A dama selvagem - Capítulo 14
Os fogos de artifı́cios coloriam o céu.
Aimê estava parada diante da obra de
arte, enquanto ouvia a descrição da tela tão cobiçada.
Ouvia as pessoas exclamarem diante do
quadro da talentosa artista.
Alvarenga olhava com atenção os
detalhes.
Era muito boa em narrar e fizera com
esplendida destreza, capturando as particularidades, deixando a herdeira de
Ricardo fascinada.
A ideia de ir falar com a pintora fora
da garota e foi preciso insistir com a loira para leva-la até ali.
-- Boa noite! – Bianca cumprimentou
Vanessa. – Vi o quadro que senhora pintou e fiquei de queixo caı́do, é muito
lindo e ao descrevê-lo para a minha amiga, ela desejou conhecê-la e
parabenizá-la.
A empresária observava as duas jovens e
ao fitar Diana percebeu que ela estava pouco interessada em acabar com a
confusão.
Viu que a herdeira de Alexander
respondia alguns e-mails, totalmente desinteressada com o que se passava ali.
Suspirou resignada, enquanto sua atenção
se voltava para as garotas.
A que falara primeiro era uma loira,
magra, de estatura mediana, cabelos dourados, olhos verdes e sorriso fácil.
Mas ao mirar a outra, ficou encantada.
A pele dela era branca e delicada como
uma porcelana, os cabelos negros e os olhos de um azul raro. Era alta e tinha
um porte bastante elegante.
Observou que as pessoas que estavam na
fila atrás delas demonstravam total impaciência, desejando se aproximar
também.
Ignorou-os, enquanto dava a sua atenção
a bela moça.
-- Então gostou do quadro, meu bem? –
Indagou simpaticamente.
Teve a impressão que o olhar da garota parecia
perdido, não focava...
-- Realmente a senhora é muito
talentosa... – Aimê dizia. – A Bianca me descreveu a obra e fiquei a imaginar
se estava seguindo a ideias renascentistas...
O aparelho de celular caiu das mãos da
Diana, então levantando a cabeça, ela viu aqueles olhos intensamente azuis em
sua direção.
Mimadinha...
Seria uma peça que seu cérebro estava
pregando novamente?
No último mês passara muitas vezes por
essas ilusões...
Via em vários lugares, ouvia sua doce
voz... E quando dormia seus sonhos eram invadidos pela filha de Otávio.
Sentiu a garganta seca!
-- A minha amiga falou que vai trabalhar
muito para poder comprar um quadro tão lindo como esse. – Bianca se
intrometeu.
Vanessa sorriu, voltando a fitar a
Calligari e percebeu a palidez tomar conta de sua face, enquanto fitava a
menina.
Tinha os lábios entreabertos e os olhos
fixos na jovem que elogiara a obra.
O que se passava?
A empresária pigarreou.
-- Ficamos muito felizes por ter
gostado! – estendeu a mão para cumprimentar as meninas.
Bianca apertou e depois segurou a mão
da Villa Real para fazer o mesmo.
Só naquele momento Vanessa percebeu que
a menina era cega.
Tomou os dedos delicadamente.
-- Não sou eu a talentosa artista –
Fitou Diana – Mas apresento a você a mulher que tem mãos mágicas.
Vanessa uniu-as em um aperto.
Aimê sentiu algo estranho diante do
toque... Como se conhecesse, como se já tivesse sentido.
Respirou fundo sentindo aquele aroma que
outras vezes a entontecia. Uma corrente elétrica passara por seu corpo.
Teve a impressão que os lábios estavam
secos, então os umedeceu com a lı́ngua.
Por que seu coração batia tão
acelerado?
Por que tinha a impressão que quem
estava ali era...
Meneou a cabeça em desagrado.
Aquele pensamento a deixou pouco a
vontade.
Não, com certeza muitas pessoas usavam
aquele perfume.
A Calligari sentia a maciez... Mirava os
dedos longos e logo voltou a encará-la.
-- Eu não consigo enxergar, mas pelo
que Bianca me falou, percebo que é uma mulher cheia de sensibilidade... Não
seria qualquer um capaz de criar algo tão lindo!
Diana nada disse enquanto não parava de
olhá-la... Continuou prendendo-a, sentindo aquelas emoções perigosas que
sempre acontecia quando estava ao lado dela.
Usou a outra mão para prendê-la, como
se temesse que de repente despertasse e descobrisse que a garota nunca esteve
ali.
Observou os lábios bonitos se abrirem
naquele sorriso que ela sempre dirigia a todos, doce...
A pintora abria a boca para falar algo
quando foi interrompida.
-- Então vocês estão aqui!
Um rapaz alto e loiro se aproximou,
quebrando o encanto.
Aimê desvencilhou-se do toque da major.
-- Procurei-as por toda festa, Aimê, eu
quero a minha dança! – Tomou as duas pelos braços, afastando-se com ambas.
Vanessa não tirava os olhos da
Calligari e percebeu como o maxilar da filha de Alexander se enrijeceu ao ver a
garota sendo levada pelo jovem de corpo atlético.
Já se preparava para questionar, quando
Diana pegou o aparelho celular que caı́ra, levantando-se em seguida.
O senador fora cumprimentá-la e acabou
por ficar com a mão pendendo no ar, pois a pintora nem mesmo se deu ao trabalho
de falar algo, afastando-se.
A empresária observou toda a cena e
apenas permaneceu no mesmo lugar, enquanto pegava uma taça e bebericava lentamente
o lı́quido.
Sensibilidade?
Diana nunca demonstrou nenhuma, mas era
dotada de talento.
Quando a conheceu, a artista estava
passando por uma fase difı́cil, tinha perdido o pai e enfrentava um destino
cruel
Mesmo não tendo tantos anos de
diferença, viu-a como a filha que nunca teve e desde esse dia uniram-se. Foi
por um acaso que descobriu o grande talento que ela tinha e desde esse dia
estavam juntas profissionalmente, mesmo que poucas vezes concordassem em suas
opiniões.
A Calligari fora bem aceito com seus
trabalhos, mas sempre era prepotente e arrogante, coisa que era perdoada quando
se via as belas obras que criava.
Sabia o que ela tinha vivido e por esse
motivo nunca discutia com ela, na verdade, ninguém nunca discutia com Diana,
talvez fosse por isso que agisse daquele jeito.
Bebeu mais um pouco.
-- Você é um mal educado, Alex,
estávamos conversando com a pintora! – Bianca se livrou da mão do primo.
Aimê fez o mesmo.
O rapaz as levou para a pista de dança
onde várias pessoas já se desdobravam, cada uma mostrando passos diferentes.
-- E desde quando você aprecia essas
coisas, Bianca? – Interceptou o garçom, pegando três taças e entregando as
garotas. – Isso é coisa para velhos, aqui é onde devemos ficar. – Bebia,
enquanto se mexia.
Bianca Relanceou os olhos de forma
tediosa.
-- Mesmo assim não deveria ter nos
arrastado de lá!
A Villa Real permanecia calada.
Algo a incomodava bastante, algo em
relação à mulher que cumprimentara.
Em determinado momento levou a mão ao
rosto, sentindo aquele cheiro que não era desconhecido para si.
Deus, aquele toque...
Respirou fundo.
-- Vou pegar os salgadinhos e já volto.
Alex se afastou.
A loira levou a taça aos lábios bebendo
um pouco do conteúdo.
-- Não quero ficar aqui! – Bianca se
abanava com as mãos, enquanto usava um tom alto para ser ouvida – Tem muita
gente e muito barulho.
Ao fitar a Villa Real percebeu como ela
parecia distraı́da.
-- Você está bem?
Só naquele momento Aimê pareceu voltar
à realidade.
Estendeu a mão, entregando-lhe o copo.
Não costumava beber.
-- Se eu fosse você beberia um pouco,
porque só assim para aguentar meu primo. – A loira aconselhou-a.
Aimê nem mesmo se preocupou em
responder sobre esse fato, pois nem cogitava ter algum tipo de relação com o
filho de prefeito.
-- Bianca, você não me disse como era
o nome da autora do quadro!
A jovem Alvarenga encarou a amiga.
-- Ainda está impressionada com ela,
imagina se tivesse visto... Caramba! Nunca tinha conhecido uma mulher tão
bonita... Aqueles olhos... Aquela pele bronzeada... Ela parecia tão
superior... Nossa, se eu fosse bela daquele jeito teria o mundo aos meus pés!
Aimê
tinha aquela sensação de aceleração no peito.
-- Como é o nome dela? – Indagou
impaciente. – Tinha a assinatura no quadro... Você lembra?
Bianca pareceu surpresa com a
insistência da amiga.
Ponderou por alguns segundos!
-- Ah, sim, eu acho que é Alessandra...
– Dizia pensativa. – Mas não lembro o sobrenome.
A neta de Ricardo parecia confusa...
-- Alessandra... – Aimê sussurrava o
nome.
O rapaz tentou puxar a loira para dança,
mas ela praticamente o empurrou.
-- O que você tem? Por que parece tão
preocupada? – Colocou as taças na bandeja do garçom que passava.
-- Eu não sei... Mas é que... Tive a
impressão que a conhecia... – Passou a mão pelos cabelos.
-- Como a conhecia?
-- Eu não sei... – Suspirou. – Estou
cansada, você pode me levar em casa?
-- Não vai esperar o Alex? Ele quer
dançar contigo! – Torceu a boca em desagrado.
-- Por favor, Bianca, quero ir embora,
estou tão cansada que estou imaginando coisas.
A sobrinha do prefeito a observava com
atenção e percebia que algo estava errado.
-- Está bem! – Segurou-lhe a mão. –
Vamos sair daqui.
A Alvarenga seguiu abrindo espaço e ao
perceber que não teria como ir pela frente, pois estava lotado, decidiu dar a
volta.
Pensou em questionar o que se passava,
mas seria impossível manter um diálogo com todo aquele barulho.
Havia muita gente, pois aquele era o
evento mais esperado durante o ano.
Havia churrascos e bebida grátis, sem
falar na banda que animava a festa durante toda a noite.
O show pirotécnico continuava.
Alguns rapazes a interceptaram,
convidando-as para dançar, mas Bianca olhava-os feio e logo se afastavam.
Chegaram à parte de trás da mansão.
Estavam praticamente correndo sobre as
gramas bem aparadas.
Ali havia poucas pessoas, estava menos iluminado
e o barulho era menor.
Caminhavam rápido e quando chegaram sob
a enorme árvore, pararam, tentando respirar.
-- Caramba, estou morta! – Bianca disse
tirando os sapatos. – Não tem como andar assim não!
Aimê estava vermelha do esforço
fı́sico.
-- Por que não fomos pela frente? –
Questionava enquanto seu peito arfava. – Não precisávamos ter corrido, ainda
mais com esses saltos...
Ficaram alguns segundos esperando que a
respiração voltasse ao normal.
-- Impossível passar... – Bianca levou a
mão à testa, fazendo uma expressão de
dor – Esqueci a chave do carro! Que
burra eu sou!
Aimê meneou a cabeça...
-- Eu não acredito que depois de termos
andado tanto você me diz uma coisa dessas!
A loira a segurou pelo braço, fazendo-a
se apoiar à árvore.
-- Fica aqui e me espera, eu vou voando
e volto rapidinho.
Aimê suspirou, ainda abriu a boca para
protestar, mas realmente aquela era a única solução e se fosse com a Bianca,
acabaria atrasando-a mais.
Ouvia a banda tocando ao longe...
Sentiu os pés doloridos, então decidiu
sentar e se livrar dos sapatos. Os saltos finos não foram uma boa escolha.
Esticou as pernas, enquanto mexia os
dedos.
Estava cansada!
Nunca trabalhara tanto como naquele dia
e ainda tivera que comparecer àquele evento.
A única coisa que desejava naquele
momento era sua cama...
Diana se aproximava a passos lentos.
Seguiu-as até ali e agora que a Villa Real
estava sozinha tinha a oportunidade para vê-la melhor.
Estava linda!
Quando ouviu aquela voz gentil teve a
impressão que sua alma retornava ao corpo depois dos longos dias longe.
Por que se sentia tão abalada diante da
filha de Otávio?
Não havia um único dia que não se
recordasse dela...
Por que teve que encontrá-la novamente?
Estava segura de nunca mais vê-la,
estava segura de manter distância daquela menina-mulher.
Passou a mão arrumando os cabelos...
Sabia que não deveria ter ido até ela,
mas não conseguiu segurar a vontade de vê-la novamente e ter certeza de que
não fora uma ilusão.
Ao dar mais um passo pisou em um galho,
partindo-o, alertando a herdeira de Ricardo.
-- Quem está aı́? – Aimê questionou, enquanto
levantava rapidamente.
Diana mordiscou o lábio inferior,
depois seguiu até ela, ficando a poucos metros de distância.
Fitou os olhos azuis.
-- Vou gritar e chamar os seguranças se
não falar quem é?
A major chegou mais perto.
Aimê sentiu aquele cheiro, o hálito
refrescante e teve a impressão que aquilo era fantasia da sua cabeça.
-- Ainda tem medo de mim, mimadinha...
A Villa Real sentia o coração bater
acelerado e temeu que caı́sse ali desfalecida.
Levou a mão ao peito.
Aquela voz rouca e baixa...
Aquela forma de olhar que parecia
invadi-la...
Não, aquilo não podia ser real...
De repente era como se todos aqueles
dias não tivessem passados, era como se voltasse para aquele quarto onde se falaram
pela última vez.
-- Que... que faz aqui? – Gaguejou
enquanto indagava. – O que está fazendo aqui? – Conseguiu maior firmeza.
Diana teve a impressão que há séculos
não a via e notou o desagrado de Aimê por sua presença.
-- Bem, você elogiava a minha
sensibilidade quando seu “amigo” praticamente te arrastou, então vim agradecer
por suas palavras.
Os olhos azuis se abriram mais.
-- Então... então é você a artista?
– Pareceu pouco surpresa com a constatação. – Eu não estava ficando louca...
Sentiu-a quando suas mãos se uniram,
porém nada disse, pensando que estaria a imaginar coisas.
Diana fitou os lábios bonitos e se
recordou de como era bom quando eles se misturavam com os seus.
Estendeu a mão colocando alguns fios
que estavam na face da jovem atrás da orelha.
Aimê a repeliu com um safanão.
-- Não me toque!
A Calligari apoiou os braços na árvore,
deixando a neta de Ricardo em meio a eles.
Observava-a com atenção, parecia surpresa
com tamanha animosidade.
-- Não quero que se aproxime de mim!
Como ousou vim até aqui? Recordo-me quando deixou bem claro que desejava que
eu me mantivesse longe, mas agora é você que me persegue.
A major observou como os seios dela
levantavam diante da respiração acelerada.
Viu a veia pulsar em seu pescoço.
-- Nunca pensei que a encontraria
aqui... – Chegou bem perto dos lábios rosados. – Foi uma surpresa enorme
vê-la.
Aimê se encostava tanto a árvore que
temia derrubá-la.
Tentava controlar a eletricidade que
passava por sua espinha.
-- A minha amiga já está voltando,
então acho melhor que vá embora, não desejo ter que dar explicações.
Diana observou por sobre os ombros e
não viu sombra da garota que a acompanhava.
-- Quem é aquele rapaz que praticamente
te arrastou? – Questionou voltando a fitá-la.
A Villa Real desejou sair dali, mas
sabia que não tinha para onde ir, rezava para que Bianca voltasse rápido.
-- Meu namorado! – Disse de forma
desafiadora. – E ele não vai gosta de saber que alguém está me incomodando!
Diana estreitou os olhos de forma
ameaçadora.
A ideia de outro tocar nela era muito
para seu autocontrole.
-- Ele sabe que você é casada?
Não, Aimê não contara para ninguém
sobre aquela parte da aventura na selva.
Na
verdade, seguia agindo como se aquilo nunca tivesse acontecido.
-- Esse casamento não vale nada, quando
estávamos lá você me disse! – Apontou-lhe o dedo em riste. – Então não
venha com essa história novamente.
Diana não pareceu se importar com as
negativas, pois parecia interessada em examinar o elegante traje que a jovem
usava.
Observou que ele chegava ao meio das
coxas.
Os seios pareciam encaixados, mas fácil
de serem desnudos já que não havia alças.
Umedeceu o lábio superior com a
lı́ngua.
Ainda lembrava-se deles e como eram
deliciosos em sua boca.
-- E ele sabe que você por pouco não
perdeu sua honra? – Indagou enquanto arqueava a sobrancelha esquerda.
A Villa Real sentiu o rosto em brasas a
menção do fato que acontecera antes de deixar a fazenda.
Teve a impressão que algo lhe chutava o
baixo ventre.
Ainda a sentia em seu ı́ntimo...
Passara dias sendo assombrada por
aquelas sensações, passara noites se revirando na cama, acordando cheia de
desejo pelo toque dela, enlouquecida pela forma de amar daquela mulher.
Fechou os olhos por alguns segundos e em
sua mente veio às palavras do avô!
Diana Calligari desgraçara a vida da sua
famı́lia e por culpa dela seu pai estava morto.
-- Enojo-me ao me lembrar de como ousou
encostar em mim! Como subjugou-me, sabendo que não poderia me defender.
Os olhos negros pareciam irritados com
as palavras que ouvia.
-- Poderia ter gritado! – Provocou-a. –
Apenas te ofereci um presente... – Falou bem perto do seu ouvido. – Queria te
dar algo para que nunca me esquecesse... A pergunta agora é: Você me
esqueceu, mimadinha?
A major viu como os olhos azuis
brilhavam, observou como eles traziam raiva naquele momento, mas não era só
aquilo.
Aimê espalmou as mãos contra os seios
dela, tentando manter distância.
-- Você não passa de uma grosseira por
ousar a falar desse fato tão ı́ntimo! – Acusou-a cheia de indignação.
Sentiu o coração da ı́ndia bater contra
seu tato, sentiu a maciez do colo e foi como se levasse um choque elétrico, afastando
rapidamente as mãos.
-- Venha comigo, eu desejo falar
contigo! – Pediu baixinho. – Precisamos esclarecer algumas coisas.
-- Eu não tenho nada para falar com
você, não desejo nem mesmo está no mesmo lugar que ocupa... O oxigênio se
torna contaminado.
Diana tomou-lhe as mãos.
-- Eu preciso que conversemos!
A Villa Real se livrou do toque.
-- Não tenho nada para falar contigo,
apenas continue afastada de mim, da mesma forma que não desejo me aproximar...
A Calligari ainda pensou em insistir,
mas ao ouvir passos, percebeu que a amiga de Aimê se aproximava e acabou indo
embora.
A neta de Ricardo sentia que ela se
afastava e estranhou que não tivesse ocorrido aquela prepotência por parte
dela.
Sentiu-se aliviada, percebendo que a
respiração voltava ao normal.
-- Cheguei! – Bianca anunciou. – Disse
que não demoraria muito. – Observou Aimê. – Você está bem? Parece
assustada... – Tocou-lhe a face. – Está febril?
A Villa Real sabia que estava tremendo.
-- Eu estou bem, apenas desejo ir para
casa o mais rápido possível.
A loira assentiu, enquanto lhe tomava a
mão e as duas seguiam em direção à rua onde deixaram o carro.
Diana ficou ali parada, vendo-as se
afastarem.
Havia algo estranho naquela história,
pois apesar de tudo nunca viu a filha de Otávio reagir com tanta raiva e
desprezo.
Já estaria sabendo sobre o acidente?
Maldito Ricardo!
O desgraçado não cumprira com a
palavra, mas parecia que tinha agido rápido em falar sobre o que se passara no
dia que a jovem ficara cega.
Caminhou até a árvore, apoiando-se a
ela.
Massageou as têmporas...
Mais uma vez o show pirotécnico coloriu
os céus.
Pegou o celular na bolsa.
Não desejava ficar mais um único
minuto naquela festa.
Mandou mensagem para a empresária e
logo deixou o vasto jardim.
Aimê quando chegou ao prédio onde
morava mal se despediu de Bianca, subindo as escadas, tendo a impressão que se
demorasse mais um pouco teria um ataque.
Abriu a porta e seguiu para o quarto
tentando não fazer barulho.
Somente ao girar a chave se sentiu
segura.
Encostou-se a madeira, permanecendo lá
por longos minutos.
Teria sido real aquele encontro?
A ı́ndia selvagem estivera mesmo no
jardim consigo?
Tocou a própria mão, levando-a ao
nariz, cheirando-a.
Aquele era o aroma dela...
Como não percebeu antes?
Sentiu-a naquele palco, sentiu aquela
eletricidade que se apossava do seu corpo, aquela fraqueza nas pernas...
Aquela inquietação no estômago...
Mordiscou o lábio inferior...
Como podia ter desejado beijá-la quando
a sentiu tão perto de si?
Como ainda desejava beijá-la depois de
saber de tudo que ela causara?
Meneou a cabeça como se assim pudesse
espantar os pensamentos.
Diana Calligari era o pior ser humano
que existia em todo o universo. Ela usara dois homens e por esse motivo seu pai
fora obrigado a ser um assassino, por culpa da paixão que sentia por ela
fizera coisas ruins...
Não permitiria que o mesmo acontecesse
consigo, não permitiria que a major usasse-a também, não permitiria.
Seguiu até a cama, deitando-se.
E se ela tivesse casado com Otávio?
Aquele
pensamento a deixou ainda mais irritada.
Odiava-a, ah sim, odiava muito Diana...
Fechou os olhos, enquanto repetia o
mantra...
Vanessa leu a mensagem e precisou beber
mais um pouco para não surtar.
O leilão começara e todos pareciam
interessando em se aproximar de Diana. O nome dela já fora chamado várias
vezes.
A empresária se levantou, seguindo até
o prefeito.
Chamou-o, explicando que a Calligari
tivera um mal estar e precisara se ausentar.
O homem pareceu surpreso, mas nada
poderia ser feito.
Vanessa decidiu ficar até o fim da
festa, pois sabia que era o mı́nimo que poderia fazer para se desculpar pelas
grosserias da pintora.
Diana alugou um quarto na pequena
pousada.
Apesar de ter decidido manter distância
da filha de Otávio, agora se sentia em obrigação de esclarecer os fatos.
Ricardo tinha muito que explicar...
Miserável!
O rapaz da recepção olhou-a com
desconfiança, mas ao perceber que era uma mulher importante, arrumou o aposento
mais apropriado.
Ela aproveitou e questionou se o jovem
conhecia a famı́lia Villa Real e quão surpresa ela ficara ao saber que a
floricultura de Aimê era naquela mesma praça.
Agradeceu a informação, seguindo até o
lugar onde dormiria.
Ao entrar, a Calligari observava tudo
com atenção.
Havia uma cama de casal, uma pequena
poltrona, uma mesinha com uma cadeira e uma porta que dava para o banheiro.
Seguiu até a janela!
A praça era grande e havia algumas
pessoas sentadas nos bancos, outras comiam nas barraquinhas...
Suspirou ao fitar a floricultura.
Havia luzes em neon iluminando o nome...
No dia seguinte iria lá... Tinha coisas
para tratar com cada um dos Villa Real... E sabia muito bem pelo qual
começaria.
Seguiu até a pequena valise, sorte ter
trazido algumas roupas.
Livrou-se do vestido e do sapato, depois
foi até o banheiro.
Seguiu até o chuveiro.
Era tudo muito simples, mas bem
arrumado.
Sorriu ao ver que tinha água quente.
Vanessa iria adorar esse detalhe, porém
a filha de Alexander preferia o lı́quido gelado.
Sentiu-o lhe molhar as costas, mantinha
os olhos fechados e era como se estivesse olhando para aquele mar azul...
Por que se sentira magoada ao ver o desprezo
que Aimê demonstrara?
Desde quando se importava com o que a
filha daquele miserável sentia?
Pegou a toalha secando-se, depois a
deixou de lado, caminhando totalmente despida pelo quarto.
Seguiu novamente até a janela.
Então era ali que Ricardo se escondia!
Realmente o homem era uma raposa velha.
No dia seguinte...
Cláudia acabava de se arrumar e já
seguia para a porta quando viu Aimê parada, esperando-a na sala.
-- O que faz de pé? Pensei que
estivesse dormindo! – Foi até ela, beijando-lhe a face. – Eu disse que hoje
não precisava ir à loja, você e Bianca trabalharam muito ontem.
-- Não, vovó, hoje é sábado, é um
dos dias mais corridos que temos, então decidi ir com a senhora.
A mulher observava a neta.
Ela não herdara o mau caráter de
Otávio e nem mesmo a fraqueza dos Villa Real, ela sim era melhor do que todos.
Abraçou-a forte.
-- Está bem, pode vir comigo, assim me
conta como foi a festa ontem.
A última coisa que Aimê desejava falar
era sobre aquele assunto, mas preferiu ficar calada e não expressar seu
descontentamento.
Pensara muito e acabou achando que o
melhor era não falar sobre a presença da Diana na cidade, afinal, com certeza
hoje ela já não estaria mais ali.
Tivera uma verdadeira noite de insônia.
Passara horas rolando pela cama, horas
pensando que deveria ter falado muito mais.
Deveria ter sido mais segura, mostrado
que não tinha medo e que a enfrentaria quantas vezes fossem necessárias...
Deveria ter deixado claro que sabia do
que ela fizera com seu pai...
Era cedo quando se cansara de tentar
dormir, então decidiu tomar um banho e seguir para o trabalho, pois só assim
para distrair sua mente.
-- Eu não acredito que você fez isso!
Diana estava se vestindo, enquanto
Vanessa andava de um lado para o outro no pequeno quarto.
-- Todo mundo te esperando na hora do
leilão. Um empresário pagou caro pela obra, estava pensando que você
entregaria, mas você decidiu sumir simplesmente!
A Calligari sentou na cama e começou a
calçar as botas de couro.
-- Não sei por que reclama tanto,
afinal, pelo que está gritando desde que chegou, o leilão foi um sucesso e o
dinheiro vai dar pra ajudar os velhinhos.
Vanessa colocou as mãos na cintura,
enquanto a encarava.
-- Você não consegue conversar sem
destilar esse sarcasmo? – Respirou fundo. – Ok, não vou mais brigar por isso,
porém agora vamos embora daqui. – Pegou o celular discando um número. – Você
foi convidada para expor em Roma! – Fitou-a. – Não sei como o povo ainda te
convida para alguma coisa.
A major se levantou.
Usava calça jeans colada às pernas
malhada, camiseta preta e botas de canos médios.
-- Você pode ir, mas vá de táxi,
precisarei do carro! – Foi até o espelho.
A empresária demonstrava total
surpresa.
-- Que história é essa agora? Você
vai ficar aqui? – Observava-a arrumar os cabelos longos. – Você nem queria
estar aqui, criticou a cidade por ser pequena, falou dessa pousada, eu
praticamente te arrastei e agora me fala sobre ficar aqui. – Segurou-a pelos
ombros, fazendo encará-la.
Diana era bem mais alta do que ela.
-- Você está doente? – Tocou-lhe a
testa. – O que se passou?
A Calligari se desvencilhou do toque.
-- Não, apenas não vou contigo!
-- E o que está te prendendo aqui? Não
me diga que se interessou por uma dessas mocinhas interioranas?
A filha de Alexander torceu a boca em
desagrado.
-- Não é nada disso, apenas tenho
negócios inacabados aqui.
-- Que negócios? Você nem mesmo
conhecia esse lugar.
Diana a ignorou, pegando a jaqueta
marrom.
-- Só falta me dizer que os Villa Real
estão aqui! – Vanessa ponderou por alguns segundos. – Aquela menina de
ontem... – Dirigiu a ela um olhar acusador. – Ela é Aimê Villa Real! – Ela
falou como se tivesse matado a charada. – Por isso você ficou daquele jeito!
Deus, aquela menina cega que adorou seu quadro é a jovem que você foi salvar
naquela selva! – Bateu na própria cabeça. – Como não me toquei! Você ficou
com cara de boba!
Diana pegou o celular e as chaves do
carro.
-- Eu não fiquei de jeito nenhum,
apenas tenho assuntos inacabados com essa gente.
-- Meu Deus, você gosta dessa garota,
eu vi ontem como você ficou!
A major a encarou, os olhos negros se
estreitaram furiosamente.
-- Não se engane, pois não há
sentimento nenhum por essa menina, apenas preciso resolver algumas questões.
Vanessa observou a pintora sair.
Exibiu
um sorriso nervoso.
-- Agora sim ferrou tudo!
-- Os lı́rios estão florescendo lindos!
– Cláudia comentava, enquanto via a neta cheirar cada um deles.
Aimê estava no pequeno jardim que
ficava nos fundos da loja.
Desde que abriram a floricultura,
transformaram aquela área em um pequeno paraı́so floral.
Tudo era bem organizado.
-- Ah sim, vovó, eles crescem felizes.
– Sorriu. – Aqui é como se fosse um lar... – Tocou a pétala delicada.
Ouviram o sino e seguiram para a parte
da frente.
Um homem elegante se aproximou.
Ele observava cada detalhe com atenção.
-- Preciso do seu mais belo arranjo de
flores. – Dizia entusiasmado. – Vou pedir a minha namorada em casamento e por
isso desejo o melhor. – Olhava tudo ao redor com interesse.
Aimê sorriu.
Achava lindo quando os apaixonados iam
até ali.
-- Do que ela gosta? – Indagou. – Rosas,
lı́rios, tulipas...
-- Ela gosta de rosas... Sim, rosas, eu
quero o buquê de rosas mais lindo da sua floricultura. – Tirava o dinheiro. –
Preciso que entreguem no trabalho dela... Deus, ela vai ficar tão
emocionada...
Cláudia fitou a neta.
Naquele dia o entregador não trabalharia,
pois ficara doente.
-- O problema é que não tem ninguém
para entregar! – Cláudia se antecipou.
-- Ah, vovó, você pode ir lá, faz a
entrega e volta.
-- Você não pode ficar sozinha aqui,
filha!
-- Claro que posso, fiquei várias
vezes!
O cliente olhava de uma para a outra.
-- E então? Poderão fazer a entrega? –
Indagou preocupado.
-- sim, claro! – Aimê se adiantou. –
Sua namorada receberá o mais belo arranjo.
O homem pagou, anotou o endereço e
escreveu no cartão, depois agradeceu deixando a loja.
A filha de Otávio já seguia para
preparar as flores.
-- Tem certeza de que vai ficar bem aqui
sozinha? – Questionou enquanto a via fazer o arranjo.
Desde que a neta sumiu, a esposa de
Ricardo não a deixava só. Temia que algo acontecesse a ela novamente.
-- A namorada dele vai ficar muito
feliz, afinal, que mulher não gosta de flores. – Dava os últimos toques. –
Vá, faça a entrega e prometo que a esperarei aqui. – Inspirou o delicioso
aroma.
Cláudia observava a delicadeza que a
neta arrumava as rosas.
Viu-a colar um bombom no cartão.
Sorriu!
Ela sempre fazia aquilo.
-- Um dia você vai ter um namorado bem
romântico e vai te dar flores todos os dias, eu mesma contarei que você adora
lı́rios. – Beijou-lhe os cabelos. – Você é maravilhosa, filha!
A jovem nada disse e quando estava
pronto entregou a avó.
-- Não demorarei! – Beijou-lhe a face.
– Se precisar chame a moça da sorveteria.
Aimê sorriu, enquanto ouvia os passos
se afastarem.
Cláudia era uma pessoa sempre
atenciosa, sempre preocupada com ela, sempre cuidara muito bem de si, ainda
mais por causa de sua deficiência, no inı́cio precisara de muita ajuda.
Voltou para o jardim!
Se alguém abrisse a porta o sino
tocaria e a alertaria.
Pegou o regador e começou a molhar as
plantinhas.
Inspirou e aquele cheiro delicado encheu
seus pulmões.
Seguiu até a roseira.
As rosas vermelhas mais belas estavam
ali...
De repente sua mente a levou de volta
naquele dia que entrara em desespero ao descobrir que a princesa indı́gena fora
ferida...
Lembrou-se das palavras dela...
Diana parou em frente a vitrine.
Havia uma réplica de uma bicicleta na
calçada cheia de flores. Alguns vasos com plantas decorava a calçada.
Observou o interior e percebeu que não
havia ninguém.
Empurrou a porta de vidro.
Entrou e ouviu o som do sino.
Levantou a cabeça e percebeu que não
teria como entrar ali sem ser notado.
Era a primeira vez que estava em um
lugar como aquele.
Havia balões de coração, ursinho com
corações. Jarros de vários formatos, as mais variadas espécies de floras
enfileiradas sobre prateleiras.
Observava tudo com atenção, quando passos
lhe chamaram a atenção.
-- O que deseja? – Aimê perguntou cheia
de simpatia.
A Calligari a encarou.
Não foi difı́cil descobrir onde
encontrá-la, afinal, naquela pequena cidade só havia uma floricultura.
Ela estava linda!
Usava um vestido florido com alcinhas, o
cabelo longo estava trançado, mas a parte da frente estava mais curta e formava
um tipo de franja lateral, emoldurando seu rosto.
Aproximou-se dela.
-- Desejo um buquê dos seus mais belos
lı́rios!
A Villa Real deu alguns passos para
trás, esbarrando no balcão.
Não acreditava que ela tivera coragem
de procurá-la novamente
-- O que faz aqui? – Indagou em tom
acusador. – Não é bem vinda!
Diana mirou os olhos azuis.
-- Bem, eu precisava de um lugar para
comprar flores, então vim aqui, não havia outros lugares para conseguir isso.
Aimê parecia pouco convencida com essa
história.
Cruzou os braços sobre os seios.
-- Aqui você não comprará nada,
então peço que saia, antes que peça para alguém tirá-la à força.
Diana pegou um jarro que trazia aquelas
espécies de árvores japonesas, achou bonita.
Dinda gostaria de uma daquelas!
-- Tem uma placa bem atrás de você que
fala que descriminação de qualquer natureza é crime, então se não me
atender posso processar sua floricultura. – Dizia enquanto via outras
espécies.
A Villa Real batia a ponta do pé
repetidamente no chão, estava impaciente.
Tentava manter a respiração
equilibrada.
Diana a fitou novamente.
Seu rosto trazia aquela expressão de
sarcasmo costumeira e um sorriso se desenhava no canto dos seus lábios.
-- Ok, farei o arranjo! Diga logo o que
vai querer, pois não tenho o dia todo para ficar aqui contigo!
A Calligari a observava se movimentar
com precisão e ir direto até onde estava o que pedira.
Via a agilidade que ela tinha com as
mãos, mesmo percebendo que tremia, e não demorou muito para um bonito buquê
está pronto.
-- Coloque um desses ursinhos que você
tem, vai ficar ainda mais atrativo! – Provocava-a.
A herdeira de Ricardo respirou fundo
para não esbravejar novamente, pois seria uma perda de tempo.
Fez o que fora dito e estendeu para ela.
Diana se aproximou, tocando-lhe as mãos
e se demorando mais do que o necessário.
Aimê se afastou.
-- Também desejo bonsai, a Dinda vai
adorar colocar na fazenda.
A neta de Ricardo pareceu mais acessível
ao ouvir a menção à Antônia.
Desejou perguntar se ela estava bem, mas
ficou calada.
Pegou um dos mais belos jarros,
entregando-lhe também.
-- Quanto lhe devo?
-- Cem! Não precisa pagar o bonsai, é um
presente meu para a sua tia.
Diana sorriu.
-- Ela vai ficar feliz em saber que se
lembra dela com carinho... Presentes são sempre bons... – Disse em tom mais
carregado. – Eu acho que mereço um presente também...
Aimê sabia do que ela estava a falar...
Engoliu em seco, enquanto sentia a pele
do rosto queimar.
-- Apenas ela dos Calligari merecem o
meu apreço! – Disse irritada. – Agora pague e saia daqui.
Diana não pareceu se importar com as
palavras que ouviu.
-- Caramba, esse negócio de flores dá
dinheiro! – Pegou a carteira na bolsa. – Faz noventa?
A Villa Real mordiscou o lábio
inferior.
-- Cem!
Diana pegou a nota e colocou na mão da
garota.
-- Pronto, aı́ está, mimadinha sovina!
A neta de Ricardo desejou poder tirá-la
dali à força.
-- Agora pode ir embora e não volte mais,
nunca mais ouse entrar aqui!
Diana sorriu, deixando o lugar.
Aimê apoiou-se ao balcão.
Esperava que aquela mulher saı́sse de
uma vez por toda daquela cidade, mesmo assim não conseguiu não pensar para
quem ela daria aquelas flores.
Com certeza já encontrara alguma amante
para aquecer sua cama!
Lembrou-se de Veridiana e não ficara
feliz em recordar daquele dia.
Não demorou muito para o sino tocar
novamente.
Imaginou que fosse ela.
-- Senhorita Villa Real?
Ouviu a voz de uma criança chamando-a.
-- Sim, sou eu! – Disse esboçando um
sorriso.
O garoto deveria ter uns nove anos,
vestia uma roupa surrada e trazia nas mãos um lindo buquê de lı́rios e um
urso de pelúcia.
-- Isso é para você! – Colocou tudo
nas mãos dela. – A major Calligali – Disse com dificuldade o sobrenome. – Ela
lhe espera na hora do almoço na pousada que fica aqui na frente.
Aimê parecia indignada com a ousadia
daquela mulher.
Se não gostasse tanto de flores teria
jogado tudo no lixo.
-- Pois diga a ela que não irei a lugar
nenhum, faça melhor, peça para que ela esqueça que eu existo. – Estendeu as
mãos com os presentes. – Diga que não desejo nada que venha dela. Tome!
-- Não, moça, se fizer isso, a mulher
lá vai mandar me prender porque tentei roubar a carteira dela.
Os olhos azuis se abriram em espanto.
-- Como assim? Você tentou roubá-la?
O menino fez um gesto de assentimento
com a cabeça.
-- Por favor, vá lá com ela, eu
prometo que nunca mais tentarei roubar ninguém, mas eu não quero ir para a prisão,
minha mãe vai me matar.
Aimê ainda pensou em se negar, mas
sabia que Diana era bem capaz de cumprir a ameaça.
-- Está bem, diga que na hora do almoço
estarei lá. – Disse em meio a suspiros. – Mas não almoçarei com ela,
simplesmente darei alguns minutos para que ela me explique o que quer de uma
vez por todas.
O garoto lhe beijou a mão em
agradecimento, enquanto fazia um gesto de positivo com o polegar para Diana que
observava tudo do lado de fora da vitrine.
Ricardo estava em seu apartamento.
Ouviu o telefone tocar e atendeu
pensando que ouviria a voz da esposa.
-- Então quer dizer que você pediu
para a Calligari salvar sua netinha.
O general ficou pálido ao perceber de
quem se tratava.
Como ele descobrira seu número?
-- Como foi capaz de levar minha neta,
seu desgraçado? – Apertou forte o aparelho. – Como fizera isso quando eu não o
denunciei por tudo que fez.
A gargalhada cruel foi ouvida.
-- Você não fez nada por mim, fez pela
honra perdida do seu filhinho e quanto a sua netinha, ela que me procurou para
saber sobre o que acontecera com o papaizinho querido.
-- Afaste-se da Aimê ou eu mesmo
matarei você!
-- Matar-me? – Ironizou. – Você não
passa de um pobre coitado, não tem moral, nem prestı́gio e nem dinheiro... Mas
tem algo que eu quero e como quero... Fique sabendo que logo pegarei a doce Aimê
para mim... Tenho planos...
-- Você não encostará a mão nela!
-- E como vai protegê-la? Acha que
depois de não ter cumprido a palavra que deu a Diana, ela vai te ajudar
novamente?
-- Deixe-nos em paz, já lhe dei tudo o
que eu tinha!
-- Não, você ainda tem algo que eu
desejo!
Ricardo abriu a boca para retrucar, mas
o outro já tinha desligado.
Diana Calligari pechinchando "Faz noventa?" kkkkkkkkk muito bom!
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