A dama selvagem - Capítulo 17


O grande salão estava cheio de convidados ilustres.

Mesmo tendo outros artistas no recinto, todos os olhares se voltavam para Diana.

Seus quadros mais valorosos estavam sendo expostos. Muitos desejavam ter algo da bela mulher para expor em suas casas.

A morena não parecia se importar com os assédios das pessoas e sempre se negava a falar com a imprensa.

Aceitou a taça de champanhe que Vanessa lhe ofereceu.

-- Você está linda! – Disse em um sorriso.

Realmente a pintora estava belı́ssima.

Usava um vestido preto longo sem alças. Ele tinha uma abertura lateral que deixava exposta a bela perna.

Também usava luvas de seda que chegavam aos cotovelos.

Os cabelos estavam soltos, emoldurando o rosto bonito. Usava pouca maquiagem, apenas o suficiente para realçar os lábios e os olhos.

-- Ah, não diga! – Relanceou os olhos em tédio. – Estou cansada, desejo voltar para o hotel.

Desde que chegaram a Roma nada interessava a morena.

Ainda sentia-se humilhada por ter sido acusada por Aimê, ainda sentia a raiva queimar em seu peito e se não tivesse saı́do daquela pequena cidade, poderia ter feito uma loucura.

Vanessa observava tudo com atenção.

Buscava algo para distrair a sua amiga.

Sabia que ela não estava bem.

-- Ah, não, veja! – Apontou para a entusiasmada mulher que observava os quadros. – Dinda está adorando tudo e não é justo que você estrague isso. – Bebericou. – Há dias que você fica dando telefonemas para esses detetives que contratou, deixe os Villas Real no seu passado.

Diana respirou fundo, enquanto bebia o lı́quido borbulhante, mas pareceu não apreciar.

-- Está sentindo falta da cachaça? – A empresária a provocou. – Posso conseguir uma para ti.

A Calligari nada respondeu.

Tentava inutilmente esquecer tudo o que se passou, mas cada vez ficava mais difı́cil, ainda mais porque seus sonhos sempre eram invadidos por olhos azuis acusadores.

Suspirou.

Vanessa não a dissuadiu de investigar sobre Crocodilo, não desistiria, apenas tentava relaxar e pensar em tudo friamente.

Nada lhe tirava da cabeça que o bandido desgraçado fora responsável pelo que aconteceu a floricultura, mas como para aquela maldita famı́lia só havia um culpado para tudo, Aimê acusou-a com todas as letras.

Bebeu todo o conteúdo de uma vez.

A garotinha estúpida não tinha ideia do que tinha causado, não tinha ideia de como suas atitudes a deixou sendo o principal alvo do seu ódio.

Odiava-a!

Ansiava pelo momento do triunfo, ansiava por fazê-la pagar caro pelo o que fez, por tê-la feito uma acusação, por ter agido como a maldita família.

-- Acho que você tem uma admiradora! – A empresária sussurrou em seu ouvido. – Você gosta de ruivas?

Diana pareceu confusa de inı́cio, então observou na direção que a outra indicava e viu uma belı́ssima mulher encarando-a.

Realmente era maravilhosamente bela.

Os cabelos cor de fogo, a pele rosada...

A empresária vivia procurando casos novos para a pintora, achava que assim ela esqueceria de uma vez por todas a filha de Otávio, porém seus esforços ultimamente tinham sido um verdadeiro fracasso, pois a morena se mostrava bastante irritada e isso espantava as belas moças.

-- Quem é ela? – Perguntou parecendo interessada.

Vanessa sorriu, pois percebia que tinha conseguido prender sua atenção.

-- Filha do dono do ateliê.

A Calligari se serviu de outra taça.

-- Ela parece bastante interessada em você, acho que deveria aproveitar, afinal, por que dispensaria uma mulher tão bonita?

Diana olhou a admiradora novamente e foi agraciada com um sorriso. Fez um gesto com a taça em retribuição.

Antônia caminhava em sua direção.

-- Filha, os quadros são lindos, mas nenhum chega aos pés dos seus, você é muito talentosa. – Beijou-lhe a face.

A tia de Alexander se encontrara com as duas mulheres. Na verdade, Vanessa contara tudo o que se passou na pequena cidade e pediu ajuda a Dinda para impedir que a major fizesse alguma loucura.

-- Ah, tia, você deseja comprar algum? – Questionou enquanto não tirava os olhos da ruiva.

-- Ah, não, mas já pedi para que pinte um para mim, quero colocar na sala de jantar da casa da cidade.

Diana fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto via a bela mulher se afastar por uma das portas laterais.

-- Está certo! Eu volto logo, preciso resolver algo. – Entregou a taça a amiga.

Vanessa piscou para Antônia que pareceu não entender nada.

O enorme ateliê se localizava um pouco afastado da badalada capital.

O local era usado para os maiores artistas exporem suas obras. Sua construção datava de quase duzentos anos. Reformado há pouco tempo, ainda trazia em sua decoração as marcas do passado. Algumas colunas jônicas davam um charme maior ao lugar.

Ele era todo cercado por suntuosos jardins.

Diana descia os degraus, quando viu o seu alvo parado diante da bela fonte.

Mordiscou o lábio inferior, enquanto exibia um sorriso.

Aquela mulher a distraiu por alguns segundos dos seus pensamentos, então por que não alongar um pouco esses momentos.

Lentamente, caminhou até onde a ruiva estava.

A fonte era iluminada com luzes coloridas.

Naquela noite o céu trazia muitas estrelas.

-- Enjoou da exposição... – Falou quando já estava bem perto da moça.

A ruiva pareceu se assustar, mas ao ver de quem se tratava exibiu grande satisfação.

-- Impossível enjoar da arte... – Virou-se para a pintora. – Ainda mais com obras tão incríveis e intrigantes.

A major esboçou um sorriso.

-- Deixe-me apresentar... – Estendeu a mão.

-- Não acredito que seja necessária apresentação de sua parte... – Exibiu um sorriso alvo. – Sei que é a grande artista Alessandra Calligari! – Segurou-lhe a mão delicadamente. – Eu sou Marcella Rossi.

Alessandra!

Esse fora o nome que adotou quando decidiu pintar, ainda mais devido a tudo o que se passara.

-- É um prazer conhecê-la... – Observou tudo ao redor. – Achei estranho que tenha vindo para cá, está tudo tão deserto aqui fora.

Marcella parecia encantada diante da artista.

-- Na verdade a minha intenção era deixar a exposição, porém me demorei aqui... Faltou-me coragem.

Diana percebia que a bela mulher parecia preocupada ou até mesmo incomodada com alguma coisa.

-- Se quiser posso acompanhá-la a algum lugar... Podemos tomar algo, conversar...

A mulher estreitou os olhos desconfiada.

-- Mas o que vai pedir em troca por dispor da sua preciosa atenção? Não acredito que alguém como você saia com qualquer pessoa sem algo em mente.

Diana sorriu.

-- Nada, apenas uma boa companhia salvará meu dia.

Marcella a observou minuciosamente.

Conhecia bem, já ouvira falar muito daquela mulher e sabia dos casos que ela colecionava.

Quem poderia condenar alguém por cair nos encantos dela... Os olhos negros pareciam de feiticeiras...

-- Será um prazer ter a sua companhia.

A Calligari sorriu novamente, tomando-lhe delicadamente o braço.

Não se preocupou em avisar a Vanessa, pois a empresária a conhecia bem e sabia que ela não costumava dar satisfação.

Não sabia o motivo, mas se sentiu interessada na bela ruiva, ainda mais porque viu em seu rosto algo que trazia no seu: dor.

 

 

 

 

 

Aimê cuidava das rosas na floricultura.

Aos poucos tudo estava voltando à normalidade.

Pegou o regador para cuidar das mudas que já cresciam forte.

Ouviu o sino, mas Bianca estava cuidando da parte frontal, então não se preocupou em ir até lá.

 

Quando foi tocar na roseira, espetou o dedo em um espinho.

Gemeu, enquanto levava a boca para deter o sangue.

De repente lembrou-se de algo...

Sacudiu a cabeça para se livrar dos caóticos pensamentos.

Quando tudo aquilo que sentia chegaria ao fim?

Mesmo diante de todas as coisas terríveis que descobriu seu coração ainda clamava por ela...

Respirou fundo!

Sentia-se mal por tê-la acusado de destruir a loja, mas alguém pensaria diferente?

Deus, como pôde se apaixonar pela mesma mulher que seu pai amou?

Quantas vezes despertava durante a noite chorando ao imaginar os dois juntos...

Mordiscou o lábio inferior...

O que se passava consigo, como tinha se apaixonado pela major, ainda mais quando sempre fora tratada com grosserias...

Esperava com todo o coração nunca mais encontrá-la em sua vida.

 

 

 

 

Bianca atendia um cliente quando Cláudia entrou.

-- Onde está Aimê? – Questionou afoita.

A loira terminou de atender o homem e o observou se afastar.

-- Está no jardim, cuidando das flores. – Seguiu para trás do balcão. – Aconteceu alguma coisa tia? – Fitou-a.

A senhora Villa Real era sempre tão elegante, tranquila, mas agora parecia assustada, preocupada.

A esposa do general olhou na direção do lugar, certificando-se que Aimê não ouviria nada.

Seguiu até onde a loira estava.

-- Bianca, eu preciso que você me ajude!

A garota percebeu que tinha algo errado.

-- Sim, diga o que precisa!

Cláudia arrumou os cabelos.

Saı́ra de casa tão apressada que nem mesmo se importara com a aparência.

-- O seu tio tem o contato da Diana Calligari?

Bianca pareceu surpresa com a pergunta.

-- Como assim? Por que precisa desse contato?

-- Eu preciso falar com ela, preciso que ela me ajude a proteger Aimê! -- O pranto já tomava força.

A Alvarenga não estava entendendo o que se passava, ainda mais depois das coisas que ficara sabendo sobre a pintora, jamais imaginaria que Cláudia buscaria auxı́lio logo daquela mulher.

-- Mas por que precisa que ela ajude? Como pedirá ajuda a mulher que fizera tanto mal a vocês?

A senhora Villa Real percebeu que a jovem já sabia de tudo, mas não podia explicar nada naquele momento.

-- Eu não posso esclarecer nada agora, apenas te digo que Aimê corre sérios riscos e só Diana pode ajudar.

Bianca assentiu rapidamente, enquanto ligava para o gabinete do tio.

Enquanto falava com a secretária, observava com avó da melhor amiga andava de um lado para o outro, depois parava e olhava lá fora pela vitrine.

O que estaria acontecendo?

Inventou uma história para o prefeito e conseguiu o que queria, nem mesmo se despediu dele, encerrando a chamada.

-- Tia! – Chamou baixinho.

A mulher foi rapidamente até ela.

-- Conseguiu? – Indagou esperançosa.

-- Sim, mas não é o telefone da Diana, é da empresária dela, Vanessa!

-- Não importa – Pegou o papel – Eu falarei com ela e pedirei que me coloque em contato com ela. – Pegou o aparelho de telefone. – Fique de olho na Aimê.

A loira assentiu, enquanto dava a volta no balcão e seguia para a porta onde estava a amiga.

Cláudia discou o número e precisou parar porque seus dedos tremiam, depois terminou.

Estava disposta a fazer qualquer coisa para convencer a filha de Alexander a ajudar, contaria toda a verdade, mesmo que soubesse como sua neta sofreria, porém o importante é que ela estivesse em segurança.

Não acreditava que Ricardo escondera essas ameaças de todos, não acreditava que mesmo depois disso, ele ainda foi capaz de reproduzir todas as mentiras para Aimê.

Estava entrando em desespero, quando ouviu a voz de uma mulher.

-- Alô!

-- Boa tarde! – Cláudia cumprimentou relutante. – Eu tenho urgência em falar com Diana Calligari.

-- Perdão, senhora, mas está ligando para o escritório da empresária dela e nesse momento nenhuma das duas se encontram.

A senhora Villa Real suspirou.

-- Não tem como me dá outro número de contato? É muito urgente o que tenho para falar.

A mulher do outro lado da linha ficou em silêncio durante alguns segundos, tanto que Cláudia imaginou que a ligação tivesse sido encerrada.

-- Quem está falando? – A secretaria questionou depois de um tempo.

-- Sou Cláudia Villa Real e tenho muita urgência em falar com a Diana.

Mais uma vez a moça ficou em silêncio.

-- Bem, senhora, eu não posso fornecer números pessoais, mas assim que a dona Vanessa entrar em contato, eu falarei sobre sua ligação.

-- Por favor, não esqueça, diga que entre em contato comigo nesse número.

-- Está bem, tenha um bom dia!

Cláudia permaneceu parada, olhava para o celular e rezava para que seu recado fosse dado a tempo.

Bianca se aproximou.

-- E então? Conseguiu algo?

-- Não, a moça se negou a me passar o número, mas disse que avisaria que eu liguei... Vamos esperar para ver se Diana retorna.

-- Mas o que tá acontecendo? Eu posso ajudar em algo? Podemos falar com meu tio, se Aimê corre perigo, ele pode falar com o delegado...

Cláudia acariciou os cabelos da jovem.

-- Filha, eu imagino que minha neta de te contou as atrocidades que Ricardo falou que Diana fez... – Mordiscou o lábio inferior. – É tudo mentira... Passamos a vida toda contando mentiras e agora por nossa causa, o nosso maior tesouro está sendo ameaçado.

-- Mas...

-- Eu preciso que me faça um favor enorme. – Pediu.

-- Sim, o que precisar.

-- Convide Aimê para dormir na sua casa, acho que ela estará segura lá por hoje.

A loira assentiu rapidamente.

-- Não tem nenhum problema nisso.

Cláudia lhe segurou a mão.

-- Por favor, não conte nada do que te falei, ainda não é o momento, mas quando for, prefiro que seja eu a contar tudo.

-- Claro, tia, não se preocupe! Tudo que foi dito aqui ficará aqui.

A senhora Villa Real observou a loira ir para o jardim.

Esperaria ansiosa pelo contato de Diana e torceria para que ela não se negasse a ajudar.

 

 

 

 

 

Diana despertou e viu os cabelos avermelhados espalhados sobre seus seios.

O sol já penetrava pelas persianas.

Tivera uma noite maravilhosa, pelo menos por um tempo esqueceu tudo que perturbava sua mente.

Passara boa parte da noite dançando com Marcella, beberam e depois foram para o hotel e tiveram uma deliciosa transa.

Viu os olhos verdes se abrirem e a encararem.

-- Buon giorno, senhorita! – Cumprimentou-a com um sorriso.

Marcella retribuiu o gesto.

-- Não acredito que dormi contigo na véspera do meu casamento!

Diana lhe beijou os lábios.

-- Pelo menos agora está relaxada e não tensa como ontem.

Marcella sorriu e se levantou totalmente nua.

A ruiva caminhou até a janela, abrindo as cortinas.

-- Quero que vá a cerimônia! – Virou-se para ela. – É a minha convidada!

Diana foi até ela.

-- Ah, querida, não sei se gostarei de vê-la fazes votos tão eternos.

-- Não acredito, pois por tudo o que me contou ontem, com certeza seus pensamentos estão em outra pessoa.

A Calligari se arrependia de ter falado demais quando esteve embriagada.

-- Não pense que há algum tipo de sentimento, apenas cobrarei uma dıvida e acredite, meu bem, depois que essa dıvida for paga, pouco vai sobrar.

 -- Bem – Abraçou-lhe o pescoço. – Então devo aproveitar enquanto ainda está inteira.

Diana aceitou o beijo.

-- Vai me pintar? – Interrompeu o contato. – Quero presentear meu marido no seu aniversário.

A Calligari lhe circundou a cintura.

-- Não costumo fazer tais coisas, mas abrirei uma exceção para você.

-- Então assim que voltar da minha viagem de lua de mel irei ao seu encontro.

A morena lhe tocou os seios, acariciando as laterais.

-- Estarei esperando ansiosa por suas visitas.

Voltaram a se beijar e seguiram até o leito.

 

 

 

 

 

 

Vanessa despertou cedo.

O telefone não parou de tocar, primeiro o marido e ficara longos minutos com ele, Artur era dentista e sempre muito apaixonada por sua esposa.

Depois de vários minutos se despediu e fez a ligação para a secretária.

-- Bom dia, dona Vanessa!

A empresária se levantou e seguiu até a janela.

O sol já raiava poderoso.

-- Bom dia, Ester, conte-me as novidades! – Pediu entusiasmada.

-- Temos vários convites, fora a exposição no museu nacional.

-- Oba! – Bateu palmas. – Assim a Diana se ocupa!

-- Ah, também, desde ontem uma senhora está ligando para cá e parece desesperada.

Vanessa não pareceu se interessar de inı́cio e já mudava de pauta.

-- Mas e se ela ligar de novo? – Ester insistia. – A senhora Villa Real parece de...

-- Quem? – Interrompeu a jovem. – Villa Real?

-- Sim, Cláudia Villa Real.

A empresária sentou na poltrona.

-- O que essa mulher disse?

-- Ela falou que tem urgência em falar com a Alessandra, insistiu que eu passasse o número, parecia muito aflita.

Vanessa mordiscou o lábio inferior demoradamente.

O que aconteceu?

Deveria contar a Diana?

Uma semana se passara depois de tudo e só agora notava que a pintora parecia mais recuperada.

-- Ela deixou um némero.

Vanessa hesitou, mas acabou anotando o telefone.

Despediu-se da secretária e ficou a observar os algarismos.

O que essa famı́lia queria agora?

 

Teria acontecido alguma coisa com Aimê?

Ouviu passos e viu Diana aparecer na varanda.

Os cabelos estavam molhados e ela usava roupão preto.

Sentou na cadeira de frente para a amiga.

-- Onde está a Dinda? Vou levar as duas para almoçar comigo! – Pegou o copo de suco que estava sobre o centro.

Vanessa a encarou, observou o sorriso sarcástico brincar no canto dos lábios.

-- Você sabe que aquela mulher que passou a noite contigo é a noiva de um grande empresário musical, não é?

A morena pegou uma torrada e começou a comer lentamente.

-- Ah, sim, eu sei! Ela casa hoje, infelizmente não poderei comparecer ao casamento, mas saiba que quando ela retornar da lua de mel, irei pintá-la nua.

Vanessa arqueou a sobrancelha.

-- Desde quando pinta mulheres nuas?

-- Essa é especial, é um presente. – Levantou-se e seguiu para ver a rua.

O hotel ficava no centro da cidade.

A empresária observava o papel.

Decidiu que o melhor era falar, a Calligari decidiria o que fazer.

-- Diana... – Chamou-a relutante.

-- Fale! – Pediu sem se voltar.

Vanessa pigarreou.

-- Ainda pouco eu falei com a Ester...

-- Você fala com ela todos os dias. – Disse enquanto prestava atenção nos pedestres.

-- Sim, eu sei, mas hoje ela me falou algo... – Respirou fundo. – Ela disse que a senhora Cláudia Villa Real ligou várias vezes e disse que precisa falar urgente contigo. --- Falou como se tivesse narrando uma partida de futebol.

A filha de Alexander se voltou lentamente.

Os olhos estavam menores, ameaçadores.

-- O quê?

-- Ester falou que ela ligou várias vezes, disse que tem algo urgente para falar contigo. Pelo que soube, ela está muito aflita.

A morena sentiu uma inquietação dentro de si.

Temeu que algo tivesse acontecido com Aimê.

-- Deixou algum número?

-- Sim! – Vanessa se levantou, entregando a ela. – Aqui está.

Diana rapidamente seguiu até o quarto e pegou o telefone, discou o contato em frações de segundos.

Vanessa observava a testa franzida da pintora, sabia que ela estava preocupada.

 

 

 

 

Aimê atendia um cliente e Cláudia terminava um buquê quando o celular começou a tocar.

O número não era nacional.

Sentiu o coração bater acelerado.

Seria a filha de Alexander?

Já estava perdendo as esperanças de conseguir falar com ela.

Pediu para Bianca terminar o arranjo e foi para o jardim.

-- Alô!

-- O que aconteceu com Aimê?

Cláudia reconheceu a voz e se sentiu aliviada.

Há dois dias inventara uma desculpa para que a neta ficasse na casa de Bianca, pois temia que os bandidos invadissem o apartamento. Até mesmo falara como a polı́cia para ficarem de olho na floricultura, mesmo sem ter dito o real motivo.

Tentara conversar com Ricardo, mas o general estava irredutível, alegando que tudo estava sob controle.

-- Diana... Eu preciso que proteja a minha neta, estou disposta a contar toda a verdade, disposta a revelar tudo o que Otávio fez, sabe que tenho provas... porém eu imploro que salve Aimê.

-- Diga o que houve de uma vez! – Ordenou.

Cláudia observou pela porta, temendo que a neta ouvisse a conversa.

-- Os homens que a levaram ligaram para a minha casa... – Dizia baixinho – Foram eles que destruı́ram a floricultura... – A voz estava trêmula – Diana, o chefe do bando disse que quer Aimê e não irá sossegar enquanto não pegá-la.

Vanessa observava a expressão da pintora.

Observava o maxilar enrijecer.

-- E por que eu acreditaria em você? – A morena indagou no telefone. – Por que acreditaria, depois que ficou calada, enquanto seu marido destilava mentiras? – Apertava forte o aparelho. – E por que eu me importaria com o que farão com a sua amada netinha? Afinal, ela me acusou, prestou queixa contra mim!

A empresária sabia que Diana estava pronta para cobrar a dívida.

Ela não perdoaria!

Cláudia ouvia as palavras e sabia que daquela vez não seria fácil.

-- Eu imploro, sou capaz de tudo, de qualquer coisa, contarei a verdade para ela, mas me ajude. – As lágrimas de desespero já lhe banhava o rosto.

-- E o desgraçado do general? Ele está disposto a ajoelhar e pedir me ajuda?

-- Não, mas eu estou... Beijarei seus pés, qualquer coisa... Darei a minha vida se você desejar...

-- Vovó!

Cláudia ouviu a voz de Aimê, chamando-a.

Diana sentiu um arrepio ao ouvir o som doce e melodioso.

Por que depois de tudo ainda se sentia tocada por ela?

Por algumas horas se esqueceu da filha de Otávio nos braços da bela italiana, mas agora tudo parecia voltar com o triplo de força.

Apertou forte o parelho.

-- Hoje mesmo mandarei um carro e tirarei vocês em segurança daı́, mas eu quero o general junto... Se não for assim, não farei nada para ajudar a sua netinha... Até o fim da tarde eu quero uma resposta. – Encerrou a ligação.

Vanessa observava a expressão da major e sabia que o melhor a fazer era se manter calada.

Não sabia até que ponto Diana era uma ameaça maior para a jovem Villa Real do que os próprios aliados de Otávio.

A senhora Villa Real seguiu imediatamente para casa, sabia que não seria fácil convencer o marido.

Subiu correndo as escadas.

Estranhou a porta está aberto, mas ao adentrar o espaço sentiu palpitações no peito, tudo estava destruı́do.

Procurou o general em meio a toda bagunça e o encontrou caı́do.

Correu até ele, temendo o pior.

O rosto estava machucado.

Chamou-o e já se levantava para pedir ajuda quando Ricardo abriu os olhos.

-- Precisamos tirar Aimê da cidade... – Ele falou baixo e com muito esforço.

Cláudia pegou o celular que estava na bolsa e imediatamente ligou para Bianca.

-- Feche a loja e leve a minha nata para sua casa... – Falava rapidamente. – Explico depois.

A moça assentiu, pois percebia que a senhora Villa Real estava muito nervosa.

-- O que houve? – Cláudia conseguiu levantar o marido.

-- Eles estiveram aqui, querem Aimê, disseram que já tinham fechado o negócio e por minha culpa estavam sendo perseguidos.

-- Eu falei com a Diana, ela disse que ajudará e mandará um carro para nos buscar em segurança...

-- Não, eu não quero, vamos falar com o Alex...

-- Chega, Ricardo! – A mulher se afastou. – Chega do nosso egoı́smo, nossa neta corre sério perigo e só a Calligari tem poder para protegê-la.

-- Mas, como poderemos falar a verdade... – O militar parecia em desespero. – Meu Deus, ela nunca vai nos perdoar!

-- Eu prefiro não ser perdoada a ver a minha neta sendo levada por esses homens!

Ricardo fitou a mulher durante infinitos segundos e por fim fez um gesto de assentimento.

Cláudia não perdeu tempo e rapidamente ligou para a Calligari.

Precisou discar três vezes para que ela atendesse.

-- Já  está  tudo certo, mas eu queria que mandasse nos buscar o mais rápido possível.

Diana estava em seu quarto, tinha acabado de tomar banho quando ouviu a ligação.

-- Estejam prontos em vinte minutos! – Desligou.

Mandou a mensagem para o chefe da segurança que deixara cuidando de Aimê.

Retirou o roupão e voltou para a hidro.

Dessa vez Ricardo não a enrolaria, dessa vez ele revelaria toda a verdade.

Inclinou a cabeça para trás, olhava fixamente para o teto desenhado.

Depois de mais de dez anos toda a história suja seria exposta...

Respirou fundo!

Limparia a mancha que caiu sobre o sobrenome Calligari, devia isso ao pai que passara tanto desgosto e acabara tirando a própria vida.

Segurou forte na borda da banheira.

-- Malditos são todos os Villas Real e a dívida que tem comigo não será paga tão facilmente!

Lembrou-se de ter ouvido a voz de Aimê...

Sua raiva maior era por ela...

Odiava-a!

Não via a hora de vê-la e poder ver suas crenças cair no chão.

A musculatura do maxilar se retesou.

 

 

 

 

 

Aimê questionou inúmeras vezes o que se passava, mas nem Ricardo e Cláudia respondiam as dúvidas da menina.

Há horas estavam na estrada e nada lhe fora dito.

De soslaio, Cláudia observava a neta e percebia o quão preocupada a jovem estava, desejou lhe contar toda a verdade, mas fora outra condição da Diana: Tudo seria revelado na sua presença.

Sabia que a neta a odiaria, odiaria a todos, porém nada daquilo importava se ela estivesse salva, se aqueles bandidos não ousassem nunca mais se aproximar dela.

Observou o marido sentado no banco de frente.

Seu rosto estava cheio de hematomas, talvez tivesse fraturado as costelas, mas não passaram no hospital, pois aquilo não era mais importante do que deixar Aimê em segurança.

Olhou para trás e viu os três carros que os acompanhavam.

Achou estranho a rapidez que Diana resolvera tudo, mas também ficou muito feliz, pois quanto mais demorasse, mais arriscado seria.

Observou os grandes prédios.

Finalmente tinha chegado à grande metrópole.

Segurou a mão da neta.

Viu os olhos azuis lhe encararem.

-- Onde estamos? O que está acontecendo?

Cláudia a abraçou.

-- Você vai ficar sabendo daqui a pouco. – Sussurrou em seu ouvido. – Nunca esqueça de que te amamos muito e que se erramos, foi porque desejamos protegê-la de tudo e de todos.

Aimê já abria a boca para questionar, quando a porta foi aberta.

-- Chegamos, senhora, já estão a espera de vocês!

Já era noite e as luzes já enfeitavam a cidade.

-- Quem está a nossa espera? – A garota indagou cada vez mais curiosa. – Onde estamos?

Ricardo pediu licença, estendeu a mão e tomou delicadamente a da neta.

-- Vamos, filha, precisamos nos apressar.

Aimê pareceu ainda mais desconfiada, mas acabou indo com o general.

 

 

 

 

Diana tomara o avião e naquele momento já se encontrava na capital.

Não fazia ainda uma hora que tinha colocado os pés em solo nacional.

Estava sentada no sofá, tinha o notebook sobre o colo. Parecia concentrada.

Vanessa e Antônia ocupavam outros lugares na enorme sala.

Dinda desistira de conversar com a sobrinha. Na verdade, fora totalmente ignorada quando tentara um diálogo.

Sabia qual eram seus planos e achava muita crueldade de sua parte.

Vanessa nada disse, sabia que não teria como ter uma conversa ou contestar uma decisão da pintora, ela sempre se mostrava irredutível.

Ouviram a campainha e a empregada se apressou em abrir.

Diana nem mesmo levantou a cabeça quando ouviu os passos. Parecia envolvida em seu mundo, até ouvir os questionamentos ditos por aqueles lábios doces.

Levantou a cabeça e encarou os três.

Ao fitar os hematomas no rosto de Ricardo percebia que Crocodilo não estava para brincadeira, porém não sentiu nenhuma piedade do general.

Analisou Cláudia e percebeu como se mostrava apreensiva, seus olhos estavam vermelhos, decerto chorara bastante... Não se condoı́a pela dor dela, não mesmo.

Então seus olhos centraram-se na atual antagonista...

Mirou-a com desdém.

A herdeira de Otávio usava calça de moletom branca, camiseta na mesma cor e um casaco.

Os cabelos estavam presos na costumeira trança.

Parecia uma adolescente naquele momento.

-- Onde estamos, vovó? – A garota indagou novamente. – Diga-me de uma vez o que se passa.

A pintora esboçou o arrogante sorriso.

-- Nos reencontramos, Aimê, que honra a sua eu imagino!

Antônia fitou o pânico no rosto da jovem, viu como ela pareceu assustada ao ouvir a voz da Diana.

-- O que se passa? – Desvencilhou-se das mãos do avô. – O que essa mulher faz aqui?

A Calligari cruzou as pernas elegantemente, mesmo usando apenas um roupão.

-- Expliquem a ela! Digam a verdade, estou esperando por isso há muito tempo!

O general olhou para todos que estavam ali presentes.

-- Prefiro ter uma conversa em particular com a minha neta!

Com um gesto de mão ela dispensou os seguranças.

-- A sua conversa será agora e diante de todos... Ou retornarão para a casa e esperarão o amiguinho de vocês!

Cláudia fez um gesto de assentimento para o marido, segurando-lhe a mão.

-- Digam de uma vez o que está acontecendo e por que estamos na presença dessa mulher! – A jovem insistia.

Diana cerrou os olhos diante da arrogância de garota, mas nada fez, esperaria o momento para fazê-la engolir seu orgulho.

-- Te trouxemos aqui para protegê-la! – Cláudia iniciou.

-- Proteger-me? – Deus alguns passos para trás. – Como me protegeriam trazendo-me para perto dessa mulher que já fez tanto mal a toda nossa famı́lia?

A Calligari se levantou, seguindo até o ostentoso bar.

Pegou uma garrafa de champanhe, serviu uma taça, depois sentou na banqueta, observando tudo com atenção.

Ricardo fitou a filha de Alexander e ela fez um brinde em sua direção.

O general engoliu em seco.

-- Não, filha, tudo é uma farsa que já dura mais de dez anos!

Cláudia apoiou a mão nos ombros da neta, mas Aimê se desvencilhou.

-- O que significa isso? Que farsa? Eu exijo que falem de uma vez o que está acontecendo. – Passou a mão pelos cabelos. – Faz poucos dias que me revelaram o que essa mulher fez... Agora simplesmente me arrastam em uma viagem durante horas e me trazem para ela? Expliquem de uma vez o que se passa! – Exigiu.

A major bebericava lentamente.

Parecia degustar da bebida, enquanto observava tudo como se fosse o filme mais esperado do ano.

Notou como os olhos azuis estavam escurecidos, via como ela já perdia o controle.

-- Mentimos para você! – Cláudia dizia entre lágrimas. – Mentimos para todos, fizemos isso pensando que era o melhor.

Antônia fitou Aimê e se apiedou da menina.

-- Do que estão falando? – Passou a mão pelos cabelos. – Por Deus, em que mentiram... Do que falam...

A pele branca já estava corada.

Todos ficaram em silêncio por longos segundos, apenas o tamborilar dos dedos da filha de Alexander sobre a madeira podia ser ouvido.

-- Mentiram para todos? Como?

Ricardo fitou Diana e no seu olhar implorava para que ela não levasse aquilo à frente.

A morena encheu o copo mais uma vez e fez um gesto para que ele prosseguisse.

-- Eu não posso! – O general dizia em desespero. – Eu não posso!

Cláudia também pareceu implorar a Diana por misericórdia.

-- Contem de uma vez! – A Calligari ordenou insensível. – Não ordenarei de novo. – Bebeu o lı́quido todo. – Acabem logo com essa trama mexicana!

-- E quem é você para ordenar algo aos meus avós? – Aimê vociferou. – Pensa que é quem? Tenho certeza de que tudo aqui não passa de uma armação sua... Uma forma sádica de destruir a minha famı́lia!

Diana a fitou e era percebível a sua raiva controlada sob um sorriso sarcástico.

A Calligari aliviou a pressão sobre a taça de cristal. Temeu quebrá-la.

Fitou o relógio em seu pulso.

Observava os ponteiros com um interesse improvável.

-- Vocês têm dez minutos para acabarem com essa choradeira... Minha paciência já está no limite! – Falou por entre os dentes. – estou cansada e não passarei à noite aqui ouvindo os dramas de vocês!

O general assentiu, sabia que não teria mais nada para fazer.

Conhecia a filha de Alexander e ela não recuaria, sabia que ela esperara por aquilo durante muito tempo.

Olhava-a e percebia como tinha se tornado cruel, enrijecida depois de tudo o que viveu.

Fitou a neta mais uma vez.

Morreria se algo acontecesse a ela, daria sua vida para protege-la.

-- Tudo o que eu falei não passa de mentiras... – sentou-se. – Otávio fez tudo errado a vida toda...

Todos pareceram prender a respiração, menos a pintora que exibia um ar vitorioso.

-- Como assim? – Aimê questionou baixinho. – Por que fala isso do meu pai?

-- A Diana fora vı́tima da obsessão dele... tudo o que ela falara é a mais pura e cruel verdade...

Cláudia fitou a neta e viu como seu semblante estava carregado de dor e decepção.

Fez um gesto para o marido continuasse, não teria como parar naquele momento.

Ricardo começou a narrar todas as atrocidades do filho.

Fê-lo do inı́cio.

Deixava claro o que se passou não só com a Diana, mas também com o envolvimento do coronel com traficantes, de sua má conduta e de como maquiava todos os erros do filho.

Vanessa fitava a pintora e via o rosto inflexível não demonstrar nenhum sentimento.

Sua atenção voltou para Aimê Villa Real.

Se havia dor maior, naquele momento desconhecia.

Os olhos azuis choravam... Meneava a cabeça diante de cada uma das bárbaras revelações.

A pele branca estava rosada...

Antônia olhou para a sobrinha e fez um gesto implorando para que ela acabasse com aquilo, mas a Calligari ignorava.

Diana ouvia tudo e era como se vivesse cada um daqueles momentos novamente...

Como se visse o olhar odioso a lhe perseguir...

Desejou que seu pai estivesse ali... Não descansaria enquanto todos não soubessem a verdade sobre Otávio Villa Real.

-- Não... – Aimê cobria as orelhas. – é mentira... É mentira...

A major a fitou e sentiu uma pontada no peito, mas bebeu mais para sufocar a piedade, pois ela não merecia, nenhum deles merecia sua pena.

Cláudia se aproximou, mas a neta ao ouvir sua voz a empurrou.

-- Filha, apenas desejamos te proteger e se estamos revelando tudo isso é porque sua vida está em perigo. – Cláudia falava em lágrimas. – Espero que um dia possa nos perdoar por isso.

Antônia se aproximou.

-- Querida... – Abraçou a menina. – Venha comigo.

Aimê reconheceu a voz de Antônia e se deixou conduzir.

Sua mente ainda não processara tudo o que ouviu e naquele momento só desejava ficar sozinha...

-- Não, ainda não! – Diana impediu-a, deixando o lugar onde estivera durante toda a narrativa.

Todos os olhares se voltaram para a major.

Ela caminhava com a cabeça erguida, seu rosto não demonstrava nenhum sentimento, apenas frieza total.

-- Como seus queridos avós falaram, Crocodilo quer você – Sorriu – Você não imagina como o belo rosto do seu avô está desfigurado depois da visitinha do amiguinho do seu pai.

Aimê ouviu-a.

Ainda martelava em sua mente todas as crueldades que seu pai fizera...

Ainda chorava por ela, ainda chorava quando imaginava como Diana sofrera com tudo o que seu pai fez.

Não sabia o que falar, não sabia o que dizer... Fora uma das que a condenara, fora uma das que não acreditara quando ela falara a verdade...

Mordiscou o lábio inferior, sentiu o sabor salgado das lágrimas.

A Calligari contara tudo e mesmo assim duvidara...

O que faria?

Abria a boca para pedir desculpas, mas foi interpelada.

-- Sabe que se não for por minha ajuda, você e seus queridos avós serão trucidados pelo habilidoso Crocodilo...

Sim, a jovem sabia e mesmo que estivesse muito triste por saber que mentiram durante tantos anos, temia que mais alguma coisa fosse feito contra eles, ainda mais depois que soube o que se passara com Ricardo.

-- Se estamos aqui é porque ofereceu sua ajuda e mesmo que saibamos que não merecemos, sou muito grata por isso... – Disse em um fio de voz.

Diana a observava.

Fitou-lhe os olhos, observou as bochechas coradas, os lábios trêmulos...

-- Sim, não merecem e eu ofereci ajuda para que viessem até aqui... – Parou diante da garota. – Mas se deseja que eu os ajude, protegendo suas miseráveis vidas... Ajoelhe-se e implore por isso... Implore por minha ajuda, filha do coronel Otávio Villa Real.


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