A dama selvagem - Capítulo 16
A sala de espera do hospital estava
cheia.
Crianças choravam, idosos esperavam para
serem atendidos, mesmo assim se distraiam, enquanto conversavam.
Na recepção, os médicos e enfermeiros
pareciam ignorar os presentes em sua correria diária.
O telefone sempre estava a tocar e duas
jovens tentavam dar conta de tudo.
Dois guardas que pareciam mais
preocupados em conversar entre si guardavam a entrada do centro de saúde.
Vez e outra se ouviam os sons dos carros
e motocicletas ao passarem na rua.
A sirene da ambulância ainda podia ser
ouvida na pequena cidade indo ao resgate de Ricardo Villa Real.
Aimê, Cláudia e Bianca estavam sentadas
e aguardavam por notı́cias.
As mulheres estavam aflitas, pois ainda
não receberam nenhum prognóstico.
A filha de Otávio se mantinha calada,
apenas pensando no que se passara há algumas horas.
Ainda sentia a agonia do seu avô em
seus braços... Seu desespero sem poder falar o que se passava até cair
desfalecido...
Diana causara tudo aquilo...
Respirou fundo ao pensar que não fazia
tanto tempo que quase se entregara a ela...
Seu corpo ainda tinha o cheiro daquela
mulher que parecia trazer apenas destruição por onde passava.
Limpou os lábios com as costas da mão,
inutilmente tentava se livrar do toque que recebera...
Fechou os olhos tentando recobrar a
calma.
Maldita seja a Calligari!
A voz da sobrinha do prefeito a tirou de
seus devaneios.
-- Vou buscar um chá para a agente! –
Bianca se levantou indo até a cafeteria.
Cláudia observava a neta e desejava
adivinhar o que se passava por sua mente depois de tudo o que aconteceu.
Não achava que contar tantas mentiras
seria uma boa ideia, percebia que Aimê não estava bem, conseguia decifrar a
dor naquele semblante bonito.
Percebia como a presença de Diana a
perturbava.
Desde que a neta retornara nunca falaram
sobre os dias que passara na selva, a menina sempre desconversava, porém a
matriarca sabia que havia se passado uma mudança na jovem.
Segurou-lhe as mãos.
-- Tudo vai se resolver, meu amor!
A garota nada disse por longo tempo,
até que levantou a cabeça.
Os olhos azuis estavam mais escuros...
Nunca viu a neta com tanta raiva de
alguém. Não fazia parte da personalidade da sua doce menina...
O remorso tocou-a fundo naquele momento.
-- A Diana fora responsável pela morte
do meu pai e agora também deseja fazer o mesmo com o meu avô...
A senhora Villa Real encarou os olhos
tão lindos e viu como estavam angustiados.
-- Não pense assim, Ricardo é forte,
vai ficar bem... – Deu uma longa pausa – A Diana não pode ser responsabilizada
por tudo de ruim que aconteceu a nós... – Falou baixinho. – Há dias seu avô
estava se queixando de mal estar, mas é teimoso e não quis consultar um
especialista.
A garota mordiscou o lábio inferior
demoradamente, ponderava...
-- E o meu pai? Ela não é a
responsável pela morte dele? Por que essa mulher não foi punida? – Passou a
mão pelos cabelos que ainda estavam úmidos. – Por que vocês pediram logo a
ela para me salvar daqueles bandidos? Eu não consigo entender como puderam recorrer
a alguém que fez tanto mal a todos.
Aimê pensava que se aquele encontro
não tivesse ocorrido, nada daquilo estaria acontecendo consigo.
Cláudia suspirou.
As palavras queimavam em sua garganta, a
vontade de contar a verdade se tornava maior, pois mesmo que não gostasse da
arrogância da Diana, sabia bem que ela fora uma vı́tima daquela história.
Sofrera muito quando Otávio fora
assassinado, mas também sua dor ainda foi maior ao saber de todas as coisas
runs que ele tinha feito...
Lembrava-se bem de quando a filha de
Alexander veio se queixar das investidas do filho.
Tentara falar com ele, ainda mais porque
a bela morena ainda era uma menina quando o assédio começou, porém Otávio
não ouvia ninguém, se portava da forma que desejava, pouco se importando para
os outros.
Quantas vezes perdera o sono ao pensar
onde tinha errado na educação do único filho...
A voz da neta interrompeu seus
pensamentos.
-- Vovó, a Diana é muito bonita não
é? – Indagou curiosa.
Cláudia assentiu.
-- Sim, filha, ela sempre fora uma jovem
muito linda e depois que se tornou mulher isso ficou ainda mais evidente.
Aimê não admitia, mas sofria quando a
imaginava nos braços de Otávio.
-- Por isso meu pai a amou tanto... –
Exibiu um sorriso triste. – Ela usou isso para fazer o que queria...Ela usa a
sedução para manipular as pessoas...
Não, com o passar dos anos, Cláudia
percebeu que ele não tinha amor pela Calligari, aquilo era apenas uma
obsessão doentia que destruı́ra muitas vidas.
Acariciou os cabelos da neta.
-- Não quero que guarde tanto rancor em
seu peito... Você não é assim, é a melhor da nossa famı́lia e deve
continuar sendo.
Aimê engoliu em seco.
-- Sabe, vó, quando estava na tribo eu
odiei a Diana... Não entendia as grosserias dela, a arrogância e a crueldade
– Cerrou os dentes-- Mas não era nada comparado ao ódio que eu sinto agora ao
saber de tudo o que ela fez...
Uma lágrima saiu do olho esquerdo de
Cláudia.
Não podia contar a verdade, pois não
sabia como seria a reação da menina, porém ao ouvir aquelas palavras duras,
percebia quanto mal ela e Ricardo estavam fazendo.
-- Como um ser humano pode se negar a
ajudar a outro diante de um acidente como aquele? Ela não tem coração, é um
monstro... Devo a ela minha cegueira...
-- Aimê... Filha, esqueça essa
história, já faz tanto tempo...
O rosto da filha de Otávio trazia
espanto, mas antes que pudesse falar algo, um médico se aproximou.
Cláudia se levantou.
O homem tinha boa aparência, cerca de
cinquenta anos.
-- E então, doutor, como está meu
marido?
Aimê a imitou.
-- Bem, foi um principio de enfarto, mas
tudo já normalizou. Agora ele precisa descansar e aconselho que vocês também
façam o mesmo, ele foi sedado e passará a noite em observação.
-- Podemos vê-lo? – Aimê indagou
esperançosa.
-- Não hoje, mas amanhã sim. –
Estendeu a mão para Cláudia. – boa noite, senhora! – Depois fez o mesmo com a
mais jovem. – Tudo vai ficar bem. – Afastou-se.
A senhora Villa Real parece aliviada,
pois sabia que se o marido morresse a neta culparia a herdeira dos Calligaris.
Vanessa observava Diana sentada na mesa
do pequeno quarto.
Há horas que ela chegara e permanecera
ali, calada, bebendo uma garrafa de cachaça.
Onde ela conseguira aquela bebida?
Nunca a viu daquele jeito.
Nunca a viu beber algo tão forte!
Várias vezes tentou lhe falar, mas a
pintora parecia em outro mundo, perdida em seus pensamentos.
Puxou uma cadeira, sentando ao seu lado.
Observou a garrafa que estava quase
vazia. Viu o caderno de desenhos sobre a mesa.
Tentou pegá-lo, mas a morena a deteve.
Ela ainda continuava com as roupas
molhadas que chegara.
-- Di, por que não toma um banho e
descansa, amanhã voltamos para a capital.
Os olhos negros se voltaram para a
empresária.
Eles estavam menores, mais ameaçadores
do que de costume.
Esboçou um sorriso.
-- Você deveria ter ido embora... Não
deveria ter ficado... – Falava com a voz arrastada. – Eu quero apenas ficar
sozinha... – Jogou o copo contra a parede e começou a beber no gargalho. –
Quero outra garrafa! – Levantou-se cambaleando. – Cadê as chaves do carro...
Vanessa se antecipou para que a artista
não fosse ao chão.
-- Deus, você não aguenta nem andar,
imagina dirigir... precisa descansar... Um banho para curar esse porre!
-- Não! – Protestou, livrando-se da
mulher. – Eu preciso de mais...—Apontou-lhe o indicador. – Você não entende o
que estou sentindo – Falava por entre os dentes-- não entende... Ninguém
entende o que estou passando... – Deu alguns passos para trás. – Ela acreditou
em tudo o que o maldito Ricardo falou... – Sorriu – Claro que ela acreditou,
afinal, o mundo todo acreditou nessas mentiras por que seria diferente com a
mimadinha...
Vanessa se aproximou novamente,
segurando-a firme, pois temia que ela caı́sse sobre os cacos de vidro.
-- Venha comigo, você precisa
descansar...
Conseguiu levá-la até a cama e fê-la
sentar.
Fitou-lhe o rosto bronzeado.
Arrumou os cabelos negros em desalinho.
-- Querida, eu e a Dinda sabemos que
você é inocente, sabemos como aquele homem fora cruel... Até mesmo o Ricardo
sabe disso...
Diana a encarou.
-- Por que tudo isso aconteceu comigo? O
que eu fiz para merecer?
A empresária sentiu o coração aflito
ao ver as lágrimas que banhava a face da princesa.
-- Eu acho que fui amaldiçoada por ser
filha de uma ı́ndia... Só pode ser isso... Deve ser porque sou canibal...
Vanessa a abraçou.
-- Você não é isso, apenas passara
por coisas difı́ceis e fora vı́tima de pessoas muito más.
A Calligari afastou o rosto para encarar
a mulher novamente.
-- Eu estava disposta a ajudar... estava
disposta a fazer tudo para que Aimê voltasse a enxergar porque me senti
culpada... – Suas palavras foram interrompidas por um soluço. – Mas agora não,
agora eu vou destruı́-la também, vou odiá-la também e ela vai se arrepender
por ter cruzado meu caminho... É um monstro que ela pensa que sou, então não
vou decepcionar as projeções que ela tem...
Vanessa voltou a abraçá-la.
Sabia que o que estava doendo naquele
momento era o fato da Villa Real não ter acreditado nela...
Diana tinha se apaixonado pela filha do
homem que mais odiava e a empresária entendia que ela não lidaria nada bem
com isso.
Consolou-a e em pouco tempo conseguiu
fazê-la deitar no leito.
A bebida até que fez efeito.
Tirou-lhe as botas, depois a calça e a
camiseta.
A Calligari deitou de bruços e Vanessa
mais uma vez se deparou com as cicatrizes em suas costas.
Diana fora açoitada cruelmente por
Otávio durante horas e no final de tudo, ele fora o herói de todos.
Aquela famı́lia realmente não merecia o
perdão da pintora.
Caminhou até a mesa e viu o caderno,
folheou e observou a imagem da jovem que estava na festa beneficente do
prefeito.
Os detalhes estavam tão vivos...
Era como se Diana tivesse desejado
prender a alma da garota naquele desenho...
Respirou fundo!
Precisava arrumar acompanhantes novas
para a Calligari!
Pensaria em algumas da agenda pessoal,
assim, ajudaria-a a se manter ocupada e não correr atrás da filha do antigo
inimigo.
Se Dinda soubesse disso, seria capaz de
ter um ataque, ela mesma estava quase tendo um ataque ao imaginar um tipo de combinação
daquelas.
Aimê e Cláudia passaram toda a noite
no hospital.
Bianca ficara com elas até a madrugada
e depois foi para casa.
Alex também apareceu e não perdeu
tempo em se colocar a total disposição dos Villas Real.
Já era quase sete horas quando receberam
a visita de dois policiais.
Estavam tomando café na cafeteria
quando os homens apareceram.
Aimê não conseguira descansar,
negando-se a deixar o hospital, mesmo sabendo que não poderia ver o avô.
Cláudia observou a expressão cansada
da neta e se condoeu mais uma vez.
Ambas estavam presas em seus pensamentos
quando a voz do agente da lei as interrompeu.
-- Bom dia! – Cumprimentou-as. – Sei que
estão passando por um momento difı́cil, mas precisamos avisar que a
floricultura foi alvo de vândalos durante a madrugada e muitos danos
ocorreram.
Aimê se levantou, sua expressão
denotava total surpresa e pesar.
-- Como assim? Isso nunca tinha
acontecido antes.
-- As vidraças foram destruı́das e
muitos vasos foram jogados ao chão... Infelizmente o prejuı́zo não foi
pequeno. – Disse cheio de consternação.
Cláudia se postou ao lado da neta,
colocou a mão no seu ombro, tentando acalmá-la.
-- Estamos aqui para que alguém nos
acompanhe até a delegacia e preste queixa... Não temos pistas, estamos
investigando, mas seria bom se vocês pudessem lembrar se alguém teria algum
interesse em fazer algo assim contra vocês!
Cláudia se adiantou.
-- Não, com certeza não... Vivemos em
paz, decerto algum arruaceiro...
Aimê interrompeu a avó.
-- Claro que sim, há alguém que teria
um grande prazer em nos atingir, ontem mesmo nos ameaçou em nossa casa.
-- Filha! – A mulher a chamou em tom de
advertência.
Conseguia ler em seu olhar quem ela
estava prestes a acusar e tinha certeza de não se tratar da filha de Alexander
fazer algo daquele tipo.
Os policiais pareceram interessados nas
palavras.
-- Pois diga, então, senhorita. – Tirou
o pequeno caderno. – Quem teria a intenção de prejudicá-las?
A filha de Otávio pareceu pensar por
algum tempo, mas ao dizer o nome sua voz foi audível e clara.
-- Diana Calligari!
-- Aimê! – Cláudia voltou a repreendê-la.
– Não deve acusá-la.
A garota não parecia se importar.
-- Ela está hospedada no hotel
Floresta, ontem esteve no nosso apartamento e deixou bem claro a vontade de nos
prejudicar!
A esposa do general nem sabia o que
dizer.
Um dos policiais anotava tudo.
-- Quem nos acompanhará? Terá que
deixar claro suas acusações. – Encarou-as. – Pedirei uma intimação agora
mesmo para que essa pessoa compareça também.
-- Eu! – Aimê se prontificou. – Irei
com vocês!
Naquele momento Bianca se aproximou
esbaforida.
-- Vocês não sabem o que aconteceu! –
Dizia sem fôlego.
-- Já sabemos, vamos à delegacia! – A
filha de Otávio a cortou.
Cláudia observou-os se afastar e ficou
a pensar que essas acusações contra Diana eram infundadas.
Conhecia a herdeira de Alexander e sabia
que ela não era covarde, era muito arrogante para fazer aquele tipo de coisa.
Era tão honrada quanto o pai e gostava de ostentar isso para todos.
Recordava-se disso quando ela era uma
adolescente ou quando estava no exército. Seu marido sempre elogiava o caráter
da Calligari.
Soltou um longo suspiro.
Aimê não sabia com quem estava lidando
ainda, desafiava uma mulher de força sem igual e temia que a dama da sociedade
com sangue de índia não suportasse a pressão e prejudicasse a garota.
Tudo estava se complicando cada vez
mais.
Aimê prestava depoimento, dizendo os
motivos de achar que Diana era culpada pelo atentado.
O delgado pareceu surpreso com a
acusação, mas precisou cumprir seu trabalho.
Ele sabia como a pintora que comparecera
a festa do prefeito era uma mulher importante e não desejava arrumar problemas
para si, porém se havia evidências, precisaria iniciar o inquérito ou teria
problemas sérios.
Até tentou dissuadir a neta de Ricardo
de formalizar a denúncia, mas suas tentativas foram inúteis.
Sem outra opção, uma intimação fora
enviada para o hotel, porém em particular ele pediu para que os policiais
checassem de imediato os álibis da artista, assim logo a dispensaria.
Não demorou muito para que a Calligari
chegasse à delegacia. Teria mais tempo para fazê-lo, porém ao saber da
acusação, tomou banho, vestindo-se a partindo para o lugar.
Vanessa a acompanhava.
Ambas já se arrumavam para deixar o
lugar quando foram interpelados por policiais.
A major não parecia nada feliz com
aquilo, ainda mais porque não falaram sobre o que de errado tinha feito.
Por frações de segundos lembrou-se de
quando fora levada ao quartel por acusações mentirosas.
Respirou fundo!
Sentaram na recepção esperando para
serem atendidas.
A empresária observou a pintora de
soslaio.
A aparência dela não estava tão ruim
depois de ter acordado com ressaca.
Sorriu ao se lembrar de como ela se
queixara de enjoo e dores de cabeça, mas também, o lı́quido ingerido fora tão
forte que os aposentos ainda tinham o cheiro do etílico.
Observou a forma elegante que se
portava.
Uma dama da alta sociedade!
Mirou os trajes.
Usava calça social preta, blusa azul de
botões com alguns abertos e o terninho elegante.
Observou o rosto bonito demonstrar
arrogância.
Diana se levantou e foi até a mesa de
recepcionista.
-- Não tenho o dia todo, querida,
então o que quer que seja que estejam me acusando, peça para que agilizem!
Vanessa foi até a amiga.
A moça ruiva encarava a artista meio que
amedrontada e pareceu ficar grata quando vieram chamar a Calligari.
A empresária já seguia com ela quando
o policial a impediu.
-- Será que devo chamar um advogado? –
Vanessa questionou a filha de Alexander.
-- Se precisas eu mesma me defenderei,
afinal, não estudei cinco anos para precisar que outros façam isso por mim. –
Falou cheia de prepotência.
Vanessa nada disse, apenas decidiu
esperar.
Não imaginava o que Diana tinha feito,
a menos que naquela cidade pequena ser cheia de orgulho e arrogância fosse
crime.
Suspirou enquanto sentava e esperava.
O delgado esperava pacientemente a
chegada da pintora.
Não tinha pensando em uma acareação, mas
a neta do general insistia para estar presente, então se a outra não se
manifestasse de forma contrária, não haveria problemas, poderiam até se
resolver ali mesmo
Aimê decidiu ficar na sala e Bianca
estava ao seu lado. Não tinha medo dela e deixaria isso bem claro.
Não demorou muito para a Villa Real
sentir o cheiro marcante e o olhar forte sobre si.
Por que a sentia daquele jeito?
Mexeu-se na cadeira desconfortavelmente.
O homem se levantou para cumprimentar a
Calligari.
Ele se mostrou encantado pela bela
mulher.
O olhar de Diana caiu sobre Aimê cheio
de desdém.
Reconheceu a jovem que estava com ela no
dia da festa.
-- Perdoe-me o incomodo, mas tenho
algumas perguntas para lhe fazer! – Estendeu a mão. – Sou o delegado Rodrigo
Garcia!
A morena ignorou o gesto.
O homem era jovem e demonstrava total
apresso pela semi-ı́ndia.
Havia três cadeiras diante da mesa do
delegado.
Bianca ocupava a da ponta, Aimê a do
meio e Diana se acomodou na outra.
A filha de Alexander exibia total
descaso com o que poderia está acontecendo ali, mas não podia negar que
estava curiosa. Então havia uma denúncia contra si, uma denúncia da ilustre
família como já acontecera antes.
-- As senhoritas Villa Real e Alvarenga
pediram para ficar presente no momento do seu depoimento, mas se sentir
constrangida, mandarei que saiam. – Falou prestativo. – Nessa cidade tentamos
resolver tudo na calma. – Tentava se justificar. – Acredito que possamos nos
entender.
Diana encarou as duas garotas e deu de
ombros.
-- Não me importo com a presença delas!
– Cruzou as pernas longas. – Gostaria que me falasse logo o motivo de ter
exigido minha presença aqui, pois se isso demorar, me atrasarei para tomar o
avião, tenho exposição em Roma.
-- Claro, imagino que uma mulher como a
senhorita deve ser muito ocupada. Eu vi seu quadro, achei perfeito...
Aimê sabia que aquele homem estava
flertando com Diana e aquilo a incomodou bastante.
-- Por que o senhor não fala logo o
motivo dela estar aqui, já estou sem paciência para isso!
Um sorriso debochado brincou nos lábios
da Calligari.
Rodrigo pigarreou.
-- Bem, senhorita, estamos aqui porque
foi lhe feita uma acusação!
A pintora continuava com a expressão
imbatível.
-- Continue!
-- Bem, gostaria de saber onde esteve
ontem?
A herdeira de Alexander encarou Aimê e
depois Bianca. A loira parecia assustada.
-- Depende do horário... – Usou um tom
baixo e mais carregado. – Porque se foi no inı́cio da tarde, eu estava com a
senhorita Villa Real... Estou errada, querida?
A neta de Ricardo sentiu as faces
pegarem fogo.
Sentia o olhar provocador sobre si. Não
conseguia vê-la, mas conseguia imaginar a expressão da pintora, como se fosse
palpável suficiente para isso.
Pigarreou.
-- Não estamos falando desse horário,
mas na madrugada! – Recuperou-se, demonstrando altivez.
Rodrigo sorriu maravilhado.
-- Sim, é nesse horário mesmo que tudo
aconteceu, na madrugada! – Fitou os olhos negros. -- Vi seu quadro na festa do
prefeito, realmente é encantador, é muito talentosa!
Aimê pareceu chateada, pois o homem
não parecia interessado em resolver os problemas e sim em se desmanchar em
elogios para a morena.
-- O senhor não acha que precisa de um
babador? – A neta de Ricardo indagou cheia de irritação. – A minha loja fora
destruı́da, essa mulher ameaçou a minha famı́lia e ainda preciso ser obrigada
ao ouvir seus galanteios? – Levantou-se. – Não ficarei aqui me prestando a
isso!
O delegado ficou vermelho diante das
acusações.
Bianca pareceu desconhecer a amiga,
levantando-se sussurrou algo no ouvido da jovem e ela voltou a se acomodar.
Diana encarava Aimê, via a raiva
destorcer seu rosto bonito.
Não entendeu bem o que aconteceu, mas
sabia que estava sendo acusada do ato.
Não demorou muito para ouvirem batidas na
porta.
Um policial adentrou.
-- Viemos do hotel. Tivemos acesso às
imagens e a senhorita Calligari chegou antes do anoitecer e não deixou o
local. – Colocou o pen drive sobre a mesa.
O delegado dispensou o agente.
-- Bem, acho que com isso as acusações
contra Diana não tem nenhum peso. – Voltou seu olhar para a pintora. –
Perdoe-me o incomodo! Ao saber que se tratava da senhora, fui ágil na
investigação, realmente não acreditei que pudesse fazer algo assim!
Aimê permanecia calada. Ainda parecia
confusa.
A Calligari encarou a filha de Otávio
por longos segundos!
-- Mas o que houve? – Indagou. – Pelo
menos gostaria de saber qual a acusação que fizeram contra mim.
-- A floricultura fora depredada. – O
delegado explicava. – Infelizmente houve muitos danos e ainda não sabemos quem
causou isso.
Mais uma vez a Calligari encarou Aimê.
Os olhos negros se estreitaram cheio de
fúrias.
-- Realmente quem sai aos seus não
degenera! – Levantou-se. – Espero que consiga resolver seu problema. – Já se
dirigia para a porta quando se voltou. – Quando eu for fazer algo contra a sua
famı́lia, farei questão que saiba que fui eu. Qual prazer eu teria se você
não soubesse que eu quem causei a catástrofe? Mas, acredite, eu não costumo
destruir floriculturazinhas... Meus danos são maiores!
A Villa Real sentiu o olhar de ódio,
mas ficou quieta, sentindo-a deixar a sala.
Sim, sabia que ela agiria assim.
Diana era muito orgulhosa e arrogante para
fazer as coisas escondido.
Mas se não foi ela, quem causara tudo
aquilo?
Ainda sentia o coração pulsar mais rápido
pela presença da pintora...
Então naquele mesmo dia ela iria embora
para longe...
A voz da sobrinha do prefeito a tirou
dos seus devaneios.
-- E o que será feito agora? – Bianca
indagou. – Tivemos um prejuı́zo enorme e precisamos descobrir quem fez isso.
-- Continuaremos com as investigações.
– Levantou-se. – Iremos checar pessoas que moram por perto e ver se viram
algo... Apenas tomem cuidado com os suspeitos que trazem a minha delegacia! –
Advertiu-as.
-- E o senhor realmente se empenhe e
não fique flertando com os acusados!
Bianca ficou ainda mais branca ao ouvir
as palavras de Aimê e antes que o delegado mandasse trancá-la , tomou-lhe a
mão e saı́ram rapidamente do recinto.
Seguiam pelo corredor.
Não era um lugar grande.
Uma pequena casa eu fora transformada em
delegacia.
-- A pintora só faltou te comer com os
olhos...— Bianca sussurrava no ouvido da amiga, enquanto deixava a sala. – Não
acredito que ela é Diana Calligari. – Suspirou alto. – Ela não parava de
olhar para ti, caramba, ela tem uns olhos tão penetrantes. Aimê, como pôde
falar aquilo para o delegado?
A jovem nos últimos dias estava se
desconhecendo, ainda mais quando se tratava da major.
-- Mas é a verdade, ele passou todo o
tempo jogando charme barato para ela. – Dizia irritada.
Estava com ciúmes!
-- Bem, ela é uma mulher muito bonita,
acho que qualquer homem faria o mesmo!
A Villa Real estancou e seu rosto
parecia aborrecido.
-- Não me importo com a beleza dessa...
dessa... – respirou fundo. -- Estou preocupada com a loja! Quem pode ter feito
algo assim?
Já estavam na saı́da, quando pararam na
calçada.
-- Por que você acusou a Diana? Por que
achou que ela faria isso? Tem mais alguma coisa nessa história?
-- Mais eu já disse, ontem ela ameaçou
a minha famı́lia... – Disse pausadamente.
Bianca ficou de boca aberta ao ver a
Calligari se aproximar delas.
Diana caminhava lentamente. A cabeça
erguida, o olhar duro, demonstrando sua fúria.
A filha do prefeito nem mesmo teve tempo
de avisar a Villa Real.
-- Quero falar contigo! – A voz firme
exigia. – Temos que conversar.
A Alvarenga pareceu assustada.
-- Não tenho nada para dizer! – Aimê
respondeu levantando o queixo. – Na verdade, exijo que não se aproxime de
mim... Será que precisarei de ordem de restrição?
Diana estreitou os olhos.
-- Saia, deixe-me a sós com a sua
amiguinha! – Ordenou à Bianca.
A filha de Otávio respirou fundo,
enquanto a loira se afastava.
A rua não estava vazia, algumas pessoas
passavam por ali.
Diana segurou o braço de Aimê, levando-a
até a lateral do prédio, soltando-a assim rapidamente.
O estreito beco tinha a atmosfera
pesada.
-- Como pôde me acusar de ter
destruı́do sua floricultura? – Passou a mão pelos cabelos. – Não acredito que
prestou uma queixa contra mim!
A jovem não sabia o que dizer.
Seu cérebro estava confuso, havia tanta
coisa. Tinha a impressão que não pensava claramente.
-- Depois do que fez, eu não duvidaria
da sua maldade! – Falou tentando manter a calma.
A morena observou os lábios rosados, a
pele branca e sedosa.
Lembrou-se da tarde anterior.
-- Você não sabe o que está dizendo!
É uma idiota que acredita em tudo o que Ricardo fala.
-- Não ouse falar do meu avô! – Disse
por entre os dentes. – Por sua causa ele quase enfartou ontem.
A pintora colocou as mãos nos bolsos,
depois olhou para o céu.
Estava nublado, o sol mal aparecia.
Ficou de frente para a Aimê, sentia a
respiração dela em seu rosto.
-- Pena que ele não foi pro inferno
igual ao seu pai!
Diana foi rápida ao segurar a mão que
tentou agredi-la. Mantendo-a presa, apertando-a forte, pressionou-a contra a
parede.
Sabia que ela faria aquilo. Conseguia
prever sua reação.
Mirou os olhos azuis!
-- Não ouse nunca mais levantar essa
mão para mim porque eu sou capaz de quebrá-la. – Soltou-a.
Aimê começou a massagear onde ela tinha
apertado.
-- Eu não tenho medo de você! –
Aprumou os ombros. – Na verdade, tenho pena e nojo de você. – Falou mais alto.
– Agora que sei tudo o que fez, penso como pude chegar a ter algum tipo de
simpatia por sua pessoa.
Diana respirou fundo, enquanto observava
algumas pessoas olhando-as curiosas, mas rapidamente se afastaram ao notar a expressão
ameaçadora da pintora.
Tentava manter o tom de voz baixo o que
a outra não parecia se importar.
-- Não acredito nas suas palavras,
afinal, você não demonstrou asco quando eu te beijei, quando te toquei ou
quando te fiz gozar bem gostoso. – Provocou-a.
O rosto de Aimê ficou corado.
A respiração estava acelerada, os seios
sob a blusa levantavam em um ritmo rápido.
Colocou a madeixa rebelde por trás da
orelha.
-- Você não passa de uma safada, uma
desavergonhada! – Acusou-a. – Não tem respeito pelos outros!
-- E você é o quê? – Provocou-a. –
Uma puritana que fez votos? – Arqueou a sobrancelha em desdém.
Aimê tentou se afastar, mas Diana a
deteve.
-- Solte-me, deixe-me em paz, já disse,
esqueça-se da minha famı́lia e de mim!
Diana exibiu um sorriso debochado.
-- A respeitada famı́lia Villa Real me
deve muito e agora você também. – Mirou os lábios bonitos. – Não sabe como
é ser minha inimiga! – Avisou-a. – Mas você agora é oficialmente minha
inimiga.
Desejou beijá-la, senti-la novamente,
mas estava com tanta raiva que buscava sufocar o desejo.
-- Não te devo nada! – Puxou o braço. –
Você não acha que já me tirou muito, senhorita Caligari? Primeiro meu pai,
depois me deixou cega e agora quer destruir meus avós. Sua maldade não tem
limite? Não tenho medo... Realmente não me assusta...
O maxilar da morena enrijeceu.
-- Eu não sei por que fui naquela
floresta buscar você... Desde aquele dia minha vida se transformou em um
verdadeiro inferno... Gostaria mesmo de nunca ter cruzado contigo...
Por que aquelas palavras pareceram
afetar a garota.
Engoliu em seco.
-- E acha que ter te conhecido me trouxe
algo de bom? – A filha de Otávio dizia cheia de frustração. – Agora sou eu
que digo, afaste-se de mim e nunca mais ouse se aproximar!
Diana estreitou os olhos perigosamente.
Segurou-lhe o braço novamente,
mantendo-a presa.
-- Você não manda em mim! – Sussurrou
em seu ouvido. – Não pense que vou aceitar tudo o que fizeram comigo e ficar
quieta, um dia vamos nos encontrar novamente e aı́ sim você vai ter motivos
para fazer todas as queixas do mundo contra minha pessoa. – Soltou-a
grosseiramente.
Aimê ouviu os passos se afastarem e só
naquele momento sua respiração voltou ao normal.
Fechou os olhos por alguns segundos e
quando os abriu estavam cheios de lágrimas.
Tinha a impressão que ia acabar
enlouquecendo...
Umedeceu os lábios...
Até quando suportaria tudo aquilo?
Bianca se aproximou.
-- Aimê, você está bem?
A Villa Real suspirou alto.
-- Não, eu não estou! – Cerrou os
dentes – Eu preciso me abrir com alguém, pois tenho a impressão que morrerei
se não falar o que se passa comigo!
A loira a abraçou.
-- Vamos à lanchonete, lá poderemos
conversar.
Aimê assentiu, deixando-se conduzir
pela outra.
Cláudia estava dentro do quarto onde o
marido repousava.
Ricardo ainda dormia.
A mulher estava desesperada porque ainda
não recebeu notı́cias da neta e temia que essa acusação contra Diana causasse
uma nova catástrofe.
Passara horas pensando e estava mais do
que segura que o melhor era contar a verdade a Aimê.
Bianca pediu duas taças de sorvete,
enquanto observava a amiga de longe.
Discara o número de Cláudia e naquele
momento ela estava falando com a avó.
Pagou as sobremesas e seguiu até a
mesa.
Esperou que a jovem terminasse de falar
e assim que Aimê desligou, questionou:
-- E então, como ele está?
-- Ainda está sedado, mas o médico
falou que logo ele acordará. – Completou com um sorriso.
A Alvarenga lhe entregou a taça de
sorvete.
-- Sei que não é uma boa hora para
esse tipo de lanche, mas recordei-me de que quando precisávamos conversar
sobre algo, nos enchı́amos dessas belezinhas.
A Villa Real fez um gesto afirmativo com
a cabeça.
Conhecia a loira a um bom tempo e ela
sempre se mostrou uma amiga muito valorosa.
Levou um pouco da iguaria à boca,
saboreava lentamente, enquanto ponderava.
Bianca a observava curiosamente.
-- Perdão por ter te deixado sozinha
com a pintora, mas ela me olhou de um jeito que pensei que iria me arrastar
dali pelos cabelos. – Falou sem jeito. – Eu sei que sou uma covarde... – Disse
em desânimo.
-- Não precisa pedir desculpas, a Diana
era bem capaz de fazer pior do que te tirar à força!
A loira tomou uma colherada de sorvete,
deliciando-se com o sabor.
--
Eu ainda não acredito que a pintora que você se encantou pela obra é a mesma
mulher que te salvou dos bandidos. Por que não me disse antes?
A neta de Ricardo parecia pensativa.
-- No dia da festa, quando você voltou
para buscar as chaves, ela apareceu no jardim... Ontem esteve na
floricultura... – Mordiscava a colher.
Bianca observava a amiga com atenção.
-- Se você visse como ela te olha...
Aimê sentiu o rosto corar.
-- Você também parece estranha quando
se refere a ela...
A Villa Real baixou a cabeça por alguns
segundos, depois a levantou, mordiscou o lábio inferior.
-- Houve coisas entre ela e eu... –
Falou em um fio de voz.
Bianca deixou o sorvete de lado, parecia
mais interessada na conversa.
-- Que coisas? – Puxou a cadeira para mais
perto da amiga. – Conte-me.
Aimê tomou mais um pouco do gelado.
Não falou de imediato.
Sua mente voltou para aquele dia que ouvira
a voz da morena pela primeira vez... Quando sentira sobre si as grosserias dia
após dia... Quando sentiu o sabor daqueles lábios exigentes...
O cheiro dela não a abandonou mais...
Recordou-se de quando ela fingiu
entregá-la para os traficantes. Lembrou-se do desespero de saber que ela tinha
sido alvejada...
Sentiu aquele tremor nas pernas...
Suas memórias estavam tão vivas...
-- Acho que estou apaixonada por ela! –
Disse por fim.
Os olhos da sobrinha do prefeito
pareceram prestes a soltar da cara.
Tomou um pouco mais de sorvete.
-- Você está... Apaixonada por uma
mulher... Deus, por aquela mulher... – Suspirou. -- E ela sente o mesmo?
Aimê meneou a cabeça negativamente.
-- Não, ela nem mesmo sabe o que
é ter sentimento por alguém...
Você não tem ideias das coisas horríveis
que ela fez a minha famı́lia! – Disse sem esconder o rancor. – Eu não sei como
posso sentir isso por ela depois de tudo que fiquei sabendo...
Bianca colocou a mão sobre a da jovem.
-- O que ela fez de tão terrível?
A Villa Real respirou fundo e em seguida
começou a contar tudo o que se passou, tudo o que o avô contara, seu
acidente... Não escondeu nenhum detalhe, era como se necessitasse de que
alguém a ouvisse, como se precisasse tirar aquele peso das suas costas.
Vanessa preferiu dirigir, pois percebia
que Diana não estava segura para fazer aquilo.
Vez e outra a fitava de soslaio.
A morena mantinha os olhos fechados,
negava-se a falar sobre o que tinha ocorrido e a empresária desistiu do
intuito, pelo menos a convencera a deixar a pequena cidade.
Ligou o rádio para tentar se distrair.
Desejava poder falar algo para a
pintora, mas sabia que a filha de Alexander não gostava desse tipo de
conversa, era muito orgulhosa para admitir o que sentia, fazendo-o apenas
quando bebia.
Diana virou a cabeça para a janela.
Observava a estrada deserta e tentava
conter aquele reboliço que acontecia em seu interior.
Era como se um vulcão estivesse a ponto
de entrar em erupção.
Ainda não acreditava que Aimê a acusara
de destruir a floricultura.
Cobriu o rosto com as mãos, tentando
controlar a respiração.
Os Villas Real ainda pagariam muito caro
e não teria piedade de nenhum deles. Faria sofrer, faria rastejar pelo seu
perdão.
O seu ódio pela mimadinha era ainda
maior do que por todos...
Ainda não sabia o que iria fazer, mas
era uma mulher paciente e sabia que a vingança era um prato que deveria ser
comido frio.
Aimê ainda não tinha ideia nem mesmo conhecia
a ponta daquele iceberg.
Quem poderia ter mandado destruir a
floricultura?
Ricardo deveria ter inimigos, afinal,
Otávio fizera aos montes.
De repente algo começou a perturbar sua
mente.
Será que a garota corria perigo?
Pegou o celular que estava sobre o
painel do carro e praguejou alto quando viu que estava sem sinal.
-- O que houve? – Vanessa indagou
preocupada.
-- Preciso fazer uma ligação!
-- Espere chegarmos! O que se passa? –
Indagou curiosa.
-- Eu tenho a impressão que sei quem
destruiu a floricultura!
Vanessa a encarou por alguns segundos.
-- Caramba, estou te desconhecendo,
depois de tudo você ainda deseja ajudar Aimê.
-- Está louca!? – Falou furiosa. –
Desejo apenas investigar se crocodilo está por trás disso, se assim o for, eu
poderei pegá-lo de uma vez por todas.
-- Diana, deixa esse homem no lugar
dele, você o perseguiu por meio mundo e nunca conseguiu pegá-lo. – Diminuiu a
velocidade.
-- Eu poderia tê-lo matado quando fui
ao resgate daquela idiota, mas eu não o quero morto, desejo que seja julgado e
confesse tudo o que Otávio fez.
-- Meu Deus, esqueça essa passado! – A
empresária pediu. – Não entende que corre risco com isso.
-- Tenho dinheiro o suficiente para me
proteger, não se preocupe... – Suspirou. – Você não entende que eu nunca
estarei em paz enquanto a verdade não for revelada.
-- Ainda mais agora que está apaixonada
pela filha de Otávio!
A empresária se arrependeu de ter falado
assim que terminou a frase.
Parou no acostamento.
Encarou Diana e viu como os olhos negros
estavam estreitos.
Viu-a descer do carro.
Ouviu o soco forte que ela deu no capô.
Deixou o veı́culo indo até ela.
-- Nunca mais ouse falar isso! –
Esmurrou mais uma vez. – Eu odeio aquela maldita garota e você ainda vai ver
como eu a farei sofrer... – Passou a mão pelos cabelos soltos. – Eu deveria
tê-la deixado naquela floresta, deixado que as onças ou as anacondas a
comecem.
A empresária cruzou os braços sobre os
seios.
-- Na verdade, eu deveria tê-la levado
para o bordel, eu mesma deveria tê-la feito de puta... – Apoiou as mãos na
lataria.
Vanessa esperou o tempo suficiente para
saber que ela já recuperara a calma.
A Calligari seguiu até o banco do
motorista.
-- Agora eu dirijo!
Vanessa fez uma prece antes de se
acomodar.
Esperava que chegassem vivas!
Ricardo se recuperou bem.
Passou alguns dias no hospital e depois
retornou para o apartamento.
Aimê mimava o avô o tempo todo.
Nada fora dito sobre o atentado a
floricultura. Não quiseram preocupá-lo.
Cláudia tinha algumas joias e vendeu
para ajudar nos reparos. Bianca e a filha de Otávio também doaram as
economias.
Decidiram arrumar tudo aos poucos, pois
o que não podiam era manter a loja fechada.
Aimê dava sopa na boca do general.
-- Filha, eu não estou inválido! –
Protestava o homem entre risos. – Assim vai me acostumar mal.
Ricardo estava sentado na confortável
poltrona na pequena varanda.
-- Tenho que cuidar do senhor, preciso
que fique bem!
-- Ah sim, eu preciso ficar bem porque
desejo levar você ao altar. Alex vai ser um ótimo marido.
Aimê esboçou um sorriso tı́mido.
Desde que a avô voltou do hospital
sempre falava nesse assunto, ainda mais depois que o rapaz foi visitá-los
algumas vezes.
-- Bem, preciso me arrumar, tenho que ir
para o trabalho.
O general assentiu.
Cláudia arrumava algumas coisas na sala
quando ouviu o telefone tocando.
-- Alô!
O silêncio se fez do outro lado da
linha e logo aquela voz com sotaque carregado se fez ouvir.
-- Olá, senhora Villa Real, imagino que
já tenham recebido o meu recado, eu disse para o general que eu desejo
Aimê... Não perderei tudo que investi assim...
A mulher ficou pálida e quando tentou
falar, a ligação tinha sido encerrada.
Recado?
Então se recordou da destruição que
acontecera floricultura...
Deus!
Então foram eles!
Rapidamente foi até onde estava o
marido.
Ricardo lia um jornal.
-- Por que não disse que esses homens
estavam ameaçando levar Aimê novamente? – Questionou tirando o folheto das
mãos dele.
-- O que se passa? – O homem indagou.
-- Aquele bandido que levou nossa neta
acabou de me ligar, disse que virá busca-la...
O general deu de ombros.
-- Bobagem, estão falando isso porque
querem mais dinheiro... Assim que Aimê se casar com Alex, teremos dinheiro
para que eles parem de nos perseguir!
O rosto de Cláudia se mostrava furioso.
-- Passamos a vida toda fazendo isso,
passamos todos esses anos pagando a esse miserável e o que ele fez? Levou a
nossa neta! – Esbravejava. – Porém se você tivesse feito o que era certo e
não mentido sobre as atrocidades que nosso filho fez, esse maldito bandido já
teria sido punido!
Ricardo se levantou.
-- Tudo está sobre controle, meu amor!
– Tentou abraça-la.
A mulher repeliu o contato.
-- Não, nada está no seu controle!
Quando você estava dopado, a floricultura fora invadida... e Foram eles...
O general demonstrava total surpresa.
-- Tudo vai se resolver, eu já disse!
Vamos proteger Aimê!
-- Não! – Falou mais alto. – Nem você
nem eu podemos protege-la, mas há alguém que fará isso, alguém que não
mereceu tudo o que nosso filho e nós fizemos, mas estou disposta dizer toda a
verdade, contanto que ela salve a Aimê.
-- Aquela mulher nos odeia, jamais
ajudará ou moverá uma palha para nos ajudar! – Disse em tom de aborrecimento.
-- Eu me ajoelharei aos pés dela, farei
o que ela quiser, pois tenho certeza de que só Diana Calligari poderá fazer
algo contra esse bandido.
Antes que Ricardo continuasse a
protestar a mulher deixou a sala feito um furacão.
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