanto tempo mais resistiria ao amor que parecia cada vez mais forte e poderoso?

“Aimê, agora você realmente é a minha esposa, é a minha mulher... Então não vejo sentido em fechar a porteira depois que os bois invadiram.”

As palavras martelavam em sua mente...

Sim, adoraria que fossem realmente casadas... Adoraria que pudessem se amar sem nenhuma mágoa...

Sorriu tristemente.

Como podia ser tão iludida?

A Diana a queria sim, mão jamais poderia sentir amor por si, jamais poderiam ter algo mais do que sexo e isso era tão vazio...

Ouviu batidas na porta, sentou-se.

-- Boa noite, senhorita!

Aimê reconheceu a voz da empregada, sentindo-se aliviada.

Estranhou que ela ainda estivesse acordada, pois decerto já era bastante tarde.

-- Boa noite! Algum problema? – Indagou apreensiva.

-- Preciso que venha comigo! – Aproximou-se, tomando-lhe a mão.

 

-- Mas para onde? – Questionou surpresa.

-- Não tenho permissão para falar mais nada que não seja isso, logo ficará sabendo.

-- Mas não estou vestida... – Protestava.

A empregada não pareceu se importar com aquele detalhe.

A Villa Real suspirou, enquanto se deixava conduzir.

Desceram as escadas e depois de caminharem por alguns minutos, chegaram de fronte a uma porta aberta.

Entraram.

O quarto enorme tinha sido transformado em um estúdio.

Havia cavaletes, vários quadros inacabados, tintas e pinceis.

Tinha uma boa iluminação para que a pintora pudesse capturar os detalhes de suas obras.

As cortinas avoaçavam com o vento que entrava pela janela aberta.

Havia um enorme sofá de veludo preto, uma mesa com quatro cadeiras onde a pintora fazia as refeições.

-- Pode ir agora!

Aimê teve um sobressalto ao ouvir a voz da Calligari.

Não imaginou que a major já tinha chegado e se sentiu aliviada por saber que tudo estava bem com ela.

A empregada pediu licença, deixando o lugar.

Diana usava camiseta preta e short de malha curto, delineando as pernas torneadas e longas, usava um avental de tecido azul marinho.

Tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo e naquele momento usava óculos de graus quadrados.

A pintora arrumava os cavaletes e o banco que sentaria, pegou lápis, deixando tudo a mão.

Estava concentrada em sua tarefa de organização que nem mesmo se importou em cumprimentar a neta de Ricardo.

Ouviu o som do pé  agitado batendo de forma quase inaudível no chão.   Ao fitá-la percebeu que usava apenas um roupão.

Parecia uma menininha emburrada em meio ao quarto com as mãos cruzadas sobre os seios.

Aproximou, segurando-a pelos ombros, mas a Villa Real se desvencilhou.

-- O que deseja? Por que me chamou aqui? – A garota indagou assustada.

Diana a encarou.

-- Disse que hoje começaria a pintá-la e é isso que irei fazer.

Os olhos azuis se abriram em verdadeiro horror.

-- Não, não... – Deu alguns passos para trás. – Não posso... Não hoje, não estou preparada.

A Calligari colocou as mãos nos quadris.

-- Preparada para quê? – Perguntou tentando controlar a impaciência. – Você só precisa ficar quieta, deitada confortavelmente, enquanto a desenho.

Aimê engoliu em seco.

Só em imaginar tal cena sua pele arrepiava.

-- Nua?

Diana a fitou dos pés descalços até os cabelos molhados.

 

-- Sim, esse foi nosso trato. – Cruzou os braços sobre o colo. – Dispa-se de uma vez, pois preciso começar logo.

-- Por que tem que ser nua? Qual o motivo de desejar um quadro meu sem roupa? – Questionava com o rosto em brasas. – Não acho que seja uma boa modelo para isso...

Diana não respondeu de imediato, seguindo até ela, desamarrando o roupão, mas a Villa Real deteve seus movimentos, segurando-lhe a mãos.

O toque macio acendeu dentro de si novamente aquela erupção incontrolável.

-- Por que deseja isso?

A Calligari a encarou demoradamente.

Não podia negar que estava irritada com os acontecimentos daquele dia. Ainda mais ao que se tratava de ter acordado sozinha e o fato de Aimê ter deixado claro que não teriam mais nada depois da noite anterior.

Estaria ela jogando?

Desejava manipulá-la?

-- Para me masturbar olhando para ele já que você se nega a transar comigo! – Disse cheia de irritação. – Agora tire esse roupão, antes que eu o faça!

Aimê ainda tinha a boca aberta diante da frase que fora dita, quando a morena a livrou da proteção.

Diana observou a expressão de horror que a jovem exibia. Tentou não passear com seus olhos pelo corpo perfeito, pois sabia que não resistiria ao desejo de tê-la para si novamente.

Segurou-a pelos ombros, fazendo sentar no sofá.

-- Deite-se! – Ajudou-a a se acomodar delicadamente. – Mantenha-se de lado... Assim...

A Villa Real nada dizia, ainda parecia perplexa.

Diana fitou-lhe o rosto bonito e seguiu até o lugar onde ficaria.

Sentou diante do cavalete, enquanto a encarava, tendo seu olhar passeando por todo o corpo exposto da sua esposa pelas leis indı́genas.

Mesmo que não assumisse, sentia o próprio sexo reclamar, sabia que seria uma tarefa difı́cil manter a concentração, ainda mais agora que provara daquela mulher.

Retirou os óculos para limpar as lentes, fazendo a tarefa lentamente.

Depois de alguns segundos, recolocou-os.

Observou Aimê permanecer na mesma posição, tendo a face expressando verdadeiro horror.

-- Relaxe, prometo não atacá-la! – Falava enquanto começava rabiscar. – Já disse que te acho linda e que sempre desejei te pintar. – Falava distraidamente. – Sou uma profissional, não precisa se preocupar.

Aimê nada dizia, pois sentia a pele em chamas.

Em seus pensamentos imaginar a poderosa Calligari tocando-se, enquanto olhava para seu quadro era algo cruelmente excitante.

Seria ela realmente capaz de fazer algo assim?

-- Dobre a perna esquerda... – Ordenou. – Tente relaxar os ombros para poder captar melhor seus seios...

A Villa Real fazia o que ela mandava, porém tinha a impressão que seu corpo pesava como chumbo.

-- Não, não é assim... – Diana se levantou de forma impaciente indo até ela.

A major arrumou os cabelos da jovem, depois lhe endireitou os ombros e ao tentar arrumar os braços, acabou esbarrando no seio direito. O mamilo reagiu imediatamente.

A morena umedeceu os lábios, sentindo-os secos.

O biquinho rosado parecia implorar pelo toque.

Diana tentou ignorar, seguindo até as pernas longas, dobrando-a da forma que desejava... Fitou o sexo desejoso...

O triângulo se exibia tı́mido...

Agoniada voltou ao seu lugar.

Concentrava-se em seus rabiscos, buscando captar com perfeição todos os detalhes.

Tentava captar a essência daquele rosto, sabendo que não precisa fita-la para isso, pois aquela imagem já estava gravada em sua cabeça.

 

 

 

 

Trinta minutos depois, Aimê já se mostrava agitada e não parava de se mexer.

-- Fique quieta! – A Calligari ordenava pela enésima vez. – Você não está colaborando.

A neta de Ricardo se mostrava indignada.

-- Estou fincando com câimbras de tanto ficar nessa posição! – Aimê já se mostrava irritada. – Não sabia que algo tão simples era tão chato!

A morena e fitou.

-- Se você colaborasse e parasse de se mexer como uma gata arisca, eu teria mais facilidade em fazer isso.

Os olhos azuis faiscavam.

-- Eu não desejo ser pintada, realmente não desejo!

-- Você não tem que desejar nada, fizemos um trato e agora precisa cumprir! – Exigiu.

-- Para quê? Para usar meu corpo para sua safadeza? – Sentou-se. – Você é uma desavergonhada. – Cobriu os seios com as mãos. – Quero voltar para o meu quarto, não desejo continuar com isso!

A Calligari respirou fundo, enquanto a encarava.

-- Volte para a posição, Aimê! – Ordenou por entre os dentes. – Não acabe com a paciência que não tenho.

-- Mas eu já disse que não quero! – Levantou-se. – Quero meu roupão, desejo voltar para o meu quarto!

Diana fitou o pouco que fez até agora na tela branca, depois a encarou.

-- Tiraremos alguns minutos para que descanse, mas depois continuaremos! – Levantou-se, pegou o roupão, ajudando-a a vestir. – Mas não pense que desistirei, você deu sua palavra e exigirei que a cumpra.

A filha de Otávio tentava manter a calma, não sabia como discutir com aquela mulher. O bom é que não estava mais nua.

Suspirou, sentindo que tremia.

-- Sente-se! – Diana ordenou.

Mesmo desejando deixar aquele lugar imediatamente, a jovem fez o que lhe fora dito.

Ouvia os passos da filha de Alexander pelo quarto e ficava a imaginar o que ela estaria fazendo.

Diana seguiu até o frigobar pegando uma garrafa de vinho. Depois retornou para os sofá, encheu as taças, colocando um na mão da jovem, enquanto já provava a outra.

-- O que é isso? – Levou até o nariz para sentir o aroma. – Não bebo, não gosto de álcool!

A morena arqueou a sobrancelha em curiosidade.

-- Faça dessa vez, assim vai se sentir mais a vontade... Não precisa se embebedar, basta saborear o lı́quido... Não vai se arrepender.

A Villa Real relutou, mas acabou fazendo o que dissera.

A bebida não era tão ruim, era doce e suave, então bebeu um pouco mais.

-- E então?

-- Não é tão ruim...

Diana a observava com atenção e parecia mais interessada.

Encheu-lhe o copo novamente, depois fez o mesmo com o seu.

Aimê cruzou as pernas e o movimento desnudou parte da coxa.

A major pareceu hipnotizada.

-- Você costuma pintar mulheres nuas sempre? – depois de três taças de vinho a jovem indagou. – Esse é o seu talento?

A Calligari voltou a encará-la, retirou os óculos, colocando-o na mesinha de centro.

-- Não, eu não costumo fazer isso... Você é a minha primeira! – Respondeu sem deixar de olhá-la.

-- Então imagino que continue sendo a primeira e ú nica já que não tem esse hábito. – Tentava não demonstrar interesse.

A Calligari mirou a boca bonita.

Adorava quando ela mordiscava os lábios ou quando umedecia e a pontinha da lı́ngua aparecia.

-- Na verdade, daqui a alguns dias chegará uma jovem italiana a quem prometi pintar.

A neta do general pareceu não gosta da novidade.

Mexeu-se como se não conseguisse uma posição que agradasse.

-- Ah! – Exclamou sem esconder a irritação. -- Então se é assim, por que continua insistindo comigo! Prefiro não servir de modelo para ti, espere sua amiguinha, assim, poderá ser mais feliz em seu trabalho. – Tomou o resto do conteúdo que estava no copo em apenas um gole.

Diana exibiu um sorriso ainda maior, enquanto sentava mais perto dela.

Aimê sentiu as pernas se tocarem, encolhendo-se um pouco para evitar o contato.

-- São diferentes... A Marcela não se importara em mesclar trabalho com prazer, já você... – Provocou-a.

Aimê sentiu as pernas se tocarem novamente e aquilo a incomodou.

-- Que bom para ti, então, será bem divertido sua pintura... – Estendeu a taça para que enchesse mais de vinho.

Diana pegou a garrafa, fazendo o que ela pedia.

-- Ah, sim, será bastante divertido!

A neta de Ricardo cerrou os dentes.

 

– Apenas saiba que comigo não terá nada!

A major a fitou por longos segundos.

-- Por que você tinha que ser tão linda e tão marrentinha? – Depositou a mão sobre sua coxa. – Por que não é boazinha comigo como é com todos?

-- Não sou como as mulheres que costuma se relacionar... Não desejo me jogar nos seus braços como todas... – falou irritada.

-- Eu acho que você deseja sim, mas não quer para me castigar... Só que não entendo, afinal, ontem me amou sem reservas.

A garota gargalhou alto.

O vinho a tinha deixado relaxada.

-- Você é muito convencida! Acha mesmo que tem todo esse poder? Ontem foi ontem... Hoje tudo é diferente...

Diana sentou de lado, assim, poderia vê-la melhor.

-- Sim, sou, afinal, você se entregou para mim... Fui a primeira a provar do seu delicioso mel... – Subiu mais a mão. – E que mel gostoso que você tem...

A jovem sentiu a garganta seca.

-- Espero que tenha provado o suficiente, pois não terá mais. – Bebeu mais vinho. – Espere a sua amiguinha, decerto, essa aı́ te dará o que tanto deseja.

A morena sabia que ela estava com ciúmes.

Inclinou-se para ela, colando os lábios no pescoço da jovem, sentindo o cheiro delicioso.

-- E se eu falar que só quero você, que só desejo você... – Subiu mais a mão, sentindo-a. – Quero ficar contigo...

-- Como você me quer? – Questionou em um sussurro, voltando a cabeça para ela. – Apenas como sua amante? Deseja transar comigo até que enjoe? É isso?

A Calligari fê-la afastar as pernas, usando os nós dos dedos para sentir a umidade da carne que já se mostrava ansiosa.

-- Eu te quero, isso não basta? – Acariciava-a delicadamente. – Você me quer também...

Aimê levou a taça aos lábios novamente, bebericando.

-- Você não entenderia...

Diana se aproximou dos lábios, pegou o copo que ela segurava, depositando-o sobre a mesinha.

-- Explique... – Falou baixinho. – Prometo que tentarei entender. – Tocava a parte interna das coxas, demorando-se, pacientemente.

Aimê fechou os olhos se deliciando com o toque ousado, abrindo-se mais para poder senti-la.

Seu cérebro não parecia manter o raciocı́nio lógico naquele momento.

-- Não posso lidar com o seu ódio e eu sei que não vai demorar muito para que esbraveje...Ain... – Gemeu ao senti-la mais atrevida. – Não, não deve fazer isso. – Deteve-lhe a mão, mantendo-a imóvel. – Não tenho forças mais...

Diana ajeitou-lhe os cabelos por trás da orelha.

-- Eu não sei o que se passa... mimadinha... Mas a ideia de não te ter me enlouquece, desespero-me sem você... – Sussurrou em seu ouvido. – Eu fui amaldiçoada... Mas é a maldição mais gostosa que existe... – Beijou lentamente os lábios rosados, livrando-a do roupão. – Não nos castigue assim...

Aimê sentia aquele fogo queimar seu corpo, aquela sensação de que a não havia mais nada só o desejo de perder- se naquele imenso prazer.

Sentiu a mão de Diana voltar a se movimentar, levando a sua junto.

A lı́ngua da morena invadiu-lhe a boca, descendo por seu pescoço, pousando sobre os seios firmes e redondos.

Lambeu o mamilo.

-- Sinta como me deseja... – Usava o polegar para fazer movimentos circulares. – Eu sei que me quer, tanto quanto te quero. – Colocou mais pressão.

Aimê gemeu alto, enquanto elevava um pouco o quadril para senti-la mais intimamente, porém a pintora permaneceu parada, fitando o rosto corado.

-- Diga o que quer e eu prometo que farei... – Intimou-a.

Os olhos azuis pareciam mais escuros, estreitaram-se em agonia.

-- Entre dentro de mim... – Pediu em um sussurro cheio de desejo. – Gosto de sentir seus dedos me invadindo...

-- Assim... – Penetrou-a com o indicador.

A Villa Real fechou os olhos, enquanto fazia um gesto afirmativo com a cabeça.

Diana começou a lhe beijar o colo, viu-a empertigar-se para permitir todo o acesso.

-- Seu cheiro é maravilhoso... – Continuava em sua lenta invasão. – Não sabe quanto pensei em ti durante todo o dia... Como me lembrei de como se move contra meu corpo...

Aimê estava com os olhos fechados, enquanto mexia o quadril em uma dança sensual.

-- Em que pensou...? Fale...

Diana a trouxe para seu colo, fazendo-a montar-lhe de frente.

A herdeira de Ricardo protestou quando os toques cessaram, mas a nova posição acabou agradando-a ainda mais.

A Calligari a encarou, observou os olhos tão azuis, tão intensos, a costumeira face corada, o desejo que fazia morada naquele momento.

Colou os lábios aos dela, sentiu o aroma delicioso do vinho.

Aimê circundou seu pescoço, aprofundando ainda mais a carı́cia.

Procurou a lı́ngua da pintora, chupando-a, prendendo-a para que nunca mais a abandonasse, sugando-a para que o momento se prolongasse por todo o sempre.

Diana a abraçava forte e sentia as mãos da jovem desejando livrá-la das roupas.

-- Você não me disse se gostou do que fizemos ontem... – Sussurrou em seu ouvido.

Os olhos azuis se estreitaram em puro deleite..

Mordiscou o lábio inferior, enquanto tomava a mão da pintora, levando aos lábios, beijando um a um os dedos que acariciavam com tanta maestria. Passou a lı́ngua no que antes estava dentro de si, depois o deixou em sua boca, chupando.

A Calligari sentiu o sexo implorar pelo mesmo tratamento, mas estava disposta a fazer tudo de forma diferente, desejava que Aimê sentisse a mesma necessidade que sentia, assim a dissuadiria de se negar ao prazer da paixão que a unia.

-- Eu a machuquei ontem? – Indagou em puro deleite.

A Villa Real levou a talentosa mão ao seu ponto mais sensível, fazendo-a acariciar sua parte externa.

 

 

-- Não... Hunnn... Não machucou... – fê-la massagear seu clitóris. – Nunca tinha sentido nada parecido...Ain... Assim...

Diana começou a lamber o mamilo excitado, enquanto penetrava-a novamente.

-- Então por que é cruel e me nega o direito de tê-la?

-- Ain... – Gemeu quando a Calligari colocava mais pressão. – Você não entenderia... – Dizia entre gemidos.

A morena intensificava a carı́cia no colo e logo juntou um segundo dedo a penetração.

Ouviu os protestos.

-- Relaxe, vai ficar mais gostoso... Você é pequena...

Usou a outra mão para massagear a carne sensível, enquanto fundia duplamente... Já  iniciava os movimentos de vai e vem, sentindo-a estreita, apertando-lhe mais e mais.

-- Diana... – Chamou-a em sussurros. – Como consegue dominar meus sentidos... Vai me escravizar com essa paixão.

A major percebeu que agora era momento de pressioná-la mais, pois a jovem Villa Real mexia os quadris contra seus dedos com mais intensidade.

-- Diga por que desejou me negar esse prazer. – Exigiu, penetrando-a mais impetuosamente. – Fale... Diga o que se passa.

A respiração acelerada de Aimê e seus gemidos de prazer aumentaram mais, sabia que não demoraria a perder todos os sentidos.

Moveu-se mais rápido e mais rápido, até senti-la totalmente perdida.

-- Diga!

O prazer total não demorou a destruı́-la, então entre lágrimas confessou seu segredo:

-- Porque eu te amo... Porque eu te amo, mesmo sendo eu a filha do homem que destruiu sua vida.

Diana nada disse, enquanto a abraçava, sentindo os espasmos que lhe sacudiam o corpo.

Ouviu os soluços de desespero.

Sussurrou em seu ouvido palavras de conforto, acariciando os cabelos macios.

Vanessa estava certa, então...

Abraçou mais forte a jovem.

Depois de um tempo, sentiu-a relaxar em seus braços, percebendo que havia adormecido.

Amor?

Não,  seria  impossível  que  houvesse  esse  tipo  de  sentimento  entre  elas,  ainda  mais  depois  de  tudo  que  viveram, depois de todas as mágoas que havia em seus passados.

Seu cérebro não conseguia captar aquela informação, não conseguia processá-la, parecia algo além da sua compreensão.

Amor?

Deitou-a no sofá, usando o roupão para cobri-la.

Afastou-se!

Acomodou-se no banco, fitou a tela, viu os traços que já se saiam...

Amor?

 

O que era esse sentimento que todos falavam?

Não acreditava nele... Ouvira as mesmas palavras da boca de Otávio... Ele justificara todos os seus pecados em nome desse tal amor!

Voltou a encarar a mulher que dormia em seu sofá...

Estava perdida em seus pensamentos quando ouviu o bip do celular.

Seguiu até o criado-mudo.

Não era seu costume deixar o áudio no aparelho, mas acabara esquecendo.

Havia uma mensagem em sua tela.

“ Veja como os Villa Real não merecem a sua misericórdia.”

Não havia assinatura, mas ela sabia de quem se tratava.

Abriu o vı́deo.

Pegou o fone para poder ouvir melhor.

Emocionou-se ao ver o pai e odiou a imagem prepotente do coronel.

Ouvia a discussão entre os dois.

Alexander deixava claro que sabia de todas as armações que Otávio fizera, discutia, exigindo que Otávio nunca mais se aproximasse da sua única filha.

O que veio a seguir pareceu ainda pior do que tudo o que passara.

Quando o Calligari deu as costas, foi atingido por uma coronhada, caindo desfalecido.

Uma arma fora apontada para a lateral da sua cabeça e disparada cruelmente.


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