Dolo ferox -- Capítulo final parte 3
O clima entre os acionistas era
amistoso. Todos se mostravam felizes e apoiavam a fala do conde. Acreditavam
piamente que a união entre as duas mulheres seria uma ótima forma para
conseguir elevar ainda mais o patamar da grande empresa.
Natasha ouvia as palavras do
Vallares e vez e outra mirava o perfil delicada da amada neta de Nicoaly. Sabia
que ela estava explodindo de raiva por dentro, conseguia ver isso através das
lentes transparentes de aro dourados. Sabia que por trás daquele rosto doce e
gentil havia uma personalidade tão forte que poderia simplesmente se negar a
fazer o que fora dito pelo avô, mas também conhecia o amor e o respeito que ela
tinha pelo aristocrata, então com certeza ela apenas faria um gesto de
assentimento.
Observava a forma elegante que ela
se vestia, parecia aquelas modelos que apresentavam trajes de empresárias.
Mexeu-se e por acidente sua perna
tocou a da trapezista que lhe enviou um olhar mortal.
A circense ouvia as palavras dos outros,
mas apenas em sua cabeça reverberava o que fora dito anteriormente:
-- Disso não haverá dúvidas! – O
conde dizia. – Agora mesmo as duas se reunirão para trocar todas as informações
necessárias, afinal, Natasha agora deve lidar com a presidente da companhia,
serão as duas que acertarão todos os pormenores. – Fez um gesto com a mão. –
Aos outros, sigam comigo para o nosso coquetel, depois as duas se juntarão ao
nosso comitê.
Aquilo parecia uma brincadeira de um
gosto muito amargo, afinal, todos sabiam do que se passara entre as duas
mulheres, todos conheciam aquela história desde o início dos conflitos, mas
também sabiam que estavam separados e seria um pouco lógico que não houvesse
entre elas tanto ressentimento, pelo menos por sua parte, pois ao fitar a ruiva
não encontrava nada que pudesse denunciar algo desse tipo.
Mais um dos sócios falava, o
presidente do conselho, mas ela não ouvia mais nada, apenas mirava as unhas bem
feitas e se imaginava destruindo-as pouco a pouco para conter a ansiedade.
-- Nosso comitê já escolheu quem
apresentara o prêmio anual que sempre presenteamos nossos colaboradores e
clientes.
Valentina encarou o amigo íntimo do
avô, também era conde e sempre a tratava com muito tato e respeito. Já era
idoso e fazia parte dos membros de honra.
-- Acho que a senhorita Vallares e a
senhorita Valerie farão um trabalho perfeito e as belezas das duas será um
colírio para os olhos que verão a cerimônia.
Sob aplausos, a trapezista tentava
sorrir, mesmo que estivesse com vontade de sair daquela sala e deixar todos
falando sozinho.
-- Bem, esperamos vocês no coquetel.
– Nicolay completou.
Pouco a pouco todos saiam, mas antes
passaram pelas duas mulheres para congratulá-las pelo trabalho que fizeram.
Logo as ex-amantes estavam sozinhas.
Ana entrou. Sentia a tenção
presente, mas apenas continuava esperando pelas ordens.
Valentina estava sentada tão ereta,
exibia aquela pose e membra da aristocracia. Seus olhos olhavam, mas não
pareciam estar vendo nada.
Por que tudo de repente saia do rumo
perfeito que tomara?
A Valerie fitou o perfil que parecia
inflexível, depois fitou a secretária, retirou o pen drive do bolso.
-- Podemos usar o seu notebook? –
Indagou já tocando no objeto. – Ele já está conectado, seria menos trabalho.
-- Não! – A morena respondeu indo
ocupar a cadeira que o avô sentara e levando consigo o note.
A secretária estava lá parada,
esperava pelas ordens da chefe e chegou a ter vontade de rir pela expressão
deslocada que a neta da duquesa exibiu.
A ruiva se levantou e seguiu até a
pasta, tirando de lá um computador portátil, depois se posicionou diante do
projetor para fazer a conexão sem fio.
A circense permanecia com a
expressão totalmente fechada. Havia um total desprazer em seu rosto e ela não
parecia interessada em disfarçar seu desgosto em estar ali na presença da
arquiteta.
-- Nessa pasta você poderá
acompanhar todas as planilhas. – Natasha dizia enquanto mirava a tela.
Valentina olhou para o telão,
observava os gráficos com atenção. Agora entendia a euforia de todos, realmente
a ruiva tirara leite de pedra em todo aquele tempo. Os números eram bastante
expressivos, mesmo assim não se daria por vencida.
-- Ainda só vemos números, quando
haverá provas concretas?
Natasha se inclinou um pouco na
cadeira e esboçou aquele sorriso que costumava dar quando dominava a situação.
-- Se a senhorita é a presidente da
empresa deve ter recebido os e-mails mandados por minha secretária com os
proventos, mas como imagino que deve ser muito ocupada, não deve ter tido tempo
para conferir pessoalmente.
A circense mordeu a língua para não
responder de forma grosseira.
-- Ana, você teve acesso a esses
correios eletrônicos? – Questionou à secretária.
-- Sim, sim, todos foram repassados
pela assistente da senhorita Valerie.
-- Ah, sim, a Rebeka... – Anotou
algo no papel e voltou a fitar a planilha. – Acesse a conta, lá ficará mais
claro e poderei ligar as informações do seu impecável infográfico.
A arquiteta fez um gesto afirmativo
com a cabeça e logo acessava, explicando com maestria tudo e fazendo o
cruzamento de informações. Era notória a forma que ela trabalhava, seu talento
para os negócios era visível nas explicações de cada estratégia tomada no
decorrer dos dez meses.
Sua atenção tinha sido fisgada por
meio às narrativas sobre os negócios, as pesquisas feitas e o público alvo que
mais buscava pelo produto. Natasha exibia as amostras, as imagens do empreendimento,
as instalações, levando-as a um verdadeiro tour pelo lugar e Valentina sabia
que aquilo fora projetado por ela, via os detalhes em cada passada, via a marca
da neta rejeitada de Isadora e seu talento e inteligência privilegiados.
Vez e outra parava para olhar a
ruiva que fazia questão de explicar todos os pormenores, era bastante
detalhista e seria praticamente impossível que alguém não entendesse tudo o que
ela dizia.
-- A diretoria fará uma reunião por
webconferência, o convite já fora mandado para todos e acredito que o seu
também tenha chegado.
A trapezista fitou a secretária que
fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Todos os lucros estão nessa conta
e tem até a data de hoje, no horário da meia noite para ser revertido para a
sua empresa, porém antes vocês precisam checar se todos os números do balancete
estão batendo, assim poderão fazer uma possível contestação. – Disse encerrando
a apresentação. – Todos esses arquivos já foram repassado para todos.
-- Bem, esse não me foi repassado! –
Disse com segurança.
-- Talvez porque esteja com o conde
e com o Nícolas.
Valentina exibiu um sorriso cheio de
sarcasmo.
-- Acho que deve saber que sou a
presidente da instituição, que esses documentos devem chegar também a minha
pessoa, não só os simples e-mails com seus extratos de contas.
Natasha arqueou a sobrancelha em
provocação, mas acabou ficando em silêncio e logo começava a digitar
rapidamente. Alguns segundos se passaram e ela levantou a cabeça falando com a
secretária:
-- Veja, Ana, se na caixa eletrônica
da nossa presidente chegou os documentos de suma importância? – Disse
levantando e guardando o material na bolsa de couro.
-- Sim, acabou de chegar. – A
assistente confirmou.
-- Então a senhorita presidente
poderá se debruçar sobre as quase mil páginas de relatório, por cada mês. –
Disse com um sorriso. – Tenha um bom-dia e até mais.
Valentina apenas permaneceu no mesmo
lugar, enquanto tamborilava os dedos contra o tampo da mesa.
Por que aquela mulher retornara?
Qual o interesse dela em retornar ao
país depois de tanto tempo fora?
Voltou a abrir o notebook e acessou
o e-mail e logo aparecia o arquivo.
Havia muita coisa para ser lida,
muita coisa para ser analisada, talvez precisasse da ajuda da secretária.
Mirou com atenção a assinatura da
Valerie e logo abaixo da assistente dela.
Relanceou os olhos em irritação.
-- Preciso que me ajude. – Falou
olhando para Ana. – Espero que consiga colocar os pontos principais.
-- Eu acho que essa parte não será
necessário, acabei de ver outro e-mail chegar da assistente da senhorita
Valerie, há um resumo de tudo e pelo que vi parece bem claro em seus pontos.
Valentina viu o arquivo que fora
mandado e soltou um longo suspiro.
-- Mesmo assim, quero ver tudo com
cuidado. – Disse levantando. – Avise ao meu avô que não poderei comparecer ao
coquetel, começarei a trabalhar nesse relatório agora mesmo.
Ana a viu sair e soltou a respiração
que prendera durante todo o tempo que estivera ao lado das duas mulheres na
sala. Era possível sentir a tensão que caia entre elas, como pareciam frias e
cheias de cerimônias. Quase riu quando a chefe se negou a emprestar o
computador portátil, mas conseguira se controlar.
Natasha não se demorara no coquetel,
apenas passou para se despedir de todos. Estava ansiosa para seguir até a
construtora.
Seguiu pelos corredores da empresa,
pensava na reunião que tivera há algum tempo e recordava da expressão da morena
durante todo o tempo, agia com superioridade, como a futura condessa dos
Vallares, exibindo seus traços aristocráticos, sua autonomia, segurança e
arrogância em alguns momentos.
Palhacinha de circo!
Disse ao apertar o botão para tomar
o elevador e para sua surpresa lá estava a circense.
Três encontros para uma manhã só era
bastante para seu controle.
Entrou e ficou parada, mirando o
grande espelho e vendo-a em seu traje de mulher de negócios.
Desejou falar com ela, na verdade,
ansiava por se aproximar, mas sentia a barreira que fora levantada entre elas e
isso era perturbador, ainda mais pelo último encontro que tiveram, ainda a
sentia tremer em seus braços depois do atentado de Nathália.
Observou-a arrumar o penteado
impecável e voltou a prestar atenção aos trajes.
A blusa de ceda branca tinha mangas
longas e nos punhos se fechavam com fios dourados. Os dois primeiros botões
estavam abertos e era possível ver o cordão com seu nome em diamantes. A saia
era justa e chegava no joelhos, usava meia calça e saltos. Os cabelos estavam
presos em um coque e os olhos sempre protegidos pelos óculos elegantes.
Viu-a atender o celular e logo ouvia
a voz bonita falar com a namorada.
Natasha cruzou os braços, tentava
manter a tranquilidade, sabendo que logo chegaria ao estacionamento, mas ela
saiu antes e não dissera uma única palavra, apenas saiu falando no aparelho
móvel com toda a arrogância do mundo.
A ruiva se encostou na parede e
respirou fundo, enquanto cerrava os dentes demoradamente.
-- Mas quando você retorna? – A
morena questionava à namorada.
Alissa era prolixa, não conseguia ir
direto ao assunto e antes de lhe responder explicava coisas desnecessárias.
A Vallares olhou para trás por sobre
o ombro, mas o elevador já tinha se fechado. Não acreditara quando viu a ruiva
entrar, quase apertou o botão para fechar as portas, não suportava ficar no
mesmo lugar que ela.
Seguiu até a recepção.
-- Amor, estou fazendo tudo para ir
na sexta, mas ainda não garanto nada.
-- Não deve esquecer que na sexta
haverá o baile de prêmio anual e gostaria muito que estivesse ao meu lado.
-- Eu sei e farei o possível para
isso, apenas tenha um pouco de paciência.
Valentina suspirou.
Queria contar para a namorada sobre
o retorno da ruiva, mas acabou ficando calada e ouvindo ela narrar com
entusiasmo tudo o que estava acontecendo nos últimos dias.
Alguns minutos se passara até a
chamada encerrar.
Ficou olhando o aparelho, fitando-o
com atenção. Talvez as coisas pudessem ser mais fáceis se estivesse com a
namorada ao seu lado.
Caminhou até o balcão e falou com a
recepcionista sobre o almoço que deveria ser servido depois do coquetel.
Poderia ter pedido para Ana fazer
isso, mas desejou sair do andar para não correr o risco de dar de cara com a
Valerie, mas para seu azar a viu bem antes.
Ficou um pouco lá parada, tentava
controlar os batimentos do coração que continuavam acelerados.
Recordou ver a Natasha digitar e lá
estava a aliança.
Por que ela continuava a usá-la?
Ah, sim, decerto, fazia-o para que
todos pensassem que era comprometida e não cobrassem nada, além do sexo que ela
gostava de oferecer.
Sentia a raiva queimar em seu peito
e ficava a pensar como poderia trabalhar ao lado daquela mulher quando nem
mesmo conseguia ficar ao lado dela sem odiá-la.
Seguiu pelo hall e chegou a
lanchonete.
Sentou-se em uma mesa reservada e
logo uma garçonete se aproximava.
-- Por favor, traga-me um chá de
camomila.
A moça anotou e se afastou com um
sorriso gentil.
Sentia-se acelerada e não
conseguiria se concentrar em nada daquele jeito.
Fechou os olhos por alguns segundos
e viu os verdes a mirá-la, viu os lábios entreabertos, depois o sorriso cheio
de significados.
Por que tinha que ter conhecido
Natasha Valerie?
Essa pergunta voltava a martelar em
seu cérebro depois de quase um ano. Chegara a pensar que estava livre,
respirava de forma tranquila, até vê-la na festa, até descobrir que estava de
volta com toda sua gama de emoção, com toda sua presença forte e cheia de
poder.
Fechou as mãos ao lado corpo.
Não, não. Aquilo era apenas a
surpresa por tê-la reencontrado, logo se acostumaria e tudo voltaria ao normal
de antes. Com esse pensamento ficou mais tranquila.
Rebeka chegou à construtora pela
tarde e foi muito bem recebida.
Seguiu até o último andar e logo a
secretária da Valerie lhe anunciava, não demorou para receber permissão para
entrar.
Natasha estava sentada na banqueta e
desenhava, parecia bastante concentrada.
-- Recebi ligações da empresas
Vallares. – A loira foi logo dizendo ao se aproximar. – A presidente deu ordens
para que eu me encontrasse com a Ana. – Dizia, enquanto olhava com atenção as
formas desenhadas pela bela mulher. – Não me diga que já a encontrou e eu não
estava presente? – sentou ao lado dela.
A ruiva fitou-a por alguns segundos
e depois voltava a prestar atenção no trabalho.
-- Deve ajudar a todos para que
entendam o relatório.
-- Mil páginas por mês? – Falou
abrindo os olhos em horror. – Eu já fiz, você me fez fazer isso e agora terei
que fazer novamente? Quem a Vallares pensa ser?
-- Ela é a presidente da companhia.
-- Ela já sabe que você é a sócia
majoritária dos investimentos? Que se não fosse por ti, a crise teria levado à
falência a empresinha dela?
Natasha soltou um longo suspiro.
-- Rebeka, faça apenas o que deve
ser feito, vá até lá e ocupe a sala que seria destinada a mim, represente-me.
-- Pelo que vejo ela não sabe, mas
não falarei, pois sei que você é bem capaz de torcer meu pescoço se eu abrir a
boca. – Deu-lhe um beijo na face. – Nossa, como você pode ser tão linda hein? –
Pousou a mão nas coxas da empresária. – Por que não brincamos um pouco, estou
disposta a ser usada e depois jogada fora, nem ligo, o importante é o prazer.
Natasha gargalhou, fitando-a.
-- Você deveria parar de gracinha e
fazer o que deve ser feito.
A loira deu de ombros.
-- E como foi ver a sua palhaça de
circo?
A ruiva continuou o trabalho e não
respondeu.
-- Ela, com certeza, não teve
surpresas, já tinha te visto no dia do noivado. – Disse, enquanto pegava o
celular e ficava a mexer.
A empresária fitou a assistente.
-- Sim, ela te viu e me viu, quase
me bateu na frente de todos, só porque eu a provoquei... Acho que ela tá com
ciúmes de nós duas... coitada, nem sabe que você virou freira.
A Valerie ficou pensativa, mas
apenas voltou a adverti-la:
-- Acho melhor você deixa-la em paz.
-- Eu não fiz nadinha... Achei até
que ela ainda estava minha amiga, afinal, quando você esteve no hospital, ela
me tratou super bem... Na festa quase me fuzilou com aqueles olhos negros.
Natasha levantou e foi buscar outros
lápis.
Estava surpresa pelo fato de
Valentina tê-la visto antes, decerto ela não se aproximara, pois sabia que se
encontrariam. Em parte aquela informação era desagradável, pois conseguia ter a
certeza do desagrado que sua presença causava a outra.
-- Ela estava com a namoradinha,
dançavam e quando te viu ousou a questionar o que fazia no país.
A arquiteta voltou a sua posição e
retornou ao desenho.
-- Não vai falar nada?
-- O que deseja que eu fale? Eu sei
que ela tem namorada, sei que está feliz e me sinto bem com isso.
-- Eu não sou sua terapeuta, te conheço
bem e sei que está machucada com toda essa situação.
A ruiva umedeceu os lábios
demoradamente.
-- O que deseja que eu faça?
-- Que lute, que acorde e veja que a
condessinha te ama e por isso ficou tão furiosa em te ver. É muito fácil fingir
que tudo está bem quando se está longe, mas perto é outra coisa, decerto, ela
está remoendo sua partida até hoje.
-- E por que estaria? Fiz apenas o
que ela me pediu, mantive-me longe por quase um ano, agora apenas desejo
recuperar o tempo que perdi com meu filho.
-- E não vai lutar pela palhaça?
A Valerie soltou um longo suspiro.
Não podia voltar com tudo aquilo,
sabia como fora difícil se manter distante, como morrera um pouco a cada dia,
como tivera que ser forte para não ligar, para não pedir uma chance. Ainda se
recordava de questionar a Helena sobre a vida da mulher que amava, mas deixara
de fazê-lo quando ficou sabendo que estava refazendo a vida ao lado da
advogada.
-- Esqueça isso de uma vez, não irei
atrás da Valentina nesse sentido, tampouco vou me tornar um tormento na vida
dela mais uma vez.
-- Você é um tormento na vida dela,
porque a Vallares com aquele narizinho arrebitado não engana ninguém, está na
cara que ainda sente algo por ti, está na cara que vive esse romance para
tentar te esquecer.
Natasha se levantou irritada,
enquanto passava a mão pelos cabelos.
-- Já chega de falar nela, eu já
disse que não haverá nada, tudo está bem no passado e continuará lá para todo o
sempre.
A loira mordiscou a lateral do lábio
inferior, mirando-a com olhar safado.
-- Então vamos transar? Não precisa
ser apenas nós duas, tenho uma amiga que está louca para se entregar a ti...
Ela é linda, uma modelo... Poderíamos nos divertir.
-- Você é louca!
Rebeka desceu da banqueta e seguiu
até ela, abraçando-a pelo pescoço.
-- Meu amor, você está vivendo sem
sexo por muito tempo e isso não é bom, ainda mais para alguém tão passional. –
Acariciou-lhe a face. – Se não desejar, eu não participarei, mas aceite a minha
amiga, ela não ficará te cobrando nada no final, sabe que seria apenas sexo e
está disposta a isso.
A Valerie gargalhou.
-- Está trabalhando como cafetina
agora?
-- Não, apenas estou preocupada
contigo, sei que essa situação não é boa para ti, tenho certeza de que está
sofrendo por dentro ao reencontrar a única mulher que conseguira amar, estou
aqui para te apoiar e te ajudar... Aprendi a ter uma admiração enorme pela
Natasha...
A ruiva lhe tomou as mãos,
beijando-as delicadamente.
-- Você se tornou um apoio tão
grande para mim em todos esses meses... Não tem ideia, é uma mulher linda,
divertida, sexy...
-- mas não sou a Valentina. –
Beijou-lhe os lábios. – Precisa reagir, baby, você á toda poderosa Valerie,não
deve esquecer isso. – Afastou-se pegando a bolsa. – Vou ao encontro da
presidente, ela precisa de mim.
A arquiteta a viu deixar a sala e
ficou lá parada, pensava na informação de que a ruiva a tinha visto na festa.
Voltou a sentar e ficou a observar o
projeto que estava começando a trabalhar.
Rebeka era louca, tinha cada ideia.
Esperava que ela não arrumasse problemas com a Valentina, pois não desejava ter
que bater de frente para defende-la, pois não havia dúvidas da importância da
loira na administração dos negócios.
Já era quase oito horas e Valentina
continuava na empresa. Examinava todos os relatórios, buscava em meio a tantos
números algo que pudesse contestar, mas estava quase certa da precisão de tudo
que fora lhe entregue.
Seguiu para as projeções e foi
quando viu uma informação de ações da cada um dos sócios.
Ligou para a secretária e logo Ana
entrava na sala.
-- Pois não? – A jovem falou
prestativa.
-- Você sabia sobre o número de
ações que a Valerie mantém do novo empreendimento?
A jovem assentiu afirmativamente.
-- A assistente dela me confirmou
isso ainda pouco.
Valentina soltou um longo suspiro,
enquanto mirava a tela do computador, parecia ponderar diante daquele fato
inusitado. Não estava sabendo disso. Na verdade, Nícolas quem cuidava de todas
as informações relacionadas ao Oriente, não buscava questionar, pois não lhe
interessava saber nada que tivesse a ver com a ruiva, mas agora se preocupava
com o que via.
-- Rebeka ainda está aí?
-- Sim!
A morena girava a caneta dourada
entre os dedos.
Claro que não queria ver a amante da
ex, mas talvez fosse necessário recorrer a ela ou teria que falar direto com a
ruiva, coisa que não desejava mesmo.
-- Fale para ela vim aqui agora
mesmo.
Ana assentiu e saiu rapidamente.
Continuou a examinar tudo com
cuidado, anotando os tópicos que lhe deixara confusa. Não demorou muito e lá
estava a loira com seu sorriso provocante.
Apontou a cadeira para que ela
sentasse.
-- O que deseja, presidenta? – A
assistente questionou ao se acomodar. – O que quer de mim?
Valentina respirou fundo, depois
falou:
-- Como a sua chefe conseguiu todas
as ações que pertenciam a outros acionistas? – Entregou-lhe uma pasta. – Aqui
está bem claro o nome de cada membro do conselho e distribuição de ações.
Rebeka nem mesmo pegou o que fora
entregue.
-- A Natasha comprou! – Falou com um
sorriso. – Sim, seus acionistas se amedrontaram diante do novo mercado e
chegaram a ameaçar retirar os investimentos e se isso acontecesse, não só o
novo empreendimento entraria em falência, como esse seu império de boneca.
A neta do conde lhe enviou um olhar
de advertência.
-- E como não fiquei sabendo desses
fatos?
-- Não sei, tudo fora repassado, seu
pai e seu avô sabem de tudo, foram informados por mim e pela Nath em inúmeras
web conferências, se não te passaram, deve haver um motivo, então só eles podem
te responder.
A morena parecia pensativa, mas logo
voltou a falar:
-- Então a sua chefe tem mais ações
também aqui na empresa principal?
-- Sim, na verdade, a minha linda
chefe, é a sua chefe também... Seu pai abriu mão das ações para ela, assim
pagou em parte o que devia pela Valerie ter salvado o patrimônio da empresa...
– Bocejou. – Acho que sua família não é tão boa para cuidar dos negócios.
-- Não acredito! – Disse de forma
irritada. – Meu avô não me enganaria desse jeito. – Levantou-se. – Acho que sua
Valerie deve ter fraldado esses documentos, isso sim.
-- Ah, por favor, condessa, não me
diga que acredita nessas barbaridades que estão saindo pela tua boca? – Meneou
a cabeça negativamente. – Você conhece a Natasha, sabe muito bem que ela não
faria algo assim, ela não precisa disso, a construtora já lhe dar muito lucro,
usa essa sua empresa como passatempo, nada mais que isso, então deveria ser
grata a ela se está sentada nessa cadeira.
A morena odiava a forma que a outra
defendia a amante.
-- Saia da minha sala agora mesmo! –
Falou por entre os dentes. – Não preciso mais dos seus serviços.
-- Sabe que não estou com vontade...
– Girou de um lado para o outro. – Eu acho bom que a Natasha consiga arrumar
uma mulher logo e jogue na tua cara, te faça ver como dói quando se é
desprezada.
A morena cruzou os braços sobre os
seios.
-- Ah, por favor, estamos falando de
negócios e não dessas besteiras.
-- Ah, claro, para você tudo não
passa de bobagens, mas quando você se tornar passado na vida da ruiva, eu vou
querer saber como vai ficar chorando pelos cantos por não ter aproveitado as
chances que teve.
-- Saia! – Falou mais alto.
-- Pois agora não sairei, e te digo
mais, se a Natasha aceitar sair com a minha amiga eu vou torcer para que se
apaixone, assim deixa essa mau gosto que foi se apaixonar por ti no passado,
pois se ela agiu com arrogância, você age com infantilidade, fingindo que tudo
está bem, que sua relação é perfeita, mas tenho certeza de que desde que a viu,
continua a suspirar por ela nos recantos da sua mente.
Os olhos negros se estreitaram
ameaçadoramente, enquanto fechava as mãos ao lado do corpo.
-- Saia da minha sala agora mesmo! –
exigiu.
Rebeka se levantou apoiando as mãos
no tampo da escrivaninha.’
-- Você é uma tola, passou dez meses
e não conseguiu esquecer a neta da duquesa e agora fica procurando acreditar em
coisa que ninguém acreditaria... Pois é, a Natasha é a dona disso tudo aqui e
você só é presidente porque ela votou a seu favor, pois os outros sócios foram
totalmente contra a sua gestão, não acreditavam que uma palhaça estúpida
poderia fazer um bom trabalho.
A morena deu a volta na mesa e
caminhou até a porta. Esperava que o chá que bebeu ainda estivesse a fazer
efeito.
-- Saia!
A loira se aproximou com um sorriso
cheio de deboche.
-- Volto a te perguntar: Você já
superou a forma como a Natasha transa? Já conseguiu superar aquele beijo
exigente... A língu...
Antes de terminar, sentiu a bofetada
forte em sua face e não aceitou a afronta, partindo para cima da neta do conde,
segurando os cabelos bem arrumados. Não demorou para as duas mulheres estarem
rolando pelo chão, pegando-se violentamente, arranhando-se.
A morena se pôs por cima e parecia
não ter dó em estapear a face da loira que reagia cravando as unhas em sua
pele.
-- Cachorra! – A circense gritava.
-- Condessa frustrada...
Ouvia-se os gritos das duas, os
xingamentos, pareciam prontas para extravasar as raivas não de agora, mas que
se acumularam com o tempo
Valentina estava totalmente fora de
controle e logo a loira apenas tentava se defender das investidas, mesmo assim
não deixava de provoca-la, usava o nome da Valerie propositalmente sabendo que
conseguiria despertar a fúria da outra.
Ana entrou e ficou perplexa com o
que se passava, levou a mão à boca em perplexidade.
Nícolas também apareceu e correu
para separar as duas, segurando a filha pela cintura, tentava tirá-la de cima
da assistente de Natahs, fora um trabalho difícil, mas conseguiu, enquanto
Rebeka exibia uma sorriso vitorioso arrumando as roupas e os cabelos.
-- Saia! – O filho do conde ordenou
à loira. – Vá embora. – Pedia, pois estava sendo difícil segurar a circense que
esperneava. – Vai!
A neta do conde esperneava tentando
se livrar dos braços dos pai, enquanto Rebeka continuava com os deboches.
-- Não sei o motivo de ficar tão
bravinha, só falei a verdade, deveria se sentir grata.
Valentina parecia uivar como um cão
descontrolado, tentava a todo custo se livrar.
Ana saiu rebocando a loira, enquanto
o primogênito do Vallares tentava controlar a filha.
-- Solte-me! – Ela exigia. –
Deixe-me!
Nícolas o fez, mas seguiu
imediatamente até a porta, temendo que a morena fosse atrás da outra.
Viu-a tentar arrumar o penteado que
antes estava impecável e agora se mostrava destruído. A blusa de seda estava
rasgada nas mangas e havia arranhões em sua face.
-- Valentina, meu Deus, o que se
passou aqui? – O homem questionou sem fôlego. – Nunca pensei que presenciaria
uma cena dessas.
A trapezista umedeceu os lábios
demoradamente, os olhos negros estavam meo chorosos, só depois respondeu:
-- Ela me provocou, não a quero
aqui, não a quero na empresa.
-- Calma, não precisa se
descontrolar assim, meu amor. – Apontou para ela sentar. – O que ela disse para
te irritar tanto?
Valentina respirou fundo, mas nada
falou. Tentava retomar o controle, nem mesmo sabia o motivo de ter reagido
daquela forma, mas não se arrependia, ao contrário, desejava ter batido mais.
Fitou o pai e depois falou:
-- Isso não vem ao caso, apenas
perdi a cabeça, mas sou de carne e osso como todo mundo, então aconteceu. –
Sentou-se e continuou -- Gostaria que me explicasse o motivo da Valerie ter um
número maior de ações do novo empreendimento que todos os outros sócios.
O empresário ocupou a outra cadeira,
não respondeu de imediato, esperando alguns segundos para fazê-lo. Afrouxou a
gravata, parecia ponderar a melhor forma de dizer a verdade, o que não fez
antes.
Encarou os olhos negros idênticos
aos seus e achou graça de ela ter recuperado a postura de mulher de negócios
depois da briga.
Suspirou e logo começa a explicação.
-- Quando a Verônica morreu o seu
avô descuidou dos negócios, eu me afastei e me centrei nas minhas próprias
coisas, na verdade, passei muito tempo me lamentando e culpando meu pai pela
minha covardia de não assumir a sua mãe – Cerrou os dentes demoradamente --
então contraímos dívidas. – Mirou os olhos negros. – Temos bastante prestígio e
imóveis, usamos alguns para saldar alguns comprometimentos, mas os sócios
ficaram temerosos, por isso o conselho observa tudo de perto... – Passou a mão
pelos cabelos. – Quando o empreendimento fora lançado no Oriente, alguns
aceitaram investir, mas com o tempo, quiseram retirar o capital e se isso
acontecesse, perderíamos praticamente tudo, então a Valerie comprou as ações,
investiu pesado e fora graças a ela que nossa empresa começa a levantar. –
Suspirou. – Viu hoje o entusiasmo de todos quando ela esteve presente, agora
acreditam, desejam retomar os investimentos, pois a Natasha conseguira fazer o
que todos duvidaram, fez surgir uma empresa poderosa e ainda mais rica do que
um dia foi a nossa.
A trapezista ouvia tudo em total
perplexidade.
Fora realmente uma tola ao duvidar
do que estava escrito naquele território, mesmo assim estava irritada por ter
sido colocada fora de todos os problemas.
-- E por que não me falaram?
-- Para que não se preocupasse,
acreditamos que a neta da duquesa se sairia bem e tudo voltaria ao normal.
A morena fez um gesto de
assentimento com a cabeça, depois mirou a tela do computador e viu os gráficos.
-- Então ela é a dona de tudo?
-- Sim, na verdade, ela tem a
maioria, mas o fez apenas para nos ajudar.
A morena se levantou, espalmando as
mãos sobre a mesa.
-- Deveria ter me contado... –
Mordiscou o lábio inferior. – Então essa papelada, esses relatórios, todo esse
material não tem nem motivos para serem examinados, afinal, ela poderia fazer o
que desejasse e não teria que justificar nada.
-- Não é assim, filha, todos somos
sócios e claro que ela precisa mostrar os balancetes.
Valentina meneou a cabeça
negativamente.
-- Só falta me dizer que fui
escolhida como presidente por vontade dela.
Nícolas cruzou as pernas.
-- Na verdade, seu avô sempre
desejou que você fosse... Sabemos como se dedica aos negócios, vejo de perto
sua dedicação e como se esforça para aprender cada dia mais, então seria óbvio
que fosse a representante dos nossos interesses.
-- Eu tive o voto da Valerie? –
Indagou sem enrolação.
O Vallares fez um gesto afirmativo
com a cabeça.
A morena assentiu e logo pegava a
bolsa.
-- Vou para casa, estou cansada,
preciso de um banho e de um bom descanso. – Passou por ele. – Boa noite, papai.
O empresário a viu deixar a sala,
sabia que ela estava decepcionada por não ter sido informada do que se passava,
mas não imaginara que tudo a deixaria tão abalada.
Observou a bagunça no recinto.
A volta da ruiva tinha mexido
bastante com a filha, conseguia ver isso claramente, mesmo que ela fingisse que
tudo estava bem, sabia que ela ficara balançada diante da presença da mulher
que amara tanto um dia.
Natasha chegou cedo e ficou com o
filho.
Agora estava deitado com o ruivinho
na rede. Tinha lido uma história para ele, agora o pequeno dormia agarrado em
seu pescoço.
Ele já estava bastante esperto,
questionara algumas vezes pela Valentina, chamara por ela. Sabia que ambos se
amavam de forma completa.
Beijou-lhe os fios vermelhos dos cabelos
que faziam cachos.
Era bom estar ali, era bom tê-lo ao
seu lado, sentira falta e não estava disposta a fugir novamente, não se
afastaria mais uma vez. Apenas viveria seus dias ao lado daquela criança, o
melhor de toda aquela história.
Ouviu passos e Helena se aproximava
com aquele sorriso maternal.
-- Acho que já deve coloca-lo no
berço, está tarde e aqui está frio. – Puxou uma cadeira e sentou. – Ele adora
esses momentos ao seu lado.
-- Sim, gosta mesmo e eu ainda mais.
– Segurou-lhe a mãozinha, beijando-a. – É tão lindo. Parece um anjinho ruivo.
-- Igual a você! – disse com um
sorriso. – E como foi o trabalho hoje? – Indagou com inocência.
Leonardo comentara que a ruiva tinha
ido até a empresa Vallares e ficara cara a cara com a neta do conde.
-- Bem, corrido, mas consegui chegar
cedo em casa. – Falou com pouco caso.
-- E viu a Valentina? – Questionou ansiosa.
O maxilar da arquiteta enrijeceu,
não queria falar sobre esse assunto, mas sabia que Helena não descansaria
enquanto não ouvisse o fato.
Observou o quadro colorido que
enfeitava quase toda a parede, parecia distraída na arte, mas depois falou:
-- Sim, a vi, ela também me viu, não
conversamos sobre nada a não ser negócios, não temos outro tipo de assunto para
tratarmos.
-- Você acredita nas suas palavras?
– A senhora Antonini questionou com calma.
A ruiva se sentia cansada e não
desejava entrar naquele assunto, sabia que seria um gasto de energia
desnecessário, já sofrera muito, não que fosse a vítima de toda aquela
história, mas tivera que arcar com todas as consequências que tivera que
enfrentar durante muito tempo.
Lembrava-se das primeiras semanas na
terra desconhecida. De como retornara para dentro de si como sempre fora quando
estivera sob as regras dos Hanmintons. Sentia-se vazia novamente, depois de ter
provado a emoção mais profunda que um dia imaginara, voltara a ser a mesma
criança que ficava olhando o mar pelas frestas daquele portão deteriorado
imaginando que alguém iria busca-la e passara os dias e viu que não haveria
isso.
-- Quando a vi hoje tive a impressão
que o mundo voltava a ser colorido... Foi como se a minha alma retornasse ao
meu corpo, talvez a Rebeka esteja certa quando diz que virei uma espécie de
robô... – Esboçou um sorriso triste. – Vi os olhos negros e sim, eu continuo
amando-a, na verdade, apenas aumentou o sentimento que trago dentro de mim...
porém, Helena, não tentarei novamente, não pedirei ou implorarei que me perdoe,
pois essa parte já fiz e não adiantou... – Umedeceu os lábios demoradamente. –
Não é fácil, mas estou lutando...
A esposa do arquiteto viu os olhos
verdes brilhando em lágrimas, aproximou-se e depositou um beijo em sua face.
-- Você é uma garotinha linda e uma
mulher maravilhosa... – Arrumou-lhe as madeixas. – Eu sei que ainda vai ser
muito feliz, disso não tenho dúvidas.
Natasha permaneceu ali, com a cabeça
encostada a daquele ser tão perfeito que estava sempre a lhe apoiar desde quando
chegara na mansão da duquesa.
Sentia o carinho na nuca e fechou os
olhos.
Sabia que não seria fácil lidar com
os sentimentos, ainda mais porque eles pareciam maiores, uma verdadeira
fortaleza para combater.
Valentina seguiu direto para o
quarto ao chegar à mansão Vallares.
Já era tarde, então era provável que
o avô estivesse lendo na biblioteca como era de costume.
Ao entrar nos aposentos seguiu
direto para o banheiro, despindo-se das roupas e vendo com desgosto as marcas
que tinha em sua pele da briga que fora travada com a insuportável Rebeka.
Mirou o reflexo no espelho e via
como os olhos pareciam ainda mais escuros.
Se o pai não tivesse aparecido teria
batido ainda mais naquela desavergonhada, pois não suportava mais suas provocações,
suas falas cheias de safadeza, ainda mais quando relacionava ao nome da
Valerie.
Irritada, derrubou todos os
cosméticos que estavam sobre a banqueta.
Por que essas duas mulheres
retornaram para a sua vida?
Tudo estava indo muito bem até elas
voltarem e de repente tudo que era calmaria se transformava naquela tempestade
terrível e incontrolável.
Apoiou as mãos na pia e sentiu a dor
no punho que já tinha machucado antes e depois do que se passara se mostrava
ainda pior.
Voltou a observar a própria imagem.
Viu as bochechas coradas, os arranhões, os cabelos em desalinho. A respiração
estava acelerada, movimentando os seios em um ritmo maior.
Fechou os olhos como se não
suportasse ver a própria imagem e logo via outros olhos que não eram os seus.
Tinha a impressão que a ruiva se
projetava diante de si.
Não houvera provocações por parte da
arquiteta em momento algum, apenas aquele jeito indiferente, perdido, frio,
passivo, diferente da explosão que era sempre quando se encontravam.
Recordava-se de quando estivera
apresentando, vez e outra flagrava a mesma expressão de antes e logo retornava
à máscara de indiferença.
Abraçou os próprios ombros, parecia
que de repente a temperatura tinha caído a ponto de congelar suas emoções.
Seguiu até o box, ligou as duchas e
colocou na temperatura fria, sentia os arranhões arderem, mesmo assim continuou
lá, como se aquilo fosse suficiente para lavar sua alma, suas frustrações, seu
descontrole.
Apoiou as mãos na cerâmica e
continuou ali, sentindo os cabelos sendo molhados, depois pegou o sabonete e
passou delicadamente por todo o corpo, lavou-se, depois pegou o roupão,
vestindo-o.
Seguiu até a pia e escovou os
dentes.
Não desejava comer nada, seu
estômago estava embrulhado, enjoada, a única coisa que desejava era dormir.
Retornou ao quarto e teve um susto
ao ver o conde lá, estava sentado na poltrona e folheava alguns documentos.
Fitou-o e depois seguiu até a cama.
Viu a bandeja com chocolate quente a
biscoitos caseiros, seus preferidos. Não falou nada, apenas deitou no leito,
cobrindo-se.
Não tinha interesse da falar, nem
explicar o que se passara naquele dia terrível.
-- O seu pai me ligou e me contou o
que aconteceu na empresa.
A luz estava acesa, então era
possível acompanhar o desagrado presente no olhar da circense.
-- Aconteceram muitas coisas hoje,
então precisa dizer exatamente o que fora falado.
Nicolay assentiu, sabia que ela
estava na defensiva.
-- Sobre as ações... – Mostrou os
documentos. – Sei que deveríamos ter falado quando surgiu o problema, mas você
estava começando a se adaptar aos negócios, seria crueldade envolve-la em erros
cometidos por mim e pelo Nícolas.
Valentina cruzou os braços.
-- E preferiu recorrer à Natasha? –
Questionou em sarcasmo. – Por favor, vovô, o senhor sabe tudo o que aconteceu
entre a gente, sabe como passei todos esses meses me livrando da presença
daquela mulher e de repente eu fico sabendo que meu cargo fora praticamente
dado por ela. – Falou exasperada. – Acha que devo fazer o quê? Ligar para ela e
agradecer?
-- Não, mas deve agir como adulta e
como uma mulher de negócios que é. – Levantou-se e seguiu lentamente até ela, sentando-se
na cama. – A Valerie pode ter votado em ti, mas ela o fez de maneira neutra,
pois acreditara que era a pessoa mais preparada para dirigir a companhia em um
momento de crise, fora por essa razão e não por nada relacionado ao
envolvimento que tiveram.
Valentina desviou o olhar e logo o
aristocrata lhe segurava o queixo e lhe fazia lhe encarar.
-- Você é uma mulher muito forte,
hoje naquela reunião mostrou seu valor, sua firmeza em dirigir a empresa...
Aqueles resultados foram conseguidos por você, o mérito é seu, o próprio
conselho admitiu como foram descrentes contigo e como agora percebiam que
estavam errados... Meu amor, estamos falando de negócios e não da sua vida
pessoal, precisa aprender a separar isso... – Acariciou-lhe os cabelos úmidos.
A morena permaneceu em silêncio por
longos segundos, apenas sentindo o carinho que o avô lhe fazia. Começava olhar
as coisas por um novo ângulo, talvez estivesse a entender que ele estava certo.
-- Eu estou muito orgulhoso de ti,
minha linda mocinha. – Beijou-lhe o nariz.
Um sorriso se desenhou nos lábios da
circense e logo ela recebia o abraço daquele senhor que parecia tão bravo, mas
que sempre agia com sabedoria e lhe confortava nos momentos difíceis.
Permaneceu ali durante alguns
minutos, sentindo as forças retornarem ao seu corpo, depois o encarou:
-- Obrigada, conde Vallares.
O aristocrata sorriu e se levantou.
-- Coma algo, não deve dormir de
estômago vazio.., Ainda mais que perdeu muita energia hoje, ainda mais com a
sessão de luta livre...
Valentina sentiu o rosto corar.
-- O seu pai também me contou sobre
essa parte e acredite, eu fiquei dividido entre rir e te dar uma bronca... Não
sei se conseguiria separar as duas feras, acho que sentaria e esperaria que
ambas cansassem e descobrissem que a violência não leva ninguém a lugar
algum... A não ser no hospital ou por último a um cemitério.
-- Ela me provocou... Desde o dia do
noivado do papai, aquela loira oxigenada vem tentando a minha paciência e hoje
conseguiu, acredite, não estou arrependida, espero que ela não ouse fazer
novamente.
O conde acabou rindo diante do
desabafar da neta.
-- Deseja que fale com ela?
-- Claro que não, eu mesma
resolverei.
-- Batendo se novo? – Questionou com
um arquear de sobrancelha.
-- Não... – Suspirou.
-- Que bom, pois não é um
comportamento interessante da presidente de multinacional... Graças a Deus a
Ane é muito discreta, quanto à Rebeka, tenho certeza que apesar daquele jeito
louco, ela não sairá espalhando o fato para ninguém.
A morena assentiu com a cabeça.
-- Agora coma e depois descanse,
temos muita coisa para fazer amanhã.
-- Certo, vovô!
O bom homem lhe soprou um beijo e
depois deixou os aposentos. Valentina olhou para o lanche e pegou a xícara e
bebeu um pouco do líquido delicioso. Sentia o sabor, como estava quentinho,
bebia devagar para não correr o risco de queimar a língua.
Ouviu o toque do telefone e logo
aparecia a imagem da namorada na tela do celular.
Tentara falar com ela várias vezes e
só agora ela retornava.
Respirou fundo, mas não fez menção
de atender.
Na verdade, não desejava falar com
mais ninguém naquela noite, queria apenas deitar e dormir para poder enfrentar
o novo dia.
Pegou o aparelho móvel e mandou uma
mensagem dizendo que depois ligaria, agora estava cansada.
Cobriu-se com o edredom e ficou lá
esperando que a cabeça parasse de pensar, só assim descansaria.
Na manhã seguinte, Natasha acordou
cedinho e saiu para correr.
Retornava à mansão quando encontrou
Rebeka a sua espera no portão da casa dos Antoninis.
Sorriu ao fita-la.
-- Qual é a graça? Também quero me
manter em forma. – Disse com um sorriso. – Tudo bem que atrasei um pouco, mas
também você desperta de madrugada.
A ruiva ajeitava o cadarço do tênis.
Sua perna que tinha tantos
problemas, agora parecia bem melhor. Submetera-se a um tratamento no Oriente e
sofria menos, até conseguia se exercitar normalmente.
Levantou-se e fitou a loira. Foi
naquele momento que viu as marcas de unhas em sua face e as roxões em seu pele
branca e delicada.
-- Isso foi alguma espécie de
sadomasoquismo? – Indagou preocupada.
A assistete relanceou os olhos em irritação.
-- Acontece que ontem eu acabei
saindo nos tapas com uma pessoa que tem a cabeça tão dura que não consegue
perceber que está errada.
-- E funcionou? Imagino se essa
pessoa saiu tão destruída como você.
Rebeka suspirou alto.
-- Acredita que quebrei minhas
unhas? Tinha acabado de fazer, paguei caro pela manicure.
Natasha continuou a alongar as
pernas e os braços.
-- E quem foi essa pessoa?
A assistente não respondeu de
imediato, seguiu acompanhando a empresária até o gramado, vendo-a deitar e
continuar a sessão de harmonizar os músculos.
A loira sentou-se, fitando a ruiva.
-- Você vai ficar uma fera quando eu
falar com quem me peguei ontem, eu sei que a culpa foi minha, provoquei-a até o
limite, mas eu não aguentava mais aquela sem sal e sem reação.
Natasha também se sentou. Havia um
vinco entra as sobrancelhas.
-- Quem foi?
A secretária deitou e começou a
fazer abdominais.
-- A sua amada Valentina!
-- O quê?
Em frações de segundos a Valerie
ouvia a secretária narrar com precisões de detalhes tudo o que se passou entre
as duas na noite anterior.
Natasha ouvia tudo com expressão de
pura surpresa. Certo que a neta do conde era esquentadinha, mas jamais
imaginaria que se deixaria levar pro provocações a ponto de partir para vias de
fato.
-- Só sei que ela me esbofeteou e
quando vi já estávamos no chão, ela sobre mim, puxando meu cabelos, e eu
tentando me defender arranhando-a. – Terminou a narração. – Uma cachorra...
Os olhos verdes se estreitaram em
irritação.
-- Isso é um absurdo! – Disse ao
levantar. – Te disse para deixar a Valentina em paz, eu falei inúmeras vezes
isso para ti, porém você continua agindo desse jeito.
Rebeka sabia que tinha passado dos
limites, mas não conseguia aceitar aquela situação.
-- Vai me demitir? – A garota
questionou preocupada. – Eu sei que ela é a presidente da empresa, que não devo
agir assim lá dentro, mas eu não aguentei, ainda mais quando ela falou sobre as
ações.
A ruiva arrumou os cabelos no rabo
de cavalos que estava usando.
-- Esperarei a queixa da Vallares,
ela quem deve tomar uma atitude contra o acontecido, porém desde já volto a te
dizer que não deve provoca-la, não tem motivos para isso, afinal, ela não está
te fazendo nada.
Rebeka cruzou os braços, fazendo um
gesto afirmativo com a cabeça.
-- Vamos correr, não quero nem
pensar na raiva que enfrentarei da Valentina quando ter que retornar àquela
empresa, com certeza, do jeito que é, essa afronta vai ser colocada também na
grande dívida que tenho com ela.
Naquela manhã Valentina participara
novamente de uma reunião com o conselho da empresa e deixara claro a sua
posição sobre as ações que foram vendidas. Frisara de forma eloquente a
necessidade de trabalhar para recuperá-las e como seria necessário a união de
todos os sócios da companhia naquele momento.
Alguns dos membros se mostravam
surpresos, ainda mais porque sabiam que as ações que ela se referia faziam
parte do pacote que Natasha Valerie tinha adquirido, mesmo assim, entenderam o
interessa da Vallares em reassumir a totalidade do poder que um dia fizera
parte da sua família na companhia.
Algumas projeções foram feitas e
todos se comprometeram com uma retomada ainda mais estratégia para que não
houvesse falhas.
Depois de quase três horas em
reunião, a morena retornou para a sua sala.
A secretária apareceu assim que
recebera o chamado.
-- Pois não, senhorita.
-- Ligue para a Valerie, diga que
teremos uma reunião às quinze horas.
-- E qual seria a pauta? Devo
informar?
A morena assentiu.
-- Será sobre as ações da companhia
e do empreendimento oriental.—Pegou o celular. -- Terminou o relatório que te
pedi?
-- Estou quase terminando!
-- Está bem! – Disse com um sorriso.
– Pode voltar para a sua mesa.
Ana pediu licença e se retirou.
Valentina ligou o computador e ficou
a observar a foto da tela... Estava morrendo de saudades do filho e esperava
que na Sexta ele já retornasse para a casa.
Abriu os arquivos de gráficos e logo
estava diante de todo o trabalho que montara durante a madrugada de insônia.
Passara horas fazendo a ligação de dados, buscando as alternativas que poderia
ajudar na recuperação do patrimônio que pertencia aos Vallares.
Não havia dúvidas do belíssimo
trabalho feito pela ruiva, porém agora desejava as ações de volta e já tinha conseguido
entrar em contato com alguns bancos e com certeza não haveria problemas em
contrair um empréstimo, contanto que houvesse segurança nas outras ações.
Soltou um longo suspiro, enquanto
girava na cadeira.
Tudo naquele dia parecia bem mais
claro. Tinha recuperado o controle dos atos, não estava mais com a cabeça
cheia, agora já conseguia ponderar sobre os acontecimentos com objetividade.
Realmente tinha seus méritos em tudo o que se passara na companhia. Trabalhara
bastante para tirar a contas do vermelho e agora conseguiam respirar com mais
calma, pois fora esse seu foco nesse quase um ano de gestão. Se a Valerie
votara em si, fizera-o porque percebia que seria a melhor escolha, não devia
nada a ruiva, apenas continuaria a trabalhar para progredir mais e mais.
Viu a ligação da namorada e
sorridente atendeu.
Natasha estava na construtora.
Almoçara com alguns construtores, ao lado de Leonardo e Rebeka. Haveria muito
trabalho para os próximos meses e só naquele momento percebia como fora cruel
em deixar tudo nos ombros do Antonini. Estava disposta a se dedicar mais aos
negócios, pois aquela era sua criação, sua empresa, agora seria nela que
deveria colocar seu foco.
Retornando para a sala, sentou-se,
enquanto Leonardo examinava os planos que ela projetara. Todos os projetos
estavam sobre a mesa de reunião.
-- Você viu que eles te querem a
frente não é? O sheik deixou claro isso. – O homem falava, enquanto observava
os mínimos detalhes. – Você se superou, filha, parece que retornou do Oriente
inspirada.
-- Gostou? – Indagou, enquanto
checava os e-mails.
-- Bastante, está usando linhas
perfeitas.
-- Me aprimorei no Oriente, o tempo
era pouco, mas nos fins de semana comecei um curso que me ajudou bastante e eis
aí o resultado... Eles dominam muito essa arte.
-- Perfeito... Perfeito! – Dizia
maravilhado. – Sempre disse que superaria seus metres.
Algumas batidas na porta precederam
a entrada de Rebeka que trazia uma pasta preta. Cumprimentou a todos com seu
bom humor costumeiro.
-- Aqui está a escritura do terreno
que comprou. Já foi passado no cartório.
O sorriso da empresária era grande
ao receber o tão desejado imóvel. Seus planos estavam em construir uma casa um
pouco afastada da cidade, projetando-a em seus mínimos detalhes.
-- Vejo que agora a mansão Valerie
sairá do papel.
-- Vou precisar arrumar tempo para
me dedicar, mas seu que você vai me ajudar. – Piscou para Leonardo.
-- Disso não tenha dúvidas, já
começarei uma seleção dos melhores trabalhadores para fazer isso.
-- Eu agradeço muito. – Dizia lendo
o documento. – Vou levar para casa o material, quero ficar com o Victor o resto
do dia. – Levantou-se.
-- Acho que terá que adiar esses
planos. – A loira falou com ar pesado.
Os olhos verdes a miraram em
indagação:
-- Por quê? Já deixei tudo pronto.
-- Sim, mas a toda poderosa
presidente da empresa Vallares exige uma reunião com vossa pessoa às quinze
horas em ponto.
Antonini sentou na cadeira ao lado
da secretária, via o olhar da neta de Isadora e era possível perceber que não
gostara nada de ter um encontro com a neta do conde.
-- E qual seria a pauta dessa
reunião? – Indagou aborrecida voltando a se acomodar.
-- Ana me passou que é sobre as suas
ações, no geral sobre as ações da companhia.
A empresária soltou um longo
suspiro.
Mais cedo falara com Nícolas que lhe
informara sobre a conversa que teve com a filha na noite anterior.
-- Imagino que não tenha como não
comparecer... – Antonini comentou. – Acho que é a oportunidade perfeita para
que esclareça toda a situação, afinal, a Valentina não estava sabendo das
movimentações por trás da gerência dela.
-- Bem, essa parte não foi opção
minha, os Vallares quem decidiram que seria melhor que ela não ficasse sabendo
de início, pois poderia deixa-la insegura no tocante à administração.
-- Você não tem culpa, Nath! – A
loira se intrometia. – Eu sou testemunha da sua luta no oriente para conseguir
os meios e não deixar as finanças dos empreendimentos do conde ir por terra...
Os acionistas se acovardaram e tiraram os investimentos, você fora muito
corajosa quando assumiu os riscos, hipotecou sua empresa para salvar a dela.
A ruiva girava a caneta entre os
dedos.
Realmente tudo aquilo era verdade,
mesmo assim não estava arrependida, ainda mais depois dos resultados que teve
com o passar do tempo.
-- Bem, se ela deseja a minha
presença, irei lá! – Levantou-se.
-- Se quiser vou contigo! – Rebeka
provocou.
-- Acho melhor que mantenha
distância da presidente.
Todos riram por se recordar da forma
que a loira narrara a surra que levara da circense.
Valentina observava o céu através da
parede de vidro.
Olhava os outros edifícios, depois ao longe algumas
árvores que balançavam seus galhos.
Espreguiçou-se.
Estava um pouco cansada, o dia fora
um pouco cheio.
Ouviu batidas na porta e ao se virar
viu Alissa com aquele sorriso sincero se aproximar.
Abraçou-a e permaneceu nos braços da
namorada, depois fitou-a e logo os lábios se encontravam em um contato doce,
carinhoso, gentil.
Depois de alguns segundos se
separaram.
-- Por que não me disse que estava
voltando? – A morena indagou.
-- Porque eu queria te fazer uma
surpresa.
-- Eu adorei a surpresa.
Caminharam até a poltrona,
sentando-se.
-- E então? Está se sentindo melhor
sobre a questão da empresa? – A loira indagou, enquanto lhe beijava a mão.
A circense ligara para a advogada e
contara tudo o que estava passando, principalmente sobre o retorno da Valerie.
Alissa não via a arquiteta como uma
ameaça, na verdade se sentia muito segura da relação com a neta do conde.
-- Estou sim, daqui a pouco terei
uma reunião e deixarei claro o meu interesse em recuperar o controle das ações.
-- E eu sei que vai conseguir. Vi as
projeções, acredito no seu sucesso.
A jovem encostou a cabeça no peito
da namorada, enquanto sentia as carícias em seus cabelos.
-- Que tal jantar comigo hoje? –
Alissa convidou. – Posso cozinhar algo, depois podemos ver um filme...
Os olhos negros se voltaram para os
azuis.
-- Acho que não pensaria em algo
melhor para hoje. – Falou com um sorriso. – Estou precisando relaxar... Poderia
colocar nesse conjunto um banho de espumas no hidro... Uma massagem.
Logo os lábios se encontravam
novamente, havia calma, paciência no encontro de bocas.
O telefone tocou interrompendo o
interlúdio.
Valentina foi até a mesa, apertou o
botão e logo ouvia a voz da secretária.
-- A senhorita Valerie está aqui!
-- Bem, ainda não são quinze horas,
cinco minutos e ela entra.
-- Está bem!
A loira foi até a namorada, voltando
a abraça-la.
-- Então hoje no encontramos no meu
apartamento.
-- Desde já estou ansiosa.
Trocaram mais alguns beijos e depois
Alissa deixou a sala.
A morena permaneceu de pé, estava
abrindo os arquivos no computador. Sentou-se e colocou os óculos.
Respirou fundo e viu que ainda
faltavam dois minutos. Não desejava estar no mesmo lugar com a ruiva um único
segundo a mais, então só na hora diria para que entrasse.
Cerrou os dentes demoradamente.
Não tinha razões para estar nervosa,
nem tampouco temer à Valerie, afinal, era apenas uma mulher e tudo se passou há
muito tempo e ficara bem no passado. Preso lá e lá permaneceria para todo o
sempre.
Naquela noite estava disposta a dar
um novo rumo para a relação que tinha com a advogada. Passara todos aqueles
meses se negando a algo natural, algo normal entre os relacionamentos e se
conseguisse deixar todos os traumas para trás, com certeza poderia ser feliz.
Sorriu ao imaginar a noite
tentador... Precisava pensar na lingerie que usaria.
Mordiscou a lateral do lábio
inferior.
Viu a hora com desgosto e discou
para a secretária.
-- Deixe-a entrar! – Ordenou.
Alguns segundos se passaram e quando
a porta se abriu lá estava a neta da duquesa de Hanminton.
A morena ignorou o frio na barriga
ao vê-la em seu jeans preto justo até de mais, camisa de gola alta com botões
na cor branca e a jaqueta de couro mostarda. Viu as botas, depois mirou os
cabelos que parecia um mar vermelho em ondulações nas pontas. O rosado das
bochechas e os lábios cheios, fitou os olhos verdes.
Quando ela estava longe era muito
mais fácil combate-la, diferente de quando precisava tê-la no seu ambiente.
Apontou a cadeira a sua frente para
que ela se acomodasse e empresária o fez.
Permaneceram em silêncio, até a voz
rouca e baixa questionar:
-- Bem, diga-me o que deseja?
Valentina lhe empurrou uma pasta
amarela.
-- Leia!
A gêmea de Nathália assentiu e logo
baixava a cabeça para fazer a leitura.
A neta do conde observava a pose da
mulher sentada a sua frente. Agia sempre com aquela segurança, toda aquela
arrogância, parecia exalar poderes por todos os poros. E era tão natural que
seria quase impossível para ela agir diferente.
Viu-a com atenção, enquanto não era
notada.
O tempo a deixou ainda deixou mais
dona de si.
De repente os olhos de esmeraldas
lhe fitaram de forma tão intensa que chegou a perder o fôlego. Era como se
continuassem naquele navio no cruzeiro ou como quando se amaram pela primeira
vez no escritório... Ou como quando fora presa na cobertura quando fora
descoberta com o Victor.
Cerrou os dentes em irritação.
-- E então? Vai ficar me olhando ou
tratar de negócios?
Natasha se moveu na cadeira de forma
desconfortável, depois cruzou as pernas.
-- O que deseja com tudo isso? –
Devolveu a ela.
-- Estou colocando preço em suas
ações.
Sob o olhar raivoso, a arquiteta
umedeceu os lábios, sentia-os ressecados. Fitava com atenção a bela
aristocrata. Viu os arranhões por baixo da maquiagem e ficou a imaginar como
fora aquela briga, parecia impossível, mesmo que a morena tivesse o pavio
curto.
-- Isso é um valor baixo.
-- Foi isso que pagou!
-- Sim, você está certa, mas agora
elas estão valendo mais que o triplo. Basta que entre na bolsa e verá isso. –
Levantou-se. – Não tem motivos para se preocupar com esse fato agora, as ações
ficarão comigo, você continuo dirigindo tudo como sempre fez, não tem que se
preocupar com quem tem mais ou quem tem menos.
A morena encarou-a:
-- Não quero você nem a sua
assistente dentro da companhia Vallares.
Natasha passou a mão pelos cabelos.
Nunca imaginara que seu retorno
seria algo tão ruim, tampouco que enfrentaria todo aquele desprezo por parte da
mulher que ainda amava.
-- Não tenho nenhuma intenção de
ficar... Quanto à Rebeka, não sei o que se passa entre vocês, mas já falei com
ela, deixei claro a questão do profissionalismo...
Os olhos negros se estreitaram de
forma perscrutadora.
-- Se eu a demitisse você iria
contra a minha decisão?
-- Você estaria no seu direito,
porém antes de tomar uma atitude desse tipo deve pensar se realmente o que fora
feito ia contra o comportamento dela como funcionária.
-- Ela me provoca, acho que isso é o
bastante para uma demissão.
-- Bem, então a demita, mas deve
justificar isso, dizer apenas que está sendo provocada não responde muita
coisa, será preciso que explique os tipos de provocações.
-- Você a defende, afinal, são
amantes, o que eu poderia esperar?
A ruiva respirou fundo.
-- Bem, se era só isso que desejava
de mim, estou me retirando, acho que estamos entendidos quanto ao que era sua
intenção.
Valentina meneou a cabeça
negativamente.
-- Ainda não terminei, então se
puder sentar, ficaria grata.
A Valerie ainda pensou em se negar,
mas não estava interessada em discutir, não desejava brigar, então fez o que
fora dito.
-- Quero que me deixe a par de tudo
sobre o empreendimento no Oriente, sei que há um relatório gigante, mas o meu
tempo é pouco, acredito que consiga fazer uma explicação resumida sobre tudo.
Natahsa fez um gesto afirmativo com
a cabeça.
Começou a falar de forma objetiva,
parando apenas quando era pare frisar algo mais.
A trapezista ouvia tudo com atenção
e vez e outra acabava se distraindo, pois acabava por mirar os lábios cheios e
o jeito como se moviam quando diziam determinadas palavras.
Recordou-se da namorada e de como
ela se mostrara entusiasmada em encontra-la naquela noite. Era nisso que
deveria focar seus pensamentos.
O toque do celular da arquiteta
interrompeu a narração dos acontecimentos.
Valentina lhe enviou um olhar de
reprovação, mas a ruiva ignorou ao ver o número da casa de Helena.
Levantou-se.
-- O que se passa? – Questionou.
A neta do conde observava com
atenção a expressão impassível de repente parecer em quase pânico.
-- Estou indo para lá, tenha calma!
A morena se levantou.
-- O que houve?
-- O Victor caiu do berço e machucou
o braço.
Os olhos negros se abriram em
verdadeiro pavor.
-- Como isso aconteceu?
-- Eu não sei, só digo que essa
reunião ficará para outro dia, pois tenho coisas mais importantes para fazer.
-- Eu irei contigo, estamos falando
do meu filho.
Natasha assentiu e as duas saíram da
sala juntas.
Helena apenas chorava, enquanto
Leonardo tentava acalmá-la, abraçando-a.
O menino tinha sido levado para ser
atendido e até agora não receberam uma resposta.
-- Meu amor, você não teve culpa! –
Dizia lhe beijando a face. – O Victor vai ficar bem, precisa ficar tranquila.
O arquiteto viu Valentina e Natasha
se aproximarem.
-- Onde está ele? – A morena
indagou.
A senhora Antonini mal conseguia
falar, apenas balbuciava um pedido de desculpas e caia novamente no pranto incontrolável.
A circense começou a consolar a mais
velha, afagando-lhe os cabelos.
-- Traga um pouco de água para ela.
– Pediu ao empresário.
Natasha caminhou até a recepção
explicando o ocorrido.
Não demorou para uma enfermeira se
aproximar.
-- A senhora é a mãe do pequeno
ruivo?
-- Sim, sou! – Falou nervosa. – Onde
ele está?
-- Espere que ele já está vindo. – Falou
com um sorriso. – É um garoto corajoso e esperto.
-- Mas eles está bem? – A Vallares
se aproximou. – Não foi nada sério?
-- Não, todos os exames foram
feitos, apenas teve um corte superficial na face e vai ter que ficar com o
bracinho imobilizado por alguns dias.
As duas mães sorriram e não demorou
para o pequeno Valerie Vallares aparecesse nos braços do médico. Ele se jogou
nos braços da morena e a ruiva se aproximou para lhe fazer carinhos.
-- Ele está bem, já prescrevi os
medicamentos. Acho que em uma semana ele estará livre desse gesso.
Helena e Leonardo de aproximaram e
só naquele momento a mulher parara de chorar.
Nícolas chegou à mansão e o conde
estava na sala de jantar acompanhado de Mariana.
-- O que houve? – Nicolay
questionou.
-- Estou vindo da casa de Leonardo,
o Victor sofreu um pequeno acidente.
-- Como assim? – O aristocrata
levantou.
-- Calma, papai, não foi nada sério,
apenas caiu, enquanto estava brincando, coisa de criança.
-- Ele se machucou? – A loira
questionou.
-- O braço está imobilizado e apenas
um pequeno corte na têmpora.
-- E você ainda diz que não foi
nada? – Nicolay protestou. – Onde está a Valentina? quero ir lá agora mesmo.
-- Papai, sente-se ou vai ter um
ataque! – Ordenou apontando para a cadeira. – Não foi nada grave, ele já está
em casa.
-- Deveriam ter trazido ele para cá!
-- Ele está lá e a Natasha e
Valentina estão com ele.
-- Estão juntas? – Mariana indagou
em perplexidade.
-- Estão apenas cuidando do filho,
apenas isso.
O conde levantou.
-- Vou ligar para lá agora mesmo,
desejo ter certeza de que está tudo bem.
Nícolas o viu se afastar e nada fez,
pois já conhecia a teimosia do pai.
A grande varanda do primeiro andar
tinha sido montada para o pequeno ruivo.Um grande colchonete, a TV com tela de
cinema, travesseiros e cobertas.
Naquele momento Valentina estava
sobre o colchão e dava papinha na boca do filho.
Ele mexia o braço engessado e
parecia achar divertido.
Ouvia-o falar em sua linguagem
infantil, mostrava os personagens do desenho, depois comia.
Beijou-lhe as bochechas rosadas.
Tinha falado com o avô ainda pouco e
conseguira tranquiliza-lo. Na verdade, ela ainda estava nervosa pelo susto que
sofreu ao imaginar que algo terrível pudesse ter acontecido com o garotinho
travesso.
Helena se acomodou ao lado dos dois.
-- Me desculpe, filha, eu me
distraí, enquanto achava que ele estava dormindo.
A morena mirou a boa mulher e sentiu
um aperto no peito quando chegou em seu interior imaginar que ela fora
irresponsável. Conhecia-a bem e sabia o grande amor que tinha pelo bebê.
Beijou-lhe a face.
-- Poderia ter acontecido comigo,
afinal, esse menino está crescendo e parece cada vez mais inquieto.
O ruivo tinha o olhar preso no desenho
animado da esponja do mar, apenas abria a boca quando a colher se aproximava.
-- Vai passar a noite aqui? – A
senhora Antonini questionou. – Acho que seria uma boa ideia, ele está amando
ter vocês duas por perto.
A circense fez um gesto afirmativo
com a cabeça. Não queria se separar do Victor e sabia que a Valerie também não
aceitaria fazê-lo, então pedira ao pai para lhe trazer uma muda de roupas.
Agora não vestia mais seus trajes elegante, usava uma camiseta meio folgada e
um short curto de malha.
-- Vou pedir pizza, assim a diversão
vai estar completa. – Helena lhe beijou a testa e depois fez o mesmo com o
neto. – Vovó já volta.
Valentina mirou os olhinhos verdes
tão concentrados, depois abraçou-o, deitando e fazendo-o montar em sua barriga.
Observou o sorriso com poucos
dentinhos e gargalhou.
Ele parecia curioso com o pequeno
gesso.
-- Vai ter que se comportar mais,
quase nos mata do coração, tá muito travesso... Se fizer novamente vai levar
palmadas.
Victor apenas dava gritinhos,
enquanto levava os dois dedos à boca.
A Valerie tinha ido tomar um banho e
retornava para a varanda quando ficou lá parada observando a forma carinhosa
que a neta de Nicolay agia em relação à criança. Não havia dúvidas do seu
grande amor, nem da sua dedicação. Observava o bebê se desmanchar em risos
diante das palhaçadas feitas pela mamãe Vallares.
Os olhinhos verdes fitaram os seus e
logo começou a lhe chamar. Outro olhar também fora em sua direção por alguns
segundos, mas logo voltava a mirar o filho.
Com um suspiro, aproximou-se,
sentando-se ao lado deles.
A morena via o pequeno ruivo se
desmanchar para ir para os braços da neta de Isadora, então a arquiteta deitou
ao lado dela, pegando o menino.
Valentina respirou fundo e sentiu o
cheiro de sabonete com o perfume que conhecia muito bem.
Ouvia a voz da ruiva, observava a
forma que brincava com o garoto e ficava encantada como apesar de ter passado
tantos meses fora, ele a reconhecia e não a estranhava.
Mais uma vez o olhar das duas
mulheres se cruzaram, foi a circense que interrompeu.
-- Preciso fazer uma ligação, pode
ficar com ele?
-- Claro, nem precisa pedir, eu
ficarei aqui.
A filha de Nícolas assentiu e se
afastou.
Não tinha ligado para a namorada e
sabia que ela estava sendo esperada.
Seguiu até o quarto do filho e já
discava o número, não demorou para a outra atender.
-- O que houve? – Alissa foi logo
perguntando. – Liguei para seu celular e não me atendeu, tive que ligar para a
mansão e só depois que o seu pai m explicou o acidente do Victor.
-- Sim, amor, infelizmente aconteceu
isso e precisei ficar aqui para cuidar dele.
-- A Natasha não poderia cuidar?
Afinal, ela deveria prestar atenção ao garoto, quando ele está contigo nunca
acontece nada desse tipo.
A Vallares mordiscou o lábio
inferior demoradamente.
-- Foi um acidente!
Ouviu o silêncio do outro lado e
percebeu que a advogada ficou aborrecida.
-- Está bem, espero que o Victor
fique bem, nos falamos amanhã.
Valentina ficou observando a tela do
celular.
Entendia a irritação de Alissa, mas
também não tivera cabeça para falar com ninguém depois que tudo se passou, nem
mesmo ligara para o avô
Suspirando deixou os aposentos e foi
ao encontro de Helena na cozinha.
Sentiu o cheiro de pizza e viu a
senhora Antonini preparando sucos.
Aproximou-se para ajuda-la, mas a
outra não aceitou.
-- Sente e coma, você deve estar
faminta.
Valentina assentiu, enquanto sentava
na banqueta.
A esposa de Leonardo colocou o suco
no copo, depois entregou a neta do conde.
-- Ainda me sinto culpada pelo o que
aconteceu. – A mulher sentou de frente para ela. – Sinto uma angustia em meu
peito ao imaginar que poderia ter acontecido algo pior.
-- Não pense nisso, é como o médico
falou, Victor está na idade de aprontar, ele está muito travesso, poderia ter
acontecido, enquanto ele estava comigo ou até mesmo com a Natasha. –
Segurou-lhe a mão. – Não quero que fique assim, por favor.
Helena deu um sorriso meio triste.
-- Fico feliz que tenha ficado aqui
hoje, o Victor está adorando esse mimo das duas mães.
A morena nada respondeu, apenas
comeu mais uma fatia de pizza.
-- O Leonardo estava lá com a Nath e
disse que ela e ruivinho estavam vendo desenhos, pareciam bastantes
concentrados.
-- Acho que ela deve tá com fome
também! – Levantou-se.
-- Você pode levar a bandeja. –
Arrumou tudo e entregou a morena. – Aproveita e come mais.
A Vallares assentiu e seguiu até a
varanda, mas a luz estava apagada e só a TV iluminava o lugar. Deixou o lanche
sobre a mesinha e quando olhou para os dois no colchão, percebeu que ambos
tinham adormecidos.
Victor estava agarrado à ruiva,
enquanto ela mantinha o braço esquerdo a enlaça-lo de forma protetora.
Mirou as madeixas afogueadas. Depois
o colo destacado pelo roupão frouxo da camisola, viu as pernas torneadas.
Prendeu a respiração.
Tinha a impressão que o oxigênio não
lhe chagava aos pulmões.
Cruzou os braços sobre os seios,
enquanto continuava parada a observar a cena.
-- Tudo bem, Valentina?
A voz de Leonardo vinha do outro
lado da varanda. Ele estava sentado na penumbra, nem mesmo o notara.
Com o rosto corado caminhou até ele.
-- Helena me pediu para trazer pizza
e a Valerie dormiu.
O arquiteto olhava-a de forma
examinadora.
-- Sim, eles estavam brincando e eu
conversando, depois a Nath não me respondeu mais. – Disse levantando-se. – Deve
estar cansada. – Aproximou-se e lhe beijou a testa. – Seu quarto está pronto ou
você pode se juntar àquela dupla de ruivos.
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça,
despediu-se e logo voltava a ficar sozinha.
Seu olhar retornou ao filho e
consequentemente a Natasha.
Alguns meses antes...
A Vallares despertou lentamente.
Tinha tido um crise de ansiedade
devido aos últimos acontecimentos e fora necessário que tomasse remédios para
conseguir descansar.
Fora perseguida durante aqueles dias
pela imagem de Nathália tentando matar a Valerie.
O médico recomendou repouso absoluto
e só naquela manhã ela despertava com uma melhor sensação.
Abriu os olhos e lá estava o conde
sentado em uma poltrona, ele tinha um livro nas mãos, reconhecia-o. Nicolay
passara aqueles dias a se dedicar a leitura, lia para a neta um romance antigo.
Sorriu.
-- Espero não ter perdido muita
coisa...
A voz baixa e sonolenta fez o
aristocrata fita-la por baixo das lentes.
-- Não, não, ainda temos que ver
toda a guerra das rosas, não esqueça que você descende da vermelha, Lancaster.
A jovem assentiu, enquanto tentava
se manter desperta. Nem mesmo sabia que dia era aquele.
-- Vovô...
Nicolay se apoiou na bengala e se
aproximou.
-- Fale, minha condessa, o que se
passa?
-- Ainda estou muito confusa, não me
recordo direito o que se passou... Sei que a Nathália foi presa, mas...
-- Sim, graças a você tudo terminou
bem. Você desmaiou nos braços da Valerie, então precisou ser levada ao
hospital.
A morena assentiu, disso já sabia,
pois o pai lhe contara.
-- E a Natahsa?
O conde se sentou na beirada da cama
e lhe tomou a mão, beijou-a.
-- Às vezes tem momentos na nossa
vida que é melhor demos um tempo, que nos afastemos para que tudo volte a se
equilibrar... – Acariciou-lhe a face. – O divórcio já foi assinado... Então a
Valerie decidiu seguir, seu pai a convidou para se associar ao empreendimento
no Oriente e ela aceitou. Acho que hoje deve estar chegando por lá.
Os olhos negros se encheram de
lágrimas, então ela desviou o olhar, focando em um ponto imaginário.
Cerrou os dentes, tentava a todo
custo não se entregar ao pranto, afinal, mais uma vez pensara que as coisas
poderiam ser diferentes e novamente fora iludida.
Dias atuais...
À noite já estava alta. O vento frio
entrava pelos vidros abertos da varanda.
Helena já fora lá e seguira para o
quarto.
Valentina jazia sentada na poltrona
e ainda não conseguira dormir, nem mesmo decidira onde faria. Pensara em pegar
o Victor e seguir com ele para os aposentos, mas o garotinho despertaria e com
certeza demoraria para adormecer de novo, sem falar que a ruiva despertaria e
teria que lidar com o par de olhos perscrutadores.
Tentando não fazer barulho, seguiu
até as janelas, fechando-as, depois fez o mesmo com as persianas.
Mirou a TV, continuava a passar
desenhos animados.
Já estava com as costas doloridas
por ficar sentada, então espreguiçou-se.
A arquiteta se mexeu, sentiu o filho
aconchegado a si.
Beijou-lhe os cabelos, cobrindo-o,
depois procurou pela sala e lá estava a neta do conde diante de uma das janelas
panorâmicas.
Deveria ser bastante tarde já.
Lentamente se levantou para não
acordar o filho. Seguiu até onde estava a morena e os olhos negros se voltaram
para si desconfiados.
Havia tanta acusação naquele olhar
que tinha a impressão que estava sendo julgada por todos os erros que cometera
em todas as vidas que vivera.
-- O que quer?
-- Calma, Vallares, apenas acordei e
te vi aqui como uma sombra. Já está tarde, não vai dormir?
Valentina a media dos pés à cabeça.
-- E o que interessa isso a você? –
Questionou com um arquear de sobrancelha.
A ruiva mordeu a língua para não
responder de forma provocativa, então apenas deu de ombros e seguiu até a
comida que estava sobre a mesinha. Sentou na cadeira e ficou a comer uma fatia
de pizza.
Observou a outra em sua camiseta e
short minúsculo.
Sentiu aquele desejo conhecido,
aquela vontade de tocá-la, de amá-la mais uma vez. Ainda tinha na lembrança a
última vez que transaram e isso lhe causava arrepios. Perdera as contas de
quantas vezes despertara daquele sonho com o corpo queimando.
Pressionou uma perna na outra para
conter as sensações.
A morena se virou para ela,
fitando-a com olhar desconfiado.
-- Acho que o Victor já deve
retornar para a mansão Vallares.
A empresária tomou um pouco do suco,
bebendo devagar, enquanto não desviava o olhar do dela, só depois respondeu:
-- Deixe-me ficar um pouco mais com
ele, estou com saudades...
-- Agora sente falta dele, mas
quando foi embora e passou esse tempo todo fora, onde estava essa saudade? –
Desdenhou.
A ruiva tentava a todo custo manter
a tranquilidade. Levantou-se e chegou perto da ex-esposa.
-- Parti porque não aguentaria ficar
aqui... – Falou mirando os olhos negros. – Eu sei que deveria ter pensando no
meu filho, porém eu tinha certeza que se continuasse aqui acabaria indo atrás
de ti...
A Vallares cruzou os braços
mostrando total incredulidade no que estava ouvindo.
-- Ah claro, foi preferível partir
com a sua amante.
Valentina já dava as costas para se
afastar, mas daquele vez a neta de Isadora e deteve pelo braço.
A filha de Nícolas tentou se
desvencilhar, mas a outra não permitiu.
-- Não ouse me tocar. – Falou um
pouco mais alto.
Natasha sabia que não deveria, mas a
levou consigo até a outra extremidade e encostou-a contra a parede,
prendendo-a.
-- Eu não quero brigar! – Falou em
tom baixo.
-- Então me solte, porque eu sou
capaz de fazer bem pior que fiz com a sua cadela mandada.
A ruiva não aguentou e acabou rindo,
mesmo diante do olhar furioso da outra tentou se conter.
-- Valentina... – Falou o nome
baixinho. – Meu Deus, ninguém quer guerrear contigo... – Observou os lábios
entreabertos. – Ninguém está aqui querendo batalhar... Acho que já brigamos
muito... Por que me odeia tanto? Eu fiz o que você me pediu, me afastei da sua
vida, fui embora, era isso que você tanto queria... – Acariciou-lhe a face,
porém a neta do conde desviou-se do toque. – Eu te devo tanto... Não só por
todas as vezes que se arriscou por mim, mas pelo amor incondicional que dedica
ao nosso filho...Eu juro que não desejo brigar... – Apoiou a testa na dela.
A Vallares fitou-a, apenas a lua
cheia e a luz da TV iluminava o ambiente e era possível ver os olhos verdes,
pareciam tão tristes, tão feridos.
A ruiva esboçou um sorriso
frustrado, queria beijá-la, mas sabia que seria o maior erro que cometeria, com
um suspiro, afastou-se, deixando a varanda.
Meu Chapéu!!!!!! Sensacional , adorei ! A Rebeca é ótima e não se intimidou kkkkkk adorei !!!!! Rindo até 2025 ou mais kkkk capítulo ótimo , ótimo ! Diferentão!!! Parabéns ! Beijo
ResponderExcluirOlá, querida, eu fico sempre muito agradecida por suas gentilezas e amor pelas minhas personagens, ainda mais pela Valentina...
ExcluirUm beijo
Meu coração fica apertado... Aaah.
ResponderExcluirA situação tá meio difícil entre elas, então isso é bem normal agora, quem sabe elas não baixam a guarda...
ExcluirUm beijo
Obrigada por mais um capítulo, maravilhoso!!!
ResponderExcluirDe nada, meu bem, eu que agradeço a gentileza.
ExcluirPerfeito como sempre!
ResponderExcluirObrigada, meu bem, agradeço pelo carinho e gentileza.
ExcluirUm beijo.
Valentina minha querida, tente odiar a Natasha e falhe miseravelmente kkkkkkkkkkkkk.
ResponderExcluirSabe o que acho legal Geh? Uma hora estamos do lado da circense e em outro da ruiva, nesta fase estou com a Nat, a Vallares está se achando, vive de nariz empinado, orgulhosa ao extremo e beirando a ingratidão.
É bem capaz da Valerie cogitar vender as ações da empresa, pelo mesmo valor que as comprou, a Valentina está tão cega de ódio, que não reconhece o grande esforço que foi feito para salvar o patrimônio dos Vallares.
Olha, não aceito menos que seis partes para esse capítulo final hein! Kkkkk
Lembra daquela pessoa que também odeia as Rebekas? Eu não sei quem é, mas estou amando essa aqui, tudo bem, que levou uma surra, cena hilária kkkkkkkk, mas fez sua parte, plantou a semente da dúvida.
Ah! Sobre o Natal, alguém no capítulo 40 me disse que faria outro, mais precisamente no dia 17 de janeiro...Te peguei! Kkkkkkkkkkk aquela celebração foi frustrante sem a Natasha.
Ansiosa pela próxima parte.
Bjssssssss
Realmente, a Valentina tá fora de si, acho que não sabe lidar com a frustração de estar apaixonada por uma mulher que desejava odiar, acho que isso que pesa bastante... A Rebeka joga bem isso na cara dela e essa fora uma das razões de surtar diante da loira...
ExcluirVamos ver o que se passa... Espero que o último seja o último kkkk esse que postei agora vale por dois,então vc teria os seis kkkkkkk
Um beijo, baby.
Ola! Tudo bem?
ResponderExcluirAinda espero Valentina seguindo seu caminho, sozinha ou com outra pessoa.
É isso!
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirBem, vamos ver como as duas irão reagir aos próximos capítulos.
ExcluirUm beijo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu espero que elas se entendam logo,pois elas tem dois motivos para seguirem juntas:o amor de ambas e o filho. Elas só serão felizes juntas. Já li todas as histórias da Geh,pois conheço suas vilãs mocinhas e como elas se rendem aos sentimentos. Que esse casal se entendam de uma vez,pois a vida Já as uniu. Não adianta lutar contra Valentina,esse amor de Almas vai esta sempre ai.
ResponderExcluirBeijos autora.
Esperaremos para que essa cabeça dura da Valentina possa raciocinar e deixar de lado essa agressividade toda kkkkkk
ExcluirUm beijo.
Nossa!! Adorei!! Elas são fogo literalmente!! Kkkk
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