Dolo ferox -- Capítulo final parte 1
O quarto pequeno fazia parte de um
dos cômodos da pensão familiar localizada na periferia da grande cidade.
Uma cama estreita estava encosta à
parede que necessitava de um pintura, uma quadro com uma pintura do rei dos
povo judeus trazia um pouco de fé ao ambiente. Havia uma mesa redonda com duas
cadeiras, uma escrivaninha e uma porta que dava acesso ao banheiro. Naquele
lugar não havia o luxo que estava acostumada a neta de uma duquesa.
Nathália jazia sentada sobre o leito
com jornais em seu colo.
Via com ódio a foto da irmã em suas
recepções importantes, mas sua fúria maior foi ao ver uma na qual a neta do
conde entrava no carro esportivo com ela.
Possessa, levantou-se e espalhou os
periódicos por todas as partes.
-- Maldita seja!
Seguiu até a janela e por trás da
cortina ficou a observar as pessoas que passeavam por ali por perto.
Era possível observar a diferença
dos bairros que ela era acostumada a frequentar e aquele lugar abandonado. Viu
crianças correndo com suas roupas maltrapilhas. Recordou-se de quando era uma
criança e das melhores escolas que frequentara, dos trajes assinados pelos
renomados estilistas.
Tudo teria sido tão diferente se não
tivesse existido a desgraçada da irmã. Isso sempre fora soprado em seu ouvido,
sempre tivera pavor de em algum momento perdesse tudo para a maldita ruiva.
Andava de um lado para o outro,
colocava as mãos sobre as orelhas como se estivesse cobrindo-as.
“ Precisa ser sempre a melhor ou a
Natasha vai tomar tudo o que é seu.”
“ Porte-se como uma dama ou será
rejeitada e a Natasha vai assumir o seu lugar.”
“ Eu estou apaixonada pela Natasha...”
“ A Natasha é a nova dona da mansão
Hanminton.”
Nathália caiu de joelhos, enquanto
soltava um grito fino, tentando espantas os fantasmas que lhe maltratavam.
-- Vou matá-la, vou destruí-la de
uma vez por todas...
Chorava copiosamente, soluçava em
seu tão grande desespero, parecia estar sendo ferida mortalmente. Gemia alto,
depois sorria, gritava e o círculo se repetia.
O advogado cumprimentou o dono da
pensão. Via no olhar do homem que sua paciência com a nova hóspede já estava
para acabar.
A bacharel esboçou um sorriso de
desculpas, enquanto lhe dava algum dinheiro, depois seguiu pelo corredor
fétido.
Devia muito a Isadora e aquele era o
único motivo para ter aceitado assumir aquele caso que se mostrava praticamente
perdido para a duquesa, entretanto sabia que a lei tinha suas brechas, por uma
delas a neta preferida poderia se salvar como a avó tanto desejava.
Pegou o celular que tocava
insistentemente.
Ouvia o relato rápido da secretária
e começava a imaginar quem poderia ter feito algo tão terrível como o que
estava sendo relatado.
Encerrou a chamada e logo entrava no
pequeno quarto.
Nathália ouviu a porta se abrir e lá
estava o advogado.
Levantou-se e foi até ele, segurando-o
pelo colarinho do terno impecável de forma agressiva.
-- Não ficarei mais um segundo nesse
buraco! – Ela foi logo dizendo. – Não me afundarei aqui enquanto a maldita da
minha irmã segue a vida como se fosse um ser superior.
O homem lhe deteve os movimentos,
livrando-se delicadamente da agressão, sentou-se na cadeira, arrumando a roupa.
-- Não seja tola! – Acusou-a. – Esse
seu comportamento não vai te levar a lugar nenhum! – Advertiu-a.
-- Quero ir para a mansão Hanminton!
– Aproximou-se com o dedo em riste. – Exijo que consiga convencer esse maldito
juiz de uma vez por todas da minha inocência. Que faça ele acreditar que a
Isadora fez tudo sozinha!
-- Você deveria era se entregar! – O
homem se levantou. – A sua avó foi espancada cruelmente por outras presas e
está muito mal no hospital.
Os olhos verdes não exibiram nenhum
tipo de sentimento. Pareciam ainda mais frios.
--
E o que isso me interessa? – Bateu com o punho fechado contra o tampo da mesa.
– Se aquela velha maldita tivesse matado a minha irmã quando teve a chance, eu
estaria reinando ao lado da mulher que amo e não escondida nesse lugar
miserável. – Arrumou os cabelos por trás da orelha. – Talvez o mundo não mereça
as que têm o sangue dos Hanmintons...
O advogado pareceu surpreso diante
das palavras.
Conhecia aquela família desde que
era criança. Seu pai trabalhara para o duque e sempre dizia que naquela mansão
acontecia coisas estranhas, ainda mais quando se tratava da ruiva.
Lembrava-se de uma vez que o pai
precisara ir até a delegacia, pois o mordomo tinha prestado uma queixa contra
Isadora, acusava-a de maltratar uma das netas, mas isso fora abafado e nunca noticiado
pela mídia, entretanto agora o que era de mais podre fora mostrado ao mundo
todo.
-- Você ainda é considerada foragida
e agradeça por eu não ter abandonado seu caso. Estou aqui porque tenho grande
consideração pela duquesa.
-- Ah, por favor, você deseja apenas
ganhar fama com a sua defesa. – Soltou um longo suspiro. – Se a minha avó
morresse a minha situação não seria melhor? – Indagou curiosa. – Afinal, ela
seria a culpada por tudo.
-- Há imagens suas, você foi
denunciada por inúmeros atos terríveis e por cumplicidade na morte da filha do
conde Vallares.
-- Eu não a matei, foi a Isadora que
o fez. – Cruzou os braços sobre os seios. – Claro que para mim isso não
interessa, afinal, a Verônica se tornou uma pedra em meu caminho e quando a
minha vó a tirou do jogo não me fez falta.
O advogado abriu a pasta e lhe
entregou um documento para assinar.
-- Você parece louca, não sabe nem o
que diz.
Um sorriso se formou na face da bela
mulher.
-- Quero a Natasha morta, isso que
eu quero e não sossegarei, enquanto não fizer isso.
-- Não seja burra, sua situação já é
difícil e se comprometeu ainda mais quando ligou para a Valentina.
-- O senhor está muito enganado se
pensa que deixarei a minha maldita irmã sair feliz dessa história.
-- Não seja burra, vai se condenar ainda mais.
-- Bem, eu já estou condenada, pelo
menos serei feliz em saber que tirei do mundo a maldita Valerie.
A morena olhava a tela do
computador, enquanto ouvia todos os acionistas parabenizarem a nova sociedade.
Claro que eles estavam felizes, a neta de Isadora parecia ser muito boa nos
negócios.
Ouvia a voz baixa, rouca e
controlada da ruiva. Sentia arrepios na nuca, ainda mais quando por acidente os
olhares se cruzavam.
Mirou novamente o ecrãs, mas não
conseguia focar no que estava escrito. Seus olhos passeavam pelas palavras, mas
não conseguia nem mesmo decodificar.
Cerrou os dentes.
Viu quando alguns garçons entraram
trazendo lanches, mas nada lhe agradava. Sentia uma incômoda dor na cabeça.
Talvez tenha sido da noite ruim que tivera.
Suspirou, desejando ficar sozinha.
Manteve-se sentada durante todo o tempo da
assinatura do contrato. Não ousou falar uma única palavra. Aos poucos todos
deixavam a sala, recebeu o beijo do conde em sua face, vendo-o se afastar.
Agora só restava o olhar da ruiva em sua direção.
Por que aquela mulher tivera que
aparecer em sua vida?
Suas roupas elegantes, justas ao
corpo bonito sempre chamavam a atenção.
Batia o pé lentamente por baixo da
mesa.
Abriu a boca para falar algo, mas
manteve-se calada.
Lembrava o banho demorado que tomara
tentando assim tirar o cheiro dela do seu corpo, mas tinha a impressão que
ainda estava lá.
Precisava se afastar, ir para longe,
pois sabia se continuasse perto não resistiria e acabaria se machucando ainda
mais. Amava loucamente aquela mulher de ar tão superior.
Mirou os olhos verdes.
Natasha sabia que não deveria ter
ido até lá, ainda mais depois do que houve entre elas.
Sabia que se humilhara à bela morena
de olhos negros para satisfazer suas necessidades. Ainda ouvia as próprias
palavras, ouvia o próprio implorar por poder se entregar, por poder ser aceita.
Viu-a deixar o escritório, os passos
que tentavam não fazer barulho buscavam se afastar antes que a ruiva
despertasse, talvez assustada ou envergonhada por ter cedido.
Parou em frente a ela.
-- Bom, já que estou aqui, vamos assinar
o seu sonhado divórcio... – Disse instintivamente.
A circense arrumou os óculos,
enquanto sentia a perna tremer por baixo da mesa com a proximidade da
empresária.
Umedeceu os lábios demoradamente.
-- É o melhor a ser feito. – Falou
fitando-a. – Nossa relação não tem futuro algum...
O maxilar da ruiva enrijeceu,
enquanto ela espalmava as mãos sobre a mesa, fitando a mulher que amava
intensamente.
Conseguia ouvir a respiração dela,
conseguia ouvir as batidas acelerados do coração.
-- Não me ama mais? Sou tão terrível
assim em sua vida? – Questionou com os olhos brilhando. – Droga!
A neta de Isadora se afastou,
seguindo até a janela panorâmica, ficou a observar a imensidão, os grandes
edifícios mais afastados, as diminutas pessoas lá embaixo.
Espalmou as mãos sobre ele, como se
necessitasse de algo para se sustentar. Talvez temesse desabar naquele momento.
Buscava controlar a respiração, a dor que lhe queimava o peito.
Por que fora se apaixonar?
Qual o sentido de tudo aquilo?
Valentina fitou o chão por longos
segundos, parecia presa em sua vontade dúbia.
Ouviu os passos se aproximando
novamente.
-- Eu sei que você está certa... – A
voz da ruiva começava relutante. – Acredite eu vim até aqui hoje disposta a
assinar esse documento e te deixar em paz. – Agachou-se, segurando os braços da
cadeira. – é isso que quer?
Os olhos negros encontraram os
verdes. Havia uma intensidade entre eles, pareciam prontos para se fundirem.
A circense mirou o lábio inferior,
havia um pequeno corte nele, fizera no calor da paixão.
-- Nathasha... – falou o nome
baixinho.
A arquiteta pareceu não ouvir.
-- Eu enlouqueço quando te vejo e
toda a minha força desaparece... Eu tento, eu juro, mas quando me aproximo... –
Suspirou. – É como se não houvesse forças...
A morena ficou em silêncio, mas logo
sua voz baixa se pronunciava novamente.
-- Acha que para mim as coisas são
fáceis? – Disse demonstrando sua dor. – Ontem eu cedi aos seus caprichos, cedi
porque não é só meu coração que te pertence, meu corpo parece escravizado por
ti. – Arrumou os cabelos por trás da orelha. – Mas eu não posso! Estou magoada,
estou ferida com tudo o que já aconteceu. – Cerrou os dentes fortemente.
A Valerie umedeceu os lábios
demoradamente.
-- Eu sei e não me orgulho disso. –
Tocou-lhe as mãos. – Você e o meu filho são as melhores coisas que aconteceram
em minha vida... Você foi o maior presente que recebi, mesmo sabendo que não
sou digna. – Arrumou uma madeixa vermelha que caia em sua testa. – Acho que as
Hanmintons já fizeram muito mal para os Vallares. – Beijou-lhe os dedos
delicados. – Você é a palhacinha mais linda de todo o universo.
A circense esboçou um sorriso,
enquanto uma lágrima solitária molhava sua face.
-- É a mulher mais corajosa que já
conheci, mesmo que eu nunca tenha admitido, eu sou muito agradecida por tudo o
que fez por mim... Por nunca ter desistido... E eu sei que se algo tivesse te
acontecido, eu teria morrido...
Mais lágrimas agora desciam dos
olhos das duas. Apenas se encaravam, as respirações aceleradas.
-- Deus, Valentina, eu não imaginei
que seria tão difícil...
A trapezista a abraçou, enquanto
ambas se entregavam ao pranto.
-- Eu não posso continuar com essa
relação... – A neta do conde dizia. – Mas eu te amo tanto que não consigo não
me entregar, porém depois me dói... – Soluçou. – Dói muito... Estou ferida e
tenho vontade de te machucar... De que sinta o mesmo... Esse jogo é cruel...
Natasha lhe acariciava os cabelos,
fazendo carinhos, enquanto sussurrava palavras doces em seu ouvido.
-- Por favor, por favor, Valerie,
desista de mim... – Implorou, encarando-a. – Desista de mim, pois as minhas
forças são poucas... Desista para que num futuro não cheguemos a nos odiar...
A arquiteta sabia que aquele era o certo
para fazer, sabia que já tinha sido responsável por muita coisa ruim na vida
daquela mulher e seu egoísmo não poderia continuar.
Com um gesto de assentimento com a
cabeça, a ruiva se levantou.
-- Sim, meu amor, eu desistirei,
assinarei, você merece ser feliz. – Aproximando-se, depositou um beijo em sua
testa e logo deixava a sala.
Valentina permaneceu no mesmo
lugar, mesmo que sua vontade fosse ir atrás da ruiva, sabia que aquele era o
caminho a ser seguido naquele momento. Necessitava de paz, necessitava tirar
aquela mágoa toda que estava dentro de si.
A porta se abriu, ela levantou a
cabeça e viu o avô se aproximando.
Aquele homem podia ter cometido
muitos erros em sua vida, mas não havia dúvida que desde que descobrira que
tinha uma neta, tornara-se um porto tão seguro para a circense que parecia
poder protege-la de todos os males do universo.
Lentamente se aproximou com sua
bengala, puxou uma cadeira e sentou de frente para a jovem.
Mirou os olhos idênticos aos seus.
Passaram alguns segundos em silêncio
até a voz embargada pelas lágrimas da morena se pronunciar.
-- Eu a deixei, vovô... Eu não
conseguiria seguir ao lado dela com toda essa raiva que sinto aqui dentro do
meu peito.
Nicolay fez um gesto de assentimento
com a cabeça, enquanto lhe arrumava uma mecha por trás da orelhas.
-- Esse momento talvez seja o melhor
a ser feito. – Soltou um longo suspiro. – Não negarei que estava torcendo para
que vocês se entendessem, eu entendo a Natasha, acredite, entendo-a muito bem e
sei que vai ser difícil para ela se manter longe, mas não tenho dúvida que ela
fará o possível para que você não continue a sofrer.
Valentina umedeceu os lábios
demoradamente.
Sua escolha tinha sido feita,
decidira pelo fim da relação e acreditava que conseguiria seguir em frente,
mesmo que a dor naquela hora parecesse que a destruiria.
Leonardo andava de um lado para o
outro no corredor do hospital. Quando fora informado do ocorrido seguiu direto
para lá. Sabia que a situação da duquesa não era uma das melhores e ainda não
entendera como tudo se passara, ainda mais se Isadora estava em uma sela
separada.
Observou o relógio no pulso, tinha
falando com Natasha há quase trinta minutos e a esperava lá.
Ficara em dúvida se deveria
avisá-la, mas sabia que ela ficaria irritada se não fosse, então arriscou.
Sabia que tinha faltado a reunião na empresa dos Vallares, que a Valerie
precisou ir e sabia que não deveria ter
sido algo bom, pois percebera a voz ainda mais séria quando lhe falara.
Ouviu os passos e lá estava a
arquiteta. Percebeu que ela não estava bem, mas nada disse, apenas esperou ela
chegar perto.
-- O que houve? – Ela questionou com
olhar inflexível. – Quem bateu na Isadora e como se passou?
-- Ainda não se sabe, uma
sindicância será aberta e logo poderemos descobrir.
A ruiva suspirou, enquanto colocava
as mãos nos bolsos da calça preta justa.
-- E como ela está?
Antonini mirou os olhos verdes.
-- Uma perna dela foi amputada, pois
praticamente esmagaram e fizeram isso tudo com ela lúcida.
Natasha franziu o cenho.
-- Torturaram ela então. – Encostou
as costas à parede. – Onde está a Nathália? Onde essa miserável se meteu?
-- Deve manter a calma, não adianta
agir assim. Os advogados entregaram todas as provas, sua irmã não vai se sair
de todos os crimes que cometeu. Os Bracamontes depuseram contra ela, entregaram
sua cumplicidade, logo haverá um mandado de prisão.
-- Quero que ela pague pelo que fez
com a Verônica e pelo que fez naquele circo. Quero que ela fique trancafiada
para que nunca mais ouse se aproximar da Valentina nem do meu filho.
-- Você os protegerá!
O maxilar da empresária enrijeceu,
enquanto os olhos se estreitavam e foi naquele momento que o arquiteto percebeu
que eles estavam vermelhos como se ela tivesse chorado.
-- Como foi a reunião? – Indagou
apreensivo. – A Valentina...
Natasha desviou o olhar por alguns
segundos, depois encarou aquele homem que se portava como se fosse seu pai.
-- Não há nada mais entre a gente,
quero que veja a questão do divórcio, as ações da empresa ficarão para ela,
fora outros bens... Resolva tudo e apenas me traga o documento para ser
assinado.
Leonardo arregalou os olhos em total
surpresa.
-- Vai aceitar se separar? Não vai
lutar?
Natasha esboçou um sorriso amargo,
enquanto limpava uma lágrima insistente.
-- Lutar? – Indagou com os dentes
cerrados. – Eu desgracei a vida da mulher que eu amo, eu me sabotei, eu perdi
em um jogo ganho... – Respirou fundo. – Valentina é uma mulher maravilhosa e
não merece ter ao lado uma traumatizada arrogante que nem eu, merece coisa
melhor.
-- Filha, não diga isso!
-- Por favor, Leonardo, nem sei como
você e Helena me aturaram esse tempo todo. – Passou a mão pelos cabelos. –
Preciso que me ajude, assuma a responsabilidade de acompanhar os trâmites do
divórcio.
-- Mas e o Victor? Ele ama vocês,
vai deixar esse menino só com uma mãe? – Protestava.
-- Ele vai ser mais feliz dessa
forma.
-- Natasha, está desistindo do amor
da mulher que ama.
-- Eu estou fazendo a única coisa
digna em toda minha vida.
Leonardo ainda abriu a boca para
argumentar, mas diante do olhar que recebeu ficou em silêncio.
O médico se aproximou. Ele quem
estava cuidando do caso da Hanminton.
-- E então, doutor? – O empresário
questionou. – Essa é a neta da duquesa. – Apresentou Natasha.
-- Sim, eu a conheço depois de tudo
o que se passou. – Estendeu a mão em cumprimento. – Sou o doutor João e estou
atendendo a sua avó desde que ela chegou aqui.
A empresária aceitou o cumprimento e
logo questionou:
-- E como é o caso dela?
O médico mirou a prancheta que
trazia, examinou-a com cuidado e depois falou:
-- Eu sei que a duquesa agiu muito
mal, mas estou aqui como alguém que fez um juramento para salvar vidas e por
essa razão eu quero lhe pedir, óbvio se estiver em condições para doar sangue,
ela está muito mal, a ferida na perna está ficando pior, há uma infecção
generalizada.
-- A Natasha passou por um período
de recuperação, doutor, não sei se seria uma boa ideia. – Antonini se antecipou
em negativa. – Veja com o banco de sangue.
O homem pareceu um pouco
constrangido, mas mesmo assim falou:
-- A gente pode fazer os exames e se
tudo estiver bem, você faz a doação, o sangue dos Hanmintons não são fáceis de
encontrar. – Disse ignorando o empresário.
A ruiva mirou Leonardo e depois fez
um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Farei como o senhor quiser.
O médico sorriu.
-- Então venha comigo, vamos
agilizar os testes.
-- Isso é uma loucura, ela acabou de
se recuperar, sem falar que ontem esteve em uma festa e bebeu... – O marido de
Helena continuava o protesto. – Veja com outros...
-- Está tudo bem, Antonini. – A ruiva
colocou a mão em seu ombro. – Só o farei se não me representar riscos.
O arquiteto suspirou e diante do
olhar ansioso do doutor, acabou assentindo.
-- Vamos ver tudo isso, não precisa
se preocupar, jamais faria algo para colocar a vida de nenhuma das duas em
risco.
Natasha assentiu e seguiu com o
homem.
Valentina adentrou com o veículo por entre os grandes
portões que protegiam a mansão dos olhares curiosos. Via pelo retrovisor os
seguranças que lhe acompanhavam dia a dia. Naquela manhã tinha dispensados os
da Valerie. Não desejava esse tipo de ligação com a ruiva, então avô contratou
outros.
Ficou lá parada dentro do carro, enquanto observava a
aliança que estava sobre o painel. A secretária tinha lhe entregado, dissera
que Natasha pedira.
Há dois dias a tinha visto, mas parecia que tudo se
passara naquele exato momento.
Pegou o aro em ouro e ficou girando em seus dedos.
Sabia que necessitava de muita força para seguir em
frente e não sucumbir ao amor que sentia, pois se havia uma certeza naquela
história toda era o seu amor pela neta de Isadora.
Agora tinha dado um passo definitivo e não voltaria com
sua decisão.
Observou a entrada da mansão e logo descia e seguia pelos
degraus, mas antes de encontrar, encontrou uma das empregadas com uma bandeja
de chá.
-- Meu avô está no jardim? – Questionou esperançosa.
-- Sim! – A jovem assentiu entusiasmada. – O Victor
também.
Os olhos negros se estreitaram em um sorriso ao imaginar
que o filho estava com o avô. Esse seria mais uma ponto a acertar com a
empresária. Não estava disposta a abrir mão da criança, mesmo que não tivesse
seus genes, fora gerado dentro de si e lutaria por ele, falaria com os
advogados para que começassem a estudar o caso, pois temia que a Valeria lhe
tentasse afastar do garoto.
Caminhou a passos lentos e não demorou para ver a esposa
de Leonardo sentada na companhia do conde e de Mariana.
O pequeno ruivo estava sentado sobre um lençol que tinha
sido colocado na grama bem aparada e parecia distraído com seus brinquedos. Ele
levantou a cabeça e abriu um sorriso com seus poucos dentes ao ver a mãe se
aproximar. Apoiou-se nas pernas do bisavô, arriscando seus passos, mas a morena
chegou perto e lhe tomou nos braços.
A circense sentiu os roliços braços lhe abraçar. Beijou-o
no pescoço e lhe arrancou gargalhadas.
Ouviu o balbuciar doce e lhe mirou os olhos tão idênticos
ao da arquiteta. Estava ainda mais bonito e mais corado desde a última vez que
o viu que fora na festa.
-- Desde que chegamos ele chama por você! – Helena falou.
– Ele está um pouco enjoado, está nascendo outro dentinho.
-- Realmente, nem mesmo quis participar da chamada de
vídeo com Nícolas que insistia em vê-lo. – Mariana completou. – Apenas chorou.
-- Nem com a minha bengala ele quis brincar.
Valentina assentiu e se acomodou com ele em seu colo.
-- Colocaram a pomada que a médica tinha receitado?
-- Sim, filha, mas ainda incomoda, nem está querendo
comer.
A morena tocou a mão pequena, beijando-a. Depois pegou um
biscoito de maisena que era o preferido do ruivinho, ele apenas segurou, mas
nada de degustar.
-- Então será melhor que o levem ao médico.
Helena trocou olhares com o aristocrata, então o homem
falou.
-- Você pode levá-lo.
A morena arqueou a sobrancelha esquerda em indagação,
pois sabia que os dias que o garoto passaria com a ruiva ainda não tinha
acabado e mesmo que desejasse que ele ficasse ali, estava curiosa.
-- Imagino que a Natasha esteja muito ocupada com seus
festas para cuidar do filho. – Comentou sem esconder a exasperação.
Todos ficaram em silêncio por alguns segundos, mas logo a
voz da senhora Antonini fora ouvida.
-- Eu trouxe o Victor porque a Natasha está no hospital.
Fora possível ver a preocupação no olhar da trapezista.
-- O que houve?
Nicoaly quem explicou:
-- Isadora foi cruelmente espancada na penitenciária. –
Deu uma pausa ao ver a reação de choque da neta. – Ninguém ainda sabe como o
fato ocorreu, afinal, ela estava sendo mantida em um lugar reservado, porém
ainda estão apurando tudo isso.
A morena parecia ainda mais assustada.
-- Mas e o que a Valerie tem a ver com isso? Por que está
no hospital?
Dessa vez foi Helena quem falou:
-- Você sabe que a família Hanminton tem um tipo
sanguíneo raro. A duquesa perdeu uma das pernas no espancamento, está muito mal
e será necessário uma transfusão de sangue... Nath fê-lo, porém como ainda está
debilitada, o médico a manteve em observação.
Valentina franziu a testa.
-- Ela doou sangue para a avó? – Questionou surpresa.
Todos fizeram assentimento com a cabeça.
-- Eu acho que a Natasha está se mostrando surpreendente
depois de tudo o que lhe foi feito. – Mariana falou. – Acho que poucas pessoas
em seu lugar teriam uma atitude desse tipo.
A circense não falou nada, apenas ficou pensativa.
-- Acho que independente de qualquer coisa, todos estamos
torcendo para que a duquesa saia dessa e possa continuar presa, a morte seria
uma fuga muito conveniente. – O conde disse, enquanto estendia a mão para
segurar a do bisneto. – Ainda temos que nos preocupar com a Nathália, é
necessário que descubramos onde está escondida.
-- É preciso tomar cuidado diante de tudo isso,
redobrarmos os cuidados. – A noiva de Nícolas falou. – Todos sabemos da
obsessão que ela tem pela própria irmã e pela Valentina.
A herdeira dos Vallares abraçou o filho, enquanto
sentenciava.
-- Acho que a Natasha deve redobrar os cuidados, Helena,
sabemos que ela não tem preocupação quanto a isso, nunca teve e continua agindo
assim.
-- Eu sei, filha. – A esposa de Leonardo respondeu. –
Porém não é fácil lidar com a Valerie, sempre deixa claro que a única coisa que
deseja é que você e o Victor fique em segurança.
A morena esboçou sua irritação, entretanto não falou
nada.
O que poderia dizer?
Nem mesmo poderia se intrometer nessa situação, pois em
breve a única coisa que lhe ligaria à ruiva seria o filho.
-- E vai ao hospital ficar com ela? – Questionou depois
de alguns segundos.
Helena assentiu.
-- Sabemos como a Nath é teimosa, quero ver de perto tudo
isso, pois não confio muito, acredito que é capaz de ela se submeter a outros
riscos sem se importar se estar bem ou não. Leonardo protestara o tempo todo
contra essa ideia maluca, mas não havia outro jeito.
Os olhos negros se estreitaram.
-- Então faça isso, pois sabemos que Natasha é uma
irresponsável.
A mais velha assentiu.
-- Então pode ficar com o Victor?
-- Com certeza, nem se preocupe com isso. – Tomou um
pouco do chá.
-- Então irei até lá! – Levantou-se.
A esposa de Leonardo se despediu de todos e Valentina se
ofereceu para leva-la até a saída, deixando o filho com o avô.
Ela caminhavam em silêncio até chegar ao carro.
A tarde estava com um clima gostoso. O céu claro, não
havia nuvens escuras, apenas o azul que enfeitava os céus.
-- Bem, irei até lá para ver como isso vai se resolver. –
A mais velha abraçou a jovem circense. – Sei o que está acontecendo entre
vocês, mas tenho certeza que vão conseguir se acertar.
A morena lhe segurou as mãos.
-- Acho que não, decidimos que não haverá mais futuro
para uma relação entre a gente, vamos assinar o divórcio
-- Filha, eu entendo tudo o que se passa, mas eu sei que
vocês se amam, cedo ou tarde essa tempestade vai passar e vão se acertar. –
Insistia. M
Valentina meneou a cabeça negativamente.
-- Infelizmente não, acabou, isso será o melhor a ser
feito.
Helena soltou um longo suspiro, abraçou-a novamente,
depois entrou no veículo.
A trapezista limpou uma lágrima que descia por seus
olhos.
A decisão tinha sido tomada, não iria continuar com
aquilo, mesmo que sua vontade naquele momento fosse ir até ela, repreendê-la
por ter sido tão irresponsável e depois a beijaria.
Ouviu passos e lá estava Mariana ao seu lado.
-- Aconteceu algo?
-- Seu pai ligou e deseja falar contigo.
A jovem mirou o celular, parecia temerosa e o olhar da
futura madrasta parecia com o seu.
-- Alô, papai!
Houve um silêncio do outro lado da linha e logo a voz
firme falava:
-- Valentina, eu estava com os advogados e fiquei sabendo
que Nathália se apresentou à delegacia com defensores e foi liberada.
Os olhos negros se abriram em perplexidade.
-- Isso é um absurdo!
-- Sim, filha, eu sei, estou indo até a delegacia.
A trapezista suspirou alto, enquanto voltava seus olhos
para o céu, talvez pedindo um milagre.
-- A Natasha já está sabendo disso?
-- Não, mas avisei ao Leonardo, apenas ele não falou
nada, pois ela estava passando por alguns exames.
A morena cerrou os dentes demoradamente.
-- Se a Nathália está livre, com certeza ela irá até o
hospital. – Passou a mão pelos cabelos. – Deus, era o que faltava nesse
momento.
-- Mantenha-se em casa, mandei alguns seguranças para ir,
se ela te ligar, não atenda!
-- Está bem!
Falaram por mais alguns segundos e logo encerrava a
chamada.
-- Precisamos redobrar os cuidados! – A loira falava. –
Não deve sair, deve se manter aqui, não é seguro lá fora.
A morena assentiu, mas parecia pensativa, enquanto
mordiscava o lábio inferior.
Tinha certeza que a amada neta de Isadora não iria
sossegar, enquanto não conseguisse a tão sonhada vingança contra a irmã. Usaria
o problema de saúde da avó para se reaproximar.
-- Fique com o Victor, preciso resolver algo.
Mariana lhe deteve pelo braço.
-- Valentina, não seja imprudente, não deve sair.
-- Você não entende que a Natasha estará na linha de
frente da irmã.
A noiva de Nícolas não queria se intrometer, mas sabia
que deveria fazer algo para deter a morena.
-- Achei que estivessem a ponto de assinar o divórcio.
Os olhos negros se estreitaram de forma ameaçadora.
-- E acha que isso é motivo para não protege-la? –
Indagou irritada.
-- Eu só acho que não deve ir até lá.
A morena umedeceu os lábios demoradamente, enquanto o maxilar
enrijecia.
-- Eu sei que você está certa. – A loira dizia. – Mas há
algo não resolvido entre você e a Natasha. Seu avô me contou como a arquiteta
estava arrasada diante do fim do relacionamento, então se você for até ela,
será uma forma de fazê-la renascer a esperança e isso é um pouco cruel.
-- Cruel? – Indagou por entre os dentes. – Eu estou sendo
cruel na sua opinião?
-- Eu só acho que seria terrível que você fosse até ela. –
Voltou a repetir com calma.
A morena se desvencilhou do toque e seguiu pisando duro
para o interior da mansão.
Estava irritada diante de tudo o que a namorada do pai
falara, porém ao subir as escadas ponderava que ela estava certa. Não poderia
simplesmente chegar ao hospital e dizer que tinha ido proteger a mulher que
tirara da sua vida.
Adentrou o quarto e se jogou sobre a cama.
Natasha Valeria era um pensamento constante em seus
pensamentos.
Pegou o celular na bolsa e viu as fotos do aniversário.
A ruiva quando não sorria com sarcasmo, fazia-o de forma
tão maravilhosa que poderia ficar ali, vendo-a, observando-a por toda
eternidade.
Passou a mão pela tela.
-- Deus, dê-me forças para continuar a seguir em frente,
dê-me forças para não cair na vontade de voltar atrás em tudo isso. – Juntou as
mãos em oração. – E não deixe que nada de ruim aconteça com aquela ruiva teimosa,
não permita que a Nathália se aproxime, que não faça mal, essa mulher precisa
ser detida.
Leonardo estava na recepção, sua expressão parecia
preocupada.
Pensava na Nathália e em como mais uma vez a justiça não
estava sendo feita. Parecia que seria necessário que a maldita Hanminton
conseguisse concluir seu intuito para que assim fosse parada.
Viu a esposa se aproximar. Abraçou-a demoradamente,
depois encarou-a.
-- E a Nath?
-- A transfusão foi acelerada, pois o estado de Isadora
piorou.
Seguiram até uma poltrona, sentando-se.
-- Mas como?
-- Espero que isso não cause problemas, mas a Natasha é
teimosia pura e não se importou em se colocar em riscos.
A esposa suspirou.
-- E como ela está?
-- Agora está no quarto, dormindo. – Segurou a mão da
mulher. – A Nathália está livre.
Helena levou a mão ao peito.
-- Isso só pode ser brincadeira!
-- Não, meu amor. Infelizmente ela foi até a delegacia e
depois liberada, mas estamos fazendo tudo para que isso não dure muito.
-- Precisamos redobrar os cuidados. Ela pode vim até
aqui.
-- Eu sei, mas já pedi que o advogado entrasse com uma
medida de proteção, assim ela não poderá se aproximar.
-- E acha que isso vai detê-la? – Indagou perplexa.
-- Não, meu bem, sei que não, mas mesmo assim, seria uma
forma, claro que temos outras medidas, os seguranças estão aqui.
Mesmo diante do que estava sendo falado pelo empresário,
a mulher parecia ainda mais nervosa.
-- Meu Deus! – Cobriu a boca com as mãos. – Qual foi o
pecado que Natasha cometeu para nunca viver em paz?
Leonardo lhe beijou as mãos.
-- Isso vai passar, não devemos perder a fé, tudo vai se
resolver.
-- Como? Logo ela vai assinar esse divórcio, logo vai se
separar da única mulher que ela amou em toda a sua vida.
-- Não podemos nos meter nisso, elas são adultas, sabem o
que é melhor.
-- Ah sim, são adultas! – Ironizou. – Estamos diante de
duas mulheres orgulhosas que preferem sofrer separadas que terem uma conversa
séria para conseguirem se resolverem. – falou aborrecida. – Eu vejo a Valentina
sofrendo, mas sei que ela não vai voltar.
-- Amor, isso não cabe a nós.
Helena se levantou.
-- Irei até a Nath, estou me estressando com essa
história toda.
-- Não conte a ela sobre a Nathália ainda.
A mulher assentiu.
-- Ela está no fim do corredor.
A esposa seguiu pisando duro.
Ela estava bastante preocupada com toda essa situação,
pois sabia que as mulheres se amavam, porém a falta de entendimento e orgulho
era algo que ultrapassava todos os limites.
Entrou na porta indicada e lá estava a ruiva deitada, os
olhos verdes estavam abertos.
Aproximou-se, depositou um beijo em sua testa.
-- Eu deveria lhe dar uma surra, mas ainda não é o
momento.
A empresária esboçou um sorriso.
-- talvez você devesse ter me batido há alguns anos, não
acho que hoje resolva muito.
A senhora deu de ombros, puxou a cadeira e sentou perto
da filha de coração, segurando-lhe a mão.
-- Filha, não deve agir de forma impensada, a duquesa não
merecia isso.
A empresária parecia pensativa com as palavras e só
depois respondeu:
-- Ela não merece morrer, não merece uma pena tão branda.
-- Mesmo assim, sua vida está em jogo, meu Deus, não faz
nem dois meses que você saiu de um hospital e agora está aqui de novo.
-- Eu estou bem.
-- Não, você não está, precisa ser responsável e não uma
irresponsável.
-- Achei que estivesse acostumada.
-- Não, não estou, ainda mais quando sei que aceitou
assinar o divórcio. – Repreendeu-a. – Filha, você ama a Valentina, não assine,
lute pela mulher que você ama.
O maxilar da ruiva enrijeceu e ela permaneceu em silêncio
por alguns segundos. Parecia ponderar sobre o que deveria ou não falar naquele
momento. Passara aqueles dias tentando não pensar em nada, evitando de toda
forma, mesmo que de modo inútil, não pensar naquela situação.
-- Helena, você não entende, não entende o que se passa
entre a gente.
-- Então me fale o que se passa, meu bem! – Acariciou-lhe
a face. – Eu vejo a dor em seus olhos, eu vi a dor nos olhos da neta do conde,
então o que deseja que eu entenda?
-- Eu não agi bem, nunca agi bem com a Valentina... –
Virou a cabeça para o outro lado. – Eu fui egoísta e arrogante durante todo
esse tempo, agora é a primeira vez que estou agindo de forma digna.
-- Nath, você sempre será uma pessoa digna, infelizmente
passou toda a vida por momentos difíceis.
Os olhos verdes se voltaram para a esposa de Leonardo.
Havia lágrimas nele.
-- As desgraças que aconteceram em minha vida não são
motivos para eu destruir a vida dos outros.
-- Você a ama! – Insistiu a senhora. – Vocês se amam.
-- O amor não é suficiente...
Helena lhe segurou a mão.
-- Não, não só ele não é suficiente, mas eu sei que há
mais... Sempre houve mais. Houve mais quando a Valentina entrou naquele circo
para te salvar, quando foi até àquele lugar isolado porque não acreditava que
você tinha morrido... Houve muito mais quando você se afastou para protege-la,
talvez tenha errado, mas você sempre fez isso, protegendo-a, isso é mais que
amor, então o que mais deve acontecer?
Uma lágrima desceu pela face rosada da arquiteta.
-- Eu a amo, amo-a tanto que não sei como conseguirei me
manter distante, não sei como não ir atrás dela e suplicar por seu amor. Eu vi
a dor nos olhos dela, eu vi a tristeza, vi como está sofrendo, como está
ferida, ela está machucada e eu sou a única culpada.
-- Não desista, não deixe que tudo o que Isadora lhe fez
consiga lhe tirar o que de mais perfeito tem em sua vida.
Natasha esboçou um sorriso triste.
-- A minha avó sempre esteve certa, ela via muito mais,
conseguia enxergar como eu seria uma desgraça na vida dos outros.
-- Pelo amor de Deus, filha, não fale isso.
-- Helena, assim que a Nathália for parar na cadeia, eu
me afastarei, seguirei para bem longe, essa será a melhor coisa que devo fazer.
-- E o seu filho? Vocês estão pensando nele?
-- É nele e na Valentina que estou pensando quando tomo
todas essas decisões...
-- Está errada!
Natasha assentiu e fechou os olhos.
Não lhe interessava ter aquela conversa, pois sabia que
seria inútil, levando em conta que nada daquilo poderia ser resolvido.
Na manhã seguinte, Valentina desceu com o filho. Seguiria
até a empresa e levaria o garotinho. Sabia que não era o lugar adequado, mas
não queria se separar dele naquele dia, estava morrendo de saudades e marcaria
a pediatra para examinar o novo dentinho.
Antes de descer, passou nos aposentos do pai para pedir
desculpas a Mariana. Ela estivera o tempo todo certa e fora graças a madrasta
que não cometera uma idiotice sem tamanho. Até mesmo evitara de ligar para a
Helena, percebia que o melhor em toda aquela história era manter total
distância, afinal, Leonardo, com certeza, responsabilizar-se-ia por todo o
protocolo de segurança para manter a ruiva a salva.
Encontrou a mesa de desjejum montada. O patriarca já
assumia seu lugar na cabeceira, lia um jornal, algo que tinha deixado de fazer
há algum tempo, mas agora retornava à velha prática.
O conde assim que ouviu a fala infantil deixou o
periódico de lado e fez um gesto para receber o bisneto.
A circense lhe entregou, depois lhe beijou os cabelos
brancos, sentando na cadeira próxima a ele.
-- Vai levá-lo com você? – Indagou, enquanto pegava
frutas para o pequeno. – Parece cansada, não seria melhor ficar por aqui, ainda
mais depois da Nathália está livre?
A morena pegou uma maçã, mordendo-a pensativa.
-- Papai me falou que ela permanece em um hotel e não
pode deixa-lo.
-- E você acha que isso é suficiente para deter aquela
marginal?
Valentina suspirou.
-- Não sei, mesmo assim estou com os seguranças, ela não
vai se aproximar. – Pegou um copo de leite. – Estava pensando em fazer uma
espécie de creche na empresa, afinal, eu acho que igual a mim, há outras mães
que desejam ter os filhos por perto enquanto trabalho.
Nicolay brincava com ruivinho, mesmo o garoto parecendo
um pouquinho aborrecido.
-- É uma ótima ideia, sabe que pode contar comigo, assino
embaixo.
Ouviram passos e logo Mariana e Nícolas se aproximavam em
cumprimentos.
A circense expôs sua ideia e pareceu agradar a todos.
-- Estamos com problemas para conseguir alguém para
acompanhar de perto a nossa filial no Oriente. Até agora todos parecem ter uma
desculpa para não irem para tão longe. – O Vallares filho falava. – Talvez
precisemos contratar outra pessoa, acredito que possa cuidar disso, Mari. –
Falou com a noiva.
Valentina parecia pensativa, distraída em seus
pensamentos. Em seu mundo particular que se mostrava tão instável nos últimos
tempos.
Uma das empregas entrou trazendo um telefone.
-- É o doutor Antônio!
Nícolas se antecipou. Aquele era o nome de um dos
advogados que estava acompanhando o caso das Hanmintons.
Todos pareciam atentos ao diálogo, menos Victor que usava
a própria mão como mordedor, babando-se todo.
Alguns segundos se passaram e diante do olhar sério do
primogênito, o conde questionou:
-- O que houve agora?
O empresário suspirou, mirando a filha.
-- Nathália acusou a Valerie de ter contratado as pessoas
para espancar a avó.
Os olhos negros se estreitaram.
-- Ela é uma desgraçada mesmo! – A trapezista pediu
desculpas depois da explosão. – Perdão, mas eu não acredito que alguém possa
dar crédito a algo desse tipo, óbvio que a Natasha não faria nada desse tipo,
ao contrário, ela nunca agiria com covardia, todos sabemos, mas fácil ela se
jogar em frente a uma bala que agir à surdina.
Mariana tentou disfarçar o sorriso ao ver a defesa
acalorada da filha do noivo. Estava claro o amor daquelas duas mulheres, apenas
não conseguiam se entender.
-- E o que vai ser feito agora? – Valentina questionou. –
A Valerie ainda está no hospital?
-- Não! – O conde respondeu. – Seguiu cedo para a
cobertura, sei porque falei com o Leonardo. Pelo que me disse a situação de
Isadora se estabilizou um pouco.
-- Com certeza quando ela melhorar vai se unir à neta e
acusar a Natasha! – A morena se levantou. – Será que nunca vai haver paz? –
Passou a mão pelos cabelos. – Vovô, o que essa justiça está esperando para usar
todas as provas que foram entregues para prender essa mulher?
Nícolas lhe tocou o ombro.
-- Tenha calma, meu amor, tudo isso vai terminar e as
Hanmintons vão pagar caro por tudo o que fizeram.
-- Quando? – Indagou cruzando os braços. – Começo a
pensar que estamos em um círculo, tudo parece voltar para o lugar de antes.
-- A Natasha é uma mulher forte, vai saber sair de mais
essa complicação. – Mariana tentou amenizar a preocupação que via nos olhos
negros. – Não estamos falando de qualquer pessoa, estamos falando da mulher que
viveu durante anos com o estigma de assassina quando fora apenas uma vítima
dessa história toda, então ela conseguira se defender e tudo vai acabar bem.
A herdeira dos Vallares soltou um longo suspiro e sentou.
Sabia como todos aqueles fatos se mostravam cada vez mais
injustos, via isso claramente e era algo que lhe machucava. Queria que tudo
aquilo acabasse, queria que tudo fosse resolvido, desejava que houvesse um
pouco de tranquilidade.
Fitou o filho que parecia alheio a todas aquelas
dificuldades. Em sua inocência nem sabia o que se passava, nos perigos que já
viveu.
Natasha saia do banho, seguiu até a cama e começou a se
trocar.
Precisara passar na delegacia e prestara depoimento e
logo fora liberada.
Vestia-se com cuidado, sabia que deveria ficar na
cobertura, mas não sossegaria, ainda mais agora que a irmã estava livre.
Observou o colete que fora entregue por um dos policiais.
Olhava-o com atenção pensando se deveria ou não usá-lo, decidiu por fazê-lo.
Ainda não acreditava que depois de tudo o que aconteceu,
a maldita irmã não fora trancafiada em uma cela fria.
Vestiu a calça jeans preta, justa, depois a camiseta na
mesma tonalidade e a jaqueta de couro vermelha.
Sentou-se no leito, enquanto calçava as botas.
Seguiria até a construtora, precisava de algo para
distrair sua mente depois de todos aqueles acontecimentos.
Valentina estava em sua sala. Examinava uns papéis, enquanto
vez e outra olhava o filho dormindo ali na poltrona.
Levara-o a pediatra, depois almoçaram e não demoraria
para retornar à mansão. Apenas queria deixar resolvido alguns pontos para a
reunião do dia seguinte.
Mirou o celular e viu o número desconhecido aparecer no
visor. Nem precisava atender para saber de quem se tratava. Perdera as contas
de quantas ligações rejeitara durante todo o dia.
Soltou um longo suspiro e finalmente atendeu.
-- Quanta humilhação para poder falar com a neta do conde
Vallares.
A morena sentiu o estômago embrulhar ao reconhecer a voz
de Nathália.
-- O que você quer? – Indagou impaciente, enquanto
colocava a função de gravar. – Não tem nada para fazer não?
-- Eu não entendo o motivo de me tratar assim, nunca lhe
fiz nenhum mal e se seu filho está vivo hoje foi porque intercedi junto a minha
avó por ele. – Deu uma pausa. – Na verdade, pela duquesa, você estaria morta
também.
-- Por favor, não me venha com isso. Nós sabemos que suas
intenções sempre foram bem calculadas, armara tudo com precisão e sabedoria
para que conseguisse o que tanto desejava. – Disse impaciente.
-- Eu não nego os meus erros, não tenho motivos para
fazê-lo, afinal, você sabe de todas as tramas, porém não aceito levar culpas
por crimes que não cometi. – Suspirou. – Eu não participei da morta da sua tia.
Eu juro por Deus. Eu a amava, acredite, esperava ansiosa o momento para que ela
se livrasse da minha irmã para que ficássemos juntas.
-- Seu plano sempre foi destruir a Valerie.
-- E você queria o quê? – Questionou com a voz alterada.
– A Natasha sempre esteve em meu caminho. Poderia ter ficado naquele maldito
convento, ninguém teria nem lembrado que ela existira e eu não teria passado
toda a minha vida atormentada. – Soluçou. – Acha que também não fui vítima da
duquesa? As coisas ficaram piores quando a Natasha chegou. Eu precisava seguir
todas as regras, precisava me mostrar superior. Eu era uma criança, uma criança
que não tive nem esse direito, pois sempre a Isadora estava a dizer: você
precisa ser melhor que a sua irmã ou ela vai tomar seu espaço, ou eu te deixo
no convento e fico apenas com ela, ou todos vão preferir a ela... Acha que foi
fácil? A sua amada Valerie sempre foi uma pedra na minha vida... Me roubou a
Verônica, me roubou você e ainda meu querido ex-marido era apaixonado por
ela... meu avô preferiu-a...
Valentina ouvia tudo e percebia que havia mais emoção na
voz da preferida da Hanminton ou ela fingia muito bem.
-- Você sempre teve o melhor.
-- Não, eu sempre tive as sobras... Porque depois que
fiquei adulta tive que viver sabendo que tudo o que teria viria do poder da
minha irmã. Eu a odeio e acredite, eu não sossegarei até destruí-la, matá-la...
-- Não basta o que fez naquele circo? Eu estive lá, eu vi
como fora cruel, vi como foram cruéis.
-- Se a minha avó tivesse chegado a imaginar que você
estava lá, ela teria te matado... E pode ter certeza que eu não desejo isso,
não precisa ter medo de mim, eu jamais te machucaria, só espero que consiga ver
quem é a minha irmã.
-- Estou me separando da Natasha, nada me ligará a ela em
breve, então não precisa lhe fazer mal, pois nada vai mais existir.
-- Fico feliz que tenha abrido os olhos para isso, ela
não te merece...
Antes que a morena pudesse falar algo a ligação foi
encerrada.
Estava cada vez mais certa que a Nathália não pararia.
Tentou retornar a chamada, mas dava desligado.
Levantou-se começando a sentir algo alarmar em sua
cabeça.
Enviou a gravação para Leonardo, explicando do que se
tratava. Agora sabia que a neta da duquesa não descansaria, enquanto não
fizesse o que tanto desejava que era se livrar da irmã.
Umedeceu os lábios demoradamente.
Ouviu o telefone interno, atendeu-o.
-- O seu advogado está aqui. – A secretária avisou.
A morena deu uma olhada no filho que continuava a dormir.
A última coisa que desejava naquele momento era tratar do
próprio divórcio.
-- E então, senhora, deixo-o entrar?
A voz da secretária lhe tirou das suas divagações.
-- Pode deixa-lo entrar.
Não demorou nada para o advogado da família entrar.
-- Fui até a sua casa, mas o conde me disse que tinha
vindo para cá. – Estendeu a mão em cumprimento.
Valentina sorriu aceitando a gentileza, havia uma bela
mulher ao lado dele. Deveria ter a sua idade. Alta, loira e de um sorriso
grande.
-- Essa é a minha filha, Alissa, trouxe-a comigo, pois
ela ficará responsável por seu divórcio, pois terei que me ausentar para tratar
da saúde.
-- Nem se preocupe, pensará que continua a lidar com meu
pai. – A moça falou com voz de veludo.
A circense assentiu, apontando as cadeiras para que ambos
sentassem.
-- Na verdade eu só vim para lhe apresentar sua nova
representante, terei que ir agora.
-- Mas o senhor está bem? – A Vallares indagou
preocupada.
-- Estou sim, apenas tenho uma consulta, então se não
tiver problemas, poderá lidar diretamente com a Alissa a partir de agora.
-- Sem problemas.
O homem se despediu com um sorriso, deixando as duas
mulheres sozinhas.
Valentina se acomodou e logo viu o olhar da loira focar
na criança que dormia inocentemente.
-- Seu filho? – A advogada indagou encarando-a.
-- Sim!
-- Nossa, é muito lindo com esses cabelinhos ruivos. –
Falou abrindo a pasta. – Imagino que esse não seja um momento tão fácil para
você. – Entregou-lhe algumas folhas. – Meu pai me deixou a par de toda a
história, fora o que acompanhei pela mídia.
A morena apenas assentiu, mirando os olhos azuis da
mulher.
-- Imagino que tenha visto mais do que realmente
aconteceu.
A outra esboçou um sorriso.
-- Sempre se aumenta esses fatos...
A neta do conde assentiu, enquanto lia cláusula por
cláusula do divórcio. Sentia as mãos tremerem ao ver cada uma daquelas
sentenças.
Alguns segundos se passara, então ela fitou a mulher.
-- Eu não quero nada que venha da Valerie. –
Devolveu-lhe.
-- Eu entendo, porém foram as condições que os
representantes legais dela impuseram.
-- Mesmo assim, não aceito! – Negou-se veemente.
Alissa fez um gesto afirmativo com a cabeça.
-- Bem, se você não aceitar, teremos que adiar por agora
o divórcio, pois teremos que sentar juntos para tentarmos chegar a um acordo.
-- Não quero vê-la! – Levantou-se espalmando as mãos na
escrivaninha. – Apenas retire e pronto.
-- Então será ela a não assinar. – Cruzou as pernas. –
Valentina, sente-se, vamos tentar conversar e tentar chegar a um acordo. –
Esperou que ela fizesse o que pedira e depois continuou. – Entenda que a sua
esposa deseja que fique amparada depois da separação.
-- Alissa, eu não quero nada... Nem mesmo se eu não fosse
neta do conde eu aceitaria, apenas quero que isso acabe de uma vez.
A loira fez um gesto de assentimento.
-- Então por que não aceita o que está sendo lhe dado e
deixa como patrimônio para o seu filho? Afinal, ele é filho das duas, então
seria justo.
Valentina ponderava, enquanto a outra lhe estendia a
caneta dourada para que assinasse.
Aceitou e logo colocava seu nome em todas as folhas.
-- Agora só terei que falar com a senhora Valerie. –
Pegou as folhas guardando na pasta. – Acho que essa é a melhor coisa que fez. –
Levantou-se estendendo a mão. – Foi um prazer conhece-la e acho que teremos
muito mais encontros, pois também irei assumir o trabalho do meu pai aqui.
A circense esboçou um sorriso gentil e logo estava
sozinha.
Ainda estava preocupado com tudo o que se passou com a
ligação de Nathália e agora ainda tinha a questão do divórcio.
Com um suspiro longo seguiu até onde estava o filho, ele
dormia tão tranquilo, imune a tudo que estava acontecendo.
Agachou-se, depositando um beijo em sua face,
arrumando-lhe os cabelos.
-- Tudo isso vai passar, meu amor...
Natasha anda de um lado para o outro no escritório.
Leonardo observava tudo com crescente preocupação. Sabia
que ela deveria ter ficado em casa, que deveria ter seguido as recomendações
dos médicos, mas ela fizera tudo o contrário.
Ela ainda parecia pior depois da visita da advogada de
Valentina. O divórcio tinha sido assinado e logo o casamento que tinha começado
de forma errada seria desfeito.
-- A Nathália é uma louca e a Valentina não deveria tê-la
ouvido! – A ruiva dizia em fúria. – Onde ela está? Diga-me onde está essa
maldita, irei até ela agora mesmo.
-- Você não irá a lugar nenhum, já saiu a ordem de
prisão, sua irmã agora vai pagar por tudo o que fez.
A Valerie esmurrou a mesa com tanta força, mas pareceu
nem sentir a dor.
-- É uma desgraçada! Mandou espancar a mulher que a
cuidou a vida toda e jogou para mim as acusações.
-- Tudo já foi esclarecido, fique calma e vá para a casa.
Antonini tentava tranquiliza-la, mas sabia que era uma
tarefa quase impossível.
-- Não irei a lugar nenhum, não, enquanto eu não ter
certeza de que aquela miserável está presa. – Seguiu até a cadeira sentando. –
Ligue para a Vallares, diga para ela tomar cuidado, mandou os seguranças para
empresa?
-- Sim, filha, eu já fiz e o conde também o fez, mas você
também precisa se cuidar, você é o alvo da sua irmã.
A ruiva assentiu, mas não parecia ter ficado mais
tranquila, apenas tentava se distrair observando os desenhos sobre sua mesa.
Duas horas depois, a Valerie fora convencida a seguir
para a cobertura. Seguia pela estacionamento no subsolo para pegar o veículo.
Leonardo tivera que resolver umas coisas e logo iria até ela.
Natasha parou diante do carro esportivo vermelho, espalmou
as mãos sobre o capô e permaneceu lá esperando o arquiteto.
Naquele dia ainda não tivera tempo de pensar
verdadeiramente na morena de olhos negros, apenas ao saber da ligação é que
seus pensamentos foram terrivelmente invadidos. Seu desejo era ir até ela,
mesmo que soubesse que seria rechaçada mais uma vez, mesmo que soubesse que
aquilo estava errado e não deveria ser feito. Agora que o divórcio já tinha
sido assinado, não haveria mais esperanças.
Suspirou alto.
Chegara a imaginar que a trapezista voltaria atrás, mas
infelizmente isso não aconteceu. Precisava apenas se convencer que aquilo era o
melhor a se fazer, melhor para todos.
Bateu com as mãos abertas contra a lataria.
Por que não tirava essa mulher de uma por todos dos seus
pensamentos?
-- Ora, ora se não é a miserável da minha irmã sozinha aqui
sem os seus capangas!
A ruiva se voltou e lá estava Nathália.
Ninguém a reconheceria, parecia uma idosa com as roupas e
a maquiagem.
-- Eu sabia que você não iria para a cadeia antes de
tentar me matar novamente. – Observou a arma que ela trazia em punho. – Você é
uma tola, não vai conseguir escapar.
A outra deu alguns passos deixando o xale pelo chão.
-- E você acha que me interessa? Acha mesmo que me
importo com isso? – Chegou mais perto. – A única coisa que desejo é que você
morra... Que morra de uma vez como todas as malditas vezes que conseguiu
escapar, agora vai ser diferente.
-- Você é uma psicopata... Teve coragem de mandar
espancar a Isadora só para que eu levasse a culpa.
-- Aquilo foi apenas uma distração. – Engatilhou a arma.
– E você foi lá e doou seu sangue. – Gargalhou. – A vovó vai preferir ter
morrido que ter recebido ele. Você sabe disso... Mas ainda é a mesma menina
estúpida que desejava o amor da duquesa...
Natasha olhava para todos os lados, mas o lugar estava
vazio.
Fitou a arma e a pouca distância que estavam, poderia
tentar tirar o revólver, poderia fazê-lo, mas seria muito arriscado naquele
momento.
Engoliu em seco.
-- Apenas desejei uma família, foi isso que pensei que
teria quando me levaram até a mansão Hanminton...
-- Uma família? – A morena arqueou a sobrancelha em
zombaria. – Você sempre foi desprezada, um lixo... estava sempre querendo
agradar quando chegou, era uma ridícula com seus cabelos ruivos... Não se mexa!
– Ordenou. – Por que eu vou colocar uma bala nessa sua face rosada.
-- O seu ódio é injustificável!
-- Injustificável? – A outra gritou. – Você sempre esteve em meu caminho, sempre
se meteu em tudo, parecia um maldito encosto.
-- Eu quis me aproximar várias vezes, te pedi para deixar
tudo isso de lado e quando acreditei que isso tinha acontecido, você me
sequestrou e assumiu o meu lugar. – Respirou fundo. – Não bastava ter armado
tudo com a Verônica, de tê-la matado junto com a duquesa.
-- Eu nunca compactuei com ela, nunca desejei isso, eu a
queria para mim, mas ela se apaixonou por ti... Igual a Valentina...
-- Deixe a Valentina fora disso! – A ruiva a interrompeu.
-- Por quê? Só porque ela decidiu te tirar da vida dela?
– Gargalhou. – Claro que ela não ficará contigo, claro que ela não aceitaria
ter algo com uma pessoa como você.
Leonardo já se aproximava quando viu a cena. Natasha fez
um gesto discreto para que ele não fizesse alarde.
O empresário usou o celular para enviar uma mensagem para
a polícia, sabia que a situação era delicada. Ouvia a voz de Nathália, seu
desespero e determinação em acabar de uma vez com toda aquela história.
-- Eu vou acabar de uma vez por todas com essa sua
arrogância, miserável, vou dançar sobre o seu túmulo e não vai ter ninguém para
chorar por você... – Gargalhou de forma cruel. – Quem choraria por ti?
A ruiva cerrou os dentes, sabendo que a irmã lhe
destruiria, não havia nenhum tipo de sentimento, além do ódio.
-- Você que irá se condenar, sabe que isso vai ser a
comprovação de todos os seus crimes.
-- E você acha que me importo? – Gritou. – Acha que ligo
se passar o resto da minha vida na cadeia?
Valentina estava se aprontando para ir para casa com o
filho quando Nícolas entrou em sua sala seguido pela noiva.
-- O que houve? – Indagou preocupada.
O primogênito do conde passou a mão pelos cabelos.
-- A Nathália está no estacionamento da empresa da
Valerie, a polícia acabou de chegar lá, ela ameaça a irmã com uma arma.
Os olhos negros se abriram em desespero.
Mariana se aproximou e pegou Victor dos braços da
circense.
-- Filha, a polícia entrou em contato comigo. A Hanminton
exige que você vá até lá.
A trapezista franziu o cenho, enquanto levava a mão ao
peito.
-- Meu Deus, será que isso não vai acabar nunca? –
Indagou com lágrimas nos olhos.
-- Filha, eu não desejo que vá até lá... Porém essa foi a
condição que a maldita colocou para se entregar.
A morena meneou negativamente a cabeça.
-- Irei agora mesmo!
Natasha sentia o cano frio da arma em sua têmpora,
enquanto Nathália a usava como escudo.
Sabia que fora boba, deveria tê-la enfrentado antes,
agora com todas aquelas pessoas ali parecia quase impossível sair ilesa.
Os policiais tentavam convencê-la a se entregar, mas a
neta preferida de Isadora exigia que a neta dos Vallares aparecesse.
-- Acaba logo com essa droga! – A ruiva dizia. – A
Valentina não vai aparecer. Assinamos o divórcio, acha mesmo que ela
participará desse seu show?
A arquiteta rezava para que realmente a circense não
fosse, mas suas preces não foram ouvidas, pois logo a morena aparecia entre os
agentes da lei. Observava-a com o colete, mirava os olhos negros e balbuciava
um pedido de desculpas silenciosos. Estava convencida de como toda a sua
família fora destrutiva para a vida de todos ligados ao conde. Apenas se
permitiu ficar contemplando a mulher que amava sabendo que não poderiam ficar
juntas.
-- Então você veio, meu amor...
A voz de Nathália lhe tirou dos seus pensamentos.
-- Quero que testemunhe o nosso fim, quero que veja com
seus olhos... Vai ficar livre, vai poder ser feliz.
-- Não precisa disso! – A circense falou tentando manter
a calma. – O melhor é que se entregue, não vale a pena... – Fazia gestos com as
mãos.
-- Senhorita Hanminton. – O delegado tentava convencê-la.
– Solte a sua irmã, já obedecemos sua ordem, aqui está a jovem Vallares, agora
largue essa arma e se entregue.
-- Não! – Gritou. – Apenas vou livrar a todos dessa
praga.
-- Por favor, Nathália, não faça isso... – Mais uma vez
Valentina apelou.
Os olhos verdes da irmã de Natasha trazia o ódio.
-- Se preocupa com ela? – Apertou mais forte a arma. –
ela te traia, te usava e você ainda pede por ela.
A trapezista mirou a arquiteta, via-a e mais uma vez
sentia o amor infinito que gritava em seu interior.
Amava tanto aquela mulher, Deus, acabara de assinar o
divórcio, mesmo assim a queria, amava-a...
-- Não, apenas quero que você fique viva... Lembra quando
nos conhecemos, quando nos vimos pela primeira vez... – A morena falava com
Nathália, mas seus olhos encaravam outros verdes. – Eu sei que vamos conseguir
superar tudo isso, mas eu preciso que deixe a Valerie.
-- Você ainda a ama? – A neta de Isadora vociferou. – Ama
essa desgraçada?
Valentina negou com um gesto de cabeça.
-- Não, não a amo, odeio-a, odeio-a por tudo o que ela
fez com a gente... por ela ter se metido na nossa vida... – Umedeceu os lábios
demoradamente. – Tudo poderia ter sido tão diferente.
-- Sim... Sim... Poderia ter sido tão feliz... eu desejei
te ter ao meu lado... Tudo seria diferente...
-- Vai ser... – Chegou mais perto. – Deixe-a,
entregue-se... Vamos ficar juntas...
Lágrimas rolavam dos olhos de Natália e todos imaginaram
que ela cederia, mas logo ela gargalhava.
-- Sim, mas antes eu mato a minha miserável cópia...
Os olhos negros se abriram em pavor e foi em frações de
segundo que um dos policiais derrubou a neta do conde no chão.
Valentina ouviu o primeiro tiro e depois o segundo e logo
levantava a cabeça e via os policiais tomando Nathália, ente os presentes ela
buscava a arquiteta. Então viu-a vindo em sua direção, observou a mãe ser
estendida, mirou os olhos verdes, os lábios entreabertos.
Natasha ajudou-a a levantar, fitaram-se por alguns
segundos, mas não falaram uma única palavra, apenas se olharam.
Aaaaaaah
ResponderExcluirQue agonia. Como adoro esse casal.
Que sofrimento 😪
ResponderExcluirComo sempre, perfeito!
Caramba! Ufa! A Natacha está bem.
ResponderExcluirA Nathalia tem que morrer,o mundo precisa se livrar de pessoas como ela. Enquanto a Nathalia viver a Natacha e a Valentina não terão paz.
Beijos autora.