A tutora -- último capítulo
Alice deixou as duas sozinhas. Falou que precisava resolver algumas coisas, mas na verdade, ela achava que deveria deixa-las conversar, tentar resolver aqueles problemas.
-- Fico muito feliz por você ter se recuperado.
-- Mesmo? – Questionou encarando-a.
-- Sim! Quero te pedir perdão por tudo que fiz de mal a você. Não merecia a pessoa maravilhosa que foste durante aquele tempo. – Baixou a cabeça.
Amanda a olhou.
Não sentia raiva, mas também não havia mais nenhum tipo de sentimento.
-- Acabou. – Sorriu. – Hoje, agradeço por tudo que aconteceu, pois assim eu pude conhecer Alice.
Lara sentiu uma pontinha de inveja.
-- Queria que me perdoasse por ter participado do sequestro. —Fitou os olhos azuis.
-- Eu não vou dizer nada sobre isso, salvei sua vida, mas se em algum momento você tentar algo contra a minha esposa, eu mesma te matarei. – Avisou-a.
Lara sorriu.
-- Não, Amanda Dervelux. Jamais tentarei algo contra sua felicidade e a da Alice. Aprendi a admirá-la profundamente.
-- Ok!
-- Desejo que vocês sejam muito felizes. – Deu uma pausa. – Só quero que saiba que um dia eu conheci uma mulher incrível, uma jovem de olhos da cor do céu e cabelos cor de ébano, um ser apaixonado pela vida, sonhadora e perfeita em todos os sentidos, infelizmente eu a perdi, mas sei que a ruiva de olhos de esmeralda a reencontrou. Ela mereceu o prêmio, lutou muito por ele.
-- Obrigada!
Lara com um gesto de cabeça se despediu do seu antigo amor.
Amanda sentiu-se mais leve, parecia que tinha tirado dos ombros um peso e da alma uma enorme dor. O passado não a assustava mais, os demônios que a perseguiram durante todos esses anos tinham perdido a guerra.
Era incrível como decepções e dores poderiam mudar um ser humano. Elas faziam o que o amor não era capaz de fazer. Quantas mágoas um coração poderia carregar? A arquiteta era a prova disso. Lara a magoara, a ferira profundamente, porém teve a sorte de encontrar alguém que lutara por si, que suportara as humilhações e saı́ra vitoriosa daquela guerra. Quantas “Alices” existiam nesse imenso universo?
Alice não conseguiu segurar a esposa no hospital, sentia-se preocupada com o ferimento, temia que pudesse piorar. Mas após serem ameaçados pela própria paciente, os médicos chegaram à conclusão que poderosa Dervelux poderia voltar para casa e terminar de curar-se junto com a famı́lia. A pupila ainda quis protestar, mas não obtivera sucesso no intuito. Deveria se acostumar com aquele jeito mandão, aquela forma de não aceitar que discordassem de suas decisões. Ela sabia que havia um jeito de domar aquela fera, mas naquele preferiria apenas mostrar seu descontentamento com sua cara emburrada.
A arquiteta estava sentada, tendo a esposa praticamente colada à janela do carro. O motorista fora busca-las, o silêncio era sepulcral.
A tutora sabia que a pupila estava irritada, ela não aceitara de bom grado que a esposa deixasse a clı́nica. Porém, não queria passar o aniversário da esposa em uma cama de doente. Afinal, ela já se sentia bem. Apenas algumas dores no lugar onde recebera o projétil, mas isso era normal.
Fitou a esposa.
Estava morrendo de saudades daquela linda mulher, de tê-la em seus braços. Amá-la. Segurou-lhe a mão, obtendo sua atenção.
-- Minha linda pupila. – Beijou-lhe cada um dos dedos. – Não fique bravinha comigo, não sabe como me sinto feliz por estar aqui contigo novamente.
-- Você se arrisca demais! – Reclamou exasperada. – Quase morreu por se jogar em frente a uma bala e agora vai contra as ordens médicas e volta para casa sem receber alta.
-- Mas, amor, eu recebi. Você não viu? – Arqueou a sobrancelha de forma irônica.
Alice puxou a mão irritada.
-- Você usou de ameaças para conseguir seu intuito. Só porque tem dinheiro acha que pode fazer o que quer?
-- Alice, eu não queria passar seu aniversário num hospital. – Protestou.
-- Melhor do que em um cemitério.
-- Ok! Recuso-me a brigar contigo.
Ambas seguiram em silêncio. Alice continuava chateada e parecia que nada a faria desfazer aquele “bico”.
Quando chegaram à mansão, Maria correu para abraça-las. Ricardo também se encontrava lá.
-- Oh minha filha, nem acredito que você está de volta. – Falou chorosa a governanta.
-- Você acha que iria se livrar de mim assim? – Amanda abraço Maria.
Ricardo abraço a jovem e observou que Alice parecia irritada com alguma coisa.
-- Feliz aniversário, mocinha. – O advogado lhe entregou uma caixinha.
Alice foi parabenizada pelos dois, a arquiteta deu de ombros e subiu as escadas para os aposentos.
-- Não acredito que vocês estão brigadas? – Indagou a empregada.
-- Vou contar a vocês o que aconteceu, aı́ vamos ver se não tenho motivos para isso.
Os fieis protetores da tutora se entreolharam, ouvindo a narrativa nada agradável que lhe contaram.
Alice só seguiu para o quarto, tarde da noite.
Jantara com o advogado e com a governanta. A esposa não descera e também não a viu durante toda a tarde. Ela fizera a refeição no dormitório.
Abriu a porta.
O ambiente estava mergulhado na penumbra. Não viu Amanda, mas sentiu seus braços lhe rodearem a cintura.
-- Pensei que não iria vir mais hoje. – Beijou-lhe o pescoço.
-- Hun! Achei que estivesse dormindo. – Tentou manter a neutralidade diante dos carinhos.
-- É um aniversário da minha mulher e apesar de estar proibida de fazer uma grande festa, essa data não poderia passar em vão.
As carı́cias foram derrubando a resistência da garota, em pouco tempo estavam trocando beijos apaixonados. Cheios de desejos, de saudades.
Alice sentiu quando vestido fora libertado e seu corpo roçou no roupão de cetim usado pela tutora. Amanda retirou o sutiã, deixando-a apenas de calcinha.
-- Não, chega disso! – Tentou se soltar dos braços da amada, inutilmente.
-- Eu quero você e sei que também me quer. – Baixou a boca para os seios, chupando-os.
A pupila sentou na cama e a tutora a encostou no espelho da cama.
-- Eu já disse que te amo e que sou totalmente apaixonada por você? – Tirou-lhe o cabelo do rosto.
-- Está dizendo isso para eu te desculpar? – Encarou-a.
-- Não! – Sorriu. – Mesmo que você esteja irritada, eu continuo te amando e entendo sua preocupação. – Lhe acariciou a face com as costas da mão. – Entendo seu medo, eu também tenho esse mesmo temor. Medo de te perder, de nunca mais te ter em meus braços, não ver seu sorriso lindo, não sentir seu toque, porém isso não pode nos impedir de viver, meu amor, de viver o nosso amor.
Alice a abraçou.
Os corações seguiam a mesma batida.
A pupila segurou o rosto entre as mãos e voltou a beijá-la apaixonadamente. Queria amar aquela mulher, tê-la em seus braços para esquecer os momentos de dor, a angustia que lhe acompanharam durante todo esse tempo.
Os corpos se encontraram, unindo-se, buscando a satisfação da carne e da alma. Desejando parar os segundos naquele prazer indescritível, naquele momento que era só delas.
Não fora Amanda e nem Alice que saı́ram vencedora daquela batalha, mas o amor que as unia.
Alice acordou, as luzes do dia invadiam o quarto.
A esposa estava sentada ao seu lado e tinha um envelope nas mãos.
-- Seu presente. – Deu-lhe um beijo rápido e lhe entregou o grande envelope amarelo.
-- Mas o que é isso? – Indagou surpresa.
A pupila abriu, lá havia um documento que lhe dava plenos poderes sobre a própria vida. Não tinha mais que pedir permissão ou autorização para a tutora. Era livre. Mas o que a deixou realmente surpresa foi o outro papel. Era as ações da construtora. Amanda passara tudo para seu nome. Ela era a única dona.
-- Por quê?
-- Porque você é a única dona. Eu quase perdi tudo que era dos meus pais, se não fosse sua famı́lia, os Dervelux teriam ido à falência. Então, quando perdi meus pais comecei a trabalhar incansavelmente para reconstruir tudo que um dia destruı́, e consegui. -- Mas, eu não posso...
-- Pode sim. Não se preocupe, vou ajudar-te, estarei sempre ao seu lado para te orientar, mas também terei que cuidar da minha própria empresa.
Alice a abraçou.
Como Pietra fora mentirosa, várias vezes insinuara que Amanda só queria seu dinheiro. Chegara até a duvidar da esposa, mas naquele momento percebia que aquela vı́bora quisera apenas irritá-la, destruir seu relacionamento, plantar a discórdia.
-- Gostou do presente?
Alice deu apenas um sorriso.
-- Imaginei que isso não seria necessário. – Tirou uma pequena caixinha do bolso. – Quero que se case comigo novamente. Mas, dessa vez, sem rancor, sem você me olhando feio e com vontade de voar no meu pescoço. – Gracejou. – Aceita?
-- Ah, meu tudo, claro que aceito. – Beijou-a.
Três anos depois...
-- Não sei se aguento o pique desses pequenos.
Maria tinha dado uma chance para Ricardo e ambos haviam se casado. A felicidade reinava naquela enorme
Estavam no jardim. Estava acontecendo uma festa em comemoração do aniversário de Amanda. Lara aproximou-se.
Ela literalmente tinha se reconciliado com todos. Trabalhava com Alice e tinha mostrado que a chance que lhe deram estava sendo muito bem aproveitada.
-- Estão lindos esses bebês.
Alice e Amanda tiveram dois filhos. A pequena Julia e o Arthur. A menina fora gerada pela pupila e o garoto por Amanda, ambos por inseminação artificial. Os genes das mulheres foram usados para isso. As crianças nasceram com um único dia de diferença. A famı́lia estava completa.
-- Sim, mas estão cada vez mais danados. As babás quase não dão conta. – Ricardo falou, pegando a menina de cabelos pretos nos braços.
-- Tem quem puxar ne? As mães desses anjinhos são verdadeiros furacões.
A loira pegou o pequeno Arthur. Esse tinha as caracterı́sticas de Alice.
Já era noite, Alice tinha acabado de colocar as crianças para dormir.
O dia fora cheio, mas fora perfeito. Pena não ter tido muito tempo para estar com a mulher, ela teve que se dividir entre os convidados e os filhos.
Beijou cada um deles.
Não tinha como agradecer aos céus por tudo que tinha. Cada dia que passava o amor por Amanda aumentava mais e mais. Lógico, que vez e outra havia uns desentendimentos, mas a tutora tinha um jeito bem gostoso de terminar qualquer discussão.
Sorriu!
Amanda tinha acabado de preparar a hidromassagem. Tirou a roupa e entrou. Faltava apenas sua esposa dignar-se a aparecer. Tinha a ajudado a colocar os filhos para dormir, mas ela permaneceu com eles para que pudesse preparar o banho.
Estava ansiosa para vê-la, para tê-la só para si.
A porta se abriu e a dona dos seus pensamentos adentrou o espaço. Alice sorriu e tirou a roupa. Em seguida entrou na enorme banheira.
-- Pensei que não viria mais.
A pupila virou-se, ficando de frente para a arquiteta.
-- Nossos anjinhos estavam tão fofos dormindo que acabei me distraindo os observando.
-- Hun, mas e eu? Não sou um anjinho também? – Fez cara de ingênua. Alice gargalhou.
-- Você é tudo, meu amor. Tudo na minha vida. —Beijou-lhe o nariz.
-- Sabe que sou a mulher mais feliz do mundo ao seu lado. Que todos os dias quando acordo e te vejo dormindo, agradeço por ter te conhecido. Que conto as horas para chegar o momento de desfrutar de sua companhia, que a cada dia que passa meu amor tende a crescer mais e mais.
-- Eu digo o mesmo, minha amada, não consigo nem dizer o que sinto. Você me faz feliz e agora que temos nossos filhos tudo parece ter ficado ainda melhor, me sinto completa. Te amo, Amanda Dervelux.
As bocas se encontraram para selar aquele amor que duraria por muitas vidas, por toda a eternidade.
Parabéns! Tudo perfeito!
ResponderExcluirmaravilhoso, parabéns
ResponderExcluirEu amooooo suas histórias e sua escrita, te acompanho a algum tempo e foi maravilhoso encontrar esse blog❤️.
ResponderExcluirVocê pretende respostar "A dama Selvagem"? Tenho muita vontade de ler novamente.