A dama selvagem - capítulo 2
O
sol estava mais ameno quando seguiram mata a dentro.
Diana,
Piatã e outro rapaz robusto pegaram uma canoa e seguiram pela margem.
A
morena observava tudo com atenção, pois sabia que por trás de toda aquela
beleza existiam inú meros perigos.
Fitou
algumas piranhas nadar bem próximo.
Estavam
famintas, sedentas por carne. Pulavam, pareciam desejar mostrar que mesmo sendo
tão diminutas mandavam naquele lugar.
Não
era época de chuvas, então a água não estava tão funda.
Viu
as vitórias régias enfeitaram a paisagem.
Respirou
impaciente.
Não
demoraria a deixar o transporte e logo seguiriam a pé pela mata fechada.
A
tribo ficava bem isolada e não havia permissão para que as pessoas fossem
até lá.
Diana
se recordava de que quando seu pai precisou seguir por aquele território
precisará do consentimento de Ubiratã.
Ela
o conhecia há muito tempo.
--
Major, calada... O que pensa?
O
som forte da voz de Piatã lhe tirou de suas divagações.
A
jovem o fitou.
--
Estava me lembrando do meu pai...
--
Alexander era um homem bom, um guerreiro... Nos defendeu muito dos invasores,
dos ladrões... Filha dele também ser grande guerreira... Tem nosso sangue...
Mas tem muita arrogância...
--
Meu pai adorava isso aqui e teria vivido aqui sem problemas... – O tom era
magoado.
--
Diferente da major...
Ela
esboçou um sorriso enigmático, depois voltou a prestar atenção à água.
Alguns
jacarés estavam à margem esperando sua presa.
Os
pássaros estavam calados, pressentiam o perigo.
De
repente a grande ave, falcão, posou sobre a pequena embarcação.
Aquele
animal eram os olhos e o mensageiro do pajé.
Ela
não demorou muito, apenas observou a morena por alguns segundos, erguendo voo
novamente.
O
ı́ndio encarou Diana.
--
Bem, espero que ele não nos receba com flechas. – Gracejou.
Não
demoraram muito para seguirem por terra.
Diana
usava coldres nas coxas e circundando o peito. Sabia que precisava de armas
para se defender se assim fosse preciso, mesmo diante do olhar reprovador de
Piatã.
Aquela
tribo reprovava todo tipo de manifestação de violência e condenavam ainda
mais o uso de armas de fogo, so a praticavam contra os considerados traidores.
A
caminhada era longa, ainda mais porque havia armadilhas, além de predadores.
As
seringueiras enfeitavam a paisagem.
Naquela
parte ainda não havia desmatamento, continuava preservado, talvez pelo fato de
ser um lugar mais selvagem, onde poucos se habilitavam a ir.
As
flores secas e também verdes forravam o caminho o que tornava fácil para um
animal se camuflar.
Precisavam
ser ágeis e ter bom preparo fı́sico, pois havia muitos obstáculos.
Piatã
caminhava à frente, abria caminho com seu cajado, não havia trilha para ser
seguida. Diana seguia no meio, tendo o outro bem atrás de si. Tomava cuidado
para não ter a pele rasgada.
Ouviram
o chocalho da cascavel e não demorou muito para o réptil atentar contra eles.
A morena foi rápida, tomando o bicho na mão, jogando longe.
O
rapaz que seguiam com eles pareceu enamorado pela mulher de cabelos negros e
admirado por sua coragem.
--
Vejo que a cidade grande não a domesticou... – Piatã comentou.
A
jovem apenas deu de ombros, continuando a caminhada.
Apressaram-se
porque como a floresta era de mata fechada, escurecia rápido. Não havia uma
trilha, apenas caminhos por entre as árvores.
Acamparam
ao anoitecer.
Fizeram
uma pequena fogueira. Dormiriam sob as estrelas.
--
Se não tem intenções de salvar a garota porque não ficou em sua confortável
casa?
Diana
estava deitada de lado e pensara que o ı́ndio estava a dormir. O mais jovem
montava guarda.
Virou-se
para Piatã.
--
Há coisas que precisam ser feitas para que outras possam ser conseguidas.
--
A major vive de passado...
--
Talvez se eu não tivesse deixado a tribo nada disso tevesse acontecido... –
Disse pensativa.
O
velho estendeu a mão e tocou-lhe a face bonita.
--
Nada acontece sem estar escrito no grande livro da vida...
Diana
ainda pensou em protestar, mas aquelas pessoas tinham uma fé cega em algumas
coisas e acreditavam em coisas que não fazia sentido para ela.
Sempre
fora cética, acreditava mais nas ações do que em crendices.
Fechou
os olhos tentando dormir.
Dois
dias de caminhada e por fim chegaram à tribo.
A
lua já estava alta. Fogueiras estavam acesas. As ocas eram distribuı́das em
cı́rculos.
Os
ı́ndios dançavam ao redor do fogo, pareciam festejar algo.
As
crianças ajudavam as mulheres idosas a arrumarem a grande mesa. Havia frutas,
verduras, algumas caças.
Diana
recordou-se da época que vivera naquele lugar e de como a hora da refeição
para eles era sempre era algo a ser comemorado.
Mirou
algumas ı́ndias a lhe observar com curiosidades, eram jovens e bonitas.
Os
corpos cheios de pinturas...
Não
viviam nus como alguns costumavam pensar, usavam pedaços de panos que cobriam
os sexos, apenas os seios estavam à mostra.
De
repente a dança parou e ela sabia muito bem por qual motivo.
Todos
fizeram uma respeitosa reverência diante da presença do pajé. Ela não,
apenas o observava.
Ubiratã
era sábio e fazia tudo para proteger seu povo, fazia tudo para viver em
harmonia com as outras tribos, pois já houve um tempo de muitas mortes, de
muita dor.
Ele
não era um ditador, era um homem amado e respeitado por sua sabedoria.
Os
olhos intensamente negros se voltaram para ela.
Mesmo
sabendo que não deveria fazê-lo, ela sustentou o olhar.
Ele
fez um sinal para que Diana se aproximasse e foi isso que ela fez.
Arrogante,
andava com a postura de uma verdadeira rainha.
Caminharam
até uma oca em total silêncio.
A
jovem reconheceu algumas pessoas, mas sabia que não tinha autorização para se
aproximar de ninguém naquele momento.
Ergueu
a cabeça e continuou.
Parecia
que não passara tantos anos.
O
chefe continuava do mesmo jeito. Alto, gordo, cabelos brancos, olhar duro...
Ainda usava suas túnicas, suas pinturas... Seu cocar pomposo e colorido.
Entraram
e sentaram no chão.
Ela
cruzou as pernas, imitando a posição de Buda que o pajé fazia.
--
Não deveria ter vindo!
--
Sabe por que eu vim, então não tenho que explicar nada.
Ele
lhe dirigiu um olhar reprovador.
--
Continua tão petulante como antes.
A
morena mordiscou a lateral do lábio inferior demoradamente.
--
Desculpe-me, mas preciso muito fazer isso.
O
pajé estendeu as mãos para ela, tomando as delicadas junto as suas.
Apenas
o luar e a fogueira iluminava o lugar.
--
Menina Diana, quando você voltou aqui eu a proibi de passar porque temia por
sua vida, mas agora sei que nada a impedirá, pois é esse o seu caminho. –
Esboçou um sorriso. – Como cresceu tanto e se tornou esse ser tão intratável?
Os
olhos negros pareceram confusos e envergonhados, mas logo recuperavam o ar
misterioso.
--
Se deseja seguir, não a impedirei, apenas a aviso de que esse ato mudará sua
vida para sempre.
--
Não tenho medo de morrer!
O
velho ı́ndio meneou a cabeça negativamente.
--
Você tem medo de viver... E agora é isso que vai acontecer... Vai viver...
Diana
suspirou.
--
Eu não sei o que quer dizer, mas pelo menos vou ficar feliz porque se eu
resgatar a neta de Ricardo ele vai admitir diante de todas as barbaridades que o
filho dele fez.
--
Passaram-se tantos anos... – Tocou-lhe a face, desenhando o formato do rosto. –
Engraçado como herdara toda a irracionalidade do seu povo.
Ela
encarou os olhos intensamente negros.
--
Nem que passe uma eternidade... Jamais perdoarei... Jamais esquecerei o que
aquele homem fez e como os Villa Real ficaram calados diante de todo o
ocorrido. Meu pai não aguentou a vergonha e se matou.
--
A culpa ainda te persegue...Fechou-se dentro de si... Tornou-se aquilo que
estava previsto...
--
Sou Diana Calligari... Filha de Alexander Calligari... – Disse orgulhosamente.
Ele
lhe acariciou os fios pretos.
--
Você não é só filha de Alexander... – Falou pacientemente.-- Tornei-me
unicamente filha dele quando fui expulsa da sua cultura! – Retrucou
rispidamente.
O
pajé se levantou.
--
Descanse hoje e amanhã você seguira seu caminho... Deixarei que dois
guerreiros a acompanhe até o seu destino.
Ela
pareceu surpresa.
--
Sou muito grata por isso...
--
Porém preciso que siga as minhas orientações quanto a algumas coisas.
Diana
arqueou a sobrancelha esquerda em desconfiança.
--
Não deve retornar por aqui. Sei que será mais difı́cil para ti, ainda mais
porque demorará muito para retornar para casa, porém você está acostumada a
essas coisas. Passava muito tempo nessa selva embrenhada... Provavelmente
encontrará sua tribo, é um risco grande, mas lhe dou um conselho: Não
enfrente Tupã!
Ela
fez um gesto de assentimento. Mesmo se aquilo não fosse lhe dito, jamais
retornaria por ali, pois estaria colocando em risco a todos que ali viviam.
Quanto
às tribos que toparia naquela empreitada, sabia que não seria fácil passar
por elas.
A
volta não seria fácil, ainda mais por ter ao seu lado essa garota que carregava
o sangue podre de Otávio.
--
Junte-se a nós, estamos comemorando o amor e a sua chegada.
Diana
assentiu enquanto seguia em companhia dele.
Aimê
ouvia os passos, ouvia as vozes do lado de fora e sabia que logo a levariam
embora daquele lugar e nunca mais voltaria para casa.
As
mulheres gritavam de prazer, permitiam-se ser usadas da forma que aqueles
homens desejavam.
Enojou-se!
Tentou
se livrar das cordas, mas eram inú teis todos os seus esforços.
Será
que já era noite?
Temia
que em algum momento eles acabassem violentando-a, mesmo quando ouvira
comentários sobre seu valor ser maior se continuasse intocada.
Fechou
os olhos fazendo uma prece silenciosa.
Desejando
que acontecesse algo que pudesse mudar o rumo daquela terrível história.
Ouviu
o som de uma pássaro e sentiu um arrepio em sua espinha.
Temia
que depois de tudo ainda fossem capazes de ir atrás dos avós, temia que eles
os matassem como fizeram com seu pai.
Aquelas
pessoas não tinham coração e tampouco moral, apenas visava ao poder, o
dinheiro que viria de seus atos de crueldade.
Como
um ser humano podia ser tão ruim?
A
boca estava seca...Precisava de água, precisava descansar sem ter medo de um
daqueles homens a atacassem.
Diana
se mantinha encostada a uma árvore, observando distraidamente a alegria de
todos que ali habitavam.
Vivera
algum tempo naquela aldeia quando ainda era uma criança. Seu pai a deixara nas
mãos do pajé, enquanto precisou se ausentar por um longo tempo. Na verdade, a
morena sabia que Alexander fizera aquilo para que a filha fosse treinada e o
mais importante, aprendesse a ter disciplina, vivesse aquela cultura, abrira
mão dela para que não houvesse uma guerra.
Lerdo
engano!
Fitou
uma ı́ndia que fora uma grande amiga sua... Yara se deitara em seus braços
quando ainda contavam com treze anos... Seu corpo conhecera o prazer e se
viciara nele...
Não
podia dirigir a palavra a nenhum deles, devia permanecer isolada e achava que assim
era melhor.
Baixou
a cabeça ao ver que uma jovem se exibia para si.
--
A cidade não lhe deu bons modos?
A
voz de Ubiratã a tirou dos seus pensamentos conflitantes.
Virou-se,
mas não o viu.
Embrenhou-se
pela escuridão, sabendo que ele estava por ali. Pisava com cuidado... Olhava
todos os lados.
--
Estou aqui...
Então
ela o viu descansando sobre uma árvore. O luar prateado iluminava-o.
Ela
colocou as mãos na cintura, fitando-o.
--
Estava lendo minha mente! – Acusou-o. – Não gosto que use seus poderes comigo!
– Dizia irritada.
--
Não consigo ver muito... Você consegue bloquear as minhas visões com sua
escuridão. – Falou pacientemente. – Interessante como todos esses anos não a
ajudaram a superar tudo o que passou... Yara se casou, tem famı́lia, tem
filhos...
O
pajé mesmo na escuridão viu que as faces bonitas ficaram coradas.
Sorriu!
--
Fico feliz por ela!
--
Esqueça o passado...
Diana
pareceu mais indignada.
--
Acha que o que passei foi pouco? Eu vi o homem que amava ser morto, fui
espancada inúmeras vezes e entregue para aqueles malditos...
--
Você o amava como um irmão, não como uma mulher deve amar o homem com quem
casaria.
--
De que está falando?
--
Só a verdade e isso é a maior fonte do seu ódio... Culpa-se por ter aceitado
o matrimônio... Pensa que se não o tivesse feito ele ainda estaria vivo e
nada daquilo aconteceria... Infelizmente, princesa, quando entrou no exército
o seu destino fora selado.
--
Não acredito em destinos, não acredito nessas coisas... Nós fazemos a nossa
vida como desejamos... – Esbravejou.
--
Eu não discordo disso... – Dizia calmamente. – Temos sempre vários caminhos a
seguir...
--
Então não me venha com essas besteiras...
Ficaram
em silêncio e por alguns segundos só os sons dos animais noturnos poderia ser
ouvido.
--
Você não deseja salvar a menina Aimê... Tupã vai desejar que salde a sua
dıvida...
O
riso debochado da jovem não pareceu incomodar o chefe.
--
Não sabia que essa era uma novidade... Qualquer um que conhece a minha
história sabe que a ú ltima coisa que desejo é salvar a maldita filha de
Otávio... Quanto a Tupã, não estou preocupada com o que ele possa fazer.
--
Você pode simplesmente voltar para a cidade, retomar para suas pinturas e deixar
tudo isso para trás... É um caminho a seguir...
--
Já disse que não tenho medo de morrer...
--
Não, Diana, você ainda não sabe o que é o medo... Você não melhorou
durante todos esses anos... Ainda é a menina que seduzia todas as ı́ndias,
ainda é a menina que fugia por essa floresta sem respeitar os limites que eram
lhe dados... Ainda é a menina de nariz arrebitado que só pensava em si... O
tempo só aumentou essas suas qualidades...
Ela
ainda abriu a boca para retrucar, mas o pajé como em um passe de mágica
desapareceu.
Ela
suspirou irritada.
Nada
daquilo a importava...
Iria
até o acampamento e tentaria salvar a garota, mas se não conseguisse, ela
mesma a mataria, assim a livraria de um destino terrível e também vingaria
parte do seu ódio.
Antes
que o sol nascesse, Diana seguiu seu caminho, acompanhada de dois ı́ndios que a
guiariam durante o trajeto até o acampamento.
--
Esconda-se na caverna... Há alguns dias pedi que alguns guerreiros deixassem
mantimentos lá, fique lá por um tempo e depois siga seu caminho. – Olhou para
o céu que ainda estava escuro. – Chovera em menos de três dias, isso será
bom para apagar seus passos.
Ela
assentiu e mais uma vez agradeceu.
Pelo
mapa que tinha, ao final de duas noites encontraria os bandidos. Esperava que
eles continuassem no mesmo lugar.
Ela
tinha sorte por conhecer melhor aquela região, tinha essa vantagem, enquanto a
facção apenas se centrava em uma parte descampada da grande mata.
Os
animais se agitavam diante da presença humana.
Os
macacos pulavam os galhos, pareciam curiosos com os invasores.
Pegaram
uma canoa para descer rio a baixo.
Observava
a floresta quando viu alguns ı́ndios de outra tribo. Se não estivesse
acompanhada, decerto, naquele momento teriam lhe lançado inúmeras flechas.
Eles
a conheciam e não demoraria a que todos soubessem da sua presença na floresta.
Remava
junto com os dois que não pareciam muito sociáveis.
Desejava
não estar mais naquela rú stica embarcação quando a noite chegasse. Sabia
que naquele habitat os predadores eram mais traiçoeiros.
Ouvia-se
os cantos dos pássaros e de repente o ataque de um jacaré a um pequeno
mamı́fero que bebia água sem se dar conta do perigo que corria.
Era
estranho estar ali, estranho porque era como se nunca tivesse partido. Estranho
porque sempre se sentiu uma predadora, tão ameaçadora como os felinos que
caçavam implacavelmente suas vı́timas.
Pararam
apenas para se aliviar, quanto à comida, tinha levado alguns sanduı́ches e
frutas, nada muito articulado.
Felizmente
deixaram o rio e agora seguiam por terra.
O
caminho era perigoso... Tinha que seguir em meio à vegetação que praticamente
impedia que os raios de sol penetrasse o ambiente.
Sem
falar nos predadores.
Cobras,
onças...
Diana
estava sempre alerta.
Usava
um arco para não denunciar a sua presença atirando.
Ao
final da tarde os companheiros se despediram dela.
Na
noite do dia seguinte chegaria ao destino.
Desejava terminar
aquilo o mais
rápido possível e
retornar para casa.
Não tinha lembranças
boas do tempo
que viveu ali e talvez o chefe tivesse razão em alguns quesitos, porém
jamais tivera a intenção de destruir a vida de alguém. Por isso aceitara
aquela missão, pois só assim saldaria a dıvida que tinha com o homem que um
dia a protegera de tudo e de todos, do homem que perdera a vida para salvá-la,
outro que perdera a vida por não suportar a vergonha.
Saı́ra
cedo na manhã seguinte, apressava o passo.
Ouviu
o rugido conhecido e rapidamente subiu sobre a árvore.
Uma
onça!
Pegou
a arma que estava no coldre da coxa. Não desejava matá-la, mas se fosse
preciso, faria.
Era
um animal de beleza esplêndida, grande.
Topara
com várias espécies daquela e sabia o quão ágeis, fortes, rápidas o
suficiente que não dava muita chance a sua presa para se defender.
Depois
de algum tempo ela perdeu o interesse em sua pessoa e saiu perseguindo outra
futura refeição.
Respirou
aliviada!
Andou
mais rapidamente e nem mesmo parou para comer ou tomar água.
Depois
de um longo e árduo caminho, chegara ao lugar do acampamento.
Havia
madeiras sobre caminhões. Grande parte da área estava desmatada.
O
lugar estava sendo arrumado para um helicóptero pousar pelo que percebia. Era
a melhor forma de sair daquele inferno.
Então
não chegara tarde!
Sentiu-se
aliviada.
Trepou
em uma árvore para poder observar melhor a movimentação no lugar.
Pegou
o binóculo, investigando tudo que pudesse ser usado no seu resgate.
Havia
homens armados com metralhadoras diante de uma fogueira... Uma tenda grande e
outras menores estavam distribuı́das ao redor do terreno.
Estava
tentando ver todas as defesas que o bando tinha.
Não
seria fácil adentrar aquele lugar... Precisava pensar em algo que não
chamasse muito a atenção, pois estava em total desvantagem, porém tinha a
vantagem de saber como eles agiam e em alguns casos, eram bastante idiotas,
pois sempre acreditavam que tinha vencido e isso não os deixavam preparados
para o perigo que podiam enfrentar.
Não
demoraria a anoitecer...Esse seria o melhor horário...
Dois
homens vieram em sua direção, parando bem abaixo de onde ela estava.
Prendeu
a respiração!
Reconheceu-os...
Um deles se chamava Crocodilo, tinha uma cicatriz na face esquerda, ela fizera
nele quando tivera o desprazer de quase ser violentada pelo cretino.
Miserável!
Por
um momento desejou tanto matá-los que seus dedos chegaram a acariciar o metal
frio da arma, quando gritos lhe chamaram a atenção.
Os
dois saı́ram em disparadas para ver o que se passava.
Voltou
a observar e em frações de segundos ouviu um disparo contra a cabeça de uma
jovem.
Diana
não conseguiu ver direito... Tentava inutilmente observar quem era a mulher
que fora cruelmente alvejada.
Observou
quando dois homens pegaram o corpo sem vida e jogaram em uma vala.
Seria
aquela Aimê Villa Real?
Não,
eles não seriam tão imbecis em matá-la, afinal, que valor teria ela sem vida
para eles?
Mirou
a tenda maior novamente...
Então
de repente a viu...
Não
havia dúvidas que aquela era a herdeira do coronel Otávio...
Os
cabelos longos estavam presos em uma trança grossa que caia na lateral do
ombro. Alguns fios se soltaram do penteado e emolduravam o rosto bonito. Ela
não estava machucada... Apenas percebeu um arranhão na pele branca da face.
Decerto eles não desejavam danificar a mercadoria. Ela valeria muito no
mercado negro. Uma escrava branca muito bonita e ainda por cima tinha o sangue
dos Villa Real.
Seria
uma puta muito requisitada... Quem não pagaria caro para transar com a filha do
monstro.
Algo
a irritou e por um momento desejou não estar naquele lugar.
Levou
a mão aos cabelos em um gesto de impaciência.
Poderia
ir embora e simplesmente esquecer essa história. Poderia retornar para sua
casa, para sua vida... Seria uma vingança perfeita.
Voltou
a examiná-la com mais atenção.
Era
alta... Lembrava uma modelo... Magra...
Usava
calça preta, túnica branca caı́da nos ombros, deixando-os à mostra.
Os
braços estavam amarrados por cordas.
Seguiram
com ela, deixando-a presa em um tronco.
Eles
não a deixavam fora das suas vistas.
Inteligentes!
Ouviu
o som ser ligado... Estavam comemorando... Já davam por vitoriosas suas
ações. Claro, se fosse depender de Ricardo, nada poderia ser feito, quem
ousaria ir até ali?
Isso
era algo bom, pois assim não esperariam uma possível invasão.
Mulheres
seminuas saı́ram da tenda e começaram a dançar ao redor dos bandidos.
Bonitas
e tentadoras...
Aquilo
sim era uma ótima distração.
Diana
esperaria. Eles não imaginariam que alguém fosse até lá, ainda mais à
noite, afinal, poucas pessoas se arriscariam em um lugar como aquele.
Acomodou-se
melhor sobre a árvore, usando a luz artificial dos refletores para examinar
melhor o local.
Precisaria
seguir em direção à Leste, mesmo sabendo que aquela parte era perigosa, teria
que se arriscar por ali.
Daria
a volta e retornaria a vila de Piatã, pegaria o avião e retornaria a
civilização.
A
caverna serviria de abrigo por alguns dias, depois partiriam...
Se
o chefe estivesse certo quanto à chuva que cairia, seria uma vantagem a mais,
pois não se procurava ninguém debaixo de tempestades, ainda mais naquele
lugar.
O
problema seria a garota, teria ela condições de enfrentar essa fuga?
Não
se importaria de deixá-la pelo caminho se assim fosse preciso para salvar a
própria vida. Jamais se sacrificaria por alguém com sangue tão ruim.
Voltou
a fitá-la.
Ela
mantinha os olhos fechados. Parecia frágil de mais.
Não
era mais uma menina, tinha se transformado em uma mulher muito bonita.
De
repente os olhos se abriram, voltando-se para sua direção... Pareceram
perdidos... Sem luz...
Um
dos homens se aproximou da Villa Real, trazia consigo uma prostituta,
rapidamente se despiram e transaram diante da garota.
Diana
observava as reações de Aimê e mais
uma vez teve a impressão que ela parecia impassível a tudo que ocorria ao seu
redor.
Teria
herdado o sangue frio do pai?
Apertou
o binóculo com tanta força que só parou ao sentir o matéria se partir sob
seus dedos.
Praguejou
baixinho.
As
horas passavam na mesma proporção que as bebidas acabavam.
Estavam
alegres... Trôpegos, comemoravam o grande sucesso que obtiveram. Pela manhã
um helicóptero chegaria e levaria a preciosa encomenda e eles receberiam além
de muito dinheiro, drogas e armas.
A
morena esperou que eles levassem a jovem para dentro da tenda...
Aquele
seria o momento.
Eles
arrumavam as coisas, estavam distraı́dos...
Saiu
escalando árvore por árvore até conseguir chegar na parte de trás do
acampamento.
Observou
bem!
Sentiu
aliviada ao ver que só havia um guarda parado lá.
Rapidamente
conseguiu imobilizá-lo, rendendo-o em seguida, deixando-o desacordado.
Escondeu-o por trás de uma moita, assim não denunciaria o que tinha
acontecido.
Adentrou
rapidamente o espaço...
Estava
muito escuro e não podia usar a lanterna, pois acabaria chamando a atenção
dos outros.
Quando
os olhos se acostumaram com a penumbra, visualizou-a em um canto, sentada em
uma cadeira.
Seguiu
até ela, cobrindo-lhe a boca com a mão.
--
Se fizer algum barulho que possa chamar a atenção deles eu quebro seu lindo
pescoço... – Sussurrou em seu ouvido. – Entendeu?
Aimê
sentiu um arrepio percorrer todo o corpo ao ouvir a voz baixa e autoritária.
Seria
ela uma das prostitutas que ali estavam?
Se
assim o fosse, o que ela queria consigo?
Fez
um gesto afirmativo com a cabeça, afinal, não queria ser machucada por aquela
estranha.
Permitiu-a
falar:
--
Eu não farei... Por favor, não me machuque...
Diana
achou a voz da jovem por de mais melodiosa.
-- Você vem
comigo... – A ruiva a soltou das cordas, mas não lhe deixou as mãos livres. –
Não faça barulho. – Advertiu-a novamente.
--
Quem é você? – Questionou novamente.
A
pintora observou-a mais uma vez e teve a impressão que ela não a estava vendo,
decerto devido à penumbra.
--
Cale a boca! – Ordenou. – Venha comigo!
Seguiram
por trás, correndo o máximo que podiam.
Diana
a puxou e a jovem tropeçou, mas a Calligari não a deixou cair.
Praguejou
baixinho.
Precisava
aproveitar que estavam distraı́dos para saı́rem daquela área.
Puxou-a
novamente e mais uma vez se irritou por ela sair tropeçando.
--
Presta atenção onde pisa, sua idiota! – Repreendeu-a.
--
Não consigo...
Diana
praticamente a arrastava em uma carreira desenfreada, desejando ganhar
distância daquele lugar o mais rápido possível.
O
sol não demoraria em nascer... E não demoraria para que eles viessem atrás
delas.
O
pior é que a Villa Real estava retardando o passo.
Pressionou-a
contra um tronco de árvore, fazendo-o de forma demasiadamente violenta.
Colocou
o punhal contra a pele do rosto dela.
--
Deseja voltar para eles? Deseja ser levada para um bordel para servir de puta
para um monte de homens sujos? Não me diga que depois de passar tanto tempo
com eles a ideia já pareceu atraente?
Aimê
sentia o aço frio e teve a impressão que morreria naquele momento.
Diana
fitava os olhos azulados.
--
Eu... – A garota gaguejava. – Está escuro... – Disse simplesmente.
--
Isso não é problema meu... Eu só quero me manter viva e longe deles... Se
você não colaborar, te deixarei aqui para que eles te peguem.
A
Villa Real engoliu em seco, enquanto fazia um gesto rápido de assentimento.
Continuaram
sem parar por algum tempo... Inúmeras vezes a refém foi ao chão, mesmo
depois do sol ter nascido, ela continuava a se desequilibrar.
Diana
praticamente a arrastava sem se preocupar com tais fatos até que o galho de
uma árvore feriu a face de Aimê.
Observou o sangue jorrar
da pele sensível,
mas não pareceu
se importar, nem
mesmo quando os
belos olhos começaram a
lacrimejar.
Com
as mãos na cintura observava tudo com atenção.
A
Calligari conhecia aquele lugar, estavam próximas da caverna.
--
Fique aqui! – Avisou.
Seguiu
até as árvores que cobriam tudo, tateou até encontrar o que buscava.
Sorriu
aliviada.
Era
um bom esconderijo, estava bem camuflado.
Quando
se voltou para ir buscar a jovem, percebeu que ela seguia de forma confusa para
um lugar oposto, como se estivesse a fugir.
Rapidamente
foi até ela, segurando pela corda, saiu arrastando-a até a caverna,
empurrou-a tão forte que a moça foi ao chão.
--
Está louca!? – Esbravejava. – O que estava fazendo? – Tirou a mochila, depois
o cantil, levando-o aos lábios. – Se tentar fugir novamente de mim, atiro em
suas pernas!
--
Quem é a senhora? O que quer de mim? – Questionou tentando se levantar. – Quem
a mandou aqui?
Diana
a observava e percebia que algo estava errado, ela não a fitava, parecia não
vê-la.
Aproximou-se
rapidamente, tomando-a pelos ombros, obrigando-a a encará-la.
--
Consegue me ver? Olhe pra mim! – Ordenou.
Apesar
da penumbra da caverna, conseguia observar os traços bonitos.
--
Consegue? – Estreitou os olhos irritada.
Aimê
tentou se desvencilhar do toque, mas suas mãos estavam presas por cordas,
dificultando a ação.
--
Não, eu não consigo... Ainda não percebeu que sou cega?
A
pintora pareceu chocada com o que ouvia.
Observou-a
mais atenciosamente e realmente percebeu que ela não enxergava.
Cega!
Ninguém
lhe falara sobre aquilo.
--
Cega? – Soltou-a, praguejando. – Como vou tirar uma cega daqui? – Passou as
mãos pelos cabelos negros. – Como te arrastarei para fora desse inferno?
Maldito
Ricardo!
O
miserável não contara sobre aquele fato...
Mas
o que tinha passado?
Como
ficara cega?
Aimê
pareceu triste em ouvir tais grosserias, mas tentou não demonstrar isso.
--
Quem é você e o que faz aqui? – Questionou se afastando até encostar as
costas na parede da caverna. – Onde estamos?
A
pintora nada respondeu, apenas caminhava de um lado para o outro no pequeno
espaço, parecia um animal acuado, uma fera presa em uma jaula.
--
Quem é você?
Diana
lhe olhou durante alguns segundos até voltar a se aproximar.
--
Tome! – Colocou o cantil rudemente nas mãos da filha de Otávio. – Beba!
Aimê
recebeu o que lhe era oferecido.
Estava
morta de sede, sua garganta já estava doendo.
--
Ficaremos aqui por hoje...É um lugar seguro...
A
jovem nada disse, apenas ficou quieta, temendo afrontar aquela mulher que parecia
tão rı́spida e intratável.
Diana
sentou no chão.
Abriu
a mochila, tirando alguns itens, principalmente algo para comer, estava
faminta.
Comia
um pedaço de sanduı́che enquanto olhava para a mulher que permanecia de pé com
cara de temor.
Se
soubesse que aquela garota era cega jamais teria aceitado essa missão... Não
por temer não sair com vida, mas porque algo nessa deficiência a incomodava
demais.
Observava
tudo com atenção e viu que havia outra bolsa com várias coisas dentro.
O
pajé mandara deixar!
--
Quem é você e por que me tirou do acampamento? Eles a matarão se a pegar.
Ela
tinha uma voz melodiosa, baixa, paciente... Irritante.
--
Isso não é problema seu... – Levantou-se, seguiu até ela, empurrando-a para
que sentasse, em seguida colocou o sanduı́che nas mãos dela. – Coma!
Aimê
ainda pensou em retrucar, ainda mais pelo tratamento que estava recebendo, mas
estava tão faminta que devorou o pão em poucos segundos.
--
Poderia me soltar? – Estendeu os braços. – Meus pulsos estão doendo.
--
Ficarão a doer por mais tempo porque não tenho intenção nenhuma de
soltá-los.
Diana
seguiu pela caverna sem se importar em deixar a garota sozinha.
Depois
de dobrar uma curva encontrou o que tanto procurava.
Ali
havia uma pequena gruta onde poderia banhar e ter água enquanto estivessem
acampando naquela área.
Esperava
não demorar tanto, mas sabia que os sequestradores não desistiriam assim tão
fácil do prêmio tão requintado. Decerto ficariam montando guarda naquela
área e rezaria para que eles não conseguissem encontrar aquela caverna, coisa
pouco provável, pois ela não se mostrava. As trepadeiras camuflavam
totalmente sua entrada.
Naquela
parte as luzes entravam por algumas aberturas no teto, deixando a mostra o sol
alto entre as árvores.
Seria
melhor que ficassem naquela parte, tinha luz... Bem que para a Villa Real
aquilo não faria diferença.
Agora
podia pensar calmamente e sem a interrupção daquela voz doce e curiosa.
O
que se passara com a herdeira de Otávio?
Viu-a
algumas vezes quando ela ainda era uma menina de pouco mais de dez anos e não
havia nenhuma deficiência visual. Teria sofrido um acidente?
Por
que Ricardo não mencionara esse detalhe?
Ouviu
passos e se assustou, mas ao se voltar era ela que seguia se apoiando pelas
paredes.
Suspirou
de forma impaciente.
--
Eu disse que ficasse lá... Além de cega também é surda?
Aimê
ficara assustada a ouvir barulhos de tiro e tinha seguido em busca de algo ou
alguém.
Ela
tentou mais uma vez disfarçar a mágoa pelas palavras duras que foram ditas.
--
Ouvi um tiro... Passos...
Diana
foi até ela.
--
Como? Eu não ouvi nada.
--
Acho que minha audição é um pouco mais apurada...
A
pintora a fitou e agora podia ver melhor, pois ali o sol iluminava as paredes
frias.
Os
olhos da Villa Real eram lindos, mesmo parecendo tão perdidos. O nariz era
pequeno e fino, combinando com o rosto afilhado de maçãs rosadas. A boca era
mediana, os lábios pareciam de veludos...
Observou
o corte em sua bochecha... O galho a ferira.
Tocou
o machucado com o polegar, a jovem se encolheu, parecia assustada, temerosa com
a aproximação.
Diana
afastou a mão.
--
Mesmo que estejam lá fora não entrarão aqui... Por enquanto estaremos
seguras. – Disse por fim. – Precisa cuidar desse ferimento. Estamos muito longe
da civilização para arriscar uma infecção.
--
Tem água aqui? – A garota questionou parecendo não se importar com a última
observação feita pela Calligari. – Eu ouço e sinto o cheiro.
A
ruiva a fitava de forma curiosa e desconfiada.
As
roupas que ela usava estavam encardidas, verdadeiros trapos, mas mesmo assim
continuava muito bonita.
--
Sim, há uma pequena cascata...Ela deságua e forma uma piscina natural cercada
por rochas.
Aimê esboçou um sorriso tão cheio de vida que
seria difı́cil para o ser mais insensível do mundo não ser tocado por aquele
gesto.
--
Preciso de um banho... Por favor, não sabe há quantos dias meu corpo não
sente a carı́cia desse lı́quido divino... Deixe-me banhar.
Mais
uma vez Diana observou cuidadosamente as formas delicadas, irritando-se com
isso logo em seguida.
Passou
a mãos pelos cabelos negros.
--
Então, dispa-se e eu ajudarei a entrar, também preciso de um banho...
A
moça estendeu os pulsos.
--
Não conseguirei se estiver amarrada... Prometo que não tentarei fugir...
Por
que as palavras delas pareciam ser sempre tão cheias de sinceridade?
Diana
nada disse, porém a livrou das cordas, dando-lhe as costas para que ela
tirasse as roupas.
Observou
o pequeno lago que se formava...
Quando
criança banhara muito naquele pequeno paraı́so...
A
água era cristalina, tão transparente que se via o fundo de pedras...
Voltou-se
para a filha do homem que mais odiara na vida.
Estava
usando calcinha e sutiã.
Era
visto que os homens estavam cuidando de sua aparência, pois as peças eram
novas.
Decerto,
decidiram compensar a cegueira com algo mais atrativo. – Pensava exasperada.
Mirou-a
com mais atenção.
Havia
alguns hematomas nas costelas... Fora espancada pelos bandidos?
Estendeu
a mão para ela, esquecendo que ela não via. Aborrecida, tomou-lhe o braço de
forma brusca, praticamente arrastando-a até a borda do lago.
Aimê
deu gritinhos de felicidade ao sentir o lı́quido em seus pés.
--
Espere...
Diana
se afastou se livrando rapidamente das roupas, depois seguiu até a mochila,
pegando dois sabonetes de dentro.
Voltou
para junto da jovem, seguindo com ela até a parte onde a água dava na cintura
de ambas.
--
Deus, como é perfeito sentir a água em meu corpo...
Aimê
mergulhou por alguns segundos e depois submergiu com um sorriso na face.
A
morena pareceu ainda mais incomodada com a forma alegre que a outra expressava,
nem parecia que estavam sendo perseguidas.
Colocou
um dos sabonetes nas mãos dela.
--
Use isso, pois fede a macaco molhado.
O
rosto da jovem corou.
--
Naquele lugar não tinha água e eu também ficava receosa de me despir e um
daqueles homens tentarem algo ou até mesmo ficarem me observando. –
Justificou-se.
A
pintora apenas deu de ombros, dando-lhe as costas.
Tratou
de tomar o banho, depois seguiu até a margem para pegar as roupas para lavar.
Precisaria
pensar em como atravessaria aquele lugar com aquela garota cega?
Mais
uma vez a viu levantar e naquele momento não teve como não notar a beleza do
corpo que apesar de estar muito magro, ainda exibia grande sensualidade.
Como
artista plástica tinha uma sensibilidade muito aguçada quando se tratava de
belezas e por um segundo pensou que adoraria pintar aquela jovem totalmente
nua... Seria uma obra comparada a própria Vênus de Botticelli.
--
Por que me olhas?
A
voz doce a tirou de seus pensamentos.
--
Como sabe que estou te olhando se não consegue enxergar? – Questionou enquanto
se aproximava.
Diana
era um pouco mais alto que a filha de Otávio, uns cinco centı́metros talvez.
--
Seu olhar é muito penetrante, é como se me tocasse com sua força.
A
ruiva continuou a mirá-la, agora mais de perto, tão próximo que sentia a
respiração dela junto a si.
Mais
uma vez tocou o machucado na bochecha com o polegar.
--
Temos que cuidar disso... Tenho uma caixa de primeiros socorros na minha
mochila.
Os
olhos azuis seguiam o som das palavras... Pareciam tão vivos, mesmo sem luzes.
--
Não acredito que esteja tão ruim... – Desvencilhou-se do toque. – Preciso
esperar minhas roupas secarem... – Cruzou os braços sobre os seios. – Estou
começando a ficar com frio.
Diana
seguiu até a mochila tirando uma toalha.
--
Tome! – Colocou em suas mãos de forma grosseira. – Não quero que pegue uma
pneumonia, pois se isso acontecer, te deixo aqui para virar comida de canibais.
Lindaas!! Amo esse casal.
ResponderExcluirComo sempre, Diana meu xodó..
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